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CONHECE-TE A TI MESMO

* Transcrição da palestra proferida pela Prof.ª Melissa Andrade, da Nova Acrópole, disponível no
Youtube sob o título “Conhecer as leis do universo a partir do autoconhecimento”. 2018.

O que eu vou fazer nesta noite é contar um pouco para vocês qual é a história
dessa frase – “conhece-te a ti mesmo” – e buscar dar para vocês um sentido um pouco
mais profundo.
De forma geral, quando a gente pensa em “conhece-te a ti mesmo”, a gente
pensa: precisamos descobrir os nossos defeitos, as nossas virtudes, como somos e
como nos colocamos diante das pessoas...
Mas será que é só isso? Será que conhecer a si mesmo significa apenas
conhecer a nossa vocação? Só o nosso papel no mundo? Ou será que existe uma
chave mais profunda por trás desse “conhece-te a ti mesmo”? De onde vem essa
frase? Qual é o seu sentido mais profundo?
Então a proposta é falar para vocês um pouco de onde vem essa frase, qual é
o seu sentido mais profundo e como podemos fazer, de uma forma muito prática e
muito objetiva, para trilharmos esse caminho em direção a esse “conhece-te a ti
mesmo”. Essa é a proposta da noite de hoje.
Essa frase, “conhece-te a ti mesmo” (“gnōthi seauton” em grego clássico) era
inscrita no Oráculo de Delfos. E o que era o Oráculo de Delfos? Era um templo, numa
região chamada Delfos, na Grécia Antiga – e é interessante que tudo por trás do
Oráculo de Delfos é simbólico; a palavra delfos, em grego, significa ventre – e que
era dedicado ao deus Apolo.
Era um templo circular, redondo, e nele existiam sacerdotisas, as chamadas
pitonisas. O mito e a história contam que elas tinham o dom da profecia. Nessa região
do Templo de Delfos existia uma fenda na terra da qual saíam alguns gases. Quando
as sacerdotisas – as pitonisas – inalavam esses gases, elas entravam num estado
alterado de consciência.
Reis, sacerdotes, grandes líderes, o mundo clássico inteiro, iam até Delfos para
fazer perguntas às pitonisas. “Onde eu devo fundar a minha cidade”, “eu vou ganhar
essa guerra”, “eu devo partir em batalha”, “qual é o futuro do meu reino”, etc. Todos
iam ao Oráculo de Delfos fazer essas perguntas.
Há muitas coisas interessantes sobre o Oráculo de Delfos. Dizem que o Templo
foi construído em homenagem ao deus Apolo por ter lutado contra Pítia, que era a
serpente.
Apolo, na mitologia grega, é o deus da harmonia, da beleza, representa o
elemento do sol interno. Então imaginem, o Apolo que luta contra a serpente significa
o mestre, aquele grande deus que é capaz de dominar as potências ocultas da sua
própria natureza. Então, Apolo, que era esse deus muito poderoso, era quem inspirava
essas sacerdotisas.
Mas de onde vem a frase “conhece-te a ti mesmo”, por que estava inscrita no
Templo de Delfos, quem a inventou? Foi Platão, Pitágoras, Sócrates, de onde veio,
afinal?
Muito provavelmente, na verdade, essa frase fazia parte da tradição grega da
época, da mentalidade e da filosofia do povo grego naquela época, que muito
provavelmente buscou inspiração no próprio Egito. Porque há aqueles que falam que
esse mesmo tipo de mentalidade também era encontrada no antigo Egito.
Então aquela frase não pertenceu a um filósofo, mas sim a toda uma tradição,
e ecoou ao longo de toda a história da filosofia ocidental – a Grécia, afinal de contas,
é o berço da nossa cultura. E então a frase foi sendo ensinada e espalhada até chegar
a nós, nos dias de hoje.
Mas o que é esse “conhece-te a ti mesmo”? Vamos refletir um pouco sobre
isso, agora que vocês sabem de onde vem a frase que, na verdade, tem um
ensinamento importante – que não é só da Grécia, mas de toda a tradição humana.
O que há por trás dessa frase?
Existia no mundo clássico uma enciclopédia grega – provavelmente a primeira
da história humana – chamada Suda1, e nela existe uma frase muito interessante que
eles usaram para explicar o verbete “conhece-te a ti mesmo”: “é um provérbio aplicado
àqueles que tentam ultrapassar aquilo que são”.
É uma boa definição, né? Aqueles que buscam superar os seus próprios limites.
Mas quais são os nossos próprios limites e quem é que somos? Eu estava refletindo,

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Uma rápida pesquisa no Google, em sites como o da Wikipedia, o da Escola Britannica e outras
fontes, revela que, a despeito de realmente ser a primeira enciclopédia de que se tem notícia na história,
a Suda é originária de Constantinopla e data do século X, portanto ainda não existia no mundo clássico.
