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C H U.T.I.

CIÊNCIAS
HUMANAS
Unidade Técnica de Imersão
1
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CARO ALUNO

Você está recebendo o primeiro caderno da U.T.I. (Unidade Técnica de Imersão) do Hexag Vestibulares. Este
material tem o objetivo de verificar se você aprendeu os conteúdos estudados nos livros 1 e 2, oferecendo-lhe uma
seleção de questões dissertativas ideais para exercitar suas memória e escrita, já que é fundamental estar sempre
pronto a realizar as provas de 2ª fase dos vestibulares.
Além disso, este material também traz sínteses do que você observou em sala de aula, ajudando-lhe ainda
mais a compreender os itens que, eventualmente, não tenham ficado claros e a relembrar os pontos que foram
esquecidos.
Aproveite para aprimorar seus conhecimentos.

Bons estudos!

Herlan Fellini
SUMÁRIO
UTI - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS
TECNOLOGIAS
HISTÓRIA
História Geral 5
História do Brasil 29

ENTRE PENSAMENTOS E ENTRE SOCIEDADES


Filosofia 43
Sociologia 69

GEOGRAFIA
Geografia 1 87
Geografia 2 117
0 1 História Geral

U.T.I.

C H
HISTÓRIA
Antiguidades Oriental e Clássica
Mesopotâmia
Crescente fértil e Mesopotâmia

Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Crescente_F%C3%A9rtil>. Acesso em: 22


dez. 2015.

A palavra mesopotâmia é um termo grego e significa “terra entre rios”. Essa região localiza-se entre os rios
Tigre e Eufrates, no Oriente Médio, onde atualmente é o Iraque.
Muitos povos antigos habitaram essa região entre 4000 e 500 a.C., aproximadamente.
Destacam-se nesse longo período: babilônios, assírios, sumérios, caldeus, amoritas e acádios.
Eles eram povos politeístas, pois acreditavam em vários deuses e que cada um tinha suas funções específi-
cas na natureza.
Sua administração política era centralizada, na forma do governo absoluto de uma pessoa (imperador ou
rei), que era também sumo sacerdote e comandante em chefe das forças militares.
A economia mesopotâmica estava centrada na agricultura e no comércio nômade de caravanas.
Todos os povos da antiguidade, em geral, buscavam regiões férteis, próximas a rios, para se fixarem e se
desenvolverem. Nesse sentido, a região da Mesopotâmia garantia a sua população água para consumo humano e
para as criações de animais, pesca e via de transporte.
No entanto, o maior benefício dos rios Tigre e Eufrates aos povos mesopotâmicos foi o seu regime regular
anual de cheias e vazantes, que garantiam abundante, variada e fértil agricultura.

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Sumérios
Eles criaram e realizaram um complexo sistema de controle da água dos rios. Construíram canais de irriga-
ção, barragens e diques. Uma contribuição marcante dos sumérios foi a criação da escrita cuneiforme a partir de
4000 a.C.. Usavam placas de barro, onde cunhavam a escrita.
Os sumérios se notabilizaram pela agricultura e construíram os zigurates (torres com formato de pirâmides
que serviam como locais de armazenagem de produtos agrícolas e também como templos religiosos). Um dos
zigurates mais famosos ficou conhecido como a Torre de Babel. Entre as cidades sumérias mais importantes estão
Ur, Nipur, Lagash e Eridu.

Babilônios
O Império Babilônico
Nínive Domínio da Mesopotâmia pelos sumérios
e acádios (3500 - 2000 a.C.)
Primeiro Império Babilônico em sua maior
extensão no tempo de Hamurábi
(1792 - 1750 a.C.)
Assur
Tig

Mari
re
E
uf
ra
te

Echnuna
s

Sipar
Malgium?
Babilônia
Susa

0 100 200
Kish
Nipur
Isin

Larsa Lagash

Ur
Eridu
Adaprado de: <https://pt.wikipedia.org/
wiki/>. Acesso em: 25 dez. 2015.

Os babilônios construíram suas cidades nas margens do rio Eufrates. Criaram e aplicaram um código de leis
escritas que, até agora, temos conhecimento ser o primeiro de todos os povos.
O imperador e legislador Hamurabi teria criado seu Código, por volta do século XVIII a.C.
A essência de suas leis estava no chamado “conceito legal Talião”, ou “olho por olho, dente por dente”.
Significa dizer que a pena aplicada ao infrator seria de igual intensidade ao delito cometido. No extremo, um as-
sassino receberia pena capital.
Esse código de leis escritas tinha por objetivo tornar claras, objetivas e permanentes as ordens imperiais
que, assim, organizavam as relações entre a sociedade e o império, não só para os babilônios, mas especialmente
para os povos estrangeiros das cidades vizinhas, que haviam sido recém-conquistadas e, agora, faziam parte do
Estado babilônico.
Essas leis também procuravam organizar a vida dos súditos entre eles, particularmente reforçando a rígida
hierarquização social existente.
Os babilônios também desenvolveram um calendário bem preciso, para principalmente conhecer mais sobre
as cheias e vazantes do rio Eufrates e, assim, aproveitá-las economicamente melhor, desenvolvendo sua agricultura
e a criação de animais.

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Assírios
O Império Assírio
Ilírios
Peônios Trácios Mar Negro Sinope
Tieu Cólquida Cítas
Bizâncio Calcedônia
Macedônia Tasos Trapezo

Épiro Abidos
Cízico Astaco Reino Cimérios
Reino de Urartu
Górdio
Ancira
(antes de 712 .a.C.) Mar Cáspio
Mar
Egeu Reino
Atenas
Sardis Frígio Karum
Corinto Lídio Celenas
Mileto
Esparta Marqash

Tarso Samal Nísibis


Carquemis Harrã Musasir
Faselis Guzana
Til Barsip Dur Charrukin
Rodes Arpade Nínive Arbela
Calach

Creta Qarqar Assur Arrapaca


Salamis
Chipre Hamate Ecbátana
Pafos Arados
Tadmor
Mar Mediterrâneo Biblos
Anato

Sídon Damasco Ópis


Cirene Tiro
Sipar
Cuta
Babilônia Kish
Borsipa Nipur Susa
Samaria
Elteque Jerusalém
Líbios Asquelom
Erech
Saís Tânis
Ráfia
Pelúsio
Judá Ur
Bubástis
Sela
On
Mênfis
Adumatu
Amônio
Heracleópolis
Península
Egito do Sinai
(antes de 671 a.C.)
Golfo
Aquetaton
Pérsico
Império Assírio - 824 a.C.
Siut
Império Assírio - 671 a.C.
Mar
Abidos
Tebas Vermelho

Disponível em: <https: https://pt.wikipedia.org/wiki/Assíria>. Acesso em: 25 dez. 2015.


Jeb

Caracterizaram-se por uma estrita e poderosa cultura militar. A guerra era para os assírios uma fonte de
aumento do poder político e de riqueza econômica. Eram extremamente cruéis e violentos com os povos que ven-
ciam e conquistavam. Impunham aos vencidos castigos, crueldades e sofrimentos públicos, para assim manterem
o respeito dos perdedores, por meio do terror, que, aliás, tornava-se logo conhecido por outros povos, que já os
temiam antecipadamente, mesmo antes de confrontá-los. Por isso, tiveram de enfrentar muitas revoltas nas regiões
e cidades por eles conquistadas.

Caldeus
Os caldeus, de origem semita, viveram na
região chamada Baixa Mesopotâmia, no primeiro
milênio antes de Cristo. Entre 612 e 539 a.C., eles
formaram um império na Mesopotâmia. O auge do
império caldeu ocorreu em 587 a.C., sob o governo
de Nabucodonosor II, quando conquistaram o povo
hebreu e tomaram a cidade de Jerusalém, submeten-
do grande parte desse povo a um longo período de
escravidão.
Nabucodonosor II foi o responsável pela cons-
trução dos famosos Jardins Suspensos da Babilônia
(que fez para agradar a imperatriz) e a reconstrução
e ampliação da Torre de Babel (um zigurate vertical
de 90 metros de altura).
Após sua morte, o império caldeu-babilônico foi conquistado pelos persas, em 539 a.C., sob o comando do
rei Ciro, e os povos da região mesopotâmica nunca mais seriam verdadeiramente independentes, passando sempre
a fazer parte como territórios conquistados de algum grande império da antiguidade.

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Egito Os escribas eram responsáveis por toda a ativi-
dade escrita do Império, desde simples contabilidade
de negócios, passando pela administração econômica
A civilização egípcia antiga existiu no nordeste afri-
governamental, até a produção sagrada, expressando a
cano, em torno do rio Nilo, entre os anos de 3200 a 32 a.C..
busca de contato, relacionamento e suporte dos deuses.
Como a região é formada por um deserto (Sa-
Por esse motivo, havia basicamente dois tipos de
ara), o rio Nilo era de importância fundamental para a
escrita – a escrita demótica (mais simplificada e usada
vida dos egípcios.
para assuntos do cotidiano) e a hieroglífica (mais comple-
Ele era utilizado como via de transporte de mer-
xa e formada por desenhos e símbolos).
cadorias e pessoas. Suas águas serviam para homens e
Os militares representavam a força para a defesa
animais beberem, preparar alimentos, pescar e, princi-
do território e da vida do faraó, como também para o ata-
palmente, fertilizar as suas margens, no seu movimen-
que e conquista de novas terras e submissão à escravidão
to regular de cheias e vazantes, à semelhança dos rios
de povos estrangeiros.
Tigre e Eufrates na Mesopotâmia, que proporcionavam
Havia, finalmente, os trabalhadores, que ocupavam
uma produção agrícola fértil, abundante e variada, além
várias funções e realizavam diversas atividades; os buro-
de propiciar a criação de vários tipos de animais.
cratas, que cuidavam da administração, contabilidade e
A sociedade era dividida em vários grupos, sen-
execução das ordens governamentais; os comerciantes,
do que o faraó era o supremo líder, visto pela maioria
comprando e vendendo produtos, dentro e fora do Egito.
como a encarnação da Divindade.
Os artesãos eram produtores de quase tudo, como
Sua família mais próxima e os nobres de várias
móveis, materiais de construção e arquitetônicos, peças e
categorias se situavam logo abaixo de seu poder.
máquinas hidráulicas, objetos de arte e decoração, rou-
Sacerdotes cuidavam da religião, ritos e cerimô-
pas, calçados e todo tipo de adereços; também pratica-
nias, que possuíam uma forte carga de simbolismo pe-
vam a construção civil de residências, locais de comércio,
rante todos os grupos sociais. locais de diversão, túmulos, palácios, estátuas, praças
Antigo Egito
Mar Mediterrâneo
e monumentos, pavimentação de ruas e construção de
obras hidráulicas.
Baixo Egito
Camponeses, pastores e criadores trabalhavam di-
to
Mar Mor

N Wadi El Natrun
retamente na terra, no plantio, cultivo e colheita agrícola,
pastoreio e criação de animais.
NW NE

SW SE
E
Delta do Nilo
Grande Lago
S Amargo

Pirâmides
Os escravos eram utilizados em todo tipo de traba-
0 (km) 100

Mênfis
0 (mi) 60

lho, até mesmo, por vezes, no trabalho intelectual, depen-


eris

Deserto
o Mo
Lag

Líbio Deserto dendo de suas qualificações, mas a maioria participava do


qaba

Arábico
Nilo

de A
Go
Rio

lfo

Oásis de Bahariya
Golfo

trabalho braçal e manual em todo tipo de construções e


do
ueS
z

extração de minerais preciosos nas minas.


Esses escravos eram, em geral, estrangeiros cap-
Mar turados das guerras de conquista territorial empreendidas
Vermelho
Oásis de Kharga
Rio Nilo

Wadi
Hammam
at
Quseir
pelo Egito, mas também poderiam ser homens livres mais
Tebas
Oásis de Dakhla

Alto
pobres, que, não tendo como pagar suas dívidas, torna-
Egito vam-se escravos de seus credores por tempo determinado.
Esse poderoso e extenso Império era sustentado
Primeira Catarata
por impostos, cobrados com regularidade e que atin-
Oásis de Dunqul

giam boa parte de toda população, à exceção dos gru-


pos mais privilegiados.
Assim, a economia egípcia baseava-se na agri-
Segunda Catarata
cultura, criação de animais, comércio interno e exter-
no, artesanato e construção civil, marcada por grandes
obras de utilidade pública, hidráulicas, diques, represas
Adaptado de: <pt.wikipedia.org>. Acesso em: 3 dez. 2014. e canais de irrigação, para o aproveitamento e irrigação

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das águas do Nilo, ruas, estradas e portos para a circu- de conflitos internos, guerras e acontecimentos marcan-
lação das pessoas e mercadorias e as constantes guer- tes da história desse povo e descrições detalhadas de ri-
ras e invasões, pilhando a riqueza de povos vizinhos e tuais, cerimônias e manifestações religiosas, prescritas ao
utilizando-os como mão de obra escrava. povo, para que sua fidelidade a Iaweh não fosse abalada.
Como contribuição e herança para os tempos Segundo a tradição, Abraão, o patriarca fundador
futuros, os egípcios se desenvolveram muito na área da da nação hebraica, viveu na cidade de Ur – na Mesopo-
medicina, química e biologia – por meio dos estudos e tâmia – e recebeu do próprio Iaweh a revelação de Sua
práticas de mumificação de cadáveres –, conhecimentos existência e seu desejo de ser adorado por aquele povo
importantes na matemática e geometria, por meio das como Deus Único. Consequentemente a isso, Abraão
construções das grandes obras – pirâmides, palácios e deveria com sua família e tribo migrar da Mesopotâmia
templos – e de engenharia hidráulica, por meio do apro- para Cannaã, que, depois, seria chamada Palestina –
veitamento funcional do rio Nilo e técnicas agrícolas. como uma Terra Prometida para aquele povo. É nessa
região que se localiza atualmente o Estado de Israel.
Após passarem um período vivendo em Canaã, os
hebreus migraram novamente para o Egito, onde viveram
entre 300 e 400 anos, e acabaram sendo transformados em
escravos. A partir desse momento, os hebreus vão iniciar uma
história de desenvolvimento da sua singularidade como povo,
a partir de suas práticas religiosas monoteístas, diferenciando-
-os assim de todos os povos vizinhos e, provavelmente, de
todos os povos antigos. Além disso, em função da perda de
liberdade e dispersão individual num país estrangeiro, o Egito,
a percepção dessa unidade e singularidade vai aumentando.
Hebreus Surge o líder Moisés, judeu de origem e aciden-
Os hebreus talmente criado e educado na corte do faraó, e que,
Tiro
Fenicios
como Abraão, recebe diretamente de seu contato e ins-
Arameus
piração com Iaweh a missão de retirar seu povo do Egi-
MAR MEDITERRÂNEO to, pelo mar que hoje conhecemos por mar Vermelho,
Reino de
Israel até a chamada Terra Prometida – que seria a Palestina.
Jafa
Jerusálem
Amonitas
DESERTO DA ARABIA
Após a morte de Moisés, os hebreus chegaram à
Gaza

Reino de Palestina e, sob a liderança de Josué – irmão de Moisés


Judá Moabitas

Filisteus
e seu natural sucessor – cruzam o rio Jordão e se esta-
EGITO
Amalequitas
Territórios progressivamente ocupados
belecem na Palestina. O povo hebreu se dividiu em 12
Edomitas
pelas tribos de Israel ao fim do II milênio
tribos (“os doze filhos de Israel”), que viveram em clãs,
Territórios mantidos como tributários
pelo rei Davi e perdidos depois por Salomão
subdivididos em famílias – compostas pelos patriarcas,
Adaptado de: <http://www.historianet.com.br/conteudo/
seus filhos, mulheres e trabalhadores não livres.
default.aspx?codigo=85>. Acesso em: 25 dez. 2015. O poder e prestígio desses clãs encontravam-se
diretamente ligados à figura pessoal de cada patriarca,
Muito do que sabemos sobre o povo hebreu ad- mas as ligações entre esses clãs não eram assim tão só-
vém dos textos do Antigo Testamento, a primeira parte da lidas e permanentes. Devido a todas as dificuldades em
Bíblia. O Antigo Testamento contém a visão dos hebreus se chegar e ocupar a Terra Prometida, surgiu a neces-
sobre a origem do mundo, da identidade do Deus Único sidade de poder e comando mais centralizados, ágeis
(Iaweh) e das normas de conduta ética e moral para a e eficientes – particularmente no sentido de combater
vida dos indivíduos e a formação de uma sociedade mais eventuais invasões e organizar as estruturas sociais e
justa aos olhos de Iaweh. Além disso, existem, nesses Li- econômicas de uma forma regular e objetiva.
vros, poemas, orações, profecias, interpelações e questio- Assim, os hebreus acabaram, por necessidade, es-
namentos ao comportamento do povo em seu relaciona- colhendo para essa função de governo chefes militares de
mento entre si e com Deus, além de minunciosos relatos destaque e competência, que foram chamados de juízes.

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Com a concentração do poder em suas mãos, os
juízes procuraram organizar, estruturar e manter a união
das doze tribos, pois ela possibilitaria a manutenção da
ocupação da Palestina e a criação de uma vida social,
econômica e cultural permanentes.
Os principais líderes desse momento foram os
juízes Sansão, Otoniel, Gideão e Samuel, e o poder de
todos passava por várias situações e acontecimentos,
de acordo com as crenças daquele povo – determina-
dos diretamente por Iaweh, que escolhia e abençoava
aqueles homens em sua difícil e complexa missão de
manter aquele povo unido em um território onde todos
pudessem viver com dignidade.
A união das doze tribos era difícil de ser conseguida
e mantida, pelas rivalidades internas e desejo de indepen-
dência entre cada um dos patriarcas e suas famílias e clãs.
Os juízes tinham um poder temporário e, mesmo
com a unidade cultural (língua, costumes e, principalmente,
religião), aquelas rivalidades e desejo de independência e
autonomia permaneciam dominantes entre as tribos. Grécia
A plena unidade política foi conseguida com a
monarquia, quando sacerdotes e profetas de destaque A Grécia antiga

por sua palavra, ou mesmo a realização de milagres,


escolhiam iluminados por Iaweh os reis – governantes
centrais de todo o povo hebreu.
Sua economia era baseada na agricultura, pesca,
criação de pequenos animais, pastoreio e comércio.
A sociedade se dividia entre os laços de paren-
tesco com os patriarcas, e os sacerdotes e profetas se
destacavam como intérpretes da Vontade de Deus para
aquele povo; essas interpretações estavam ligadas às
leituras do Antigo Testamento, mas também à ilumina-
ção pessoal de cada um deles. Disponível em:< https://commons.wikimedia.org/wiki/
File:Mapa_Grecia_Antigua.svg> Acessado em: 22 Dez.2015
Como realizações arquitetônicas, destacam-se
muitas muralhas e fortificações militares, a construção
A Grécia na antiguidade não formava um país
da capital Jerusalém – sede do Governo Hebreu e cen-
com um governo centralizado, como ocorria no Egito, por
tro religioso principal. Nessa cidade, o famoso e gran-
exemplo. Era uma região localizada notadamente numa
dioso Templo de Jerusalém ou de Salomão, mandado
península a sudeste do continente europeu, hoje conhe-
construir pelo rei com o mesmo nome, por volta do sé-
cida por península Balcânica, coberta por muitas ilhas
culo IX a.C., no intuito de ser um centro espiritual para o
entre o mar Egeu e o mar Jônico, cuja maior era a ilha
povo hebreu e que guardava a famosa Arca da Aliança,
de Creta e alcançava a costa litorânea ocidental do con-
que continha, entre outros valiosos bens espirituais, as
tinente asiático, chamada de Ásia Menor e que hoje faz
Tábuas dos Dez Mandamentos de Moisés.
parte da região por nós conhecida como Oriente Médio.
Na Literatura, sem dúvida alguma, o Antigo Tes-
Então, basicamente, a Grécia se encontrava divi-
tamento, contido na Bíblia, e o Talmude foram o grande
legado cultural dos hebreus, e que traduzem o seu sin- dida em três regiões: Grécia Continental Europeia, Gré-
gular monoteístmo diante de sua época. cia Insular e Grécia Asiática.

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De uma forma geral, a topografia de toda essa região se caracterizava por ser montanhosa e com terrenos
bastante irregulares, pedregosos e fragmentados – o que dificultava as práticas da agricultura e pecuária exten-
sivas, com exceção de pequenas porções de terreno junto às muitas faixas litorâneas existentes em toda região,
marcadamente marítima.
Essa topografia dificultava também o estabelecimento e concentração de grandes contingentes popula-
cionais em uma mesma área e a comunicação entre as diversas comunidades ali estabelecidas, favorecendo ao
contrário sua autonomia, isolamento e independência.
Apesar dessa dispersão geográfica, estes vários povos estavam unidos por uma cultura comum, com mes-
mos costumes, mesmas crenças e uma mesma língua.
Assim sendo, esses povos reconheciam-se como helenos, chamando de bárbaros os estrangeiros que não
dividiam a mesma cultura, por considerá-los inferiores.
A História da Grécia antiga divide-se em:

Período Pré-homérico (2000 a 1100 a.C.)


Esse é o período de formação da Grécia, chamada na língua daqueles povos de Hélade.

Povos predominantemente de origem indo-europeia foram ocupando esses territórios e, particularmente, a


ilha de Creta, tornou-se um centro político, econômico e cultural para toda a região, sofrendo muitas influências
dos contatos comerciais com o Egito e a Mesopotâmia. Creta foi absorvendo elementos dessas duas culturas e
fundindo-os com as diversas expressões culturais dos variados povos que viviam em toda Hélade.

Período Homérico (1100 a 800 a.C.)


Iniciou-se com uma invasão generalizada dos povos dórios, provavelmente vindos da Ásia Menor, mergu-
lhando a região em um período de caos, produzido por guerras, conflitos civis e desorganização das estruturas
sociopolíticas existentes.
Nesse período, os helenos organizaram-se em comunidades fechadas, denominadas genos e que se carac-
terizavam por serem sociedades de base tribal, clânica e familiar, onde todos os seus membros possuíam algum
tipo de laço de parentesco entre si. A posse da terra era comunitária, predominando o trabalho agrícola, pastoril
e artesanal e a extratificação social acontecia relacionada com a maior ou menor proximidade sanguínea com o
pater, em geral uma das pessoas mais velhas da comunidade e com reconhecida sabedoria para aplicar as leis –
todas baseadas nas tradições e costumes daquela comunidade.
Com o intenso crescimento demográfico desses genos, as terras não eram suficientes para todos, então os mem-
bros das famílias mais próximas do pater, denominados eupátridas, apropriaram-se das melhores terras e os membros
mais afastados dessas famílias foram expulsos ou abandonavam o genos, forçados pelas necessidades de sobrevivência.

13
Em geral, esses indivíduos marginalizados e empobrecidos dos genos saíram da Grécia pelo mar e indo ao
oeste pelo mar Mediterrâneo, ocupando as regiões mais meridionais do território europeu, atuais Itália, França e
Espanha, e ocupando essas regiões, fundavam colônias gregas, que depois se tornariam parte da chamada “Magna
Grécia” – um território colonial grego.
Cidades como Sicília, Marselha e Barcelona se originaram desse processo de colonização.
Essa população colonial se ocupava principalmente das atividades comerciais e negociavam produtos euro-
peus e africanos, vindo comumente a tornarem-se ricos armadores, comerciantes e proprietários de terras.
Alguns desses novos ricos retornavam a seus locais de origem e nascimento, agora ocupados por inúmeras póleis,
os quais, em geral, eram discriminados política, social e culturalmente pelos eupátridas – que formavam, por sua vez, uma
poderosa aristocracia, lutando por manter seus privilégios e estando à frente dos governos das cidades-Estado.
Em meio a esses genos, os eupátridas iam formando territórios exclusivos para preservar seus privilégios e
interesses políticos e econômicos, mantendo as camadas populares à margem dessa nova sociedade.
Esses novos territórios eram as póleis ou pólis, no singular, – cidades-Estado com total autonomia política,
sendo na prática pequenos países com centros urbanos que iriam se desenvolver gradativamente em meio a área
rural dos antigos genos.

Período Arcaico (800 a 500 a.C.)


Esse período correspondeu à formação, crescimento e desenvolvimento das poléis.
Foi uma época marcada por intensos e variados conflitos sociais.
De um lado, lutavam entre si os eupátridas, membros das antigas aristocracias gentílicas, pelo controle das
póleis, contra a nova classe de comerciantes enriquecidos, que exigiam uma posição social e política compatível
com sua riqueza econômica.
De outro lado, aquelas populações mais pobres, que continuaram vivendo em suas regiões, lutavam por
melhores condições materiais de vida e também pela participação na administração da pólis. Muitos, de tão empo-
brecidos e endividados, tornavam-se escravos, o que gerava ainda mais revolta contra os eupátridas.
Desde esse momento, algumas póleis começaram a se destacar no mundo grego, fosse por sua posição
geográfica privilegiada, principalmente com acesso estratégico às aguas marítimas que levavam para todos os
continentes, fosse pelo seu poderio militar, ou mesmo, pelo seu tamanho e demografia, como Atenas, Esparta,
Corinto, Tebas e Olímpia.
Para resolver e pacificar os conflitos em Atenas, no século VII a.C., foram escolhidos legisladores, como
Dracon e Sólon, que criaram e aplicaram, pela primeira vez, leis escritas, atenuando, diminuindo e reformulando as
diferenças entre as várias classes e grupos sociais.
Mas foi no século seguinte (VI a.C.), no governo de dois tiranos – Pisístrato e Clistenes –, que enfrentaram
decisivamente e extinguiram os privilégios aristocráticos, as bases políticas, sociais e econômicas para um nova
organização das póleis, que seria efetivamente criada.

14
Período Clássico (V a IV a.C.)
Nesse período, a singularidade cultural grega se define perante si mesma e outros povos, pois os laços culturais entre
a Grécia e suas colônias são estreitados, espalhando-se os valores da cultura grega por todo o ocidente europeu e norte
da África, pelo mar Mediterrâneo e, assim, de uma forma bastante sólida, os gregos veem a si mesmos como o melhor da
civilização humana e tratando os muitos povos estrangeiros com os quais mantêm contato, como bárbaros, incivilizados,
incultos e inferiores aos gregos.
Ao mesmo tempo que isso ocorre, em Atenas e em outras póleis, consolida-se como forma de governo e
convivência cultural a democracia, tomando a própria pólis como a base da cidadania, pois o demos/povo de cada
cidade é visto individualmente e em seu todo como essencialmente iguais, ou seja, parte integrante de uma cultura
superior a todos os outros povos, desfazendo-se, assim, aquelas diferenças internas que marcaram os períodos
aristocráticos anteriores.
É nessa época também que se definem na Grécia a influência de duas cidades-Estado sobre todas as outras:
Atenas e Esparta.
Atenas se organiza politicamente em torno da democracia, valoriza a educação e a cultura de seus cidadãos,
o embelezamento arquitetônico da cidade, desenvolve o pensamento fiosófico e científico especulativo e torna-se
uma potência colonial marítima rica, influente e poderosa dentro e fora da Grécia.
Esparta se caracteriza pelo domínio de uma elite militar que conforma todos os seus cidadãos aos padrões mili-
tares da existência – rígida hierarquia, frugalidade, simplicidade material, rigidez no trato social e ausência de quaisquer
atividade culturais ou educacionais que não sejam estritamente parte da formação militar dos indivíduos.
Essa cidade torna-se, de fato, uma verdadeira potência militar terrestre com um poderoso e disciplinado
exército que se impõe na região do Peloponeso como uma potência grega.
Funcionamento da democracia ateniense

A democracia ateniense era uma democracia direta porque todos os cidadãos participavam diretamente na aprovação das leis e nos órgãos políticos da
pólis, sem o recurso a representantes.

