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CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL

Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética


3ª Semana Brasileira de Catequese
Itaici-SP, 6 a 11 de outubro de 2009

CATEQUESE SÓCIO-TRANSFORMADORA

Dom Eugênio Rixen

A catequese não pode ficar fora da realidade. Ou ela transforma as pessoas e a sociedade, ou
ela não é fiel a mensagem de Jesus Cristo. Quando ela não atinge as raízes do ser humano, se torna um
verniz superficial. Como fazer para que a catequese não seja puramente doutrinal, mas atinja os
sentimentos e as atitudes das pessoas, eis um grande desafio nessa mudança de época.
Interação “Fé e vida”
Já dizia Exortação Apostólica “Catechesi Tradendae” do Papa Paulo II: “A catequese
autêntica é sempre iniciação ordenada e sistemática à revelação que Deus faz de si mesmo ao homem
em Jesus Cristo, revelação essa conservada na memória profunda da Igreja e nas Sagradas Escrituras,
e constantemente comunicada por uma tradição viva e ativa, de uma geração para outra. E tal
revelação não está isolada da vida, nem justaposta que ela esclarece totalmente para a inspirar e para
dela ajuizar criticamente, à luz do Evangelho, (nº. 22 citada pela Catequese Renovada nº. 117).
A Palavra de Deus tem como objetivo iluminar e orientar nossos comportamentos. Ela
precisa humanizar nossa vida e nossos relacionamentos. O método “Ver- Iluminar- Agir-Celebrar”
ajudou muitos cristãos na formação da consciência crítica diante da realidade.
Infelizmente existem ainda muitos que se dizem cristãos cuja prática socio-politica ou a vida
matrimonial não foram influenciadas pelos valores do Evangelho. Uma catequese mal feita ou
insuficiente levou a uma dicotomia entre fé professada e a pratica do dia-a-dia. Por isso ela não pode
ser reduzida simplesmente a um conjunto de conhecimentos, mas precisa atingir o ser profundo.
Por isso, a catequese tem que ser permanente. Os desafios da vida adulta necessitam de luzes
novas. O que se aprendeu quando criança, é insuficiente para orientar o comportamento do homem
moderno (ver documento de Aparecida nº. 295-300). Disse ainda o Diretório Nacional de Catequese:
“Essa confrontação entre a formulação da fé e as experiências de vida possibilita uma formação cristã
mais consciente, coerente e generosa. Não se trata tanto de um método quanto de um principio
metodológico, que perpasse todo conteúdo da catequese” (nº. 152).
Conhecer a realidade
A catequista precisa conhecer o mundo no qual vive. Começando pela realidade do lugar
onde mora, ele vai alargando seus horizontes, procurando as causas do que acontece. Precisa de uma
espiritualidade encarnada e não alienada da realidade onde vive.
“A visão da realidade é apresentada de modo bastante completa no Documento de Puebla e
nos documentos e pronunciamentos da CNBB, o que demonstra estar a Igreja agindo a partir da
realidade. Do mesmo modo, cada catequista deve aprender a fazer a análise da própria realidade local,
(CR nº. 172).
O Documento de Aparecida fala que estamos numa mudança de época com grandes desafios,
socioculturais, econômicos, sóciopolíticos e religiosos (nº. 43-100). Nossa linguagem em geral é
pouco significativa para a cultura atual e em particular para os jovens. Vivemos numa sociedade
pluricultural e plurireligiosa que faz com que os catequizandos e crismandos entram em contato com
valores e expressões religiosas diversas. Tudo isso questiona nossa pratica catequética.
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Vale ainda para nós, a recomendação de João Paulo II, na Catechesi Tradendae: “Daqui
também o cuidado que se há de ter na catequese em não omitir, mas sim esclarecer como convém, no
constante esforço de educação da fé, realidades como a ação do homem para sua libertação integral, o
empenho na busca de uma sociedade mais solidária e mais fraternal e as lutas pela justiça e pela
construção da paz” (nº. 29).
A mensagem final do Documento de Aparecida é um chamado muito forte para a nossa
catequese: “As agudas diferenças entre ricos e pobres convidam a trabalhar com maior empenho para
ser discípulos que sabem partilhar a mesa da vida, mesa de todos os filhos e filhas do Pai, mesa aberta,
inclusiva, na qual não falta ninguém. Por isso reafirmamos nossa opção preferencial e evangélica pelos
pobres. Comprometendo-nos a defender os mais fracos”... (nº. 271)
Conhecer a Palavra
A centralidade e a primazia da Palavra de Deus são fundamentais para nossa prática
catequética.
Disse a Catequese Renovada: “Diante dessa realidade, qual é a mensagem de salvação que
devemos anunciar em nossa Catequese? Para que todos os homens, a Igreja tem uma só resposta:
Cristo, redentor do homem. Ele não se substitui ao homem, mas se oferece como caminho da plena
realização humana e da vida eterna (Jo 8,32). Assim, essa libertação se torna plenamente ação do
homem e, ao mesmo tempo, plenamente dom de Deus, e o clamor surdo dos que não têm voz é aceito
por Deus: “Eu ouvi o clamor do meu povo por causa dos seus opressores, e desci para o libertar” (Ex
3,7-8).
A Palavra de Deus – Tradição, Sagrada Escritura, Magistério – nos ajuda a entrar em
comunhão com o Pai, plenamente revelado em Jesus Cristo. É ele o cominho que nos leva ao Pai.
Lendo a Bíblia vou encontrar luzes para minha própria vida, para minha convivência
comunitária e para meu compromisso na sociedade.
Diz a mensagem final do Sínodo sobre a Palavra de Deus na Vida e na Missão da Igreja:
“Precisamente porque no centro da Revelação está a palavra divina que adquiriu um rosto, a meta final
do conhecimento da Bíblia não é uma decisão ética ou uma grande idéia, mas o encontro com um
acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo”
(nº.06).
Catequese e CEBs
O lugar da Catequese são as Comunidades Eclesiais de Base. “Nas comunidades eclesiais de
Base desenvolve-se uma catequese fecunda, através do clima fraterno da percepção da realidade da
leitura da Palavra de Deus, da defesa da justiça e da busca da ação transformadora da sociedade, como
ambiente adequado para uma catequese integral (Diretório Nacional de Catequese nº. 301).
Para que a comunidade seja um espaço propicio para a comunicação da fé é necessário que:
seja um espaço acolhedor, um espaço onde se aprende, um espaço de vida eclesial, um espaço para o
engajamento, um espaço de leitura orante da Palavra de Deus e um espaço de formação de
evangelizadores” (ver Diretório Nacional de Catequese n°. 302).
A vida da comunidade é a melhor escola de catequese! O que se aprende pela experiência
atinge mais profundamente do que se estuda intelectualmente.
Catequese e Iniciação á Vida Cristã
A catequese é chamada a fazer uma verdadeira iniciação á vida cristã. Ser discípulo de Jesus
Cristo é conformar nossas vidas a sua.
Diz o Documento de Aparecida: “Ou educamos na fé, colocando as pessoas realmente em
contato com Jesus Cristo e convidando para segui-lo, ou não cumpriremos nossa missão
evangelizadora. Impõe-se a tarefa irrenunciável de oferecer modalidade de iniciação cristã, que além
de marca o quê, também dê elementos para o quem, o como e o onde se realiza (nº. 287).
Oxalá que a nossa prática catequética seja cada vez mais capaz de formar verdadeiros
discípulos - missionários de Jesus Cristo, anunciadores do Evangelho, pessoas capazes de lutar para
que um outro mundo, conforme ao projeto do Reino, seja possível.
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