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RESPONSABILIDADE CIVIL DOS GESTORES

uc Direito das Sociedades (2018/2019)


SUMÁRIO

Cuidaremos, em especial, dos seguintes aspectos:

Ø Responsabilidade para com a sociedade (art. 72º)


Ø Responsabilidade para com os credores sociais (art. 78º)
Ø Responsabilidade para com sócios e terceiros (art. 79º)
Ø Responsabilidade dos administradores de facto (art. 80º)
RESPONSABILIDADE PARA COM A SOCIEDADE

Ø PRESSUPOSTOS (art. 72º/1)

ü Ilicitude (“actos ou omissões praticados com preterição dos


deveres legais ou contratuais”)
ü Culpa (presumida - “salvo se provarem que procederam sem
culpa”)
ü Dano (“danos a esta” - à sociedade)
ü Nexo de causalidade (“danos a esta causados por actos ou
omissões”)
RESPONSABILIDADE PARA COM A SOCIEDADE
Ø DEVERES LEGAIS ESPECÍFICOS

No CSC – Dever de não ultrapassar o objecto social (art. 6º/4); não


distribuir aos sócios bens sociais não distribuíveis ou (em regra) sem
autorização (arts. 31º/1, 2 e 4, 32º, 33º/1, 2 e 3); prontamente convocar
ou requerer a convocação de AG em caso de perda de metade do capital
social, a fim de os sócios tomarem as medidas julgadas convenientes (art.
35º); não exercer por conta própria ou alheia, sem consentimento da
sociedade, actividade concorrente com a desta (arts. 254º, 398º/3 e 5 e
428º); promover a realização das entradas em dinheiro diferidas (arts.
203º e s. e 285º-286º); não adquirir para a sociedade, em certas
circunstâncias, acções ou quotas dela própria (arts. 220º, 316º, 319º/2,
323º/4 e 325º/2); não executar deliberações nulas do órgão de
administração (arts. 412º/4 e 433º/1).
RESPONSABILIDADE PARA COM A SOCIEDADE

Ø DEVERES LEGAIS ESPECÍFICOS

Fora do CSC – Dever de requerer a declaração de insolvência da


sociedade em certas circunstâncias (arts. 18º e 19º CIRE);
deveres decorrentes de normas jurídico-penais (cfr., p. ex., arts.
203º, 204º, 205º e 212º CP).
RESPONSABILIDADE PARA COM A SOCIEDADE

Ø DEVERES LEGAIS GERAIS (art. 64º)

Deveres de cuidado - al. a)


ü Dever de controlo ou vigilância organizativo-funcional
ü Dever de actuação procedimentalmente correcta (para a
tomada de decisões)
ü Dever de tomar decisões (substancialmente) razoáveis
(J. M. COUTINHO DE ABREU)
RESPONSABILIDADE PARA COM A SOCIEDADE

Ø DEVERES LEGAIS GERAIS (art. 64º)

Deveres de lealdade - al. b)


ü Comportar-se com correcção (fairness) quando contratam
com a sociedade (arts. 397º e 428º)
ü Não concorrer com a sociedade (arts. 254º, 398º/3-5 e 428º)
ü Não aproveitar em benefício próprio oportunidades de
negócio societárias
ü Não utilizar em benefício próprio bens e informações da
sociedade
ü Não abusar do estatuto ou posição de gestor (“luvas”)
(J. M. COUTINHO DE ABREU)
RESPONSABILIDADE PARA COM A SOCIEDADE

Ø DEVERES LEGAIS GERAIS (art. 64.º)

Deveres de lealdade - al. b)


i. “Interesse da sociedade, atendendo aos interesses de longo
prazo dos sócios” enquanto tais e comuns a todos eles
ii. “Interesses dos outros sujeitos relevantes para a
sustentabilidade da sociedade, tais como os seus
trabalhadores, clientes e credores”

HIERARQUIZAÇÃO DA IMPORTÂNCIA DESCENDENTE


RESPONSABILIDADE PARA COM A SOCIEDADE

Ø BUSINESS JUDGMENT RULE (art. 72º/2)

ü Razões
a) Doutro modo, o tribunal tenderia a confundir decisões de
resultados indesejáveis com decisões irrazoáveis
b) Frequentemente, os gestores não têm à disposição
ensinamentos seguros ou práticas empresariais comummente
aceites que possam invocar para provar a razoabilidade das suas
decisões
c) O padrão de revisão judicial informado pela regra da decisão
empresarial favorece o interesse social, pois promove a inovação
e escolhas mais arriscadas mas também, amiúde, mais lucrativas
RESPONSABILIDADE PARA COM A SOCIEDADE

Ø BUSINESS JUDGMENT RULE (art. 72º/2)

ü Pressupostos

a) Informação adequada (“em termos informados”)


b) Ausência de situação de conflito de interesses
c) Actuação “segundo critérios de racionalidade empresarial”

Afasta a presunção de culpa e demonstra a licitude da conduta


RESPONSABILIDADE PARA COM A SOCIEDADE

Ø BUSINESS JUDGMENT RULE (art. 72º/2)

ü Mas, afinal, em que consiste a “racionalidade empresarial”?