A pequena confusão feita pela professora talvez tenha sido causada pelo fato de que a Suda registra
fontes do mundo grego clássico, muitas das quais se perderam e só vieram a ser conhecidas através
desta enciclopédia.
para poder dar essa palestra para vocês, um pouco sobre essa ideia do “conhece-te
a ti mesmo”, encontrar um sentido mais profundo por trás disso, e eu fiquei pensando
que nós buscamos nos conhecer desde quando nascemos.
Vocês já viram como é que os bebês fazem? Eles começam a descobrir as
próprias mãos, os próprios pés... e aí nós vamos crescendo e descobrindo que nós
nos relacionamos, que há os seus brinquedos, os meus, que nós brincamos... depois
viramos adolescentes e descobrimos que temos paixões, vivemos a experiência da
vida comum... depois crescemos, precisamos definir a nossa profissão, quem somos,
nossa vocação, para onde vamos, assumimos os nossos papéis, etc.
E aí percebemos que há muitas expectativas em relação a nós. Nós precisamos
crescer, casar, ter filhos, ter uma profissão, ocupar um papel na sociedade, viver a
nossa vida e... morrer.
Agora, se nós temos um sentido de vida filosófico ou pelo menos uma
inquietação filosófica – e todos que estão aqui, eu tenho certeza, de alguma forma a
tem – então começamos a nos deparar com perguntas mais incômodas. Além
daquelas perguntas todas, nos perguntamos: qual é o sentido da vida? Quem eu sou
de verdade? Trabalhar, estudar e fazer tanta coisa para que e em direção a quê?
Então começamos a perceber que essa pergunta, “conhece-te a ti mesmo”,
possui várias camadas. Não se trata simplesmente de conhecermos quais são nossos
defeitos e qualidades.
Eu posso conhecer aquilo que é o meu corpo, e é muito interessante isso,
vamos falar a esse respeito. Quando olhamos para uma pessoa, o formato do corpo,
a postura, o jeito de sentar, o jeito de vestir-se, tudo isso fala muita coisa a nosso
respeito. Quando vemos uma pessoa caminhando podemos descobrir muitas coisas
sobre quem ela é. Então o corpo fala.
Os gregos diziam que nós temos o alimento do corpo, que eles chamavam de
soma. E eles diziam que nós temos uma outra camada mais profunda, a nossa psique,
as nossas ideias. Vocês já perceberam que nós temos muitos padrões mentais que
são nossos? Já viram que há pessoas que são muito lógicas para olhar a realidade e
outras que a percebem muito mais do ponto de vista das emoções? Cada um pensa
e sente a realidade de um jeito diferente.
Então essa é uma outra forma de conhecermos a nós mesmos. Como
funcionamos por dentro, como funciona a nossa mente e como funcionam as nossas
emoções.
Só que, nos diz a filosofia grega, para além do nosso corpo, nossa psique e
nossos padrões mentais e afetivos, existe algo ainda mais profundo, a que os gregos
chamavam de nous – a nossa natureza espiritual.
Assim, quando os seres humanos daquela época falavam “conhece-te a ti
mesmo”, eles não davam a essa frase o mesmo sentido que os psicólogos hoje dão-
na. Não se trata simplesmente de conhecer a nossa linguagem corporal e nem
somente os nossos padrões mentais e afetivos.
Trata-se, na verdade, de conhecer uma realidade muito mais íntima e muito
mais profunda, sobre a qual sabemos muito pouco. Vocês estão percebendo, então,
que por trás dessa frase “conhece-te a ti mesmo” existem camadas e camadas que
vão ficando cada vez mais profundas? E o que é esse mistério, o que é esse conhecer
a si mesmo de uma forma mais profunda?
Eu vou dar a vocês uma outra chave, que é presente não só na tradição grega,
mas também em várias culturas antigas, e eu vou complementar a frase “conhece-te
a ti mesmo”. Existe uma outra versão dessa frase que diz: “conhece-te a ti mesmo e
conhecerás os deuses e o universo”.
Já ouviram essa versão? Essa não estava escrita no Oráculo de Delfos.
Ninguém sabe exatamente onde e como ela surgiu. Os filósofos começam a falar
sobre ela em algum momento da história, e então começam a adotá-la como sendo
uma frase mais completa.
Quando os gregos antigos falavam “conhece-te a ti mesmo e conhecerás os
deuses e o universo” estavam querendo dizer que o ser humano é uma célula do
mistério da natureza e as mesmas leis que se aplicam ao espaço infinito aplicam-se
também ao microcosmos da natureza humana.
E por trás disso os gregos enxergavam que a natureza tem leis, padrões, um
código. E que esse código tem sons expressos pelas notas musicais, tem cores, tem
números, tem formas geométricas.
Existe uma coisa na tradição grega muito bonita. Platão falava sobre algo
chamado de “a música das esferas”, que dizia ele ser a música emitida pelos planetas.
