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AULA
Capacidade de jogo
Meta da aula
Apresentar uma proposta de
organização da aula de teatro,
dando destaque à primeira parte da
estrutura: a integração.
objetivos
INTRODUÇÃO Agora, que tal um novo desafio? Tendo em vista o que você já aprendeu sobre
o ensino-aprendizagem do teatro, é hora de traçar os primeiros passos para a
organização de uma aula de teatro.
Estarei junto a você, fornecendo algumas informações sobre jogos teatrais,
esclarecendo o objetivo de cada um deles e propondo uma estrutura de aula,
de acordo com as seguintes etapas:
1 – integração do grupo;
2 – estímulo cênico;
3 – composição cênica;
4 – avaliação.
Por questão didática, ao organizar uma aula de teatro, sugiro dividi-la em quatro
etapas. É interessante que a aula siga a estrutura apresentada, embora esta
seqüência não seja rígida, podendo ser alterada segundo a dinâmica, o contexto e
o tempo disponível para cada aula. O tempo ideal para o cumprimento de todas as
etapas é de 1h30min. Caso disponha de um tempo menor, por exemplo, 50min,
você poderá desenvolver duas ou três etapas, incluindo sempre a avaliação.
A estrutura proposta será realizada por você em duas aulas separadas. Hoje, o
enfoque será dado ao primeiro momento da aula: a integração do grupo. Há
uma variedade de jogos apropriados para esse momento. Você poderá fazer as
adequações necessárias segundo a idade, a série e o número de alunos, e ainda
criar outros tantos jogos pela sua imaginação.
Na Aula 16, darei destaque às seguintes etapas: estímulo, composição cênica e
avaliação; tratarei, mais especificamente, da criação cênica, propriamente dita.
Hilton Araújo (1974, p. 23) estabelece a diferença entre jogo preparatório e jogo
dramático no ensino do teatro na escola. Segundo ele, o jogo preparatório, como
o nome indica, é uma preparação. Ele tem como objetivo estimular no aluno
habilidades necessárias para a realização do jogo dramático, tais como criatividade,
socialização, observação, imaginação e relaxamento. Este último já contém, em si
mesmo, a representação de uma situação imaginária.
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jogos teatrais. Além disso, você poderá confeccionar alguns praticáveis
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(cubos de madeira), que poderão ser agrupados para a criação do cenário,
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servindo ora de cama ora de sofá ou mesa ou carro etc. Estou dando
a para você a noção de um ambiente ideal. Como já mencionamos, se
este ambiente não for possível, você ainda assim poderá fazer teatro com
seus alunos. Lembre-se das possibilidades oferecidas pelo espaço-vazio
ao teatro, de como ele está inteiramente aberto à imaginação.
O lugar da arte e da criatividade na escola deve e precisa ser
reafirmado constantemente. Esta conquista, muitas vezes, é gradual e
depende do seu interesse e esforço pessoal.
À medida que você consolida esta conquista, poderá incrementar
o espaço da sala de teatro, criando uma identidade para ela, expondo os
trabalhos dos alunos, reinventado os lugares do espectador e da ação e,
ainda, convidando outras turmas da escola para assistir às cenas. Isto,
é claro, se for do desejo dos próprios alunos.
Incentive o uso de roupas confortáveis para as aulas e, além disso,
reserve um lugar onde os alunos possam deixar seus pertences, de maneira
que consigam movimentar-se livremente pelo espaço.
Se for conveniente, você poderá solicitar que os alunos tirem os
sapatos. Os pés são a base de nosso corpo; eles conferem equilíbrio e
segurança. É importante que as crianças aprendam a sentir as plantas e
os dedos dos pés tocando firmemente o chão.
Você já prestou atenção nas danças indígenas? Já percebeu como eles batem com
firmeza os pés no chão? Por meio da dança, os índios preparam o corpo e se
tornam guerreiros corajosos e atentos. Desenvolvendo uma base sólida, a presença
corporal se intensifica. Procure dançar dessa mesma forma com os alunos. Essa
atividade auxilia a deslocar a energia por todo o corpo, tornando-o mais sensível e
eliminando a fadiga mental.