15
Esse período marca também três tentativas de in- uma, igualmente breve, hegemonia da cidade de Tebas, a
vasão e ocupação do Império Persa sobre a Grécia durante Grécia seria invadida pelo império dos bárbaros macedô-
quase um século, nas chamadas Guerras Médicas (os per- nios, comandados pelo rei Felipe II, vindos do norte da
sas eram conhecidos pelos gregos como medos), que uniu península e encerrando definitivamente o período de inde-
durante o período toda a Grécia sob o comando naval de pendência das póleis gregas, no ano de 336 a.C.
Atenas e terrestre de Esparta – mantendo a independência Seu filho Alexandre Magno continuaria e estende-

das cidades gregas e expulsando definitivamente os persas ria a obra do pai, criando um imenso império, que abran-
geu todo o norte da África, a península Balcânica e o con-
de seu território em 479 a.C., na batalha de Plateia.
tinente asiático, desde a Ásia Menor até partes da Índia.
Essa vitória tornou os gregos inigualáveis e superio-
Alexandre havia sido profundamente influencia-
res aos outros povos, pois a diferença numérica de forças a
do pela cultura grega e em seu império ele vai levar a
favor dos persas era marcante, devendo os gregos sua vi-
cultura, costumes e valores gregos a todas essas diver-
tória não a sua quantidade, mas a sua qualidade enquanto
sas regiões, que irão ter sua própria cultura regional se
povo que lutava pela sua liberdade e independência.
misturando a vários elementos da cultura grega – a esse
Com a destruição final do inimigo comum – a Pérsia processo de aculturação chamou-se helenismo.
–, Atenas e Esparta passaram a procurar exercer e disputar a Com a morte de Alexandre Magno, em 323 a.C.,
hegemonia política, econômica e militar sobre toda a Grécia. seu império se fragmentou em três partes independen-
Assim, foram criadas a Confederação de Delos, tes – Macedônia (da qual a antiga Grécia fazia parte),
comandada por Atenas e com muitas outras cidades Egito e Mesopotâmia. As diversas lutas entre essas re-
que dela faziam parte, e a Liga do Peloponeso, coman- giões foram-nas enfraquecendo, facilitando o domínio
dada por Esparta e também com um grande número de romano, ocorrido a partir de 146 a.C.
cidades que dela faziam parte.
Essa disputa entre as duas pólis foi se tornando Roma
tão acirrada que desembocou em um conflito de gran-
des proporções atingindo toda a Grécia, denominado A história de Roma se divide em três períodos principais:
Guerra do Peloponeso (431-404 a.C.). §§ Monarquia – da fundação da cidade de Roma, em
No final do conflito, a Grécia se encontrava mate- 753 a.C., à implantação da República, em 509 a.C.
rialmente arrasada, com grande diminuição de sua popula- §§ República – de sua implantação, em 509 a.C. a
ção masculina mais jovem e enfraquecendo-a militarmente. 27 a.C., quando Otávio, sobrinho de Júlio Cesar,
se confere o título de “Augusto” – até então re-
servado aos deuses – e acrescenta “César” como
adjetivo imperial de poder.
§§ Império – de 27 a.C., a partir do governo de
César Augusto Otávio, até a destruição, saque e
ocupação de Roma e a ocupação dos territórios
ocidentais do império pelos povos germânicos,
em 476 da era cristã. Roma é uma cidade que
inicia sua expansão militar pela península Itálica,
Período Helenístico já a partir do século VI a.C.

Embora a vitória do conflito coubesse a Esparta, Essa península era ocupada, já há muitos sécu-
que conseguiu afinal se impor a toda a Grécia, ou àquilo los, por povos etruscos e latinos (dos quais faziam parte
que dela restava, esse domínio foi de curta duração, pois a os habitantes de Roma), sabinos e samnitas, e os gregos
própria Esparta estava profundamente enfraquecida. Após com suas colônias ao sul.

16
A estrutura política e social da monarquia romana Somando-se à expansão territorial, econômica e
era semelhante àquela do início das póleis gregas: havia populacional, a monarquia se mostra cada vez mais inca-
um rei – o pater –, o senado – uma numerosa assembleia paz de sustentar-se e, afinal, é derrubada pelos patrícios,
composta por aristocratas proprietários de terras – e os que instauram a República em Roma, com o senado con-
patrícios. O restante da população, camponeses, artesãos trolando a elaboração, julgamento e aplicação das leis.
e pequenos comerciantes e proprietários, era composta Iniciam-se então lutas sociais declaradas entre pa-
pelos plebeus, que mesmo sendo homens livres, não ti- trícios e plebeus, por igualdade política e social e melhores
nham direito à cidadania. Por fim, a camada mais baixa, oportunidades econômicas, gerando instabilidade em Roma,
que eram os escravos, comprados de outros povos, to- causando seu enfraquecimento diante de seus vizinhos.
mados em invasões das terras vizinhas ou homens livres Afinal, o senado concorda em aplicar uma série
pobres, que eram escravizados para poderem pagar suas de reformas que vão tornar os plebeus cidadãos plenos
dívidas com os grandes senhores. de Roma, com direitos semelhantes aos dos patrícios.
Roma ocupava uma região denominada Lácio, Isso coincide com uma crescente expansão do
que estava estrategicamente próxima ao mar Mediter- território romano pela península, até no século III a.C.,
râneo e no entroncamento de várias rotas terrestres, Roma tomá-la como um todo e iniciar seu domínio co-
que ligavam o norte ao centro e ao sul da península Itá- mercial no mar Mediterrâneo.
lica – um extenso vale cortado pelo rio Tibre e cercado
por elevações e colinas. Conquistas da plebe
Todas essas condições geográficas permitiam
§§ Tribunos da Plebe: o tribuno da plebe não
uma melhor defesa da cidade, circulação de pessoas e
era considerado um magistrado, mas o re-
mercadorias por toda a parte terrestre e marítima vi-
presentante, dentro do governo aristocrá-
zinhas, e suas terras eram extremamente favoráveis à
tico, da classe menos favorecida. Eram es-
agricultura, criação e pastoreio de animais.
colhidos entre os plebeus, e atuavam como
líderes de sua classe, levando as reivindica-
ções dos plebeus aos escalões superiores
da hierarquia governamental romana.
§§ Lei das Doze Tábuas: primeiro código es-
crito de leis em Roma, evitando arbitrarie-
dades dos poderosos.
§§ Lei Canuleia: permissão de casamento en-
tre patrícios e plebeus.
§§ Lei Licínia: proibição da escravidão por
dívidas.

Esse domínio encontrará em Cartago, uma cida-


Isso fazia de Roma uma cidade rica, populosa e de ao norte da África – fundada pelos antigos fenícios
desenvolvida com relação a toda a região. – uma grande concorrente, provocando entre as duas
Desejando mais autonomia, a classe aristocrática potências, Roma e Cartago, as chamadas Guerras Púni-
se coloca inicialmente contra o rei, e os plebeus, cada vez cas (264-146 a.C.) – os romanos chamavam os cartagi-
em maior número e muito enriquecidos pelos negócios, neses de “punos”, que significa fenícios.
começam a exercer pressão no sentido de ser igualmente
cidadãos e participarem da vida pública de Roma.

17
Essas duras guerras, além de servirem de verda- Ambos serão mortos nesse confronto – com o
deiro preparo, desenvolvimento e aperfeiçoamento das senado, aumentando a insatisfação da plebe e fortale-
forças militares romanas, preparando-as para as futuras cendo o exército cada vez mais necessário para garantir
conquistas, foram vencidas por Roma, que além de li- a ordem na cidade e em torno dela.
teralmente arrasar a cidade rival – passou a dominar Com isso, um de seus generais, Júlio Cesar, aca-
absolutamente todo o mar Mediterrâneo, o que aumen- ba assumindo uma certa liderança paralela entre seus
tou vertiginosamente as riquezas, poder e influência de homens e com a própria plebe sublevada.
Roma, que logo inicia suas conquistas no norte da Áfri- Utilizando seu carisma e posição, César tenta
ca e atravessando o Mediterrâneo em direção ao norte impor sua autoridade ao senado, quando é assassinado,
–, inicia suas conquistas ao sul daquele continente, que provocando grande comoção na população e em seus
mais tarde vai ser conhecido por Europa. aliados, que promovem então um conflito aberto com o
Com essa expansão, a vida urbana em Roma e senado e seus aliados aristocratas.
em outras cidades, que vão sendo fundadas nos terri- O resultado final desse confronto é a instalação
tórios ocupados, vai se desenvolver, a riqueza vai au- do Império na figura de Otávio, sobrinho de César, que
mentar e os contatos culturais com povos diversos vão toma o nome de seu tio como título (que a partir de en-
provocar intensas trocas de conhecimentos. tão será utilizado por todos os imperadores), acrescen-
tando Augusto – semelhante a divino, tornando a figura
do imperador verdadeiramente sagrada e centralizadora
– passando este a comandar os ritos religiosos oficiais,
chefiar o exército, o poder executivo e influenciar o judi-
ciário e o legislativo.
A expansão do poder de Roma alcançou então
com o Império toda a Ásia Menor, o norte da África e
centro-sul ocidental do continente europeu.
Com essa expansão, aliada ao surgimento do
Essa ampliação de mercados vai também criar um cristianismo e algumas seitas orientais que não aceita-
desenvolvimento do artesanato e da manufatura, mas vam a divindade do imperador, às revoltas dos escravos
também uma entrada em Roma de um grande número e ao aumento de impostos, cria-se uma crise no império
de escravos vindos das conquistas, o que vai depreciar a enfraquecendo sua economia, a autoridade política do
mão de obra principalmente rural, provocando um êxodo imperador e do senado e as forças militares.
urbano, aumentando a população da cidade e de plebeus Assim, os povos germânicos ao norte do conti-
empobrecidos e politicamente descontentes. nente europeu acabaram pressionando as fronteiras, in-
As lutas sociais nesse período serão intensas, vadindo e se fixando nas províncias ocidentais, chegan-
desestruturando o poder do senado e enfraquecendo a do a saquear, destruir e ocupar Roma no ano de 476,
República, que vai criar a instituição Tribunato da Plebe, colocando um fim na parte ocidental do Império, que
um espaço representativo para, politicamente, os ple- se preservou no Oriente com o nome da cidade em que
beus encaminharem suas solicitações. Constantinopla, agora capital, foi construída: a antiga
Os irmãos Tibério e Caio Graco vão, respectiva- Bizâncio daria o nome ao antigo império romano orien-
mente, ocupar esse cargo, tentando realmente pressio- tal, a partir do século V, denominado Império Bizantino.
nar o senado a produzir reformas eficazes para atender
aos reclamos dos plebeus.

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Império Bizantino e civilização muçulmana
Império Bizantino
O Império Bizantino foi a continuação do Império Romano na Idade Média. Sua capital foi Constantino-
pla (moderna Istambul), originalmente conhecida como Bizâncio. Inicialmente, parte oriental do Império Romano
(frequentemente chamada de Império Romano do Oriente) sobreviveu à fragmentação e às invasões do Império
Romano do Ocidente e, no século V, continuou a prosperar, existindo por mais de mil anos até seu fim, diante da
expansão dos turcos otomanos, em 1453.
As fronteiras do Império mudaram muito ao longo de sua existência, que passou por vários ciclos de declínio
e recuperação. Durante o reinado de Justiniano (527-565), alcançou sua maior extensão, após reconquistar muito
dos territórios mediterrâneos, antes pertencentes à porção ocidental do Império Romano, incluindo o norte da África.
Com as invasões muçulmanas do século VII, muitas partes do Império foram incorporadas pelos califados
muçulmanos.
Os bizantinos receberam um golpe fatal em 1204, durante a Quarta Cruzada, quando foram dissolvidos e
divididos em reinos latinos e gregos concorrentes.
Apesar de Constantinopla ter sido reconquistada e o Império restabelecido em 1261, o Império teve que
enfrentar diversos estados vizinhos rivais por mais 200 anos para sobreviver.
As muitas guerras civis no século XIV minaram ainda mais a força do já enfraquecido Império, e mais terri-
tórios foram perdidos nas guerras contra os turcos otomanos, que acabaram conquistando os territórios remanes-
centes, pondo fim ao Império Bizantino, no século XV.
Os imperadores bizantinos exerciam o cesaropapismo, isto é, governavam politica e religiosamente – Igreja
e Estado eram uma coisa só.
O Cisma do Oriente (1054) ocorreu nesse contexto – disputas teológicas entre a sede da Igreja Oriental com
o patriarca em Constantinopla e a Igreja Ocidental com sede em Roma.
Uma das desavenças determinantes para o cisma foi a Questão Iconoclasta – os orientais, de rito grego
em uma cultura mais abstrata e especulativa, não aceitavam a representação de figuras sagradas em forma tridimen-
sional, pois diziam ser adoração a ídolos; já no Ocidente, a Igreja teve que se recriar com os valores germânicos mais
ligados à natureza concreta das coisas, inseridos em seus ritos, não viam mal algum na representação tridimensional.
A partir dessa questão, os orientais passaram a se chamar católicos ortodoxos e os ocidentais, católicos
romanos, seguindo cada grupo o seu respectivo chefe espiritual.

19
Foi a crença na exclusividade da representação bidimensional, especialmente os afrescos, que desenvolveu
muito a arte iconográfica bizantina, desenvolvendo-se até a criação dos mosaicos, figuras compostas pela junção
de inúmeras pedras de variadas cores.
O Império desenvolveu uma estrutura burocrática e militar, baseada administrativamente no direito romano
e utilizava predominantemente a língua grega, deixando-se influenciar diretamente por essa cultura, em sua moral,
costumes crenças e valores.
Sua sociedade era profundamente hierarquizada, com uma noção do “Corpus Christi” na Sociedade, onde
cada indivíduo ocupava uma função designada por Deus em sua própria natureza.
Assim, o imperador, a família real, a nobreza, os burocratas, os militares, comerciantes, camponeses, cons-
trutores, artesãos e artistas desempenhavam suas funções como parte dos Desígnios Divinos, formando na Terra o
Corpo do qual Jesus Cristo no Céu era a Cabeça.

O islamismo e sua expansão


O islamismo teve início quando Maomé, um comerciante da cidade de Meca, na península Arábica, se
retirou para uma caverna nos arredores da cidade para meditar, no ano 610. Na caverna, situada no monte Hira,
Maomé recebeu a visita do anjo Gabriel, que lhe mandou recitar versos que lhe teriam sido enviados por Deus e
lhe comunicou que ele, Maomé, fora escolhido para ser o último profeta enviado por Deus à humanidade. Os versos
foram posteriormente redigidos, formando o Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos.
Maomé começou, então, a pregar, em sua cidade, os ensinamentos que recebera na caverna. As pessoas
que aceitaram esses ensinamentos passaram a ser conhecidos como “muçulmanos”, ou seja, “aqueles que se sub-
metem à vontade de Deus, aqueles que estão em paz, aqueles que são puros, aqueles que obedecem à vontade de
Deus”, a partir da raiz etimológica árabe salam, que significa “paz, pureza, submissão, obediência”. Esta mesma
raiz etimológica originou o nome da comunidade de seguidores de Maomé, o islã. Porém, os adeptos da nova re-
ligião foram hostilizados pela população e Maomé teve de fugir para a cidade próxima de Iatribe, a atual Medina,
no ano 622. Essa fuga recebeu o nome de Hégira (Hijra) e deu início ao atual calendário muçulmano.
Em Medina, a pregação de Maomé foi melhor recebida. Formou-se uma comunidade muçulmana na cidade
sob a liderança de Maomé. Medina começou então a ser atacada por Meca, que temia o crescimento da nova
religião fundada por Maomé, a qual condenava o politeísmo praticado em Meca e que gerava grandes lucros para
a elite local. Os confrontos se intensificaram até a vitória final de Medina.

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Em Meca, Maomé destruiu os ídolos que ficavam no templo da Caaba, preservando somente a Pedra Negra,
um meteorito negro de 50 centímetros de diâmetro. Maomé decretou que a Caaba, daí em diante, seria o centro
da nova religião. Os muçulmanos não se deram satisfeitos com a conquista de Meca e continuaram sua expansão
conquistando militarmente toda a península Arábica, o Oriente Médio, o norte da África e a Pérsia.
Em 632, morreu Maomé, desencadeando uma disputa pela sua sucessão como líder dos muçulmanos, ou
califa. Abu Bakr foi declarado oficialmente como seu sucessor, porém muitos muçulmanos preferiram apoiar Ali ibn
Abu Talib, primo e genro de Maomé. Os que apoiaram Ali passaram a ser chamados de “xiitas”, de shiat Ali (“Par-
tido de Ali”). Os demais muçulmanos passaram a ser conhecidos como “sunitas”, de suna (“caminho trilhado”),
pois eles seguem apenas aquilo que Maomé determinou ao longo de sua vida.
Em 680, morreu Hussein, filho de Ali, em Carbala, transformando esta atual cidade iraquiana em centro de
peregrinação para os xiitas, durante a festa chamada axura.
Com o apoio dos berberes do norte da África, o islamismo alcançou a península Ibérica no século VIII. No
mesmo século, surgiu uma dissidência dos xiitas: o ismaelismo. Os comerciantes árabes propagaram a religião
muçulmana pela África Ocidental, África Oriental e os atuais territórios da Indonésia e Malásia, a partir do século II.
Nesse século, surgiu uma dissidência do ismaelismo: os chamados drusos. Em 1058, nasceu Al-Ghazali, na
Pérsia. Al-Ghazali viria a desenvolver uma interpretação mais mística do islamismo, chamada sufismo, que dava
mais valor à postura interior do que aos rituais exteriores da religião. Em 1207, nasceu, na então província persa
de Balkh, atualmente no Tadjiquistão, o poeta Rumi, que também viria a se destacar dentro do sufismo. Após sua
morte, seus seguidores fundaram, na cidade de Konya, na atual Turquia, a ordem sufi Mevlevi, conhecida pela
prática de uma dança peculiar em que os seus praticantes, os dervixes, giram em torno de si com a finalidade de
obter o êxtase e a comunhão com Deus.
Os mongóis afegãos conquistaram a Índia e disseminaram o islamismo nesse país e em toda a Ásia Central
no século XIII. Sob a liderança dos turcos otomanos, o islamismo destruiu o Império Bizantino e invadiu a atual Tur-
quia, a Grécia e todo o sudeste da Europa, no século XV. Em 1517, o imperador otomano passou a deter também
o título de califa.

21
Idade Média

Com o tempo e a desagregação do Império Romano do Ocidente, essas ocupações iniciais dariam início a
reinos independentes. No interior deles, estariam presentes tanto costumes romanos quanto dos povos invasores.
Formado na Gália (atual França), o reino Franco foi o mais duradouro desses reinos. Ao estudá-lo, poderemos
perceber esse processo de formação da sociedade feudal, assim como a consolidação ao longo dos séculos VI ao IX.
Os francos tiveram de enfrentar diversas batalhas para se estabelecer na Gália. Eles lutavam com lanças e
combates corpo a corpo, utilizando espadas de lâminas largas.
Por um longo período, a região dominada pelos romanos ficou protegida contra invasões. Entretanto, no
princípio do século V, um povo de origem germânica atravessou o rio Reno e entrou na Gália: eram os francos. Eles
conquistaram grande parte do território, estabelecendo-se no norte e, sobretudo, no nordeste.
Os primeiros reis francos descendiam de Meroveu. Por isso, os reis dessa dinastia chamam-se merovíngios.
Meroveu, na metade do século V, lutou ao lado dos romanos contra os invasores hunos.
Clóvis, neto de Meroveu, venceu os alamanos, os burgúndios e os visigodos, ampliando fronteiras do reino.
Com isso, no final do século V, os francos já dominavam grande parte da Europa central.
A importância de Clóvis aumentou quando ele se converteu ao cristianismo, em 496, depois de derrotar os
alamanos. Com a conversão, conquistou total apoio de condes cristãos e bispos da Gália.
Com a morte de Clóvis, em 511, o reino Franco foi dividido entre seus quatro filhos, ocasionando rivalidades
e disputas entre eles. Por fim, em 628, Dagoberto subiu ao trono e estabeleceu que, daí por diante, os reis francos
teriam um único sucessor.
Após o reinado de Dagoberto, vieram os reis indolentes, assim chamados por não cumprirem as funções ad-
ministrativas. O prefeito do palácio, uma espécie de primeiro-ministro, era quem efetivamente administrava o reino.
Um desses prefeitos, Pepino de Heristal, tornou o cargo hereditário e passou-o a seu filho Carlos Martel.
Carlos Martel notabilizou-se por vencer os árabes, em 732, na batalha de Poitiers, detendo a invasão muçulma-
na na região central da Europa.
Em 743, foi coroado o último rei merovíngio, Childerico III.

22
O filho de Carlos Martel, Pepino, o Breve, incentivado pelo papa Zacarias, depôs Childerico III, assumiu o
trono e fez-se aclamar rei. Com isso, iniciou-se uma nova dinastia, a dos carolíngios, nome derivado de Carolus
(Carlos, em latim). O sucessor de Pepino, o Breve, foi seu filho Carlos Magno.
A obra levada a cabo pelos carolíngios, durante o império iniciado por Pepino, o Breve, quando eliminou os
merovíngios, em 751, e foi eleito rei pelos francos. Esse momento ficou conhecido como “Renascimento Carolín-
gio”, sendo este período caracterizado pela confluência do purismo anglo-saxão, da tradição romana e das técnicas
bizantinas. Seria Carlos Magno o obreiro da união de todo o Ocidente cristão, tendo sido sagrado imperador no
ano 800. O império duraria até 843, quando aplicaram as disposições do tratado de Verdun, que o divide em
três partes.
A organização do império, tanto por Pepino, o Breve, como por Carlos Magno, teve como consequência um
enorme desenvolvimento artístico, cujos aspetos mais interessantes se encontram na arquitetura e na pintura, por
meio de afrescos e de iluminuras. As artes suntuárias e a escultura em marfim atingem a máxima expressão. As balizas
cronológicas apontadas para esta renovação cultural vão de 780 até as invasões dos normandos, em 887.
No entanto, o seu reflexo vai muito além daquela data, manifestando-se ainda nas reformas monásticas do
século X.
Notou-se, então, uma verdadeira preocupação em elevar o nível intelectual e moral dos francos. Naturalmente que
o clero teve um grande peso na construção da nova face cultural, com a criação de novas escolas catedralícias, monásticas
e presbiteriais nas áreas rurais. Apesar de vocacionadas para a formação do clero, estas escolas eram igualmente abertas
aos laicos que as quisessem frequentar. As escolas elementares dedicaram-se ao ensino das artes liberais, etapa funda-
mental de preparação para estudos mais aprofundados. Para atender às necessidades impostas pela reforma do ensino,
Carlos Magno promoveu a vinda de professores estrangeiros, que passaram a fazer parte daquilo a que se chamou “a
academia do palácio”, composta por italianos, irlandeses e anglo-saxões.

23
A cultura palaciana atingia o seu auge e as suas A sociedade feudal baseava-se na existência de
figuras mais representativas, para além de Alcuíno, fo- dois grupos sociais – senhores e servos. O trabalho na
ram Eginhard (conselheiro de Carlos Magno) com a sua sociedade feudal estava fundado na servidão, nela os
obra Vida de Carlos Magno, e Rábano Mauro, discípulo trabalhadores viviam presos à terra e subordinados a
de Alcuíno. Este, juntamente com Paulo Diacro (ou Di- uma série de obrigações em impostos e serviços.
ácono), impulsionaria a gramática e a métrica, dando
origem a um tipo de literatura enfática. Naturalmente, Obrigações dos servos
as querelas dogmáticas recrudesceram, com destaque
para as posições de Jean Scott (ou Scott Erígena) acer- §§ Corveia: trabalho sem remuneração para
ca da questão dos conceitos, colocando o problema da o senhor feudal, seja na agricultura ou em
religião face à fé. construções.
Foi principalmente na arquitetura que se mani- §§ Banalidades: imposto cobrado pelo uso da
festaram os objetivos mais elevados dos protagonistas infraestrutura do feudo (moinhos, fornos etc.).
da organização do império, ilustrando bem as transfor- §§ Talha: porcentagem da produção agrícola
mações ocorridas no âmbito da religiosidade, nomeada- destinada ao senhor.
mente em relação à liturgia. Aproveitam-se influências §§ Mão-morta: na eventualidade da morte de
de Bizâncio, em Aix e Germigny. Constituiu, de fato, uma um servo, a família deveria pagar um im-
síntese das diferentes correntes artísticas do Ocidente, posto ao senhor para que continuasse usu-
que se concatenam durante o reinado de Carlos Magno: fruindo da posse da terra.
influências da antiguidade trazidas via Itália e Bizâncio §§ Capitação: imposto anual pago por
e influências provenientes da Inglaterra e da Irlanda. membro da família.

O feudalismo variou de região para região e de


época para época, ao longo da Idade Média.
A influência da religião em todos os aspectos da
vida medieval era imensa, a fé inspirava e determinava
os mínimos atos da vida cotidiana.
O homem medieval foi condicionado a crer que
a Igreja era a intermediária entre o indivíduo e Deus, e
que a graça divina só seria alcançada através dos sa-
cramentos.
A vida monástica e as ordens religiosas come-
çaram a surgir na Europa a partir de 529, quando São

Sistema feudal Bento de Núrcia fundou o mosteiro no monte Cassino,


na Itália, e criou a ordem dos beneditinos.
O sistema feudal estava completo nos séculos IX
O feudalismo era a estrutura econômica social,
e X, com a invasão dos árabes no sul da Europa, dos
política e cultural baseada na posse da terra, predomi-
vikings (normandos) no norte e dos húngaros no leste.
nou na Europa ocidental durante a Idade Média. Foi
A partir do século XI, quando se iniciaram di-
marcado pelo predomínio da vida rural e pela ausência
versas mudanças significativas na economia feudal, é
ou redução do comércio no continente europeu.
que as atividades baseadas no comércio e na vida em
cidades, pouco a pouco, ganhavam impulso.

24
Baixa Idade Média
A crise do sistema feudal deu origem a um processo de marginalização social, quer pela fuga dos servos, quer
pelos deserdamentos ocorridos na camada senhorial. Essa marginalização trouxe como consequência o aumento da
belicosidade, assaltos e sequestros de ricos cavaleiros. A Igreja católica, na tentativa de conter a crise, criou uma série
de medidas para proteger os cultivadores, viajantes e mulheres; além disso, limitou os períodos de guerras para o
máximo de noventa dias. Porém, essa intervenção da Igreja não foi capaz de conter a crise do período.
A saída encontrada pela Igreja foram as Cruzadas. Diante do controle material e espiritual que possuía
sobre seus fiéis, propôs resgatar o Santo Sepulcro (Jerusalém) e combater os infiéis (muçulmanos). Em 1095, no
concílio de Clermont, Urbano II convoca a cristandade para uma guerra santa contra o islã. Ao todo, realizaram-se
oito cruzadas, entre 1095 e 1270.
Contudo, apesar de toda a mobilização, as Cruzadas são consideradas um fracasso. As razões desse insu-
cesso se devem em primeiro lugar ao caráter superficial da ocupação. A presença cristã no Oriente Médio não criou
raízes entre as populações locais. Outra razão foi a anarquia feudal, que enfraquecia colônias militares instaladas
em território inimigo. Em resumo, as Cruzadas fracassaram em razão das rivalidades nacionais entre as potências
ocidentais e da falta de capacidade da Igreja em organizar uma força que soubesse superar essas dissensões.
Por outro lado, as Cruzadas trouxerem transformações sociais e econômicas em seu bojo. A vitória das cidades
italianas sobre os muçulmanos no norte da África lançou sementes do comércio. As relações entre Ocidente e Oriente
foram redinamizadas depois de séculos de bloqueio, e as mercadorias orientais se espalhavam para a Europa.
Nesse contexto, Veneza e Gênova, através da rota de Champagne, abasteciam o mercado europeu, promo-
vendo a interligação entre três centros de comércio: Constantinopla, cidades italianas e Flandres. Esta, possuidora
de importante feira, constituía ponto estratégico de comércio na Europa. Dentro dela e de tantas outras, desen-
volveram-se técnicas de comércio exterior, como troca de moedas e letras de câmbio. Há, assim, uma mudança na
composição econômica e social europeia, denominada de Renascimento Urbano e Comercial.