Platão dizia que todas as coisas emitem um som, inclusive os planetas. Então
imaginem que todos os planetas emitem uma música, assim como todos os astros.
Todas as coisas emitem um som.
Porque se o som é oriundo da reverberação das moléculas que se
movimentam, então todas as coisas emitem um som. Só que o som das moléculas
nesse copo – a professora pega uma taça de vidro com água – eu não ouço porque
não sou capaz. Mas algum movimento os átomos e moléculas desse copo fazem e,
assim como todas as coisas na natureza, também emitem um som.
Então os gregos falavam sobre esses sons da natureza. Platão dizia algo muito
interessante: como nós ouvimos as músicas das esferas desde que nascemos, nós
não a ouvimos. Por ser um som sempre presente, nós não o conhecemos e não
sabemos como ele é.
E eu estou dizendo isso para vocês porque os gregos acreditavam que, assim
como existe o som da natureza, o espectro de cores, os números e a geometria da
natureza, o ser humano também é parte da natureza. E nós temos uma ignorância
muito própria de nos sentirmos apartados da natureza, não é assim? Quando
pensamos na natureza, pensamos sempre em algo fora: nas plantas, nas matas, nos
animais, na flora, na fauna. Mas esquecemos de pensar que o ser humano é parte
desse sistema, e que a natureza não é apenas os animais que observamos.
O que é a natureza? Tudo, todo o espaço infinito, tudo aquilo que nós
observamos. O ser humano é parte da natureza. E se existe uma matemática da
natureza, sons, cores e um código da natureza, e se nós somos parte da natureza,
então essas mesmas coisas estão presentes em nós, o mesmo código da natureza
está presente em nós.
E o que os antigos faziam? Eles estudavam tudo isso. A astrologia, para poder
falar das leis presentes por trás dos grandes planetas e das grandes constelações,
que reverberam e influenciam a psique humana.
Os antigos falavam até que a forma como as moléculas se organizam segue
um padrão geométrico. Existe uma lógica de ligação entre as moléculas, que segue
um padrão geométrico.
Então, no fundo, o que estamos falando? Que nós somos uma combinação de
sons, de cores, de números, de figuras geométricas. Uma combinação de leis
desconhecidas por nós.
Por isso é que toda a tradição humana diz que o ser humano tem um grande
mistério dentro de si, o qual desconhece – por desconhecer a si próprio – e acaba
buscando fora. Por isso as tradições dizem-nos para aprofundarmo-nos dentro de nós
mesmos e descobrirmos quem realmente somos. Pois se descobrirmos quem somos
– e não me refiro a gostos pessoais – vamos descobrir que existe um padrão da
natureza presente em nós mesmos, que é o padrão da vida.
O curioso é que essas leis da natureza misturam-se e, por conta disso, cada
ser humano possui um padrão único e especial, que é uma combinação de sons,
cores, elementos básicos, figuras geométricas, equações matemáticas. Isso tudo
deixa esse processo de descobrir quem somos, como parte da natureza, ainda muito
mais rico. [Esse processo] que é descobrir, no fundo, o mistério da consciência.
E o que a ciência sabe, de forma geral? A ciência ocupa-se daquilo que é
externo, o nosso padrão fisiológico. Mas se esquece de observar que, por trás da
natureza humana, existe o elemento da consciência.
Então, no fundo, essa tradição a que me referi nos mostra e diz que
conhecemos muito pouco sobre o mistério da consciência humana. Sabemos sobre o
nosso eu biológico, sabemos algo sobre o nosso eu psicológico e social. Agora, sobre
esse padrão da natureza expresso no fundo da nossa consciência sabemos quase
nada.
Toda a nossa ciência ocupa-se com o lado externo da realidade. Ela descreve
o nosso eu social, mas não descreve o nosso eu interno. Então ficamos com uma
cultura extremamente avançada e refinada do ponto de vista racional e tecnológico,
mas completamente ignorante em relação aos mistérios da consciência presentes
dentro de nós, e que fazem parte de princípios maiores da natureza.
Mas como conhecer o eu? Quando queremos estudar e aprender alguma coisa
nós costumamos ler, não é? “Vamos estudar”, “vamos ouvir”, “vamos fazer cursos”...
não é assim quando pensamos em aprender algo? E aí, algo interessante nessa frase
do “conhece-te a ti mesmo” é que o verbo utilizado nela, em grego, é o mesmo que
está relacionado à palavra gnose.
A palavra gnose significa conhecimento, mas não aquele conhecimento de
olhar de fora, de olhar no espelho e dizer “ah, estou conhecendo quem eu sou”. Não.
Nós temos uma forma de conhecer que é muito superficial, nós lemos livros para saber
das coisas... os gregos quando falavam “conhece-te a ti mesmo”, quando falavam
sobre gnose, não se referiam a ler livros ou a pensar sobre as coisas, mas falavam de
um grau de conhecimento de penetração nos mistérios da vida.