CÍRCULO DE DISCUSSÃO
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É comum presenciar, no início do curso, os olhares dirigidos para o
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chão, mas, depois de algum tempo, no decorrer do ano, os alunos passam a se
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sentir mais apoiados na relação com os outros e com o espaço ao redor.
Comece a aula em círculo. Essa é, também, uma forma de reunir a
atenção dos alunos. Um dos objetivos dessa primeira etapa é estimular nos
alunos o espírito coletivo, levando cada um a se sentir responsável pelo
crescimento do grupo. Mas, para integrar a turma, é necessário primeiro
que os alunos se conheçam.
Jogos de apresentação
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Artes na Educação | Capacidade de jogo
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com o corpo, diz o nome de um animal com a letra
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inicial do seu próprio nome. O grupo repete novamente
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o nome e o movimento. O jogo continua, dando lugar
à apresentação de um novo aluno. Esse jogo pode ser
realizado quando os alunos já tiverem alcançado uma
certa liberdade ou segurança dentro do grupo. Quando
realizado prematuramente, acaba por inibi-los.
ATIVIDADE
COMENTÁRIO
Quando iniciar o curso, não se esqueça de fazer sua apresentação
pessoal aos alunos. Afinal de contas, você é parte integrante do
grupo. Tanto professor como alunos precisam desenvolver sua
capacidade de jogo, ou seja, a possibilidade de se relacionarem um
com o outro de forma aberta, autêntica e espontânea. É importante
que os alunos sintam que o professor é de carne e osso e que está
ali para compartilhar e construir o conhecimento junto com eles.
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Um pouco de história
O teatro grego surgiu no século V a.C, a partir de um ritual religioso conhecido
como ditirambo, realizado em homenagem ao deus Dionísio. Dionísio era o deus
do vinho, da alegria, da festa, do renascimento, isto é, do mistério da vida e da
morte. Ainda hoje, ele é reconhecido como o patrono do teatro. O ditirambo
consistia num poema cantado com uma parte narrativa. Era realizado por um coro
de pessoas que cantavam e dançavam. Téspis é considerado o primeiro ator da
história do teatro, pois dizem os estudiosos que ele teria sido a primeira pessoa a
sair do coro e a assumir o lugar de Dionísio, ou seja, o lugar do personagem.
No decorrer do tempo, esse ritual foi sendo estruturado dentro de um sistema
de códigos artísticos. Surgiram os primeiros textos dramáticos e um espaço cênico
específico à representação.
O espaço cênico do teatro grego é conhecido como teatro de arena e lembra muito
um estágio de futebol. É um espaço arredondado, construído de pedras e ao ar
livre. A platéia sentava numa arquibancada disposta em semicírculo, ao redor de
uma área circular de terra batida, onde ficava o coro. Havia, ainda, um palco baixo
para os atores.
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Para Jean-Pierre Ryngaert, a noção de capacidade de jogo está
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relacionada à capacidade do indivíduo de se engajar na ação lúdica,
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isto é, de se colocar no momento presente da ação, aberto e disponível
a todos os riscos que este espaço oferece. Nessa perspectiva, o foco dos
jogadores deve estar voltado para o processo, para a experimentação
criativa, e não para a obtenção de um determinado resultado, como
comenta Ryngaert (1984):
!
Jogar diante do outro, e não para o outro
Existe uma mudança radical de valor nessas duas atitudes. Ao jogar para o outro,
o jogador está atrelando suas ações a um julgamento externo, à aceitação ou à
rejeição e, portanto, essas ações já se originam de uma forma contraída, enquanto
ao jogar diante do outro, o jogador se encontra num estado de total liberdade,
pois o móvel aqui é o prazer, a vontade de participar do jogo e o desejo de
compartilhamento.