25
U.T.I. - Sala
1. O filósofo Aristóteles (384-322 a.C.) definiu postos mais honrosos; inversamente, a pobre-
a cidadania em Atenas da seguinte forma: za não é razão para que alguém, sendo capaz
de prestar serviços à cidade, seja impedido
A cidadania não resulta do fato de alguém
de fazê-lo pela obscuridade de sua condição.
ter o domicílio em certo lugar, pois os es-
Conduzimo-nos liberalmente em nossa vida
trangeiros residentes e os escravos também
pública, e não observamos com uma curiosi-
são domiciliados nesse lugar e não são cida-
dade suspicaz [desconfiada] a vida privada
dãos. Nem são cidadãos todos aqueles que
de nossos concidadãos, pois não nos ressen-
participam de um mesmo sistema judiciário.
timos com nosso vizinho se ele age como lhe
Um cidadão integral pode ser definido pelo
apraz, nem o olhamos com ares de reprovação
direito de administrar justiça e exercer fun-
que, embora inócuos, lhe causariam desgos-
ções públicas.
to. Ao mesmo tempo que evitamos ofender os
Adaptado de Aristóteles, Política.
Brasília: Editora UnB, 1985, p. 77-78. outros em nosso convívio privado, em nossa
vida pública nos afastamos da ilegalidade
Relacionando aquilo que você aprendeu sobre principalmente por causa de um temor reve-
o tema com o texto acima, quais as duas prin- rente, pois somos submissos às autoridades
cipais condições para que um ateniense fosse e às leis, especialmente àquelas promulgadas
considerado cidadão na Grécia clássica? para socorrer os oprimidos e às que, embora
não escritas, trazem aos agressores uma de-
2. Num antigo documento egípcio, um pai dá o sonra visível a todos.
seguinte conselho ao filho: Oração fúnebre de Péricles, 430 a.C. In: Tucídides.
Decide-te pela escrita, e estarás protegido do História da Guerra do Peloponeso. Brasília:
Editora UnB, 2001, p. 109. Adaptado.
trabalho árduo de qualquer tipo; poderás ser
um magistrado de elevada reputação. O es- a) Quais as principais características do regime
criba está livre dos trabalhos manuais [...] político de Atenas?
é ele quem dá ordens [...]. Não tens na mão b) Qual a cidade que foi a principal adversária
a palheta do escriba? É ela que estabelece de Atenas na Guerra do Peloponeso?
a diferença entre o que és e o homem que c) Cite e comente as principais diferenças en-
segura o remo. tre elas.
Apud Luiz Koshiba. História – origens, estrutura e processos.

Lendo o texto e lembrando o que você apren- 5. Cite o nome e a principal característica de
deu sobre o tema, argumente sobre a seguin- cada um dos três Períodos da História de
te afirmação: Roma.

Nas Civilizações do Antigo Oriente, a Escrita 6. O historiador grego Heródoto (484-420 a.C.)
é um dos fundamentos da própria ideia de viajou muito e deixou vivas descrições com
“Civilização”. reflexões sobre os povos e as terras que co-
nheceu. Deve-se a ele a seguinte afirmação:
3. Alguns povos da Antiguidade foram merca- “o Egito, para onde se dirigem os navios gre-
dores e praticavam intensamente o comércio gos, é uma dádiva do rio Nilo“.
marítimo.
a) Qual a relação entre a localização geográfica “No Antigo Egito, existia uma profunda li-
da Fenícia e as características econômicas de gação entre o meio natural e a vida daquele
seu povo? povo.”
b) Cite o nome de suas três principais cidades. Explique a afirmação acima, relacionando
c) Cite e comente um legado importante que os seus conhecimentos sobre o tema com o texto.
fenícios deixaram na História.
7. “Com relação ao ornamento, Roma não cor-
4. Vivemos numa forma de governo que não se respondia, absolutamente, à majestade do
baseia nas instituições de nossos vizinhos; ao Império e, além disso, estava exposta às
contrário, servimos de modelo a alguns, ao inundações, como também aos incêndios.
invés de imitar outros. [...] Nela, enquanto Porém, Augusto fez dela uma cidade tão bela
no tocante às leis todos são iguais para a so- que pode se envaidecer, principalmente por
lução de suas divergências privadas, quando ter deixado uma cidade de mármore no lugar
se trata de escolher (se é preciso distinguir onde encontrara uma de tijolos”.
em algum setor), não é o fato de pertencer a Adaptado de: Suetônio. A vida dos doze Césares.
uma classe, mas o mérito, que dá acesso aos São Paulo: Martin Claret, 2006, p. 91.

26
Considerando o texto e o período de Otávio Augusto no governo de Roma, responda:
a) Qual a relação da reurbanização de Roma durante o Governo de Otávio Augusto, com aquilo que sim-
bolizava a PAX ROMANA?
b) Identifique uma medida social e uma medida política estabelecidas por Augusto para adaptar as tra-
dições romanas àquele momento histórico.

U.T.I. - E.O.
1. A palavra árabe iman significa ‘ter certeza’ e
designa fé, no sentido da certeza. A fé, por
conseguinte, não contradiz o conhecimento
nem a compreensão. Pelo contrário, o dese-
jo de saber é uma obrigação religiosa, e os
tempos pré-islâmicos (século VI) na Arábia
são chamados pelos islâmicos de jahiliya,
ignorância.
Adaptado de: Burkhard Scherer (Org.). As grandes religiões:
temas centrais comparados. Petrópolis: Vozes, 2005, p. 77.

Como a fé e o conhecimento científico esta-


vam relacionados entre si no mundo islâmi-
co na Alta Idade Média?

2. “O desenvolvimento da arte bizantina da


produção de ícones em mosaicos não con-
tradiz as razões que originaram o Cisma do
Oriente, em 1054.” Nascida nos quadros do Império Romano,
Explique essa afirmação justificando-a. a Igreja ia aos poucos preenchendo os va-
zios deixados por ele até, em fins do século
IV, identificar-se com o Estado, quando o
3. A famosa “Batalha de Poitiers”, ocorrida no
cristianismo foi reconhecido como religião
ano de 732, teve em Carlos Martel, líder dos
oficial. (...) Estreitavam-se, portanto, as re-
francos e avô de Carlos Magno uma figura
lações Estado-Igreja. (...) No Império Caro-
central.
língio, a aliança entre os reis e a Igreja foi
a) Do ponto de vista religioso e cultural, qual
fundamental para a consolidação de ambos
o significado dessa batalha para as regiões
os poderes e, por vezes, a Igreja assumia
ocidentais do continente europeu?
funções que hoje consideramos ser do Esta-
b) Qual a nova força militar que desempenhou
do e este por sua vez interferia nos assun-
um papel fundamental nessa batalha e que
tos religiosos.
depois se tornaria durante todo o período
FRANCO JÚNIOR, Hilário. A Idade Média. Nascimento do
medieval uma das instituições de sustento Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 2001. p. 67 e 71.
ao feudalismo?
Sobre as relações entre Estado e Igreja, no
4. Qual o significado simultaneamente políti- período medieval, responda:
co e religioso da coroação de Carlos Magno, a) Qual o papel administrativo desempenhado
ocorrida no Natal do ano 800? pela Igreja católica durante o Período Me-
dieval?
5. Observe a ilustração e leia a citação a seguir. b) Como o Poder Real dos francos – merovíngios
Em seguida, responda ao que se pede. e carolíngios – contribuiu para a expansão
do cristianismo na Europa ocidental?

6. Qual a importância do ponto de vista geopo-


lítico daquele período, o surgimento, esta-
belecimento e expansão do Islão a partir do
século VII?

27
7. O Imperador Justiniano (527-565) entre
outras realizações, consolidou o conceito e
as práticas do Cesaropapismo, que iriam ter
muitas consequências ao longo do tempo na-
quela região, particularmente no Leste euro-
peu e na Rússia.
O que é Cesaropapismo?

8. “O aparecimento da polis constitui, na histó-


ria do pensamento grego, um acontecimen-
to decisivo (...). O que implica o sistema da
polis é primeiramente uma extraordinária
preeminência da palavra sobre todos os ou-
tros instrumentos do poder. Torna-se o ins-
trumento político por excelência, a chave de
toda a autoridade no Estado, o meio de co-
mando e de domínio sobre outrem (...). Uma
segunda característica da polis é o cunho de
plena publicidade dada às manifestações
mais importantes da vida social. Pode-se
mesmo dizer que a polis existe apenas na
medida em que se distinguiu um domínio
público, nos dois sentidos diferentes mas
solidários do termo: um setor de interesse
comum, opondo-se aos assuntos privados;
práticas abertas, estabelecidas em pleno dia,
opondo-se a processos secretos. Essa exigên-
cia de publicidade leva a apreender progres-
sivamente em proveito do grupo e a colocar
sob o olhar de todos o conjunto de condutas,
dos processos, dos conhecimentos que cons-
tituíam na origem o privilégio exclusivo.”
(Jean-Pierre Vernant. As origens do
pensamento grego. 1984.)

a) O que era a polis?


b) Por que a PALAVRA é tão importante nesse
contexto ao qual o autor se refere?

9. O que significa o termo “Mesopotâmia” e


qual a relação entre esse significado e as ci-
vilizações que surgiram nas várias cidades-
-Estado daquela região?

1
0. As perseguições aos cristãos no Império Ro-
mano estavam ligadas especialmente a uma
atitude dos cristãos com relação à figura do
Imperador e que era ao mesmo tempo políti-
ca e religiosa.
a) Qual era essa questão?
b) Por que ela era simultaneamente política e
religiosa?

28
0 1 História do Brasil

U.T.I.

C H
HISTÓRIA
Período pré-colonial (1500-1530)

A chegada dos portugueses ao Brasil ocorreu em 22 de abril de 1500 e se insere no contexto mercantil ibé-
rico e europeu dos séculos XV e XVI, quando os portugueses e os espanhóis procuravam encontrar rotas marítimas
alternativas ao mar Mediterrâneo (fechado aos europeus pelos árabes) e continuar o valioso comércio asiático de
produtos de luxo como seda, especiarias, caros objetos decorativos, e particularmente, o mais rentável de todos: o
açúcar.
Nessa busca, os espanhóis se depararam com o continente americano em 1492, na atual região do mar do
Caribe – América Central – e no seu rastro, bem mais ao sul, os portugueses, em 1500.
Entretanto, para o governo português, essas novas terras (naquele momento desconhecidas em toda sua
imensidão) foram tratados como uma posse de reserva, para se manterem em condições de competição econômica
com a rival Espanha, que já iniciava, nos inícios do século XVI, o reconhecimento geográfico e a exploração econô-
mica de suas descobertas.
Portugal – que havia precocemente descoberto, percorrido e explorado a rota africana para a Ásia e, por
enquanto, dominava com quase exclusividade essa rota – estava totalmente focado no muito rentável comércio
com as Índias, como se denominava entre os europeus, genericamente, o continente asiático.
Assim sendo, o Brasil, nesse período, permaneceu para Portugal uma fonte econômica secundária, fornecen-
do, a partir de seu vasto litoral (progressivamente conhecido pelos portugueses), o valioso pau-brasil – mediante
escambo com os nativos da terra, montando, ao longo do litoral, as feitorias, pequenas fortalezas litorâneas que
serviam de base de apoio aos navios e depósito para o pau-brasil, o qual era oportunamente levado a Portugal
pela próxima expedição que viesse.
Além disso, essas estratégicas fortalezas serviam também como marco da presença portuguesa e locais de
defesa e vigilância do litoral contra eventuais estrangeiros que viessem por aqui.
Esse produto era comercializado também pelos espanhóis, franceses, ingleses e holandeses, que o vinham
buscar regularmente, em pequenas expedições clandestinas, particulares ou financiadas pelos seus governos; por
esse motivo, Portugal organizava regularmente as chamadas expedições guarda-costas – para reconhecer, patru-
lhar e manter a posse do litoral brasileiro, tentando coibir o comércio do pau-brasil feito por outros.
Nesse momento, também, o Brasil servia como local de envio dos chamados “degredados”, criminosos ou
marginais sociais dos quais Portugal queria se livrar.
Esses indivíduos eram periodicamente lançados dos navios em grupos na costa brasileira, tendo que nadar
um longo percurso até as praias, muitos morriam afogados ou devorados por tubarões, mas outros, entretanto, que
chegavam vivos em terra firme,foram estabelecendo contato e convívio com os nativos, sendo que alguns deles, anos
mais tarde, bem estabelecidos na terra, vieram a prestar valiosa ajuda aos primeiros colonizadores portugueses.

31
Início da colonização foram os primeiros a explorá-la. Depois de algumas via-
gens, os espanhóis afastaram-se em respeito ao Tratado
de Tordesilhas. Os franceses, sem compromisso com o
Logo após o descobrimento, o Brasil permane-
tratado e sem poder comercializar diretamente com o
ceu relativamente abandonado pelos portugueses, que
continuavam a buscar as riquezas do comércio com as Oriente, lançaram-se ao contrabando.
Índias. Para Portugal, um Estado, acima de tudo, voltado No ano de 1530, o rei de Portugal organizou a
para o máximo desenvolvimento mercantilista, o Brasil primeira expedição com objetivos de colonização, co-
nada ou quase nada poderia oferecer de imediato, em mandada por Martin Afonso de Souza. Seus objetivos
confronto com o rico mercado de especiarias. Assim foi eram povoar o território brasileiro, expulsar os invasores
que, por não atender aos interesses imediatos do Esta- e iniciar o cultivo de cana-de-açúcar no Brasil.
do nem da classe mercantil portuguesa, de acordo com Como já sabemos, açúcar era um produto larga-
as exigências de sua prática mercantilista, conduzida mente consumido na Europa por nobres e burgueses,
ainda apenas no setor de distribuição de mercadorias, como um alimento de luxo, e seu comércio produzia
o Brasil permaneceu ligado à sua metrópole por umas grandes margens de lucro. Após as experiências positi-
poucas expedições ocasionais, que aqui chegavam com vas de cultivo no Nordeste, já que a cana-de-açúcar se
o objetivo de reconhecer mais amplamente o litoral ou adaptou bem ao clima e ao solo nordestino, começou o
de explorar o pau-brasil, madeira com possibilidade de plantio em larga escala.
comercialização, ou ainda, de afugentar os franceses, O povoamento do território brasileiro estava en-
atraídos pela mesma mercadoria e contestadores da di- tão vinculado diretamente à produção do açúcar, plan-
visão da América entre Portugal e Espanha (Tratado de
tado em larga escala em grandes extensões territoriais,
Tordesilhas,1494).
trabalhado em todo seu processo – plantio, colheita,
Gaspar Lemos, em 1501, e Gonçalo Coelho, em
beneficiamento, produção, embalamento, armazena-
1503, comandaram, respectivamente, as primeiras ex-
pedições de reconhecimento e exploração. Desta últi- mento e transporte – executado por mão de obra es-
ma, organizada pelo comerciante Fernão de Noronha, a crava – inicialmente nativa e, em seguida, dos africanos,
quem o rei arrendara a “colônia” para a exploração do trazidos de seu continente nativo ao Brasil, cada vez em
pau-brasil em troca da defesa da costa, participou Amé- maiores quantidades, através de uma atividade especí-
rico Vespúcio. O crescimento da presença de franceses, fica e muito rentável em si mesma: o comércio negreiro.
principalmente junto ao litoral, exigiu um esquema de Inicialmente, o rei de Portugal D. João III, em
policiamento mais ostensivo. Para isso, foram enviadas 1534, dividiu administrativamente o território, nas cha-
duas expedições guarda-costas comandadas por Cris- madas Capitanias Hereditárias, procurando se utilizar
tóvão Jacques, em 1516 e 1526, para combater os cor- de um modelo feudal de ocupação, povoamento e ad-
sários franceses. Entretanto, esse recurso não chegou a
ministração territorial baseada na iniciativa privada de
bons resultados. O litoral continuou ameaçado, o que
alguns nobres enriquecidos que teriam larga autonomia
exigiu muito mais esforço para garantir a segurança. Por
sobre seus territórios, arcando, no entanto, com todos
fim, exigiu a ocupação do litoral, sua colonização, o que
mudou radicalmente a política oficial do Estado portu- os custos relativos a essa ocupação.
guês, bem como o montante de investimentos por parte Esse sistema fracassou pelo quase absoluto de-
da burguesia lusitana. sinteresse de todos os eventuais “donatários”, à exce-
ção de Duarte Coelho, em Pernambuco, e de Martim

A exploração do pau-brasil Afonso de Sousa, em São Vicente.


Então, em 1548, o rei criou o sistema de governo-
O único produto brasileiro com algum valor co- -geral, enviando ao Brasil uma espécie de vice-rei, que
mercial, embora inferior às mercadorias orientais, era centralizaria todas as principais funções administrativas
o vegetal do qual se extraía uma tinta muito usada das capitanias – dividindo-as em sesmarias e auxiliando
em tinturaria: o pau-brasil. A extração dessa madeira seus proprietários em sua ocupação, desenvolvimento e
ocorria no litoral da colônia, em uma área que ia do manutenção.
Rio Grande do Norte ao Rio de Janeiro. Os portugueses

32
Também existiam as câmaras municipais, que eram órgãos políticos compostos pelos “homens-bons”: ricos
proprietários que definiam os rumos políticos das vilas e cidades.
Foi construída a cidade de Salvador, uma vez que a região Nordeste tornou-se o centro econômico da colô-
nia, em virtude da produção açucareira. A cidade serviria de base para o controle administrativo, bem como porto
para o envio do açúcar para Portugal e Europa.

O açúcar
A produção açucareira ocorria no sistema de plantation, ou seja, eram grandes extensões de terra desen-
volvendo a monocultura extensiva através do trabalho escravo utilizado em larga escala com o objetivo de realizar
a exportação do produto. O pacto colonial imposto por Portugal estabelecia que o Brasil só podia fazer comércio
com a metrópole portuguesa, no sistema de “exclusivo colonial”.

Senhores e escravos
A sociedade no período do açúcar era marcada pela nítida diferenciação social. No alto da sociedade, com
poderes políticos e econômicos quase absolutos, limitados apenas pelo governador-geral, estavam os senhores de en-
genho. Abaixo, aparecia uma camada média formada por trabalhadores livres – artesãos, construtores, pequenos pro-
prietários de terra e funcionários públicos. E na base da sociedade, estavam os escravos de origem indígena e africana.
Era uma sociedade patriarcal, pois o senhor de engenho exercia um grande poder social. As mulheres ti-
nham poucos ou quase nenhum direito e nenhuma participação política, viviam em função de seus pais ou maridos.
A casa-grande era a residência da família do senhor de engenho. Nela moravam, além da família, alguns agregados.
O conforto da casa-grande contrastava com a miséria e péssimas condições de higiene das senzalas (habitações dos escravos).

Principais rotas do tráfico

33
Jesuítas Os holandeses no Brasil
Paralelamente a essa estruturação de modelo Justamente em função dessa união entre Espanha
colonial, a Companhia de Jesus – uma ordem religiosa e Portugal, os holandeses, que antes eram contratados
recém-fundada na Espanha e com muita penetração em pelo governo português para transportar o açúcar brasi-
Portugal – envia, juntamente com os burocratas portu- leiro à Europa e vendiam-lhe escravos, foram afastados
gueses e colonos civis, padres jesuítas em grupos para dessas lucrativas atividades pelo governo da Espanha,
levarem a cabo um projeto de colonização alternativo visto que a Holanda era historicamente possessão espa-
e que vão procurar catequizar e converter os nativos, nhola e, posteriormente, tornou-se sua rival econômica.
tanto nas colônias espanholas como no Brasil, ao cato- Os holandeses responderam a esse ato invadin-
licismo romano. Assim, fundam colégios, que originam do formalmente parte do território nordestino – primei-
vilas, como no caso de São Paulo (1554) , mas agem, ro a Bahia, entre 1624 e 1625, e depois Pernambuco,
principalmente, criando as Missões – aldeamentos de entre 1630 e 1654, procurando, nessas regiões, esta-
belecerem colônias, administrando seu território e con-
indígenas convertidos administrados pelos padres, que
trolando todo o processo produtivo do açúcar – de seu
vão procurar preservar alguns elementos da cultura na-
plantio ao transporte final.
tiva e fundi-los com a cultura europeia cristã, tornando
Um destaque importante dessas ocupações foi o
o indígena um igual aos brancos em sua educação, co-
governo do conde Maurício de Nassau, em Pernambu-
nhecimentos e cultura. co, entre 1637 e 1644. Nassau procedeu a pacificação
da região, estabeleceu boas relações com os senhores
de engenho e moradores em geral, através da conces-
são de crédito bancário, estabelecimento da tolerância
religiosa e desenvolvimento de importantes obras urba-
nas, além de fomentar a cultura e a educação, trazendo
da Holanda cientistas e artistas.
Com o fim da União Ibérica e o restabelecimento
da independência de Portugal e suas colônias, o governo
português se organiza militarmente com parte dos colo-
Esse projeto de colonização irá permanentemen- nos para promover a expulsão dos holandeses do territó-
te se chocar com o projeto oficial governamental e dos rio brasileiro, que ocorre definitivamente em 1645.
Entretanto, os holandeses, ao deixarem o Brasil,
colonos, que veem no indígena somente um instrumen-
levaram grande quantidade de mudas de cana-de-açú-
to de trabalho escravo, motivando invasões constantes
car, know-how tecnológico de sua produção, muitos co-
dessas missões, principalmente pelos bandeirantes, e o
merciantes especializados no produto, particularmente
confronto, muitas vezes armados, com os índios missio-
judeus e até alguns escravos e brancos construtores das
nados e com os próprios jesuítas. máquinas do engenho açucareiro.
Esses holandeses acabaram por se estabelecer
União Ibérica ao norte da América do Sul e em algumas regiões da
América Central, particularmente nas ilhas do mar do
A partir de 1580, ocorreu a chamada União Ibé- Caribe, chegando até a costa leste do atual EUA.
rica, pois o rei de Portugal D. Sebastião, morto em uma Em alguns desses locais, iniciaram a produção
batalha na África, não deixou descendentes portugue- do açúcar, reduzindo e racionalizando os custos, melho-
ses diretos, sendo seu parente mais próximo o próprio rando a sua qualidade e reduzindo os preços no merca-
Felipe II, rei de Espanha, e pelas leis e costumes absolu- do internacional.
tistas possuía, a partir de então, plenos direitos políticos O resultado para o Brasil e Portugal foi a pro-
sobre Portugal e suas colônias, incluindo o Brasil. gressiva perda de mercados consumidores e a conse-
Dessa forma, Portugal, Espanha, Brasil, partes da quente diminuição do comércio e dos lucros do açúcar,
provocando um lento, mas profundo, declínio econômi-
Índia e África tornaram-se um único reino.
co de toda a região Nordeste do Brasil como um todo.
34
no território brasileiro, procurando índios para aprisio-
nar e jazidas de ouro e diamantes. E, assim, eles acaba-
ram encontrando as primeiras minas de ouro, diamantes
e pedras preciosas, nas regiões de Minas Gerais, Goiás
e Mato Grosso.
Após a descoberta dessas primeiras minas de
ouro, o rei de Portugal tratou de organizar sua extração
e comercialização. Interessado nesta nova fonte de lu-
cros, pois o comércio de açúcar estava em franco declí-
nio, ele começou a cobrar o quinto.
O quinto era um imposto cobrado pela coroa
portuguesa e correspondia a 20% de todo ouro en-
Bandeirantes contrado por todos mineradores. O imposto era cobra-
do nas Casas de Fundição, que transformavam todo o
As expedições militares particulares de apresa- ouro coletado em lingotes padronizados e identificados
mento indígena, busca de metais e pedras preciosas e com o selo real. O quinto de cada quantidade de ouro
reconhecimento territorial que partiam sistematicamen- fundido era transformado em lingotes e separados para
serem enviados ao Tesouro Real.
te da Vila de São Paulo tiveram, durante a União Ibérica,
Somente esses lingotes poderiam depois serem
grande expansão, pois, agora, os paulistas tinham plena
legalmente comercializados por seus proprietários, pois
liberdade de se aventurar por largas faixas do território
já haviam sido “quintados”. Qualquer outra forma de
colonial, antes controladas exclusivamente pelos espa-
ouro – pó, pepitas e mesmo lingotes não oficialmente
nhóis, e, assim, o território brasileiro, propriamente dito,
selados –, se comercializados e descobertos pelas au-
foi sendo expandido para muito além da linha imaginá-
toridades coloniais, eram tratados como contrabando,
ria das Tordesilhas (antigo tratado de divisão do mundo
confiscados e os envolvidos presos, processados, multa-
recém-descoberto entre espanhóis e portugueses e san- dos e até mesmo encarcerados ou executados, depen-
cionado pelo papa), integrando com a abertura de ca- dendo de quem fosse e das circunstâncias do contra-
minhos e rotas fluviais, percorridas e mapeadas grande bando ou mesmo da quantidade envolvida.
parte do cada vez mais imenso território colonial. Essa descoberta de ouro, pedras preciosas e dia-
mantes e o início de sua exploração nas regiões aurífe-
ras e diamantinas (Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás)
provocou uma verdadeira “corrida do ouro” para estas
regiões. Procurando trabalho na região, desempregados
de várias regiões da colônia e de Portugal partiram em
busca do sonho de riqueza.

O trabalho dos tropeiros foi de fundamental im-


portância neste período, pois eram eles que buscavam,
nas regiões mais ao sul das Minas Gerais, os animais de
Como já sabemos, foram os bandeirantes os res- carga, carne seca e outros alimentos e provisões, que
ponsáveis pela ampliação do território brasileiro, além não eram produzidos nas regiões mineradoras.
do Tratado de Tordesilhas. Os bandeirantes penetraram

35
Seu trabalho possibilitou o reconhecimento, me- forasteiros, principalmente portugueses, que
lhoria e desenvolvimento das estradas e comunicações detinham privilégios do governo colonial para o
entre as regiões da colônia envolvidas nesse processo, comércio de diversas mercadorias.
particularmente as atuais regiões Sul e Sudeste. §§ Guerra dos Mascates – Olinda e Recife (1710-
Cidades começaram a surgir e o desenvolvimen- 1711): conflito causado pela rivalidade entre os
to urbano e cultural aumentou muito nestas regiões. senhores de engenho de Olinda e os comercian-
Muitos novos trabalhos complementares à mine- tes portugueses do Recife, apelidados de “mas-
ração surgiram nestas regiões, diversificando o mercado cates”. O conflito eclodiu quando Recife foi ele-
de trabalho na região. Igrejas foram erguidas em cidades vado à categoria de vila, o que favorecia o grupo
como Vila Rica (atual Ouro Preto), Diamantina e Mariana, português. Ao terminar o movimento, em 1712,
Recife passava a ser capital de Pernambuco, o que
casas suntuosas, locais de administração pública, as vilas
acentuou ainda mais a rivalidade da aristocracia
cresceram e foram urbanizadas com ruas pavimentadas,
pernambucana contra os portugueses.
iluminação noturna, locais de diversão e difusão cultural.
§§ Revolta de Felipe dos Santos – Minas Gerais
Assim, a arte da pintura e da escultura, assim
(1720): rebelião contra os abusos do fiscalismo
como a literatura, a música e a poesia, encontrou es-
português nas minas, caracterizado pela eleva-
paço de criação, difusão e consumo, diferenciando em
ção dos impostos decretada pelo governador de
muito essa região do restante da colônia.
Assumar. A revolta dos mineradores reivindicava
Para acompanhar administrativamente todo esse
a redução dos impostos, a abolição dos monopó-
crescimento e desenvolvimento na região, a capital da
lios exercidos pelos portugueses e a extinção das
colônia foi transferida de Salvador para o Rio de Janeiro, casas de fundição.
no ano de 1763.
E na crescente crise mercantil entre metrópole e
colônia, causando a progressiva falência econômica de
Movimentos nativistas Portugal e sua crescente dependência da Inglaterra, as
tensões na colônia, particularmente nas regiões aurífe-
e separatistas ras e diamantinas foram aumentando, no progressivo
desinteresse da manutenção do pacto colonial por par-
Em função da crise açucareira no Nordeste, algu- te dos grupos coloniais participantes do poder político
mas profundas desavenças regionais entre os próprios local e das riquezas e na sensação por parte das popu-
colonos, disputas territoriais sobre as minas e regiões lações brancas, mestiças e de libertos – trabalhadores
auríferas ou aumento significativo do controle, vigilân- braçais ou intelectuais em algumas áreas mais urbani-
cia e exploração econômica da metrópole ocorreram de zadas – da exploração econômica e da submissão polí-
fins do século XVII e durante todo o século XVIII, cau- tica exercida por Portugal.
sando rebeliões, revoltas e conflitos nativistas. Nesse contexto, surgem dois movimentos de ca-
ráter nitidamente separatista:
§§ Revolta de Beckman – Maranhão (1684): ori-
ginou-se da divergência entre os colonos locais, §§ Inconfidência Mineira – Vila Rica, Rio de
representados pelos irmãos Manuel e Tomás Be- Janeiro e arredores (1789): inspirados pela in-
ckman, e a Companhia Geral de Comércio do Es- dependência dos Estados Unidos e pelos ideais
tado do Maranhão, que detinha o monopólio do iluministas, os conjurados evidenciavam-se com
comércio e da introdução de escravos africanos. propostas republicanas e separatistas, embora
A rebelião ocorreu contra os abusos da Compa- não desejassem o fim da escravidão. Seus líderes
nhia de Comércio, que não cumpriu os acordos pertenciam aos letrados da sociedade, aos pa-
feitos com os colonos, e contra a Companhia de dres e aos militares. Maria I, rainha de Portugal,
Jesus, que se opunha à escravidão indígena. ordenou pena capital aos inconfidentes, sendo,
§§ Guerra dos Emboabas – Minas Gerais (1708- no entanto, Tiradentes o único para qual a sen-
1709): conflito entre paulistas e “emboabas” tença foi mantida.