Há um livro muito interessante de um sábio hindu chamado Shankaracharya,
onde ele faz o seguinte comentário: “nós nos curamos quando falamos o nome do
remédio ou quando o bebemos? Nós nos liberamos quando pronunciamos o nome de
Brahman ou quando vivemos a realidade de Brahman? Nós conhecemos a justiça
quando nós a conceituamos ou quando somos justos? Sabemos o que é o amor
quando lemos um tratado sobre o amor ou quando desenvolvemos a capacidade de
amar e de sentir empatia por alguém de quem à primeira vista não gostamos”?
Para eles eram ideias muito diferentes conhecer de fora e conhecer de dentro.
A gnose para eles era um conhecimento profundo sobre a realidade das coisas, que
tinha muito menos a ver com a mente e muito mais a ver com a intuição; um
conhecimento muito menos relacionado com os atos de pensar e ler, e muito mais
relacionado com o ato de sentir. Mas não sentir de forma comum, como pensamos,
mas sim de uma forma profunda, penetrando na vida, entregando-nos à vida.
É muito interessante isso porque nós construímos no ocidente uma cultura
muito racional, mas com muitos limites. Eu estava lendo, por esses dias, um livro muito
interessante, em que Jung fala sobre psicologia e religião, e nele conta sobre os casos
de seus pacientes em seu consultório. É muito interessante.
Ele conta o caso de um paciente que teve, um homem de meia idade e muito
culto, que tinha uma mente muito estruturada, muito racional e lógica, e que era doutor
em algum campo da ciência. Esse homem havia negado dentro de si qualquer tipo de
religiosidade e de possibilidade de intuição. E era curioso porque o tempo todo esse
homem negava isso dentro de si, mas o tempo todo sonhava com isso. Sonhava com
cerimônias, com a Igreja, com velas, cultos, enfim, com elementos simbólicos que
faziam parte da religião da qual um dia ele havia participado.
Sabem o que aconteceu com esse paciente? Ele acabou ficando doente,
desequilibrado psicologicamente, e não sabia o motivo. Ele era muito lúcido, era capaz
de conversar, estruturar seus raciocínios, expor os sonhos que havia tido, de forma
que parecia que ele não tinha nada (no sentido de não estar acometido por nenhum
distúrbio). Mas era uma pessoa desequilibrada do ponto de vista psicológico.
E Jung falando a respeito dos sonhos que esse homem teve, diz que a partir
do momento em que ele começou a aceitar que a sua vida psíquica era muito mais do
que o lado racional que ele dominava e conhecia, e quando começou a abraçar as
imagens de seu inconsciente e os elementos próprios de sua intenção, que estavam
escondidos dentro dele, dos quais tinha medo e precisava admitir que não os
dominava, ele se curou.
Isso porque a partir desse momento aquele homem passou a ter uma vida
psíquica mais completa. Ele passou a aliar a razão que tinha com a capacidade do
sonho, da imagem, da intuição, e assim tornou-se uma pessoa mais completa.
Então o que é conhecer a si mesmo? Não é ler mil livros sobre
autoconhecimento, nem assistir mil palestras sobre autoconhecimento, nem fazer mil
cursos sobre autoconhecimento. Conhecer a si mesmo, na verdade, está muito mais
associado a colocar-se na prova da vida, viver a vida com intensidade e profundidade,
com entrega; superar limites no nosso dia-a-dia, nas nossas relações com as pessoas,
para saber de fato qual é o mistério da vida presente dentro de nós.
E o que é interessante nesse processo de conhecer as várias formas de
conhecimento? As tradições antigas falavam sobre aquilo que eles chamavam de Eu;
a Índia falava sobre atma, que é esse Eu maior e desconhecido. Shankaracharya, que
eu já mencionei, dizia que existe um mistério por trás de nós que é justamente esse
mistério do “Eu sou”.
É até curioso, quando, por exemplo, alguém pergunta “quem é fulano” e você
responde “sou eu”... é a primeira coisa que você responde, não é? “Sou eu”... mas
existe algo mais profundo. Sabem por que eu estou voltando a isso, de novo, com
vocês? Porque antes de vir para cá, eu pensei muito sobre o que iria falar para vocês,
e eu estava com mil elaborações...
Pensei em trazer frases astrológicas, falar sobre os arquétipos - eu já fiz isso
uma vez e achei muito interessante, porque a astrologia traz arquétipos da psique
humana extremamente interessantes. Pensei em falar sobre esses temperamentos
porque as pessoas iriam identificar-se com esses arquétipos, etc. Aí depois eu me
deparei com uma frase de Sócrates, no Fedro, que é uma obra clássica de Platão, na
qual pedem a Sócrates que fale um pouco sobre mitologia, requisitando seu
conhecimento acerca do assunto.
