O presente trabalho pretende problematizar a manipulação política do medo e
sua influência no Direito Penal. O referido conceito será inicialmente analisado no contexto do contratualismo clássico, como estruturante da filosofia jurídico- política hobbesiana, ainda hoje amplamente revisitada nas problematizações acerca da segurança pública e poder do estatal. Aqui, o medo decorre primeiramente da condição objetiva de ausência da segurança na sociedade pré-civil (denominada pelo autor como Estado de Natureza), onde prevalece a eminência da violência e de ameaças generalizadas. Estas apenas cessariam após a instituição do Estado Civil. Dessa condição de medo generalizado os indivíduos fundam o Estado Civil, como uma alternativa à insegurança vigente. Uma vez instituído o Estado, o medo ainda sustenta-se como elemento político essencial, já que pela sua manipulação política e jurídica o Estado aumenta sua capacidade de imposição da lei e garantia da ordem. Levantadas as importantes contribuições do pensamento político hobbesiano, conhecido pela relevância dada à questão da segurança (e sua relação com o medo), é preciso por outro lado demonstrar que o referido filósofo não seria capaz, em sua época, de prever outros problemas decorrentes das mudanças estruturais apresentadas pela realidade sociopolítica contemporânea ocidental. Nela, o sistema de representação democrática aliado ao pleno desenvolvimento técnico dos meios de comunicação, oferecem terreno propício a uma importante questão: A crescente autonomia da esfera da manipulação subjetiva do medo frente às condições objetivas da realidade. Nesse contexto, os grandes meios de comunicação estabelecem intrincada relação com grupos e discursos de representação democrática, sendo a opinião pública indissociável da formulação das leis do Estado onde, dentro do problema proposto, se destaca a legislação penal.