36
§§ Conjuração Baiana ou Revolta dos Alfaia- Portugal. Exigiram o regresso do soberano à Metrópole,
tes – Salvador e arredores (1798): encabeçada seu juramento à futura constituição e a recolonização
por intelectuais da Loja Maçônica, como Cipria- do Brasil em favor dos interesses maiores do comércio
no Barata e Francisco Muniz Barreto, contou com português.
ampla participação popular, algo então inédito no O caráter recolonizador das cortes gerou a reação
Brasil. Propunham a igualdade racial e a constitui- anticolonialista dos brasileiros. Crescia o sentimento eman-
ção de uma república popular. Contudo, em 1799, cipacionista. A presença da corte de D. João VI no Brasil
os populares foram brutalmente enforcados, en- havia solapado os alicerces do sistema colonial, já inade-
quanto a camada intelectual manteve-se ilesa. quado à nova realidade econômica e política da Europa e
da América do Norte. Os grupos anticolonialistas haviam se
Esses movimentos foram duramente reprimidos e
fortalecido e seus ideais propagados e popularizados.
seus participantes punidos de acordo com o grupo social
Os novos agrupamentos políticos:
ao qual pertenciam, além da iniciativa governamental de
§§ Partido Português: defensores da política re-
impedir quaisquer tipos de pretensões de autonomia eco-
colonizadora das cortes.
nômica da colônia, proibindo o surgimento e destruindo
§§ Partido Brasileiro: força mais importante no
todas as manufaturas existentes naquele momento.
processo de independência e caracterizava-se
pelo conservadorismo. Seus componentes te-

A vinda da família real miam que a luta pela independência se fizesse


acompanhar por mudanças na estrutura econô-
mico-social do país.
A crise econômica mercantil e a falência de Por- §§ Radicais Liberais: defendiam que a indepen-
tugal ocorrem juntamente com a Independência dos dência fosse acompanhada por reformas – abo-
EUA (primeira colônia americana a se libertar de sua lição da escravatura, estabelecimento de um
metrópole), com a ascensão política da França (por sufrágio amplo e mais autonomia das províncias.
meio da Revolução Francesa) e, finalmente, com a as- A decisão de D. Pedro de permanecer no Brasil
censão econômica da Inglaterra através da Revolução (Dia do Fico), atendendo às pressões do Partido Brasi-
Industrial, que recriou os princípios de riqueza econô- leiro e dos Liberais Radicais, teve reflexos internos e ex-
mica, anteriormente baseados no comercio mercantil, ternos. As cortes acirraram os decretos recolonizadores
partindo então para a produção industrial. e as tropas metropolitanas sediadas no Brasil movimen-
Dessa forma, o rei de Portugal D. João VI, em taram-se contra o regente D. Pedro.
1807, pressionado conjuntamente por suas dívidas com A crise institucional chegava a um limite que
a Inglaterra e com a iminente invasão das tropas de Na- apontava para a separação final. No dia 7 de setembro
poleão Bonaparte, herdeiro político direto da Revolução de 1822, às margens plácidas do riacho do Ipiranga, D.
Francesa, e conduzido por seus temores quanto a sua Pedro proclamou a Independência do Brasil.
própria segurança pessoal e de sua família, abandona O projeto político da independência do Brasil foi
Portugal e se refugia em sua colônia, Brasil, especifica- resultado, em primeiro lugar, dessa situação particular
mente na capital Rio de Janeiro, onde vai permanecer e das contradições entre os interesses da elite agrária
de 1808 a 1821, procedendo inúmeras reformas econô- brasileira e do projeto português de recolonização do
micas e administrativas liberalizantes, o que vai aproxi- Brasil, expresso na Revolução Liberal do Porto.
mar cada vez mais o Brasil da ruptura política definitiva A independência brasileira foi sui generis no
contexto americano. O Brasil foi o único país a adotar
com Portugal, em 1822.
a monarquia ao longo do século XIX como forma de
governo. O processo de rompimento com a metrópole,
Processo de independência além de ter sido liderado por quem era herdeiro dos do-
minadores coloniais, foi liderado por um representante
Em 1820, a burguesia lusa deu início à Revolu- das elites dominantes; portanto, por um defensor dos
seus interesses e os de outros países, como os da Ingla-
ção Liberal do Porto e convocou as cortes constituintes
terra, que não precisava nem desejava o apoio popular.
de Lisboa para a elaboração da primeira Constituição de

37
U.T.I. - Sala
1. O triunfo holandês seria coroado com a chegada do conde Maurício de Nassau-Siegen, que de-
sembarcou como governador em janeiro de 1637. Transformado em mito de nossa história seis-
centista, Nassau ficaria também celebrizado pela missão de pintores e naturalistas que financiou
no seu governo. Frans Post (1612-1680) foi o mais renomado componente da missão nassoviana,
dedicando-se à pintura de paisagens, retratando a natureza tropical e as construções humanas.

Adaptado de: VAINFAS, R. “Tempo dos Flamengos: a experiência colonial holandesa”.


In: FRAGOSO, J.L.R.; GOUVEA, M. de F. (Org.). O Brasil colonial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014.

a) Quais as principais realizações do Governo Maurício de Nassau?


b) Do ponto de vista colonial, quais as principais diferenças entre a administração holandesa e a admi-
nistração portuguesa no Brasil?

2. No Brasil, costumam dizer que para o escravo são necessários PPP, a saber, pau, pão e pano. E,
posto que comecem mal, principiando pelo castigo que é o pau, contudo, prouvera a Deus que tão
abundante fosse o comer e o vestir como muitas vezes é o castigo, dado por qualquer causa pouco
provada, ou levantada; e com instrumentos de muito rigor, ainda quando os crimes são certos, de
que se não usa nem com os brutos animais...
Adaptado de: ANTONIL, A.J. Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas. 3. ed. Belo
Horizonte: Itatiaia/Edusp, 1982. p. 89. Coleção Reconquista do Brasil. Disponível em: <www.
dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000026.pdf>. Acesso em: 1 ago. 2012.

De acordo com o texto, como o padre Antonil se posiciona perante a questão da escravidão?

3. Durante o processo de independência do Brasil, não haviam ideias claras sobre o federalismo.
Empregava-se “federação” como sinônimo de “república” e de “democracia. Mas a historiografia
oficial da independência procurou ocultar a existência do projeto federalista, encarando-o apenas
como resultado de impulsos anárquicos e de ambições personalistas e antipatrióticas.
a) Identifique no texto os dois significados opostos para o federalismo.
b) Qual o projeto político que dominou a conclusão do nossa independência?

4. “A sede insaciável do ouro estimulou a tantos a deixarem suas terras e a meterem-se por caminhos
tão ásperos como são os das minas, que dificultosamente poderá dar-se conta do número das pes-
soas que atualmente lá estão.“
(ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas.)

De acordo com o texto, quais as principais consequências da corrida do ouro no Brasil?

5. No início do século XIX, iniciaram-se as revoltas coloniais na América hispânica, acompanhando


os movimentos separatistas ocorridos no Brasil.
Qual a principal característica do processo de independência das colônias hispânicas e as diferen-
ças marcantes entre sua emancipação política e a emancipação ocorrida no Brasil?

38
6. As expedições destinadas ao apresamento dos nativos, como se pode observar no mapa abaixo,eram
a principal atividade econômica dos bandeirantes paulistas entre os séculos XVI e XVIII.

a) Qual a relação existente entre as expedições de apresamento e as atividades econômicas realizadas


pelos moradores da Capitania de São Vicente?
b) Cite um efeito dessas expedições para a colônia portuguesa na América nesse período.

7.

a) Identifique e analise dois elementos representados na imagem, ligados ao contexto histórico de Por-
tugal na segunda metade do século XVIII.
b) Cite e explique duas medidas tomadas pelo governo português com relação ao Brasil, nesse período.

8. A transformação do Rio de Janeiro em corte real começou apenas dois meses antes da chegada do
príncipe regente, quando notícias do exílio real – tão “agradáveis” quanto “chocantes”, cheias de
“sustos e alegrias” – foram recebidas. Entretanto, como descobriram os residentes da cidade, os
preparativos iniciais para acomodar Dom João e os exilados marcaram apenas o começo da trans-
formação do Rio de Janeiro em corte real, pois o projeto de construir uma “nova cidade” e capital
imperial perdurou por todo o reinado brasileiro do príncipe regente. Construir uma corte real
significava construir uma cidade ideal; uma cidade na qual tanto a arquitetura mundana como a
monumental, juntamente com as práticas sociais e culturais dos seus residentes, projetassem uma
imagem inequivocamente poderosa e virtuosa da autoridade e do governo reais.
Adaptado de: Kirsten Schultz. Versalhes tropical. 2008.

a) Qual o principal motivo que trouxe a corte portuguesa para o Brasil?


b) Cite duas transformações ocorridas na cidade do Rio de Janeiro com a chegada e presença da corte
portuguesa.

39
U.T.I. - E.O.
1. Frans Post chegou ao Brasil em 1637 e fazia parte do grupo de artistas ligados ao governo holandês
sob o comando de Maurício de Nassau. Paisagens, cenas cotidianas e personagens foram os temas
principais representados por Post durante essa época. Observe atentamente a imagem abaixo, de
sua autoria, e depois responda às questões.

Identifique na pintura: a instalação representada; a força motriz utilizada; a mão de obra predo-
minante e o produto processado.

2. “Por mais de um século, o Brasil foi o principal exportador mundial de açúcar. De 1600 a 1650, o
açúcar respondia por 90% a 95% dos ganhos brasileiros com exportações. Mesmo no período em
torno de 1700, quando o setor açucareiro declinou, ele continuava a representar 15% dos ganhos
do Brasil com exportações.”
SKIDMORE, Thomas E. Uma história do Brasil. São Paulo: Paz e Terra, 1998, p. 36.

Qual o principal acontecimento, ocorrido ainda no século XVII, que iniciou esse vertiginoso
declínio?

3. “A primeira coisa que os moradores desta costa do Brasil pretendem são índios escravizados para
trabalharem nas suas fazendas, pois sem eles não se podem sustentar na terra”.
Adaptado de: GANDAVO, Pero Magalhães. Tratado descritivo da terra do Brasil. São Paulo: Itatiaia e Edusp, 1982, p. 42 [1576]

Nesse trecho, percebe-se que o autor compactua com sua afirmação sobre o Brasil do final do século
XVI. Com base no texto e considerando que Portugal era governado por uma hierarquia social aris-
tocrática e católica, explique por que, quando desembarcavam na América portuguesa da época, os
colonos imediatamente procuravam se utilizar da mão de obra escrava.

4. “O ser senhor de engenho, diz o cronista, é título a que muitos aspiram porque traz consigo o ser
servido, obedecido e respeitado de muitos.”
ANTONIL, A.J. Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas

Relacionando esse texto acima com seus conhecimentos sobre o período colonial no Brasil, faça
um comentário a respeito.

5. No Brasil, em finais do século XVIII, havia grande descontentamento e revolta contra o governo
metropolitano e isso deu origem a rebeliões que questionavam o domínio político português. As
rebeliões, que tiveram caráter claramente separatistas, foram as Conjurações Mineira (1789) e
Baiana (1798).
“Aviso ao Povo Bahiense
Ó vós, Povo, que nascestes para ser livres e para gozar dos bons efeitos da Liberdade, ó vós, Povos,
que viveis flagelados com o pleno poder do indigno coroado, esse mesmo rei que vós criastes; esse
mesmo rei tirano é quem se firma no trono para vos vexar, para vos roubar e para vos maltratar.
Homens, o tempo é chegado para a vossa ressurreição, sim, para vós ressuscitardes do abismo da

40
escravidão, para levantardes a sagrada Bandeira da Liberdade. As nações do mundo todas têm
seus olhos fixos na França, a liberdade é agradável para todos. O dia da nossa revolução, da nossa
Liberdade e da nossa felicidade está para chegar. Animai-vos que sereis felizes.”
Trecho do panfleto revolucionário afixado nas ruas de Salvador na manhã de 12 de agosto de 1798. Adaptado de
PRIORE, M. del e outros. Documentos de história do Brasil: de Cabral aos anos 90. São Paulo: Scipione, 1997.

a) Qual a diferença essencial entre as duas conjurações?


b) Relacione cada uma delas com os respectivos movimentos que as inspiraram.

6. Analise a imagem a seguir.

Pintada em 1822, esta obra era uma alegoria do Estado brasileiro na época da independência. Com
ela se construiu uma imagem positiva do Império e da figura política do monarca, chamado de
“Defensor Perpétuo do Brasil”.
Mas durante o Primeiro Reinado, entretanto, a imagem de D. Pedro foi se modificando.
Diante disso e analisando a pintura, cite e explique:
a) uma característica do projeto político monárquico do Primeiro Reinado;
b) um dos motivos que levaram à mudança da imagem de D. Pedro I durante seu governo.

7. Os historiadores são quase unânimes em reconhecer que a atividade mineradora do século XVIII
resultou numa forma específica de colonização que a diferenciava do resto do Brasil.
FARIA, Sheila de Castro. Dicionário do Brasil colonial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000, p. 397.

Considere o contexto histórico da América portuguesa, no que se refere à sociedade e à economia


colonial do século XVIII, e diferencie esta forma de colonização daquela realizada no Nordeste
açucareiro, dos séculos XVI e XVII.

8. Alguns historiadores afirmam que a história econômica do Brasil se divide em ciclos econômicos
desde o período colonial até a época atual.
Defina no contexto histórico brasileiro o conceito de “ciclo econômico”.

9. A solução dada à questão dinástica portuguesa, após o desaparecimento do rei D. Sebastião em


Alcácer-Quibir (1578), teve consequências na Europa e nas colônias.
No contexto da produção açucareira no Brasil, qual foi a consequência imediata?

1
0. Os tratados de 1810 trouxeram consequências econômicas para o Brasil bastante prejudiciais.
Quais foram elas?

41
0 1 Filosofia

U.T.I.

C H
HISTÓRIA
Período pré-socrático ou cosmológico
Os principais filósofos pré-socráticos foram filósofos da Escola Jônica: Tales de Mileto, Anaxímenes de Mile-
to, Anaximandro de Mileto e Heráclito de Éfeso; filósofos da Escola Itálica: Pitágoras de Samos, Filolau de Crotona
e Árquitas de Tarento; filósofos da Escola Eleata: Parmênides de Eleia e Zenão de Eleia; filósofos da Escola da Plu-
ralidade: Empédocles de Agrigento, Anaxágoras de Clazômena, Leucipo de Abdera e Demócrito de Abdera.
A cosmologia é uma explicação racional e sistemática sobre a origem, a ordem e a transformação da Natu-
reza da qual os seres humanos fazem parte. Ela tem como objetivo, ao explicar a Natureza, refletir sobre a origem
e as mudanças da vida humana. Afirma que não existe criação do mundo, isto é, nega que o mundo tenha surgido
de um vazio, de um nada. Por isso, diz: “Nada vem do nada e nada volta ao nada”.
Contudo, mesmo que a physis seja não perecível, ela dá origem a todos os seres infinitamente variados e
diferentes do mundo; seres que, ao contrário do princípio gerador, são perecíveis ou mortais.
É evidente que diferentes filósofos escolheram diferentes noções de physis, isto é, cada filósofo encontrou
motivos e razões para dizer qual era o princípio eterno e imutável que está na origem da Natureza e de suas trans-
formações. Assim, Tales dizia que o princípio era a água ou o úmido; Anaximandro considerava que era o ilimitado
sem qualidades definidas; Anaxímenes, que era o ar ou o frio; Heráclito afirmou que era o fogo; Leucipo e Demó-
crito disseram que eram os átomos.

Parmênides de Eleia (530–460 a.C.)

Efígie de Parmênides

Nascido na cidade de Eleia, ao sul da Magna Grécia, o filósofo Parmênides é considerado o grande pensador
do imobilismo universal. O filósofo eleata se preocupou em entender a questão da transformação. Ele dizia que
tudo aquilo que existe sempre existiu e continuará a existir.
Partindo dessa ideia, Parmênides afirma que nada pode surgir do nada. Da mesma maneira, dizia que tudo
aquilo que já existe não pode simplesmente se transformar em nada. O filósofo desenvolve ainda mais seu raciocí-
nio: para ele, nenhuma transformação substancial pode realmente ocorrer na natureza.
Para Parmênides, o ser, ou a via da verdade, era uno, indivisível, pleno e eterno (imutável, portanto). Não há
espaço para o não ser. Este não ser, ou aquilo que não é, não pode nunca existir, nem mesmo ser dito ou pensado.
Para haver algo como o não ser, dizia o filósofo, ele teria que se originar do nada, ou de algo que já é – o que
reafirmaria sua crença de que tudo que existe, necessariamente sempre existiu.
Parmênides acreditava que nossos sentidos têm a propriedade de distorcer a realidade, impedindo-nos de
alcançar a verdade. Para o filósofo, qualquer percepção sensorial não passava de ilusão – e somente a razão hu-
mana poderia ser uma fonte satisfatória de conhecimento sobre o universo.

45
Heráclito de Éfeso Empédocles (490–430 a.C.)
(535–475 a.C.)

Efígie de Empédocles

Para Empédocles, tanto Parmênides quanto He-


ráclito possuíam seus méritos, e estavam certos em ao
Efígie de Heráclito de Éfeso
menos um dos seus argumentos. O filósofo dizia que a
culpa da enorme divergência entre seus colegas residia
Radicalmente oposta à ideia do imobilismo uni-
versal de Parmênides estava a filosofia de Heráclito. nas premissas de que partiam – a crença na existência
Para o filósofo, tudo na natureza se encontra em cons- de uma única substância fundamental, que comporia
tante movimento, e nada poderia ser para sempre. Se tudo o que conhecemos no universo.
nos banhamos em um rio, dizia, não podemos fazê-lo
duas vezes; “quando me banho pela segunda vez“, as Empédocles dizia que, se fosse verdade que tudo
águas do rio já não são as mesmas, assim como nós aquilo que conhecemos é composto por apenas uma
também não somos”. substância elementar, jamais poderíamos conciliar aqui-
Tudo está em permanente mudança ou transfor- lo que nos diz a razão (que algo não pode simplesmen-
mação, afirmava Heráclito. Sua frase mais emblemática te se transformar em outra coisa) com aquilo que nos
é “tudo flui”. Em sua visão, o mundo era um fluxo cons- dizem nossos sentidos (todos os processos observados
tante, onde nada permanece idêntico, e tudo é mutá- na natureza). O filósofo pensava que, de fato, uma subs-
vel. A este incessante processo de mudança, Heráclito tância pura jamais poderia simplesmente se transformar
deu o nome de devir. E é neste devir, o qual Heráclito em outra substância pura. A água não se transforma em
entendia como uma eterna batalha entre os contrários, pedra, por exemplo. Isso era o que lhe dizia sua razão.
que o mundo encontra sua unidade harmoniosa. A essa Por meio de seus sentidos, porém, Empédocles podia
unidade Heráclito dá o nome de logos. perceber a natureza em um processo de constante mu-
dança.
Assim, o filósofo formula que a natureza deveria
ter mais substâncias primordiais (e não apenas uma)
que, combinadas, dariam origem a tudo que conhece-
mos.
Quais seriam, então, estas substâncias que, com-
binadas de diferentes maneiras, dariam origem a tudo
aquilo que conhecemos – e que, de quebra, colocariam
fim no impasse de Parmênides e Heráclito?

46
Para Empédocles, esses elementos seriam qua- Quando se trata da consciência humana, porém,
tro: o fogo, a água, o ar e a terra. Combinados em dife- qualquer explicação não pode ser de origem material. O
rentes proporções, eles originariam tudo o que conhe- filósofo diz, então, que quando se trata do assunto, há
cemos, dos seres vivos aos objetos. As transformações um tipo especial de átomo – o átomo da alma. Assim,
observadas na natureza seriam decorrentes da mistura quando um ser humano morre, seus átomos se dividem
ou da separação destes elementos. Ocorridos os pro- novamente e ficam livres para dar origem a um novo
cessos, os elementos permaneceriam intocados. Assim, homem. Podemos afirmar, portanto, que para Demócrito
nada se transforma de fato – os elementos permane- o ser humano não possuiria uma alma imortal.
cem os mesmos, inalterados, apenas combinados de
maneira diferente.
Mesmo considerando os quatro elementos fun-
damentais que permeiam todas as transformações, para
Empédocles uma dúvida permanecia: por qual motivo
Sócrates
estes processos aconteciam? Se reunirmos o que Platão escreveu sobre os so-
Para o filósofo, as transformações eram motivadas
fistas e sobre Sócrates, além da exposição de suas pró-
por duas forças que atuavam nos processos da natureza:
prias ideias, poderemos apresentar como características
o Amor e o Ódio. Estas duas forças seriam a verdadeira
gerais do período socrático:
causa do movimento de reunião e separação das subs-
tâncias. §§ A Filosofia se volta para as questões humanas no
A diferenciação entre forças e elementos proposta plano da ação, dos comportamentos, das ideias,
por Empédocles, vale notar, é utilizada pela ciência até os
das crenças, dos valores e, portanto, se preocupa
dias atuais. A ciência moderna acredita que todos os fe-
com as questões morais e políticas.
nômenos naturais podem ser explicados como um equi-
§§ O ponto de partida da Filosofia é a confiança no
líbrio entre forças naturais e substâncias fundamentais.
pensamento ou no homem como um ser racio-
nal, capaz de conhecer a si mesmo e, portanto,
Demócrito (460–370 a.C.) capaz de reflexão. Reflexão é a volta que o pen-
samento faz sobre si mesmo para conhecer-se;
é a consciência conhecendo a si mesma como
capacidade de conhecer as coisas, alcançando o
conceito ou a essência delas.
§§ Como se trata de conhecer a capacidade de co-
nhecimento do homem, a preocupação se volta
para o estabelecimento de procedimentos que
nos garantam que encontramos a verdade, isto
é, o pensamento deve oferecer a si mesmo cami-
nhos próprios, critérios próprios e meios próprios
Efígie de Demócrito para saber o que é o verdadeiro e como alcançá-
-lo em tudo o que investiguemos.
Para Demócrito, todos os processos naturais se
davam de acordo com as leis da natureza. Essas leis, di- §§ A Filosofia está voltada para a definição das vir-
zia, eram inquebrantáveis. Não havia nenhuma intenção tudes morais e das virtudes políticas, tendo como
por trás dos átomos – apenas a ação mecânica regida por objeto central de suas investigações a moral e a
leis naturais. Não há, na visão deste pensador, um espí- política, isto é, as ideias e práticas que norteiam
rito ou força sobrenatural que rege os processos ou seu os comportamentos dos seres humanos tanto
comportamento. Por isso, diz-se deste filósofo que é um como indivíduos quanto como cidadãos.
filósofo materialista, isto é, que atribui todos os processos
a causas materiais.

47
Cabe à Filosofia, portanto, encontrar a definição, produzir argumentos de persuasão, enquanto Sócrates
o conceito ou a essência dessas virtudes, para além da e Platão consideram as opiniões e as percepções senso-
variedade das opiniões, para além da multiplicidade das riais, ou imagens das coisas, como fonte de erro, menti-
opiniões contrárias e diferentes. As perguntas filosóficas ra e falsidade, formas imperfeitas do conhecimento que
se referem, assim, a valores como a justiça, a coragem, nunca alcançam a verdade plena da realidade.
a amizade, a piedade, o amor, a beleza, a temperança, a
prudência etc., que constituem os ideais do sábio e do

Platão
verdadeiro cidadão.
É feita, pela primeira vez, uma separação radical
entre, de um lado, a opinião e as imagens das coisas,
trazidas pelos nossos órgãos dos sentidos, nossos hábi-
tos, pelas tradições, pelos interesses, e, de outro lado, as O mito da caverna
ideias. As ideias se referem à essência íntima, invisível,
verdadeira das coisas, e só podem ser alcançadas pelo “Este famoso mito, extraído do livro VII de "A
pensamento puro, que afasta os dados sensoriais, os República", exprime o dualismo fundamental no pen-
hábitos recebidos, os preconceitos, as opiniões. samento de Platão. As sombras projetadas na parede
A reflexão e o trabalho do pensamento são to- da caverna representam nossa experiência sensível, o
mados como uma purificação intelectual, que permite mundo das aparências e do vir-a-ser. Os objetos ver-
ao espírito humano conhecer a verdade invisível, imutá- dadeiros, situados no exterior da caverna e iluminados
vel, universal e necessária. pelo sol, simbolizam o mundo das verdades eternas, isto
A opinião, as percepções e imagens sensoriais são é, o mundo das ideias governadas pelo sol que é a ideia
do bem. O prisioneiro, libertado da caverna e trazido
consideradas falsas, mentirosas, mutáveis, inconsisten-
para a luz do sol, representa a dialética ascendente.
tes, contraditórias, devendo ser abandonadas para que o
Note-se que ao retornar à caverna, ofuscado pelo sol,
pensamento siga seu caminho próprio no conhecimento
seus antigos camaradas o consideram cego. É o filósofo
verdadeiro.
confundido no mundo da vida cotidiana ou o Albatroz
A diferença entre os sofistas, de um lado, e a
de Baudelaire, caído no convés do navio: “Suas asas de
filosofia socrática e platônica, de outro, é dada pelo fato
gigante impedem-no de andar”.
de que os sofistas aceitam a validade das opiniões e
VERGEZ, A.;HUISMAN, D. História dos Filósofos ilustrada
das percepções sensoriais e trabalham com elas para pe­los textos. 6. ed. Rio de Janeiro: Freiitas Bastos, 1984.

48
Como se pode perceber com o mito da caverna, Para Platão, as ideias não são formas abstratas
Platão afirma que os moradores da caverna são como do pensamento; são realidades objetivas, modelos eter-
nós, na vida cotidiana. Tomando as sombras como se nos dos objetos e seres que podemos enxergar – e que
fossem os próprios objetos, são incapazes de distinguir não passam de meras cópias imperfeitas destes mode-
entre mera projeção de luz e aquilo que é real. Quando los. As ideias são como as formas de um biscoito, e o
um dos moradores se convence da necessidade da bus- que vemos neste mundo são os biscoitos já assados.
ca pelo conhecimento e inicia o processo de libertação, Os biscoitos prontos podem estar quebrados ou quei-
chegando finalmente ao exterior da caverna, é ofuscado mados, e, posteriormente, podem ser comidos, deixando
pelo sol (o conhecimento). Com o tempo, ele se acostu- de existir – mas a forma está perfeita e intacta, eterna
ma à claridade e pode compreender a verdade que esta e imutável.
proporciona. Quando retorna, porém, é tido como louco
e passa a ser odiado – afinal de contas, ele dizia aos
demais que tudo aquilo que conheciam (seus valores,
crenças e verdades) não passava de mera reprodução
O método
de algo muito superior.
Como se pode inferir do mito da caverna, no
entendimento de Platão, todo homem deve buscar o
conhecimento (no mito, sair do mundo das ideias – a
A teoria das ideias caverna – e alcançar o mundo ideal, exterior). Essa
busca pelo desconhecido seria, na visão do filósofo, um
Platão parte do entendimento de que o homem, processo, um caminho que deve ser percorrido com o
anteriormente à vida na Terra, viveu em um mundo es- auxílio de descobertas até o momento em que se esti-
piritual (o mundo ideal) e que seu corpo material é algo vesse preparado para compreender a verdade, aproxi-
como uma prisão deste espírito. O ato de refletir, de mando-se do mundo ideal. Este processo, afirma Platão,
pensar, é uma reprodução daquilo que experienciamos seria dado pelo diálogo – sendo, portanto, um método
antes da vida, uma herança deste mundo espiritual. dialético.