Sócrates então responde que não iria perder tempo estudando mitologia
naquele momento, porque ainda não havia achado resposta para a coisa mais
importante de todas, que é “quem eu sou”, lembrando a máxima do Oráculo de Delfos,
“conhece-te a ti mesmo”.
Por que eu estou dizendo isso? Porque todo aquele conhecimento que eu citei
há pouco sobre as leis da natureza e os seus padrões, tudo isso em si tem pouca
validade. São necessários e fazem parte da caminhada, mas, no fundo, estamos
falando de um ponto que está além de tudo isso.
Várias tradições dizem que, na verdade, sabedoria e encontrar a si mesmo não
significam colocar mais coisas dentro de nós ou encher mais o jarro e nem
simplesmente descobrir mais coisas, mas sim retirar os excessos, aparar as arestas
e entrar num processo de purificação de quem realmente somos, para que possamos
ter contato com aquilo que de fato é autêntico em nós.
E sermos autênticos, verdadeiros, sermos nós mesmos, é uma das coisas mais
difíceis que existem. Ontem, em sala de aula, eu falava um pouco sobre isso, que nós
fazemos muito teatro em relação a quem somos e acreditamos no nosso próprio
teatro, e perdemos autenticidade na vida.
No fundo, descobrir quem somos é nos liberarmos de nossas próprias fantasias
e das projeções externas, para que possamos ser quem somos de verdade, para além
de qualquer coisa. Significa ter contato com esse mistério da vida que as tradições
falam, que é o atma, o verdadeiro Eu que está além de tudo isto.
Antes de vir para cá eu estava compartilhando com uma pessoa o conteúdo da
palestra, e ela falou uma coisa tão bonita e que tem a ver com uma frase de Sri Ram,
que falava que quando o ser humano, na verdade, conhece quem ele é, ele conhece
o mistério da unidade, que é o mistério de Deus.
E se o homem descobre esse mistério da unidade dentro de si, que é o mistério
de Deus, o que ele descobre? Todas as coisas. O segredo não está fora, mas está
dentro. Só que é um segredo. E o nosso desafio é desvelar esse segredo.
E por isso a necessidade de termos uma caminhada humana e filosófica, uma
vida consciente, para que possamos ir dissipando esses véus e logrando essa tarefa,
nada fácil, de saber quem somos.
E o que eu vou fazer agora é falar para vocês um pouco sobre em que consiste
essa caminhada. Eu disse a vocês que na frase “conhece-te a ti mesmo” existem
camadas mais profundas de compreensão. O homem é um microcosmos, que é
reflexo do macrocosmos. Para além disso tudo existe um eu real, que é o Eu
verdadeiro.
Como fazemos para descobrir esse Eu verdadeiro?
Existe toda uma caminhada, existem princípios. É uma trilha – que é a proposta
de Nova Acrópole. Então eu vou colocar para vocês alguns elementos que são
próprios para essa trilha, mas ela não se esgota nesses elementos. No entanto, esses
elementos que vou colocar aqui são virtudes fundamentais para qualquer pessoa que
queira caminhar.
O primeiro elemento fundamental na caminhada para descobrir “quem eu sou”
é uma boa dose de amor e uma boa dose de generosidade (Amor/Generosidade).
Geralmente quando pensamos no amor, pensamos nesse sentimento de uma
forma muito superficial. Pensamos no amor entre um homem e uma mulher, no amor
da família – que são expressões muito bonitas e importantes desse sentimento. Mas
quando falamos de amor estamos falando de uma chave muito mais profunda.
O amor abre a chave para a intuição. Porque o amor entende mais, ele
compreende mais e melhor. Porque se alguém faz alguma coisa para mim de que eu
não gosto e ela comete um erro, o que eu faço? Eu rechaço. Mas seu eu quero o bem
dessa pessoa e se eu a amo de alguma forma, e ela comete um erro, em vez de
rechaçá-la eu devo buscar o que está por trás daquela atitude.
O amor nos dá um grau mais elevado de empatia e de entendimento, nos faz
ter uma visão muito mais profunda em relação à vida.
E o amor tem tudo a ver com a generosidade, que é outro elemento
fundamental nessa caminhada, ou seja, devemos ter uma boa dose de altruísmo, uma
boa dose de trabalho pelos demais.
Uma coisa muito comum de quem está na busca de conhecer os mistérios da
vida é se deparar, às vezes, com um grau de egoísmo espiritual. O que é o egoísmo
espiritual? É o prazer da vida interior, é o prazer do conhecimento oculto da realidade
da vida, o prazer de estudar e entender. Porque tudo isso gera um prazer, tudo isso é
bom e faz parte da vida. O prazer de contemplar, de descobrir a si mesmo, enfim, são
os prazeres próprios da alma, que têm o seu valor e também são importantes e
válidos. No entanto, se a minha vida toda é apoiada no propósito de eu ter um gozo
de satisfação pessoal por conta da vida espiritual, então ela perde o seu valor.