Para Winnicott (1975, p. 71), o jogo se constitui num “vasto campo de experimentação criativa do real” e, como
tal, localiza-se dentro de um espaço intermediário que ele denomina espaço em potencial. O espaço em potencial
se constitui num entre dois, não está nem dentro nem fora do sujeito, mas ocorre a partir de uma relação de troca,
de intercâmbio entre sujeito e objeto, entre realidade e fantasia.
Segundo Winnicott, aqueles que têm sua capacidade de jogo, de interação lúdica com a realidade, prejudicada,
vivem num estado de alheamento, de “submissão”, de indiferenciação que corresponderia a uma mente
psicologicamente doente.
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Direita – esquerda
Escravos de Jó
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– Os escravos de Jó jogavam o caxangá – (quatro pulos para a
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direita).
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– Tira (pulando para fora da roda).
– Bota (pulando para dentro da roda).
– Deixa o Zé Pereira ficar (todos ficam no mesmo ponto e mexem
o corpo no ritmo da música).
– Guerreiros com guerreiros (dois pulos para a direita).
– Fazem zigue, zigue, zá. (um pulo para a direita, outro para a
esquerda e outro para a direita, acompanhando a música).
Ao praticar este jogo, os alunos estarão exercitando a escuta, a
memória, a coordenação motora e a harmonia coletiva. Vamos colocar
um novo desafio nesse jogo? Repita os movimentos, cantarolando a
melodia com a boca fechada, produzindo apenas o som. Por fim, repita
a brincadeira, realizando, agora, os movimentos em silêncio. A música
deverá ser cantada apenas mentalmente. Divirta-se com os alunos.
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Mestre e detetive
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Expressando as vogais com movimentos
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Os alunos são alinhados horizontalmente no fundo da sala, como
se fossem participar de uma corrida. Sugira a eles um pequeno treino. O
professor é responsável por dizer, em voz alta, as letras. Cada vogal tem um
movimento correspondente, o qual os alunos em grupo deverão realizar:
A – um passo à frente;
E – um passo para o lado direito;
I – um pulo no lugar;
O – duas palmas;
U – permanecer parado no lugar.
Pronto! Os alunos treinaram os movimentos, aprenderam as
regras; agora o jogo vai começar para valer. A partir desse momento,
o professor diz as letras fora da ordem, criando novas seqüências,
surpreendendo, assim, a turma. O aluno que errar o movimento sai do
jogo, permanecendo junto ao professor, que lhe repassará o comando
da brincadeira ou a tarefa de observar a equipe.
CONCLUSÃO
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ATIVIDADE FINAL
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COMENTÁRIO
Na escola, a noção de capacidade de jogo está diretamente associada
à qualidade da relação professor/aluno. Desse modo, ela interfere na
maneira como o professor se coloca disponível para estar com o outro,
aceitando e reconhecendo-o na sua singularidade. É necessário, na escola,
fornecer um apoio ao olhar dos alunos, estabelecer um contato verdadeiro
com cada um deles. É necessário para fazer com que se sintam vivos,
amados, respeitados, ouvidos e vistos. Portanto, deve-se ir além daquilo
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que nos é aparente, reconhecendo em cada um suas necessidades,
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incertezas e aspirações.
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Ao estabelecer essa presença real na sala de aula, o professor
transforma, conseqüentemente, sua ação pedagógica numa ação
lúdica onde os ganchos da aprendizagem são a criatividade e o
prazer. Não é necessário ater-se a velhos padrões de conhecimento
ou valores, pois o que importa é estar em jogo, isto é, a experimentação
daquilo que se impõe no momento. Assim, até mesmo as atividades
organizadas para o dia podem ser reinventadas durante a aula ou até
mesmo colocadas de lado, dando margem a um novo conhecimento
e a novas maneiras de compartilhá-lo.
RESUMO
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Artes na Educação | Capacidade de jogo
LEITURA RECOMENDADA
BOAL, Augusto. Jogos para atores e não atores. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1999.
Este livro faz uma exposição sobre os princípios inovadores do Teatro do Oprimido,
criado por Augusto Boal, além de conter um guia riquíssimo de jogos.
MOMENTO PIPOCA
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