A política
A visão que Platão tem da política de sua época
tem estreita relação com sua posição filosófica.
Por entender que o homem deve buscar a verda-
de ao longo da vida, Platão também afirma que o ho-
mem deve buscar a educação política e da alma, e que
Estátua de Platão, em Atenas. o filósofo, por estar próximo da verdade, deve participar
ativamente da vida política da pólis.
Quando olhamos para um objeto ou um ser
Em sua obra, Platão nota que há diferentes for-
vivo, por exemplo, na verdade estamos reconhecendo a
mas de regimes políticos, categorizando-as. São elas a
ideia do objeto ou ser em questão. Esta ideia já estava
aristocracia, ou o governo dos melhores; a monarquia,
gravada em nossa mente. Assim, Platão afirma que há
que Platão entende como o governo de um só; e a de-
ideias inatas. Já nascemos sabendo que um cachorro
é um cachorro, pois tivemos contato com o “cachorro mocracia, ou governo cujo poder emana do povo. Pla-
ideal”, perfeito e não degenerado no mundo espiritual. tão afirma que, para cada uma destas formas de go-
Quando vemos um cachorro neste plano, colocamos o verno, há uma forma degenerada. Deve-se lembrar que,
animal nesta categoria, pois o reconhecemos como tal para Platão, tudo aquilo presente no mundo sensível já
– ainda que o cachorro visto aqui seja muito inferior ao é degenerado por si só. Assim sendo, a degeneração dos
cachorro ideal, pois é mera representação. sistemas políticos seria igualmente inevitável.

49
A aristocracia tende à oligarquia, um governo todas as suas obras, substituindo a linguagem
em que a elite governa de acordo com os próprios inte- imaginosa e figurada de Platão, em estilo primo-
resses. A monarquia se corromperia até se transformar roso e conciso, e criando uma terminologia filo-
em uma tirania. A democracia, por sua vez, tenderia à sófica de precisão admirável. Pode considerar-se
como o autor da metodologia e tecnologia cien-
anarquia. Perceba que em todos os casos, o que define
tíficas. Geralmente, no estudo de uma questão,
a forma degenerada é o fato de que aqueles que go-
Aristóteles procede por partes:
vernam o fazem em causa própria – e não em prol da a) começa a definir-lhe o objeto;
coletividade, como Platão julga ideal. b) passa a enumerar-lhes as soluções históricas;
Em sua obra, Platão divide o povo em classes c) propõe depois as dúvidas;
sociais. Para o filósofo, há a classe econômica, forma- d) indica, em seguida, a própria solução; e refu-
da por agricultores, comerciantes e outros profissionais ta, por último, as sentenças contrárias.
liberais; a classe militar, formada pelos guerreiros; e a
3. Unidade do conjunto – Sua vasta obra filo-
classe legislativa. Cada classe tem interesses e atribui-
sófica constitui um verdadeiro sistema, uma ver-
ções muito próprias, segundo ele. É quando os interes-
dadeira síntese. Todas as partes se compõem, se
ses de uma classe se sobrepõem aos de outra que a
correspondem, se confirmam.
injustiça se origina, afirma Platão. O filósofo defende
“Mestre dos que sabem”, assim Dante se refere
ainda que a classe legislativa deve, necessariamente, ser
a ele na Divina comédia. Com Platão, Aristóte-
composta por homens que tenham alcançado a ciência
les criou o núcleo inspirador de toda a filosofia
política por meio do saber filosófico (sempre a partir
posterior. Mais realista do que o seu professor,
da ideia de processo do conhecimento desenvolvida no
Aristóteles percorre todos os caminhos do saber:
mito da caverna). Somente assim a política seria enten-
da biologia à metafísica, da psicologia à retórica,
dida como uma atividade que visa o bem coletivo, e não
da lógica à política, da ética à poesia. Impossível
a busca por poder.
resumir a fecundidade do seu pensamento em
Em seu pensamento político, Platão defende
todas as áreas. A obra aristotélica só se integra
que a escravidão é um mal. Coloca-se ainda a favor da
na cultura filosófica europeia da Idade Média,
igualdade política entre homens e mulheres – um pen-
através dos árabes, no século XIII, quando é co-
samento bastante avançado para a época.
nhecida a versão (orientalizada) de Averróis, o
seu mais importante comentarista. Depois, São

Aristóteles Tomás de Aquino vai incorporar muitos passos


das suas teses no pensamento cristão, a teoria
das causas. O conhecimento é o conhecimento
Partindo como Platão, do mesmo problema acer- das causas:
ca do valor objetivo dos conceitos, mas abandonando a 1. Causa material (aquilo de que uma coisa é
solução do mestre, Aristóteles constrói um sistema in- feita);
teiramente original. Os caracteres desta grande síntese 2. Causa formal (aquilo que faz com que uma
são: coisa seja o que é);
1. Observação fiel da natureza – Platão, ide- 3. Causa eficiente (a que transforma a matéria);
alista, rejeitara a experiência como fonte de
4. Causa final (o objetivo com que a coisa é fei-
conhecimento certo. Aristóteles, mais positivo,
ta).
toma sempre o fato como ponto de partida de
Todas pressupõem uma causa primeira, uma
suas teorias, buscando na realidade um apoio
sólido às suas mais elevadas especulações me- causa sem causa, o motor imóvel do cosmos, a divinda-
tafísicas. de que é a realidade suprema, a substância plena que
2. Rigor no método – Depois de estudar as leis determina o movimento e a unidade do universo. Mas
do pensamento, o processo dedutivo e indutivo, para Aristóteles a divindade não tem a faculdade da
Aristóteles os aplica, com rara habilidade, em criação do mundo, este existe desde sempre. É a filoso-

50
fia cristã que vai dar à divindade o poder da Criação. Aristóteles opõe-se, frequentemente, a Platão e a sua teoria
das ideias. Para o estagirita, não é possível pensar uma coisa sem lhe atribuir uma substância, uma quantidade,
uma qualidade, uma atividade, uma passividade, uma posição no tempo e no espaço, etc. Há duas espécies de ser:
os verdadeiros, que subsistem por si, e os acidentes. Quando se morre, a matéria fica; a forma, o que caracteriza
as qualidades particulares das coisas, desaparece. Os objetos sensíveis são constituídos pelo princípio da perfeição
(o ato), são enquanto são e pelo princípio da imperfeição (a potência), através do qual lhes permite a aquisição de
novas perfeições. O ato explica a unidade do ser, a potência, a multiplicidade e a mudança.

A ética
No campo da ética, segundo Aristóteles, todos nós queremos ser felizes no sentido mais pleno dessa pa-
lavra. Para obter a felicidade, devemos desenvolver e exercer nossas capacidades no interior do convívio social.
Aristóteles acredita que a autoindulgência e a autoconfiança exageradas criam conflitos com os outros e prejudi-
cam nosso caráter. Contudo, inibir esses sentimentos também seria prejudicial. Vem daí sua célebre doutrina do
justo meio, pela qual a virtude é um ponto intermediário entre dois extremos, os quais, por sua vez, constituem
vícios ou defeitos de caráter. Por exemplo, a generosidade é uma virtude que se situa entre o esbanjamento e a
mesquinharia. A coragem fica entre a imprudência e a covardia; o amor-próprio, entre a vaidade e a falta de auto-
estima; o desprezo, por si mesmo. Nesse sentido, a ética aristotélica é uma ética do comedimento, da moderação,
do afastamento de todo e qualquer excesso. Em outras palavras:

“[A ética] é uma disposição interior constante que pertence ao gêne-


ro das ações voluntárias feitas por escolha deliberada sobre os meios possí-
veis para alcançar um fim que está ao alcance ou no poder do agente e que
é um bem para ele. Sua causa material é o ethos do agente, sua causa for-
mal, a natureza racional do agente, sua causa final, o bem do agente, sua
causa eficiente, a educação do desejo do agente. É a disposição voluntária e
refletida para a ação excelente, tal como praticada pelo homem prudente.”
CHAUÍ, M. Introdução à história da filosofia, vol. I - Dos pré-socráticos a Aristóteles.
São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 455.

A política
Aristóteles estudou centenas de constituições políticas de seu tempo. Concluiu que havia tantas formas de go-
verno quanto tipos de cidadão. Aquele cidadão da democracia, por exemplo, não é o mesmo da oligarquia. Após longa
reflexão, definiu cidadania como a possibilidade de direito de voto nas assembleias e de participação no exercício do
poder público. A extensão da cidadania estaria circunscrita a cada forma de governo, sendo alguns mais abertos à
participação do que outros.
Quanto às formas de governo, haveria dois critérios distintivos: número e justiça. O governo pode ser exer-
cido por uma, poucas ou muitas pessoas; pode governar para si ou para o bem comum. A tabela abaixo resume a
sistematização das formas de governo feita por Aristóteles.
Formas de governo para Aristóteles
BONS REGIMES POLÍTICOS REGIMES POLÍTICOS DEGENERADOS
Governo de um, que só considera o bem do go-
Monarquia Governo de um só, que considera o bem comum Tirania
vernante
Aristocracia Governo de alguns, que considera o bem comum Oligarquia Governo de alguns, que só considera o bem dos ricos
Governo de muitos, que só considera o bem dos
Politeia Governo de muitos, que considera o bem comum Democracia
pobres
(Disponível em: <http://pt.slideshare.net/edivaldopinheironegrao/o-que-poltica-em-aristteles>, Acessado em: 25/01/2017)

51
O início da filosofia os hebreus, o teísmo não tem uma justificação, uma de-
monstração racional, como, em Aristóteles, de sorte que,
em definitivo, o pensamento cristão tomará, na grande
patrística tradição especulativa grega, esta justificação e a filosofia
em geral. Isso realiza-se á graças, especialmente, à Esco-
lástica e, sobretudo, a Tomás de Aquino. No que se refere

As características à solução do problema do mal, solução que constitui a


integração filosófica proporcionada pelo cristianismo ao
pensamento antigo que sentiu profundamente, drama-
filosóficas do cristianismo ticamente, esse problema sem o poder solucionar, frisa-
mos que esta representa a grande originalidade teórica
e prática, filosófica e moral, do Cristianismo. Soluciona
este o problema do mal precisamente mediante os dog-
mas fundamentais do pecado original e da redenção da
cruz. Finalmente, a justificação da Revelação, em geral,
e a determinação, dilucidação, sistematização racional
do conteúdo da mesma têm uma importância indireta
com respeito à filosofia, porquanto implicam sempre
numa intervenção da razão. Foi esta, especialmente, a
obra da Patrística e, sobretudo, de Agostinho. Essa parte,
dedicada à história do pensamento cristão, será, portan-
to, dividida do seguinte modo: o Cristianismo, isto é, o
pensamento do Novo Testamento, enquanto soluciona o
problema filosófico do mal; a Patrística, a saber, o pen-
samento cristão, desde o século II ao VIII, a que é devida,
particularmente, a construção da teologia, da dogmática
católica; e a Escolástica, a saber, o pensamento cristão,
Não há propriamente uma história da filosofia desde o século IX ao XV, criadora da filosofia cristã, ver-
cristã, assim como há uma história da filosofia grega dadeira e própria.
ou da filosofia moderna, pois, no pensamento cristão,
o máximo valor, o interesse central não é a filosofia,
e sim a religião. Entretanto, se o Cristianismo não se Características gerais do
apresenta, de fato, como uma filosofia, uma doutrina, pensamento cristão
mas como uma religião, uma sabedoria, pressupõe-se
uma específica concepção do mundo e da vida, uma "Foi conquistada a cidade que conquistou o
precisa solução do problema filosófico. É o teísmo e o universo". Assim definiu São Jerônimo o momento que
Cristianismo. O Cristianismo fornece ainda uma impres- marcaria a virada de uma época. Era a invasão de Roma
cindível integração à filosofia, no tocante à solução do pelos germanos e a consequentemente queda do Impé-
problema do mal, mediante os dogmas do pecado origi- rio Romano. A avalanche dos bárbaros arrasou também
nal e da redenção pela cruz. E, enfim, além de uma justi- grande parte das conquistas culturais do mundo antigo.
ficação histórica e doutrinal da revelação judaico-cristã A Idade Média inicia-se com a desorganização da vida
em geral, o Cristianismo implica uma determinação, política, econômica e social do Ocidente, agora transfor-
elucidação, sistematização racional do próprio conteú- mado num mosaico de reinos bárbaros. Depois, vieram
do sobrenatural da Revelação, mediante uma disciplina as guerras, a fome e as grandes epidemias. O cristia-
específica, que será a teologia dogmática. nismo propaga-se por diversos povos. A diminuição da
No que diz respeito ao teísmo, salientamos que o atividade cultural transforma o homem comum num ser
Cristianismo o deve, historicamente, a Israel. Mas, entre dominado por crenças e superstições.

52
O período medieval não foi, porém, a "Idade das
Trevas", como se acreditava. A filosofia clássica sobrevi-
Conflitos e conciliação
veu, confinada nos mosteiros religiosos. O aristotelismo entre a fé e o saber
dissemina-se pelo Oriente bizantino, fazendo florescer
os estudos filosóficos e as realizações científicas. No No plano cultural, a Igreja exerceu amplo do-
Ocidente, fundam-se as primeiras universidades, ocorre mínio, trançando um quadro intelectual em que a fé
a fusão de elementos culturais greco-romanos, cristãos e cristã era o pressuposto fundamental de toda sabedoria
germânicos e as obras de Aristóteles são traduzidas para humana. Mas em que consistia essa fé? Consistia na
o latim. Sob a influência da Igreja, as especulações se crença irrestrita ou na adesão incondicional às verdades
concentram em questões filosófico-teológicas, tentando reveladas por Deus aos homens, verdades expressas nas
conciliar a fé e a razão. E é nesse esforço que Santo Agos- Sagradas Escrituras (Bíblia) e devidamente interpreta-
das, segundo a autoridade da Igreja.
tinho e São Tomás de Aquino trazem à luz reflexões fun-
damentais para a história do pensamento cristão. "A Bíblia era tão preciosa
que recebia as mais ricas encader-

A filosofia medieval nações."

De acordo com a doutrina católica, a fé repre-


e o Cristianismo sentava a fonte mais elevada das verdades reveladas
especialmente aquelas verdades essenciais ao homem
Ao longo do século V d.C., o Império Romano e que dizem respeito à sua salvação. Nesse sentido,
do Ocidente sofreu ataques constantes dos povos bár- afirmava Santo Ambrósio (340-397, aproximadamen-
baros. Do confronto desses povos invasores com a ci- te): "Toda verdade, dita por quem quer que seja, é do
vilização romana decadente, desenvolveu-se uma nova Espírito Santo".
estruturação europeia de vida social, política e econô- Assim, toda investigação filosófica ou científica
mica, que corresponde ao período medieval. Em meio não poderia, de modo algum, contrariar as verdades es-
ao esfacelamento do Império Romano, decorrente, em tabelecidas pela fé católica. Segundo essa orientação,
grande parte, das invasões germânicas, a Igreja Católica os filósofos não precisavam se dedicar à busca da ver-
conseguiu manter-se como instituição social mais orga- dade, pois ela já havia sido revelada por Deus aos ho-
nizada. Ela consolidou sua estrutura religiosa e difundiu mens. Restava-lhes, apenas, demonstrar racionalmente
o Cristianismo entre os povos bárbaros, preservando as verdades da fé.
Não foram poucos, porém, aqueles que dispen-
muitos elementos da cultura pagã greco-romana.
saram até mesmo essa comprovação racional da fé.
Apoiada em sua crescente influência religiosa,
Eram os religiosos que desprezavam a filosofia grega,
a Igreja passou a exercer importante papel político na
sobretudo porque viam nessa forma pagã de pensa-
sociedade medieval. Desempenhou, por exemplo, a fun-
mento uma porta aberta para o pecado, a dúvida, o des-
ção de órgão supranacional, conciliador das elites do-
caminho e a heresia (doutrina contrária ao estabelecido
minantes, contornando os problemas da fragmentação
pela Igreja, em termos de fé).
política e das rivalidades internas da nobreza feudal.
Por outro lado, surgiram pensadores cristãos
Conquistou, também, vasta riqueza material: tornou-se
dona de, aproximadamente, um terço das áreas cultivá- que defendiam o conhecimento da filosofia grega, na
medida que sentiam a possibilidade de utilizá-la como
veis da Europa ocidental, numa época em que a terra
instrumento a serviço do Cristianismo. Conciliado com a
era a principal base de riqueza. Assim, pôde estender
fé cristã, o estudo da filosofia grega permitiria à Igreja
seu manto de poder "universalista" sobre diferentes
enfrentar os descrentes e demolir os hereges com as
regiões europeias.
armas racionais da argumentação lógica. O objetivo
era convencer os descrentes, tanto quanto possível,
pela razão, para, depois, fazê-los aceitar a imensidão
dos mistérios divinos, somente acessíveis pela fé. Entre

53
os grandes nomes da filosofia católica medieval, des- às instituições católicas. A cultura greco-romana, guar-
tacam-se Agostinho e Tomás de Aquino, responsáveis dada nos mosteiros até então, voltou a ser divulgada,
pelo resgate cristão das filosofias de Platão e de Aristó- passando a ter uma influência mais marcante nas refle-
teles, respectivamente. xões da época. Era a renascença carolíngia.
Tendo a educação romana como modelo, come-
"Tomai cuidado para que nin- çaram a ser ensinadas as seguintes matérias: gramática,
guém vos escravize por vãs e enga- retórica e dialética (o trivium); e geometria, aritmética,
nadoras especulações da 'filosofia',
astronomia e música (o quadrivium). Todas elas esta-
segundo a tradição dos homens,
vam, no entanto, submetidas à teologia.
segundo os elementos do mundo,
A fundação dessas escolas e das primeiras uni-
e não segundo Cristo."
versidades do século XI fez surgir uma produção filosó-
(São Paulo)
fico-teológica denominada escolástica (de escola).
Patrística A partir do século XIII, o aristotelismo penetrou de
forma profunda no pensamento escolástico, marcando-o
"A fé é a busca de argumen- definitivamente. Isso se deve-se à descoberta de muitas
tos racionais a partir de uma matriz obras de Aristóteles, desconhecidas até então, e à tradu-
platônica." ção para o latim de algumas delas, diretamente do grego.
Desde que surgiu o cristianismo, tornou-se neces- A busca da harmonização entre a fé cristã e a
sário explicar seus ensinamentos às autoridades romanas razão manteve-se, no entanto, como problema básico
e ao povo em geral. Mesmo com o estabelecimento e a de especulação filosófica. Nesse sentido, o período es-
consolidação da doutrina cristã, a Igreja Católica sabia que colástico pode ser dividido em três fases:
esses preceitos não podiam simplesmente ser impostos §§ Primeira fase (do século IX ao fim do século
XII): caracterizada pela confiança na perfeita
pela força. Eles tinham de ser apresentados de maneira
harmonia entre fé e razão.
convincente, mediante um trabalho de conquista espiritual.
§§ Segunda fase (do século XIII ao princípio do
Foi assim que os primeiros padres da Igreja se
século XIV): caracterizada pela elaboração de
empenharam na elaboração de inúmeros textos sobre a
grandes sistemas filosóficos, merecendo desta-
fé e a revelação cristãs. O conjunto desses textos ficou que nas obras de Tomás de Aquino. Nesta fase,
conhecido como patrística, por terem sido escritos, prin- considera-se que a harmonização entre fé e ra-
cipalmente, pelos grandes padres da Igreja. zão pôde ser parcialmente obtida.
Uma das principais correntes da filosofia patrísti- §§ Terceira fase (do século XIV até o século XVI):
ca, inspirada na filosofia greco-romana, tentou munir a decadência da escolástica, caracterizada pela
fé de argumentos racionais. Esse projeto de conciliação afirmação das diferenças fundamentais entre fé
entre o Cristianismo e o pensamento pagão teve como e razão.
principal expoente o padre Agostinho.
A questão dos universais: O que
"Compreender para crer, crer
há entre as palavras e as coisas
para compreender."
(Santo Agostinho)
O método escolástico de investigação, segundo
o historiador francês Jacques Le Goff, privilegiava o es-
Escolástica tudo da linguagem (o trivium) para, depois, passar para
o exame das coisas (o quadrivium). Desse modo, surgiu
"Os caminhos de inspiração a seguinte pergunta: qual a relação entre as palavras
aristotélica levam até Deus." e as coisas? Rosa, por exemplo, é o nome de uma flor.
Quando a flor morre, a palavra rosa continua existindo.
No século VIII, Carlos Magno resolveu organizar Nesse caso, a palavra fala de uma coisa inexistente, de
o ensino por todo o seu império e fundar escolas ligadas uma ideia geral. Mas como isso acontece? O grande ins-

54
pirador da questão foi o neoplatônico Porfírio, em sua construtores da teologia católica, guias, mestres da dou-
obra Isagoge: "Não tentarei enunciar se os gêneros e as trina cristã. Portanto, se a Patrística interessa sumamente
espécies existem por si mesmos ou na pura inteligência, à história do dogma, interessa assaz menos à história,
nem, no caso de subsistirem, se são corpóreos ou incor- em que terá importância fundamental a Escolástica.
póreos, nem se existem separados dos objetos sensíveis A Patrística é contemporânea do último perío-
ou nestes objetos, formando parte dos mesmos". do do pensamento grego, o período religioso, com o
Esse problema filosófico gerou muitas disputas. Era qual tem fecundo contato. Entretanto, diferenciando
a grande discussão sobre a existência ou não das ideias profundamente, sobretudo como o teísmo se diferencia
gerais, isto é, os chamados "universais de Aristóteles". do panteísmo. E é também contemporânea do Império
Romano, com o qual também polemiza, e que termi-
nará por se cristianizar depois de Constantino. Dada
Características gerais a culminante grandeza de Agostinho, a Patrística será
dividida em três períodos: antes de Agostinho, período
Com o nome de Patrística, entende-se o período em que, filosoficamente, interessam, especialmente, os
do pensamento cristão que se seguiu à época neotesta- chamados apologistas e os padres alexandrinos; Agos-
mentária, e chega até o começo da Escolástica, isto é, os tinho, que merece um desenvolvimento à parte, visto
séculos II-VIII da era vulgar. Este período da cultura cristã ser o maior dos padres; e depois de Agostinho, vem o
é designado com o nome de Patrística, porquanto repre- período que, logo após a sistematização, representa a
senta o pensamento dos padres da Igreja, que são os decadência da Patrística.

Santo agostinho e São Tomás de Aquino


Filosofia medieval
Na Filosofia Medieval discute-se a relação entre a fé cristã e a filosofia grega, a partir da concepção da
patrística e da escolástica, com ênfase nas propostas de Agostinho de Hipona e de Tomás de Aquino. Assim, é
abordado o papel da filosofia grega como instrumento da teologia (fé cristã), apresentando sempre a ideia central
da superioridade da fé sobre a razão.

Santo Agostinho

Patrística é a filosofia dos primeiros padres da Igreja, da qual, Santo Agostinho é um dos principais represen-
tantes. Santo Agostinho é influenciado pela corrente dos chamados “neoplatônicos”, que era uma escola filosófica
que utilizava a doutrina platônica na defesa da religião como forma de revelação da verdade.

55
Ele foi influenciado por Platão, mas não concor- Nenhum conhecimento verdadeiro pode ser in-
dou em todos os pontos com sua filosofia. Agostinho troduzido na mente das pessoas vindo de fora, por meio
propõe a conciliação entre fé e razão. Assim, o filósofo do ensino. O saber se encontra na alma, porque ela se
considera a filosofia grega um instrumento útil para a fé origina da substância divina. Com isso, Agostinho de-
cristã, pois a primeira ajuda a compreender melhor as monstra que a verdade não pode ser ensinada pelos
verdades da fé. homens, mas somente pelo mestre interior (o mestre
Para ter acesso às verdades eternas, é necessário interior é Deus, que habita o interior do homem).
que o indivíduo tenha fé. As verdades eternas encon- Deus cria as coisas a partir de modelos imutáveis
tram-se no interior do homem, em sua alma. Deus está e eternos, que são as ideias divinas. Essas ideias ou ra-
na alma de cada um de nós, e o conhecimento está na zões não existem em um mundo à parte, como afirmava
mente de Deus, que habita o interior do homem. “Creio Platão, mas na própria mente ou sabedoria divina, con-
em tudo o que entendo, mas nem tudo que creio tam- forme o testemunho da Bíblia.
bém entendo”, ou seja, existem alguns mistérios da fé Agostinho entende a percepção do inteligível na
que não são acessíveis aos homens, mas eles devem alma como irradiação divina no presente. Assim como
acreditar, pois são verdades de Deus, e, assim, a fé ilu- os objetos exteriores só podem ser vistos quando ilu-
mina os caminhos da razão. Para o filósofo, a fé revela minados pela luz do sol, também as verdades da sabe-
verdades ao homem de forma direta e intuitiva, vem de- doria precisam ser iluminadas pela luz divina, para se
pois a razão esclarecendo aquilo que a fé já antecipou. tornarem conhecidas pelo intelecto.
Para Agostinho, as verdades eternas e imutáveis Deus não substitui o intelecto quando o homem
têm sua sede em Deus. Assim sendo, as mesmas só po- pensa o verdadeiro, a iluminação teria apenas a função
dem ser alcançadas pela iluminação divina: Deus, que de tornar o intelecto capaz de pensar corretamente em
é uma realidade exterior, habita o interior do homem, virtude de uma ordem natural estabelecida por Deus.
revelando o conhecimento verdadeiro. Assim, tem-se a influência e participação de uma cente-
lha do intelecto divino que se irradia na mente humana.

A teoria agostiniana

A teoria agostiniana estabelece que todo conhecimento verdadeiro é o resultado de um processo de ilumi-
nação divina, que possibilita ao homem contemplar as ideias, arquétipos eternos de toda realidade. Assim, pode
ser compreendida a principal diferença entre a teoria de Agostinho e a teoria de Platão.

56
A luz divina, segundo Agostinho, torna inteligí-
São Tomás de Aquino
vel a verdade eterna na mente falível. Agostinho rejeita
a teoria da reminiscência de Platão e cria a chamada
Teoria da Iluminação Divina. Assim, o conhecimento
não vem da recordação de uma passagem anterior pelo
mundo das ideias, mas sim da iluminação divina, no
momento presente, em que Deus ilumina o indivíduo
para ter acesso às verdades.
Deus se espelha na alma. E "alma" e "Deus"
são os pilares da "filosofia cristã" agostiniana. Não é
indagando o mundo, mas escavando a alma que se en-
contra Deus.
Tomás de Aquino, ao formular sua doutrina, foi
Para o filósofo, o homem que trilha a via do pe- influenciado pela teoria de Aristóteles. O filósofo é con-
cado só consegue retomar aos caminhos de Deus e da siderado um dos principais representantes da filosofia
salvação mediante a combinação de seu esforço pesso- escolástica: filosofia nas escolas medievais, surgimento
al de vontade e a concessão, imprescindível, da graça do debate da conciliação entre fé e razão.
divina. Sem a graça de Deus, o homem nada pode con- O conhecimento é resultado da conciliação entre
seguir. E nem todas as pessoas são dignas de receber fé e razão. Desse modo, o trabalho da razão humana
é compatível com a crença nos dogmas de fé: filosofia
essa graça, mas, somente, alguns eleitos, predestinados
e teologia são ciências distintas, porém, não excluden-
à salvação.
tes. Assim, fé e razão não se contradizem. A fé, portanto,
Segundo Agostinho, o mal seria a perversão da melhora a razão, assim como a teologia melhora a filo-
vontade desviada da substância suprema. Assim, para o sofia. Fé e razão são conciliáveis, estando em um mesmo
filósofo, “ama e faze o que quiseres” diz respeito a: se o patamar. Em alguns casos, a fé pode ultrapassar a razão,
homem ama verdadeiramente, isto é, como Deus ama, pois Tomás de Aquino trabalha para conciliar a filosofia
com gratuidade fazendo o bem aos outros, sua vontade de Aristóteles com a religião cristã, embora mantenha a
será guiada corretamente; por isso, ser e agir conforme supremacia da fé em relação à razão. O conhecimento
está na experiência, mas a razão recebe os dados da ex-
a própria vontade, iluminada pelo amor de Deus, é a
periência e registra-os.
garantia de que a liberdade de ação será justa, ou seja,
Assim, nota-se o caráter abstrativo do conhe-
ética.
cimento tomista, que consiste em abstrair do objeto a
Desse modo, para Agostinho, a liberdade huma-
espécie inteligível: abstrair o universal do particular, a
na é própria da vontade, e não da razão. E é nisso que espécie inteligível das imagens singulares. Nota-se a in-
reside a fonte do pecado. O indivíduo peca porque usa fluência da teoria da abstração aristotélica na doutrina
de sua vontade para satisfazer a sua própria vontade, de Tomás de Aquino: a razão tem como ponto de partida
mesmo sabendo que tal atitude é pecaminosa. a realidade sensível, pois cada ente (substância individu-
al) traz a sua forma inteligível, que é a forma da espécie.
Desse modo, o conhecimento começa pela
experiência sensível até a apreensão de formas
abstratas pelo intelecto.
O conhecimento humano parte sempre dos sen-
tidos, que revelam objetos concretos e singulares: mas,
através da abstração, é capaz de finalmente forjar con-
ceitos universais. Exemplo: deste gato concreto e singu-
lar que inicio conhecendo pelos sentidos, sou capaz de
abstrair e forjar o seu conceito universal: felino.