Vejam que interessante. Não faltam guias nas livrarias sobre tipos de
meditação transcendente para você alcançar a “liberação”. Se eu quero alcançar a
liberação pela liberação em si mesma, pelo bem que isso pode trazer para mim, então
ela tem muito pouco valor.
Várias tradições falam – inclusive Blavatski fala sobre isso no A Voz do Silêncio,
que é um livro que nós trabalhamos no curso de filosofia – sobre dois caminhos: a
Doutrina do Olho e a Doutrina do Coração.
Na Doutrina do Olho eu estudo e trabalho para me liberar. Na Doutrina do
Coração eu trabalho e estudo pelo bem dos demais. Nesta última a liberação e o
crescimento humano ocorrem por uma necessidade de evolução humana, não
somente minha, mas especialmente dos demais. Perceberam a diferença?
E então o que acontece? Nós achamos tudo isso muito bonito e queremos viver
essa experiência somente para nós, e isso acaba gerando um grau de egoísmo. E se
não tomarmos cuidado isso cria um conhecimento que, sem amor, gerará orgulho e
vaidade – porque “eu sei e os outros não sabem”.
No fundo essa caminhada deveria nos deixar cada vez mais humanos e mais
fraternos. Se ela nos deixa mais apartados dos demais e mais críticos em relação aos
outros, então estamos fazendo algo errado e ela nos deixará mal. Se isso estiver
ocorrendo, então a caminhada trilhada não será aquela do engrandecimento humano,
mas sim aquela que nos aprisiona.
É o que diz a tradição tibetana, que fala sobre a “sala da instrução”, onde há
um conhecimento que trabalha para o meu engrandecimento pessoal, mas que não
tem valor para os demais e, portanto, tem pouco valor para a humanidade como um
todo.
Então essa é a primeira coisa fundamental na caminhada: o amor, a
generosidade e o altruísmo.
Todas as tradições se referem à ideia de “cada vez menos eu” e “cada vez mais
os demais”. Na verdade, é o nosso egoísmo que nos impede de ver. Por isso uma boa
forma de caminhar é entregar cada vez mais.
Existe uma chave muito interessante que Sri Ram nos traz sobre a ideia de
sacrifício. Para nós sacrifício é um peso, não é? Vocês sabem qual é o sentido original
da palavra sacrifício, como “sagrado ofício”? Sacrifício significa que aquilo que é
espiritual está posto acima daquilo que é material e externo, ou seja, eu coloco o
espiritual acima.
Mas como isso para nós tem muito peso, nós não conseguimos. Nós
associamos o “sagrado ofício” de colocar o espiritual acima como algo pesado,
quando em realidade deveria ser exatamente o contrário. O que é o sacrifício? É a
libertação, é a melhor coisa que pode haver. É a capacidade de o ser humano entregar
o coração e entregar quem ele é.
E é muito curioso como as tradições falam sobre isso, que entregando tudo de
nós, tudo encontraremos. Sri Ram diz que se entregarmos tudo de alguma forma
estaremos percebendo o coração da vida. Nada para mim, tudo para a vida. Cada ser
humano como veículo da grande vida.
Vejam que interessante. Imaginem, se o ser humano se torna o veículo da
grande vida, ele é parte do mistério da vida, ele entende o mistério da vida, porque
ele é a própria vida, de forma cada vez mais consciente.
Outro elemento fundamental na caminha é uma boa dose de
Purificação/Moral.
Normalmente quando pensamos em purificação e moral costumamos ter uma
visão puritana. A purificação geralmente é entendida como essa coisa certinha, não
é? Nesse sentido é normalmente ligada a elementos instintivos. Mas sabem qual é a
melhor purificação que nós podemos fazer? É a purificação da nossa mente.
Se aprendêssemos a examinar melhor a nossa mente e a limpá-la dos nossos
pensamentos circulares, de nossas formas mentais críticas e de nossos rechaços e
tivéssemos realmente uma vida e um coração abertos à Vida, e um grau de domínio
básico sobre os nossos instintos, teríamos mais capacidade de ter contato com o
sublime.
Como é que eu vou ter contato com algo muito delicado se eu sou muito
grosseiro e não consigo perceber a diferença entre uma coisa e outra? Um dia desses
alguém me contou uma estória que eu achei ótima. A pessoa estava lendo e veio o
gatinho até ela, e ficou examinando-a, tentando entender o que estava entretendo
tanto o seu dono. Como o gatinho não conseguiu entender o que estava acontecendo,
ele começou a morder o livro. Ora, como o gato obviamente não poderia ler ou
entender o que estava acontecendo, ele começou a relacionar-se com o livro da forma
que era interessante para ele, então começou a mordê-lo.