Traduz-se na consecução de um dado fim com o mínimo


dispêndio de meios (princípio da economia dos meios), ou a
consecução, com dados meios, do máximo grau de realização
do fim (princípio do máximo resultado)
Interpretação restritivo-teleológica: Bastará ao gestor que
(contra)prove não ter actuado de modo “irracional”
(incompreensivelmente, sem qualquer explicação coerente)
RESPONSABILIDADE PARA COM A SOCIEDADE

Ø BUSINESS JUDGMENT RULE (art. 72º/2)

Inaplicável a casos de violação do dever de lealdade e do dever


de actuação procedimentalmente correcta, bem como a casos
em que sejam preteridos deveres legais específicos, por não
existir aqui espaço de liberdade ou discricionariedade.
RESPONSABILIDADE PARA COM A SOCIEDADE

Ø INEXISTÊNCIA DE RESPONSABILIDADE

a) Ausência de algum dos pressupostos (art. 72º/1)

b) Business Judgment Rule (art. 72º/2)

c) “Não são igualmente responsáveis pelos danos resultantes de


uma deliberação colegial os gerentes ou administradores que
nela não tenham participado ou hajam votado vencidos” (art.
72º/3)
RESPONSABILIDADE PARA COM A SOCIEDADE

Ø INEXISTÊNCIA DE RESPONSABILIDADE (cont.)

d) “A responsabilidade dos gerentes ou administradores para


com a sociedade não tem lugar quando o acto ou omissão
assente em deliberação dos sócios, ainda que anulável” (art.
72º/5), ao arrepio das leis e doutrinas modernas, pelo que o
preceito há-de ser interpretado restritivamente
RESPONSABILIDADE PARA COM A SOCIEDADE

Ø SOLIDARIEDADE NA RESPONSABILIDADE (art. 73º)

Não é solidariamente responsável todo e qualquer


administrador pelo simples facto de ser membro de um órgão
administrativo plural.

A responsabilidade é por culpa e por facto próprio (e não


responsabilidade sem culpa e por facto de outrem).
RESPONSABILIDADE PARA COM A SOCIEDADE

Ø FACTOS EXTINTIVOS – arts. 74º/2 e 174º/1, al. b), e 5

a) Renúncia ao direito de indemnização pela sociedade;

b) Transacção (não é propriamente um facto extintivo da


responsabilidade);

c) Prescrição do direito de indemnização.


RESPONSABILIDADE PARA COM A SOCIEDADE

Ø ACÇÕES DE RESPONSABILIDADE

a) Acção da sociedade (art. 75º)

b) Acção social de sócio(s) ou acção social ut singuli (art. 77º;


cfr. tb. art. 74º/1)

c) Acção sub-rogatória de credor(es) da sociedade (art. 78º/2)

Ø ACÇÃO DE RESPONSABILIDADE ENQUANTO DURAR O


PROCESSO DE INSOLVÊNCIA – art. 82º/3, al. a) do CIRE
RESPONSABILIDADE PARA COM OS CREDORES SOCIAIS (art. 78º)

Ø PRESSUPOSTOS

a) Ilicitude, traduzida na inobservância das “disposições legais ou


contratuais destinadas à protecção” dos credores sociais
b) Culpa (não presumida)
c) Dano, traduzido numa diminuição do património em montante
tal que ele fica sem forças para cabal satisfação dos direitos dos
credores
d) Nexo de causalidade
Há, nestes casos, responsabilidade directa dos gestores para com
os credores sociais, que podem exigir para si, em acção autónoma,
indemnização
RESPONSABILIDADE PARA COM OS SÓCIOS E TERCEIROS (art. 79º)

Ø PRESSUPOSTOS

a) Ilicitude, traduzida na violação (i) direitos (absolutos) de


sócios ou de terceiros, (ii) normas legais de protecção de uns
ou de outros, (iii) ou certos deveres jurídicos específicos
b) Culpa
c) Danos “que directamente lhes causarem” no exercício das
suas funções
d) Nexo de causalidade
“Sócios” são ora visados enquanto tais. “Terceiros” são os
sujeitos que não são a sociedade, nem os gestores ou os sócios
(enquanto tais).
RESPONSABILIDADE (TAMBÉM) DA SOCIEDADE

ü Responde a sociedade para com os sócios e terceiros pelos


actos e omissões dos seus gestores?
ü Se sim, como se conjuga (ou não) essa responsabilidade com
a dos gestores?

A sociedade responde, mas em termos de responsabilidade


objectiva por facto de outrem. E os gestores respondem
directamente (cfr. arts. 6º/5 e 79º).
RESPONSABILIDADE DOS ADMINISTRADORES DE FACTO (art. 80º)

É administrador de facto (em sentido amplo) quem, sem título


bastante, exerce, directa ou indirectamente e de modo
autónomo (não subordinadamente), funções próprias de
administrador de direito da sociedade.

Os arts. 72º e s. são directamente aplicáveis (também) aos


administradores de facto. Tal asserto não tem expressão
explícita. Mas a letra da lei também não o infirma. E a ratio das
normas confirma-o.
AINDA EM MATÉRIA DE RESPONSABILIDADE…

Ø Artigo 81.º (Responsabilidade dos membros de órgãos de


fiscalização)

Ø Artigo 82.º (Responsabilidade dos ROCs)

Ø Artigo 83.º (Responsabilidade solidária do sócio)

Ø Artigo 84.º (Responsabilidade do sócio único)

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