57
Intelecto agente é a faculdade que anima o §§ Finalidade do ser/Pela finalidade, pela or-
conhecimento sensível para captar a essência que está dem e governo do mundo: todas as coisas
no objeto (abstração). brutas, que não possuem inteligência própria,
Intelecto passivo recebe esse conhecimento e existem na natureza cumprindo uma função, um
o apreende pelos conceitos, fixa o conhecimento ativado objetivo, uma finalidade, semelhante à flecha di-
pela intelecção ativa que entende a essência, e o faz pelo rigida pelo arqueiro. Devemos admitir então que
raciocínio, pelo julgamento, pela elaboração do saber fi- existe algum ser inteligente que dirige todas as
losófico. coisas da natureza para que cumpram seu obje-
Tomás de Aquino formula as chamadas “provas”
tivo. Esse ser é Deus.
da existência de Deus, partindo dos dados sensíveis e
Segundo Aquino, Deus cria e regula a ordem do
procurando ultrapassá-los pelo esforço de abstração,
mundo. Essa ordem divina é chamada de providência,
culminando na metafísica.
e todas as coisas e seres estão sujeitos a ela. Deus, ao
estabelecer essa ordem, encaminha todas as coisas a si,
As cinco provas da existência de Deus o bem supremo.
Assim, em virtude da providência, o homem é
§§ Pelo movimento/Primeiro Motor Imóvel:
encaminhado para a beatitude, porém, escolhe seus
tudo aquilo que se move é movido por outro ser.
Por sua vez, este outro ser necessita também próprios caminhos. A faculdade de escolha é o livre ar-
que seja movido por outro ser, e assim, sucessi- bítrio, e os homens dele se utilizam para as decisões que
vamente. Se não houvesse um primeiro ser mo- tomam em suas vidas.
vente, cairíamos num processo indefinido. Assim,
é necessário chegar a um primeiro ser movente
que não seja movido por nenhum outro. Esse ser
é Deus. Nicolau Maquiavel
§§ Causa eficiente: todas as coisas existentes no
Maquiavel é um marco na história da filosofia política
mundo não possuem em si próprias as causas
eficientes de sua existência. Assim, é necessá- moderna, por desvincular o Estado dos imperativos da
rio admitir a existência de uma primeira causa religião (propõe assim um Estado laico) e também dos
eficiente, responsável pela sucessão dos efeitos. imperativos da metafísica. Assim, a filosofia de Ma-
Essa causa primeira é Deus. quiavel é considerada amoral no sentido de que não se
§§ Ser necessário, ser contingente: todo ser vincula à ideia de moral posta pela Igreja, visto que o
contingente, do mesmo modo que existe, pode príncipe não está vinculado à ideia de bem ou mal. Isso
deixar de existir (nós, humanos). É preciso admi- não significa que não possa haver uma moral própria da
tir um ser que sempre existiu e sempre irá existir, ação política. Maquiavel é um teórico da política, sendo
um ser absolutamente necessário, que não tenha sua obra mais importante O Príncipe, de 1513.
fora de si a causa de sua existência, mas ao con-
trário, seja a causa da necessidade de todos os
seres contingentes. O ser necessário é Deus, que
é onisciente, onipotente e onipresente.
§§ Graus de Perfeição: em relação à qualidade
de todas as coisas existentes, pode-se afirmar
a existência de graus diversos de perfeição. De-
vemos, então, admitir que existe um ser com o
máximo de bondade, de beleza, de poder, de ver-
dade, sendo, portanto, um ser máximo e pleno.
Esse ser é Deus.

58
O Príncipe, enquanto obra, tinha uma motivação
evidente para o florentino: unir a região que hoje co-
nhecemos como Itália e, por meio disso, garantir a paz.
Paz esta constantemente arruinada por pequenos prin-
cipados e repúblicas, que conflitavam incessantemente
em busca de autoafirmação. Maquiavel, funcionário pú-
blico por quase toda sua vida e ávido leitor da teoria
política greco-romana, viu-se na necessidade de redigir
um manual para com o qual Lourenzo de Médici pudes-
se executar a unificação política italiana.
Maquiavel não possuíra outros recursos para pen-
sar a política senão sua experiência empírica, além dos
livros de história de teoria política clássica e medieval:
Platão, Aristóteles, Ciro, Santo Agostinho e Tomás de
Aquino. A influência destes autores é patente em sua
obra e jamais deve ser ignorada. Embebido destas te-
orias, tinha em mente que a ciência política é a ciência
dos grandes, a ciência que busca compreender a arte
de governar. Maquiavel expõe claramente que suas
prescrições advinham do “... conhecimento das ações
das grandes personalidades, que conheci de longa ex-
periência das coisas modernas e da leitura contínua dos
antigos.” O príncipe deve ter ao mesmo tempo o amor e o
Assim, o filósofo se preocupa em saber como os temor de seus súditos, pois, para o filósofo, é importante
governantes governam de fato, quais os limites do uso ser amado e temido. Porém, se tiver que escolher en-
da força e da violência para conquistar e conservar o tre um dos dois, “é melhor ser temido do que amado”,
poder, como se ter um governo estável. Assim, para Ma- visto que o temor faz com que o príncipe tenha ações
quiavel, o que importa para o príncipe é manter-se no imprevisíveis, garantindo respeito. Já se for amado, seus
governo. súditos conhecerão seus pontos fracos e poderão retirá-
Um aspecto inovador na política de Maquiavel é -lo do poder. Para que o príncipe se mantenha no go-
que ele ressalta o aspecto agonístico (luta, conflito) da verno, ele deve saber se adaptar às situações, ou seja,
realidade. Para o filósofo, o conflito é inerente à ativida- à realidade concreta. Assim, ele não precisa ser bom
de humana. Assim, trata-se do reconhecimento de que sempre, mas os súditos devem devotar-lhe confiança. A
a política se faz com base em interesses divergentes, virtù do príncipe não deve ser a mesma do Cristianismo,
em contínuo movimento. Daí a necessidade de ordem, a qual prega a resignação, a humildade, o perdão aos
única condição capaz de trazer o bem comum. inimigos. Porém, o príncipe deve parecer ter tais virtu-
des, mas de modo algum, deve, de fato, empregá-las.
Desse modo, o que Maquiavel defende não é um go-
verno ideal, ou ainda governantes ideais, mas sim um
governo que saiba se adequar à realidade concreta,
um governo real, sem qualquer concepção idealizada
de política, como propunham a religião e a política, os
teóricos políticos clássicos. Assim, a política tem como
objetivo a manutenção do poder por meio do bom trato
das contingências.

59
O governante deve lutar com todas as armas para manter-se no poder. A qualidade exigida do príncipe que
deseja se manter no poder é sobretudo a sabedoria de agir conforme as circunstâncias. Sendo capaz de aparentar
possuir as qualidades valorizadas pelos governados. Assim, a ação política boa consistirá naquela que consiga
atingir, não importa como, os resultados almejados na busca do bem comum.

“De modo geral, os homens julgam mais com


os olhos do que com o tato: todos podem ver, mas
poucos são capazes de sentir. Todos veem nossa
aparência, poucos sentem o que realmente somos,
e estes poucos não ousarão opor-se à maioria que
tenha a majestade do Estado a defendê-la. Na con-
duta dos homens, especialmente dos príncipes, em
que não existe tribunal de apelação, espera-se o
êxito final.”

Virtú e Fortuna
Virtù significa virtude, na expressão grega de força, valor, qualidade de lutador e guerreiro viril.
Vale lembrar que não se refere ao príncipe bom e justo no sentido empregado pelos cristãos. Os homens de virtù
são aqueles que têm a capacidade de perceber o jogo de forças que lhe impõe a política e agir com energia para conquis-
tar e manter o poder. Assim, a virtude maquiavélica se mostrará contundente e revela a prudência do observador atento.
Para o pensamento antigo clássico, a fortuna é uma deusa mulher. Como se trata de uma deusa e mulher, para
atrair suas graças era necessário mostrar-se “vil”, um homem de verdadeira virilidade, inquestionável coragem.
Assim o príncipe deve sempre estar atento ao curso da história, aguardando a ocasião propícia e aproveitando
o acaso ou as circunstâncias.

Maquiavel procurará demonstrar a possibilidade da virtù para conquistar a fortuna. O príncipe de virtude é
aquele que aproveita a ocasião que a fortuna lhe põe ao alcance, mas que sabe esperar quando a situação lhe é
desfavorável, ou ainda converte a situação desfavorável ao seu favor para manter o seu poder.
Cuidado: a fortuna é chamada de sorte, mas é necessário que o príncipe saiba quando agir, não se deixando
levar pelo mero oportunismo. Assim, a virtù não deve existir sem a fortuna para aquele príncipe que visa manter-se
no poder. Por isso, o mais importante para o príncipe é que ele saiba se adaptar às condições impostas pela fortuna.

60
“Sendo a fortuna inconstante, e estando os
homens obstinados em seus modos, serão felizes
quando a fortuna e os modos estiverem de acor-
do; e, quando discordarem, serão infelizes. Não
obstante, a fortuna é mulher, e, para mantê-la
submissa, será preciso bater nela e contrariá-la”

Desse modo, o governante deve fazer o que for mais conveniente para que se mantenha no poder, a cada
momento em que seja importante para que ele o mantenha. O príncipe é um homem de virtù que deve voltar seu
ânimo para a direção que a fortuna o impelir, mesmo que a conquista e a conservação do poder impliquem ações
más. Assim, não se tem uma decisão moral, mas sim decisões que atendem a lógica do poder.

Thomas Hobbes (1588-1679)


“Nem artes; nem letras; nem sociedade; mas o
que é de pior: medo contínuo e perigo de morte vio-
lenta; e para o homem, resta uma vida solitária, pobre,
desagradável, brutal e curta”
(Hobbes)

Thomas Hobbes era um pensador jusnaturalista, ou seja, comungava com outros pensadores a hipóte-
se de que a sociabilidade é artificial, uma criação humana por meio de um contrato. Para ele, anteriormente à
constituição das comunidades políticas, existiria uma vida sem Estado e sem leis. Em tal Estado de Natureza, os
seres humanos seriam naturalmente iguais em suas faculdades corporais e mentais (mais nas mentais do que nas
corporais). A partir de seus predicados, herdados da Natureza, os indivíduos são capazes de emitir juízo sobre suas
realidades, além de se relacionarem apaixonadamente com quaisquer fins que lhes aprouverem. Daí emerge um
traço empirista em seu pensamento, ancorado no fato de que as concepções morais – sobre o que é o bem ou o
mal, certo ou errado – estão circunscritas à subjetividade. Portanto, valores e ações humanas não teriam um senti-
do comum, compartilhado por todos.
Nesse cenário, o homem é opaco aos olhos de seu semelhante – ele não sabe o que o outro deseja, e por
isso tem que fazer uma suposição de qual será a sua atitude mais prudente, mais razoável. Como o outro também
não sabe o que ele quer, também é forçado a supor o que fará. Dessa suposição recíproca, o mais razoável para
ambos é atacar o outro, o quanto antes, para vencê-lo. Significar dizer que, se não há um Estado controlando ou
reprimindo, a atitude mais racional a se adotar é fazer a guerra: instaura-se uma “guerra de todos contra todos”.
Assim, de modo geral, haveria três causas principais de discórdia na natureza dos homens: a competição,
a desconfiança e a glória. Nas palavras de Hobbes,

“A primeira leva os homens a atacar os outros


tendo em vista o lucro; a segunda, a segurança; a
terceira, a reputação. Os primeiros usam a violên-
cia para se tornarem senhores das pessoas, mulhe-
res, filhos e rebanhos de outros homens; os segun-
dos, para defendê-los; e o terceiro por ninharias,
como uma palavra, um sorriso, uma diferença de
opinião, e qualquer outro sinal de desprezo, quer
seja diretamente dirigido a suas pessoas, quer
indiretamente a seus parentes, seus amigos, sua
nação sua profissão ou seu nome.

61
Com isto se torna manifesto que, durante o
tempo em que os homens vivem sem um poder
comum capaz de os manter a todos em respeito,
eles se encontram naquela condição a que se cha-
ma de guerra; e uma guerra que é de todos os
homens contra todos os homens”
(Hobbes, O Leviatã)

Onde residiria então a vantagem do Estado de Natureza?


Somente nele o homem gozaria de seu direito natural (jus naturale), isto é: a liberdade que cada um possui
de usar seu próprio poder, da maneira que quiser, para a preservação de sua própria natureza, ou seja, de sua
vida; e, consequentemente, “de fazer tudo aquilo que seu próprio julgamento e razão lhe indiquem como meios
adequados a esse fim”. É evidente que tal liberdade é volátil. O ser humano é movido por desejos e sempre
tentará impô-los aos demais.
A tragédia da ausência de Estado é a guerra generalizada.

Um pacto para a Paz


“Cedo e transfiro o direito de governar a mim
mesmo, desde que você também o faça, dando o
direito ao governante, em nome da paz e da segu-
rança.”

A superação da guerra, da incerteza e do caos somente será atingida, paradoxalmente, por uma perda. A
fórmula da pacificação, para Hobbes, consiste na abdicação da liberdade natural de cada um para um ou poucos
homens que definirão as leis e a aplicação de pena de morte aos cidadãos. Como bem aponta o filósofo Althusser:
“A morte é a verdade-limite de todo temor: o temor da morte funda o contrato social”. Portanto, a lex na-
turalis (Lei Natural) de preservação da vida e busca da paz deve ser racionalmente contratada pelos agentes, que
deverão aliená-la ao Soberano.

(Capa do livro “O Leviatã”, de 1651)

Segue-se que a adesão ao contrato deve ser unânime. Se um indivíduo se opusesse, abriria margem a que
outros também o fizesse. E o soberano designado pelos indivíduos seria o único a conservar todas as suas liberda-
des naturais e, portanto, agir livremente em busca da paz e do bem comum. Somente ele teria o Direito e o Dever de
impor a violência sobre os demais. Hobbes conclui, também, que não seria racional os indivíduos se rebelarem con-
tra o Soberano, posto que a soberania foi pelo povo conferida. O soberano, assim sendo, não deve ser destronado.

62
Por outro lado, a manutenção do poder deve ser feita por legislação sábia, mas o filósofo deixa claro que
“Sem a espada, os pactos não são senão palavras e carecem de força para garantir plenamente a segurança do
homem". Contudo, nesse estado de dominação quase que absoluta, donde subsistiria a liberdade do súdito? A
resposta está no momento em que o soberano se volta contra o povo, gerando novamente estado de guerra e
medo. Nesse caso em específico, desapareceria a razão que leva o súdito a obedecer.
O plano de Hobbes ambicionava afirmar o Estado Absolutista – visto por ele como a única forma de
governo capaz de gerir conflitos e garantir a paz dentro contexto belicoso no qual o império inglês se inseria.

(Rei Luís XIV, exemplo clássico de monarca absoluto)

63
U.T.I. - Sala
1. (UEL) Leia o diálogo a seguir. 3. (UFPR) Uma vez que Aristóteles antes define
as virtudes como disposições de caráter e, na
Glauco: — Que queres dizer com isso?
passagem acima, acrescenta que as virtudes
Sócrates: — O seguinte: que me parece que
situam-se num “meio-termo”, de que modo
há muito estamos a falar e a ouvir falar so-
devem ser definidos os vícios? Por quê?
bre o assunto, sem nos apercebermos de que
era da justiça que de algum modo estávamos
a tratar. 4. (UFU) Os fragmentos abaixo representam
Glauco: — Longo proémio – exclamou ele – três temas fundamentais que configuram o
para quem deseja escutar! pensamento de Heráclito de Éfeso.
Sócrates: — Mas escuta, a ver se eu digo “O deus é dia noite, inverno verão, guerra
bem. O princípio que de entrada estabele- paz, saciedade fome; mas se alterna como
cemos que devia observar-se em todas as fogo, quando se mistura a incensos, e se de-
circunstâncias, quando fundamos a cidade, nomina segundo o gosto de cada.” (Fr. 67)
esse princípio é, segundo me parece, ou ele
ou uma das suas formas, a justiça. “Por fogo se trocam todas (as coisas) e fogo
PLATÃO. A República. 7. ed. Lisboa: Fundação
por todas, tal como por ouro mercadorias e
Calouste Gulbenkian, 1993. p. 185-186. por mercadorias ouro.” (Fr. 90)
Os pré-socráticos. São Paulo: Abril Cultural,
Com base nesse fragmento, que aponta para 1973, p. 85 e 87. Col. Os pensadores.
o debate em torno do conceito de justiça na
obra A República, de Platão, explique como A partir das citações acima:
Platão compreende esse conceito. a) explicite quais são esses temas.
b) comente cada um deles de modo a caracteri-
zar a Filosofia de Heráclito.
Leia o texto a seguir para responder às ques-
tões 2 e 3.
5. (UFU) Há um abismo imenso que separa esta
“... não é fácil determinar de que maneira, e escala de valores que Sócrates proclama com
com quem e por que motivos, e por quanto tanta evidência e a escala popular vigente
tempo devemos encolerizar-nos; às vezes nós entre os gregos e expressa na famosa canção
mesmos louvamos as pessoas que cedem e as báquica antiga:
chamamos de amáveis, mas às vezes louvamos
aquelas que se encolerizam e as chamamos de O bem supremo do mortal é a saúde;
viris. Entretanto, as pessoas que se desviam O segundo, a formosura do corpo;
um pouco da excelência não são censuradas, O terceiro, uma fortuna adquirida sem má-
quer o façam no sentido do mais, quer o fa- cula;
çam no sentido do menos; censuramos apenas O quarto, desfrutar entre amigos o esplendor
as pessoas que se desviam consideravelmen- da juventude.
te, pois estas não passarão despercebidas. Mas JAEGER, W. Paideia. São Paulo: Martins
Fontes, 1995, p. 528-529.
não é fácil determinar racionalmente até onde
e em que medida uma pessoa pode desviar-se a) O que é o homem para Sócrates?
antes de tornar-se censurável (de fato, nada b) Qual é a relação entre o que define o homem
que é percebido pelos sentidos é fácil de de- e a máxima délfica “Conhece-te a ti mesmo”?
finir); tais coisas dependem de circunstâncias
específicas, e a decisão depende da percepção.
6. (UFU) A respeito da fortuna, Maquiavel es-
Isto é bastante para determinar que a situa-
creveu:
ção intermediária deve ser louvada em todas
[...] penso poder ser verdade que a fortu-
as circunstâncias, mas que às vezes devemos
na seja árbitra de metade de nossas ações,
inclinar-nos no sentido do excesso, e às vezes
mas que, ainda assim, ela nos deixe governar
no sentido da falta, pois assim atingiremos
quase a outra metade.
mais facilmente o meio-termo e o que é certo.”
MAQUIAVEL, N. O príncipe. Tradução de: Lívio Xavier. São
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Livro II. São Paulo: Paulo: Nova Cultural, 1987. Coleção “Os Pensadores”. p. 103.
Nova Cultural, 1996, p. 150 (Col. Os Pensadores).
Com base na citação, responda:
2. (UFPR) Agir de modo virtuoso é, segundo a) O que é a fortuna para Maquiavel?
Aristóteles, agir sempre do mesmo modo? b) Como deve agir o príncipe em relação à
Por quê? fortuna?

64
7. (Unesp) 8. (UFU) Leia a afirmação a seguir e responda.
TEXTO 1 A função que Hobbes atribui ao pacto de
união é a de fazer passar a humanidade do
Para santo Tomás de Aquino, o poder políti-
estado de guerra para o estado de paz, insti-
co, por ser uma instituição divina, além dos tuindo o poder soberano.
fins temporais que justificam a ação política, BOBBIO, Norberto. Thomas Hobbes. Rio
visa outros fins superiores, de natureza es- de Janeiro: Campus, 1991. p. 43.
piritual. O Estado deve dar condições para a
realização eterna e sobrenatural do homem. a) Por que, sem o pacto, não há paz entre os
Ao discutir a relação Estado-Igreja, admite a homens?
supremacia desta sobre aquele. Considera a b) Por que a instituição do poder soberano é
Monarquia a melhor forma de governo, por resultado de uma passagem?
ser o governo de um só, escolhido pela sua
virtude, desde que seja bloqueado o caminho 9. (UFU) Segundo Agostinho de Hipona (354-
da tirania. 430), as ideias ou formas originárias de todas
as coisas, razões estáveis e imutáveis das coisas
TEXTO 2 de nosso mundo, estão contidas na mente divi-
Maquiavel rejeita a política normativa dos na e não nascem nem morrem, e tudo o que, em
gregos, a qual, ao explicar “como o homem nosso mundo, nasce e morre é formado a partir
deve agir”, cria sistemas utópicos. A nova po- delas. Essas ideias eternas não são criaturas,
antes, participam da Sabedoria eterna, median-
lítica, ao contrário, deve procurar a verdade
te a qual Deus criou todas as coisas e são idênti-
efetiva, ou seja, “como o homem age de fato”.
cas a Ele. Assim, conhecemos verdadeiramente
O método de Maquiavel estipula a observação
quando nos voltamos para tais ideias; sendo o
dos fatos, o que denota uma tendência co-
fundamento da natureza das coisas são tam-
mum aos pensadores do Renascimento, pre- bém o fundamento para o conhecimento dessas
ocupados em superar, através da experiência, mesmas coisas; assim, por meio delas podemos
os esquemas meramente dedutivos da Idade formar juízos verdadeiros sobre elas.
Média. Seus estudos levam à constatação de INÁCIO, Inês. C.; LUCA, Tânia R. de. O pensamento
que os homens sempre agiram pelas formas medieval. São Paulo: Ática, 1988, p. 26.
da corrupção e da violência.
Adaptado de: ARANHA, Maria Lúcia; MARTINS,
Levando em consideração o texto acima e a
Maria Helena. Filosofando. 1986. teoria da iluminação de Agostinho, responda:
a) O que são as ideias eternas?
Explique as diferentes concepções de políti- b) Qual o seu papel ou função em nosso conheci-
ca expressadas nos dois textos. mento do mundo?

1
0. (UEL) Leia o texto e o quadrinho a seguir.
Aqueles que somente por fortuna se tornam príncipes pouco trabalho têm para isso, é claro, mas
se mantêm muito penosamente. Não têm nenhuma dificuldade em alcançar o posto, porque por
aí voam; surge, porém, toda sorte de dificuldades depois da chegada. Tais príncipes estão na de-
pendência exclusiva da vontade e boa fortuna de quem lhes concedeu o Estado, isto é, duas coisas
extremamente volúveis e instáveis.
Adaptado de: MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. São Paulo: Nova Cultural, 1996, p. 55.

a) Desenvolva os conceitos de fortuna e de virtù, em conformidade com Maquiavel.


b) O que diferencia o pensamento político de Maquiavel daquele concebido pela tradição cristã?

65
U.T.I. - E.O.
1. O que significa dizermos que os primeiros 5. (UFMG) Na Ética a Nicômaco, Aristóteles pro-
filósofos tinham uma “preocupação cosmo- põe uma compreensão da amizade em que a
lógica”? semelhança entre os homens é importante,
embora não a caracterize completamente,
2. Platão considera as opiniões e as percepções como se comprova neste trecho:
sensoriais, ou conhecimento das imagens A amizade perfeita é a dos homens que são
das coisas, como fonte de erro, pois nunca bons e afins na virtude, pois esses desejam
alcançam a verdade plena. igualmente bem um ao outro enquanto bons,
e são bons em si mesmos. Ora, os que dese-
3. Em 399 a.C., o filósofo Sócrates é acusado jam bem aos seus amigos por eles mesmos
de graves crimes por alguns cidadãos ate- são os mais verdadeiramente amigos, porque
nienses. (...) Em seu julgamento, segundo o fazem em razão da sua própria natureza
as práticas da época, diante de um júri de e não acidentalmente. Por isso sua amizade
501 cidadãos, o filósofo apresenta um longo dura enquanto são bons – e a bondade é uma
discurso, sua apologia ou defesa, em que, no coisa muito durável. E cada um é bom em si
entanto, longe de se defender objetivamente mesmo e para o seu amigo, pois os bons são
das acusações, ironiza seus acusadores, assu- bons em absoluto e úteis um ao outro. […]
me as acusações, dizendo-se coerente com o Uma tal amizade é, como seria de esperar,
que ensinava, e recusa a declarar-se inocen- permanente, já que eles encontram um no
te ou pedir uma pena. Com isso, ao júri, ten- outro todas as qualidades que os amigos de-
do que optar pela acusação ou pela defesa, vem possuir.
só restou como alternativa a condenação do Com efeito, toda a amizade tem em vista o
filósofo à morte. bem ou o prazer – bem ou prazer, quer em
(Danilo Marcondes).
abstrato, quer tais que possam ser desfru-
tados por aquele que sente a amizade –, e
Com base no texto apresentado, explique baseia-se numa certa semelhança. E à ami-
quais foram os motivos da condenação de zade entre homens bons pertencem todas
Sócrates à morte. as qualidades que mencionamos, devido à
natureza dos próprios amigos, pois numa
4. (UFPR) Se há, então, para as ações que pra- amizade desta espécie as outras qualidades
ticamos, alguma finalidade que desejamos também são semelhantes em ambos; e o que
por si mesma, sendo tudo mais desejado é irrestritamente bom também é agradável
no sentido absoluto do termo, e essas são as
por causa dela, e se não escolhemos tudo
qualidades mais estimáveis que existem.
por causa de algo mais (se fosse assim, o
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução de:
processo prosseguiria até o infinito, de tal VALLANDRO, L.; BORNHEIM, G. In: Os pensadores.
forma que nosso desejo seria vazio e vão), São Paulo: Abril, 1979, VIII, 3, 1156b.
evidentemente tal finalidade deve ser o bem
e o melhor dos bens. Não terá então uma Com base na leitura desse trecho e em outras
grande influência sobre a vida o conheci- informações presentes na obra em referên-
mento deste bem? Não deveremos, como ar- cia, explique por que não é toda e qualquer
queiros que visam a um alvo, ter maiores semelhança entre os homens que motiva
probabilidades de atingir assim o que nos uma amizade verdadeira.
é mais conveniente? Sendo assim, cumpre-
-nos tentar determinar, mesmo sumaria- 6. (Unesp) “O homem é o lobo do homem” é
mente, o que é este bem, e de que ciências uma das frases mais repetidas por aque-
ou atividades ele é o objeto. Aparentemente les que se referem a Hobbes. Essa máxima
ele é o objeto da ciência mais imperativa e aparece coroada por uma outra, menos ci-
predominante sobre tudo. Parece que ela é tada, mas igualmente importante: “guerra
a ciência política. de todos contra todos”. Ambas são funda-
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco, 1094a, p. 18-28.
mentais como síntese do que Hobbes pensa
a respeito do estado natural em que vivem
Que razões Aristóteles alega para justificar a os homens. O estado de natureza é o modo
afirmação de que a ciência mais imperativa de ser que caracterizaria o homem antes de
e predominante sobre tudo parece ser a ci- seu ingresso no estado social. O altruísmo
ência política? não seria, portanto, natural. No estado de