Vocês percebem como nós agimos como o gatinho? Nós mordemos o livro da
vida porque não temos sensibilidade e profundidade suficientes para ler o livro da vida.
Para que o gato pudesse ler o livro da vida ele precisaria de quê? Precisaria ter uma
mente estruturada, precisaria estar em um outro ponto evolutivo para ter interesse e
capacidade de ler o livro.
Nesse livro da vida que tanto o gato como nós mordemos, a natureza o tempo
inteiro fala e ela mostra que, da mesma forma que existem coisas muito feias e
sombrias, existem também coisas muito belas e elevadas, que nós simplesmente não
enxergamos.
Os mestres dizem que nós poderíamos chegar a esse estado de consciência
superior aqui e agora. Isto não está longe de nós, é possível aqui e agora. Só que é
um “aqui e agora” em um outro estado de consciência, numa outra dimensão de vida.
E para isso precisamos de uma capacidade de enxergar mais essa parte mais
sublime, mais sutil e mais elevada da vida. E isso eu não vou adquirir com uma leitura,
mas como uma forma de vida, e por isso eu falei em um grau básico de domínio sobre
nós mesmos, sobre nossos instintos, sobre nossas formas mentais, para termos uma
mente e um coração mais limpos, para enxergarmos mais a vida como ela é.
Porque, no fundo, nós “criamos” a realidade que nos agrada. Nós inventamos
a realidade. Olhamos para uma pessoa e achamos que ela é algo – fruto do meu
preconceito e das experiências que eu vivi. Isso é o que chamamos de uma mente
mecânica, que projeta o presente baseada na experiência passada. Essa mente não
vê, ela simplesmente reproduz o mesmo padrão do passado.
Para enxergar uma pessoa como ela é, eu precisaria ter a mente totalmente
limpa, sem preconceito nenhum, sem achar, criar e nem inventar nada. Simplesmente
esperaria que o mistério daquela pessoa presente diante de mim pudesse se revelar
aos meus olhos. Vejam que interessante. Isso é o que quero dizer quando falo de
purificação, estarmos limpos e livres para vermos as coisas como elas são e não para
inventarmos uma realidade para qual fomos criados a acreditar.
Nós “criamos” o mundo com a nossa mente o tempo todo, ninguém vê o que a
realidade de fato é, assim como também não vemos o que somos, mas nos
inventamos. Inventamos aos outros, nos inventamos, e não vemos as coisas como
elas realmente são.
O terceiro elemento fundamental da caminhada – e aqui tocamos num
elemento muito próprio da filosofia – é uma dose de Lucidez/Discernimento.
Uma vez, conversando com um psiquiatra, ele me disse que qualquer pessoa
pode surtar, sabiam? Isso pode acontecer com qualquer um. Você percebe, às vezes,
os padrões mentais que as pessoas têm e você percebe que são comportamentos
repetitivos (por isso são um padrão) e você nota que, ali no final da linha, eles vão
virar um desequilíbrio psicológico.
E quando existe um desequilíbrio psicológico, um grau de paixão, uma emoção
desenfreada, eu simplesmente não penso. É muito interessante e tem até quem
brinque com isto, mas quando a pessoa está apaixonada ela não pensa mesmo, e é
por isso que ela faz as bobagens que faz, porque ela para de pensar. A paixão faz
isso, ela cega a nossa possibilidade de razão.
Então quando eu vejo uma pessoa com um comportamento muito exagerado,
eu vejo que tem alguma coisa aí fora do centro. Quando falamos de lucidez e
discernimento, estamos falando de uma boa dose de sobriedade, de centro, de
capacidade de pensar de forma objetiva, de bom senso, e de um saudável senso
crítico – e não daquele senso crítico que descontrói tudo –, enfim, estamos falando de
uma boa capacidade de reflexão.
Há um filósofo chamado Eliphas Lévi, que tem um livro muito interessante no
qual fala um pouco sobre a importância de termos uma lanterna, um farol – ele usa,
na realidade, esse elemento da lamparina, e usa essa imagem para simbolizar a
razão.
E aí vocês irão me perguntar: “mas você não acabou de falar que a intuição é
importante? Razão e intuição não são duas coisas diferentes”?
A questão é que a razão à qual me refiro não é a razão da nossa mente comum,
cotidiana, egoísta e limitada. Eu me refiro a uma razão mais profunda, sensata,
ponderada, humana, válida. Refiro-me a um grau de sensatez fundamental para
aqueles que queiram caminhar. Senão eu encontro qualquer louco por aí, vou segui-
lo e vou achar que estou fazendo a coisa certa.
Precisamos ter um grau de lucidez, de objetividade e de centro para saber
ponderar o que é e o que não é. Então o discernimento e a lucidez são fundamentais
para quem quer caminhar e encontrar a si mesmo. E é muito interessante até para
que possamos ter uma visão mais correta de quem somos.