66
natureza o recurso à violência generaliza- em suas rebeliões, tanto a liberdade quan-
-se, cada qual elaborando novos meios de to suas antigas leis, jamais esquecidas, nem
destruição do próximo, com o que a vida se com o passar do tempo, nem por influência
torna “solitária, pobre, sórdida, embrute- dos favores que receberam.
cida e curta, na qual cada um é lobo para Por mais que se faça, e sejam quais forem
o outro, em guerra de todos contra todos”. os cuidados, sem promover desavença e de-
Os homens não vivem em cooperação natu- sagregação entre os habitantes, continuarão
ral, como fazem as abelhas e as formigas. eles a recordar aqueles princípios e a estes
O acordo entre elas é natural; entre os ho- irão recorrer em quaisquer oportunidades e
mens, só pode ser artificial. Nesse sentido, situações”.
os homens são levados a estabelecer con- Adaptado de: Nicolau Maquiavel. Publicado
tratos entre si. Para o autor do Leviatã, o originalmente em 1513.
contrato é estabelecido unicamente entre
Partindo de uma definição de moralidade
os membros do grupo, que, entre si, concor-
como conjunto de regras de conduta hu-
dam em renunciar a seu direito a tudo para
mana que se pretendem válidas em termos
entregá-lo a um soberano capaz de promo-
absolutos, responda se o pensamento de
ver a paz. Não submetido a nenhuma lei, o
Maquiavel é compatível com a moralidade
soberano absoluto é a própria fonte legisla-
cristã. Justifique sua resposta, comentando
dora. A obediência a ele deve ser total.
o teor prático ou pragmático do pensamen-
João Paulo Monteiro. Os pensadores. 2000.
to desse filósofo.
Caracterize a diferença entre estado de na-
tureza e vida social, segundo o texto, e 9. (UFU) Ser vítima de bala perdida é o maior
explique por que a é atribuída a Hobbes a medo atual dos cariocas e moradores da re-
concepção política de um “absolutismo sem gião metropolitana do Rio. Foi o que res-
teologia”. ponderam 57% dos 4500 entrevistados em
levantamento do ISP (Instituto de Segu-
7. (UFMG) Leia este trecho: rança Pública), órgão ligado à Secretaria de
Segurança do Rio, divulgado na tarde desta
Ouvi dizer a um homem instruído que o tem- terça-feira. [...] um quinto dos entrevista-
po não é mais que o movimento do sol, da dos (21,7%) foi vítima de um dos 21 tipos
lua e dos astros. Não concordei. Por que não de crimes elencados na pesquisa (agressão,
seria antes o movimento de todos os cor- furto...).
pos? Se os astros parassem e continuasse a BELCHIOR, L. Mais da metade dos moradores do RJ
mover-se a roda do oleiro, deixaria de haver não confia na PM. In: Folha Online, 19/08/2008.
tempo para medirmos suas voltas? [...] Ou,
ao dizermos isto, não falamos nós no tempo, Estatísticas como essas retratam a situação
e não há nas nossas palavras sílabas longas de medo e de insegurança geral vivenciada
e sílabas breves, assim chamadas, porque nas metrópoles brasileiras e conferem atu-
umas ressoam durante mais tempo e outras alidade a teorias como a do filósofo Tho-
durante menos tempo? mas Hobbes. Para ele, a função do Estado e
SANTO AGOSTINHO. Confissões (Livro XI: o Homem do corpo político é a de garantir a paz e o
e o Tempo). Tradução de: SANTOS, J. Oliveira; PINA, direito de cada um à vida, impedindo o de-
Ambrósio de. São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 286. sencadeamento natural da guerra de todos
contra todos.
Nesse trecho, o autor argumenta contra a A partir da leitura das informações acima,
identificação do tempo ao movimento dos responda às seguintes perguntas.
astros. Apresente o argumento proposto por a) De acordo com Hobbes, os seres humanos
Santo Agostinho. são naturalmente sociáveis? Justifique sua
resposta.
8. (Unesp) “Três maneiras há de preservar a b) Quais seriam, para esse filósofo, as princi-
posse de Estados acostumados a serem go- pais características do homem em estado de
vernados por leis próprias; primeiro, de- natureza?
vastá-los; segundo, morar neles; terceiro, c) Tendo em vista o fragmento da reportagem
permitir que vivam com suas leis, arrancan- publicada pelo jornal Folha Online, é correto
do um tributo e formando um governo de dizer que o Estado, hoje, do ponto de vista
poucas pessoas, que permaneçam amigas. hobbesiano, cumpre sua obrigação em rela-
Sucede que, na verdade, a garantia mais se- ção aos cidadãos?
gura da posse é a ruína. Os que se tornam
senhores de cidades livres por tradição, e
não as destroem, serão destruídos por elas.
Essas cidades costumam ter por bandeira,

67
1
0. (UFU) Leia com atenção o texto abaixo em
que o autor comenta e cita Santo Agostinho,
e, em seguida, responda as questões apre-
sentadas.
“Deus cria as coisas a partir de modelos imu-
táveis e eternos, que são as ideias divinas.
Essas ideias ou razões não existem em um
mundo à parte, como afirmava Platão, mas
na própria mente ou sabedoria divina, con-
forme o testemunho da Bíblia.”
“Que a mesma sabedoria divina, por quem
foram criadas todas as coisas, conhecia aque-
las primeiras, divinas, imutáveis e eternas
razões de todas as coisas antes de serem cria-
das, a Sagrada Escritura dá este testemunho:
No princípio era o Verbo e o Verbo estava
junto de Deus e o Verbo era Deus. Todas as
coisas foram feitas pelo Verbo e sem Ele nada
foi feito. Quem seria tão néscio a ponto de
afirmar que Deus criou as coisas sem conhe-
cê-las? E se as conheceu, onde as conheceu
senão em si mesmo, junto a quem estava o
Verbo pelo qual tudo foi feito?"
(Santo Agostinho, Sobre o Gênese, V, 29). COSTA,
José Silveira da. A Filosofia Cristã. In: RESENDE,
Antônio. Curso de Filosofia. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar/SEAF, 1986, p. 78, capítulo 4.

a) Explique a relação, sugerida neste texto, en-


tre a teoria das Ideias de Platão e o pensa-
mento de Agostinho.
b) Explique como Agostinho usa essa teoria para
explicar o conhecimento humano, na sua co-
nhecida Doutrina da Iluminação Divina.

68
0 1 Sociologia

U.T.I.

C H
HISTÓRIA
Auguste Comte (1798-1857)
Para dar uma resposta à revolução científica, política e industrial de seu tempo, Comte ofereceu uma reor-
ganização intelectual, moral e política da ordem social. Adotar uma atitude científica era a chave, assim pensou,
de qualquer reconstrução da sociedade. Afirmava que pelo estudo empírico dos processos históricos – em especial
do progresso das diversas ciências e formas de explicação da realidade – seria possível perceber uma lei histórica,
que ele denominou de “os três estágios”. O pensador analisou tais três estágios em sua volumosa obra Curso de
Filosofia Positiva, escrita entre 1830 e 1842. Dizia que dada a natureza da mente humana, cada uma das ciências
ou ramificações do saber deveria passar necessariamente por estes três estágios teóricos distintos: teológico (ou
estado fictício), metafísico (ou estado abstrato) e positivo (ou estado científico).

Auguste Comte

Para Comte, fundador da Sociologia, o espírito positivo teria de fundar uma ordem social. A constituição
de um saber positivo – leia-se científico – é fundamental para apagar, ou pelo menos subjugar, todas as outras
formas de pensamento. O positivismo de Comte, com isso, tem um caráter essencialmente histórico, pois visa
a ser um fator organizador da política e da sociedade. Diante disso, a educação foi um dos temas sobre o qual
Comte se debruçou, pois ela carregaria esse papel transformador. Após anos de estudos, viu que as sociedades
eram regidas por leis que, quando descobertas, poderiam ser manipuladas pelos agentes políticos. Concluiu
que havia dois princípios vitais na sociedade: o princípio dinâmico, representante das formas mais complexas da
existência de uma estrutura social (urbanização e industrialização), e o princípio estático, correspondente às formas
elementares de organização (religião, família, propriedade, linguagem). Para Comte, esses dois princípios comple-
tam-se, devendo ser dado privilégio ao estático como garantia de preservação da ordem e do bom funcionamento
de uma sociedade. Assim, para o pensador, justifica-se a intervenção em uma estrutura social desajustada e desequi-
librada por conflitos e revoltas, se a intenção for a de dar-lhe equilíbrio e bom funcionamento. Com a resolução dos
embates, a harmonia passaria a vigorar na área de intervenção – por meio do incentivo à coesão e ao bem-estar –,
possibilitando condições para a sua evolução.
Por fim, a influência do positivismo no desenvolvimento da Sociologia é inegável. É possível afirmar que
ela nasceu com Comte, criador do nome da disciplina. Os sociólogos, estejam contra ou a favor, consideram que o
pensamento científico foi disseminado a partir de suas ideias. Graças a ele, sem dúvida, a ciência ganhou o estatuto
de fonte de conhecimento mais segura à população, embora outras formas de conhecimento ainda subsistam.

71
Émile Durkheim (1858–1917)
O fato social
Os fatos sociais são maneiras de pensar, agir e sentir que existem independentemente das manifestações in-
dividuais, ou seja, são exteriores ao indivíduo e são generalizados na sociedade. Ademais, são dotados de uma força
imperativa e coercitiva sobre os indivíduos. Esses fenômenos nascem no seio da sociedade e nela residem, a despeito
do arbítrio de um sujeito isolado.
Nas Regras do Método Sociológico, Durkheim estabelece as diferenças entre os fatos que pertencem à psico-
logia, que são internos ao homem, e os que são estudados pela sociologia, que são externos e coercitivos. Os fatos
sociais são impostos por meio de normas oriundas da consciência coletiva e das regras do direito, isto é, estão tanto
nos costumes como nas leis escritas. Funcionam, portanto, como reguladoras de conduta, dentro, é claro, dos limites
da moralidade.
Quando dissemos que os fatos sociais existem a despeito das consciências individuais, afirmamos que existe
uma cronologia subjacente: os fatos sociais antecedem a existência de um indivíduo isolado. Significa dizer que já
nascemos em uma sociedade organizada, com regras e valores preestabelecidos. Tais normas nos são impostas tanto
pela educação escolar como pelo hábito coletivo, fazendo com que o indivíduo socializado as considere como naturais.
Embebidos nesses valores, os sujeitos não percebem que os fatos sociais provêm deles mesmos. As instituições
são criadas pelos indivíduos, mas com o passar do tempo, elas se consolidam e ganham certa autonomia. Assim, para
Durkheim, se forma a consciência coletiva, que estaria longe de ser a soma das consciências individuais, mas algo
exterior a cada um. A consciência coletiva seria a síntese de crenças e sentimentos comuns a uma sociedade. Sabemos
que a força imperativa da consciência coletiva é sempre presente, uma vez que o indivíduo que resistir a ela é quase
sempre coagido pela sociedade. Quem foge das crenças e sentimentos comuns é moralmente ou legalmente penali-
zado. Assim, desde cedo, aprende-se a respeitar o conjunto de normas da sociedade.

regras, leis, FATO SOCIAL


costumes, rituais (características)
realidade do
composta de seria caracteriza-se generalidade
indivíduo
por

força que
coerção exterioridade ou seja
os fatos exercem como
sobre os indivíduos social

ou seja tudo aquilo


apresenta-se que é
manifesta-se
quando repetido em
é exterior todos os
ao indivíduo indivíduos
sob formas
de SANÇÕES adotamos
um idioma
ou uma forma de assim
família como

regras e leis
sociais

Durkheim defende que os fatos sociais devem ser vistos como coisas, uma vez que são realidades concretas
e com grau de existência exterior ao homem. Todo objeto científico seria uma coisa. Para ele, devemos observar os
fatos sociais como um físico observa a natureza. A sociologia, portanto, é uma ciência empírica e pouco introspec-
tiva. O oposto da matemática, portanto.
É necessário ao sociólogo suprimir seus juízos e valores pessoais para não chegar a conclusões precipitadas.
O maior erro do pesquisador seria o de conduzir suas pré-concepções sobre o fato social durante a pesquisa. Por

72
isso, o pesquisador deve ser neutro ao objeto analisado. morais, a reflexão filosófica e até a produção artística de
Trata-se de uma concepção científica chamada de neu- uma sociedade, Marx chama de superestrutura. Na análise
tralidade axiológica, na qual o pesquisador prescinde de social marxista, a infraestrutura, isto é, as relações mate-
suas paixões e trata o objeto de pesquisa rigorosamente riais, são como os pilares fundamentais de todas as ideias
como coisa. e pensamentos existentes em uma sociedade. A superes-
É evidente a afinidade de Durkheim com o po- trutura não passa, portanto, de mero reflexo de sua base
sitivismo. Ele herdou toda a base empirista de Comte e, (a infraestrutura).
como tal, defendeu que a Sociologia deveria realizar um Marx escreve que a infraestrutura é composta
retrato fiel da realidade, baseando-se nos fatos que a
por três níveis distintos:
compõem. Tal seria a condição necessária para se criar
§§ As condições de produção, isto é, as matérias-
um conhecimento objetivo e plausível sobre as relações
-primas ou recursos naturais disponíveis em
sociais. Por conta dessa preocupação formal e tendo
como base tais premissas, a Sociologia se consolidou uma sociedade – que por si só já seriam res-
como disciplina autônoma. ponsáveis por determinar o tipo de produção
empregada por um país. Um país com terras
férteis pode produzir itens agrícolas que um

Karl Marx país sem essas condições teria dificuldades


para produzir, por exemplo.

(1818-1883) §§ As forças produtivas, ou seja, os tipos de fer-


ramentas e máquinas disponíveis em uma so-
ciedade (ou, em outras palavras, a tecnologia
Para Hegel, a evolução do processo histórico
seria decorrente da tensão entre pares de pensamen- disponível). Como exemplo, podemos pensar
tos opostos (tese e antítese), que posteriormente seria que sociedades que dispõem de energia elétri-
solucionada por uma terceira tese, a síntese. Segundo ca para sua produção tendem a ser bem dife-
o filósofo, haveria uma força que movimenta o curso rentes de sociedades que ainda não a desco-
da história. A essa força, Hegel dá o nome de “espírito briram.
do mundo” – uma espécie de somatório de todas as §§ Por fim, as relações de produção, isto é, quem
manifestações humanas que está em constante marcha detêm os meios de produção (máquinas, fábri-
rumo a uma autoconsciência e a um autodesenvolvi- cas etc.) de uma sociedade e como o trabalho é
mento cada vez maiores. dividido na mesma. Uma sociedade feudal, em
Para Marx, entretanto, Hegel estaria equivocado: que o senhor detinha todo o capital produtivo,
além de criticar o caráter transcendental da filosofia he- por exemplo, tem características diferentes de
geliana, Marx afirmou que não seriam a cultura ou os uma sociedade capitalista moderna.
pensamentos humanos – os pressupostos espirituais de Como vimos, Marx afirma que é o modo de
Hegel – os responsáveis por criar condições suficientes produção de uma sociedade (a combinação entre suas
para uma transformação nas condições materiais de
condições de produção, forças produtivas e relações
uma determinada sociedade. Para ele, essa relação se
de produção) que determina as suas relações ideoló-
daria de maneira contrária: são fundamentalmente as
gicas e políticas. A moral e os costumes de uma deter-
transformações de natureza material que possibilitam
o surgimento de novos pressupostos espirituais. Em úl- minada sociedade são produtos da infraestrutura; por
tima instância, são as forças econômicas os principais este motivo, é inconcebível, por exemplo, que hoje um
determinantes do avanço da história; são as relações e pai determine com quem sua filha irá se casar – como
as condições materiais que apontam seus rumos. Cada se fazia na Idade Média, marcada pelo modo de pro-
etapa histórica, afirma Marx, é marcada por um modo dução feudal.
de produção e suas peculiaridades.
Às relações materiais de uma sociedade, Marx de-
nomina infraestrutura. As instituições políticas, religiosas e

73
A luta de classes Exploração e mais-valia
A afirmação de que toda a infraestrutura de A partir do conceito de alienação do trabalhador,
uma sociedade é determinada por sua classe domi- fica claro que, na visão de Marx, o modo de produção
nante evidencia outro importante elemento da análise capitalista se apresenta como um grande inimigo da
condição humana. Mas a alienação traria ainda mais
social marxista: a luta de classes. Para Marx, toda a
consequências, segundo o autor.
história da humanidade pode ser contada pela pers-
Uma vez alienado – e, portanto, incapaz de perce-
pectiva da luta de classes, isto é, pelas tensões e rela-
ber sua condição humana –, o trabalhador perde a capa-
ções conflituosas entre classes dominantes e classes cidade de se enxergar como parte essencial da produção
dominadas. Somente mudanças na infraestrutura so- capitalista (veremos, mais à frente, que na visão marxista
cial poderiam girar a roda da história; e estas mudan- é o trabalho o grande responsável por qualquer geração
ças, afirma, foram sempre conquistadas pelo choque de valor). Sem essa consciência, a percepção do papel
entre estas duas classes. fundamental que desempenha no processo produtivo, o
No feudalismo, por exemplo, a luta de classes trabalhador se torna ainda mais vulnerável à exploração
teria se dado entre nobreza e campesinato. O cho- pela classe detentora dos meios de produção.
que decorrente daí teria possibilitado a superação do Marx chama esta exploração de mais-valia – a
modo de produção feudal. Na sociedade capitalista, diferença entre o valor gerado pelo trabalhador e a re-
contexto em que se insere Marx, ela se daria entre muneração que este recebe por seu trabalho. Em outras
palavras, a mais-valia nada mais é do que o lucro aufe-
burgueses (ou capitalistas) e proletariado. Em suma, é
rido pelo detentor dos meios de produção. É, também, a
essa a visão marxista da história humana: trata-se do
confirmação da exploração sofrida pela classe trabalha-
choque e da relação conflituosa entre os detentores
dora; a consumação de um processo destrutivo causado
dos meios de produção e aqueles que não os detêm.
pelo modo de produção capitalista.

A alienação do trabalhador A reificação e o fetichismo


Pela maneira desigual que se dão suas relações da mercadoria de Marx
de produção (dadas as vantagens dos capitalistas em
Marx considerava que o valor real de uma mercado-
relação ao proletariado, pelo fato de deterem os meios
ria poderia ser expresso pela quantidade de trabalho social
de produção), Marx analisa que o capitalismo teria
despendido em sua produção. O modo de produção capi-
uma terrível consequência: a alienação do trabalhador. talista, contudo, possuiria a terrível tendência a degenerar
Seguindo a tradição hegeliana, Marx identifica o a relação identitária entre trabalho social e valor; ao alienar
trabalho como uma atividade extremamente positiva, a o trabalhador, roubando-lhe a própria condição humana,
origem da condição humana. Ele alerta, entretanto, de o capitalismo reduziria todas as formas de sociabilidade a
que no modo de produção capitalista o trabalhador não meras relações de troca comercial, provocando a reificação
trabalha para si mesmo; trabalha, sim, para o capitalista (“coisificação”) das relações humanas.
– o detentor dos meios de produção. Assim, o trabalho, Se no capitalismo as relações sociais entre pes-
tão intimamente ligado à condição humana, torna-se
soas se transformam em relações sociais entre merca-
externo ao trabalhador. Ao alienar-se em relação ao seu
dorias (desumanizando-se, em uma economia de mer-
próprio trabalho, o trabalhador aliena-se também em
cado o homem se relaciona apenas por meio de trocas
relação à sua própria humanidade.
comerciais), o papel que estas assumem na sociedade
passa a ser de destaque. Já não se observa mais o valor
de uso das mesmas, mas tão somente o valor de troca;
é o triunfo do valor de troca sobre o valor de uso, con-
sequência do modo de produção preconizada por Marx
em sua obra.

74
Com esta inversão, o trabalho despendido na
produção destas mercadorias fica em segundo plano,
obscurecido pelos preços de mercado a que se sujeita
o processo de troca comercial. Elimina-se a percepção
do esforço social que se faz necessário para produzir
um bem, e assume-se que este esforço se resume ao
valor monetário pelo qual é trocado. De tal forma que as
mercadorias, antes percebidas como mera produção hu-
mana, são agora objetos com existência própria, inde- Max Weber

pendentes de qualquer esforço humano. Personificam- Para Weber, a Sociologia é uma ciência que
-se, assumindo posteriormente caráter divino. Passam, pretende entender a ação social. Esta é aquela que se
realiza em um sentido pensado pelos indivíduos e que
em última instância, a determinar as relações sociais.
se refere à conduta de outros. Toda ação social tem cer-
Este é o conceito marxista de fetichismo da mercadoria,
tos requisitos: I) o ator lhe dá um sentido; II) tal sentido
consequência final do capitalismo.
se remete a outro. A inação também deve ser considera-
A relação entre os conceitos de alienação, ex- da uma ação social, mesmo quando o indivíduo não es-
ploração e mais-valia, reificação das relações teja dando-lhe sentido consciente. Mesmo diante dessa
sociais e fetichismo da mercadoria é intrínseca e situação, o sociólogo pode interpretá-la.
fundamental para se entender a obra marxista. De ma- A realidade social, tomada em sua totalidade,
neira geral, pode-se dizer que a forma como o autor para o sociólogo alemão, é incognoscível. Isso porque
enxerga as relações sociais no sistema produtivo capi- o investigador nunca consegue apreendê-la completa-
talista é explicada, em grade parte, pela maneira como mente, recorrendo a tipos ideais ao analisar um pro-
estes conceitos se relacionam entre si e os demais ele- cesso e compará-lo a outros. Os tipos ideais localizam
mentos presentes em sua obra. o objeto de estudo e são meios de pensamento com o
objetivo de dominá-lo teoricamente e empiricamente.
Significa dizer que um conceito nunca pode refletir exa-
tamente a realidade, sendo concebível apenas represen-
Max Weber tá-la a partir de alguns pontos de vista.
A ação social pode tipificar-se em quatro tipos
(1864-1920) ideais:
§§ ação afetiva: determinada por sentimentos,
Como observador estudioso das sociedades, sendo essencialmente irracional;
Weber analisa não as particularidades individuais, mas §§ ação tradicional: determinada por costumes
as estruturas de uma sociedade, utilizando para isso o arraigados que se reproduzem irracionalmente
método compreensivo. Assim o faz, por exemplo, quan- pelo hábito;
do procura nas transformações da sociedade romana as §§ ação racional com relação a valores: a ação
bases para a edificação da sociedade feudal ocidental está determinada por um valor e se realiza pelo
europeia, em um esforço interpretativo do passado para mesmo, independentemente de seus resultados;
o entendimento das mudanças posteriores. Sempre de- §§ ação racional com relação a fins: determi-
fendeu, sobremaneira, a utilização de uma visão parti- nada pelos fins que perseguem, sendo predomi-
cularista do cientista social sobre a formação de uma nante na vida econômica.
sociedade, não deixando de lado os elementos mais Para Weber, uma explicação que só detenha cau-
gerais de tal formação, mas respeitando a história do sas materiais de seu surgimento é tão insuficiente e uni-
processo. lateral como uma que só aponte para as causas ideais. A
realidade é multicausal e complexa. Nela, as diferentes
ações sociais, por exemplo, encontram-se misturadas e
não muito bem definidas.

75
A questão da dominação
O autor define as dominações legítimas em três tipos ideais:
§§ Dominação tradicional
Devota-se a um patriarca ou senhor, que é colocado no governo segundo um costume ou tradição da
população. É o caso, por exemplo, de monarquias hereditárias. Por ser pautada pelos costumes, a domi-
nação tradicional tende a ser altamente estável.
§§ Dominação carismática
Apoia-se no caráter supostamente extraordinário do governante, sendo seu carisma o fundamento da
legitimidade da dominação. Governantes carismáticos tendem a promover muitas inovações sociais
políticas, mas contêm um caráter instável e provisório. Em caso de vacância ou morte do líder, esse tipo
de dominação tende a ruir.
§§ Dominação legal-racional
É um fenômeno essencialmente da modernidade e se baseia em normas e regras racionalmente defini-
das. Os direitos e deveres dos que mandam e obedecem estão sistematizados em leis escritas. Tendem
a ser muito estáveis, mas pouco flexíveis diante de situações extraordinárias.
É o caso das democracias modernas, por exemplo.

Weber e a religião

No livro A ética protestante e o espírito do capitalismo, Max Weber investiga sobre as “origens” do
capitalismo, verifica qual a influência da religião na origem do moderno sistema econômico capitalista-industrial
e mostra como se dá o progresso da racionalização no Ocidente, visando responder essas questões numa pers-
pectiva específica da ética protestante.
No capítulo III, “A concepção de vocação de Lutero”, Weber inicia discorrendo sobre como essa concep-
ção se desenvolveu em Lutero; o mesmo vai afirmar que para se obter a salvação, não era necessário se retirar
do mundo para rezar, mas o contrário, o indivíduo deveria permanecer na sua posição social, valorizando o cum-
primento do dever dentro de sua profissão, pois era a única maneira de se agradar a Deus. É com Lutero que se
difusa a ideia de que quanto mais as pessoas aceitassem as suas tarefas profissionais, mais aptas estariam para
serem salvas, é nisso que se baseia a sua vocação. O conceito de vocação permaneceu em seu caráter tradiciona-
lista, onde era aceito como uma ordem divina, em que cada um deveria se adaptar.
É com as seitas protestantes que esse processo irá mais longe; são organizadas no capítulo IV, “Fundamen-
to religioso do ascetismo laico”, onde Weber destaca quatro doutrinas como as mais importantes, sendo elas:
calvinismo, pietismo, metodismo e as seitas batistas.

76
Segundo Max Weber “o calvinismo foi a fé em torno da qual giraram os países capitalisticamente desenvol-
vidos – Países Baixos, Inglaterra e França –, onde moveram-se lutas políticas e culturais dos séculos XVI e XVII
[...]” (p. 67). O dogma mais característico do calvinismo é a doutrina da predestinação: somente Deus, na sua
sabedoria e bondade eterna, sabe e escolhe quem será salvo ou não. Nada do que o homem fizer por esforço
próprio faz diferença: tudo depende de Deus.

João Calvino
A ética do trabalho influenciada pela religião acabou dando suporte nas origens do capitalismo. Com o
passar do tempo, a busca inconstante pelo lucro se desligou da religião e se tornou independente.
O problema da racionalização foi outra questão apontada por Weber, pois além do protestantismo ascético
favorecer a origem do capitalismo, também favoreceu na racionalização da vida, em que as pessoas passaram a
ser guiadas pelo sistema econômico.
Os puritanos levaram mais adiante a racionalização do mundo do que os católicos, eles queriam tornar-se
um profissional e todos tiveram que segui-lo. O ascetismo foi levado para fora dos mosteiros e transferido para a
vida profissional, o que contribuiu fortemente para a formação da moderna ordem econômica, que determina de
maneira violenta o estilo de vida de todo indivíduo nascido sob esse sistema.
O ser humano, no puritanismo, é apenas guardador dos bens que lhe foram emprestados pela graça divina.
Nesse caso, o indivíduo não pode se conformar com a pobreza, pois quanto maior a posse, maior é a manifestação
da Glória de Deus; isso vem a demonstrar a racionalização no acúmulo de capital.
Um dos componentes fundamentais do espírito do moderno capitalismo está na conduta racional baseada
na ideia da vocação. Desde que o ascetismo começou a remodelar o mundo, os bens materiais assumiram uma
enorme força sobre os homens, como nunca antes na História. “Hoje em dia – ou definitivamente, quem sabe –
seu espírito religioso safou-se da prisão.” (WEBER, 2000, p. 131)
Ao fim de sua obra, Weber destaca que ninguém sabe a quem caberá no futuro viver essa prisão de ferro
capitalista. Da mesma forma, lança a pergunta se surgirão novos profetas para anunciar tais desenvolvimentos
análogos entre religião e economia.
Disponível em: <http://www.webartigos.com/artigos/
resenha-a-etica-protestante-e-o-espirito-do-capitalismo/140191/>

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Theodor Adorno (1903-1969) e
Max Horkheimer (1895-1973)
Max Horkheimer, Felix Weil e Friedrich Pollock foram os fundadores, junto à Universidade de Frankfurt, do
Institut für Sozialforschung.

Horkheimer assumiu a direção do Instituto


de Pesquisa Social em 1930[1] [...] instalando-a na
Filosofia e dando-lhe o nome de “Filosofia Social”.
Propôs um ambicioso programa de pesquisa inter-
disciplinar que tinha como referência teórica funda-
mental a obra de Marx e o marxismo, inaugurando,
assim, a vertente intelectual da “Teoria Crítica”
NOBRE, Marcos. A Teoria Crítica. 3. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004.