E então entramos no último dos elementos fundamentais da caminhada que
é a Humildade. Platão, assim como vários outros filósofos, fala sobre a facilidade que
temos de projetar algo que não somos, de invertamos sobre nós mesmos algo que na
verdade não somos.
E uma coisa muito bonita para quem queira conhecer a si mesmo é a
capacidade de termos coragem para conhecermos à nós mesmos. Se eu não tenho
coragem de olhar para as minhas sombras e saber quem eu sou, e se não tenho um
grau de humildade para ouvir uma outra pessoa que sabe algo sobre mim e sobre
quem eu sou, então eu nunca poderei crescer.
Então a humildade – e o nosso fundador fala sobre isso (o fundador da Nova
Acrópole) – é a pedra principal na coroa das virtudes. Para caminhar eu preciso me
colocar na condição de aprendiz; eu preciso querer ouvir e querer saber. Porque, se
eu acho que já sei, como terei a possibilidade de aprender? Não há como.
Assim, a humildade é um dos elementos mais fundamentais.
E, por fim, se nós entendemos um pouco desse mistério de conhecer a nós
mesmos de uma forma mais profunda, descobrimos que somos um pequeno ponto do
cosmos infinito, um microcosmos dentro do macrocosmos. Se nos aventurarmos a
desenvolver um pouco mais a intuição, se trabalharmos o amor, a purificação, a
lucidez e a humildade, poderemos saber um pouco mais sobre quem somos.
E o que eu acho que nós podemos tirar como síntese, para que possamos viver
essa nossa jornada, é viver esse mistério no ponto que nos cabe a saga da evolução
(saber em que degrau estamos) e abraçarmos de forma um pouco mais consciente
esse grande propósito da vida, que é a própria evolução.
Num desses dias eu estava refletindo muito sobre a questão das motivações.
Existem filósofos que falam que o mais importante é o prazer – o prazer filosófico, e
outros que falam sobre o dever. E nós estamos o tempo todo falando sobre esse
querer humano, porque a força do querer humano é muito grande. Ninguém pode
convencer ninguém a querer nada, o querer é nosso, é íntimo, é o que no fundo define
quem somos e define a nossa vida.
Então a evolução parte de aprendermos a querer. E nesse ponto eu gosto muito
de Confúcio quando ele fala que o sentido da vida é o aperfeiçoamento. Querer o
autoconhecimento não como um fim em si mesmo, mas como um imperativo da vida,
da própria evolução.
Quando o homem evolui, quando quer crescer e servir, quando quer ir em
direção e no sentido de evolução da vida, ele está sendo ele mesmo, e está
caminhando a favor da lógica da vida.
Vocês entendem isso? Porque, se existem leis na natureza e o homem é parte
desse universo racional que possui leis, significa então que o universo possui uma
finalidade, ele não é aleatório. Então existe uma direção. E quando o ser humano vai
descobrindo cada vez mais dentro dele mesmo esse mistério da evolução e o mistério
do sentido da vida, ele vai caminhando de uma forma cada vez mais consciente e
encontra isso como a própria motivação de viver.
Vários filósofos dizem que quando ser humano não encontra o sentido maior
da vida ele fica ocupando-se de coisas para ocupar o tempo, porque não consegue
descobrir o próprio sentido da vida.
Por outro lado, quando o ser humano vai descobrindo, cada vez mais, o sentido
interno da vida, então não falta a ele força, motivação e energia para poder viver a
favor da vida.
Entendem? Não como um ser humano aleatório que pensa “eu vou fazer meu
projetinho e ignorar que eu sou parte de um plano maior e viver a minha vida pessoal
sem me preocupar com o resto”. O filósofo não vive simplesmente voltado para si,
porque não faz sentido, porque ele percebe que é parte de algo maior, e que se esse
algo maior o influencia, ele o puxa a caminhar.
O dever de cada ser humano é sentir esse fio da vida, que faz com que nós
caminhemos. É quase como se fosse sentir o fio da evolução da vida, para cumprir o
papel que nos cabe e vivermos uma vida consciente e verdadeiramente humana.
Bom, então é isso o que eu tinha para trazer para vocês hoje, um pouquinho
desse “conhece-te a ti mesmo”, uma chave um pouco mais profunda, para além de
conhecer simplesmente o que são nossos defeitos e qualidades, mas para conhecer,
na verdade, a nossa natureza mais íntima, o nosso ser.
É uma caminhada longa, e a proposta de Nova Acrópole é o passo-a-passo
dessa longa jornada. Mas cada vez que damos um passo, é quase como se fôssemos
uma criança que acordasse num novo dia. Cada dia é um novo dia, e deixa com que
a jornada da vida fique cada vez mais motivante, profunda e rica.
E esse é o convite da filosofia: uma vida mais consciente e mais rica.

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