Quando assumiu a direção do Instituto, Horkheimer propôs um programa de trabalho que enfatizasse, so-
bretudo, a interdisciplinaridade e por isso reuniu em torno de si, no Instituto de Pesquisas Sociais, especialistas das
mais diversas áreas, como a psicanálise, representado na primeira geração por Erich Fromm; em filosofia, além de
Horkheimer, Herbert Marcuse; havia também especialistas em artes: os dois principais foram Leo Lowenthal, que
escreveu sobre cultura popular, cultura erudita e sobre a relação entre elas e Theodor Adorno; havia também espe-
cialistas em Ciência Política e direito, teóricos como Franz Neumann e Otto Kirchheimer; e em Economia, teóricos
como Henryk Grossmann e Friedrich Pollock, sendo a maior parte da concepção econômica da Escola de Frankfurt
desenvolvida por este último. No campo intelectual, a sua maior contribuição foi ao estudo do Capitalismo de
Estado, decorrente em parte de seus trabalhos sobre a Economia da URSS.
É o que podemos chamar de materialismo interdisciplinar da Escola de Frankfurt: pesquisadores trabalhan-
do em diferentes áreas do conhecimento (economistas, filósofos, cientistas políticas, psicólogos etc), tendo como
horizonte comum a teoria marxista.

Em seu texto “Teoria tradicional e teoria críti-


ca”, provavelmente um dos mais importantes de todo
o período da década de 1930, Horkheimer apresenta
uma alternativa para se pensar criticamente a relação
entre teoria e prática (Horkheimer, 1975). Essa alterna-
tiva ficou conhecida como o materialismo interdiscipli-
nar, um trabalho exercido em conjunto por diferentes
perspectivas teóricas – filosofia, sociologia, psicanáli-
se, economia, direito etc. – que se voltavam para as
investigações sobre a sociedade, adotando aquela ati-
tude da teoria com interesses práticos [...]
MELO, Rúrion. Teoria Crítica e os sentidos da emancipação.
Caderno CRH, Salvador, v. 24, n. 62, p. 249-262, maio/ago., 2011. Acessado em: 02/10/2015.

O primeiro objetivo do Instituto e da Teoria Crítica foi, portanto, reunir pesquisadores de diferentes
especialidades de forma interdisciplinar, tendo como referência comum o marxismo. Vale lembrar que com a toma-
da do poder na Rússia com Lenin e Trotski à frente, foi fundada a União Soviética e esses acontecimentos demanda-
vam uma explicação: a Guerra e a Revolução só podiam ser explicadas por essa teoria. Para compreender o mundo,
Horkheimer julgava que se deveria partir do marxismo, mas, eis aí a novidade, refundindo-o com a incorporação
de outros saberes.

78
conformidade com as ideias na mente do pesquisador
do que na própria realidade. Por isso, para Horkheimer,
diferentemente do positivismo, as abordagens para o
entendimento nas ciências sociais não podem simples-
mente imitar aquelas das ciências naturais e a resposta
apropriada para este dilema se daria a partir do desen-
volvimento de uma “Teoria Crítica”.
Na obra Dialética do Esclarecimento, Horkheimer
e Adorno pretenderam lograr a realização de um diag-
nóstico possível da sociedade contemporânea embora
não se trate de um tratado filosófico, mas de reflexões
em torno de algumas ideias estruturantes da sociedade
industrial. Uma investigação que foi desenvolvida ex-
plorando a relação dialética entre Mito e Razão, Na-
tureza e Cultura, Civilização e Barbárie, que estrutura
a dialética entre esclarecimento e obscurantismo. Vale
ressaltar que a Dialética do Esclarecimento inicia com
a questão do por que a humanidade “em vez de entrar
em um estado verdadeiramente humano, está afundan-
Dialética do Esclarecimento, Adorno e Horkheimer do em uma nova espécie de barbárie”.
(HORKHEIMER, Max; ADORNO, Theodor. Dialética do
A questão do Capitalismo veio à tona com bas- Esclarecimento: fragmentos filosóficos. Tradução Guido Antônio
tante ênfase, justificando a necessidade, para além dos de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1983.).

aspectos econômicos, de compreender os demais fato-


res atuantes na permanência de um regime que bene-
ficia apenas uma minoria. E o marxismo é certamente
a crítica mais contundente da sociedade capitalista. É
preciso considerar que muitos desses teóricos perce-
beram que a tradicional teoria marxista não poderia
explicar adequadamente o turbulento e inesperado de-
senvolvimento de sociedades capitalistas no século XX,
colocando, por exemplo, em questão, a capacidade das
classes trabalhadoras em levar a cabo transformações
Theodor Adorno
sociais importantes. Esta desconfiança os afasta pro-
gressivamente do marxismo operário. Nesta obra, os autores denunciam as estrutu-
Ao fazer a análise da Teoria Tradicional e for- ras ideológicas da dominação política – referindo-se à
mulando um novo modelo de Teoria Crítica orientada crise da democracia e à ascensão dos regimes totalitá-
para a emancipação social, Horkheimer critica a teoria rios na Europa, à corrida armamentista, o desenvolvi-
positivista e cientificista. Baseando-se em Max Weber, mento da indústria bélica, além das injustiças sociais
Horkheimer argumentou que as ciências sociais são di- geradas pelo desenvolvimento do capitalismo. Todos
ferentes das ciências naturais e, portanto, é necessário esses problemas são interpretados como resultado da
levar em consideração alguns aspectos para um melhor “crise da razão” e dos princípios Iluministas. Conforme
entendimento da realidade social, como por exemplo, registram os autores, o Iluminismo inaugurou a moder-
o fato de que o pesquisador faz parte de um contex- nidade, ao colocar a razão e a ciência como elementos
to histórico cujas ideologias moldam o pensamento, potencializadores do desenvolvimento e do progresso
fazendo com que uma teoria esteja muito mais em social; e, por conseguinte, da emancipação humana.

79
Ambos os filósofos, como o restante dos inte- A mercantilização da cultura, transformada em
lectuais frankfurtianos, não renegam o projeto da mo- um empreendimento empresarial, tolhe a consciência
dernidade – cujo núcleo é formado pela racionalidade dos indivíduos e os transforma em meros consumidores
e pela crença nos princípios do progresso científico –, de bens culturais. As consequências são muitas, dentre
mas argumentam que tanto a racionalidade quanto a elas a homogeneização ou massificação dos gostos a
ciência se transformaram em instrumentos de domina- partir da imposição de um estilo de consumo. Nesse as-
ção política e econômica. A crítica da razão instrumental pecto, não existe cultura de massa, pois é a indústria
(Ação Racional com Relação a fins, nas palavras de We- cultural que determina e impõe à sociedade o consumo
ber) é justamente a crítica dirigida aos obstáculos e os de bens culturais.
impedimentos à concretização do projeto emancipador Como um empreendimento capitalista que per-
do homem, preconizados séculos atrás pelos filósofos segue o lucro, a indústria cultural também cria necessi-
iluministas. dades de consumo de bens culturais. Assim, o suposto
Além disso, notam os autores que, no mundo potencial revolucionário ou emancipador de algumas
moderno, o avanço da ciência e da técnica é um pro- artes, como o cinema, é flagrantemente criticado nos
cesso inexorável. O progresso científico representou o estudos de Adorno.
domínio do homem sobre a natureza, mas se desvirtuou Estes são alguns dos temas mais importantes da
por completo ao ser utilizado para ampliar a dominação chamada primeira geração da Escola. A partir da década
do homem pelo próprio homem. de 1960, com a morte de Adorno, inicia o que alguns
Theodor Adorno também é autor de importante chamam de segunda geração da Escola de Frankfurt,
estudo sobre a chamada Indústria Cultural a partir tendo como principal articulador o antes assistente de
da análise crítica da obra de Walter Benjamin. Partindo Adorno e, depois, seu crítico mais ferrenho: Jürgen Ha-
da utilização da técnica (ciência e tecnologia) na produ- bermas, com a sua teoria do agir comunicativo.
ção e reprodução das artes, em particular aquelas asso-
ciadas à comunicação social (cinema, rádio, televisão,
etc.), Adorno demonstrou que na sociedade industrial
capitalista, a produção da arte é explorada como um
“bem cultural”.

80
U.T.I. - Sala
1. (UFU) Segundo Aron, para Marx, “o tempo Com base nos conhecimentos sociológicos,
de trabalho necessário para o operário pro- caracterize a Sociologia na perspectiva we-
duzir um valor igual ao que recebe sob forma beriana, discorrendo sobre os aspectos re-
de salário é inferior à duração efetiva do seu levantes dessa perspectiva apontados no
salário”. texto-base.
ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico.
São Paulo: Martins Fontes, 1995, p. 148.
3. (Uema) Émile Durkheim (1858-1917) é
Com base no trecho, faça o que se pede. considerado um dos teóricos fundadores da
a) A proposição apresentada por Aron está li- Sociologia e definiu como objeto de estudo
gada a qual conceito dentro da teoria mar- dessa nova ciência os fatos sociais, compre-
xista? Explique esse conceito. endidos como “coisa”. O texto adaptado re-
b) Como este conceito, dentro da teoria mar- trata as características dos fatos sociais.
xista, pode ser desdobrado como absoluto Não somos obrigados a falar a língua do nos-
e relativo? Explique esses desdobramentos, so país, usar a moeda vigente ou adaptar-
caracterizando-os e definindo-os. -nos à tecnologia moderna; mas se assim não
o fizermos, nossas vidas serão um fracasso,
2. (UFPR) O fragmento abaixo foi retirado do portanto, não temos escolha, todos nós so-
livro O que é Sociologia? e refere-se ao pen- mos coagidos a acatá-las. Estas decisões não
samento do sociólogo Max Weber. são determinadas individualmente, são exte-
A Sociologia por ele [Max Weber] desenvol- riores à nossa vontade, elas já estão prontas
vida considerava o indivíduo e a sua ação na sociedade.
como ponto-chave da investigação. Com isso, BOELTER, C.; PLUMER, E. Sobre o pensamento de Durkheim
e Weber. In: TESKE, Ottmar (Coord.). Sociologia: textos e
ele queria salientar que o verdadeiro ponto
contextos. Canoas: Ed. Ulbra, 1999, p. 41. Adaptado.
de partida da Sociologia era a compreensão
da ação dos indivíduos e não a análise das Explique as características dos fatos sociais,
“instituições sociais” ou do “grupo social”, na visão de Émile Durkheim, contidas no
tão enfatizadas pelo pensamento conserva- texto acima.
dor. Com essa posição, não tinha a intenção
de negar a existência ou a importância dos
4. (UEL) Leia o texto a seguir.
fenômenos sociais, como o Estado, a empre-
sa capitalista, a sociedade anônima, mas tão O homem faz a religião, a religião não faz o
somente a de ressaltar a necessidade de com- homem. E a religião é de fato a autoconsci-
preender as intenções e motivações dos indi- ência e o sentimento de si do homem, que
víduos que vivenciam estas situações sociais. ou não se encontrou ou voltou a se perder.
A sua insistência em compreender as moti- Mas o homem não é um ser abstrato, acoco-
vações das ações humanas levou-o a rejeitar rado fora do mundo. O homem é o mundo do
a proposta do positivismo de transferir para homem, o Estado, a sociedade. Este Estado
a Sociologia a metodologia de investigação e esta sociedade produzem a religião, uma
utilizada pelas ciências naturais. Não havia, consciência invertida do mundo, porque eles
para ele, fundamento para essa proposta, são um mundo invertido.
uma vez que o sociólogo não trabalha sobre MARX, Karl. Crítica à Filosofia do Direito de
uma matéria inerte, como acontece com os Hegel. São Paulo: Boitempo, 2005. p. 145.
cientistas naturais [...]. Vivendo em uma na-
ção retardatária quanto ao desenvolvimento Na teoria do pensador Karl Marx, há um con-
capitalista, Weber procurou conhecer a fundo ceito que explica essa inversão da realida-
a essência do capitalismo moderno. Ao con- de (por conseguinte, da consciência) e, em
trário de Marx, não considerava o capitalismo razão dela, da relação do sujeito (seres hu-
um sistema injusto, irracional e anárquico. manos) com aquilo que, objetiva e subjetiva-
Para ele, as instituições produzidas pelo capi- mente, ele produz.
talismo, como a grande empresa, constituíam Com referência às ideias de Marx, responda
clara demonstração de uma organização ra- aos itens a seguir.
cional que desenvolvia suas atividades dentro a) Qual é esse conceito?
de um padrão de precisão e eficiência. b) O que significa inverter a relação sujeito-
(MARTINS, Carlos Benedito. O que é Sociologia? São Paulo: -objeto? Explique como isso se manifesta na
Brasiliense, 2011, p. 69 e 72. Coleção Primeiros Passos.) religião.

81
5. (UEL 2017) Max Weber é considerado pio- A partir do texto, responda: Para Marx, qual
neiro em definir o Estado por duas caracte- a relação entre sistema político e sistema
rísticas fundamentais. A primeira é o mo- econômico?
nopólio legítimo do uso da força física. A
segunda reside no fato de que tal monopólio 8. (UEL) Considere os trechos a seguir.
é restrito a determinado território. O contro-
le das fronteiras, incluindo a permissão de A classe operária não pode apossar-se sim-
plesmente da maquinaria de Estado já pron-
quem pode adentrar e permanecer em seu
ta e fazê-la funcionar para os seus próprios
território segundo aquelas características,
objetivos.
seria prerrogativa do Estado. É necessário
MARX, Karl. A revolução antes da revolução. São
lembrar, entretanto, que o conceito de Esta- Paulo: Expressão Popular, 2008, p. 399.
do elaborado por Weber é um tipo ideal.
Com base nessas informações e nos aconte- Também do ponto de vista histórico, contudo,
cimentos da recente “crise migratória na Eu- o “progresso” a caminho do Estado regido e
ropa”, cujo fluxo de refugiados exemplifica administrado segundo um direito burocrático
alterações significativas dos papéis atribuí- e racional e regras pensadas racionalmente,
dos ao Estado moderno, cite e explique um atualmente, está intimamente ligado ao mo-
fato que se afasta do tipo ideal de Estado derno desenvolvimento capitalista.
definido por Weber, apontando para algumas WEBER, Max. Parlamento e governo na Alemanha
configurações recentes das ações ou reações reordenada: crítica política do funcionalismo e da
natureza dos partidos. Petrópolis: Vozes, 1993, p. 43.
dos Estados nacionais.
Com base nos trechos, compare as concep-
6. (UEL) Émile Durkheim considera o fato so- ções clássicas de Estado formuladas nas
cial o objeto de estudo da Sociologia e pro- obras de Karl Marx e Max Weber.
põe regras para explicá-lo. Duas dessas re-
gras são formuladas da seguinte maneira: 9. (UFPR) Descreva dois dos principais aconte-
I. A causa determinante de um fato social cimentos históricos que favoreceram o surgi-
deve ser buscada entre os fatos sociais mento da sociologia na Europa do século XIX.
anteriores, e não entre os estados de
consciência individual.
1
0. (Unesp) Leia os textos.
II. A função de um fato social deve ser sem-
pre buscada na relação que mantém com TEXTO 1
algum fim social. Ora, a propriedade privada atual, a proprie-
DURKHEIM, E. As regras do método sociológico. dade burguesa, é a última e mais perfeita
5. ed. São Paulo: Editora Nacional, 1968. p. 102.
expressão do modo de produção e de apro-
Com base nas regras I e II e nos conhecimen- priação baseado nos antagonismos de clas-
tos sobre o fato social, explique como se dá ses, na exploração de uns pelos outros. Neste
a relação entre indivíduo e sociedade para sentido, os comunistas podem resumir sua
Durkheim. Exemplifique essa relação. teoria nesta fórmula única: a abolição da
propriedade privada. (…)
A ação comum do proletariado, pelo menos
7. Cada um desses estágios do desenvolvimento
nos países civilizados, é uma das primeiras
da burguesia se fez acompanhar do correspon-
condições para sua emancipação. Suprimi a
dente progresso político. Estamento oprimido
exploração do homem pelo homem e tereis
sob a dominação dos senhores feudais, asso-
suprimido a exploração de uma nação por
ciação armada e autogovernante na comuna,
outra. Quando os antagonismos de classes,
ora república municipal independente, ora
no interior das nações, tiverem desapareci-
terceiro estamento tributável da monarquia;
do, desaparecerá a hostilidade entre as pró-
depois, à época da manufatura, contrapeso
prias nações.
para a nobreza na monarquia estamental ou
Marx e Engels. Manifesto comunista. 1848.
na absoluta, fundamento central de todas as
grandes monarquias – a burguesia por fim Texto 2
conquistou para si, desde o estabelecimento
da grande indústria e do mercado mundial, Os comunistas acreditam ter descoberto o ca-
a exclusiva dominação política no moderno minho para nos livrar de nossos males. Se-
Estado representativo. O moderno poder esta- gundo eles, o homem é inteiramente bom e
tal é apenas uma comissão que administra os bem disposto para com seu próximo, mas a
negócios comuns de toda a classe burguesa. instituição da propriedade privada corrom-
peu-lhe a natureza. (…) Se a propriedade
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. O manifesto do
Partido Comunista. São Paulo: Penguin Classics/ privada fosse abolida, possuída em comum
Companhia das Letras, 2012, p. 46. toda a riqueza e permitida a todos a partilha

82
de sua fruição, a má vontade e a hostilidade desapareceriam entre os homens. (…) Mas sou capaz de
reconhecer que as premissas psicológicas em que o sistema se baseia são uma ilusão insustentável.
(…) A agressividade não foi criada pela propriedade. (…) Certamente (…) existirá uma objeção
muito óbvia a ser feita: a de que a natureza, por dotar os indivíduos com atributos físicos e capaci-
dades mentais extremamente desiguais, introduziu injustiças contra as quais não há remédio.
Sigmund Freud. Mal-estar na civilização. 1930. Adaptado.

Qual a diferença que os dois textos estabelecem sobre a relação entre a propriedade privada e
as tendências de hostilidade e agressividade entre os homens e as nações? Explicite, também, a
diferença entre os métodos ou pontos de vista empregados pelos autores dos textos para analisar
a realidade.

U.T.I. - E.O.
1. Em seu estudo sobre o suicídio, Émile 5. (UEL) A análise do tema modernidade, por
Durkheim procurou chamar a atenção para a pensadores clássicos da Sociologia, está pre-
dimensão sociológica deste fato. Assim, “con- sente também em autores contemporâneos,
siderando que o suicídio é um ato da pessoa e atentos às condições da sociedade atual. No
que só a ela atinge, tudo indica que deva de- século XIX, Karl Marx, em seu livro O mani-
pender exclusivamente de fatores individuais festo comunista, de 1848, refere-se à socie-
e que sua explicação, por conseguinte, caiba dade burguesa de seu tempo como formação
tão somente à psicologia. De fato, não é pelo social em que tudo o que era sólido desman-
temperamento do suicida, por seu caráter, cha no ar, tudo que era sagrado é profanado,
por seus antecedentes, pelos fatores de sua e as pessoas são finalmente forçadas a enca-
história privada que em geral se explica a sua rar com serenidade sua posição social e suas
decisão.[...]”. E complementa: “o suicídio va- relações recíprocas.
ria na razão inversa do grau de integração dos MARX, K.; ENGELS, F. O Manifesto Comunista. In:
COUTINHO, C.N. et al. O Manifesto Comunista: 150 anos
grupos sociais de que faz parte o indivíduo.” depois. Rio de Janeiro: Contraponto, 1998. p. 11.
O suicídio. Estudo de Sociologia.
São Paulo: Martins Fontes, 2000. Zigmunt Bauman, em Confiança e medo na
cidade, afirma que se, entre as condições da
a) Explique os tipos de suicídio definidos por modernidade sólida, a desventura mais te-
Durkheim. mida era a incapacidade de se conformar,
b) Discorra a respeito da relação estabelecida agora – depois da reviravolta da moderni-
por Durkheim entre os tipos de suicídio e os dade “líquida” – o espectro mais assustador
tipos de solidariedade por ele definidos. é o da inadequação. Temor bem justificado
quando consideramos a enorme despropor-
2. Qual o princípio da lei dos três Estados na ção entre a quantidade e a qualidade de re-
teoria de Auguste Comte? cursos exigidos por uma produção efetiva de
segurança do tipo “faça você mesmo”.
3. Segundo Augusto Comte, a sociedade huma- Adaptado de: BAUMAN, Z. Confiança e medo na cidade.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009. p. 21-22.
na deve passar por três estados: o teológico,
o metafísico e, por último, o positivo. É nes- Com base nesses trechos e nos conhecimen-
se último estado que, para Comte, a Sociolo- tos sobre modernidade, apresente:
gia se torna tão importante. a) uma característica particular para Marx e
a) Qual a razão dessa importância? uma para Bauman;
b) Esse tipo de argumento continua sendo vá- b) duas características comuns para ambos os
lido? autores.

4. Explique qual a importância do conceito de 6. (UFU) Para Weber, a Sociologia é uma ciên-
coerção segundo Émile Durkheim e o concei- cia que procura compreender a ação social; a
to de fato social. compreensão implica a percepção do sentido
que o ator atribui à sua conduta.
ARON, R. As etapas do pensamento sociológico.
São Paulo: Martins Fontes, 1993. p. 465.

83
Em vista do exposto, faça o que se pede. a) Considerando o texto 1, explique o que sig-
a) Defina o que é ação social para Weber. nifica “eurocentrismo” e por que o conceito
b) Caracterize os quatro tipos puros de ação so- de progresso pressuposto pelo positivismo é
cial para Weber. eurocêntrico.
b) Por que o método empregado pelo autor do
7. (UFF) Escrito em 1880, o livro de Friederich texto 2 é considerado relativista? Como sua
Engels, Do Socialismo Utópico ao Socialismo concepção de progresso se opõe ao conceito
Científico, buscou discutir os limites do cha- de progresso positivista?
mado Socialismo Utópico. Os filósofos do So-
cialismo Utópico acreditavam que a partir da
compreensão e da boa vontade da burguesia 9. (UFPR) Leia com atenção o fragmento abaixo.
se poderia transformar a sociedade capita- Segundo a citação de Maia e Pereira (2009,
lista, eliminando o individualismo, a com- p. 7-8), retirada do livro Pensando com a
petição, a propriedade individual e os lucros Sociologia, “em seu famoso livro sobre as
excessivos, todos responsáveis pela miséria formas de fazer sociologia, Wright Mills uti-
dos trabalhadores. Como alternativa àquela
lizou a expressão ‘imaginação sociológica’.
corrente, Engels e Marx propunham o Socia-
lismo Científico. [...] essa imaginação poderia ser aprendida
Com base nessa informação: e exercida por qualquer pessoa educada que
a) caracterize a alternativa proposta por Engels se mostrasse curiosa a respeito das relações
e Marx – o Socialismo Científico – em relação entre biografia e história. Ou seja, a sociolo-
ao papel dos trabalhadores na transformação gia não seria simplesmente uma disciplina
da sociedade. acadêmica ou uma ciência ultrassofisticada,
mas uma forma de argumento público capaz
b) mencione uma proposta levada a efeito pe-
de revelar as conexões entre as transforma-
los socialistas utópicos.
ções na vida cotidiana e os processos mais
8. (Unesp) TEXTO 1 amplos de mudança histórica”. Nas palavras
de Wright Mills: “A ‘imaginação sociológica’
O positivismo representa amplo movimento é um ato que permite ir além das experiên-
de pensamento que dominou grande parte cias e das observações pessoais para compre-
da cultura europeia, no período de 1840 ender temas públicos de maior amplitude.
até às vésperas da Primeira Guerra Mun- O divórcio, por exemplo, é um fato pessoal
dial. Nesse contexto, a Europa consumou sua inquestionavelmente difícil para o marido
transformação industrial, e os efeitos dessa e para a esposa que se separam, bem como
revolução sobre a vida social foram maciços: para os filhos. Entretanto, o uso da ‘imagi-
o emprego das descobertas científicas trans- nação sociológica’ permite compreender o
formou todo o modo de produção. Em pou- divórcio não apenas como problema pessoal
cas palavras, a Revolução Industrial mudou individual, mas também como uma preocu-
radicalmente o modo de vida na Europa. E pação social. O aumento da taxa de divórcio
os entusiasmos se cristalizaram em torno da redefine uma instituição fundamental – a
ideia de progresso humano e social irrefre- família”. Cabe salientar que a ‘imaginação
ável, já que, de agora em diante, possuíam- sociológica’ não consistiria simplesmente
-se os instrumentos para a solução de todos em aumentar o grau de informação das pes-
os problemas. A ciência pelos positivistas soas, mas numa “[...] qualidade de espíri-
apresentava-se como a garantia absoluta do to que lhes ajude a usar a informação e a
destino progressista da humanidade. desenvolver a razão, a fim de perceber, com
Giovanni Reale; Dario Antiseri. lucidez, o que está ocorrendo no mundo e
História da filosofia. 1991. Adaptado. o que pode estar acontecendo dentro deles
mesmos” (MILLS, 1969, p. 11). A imagina-
TEXTO 2 ção sociológica é uma forma crítica de pen-
O “progresso” não é nem necessário nem con- sar em sociologia, que nos permite conectar
tínuo. A humanidade em progresso nunca se a nossa experiência vivida (e a experiência
assemelha a uma pessoa que sobe uma esca- vivida dos outros) no contexto mais amplo
da, acrescentando para cada um dos seus mo- das instituições sociológicas em que ocor-
vimentos um novo degrau a todos aqueles já re. A utilização da ‘imaginação sociológica’
anteriormente conquistados. Nenhuma fração se fundamenta na necessidade de conhecer
da humanidade dispõe de fórmulas aplicáveis o sentido social e histórico do indivíduo na
ao conjunto. Uma humanidade confundida sociedade e no período no qual sua situação
num gênero de vida único é inconcebível, e seu ser se manifestam. Mills também su-
pois seria uma humanidade petrificada. gere que “por meio da ‘imaginação socioló-
Claude Lévi-Strauss. A noção de estrutura gica’ os homens podem perceber o que está
em etnologia. 1985. Adaptado. acontecendo no mundo e compreender o que

84
acontece com eles, como minúsculos pontos
de cruzamento da biografia e da história, na
sociedade” (MILLS, 1969, p. 14).
MAIA, João Marcelo Ehlert; PEREIRA, Luís
Fernando Almeida. Pensando com a Sociologia.
Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009.

No fragmento de texto acima, o autor usa o


divórcio para exemplificar de que forma as
experiências individuais se conectam com
as transformações sociais mais amplas. Com
base nos conhecimentos sociológicos, carac-
terize a “imaginação sociológica”, discorren-
do sobre os aspectos relevantes dessa pers-
pectiva apontados no texto-base, e mencione
e explique outro fato social para exemplifi-
car o raciocínio da “imaginação sociológica”.

1
0. (UFU) Considere a seguinte citação.
É evidente que, tecnicamente, o grande Es-
tado moderno é absolutamente dependente
de uma base burocrática. Quanto maior é o
Estado e principalmente quanto mais é, ou
tende a ser, uma grande potência, tanto
mais incondicionalmente isso ocorre.
WEBER, Max. Ensaios de Sociologia. 5. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 1982, p. 246.

a) De acordo com a Sociologia de Max Weber, ex-


plique a diferença entre poder e dominação.
b) Cite os três tipos puros de dominação legíti-
ma e explique cada um deles.

85
0 1 Geografia 1

U.T.I.

C H
GEOGRAFIA
Movimentos da Terra e coordenadas
geográficas

Movimentos do Planeta
Rotação
Rotação é o movimento em que a Terra gira em torno de seu próprio eixo. Esse movimento acontece no
sentido anti-horário e dura exatamente 23 horas 56 minutos 4 segundos, para ser concluído, sendo o responsável
pelos dia e noites, pelas correntes marinhas e pela circulação atmosférica.
Sem o movimento da rotação não haveria vida na Terra, já que este movimento desempenha um papel
fundamental no equilíbrio de temperatura e composição química da atmosfera.
O movimento de rotação da Terra ocorre de oeste para leste, ou seja, a porção Leste vê o nascer do sol
primeiro que o Oeste. Como exemplo podemos citar o Brasil e o Japão, entre esses países a diferença de fusos
horários é exatamente 12 horas.

Translação
O movimento de translação é aquele que o planeta Terra realiza ao redor do Sol junto com os outros plane-
tas. O tempo necessário para completar uma volta ao redor do Sol é de 365 dias, 5 horas e cerca de 48 minutos e
ocorre numa velocidade média de 107.000 km por hora.
O tempo que a planeta leva para dar uma volta completa ao redor do Sol é chamado "ano". O ano civil,
aceito por convenção, tem 365 dias. Como o ano sideral, ou o tempo concreto do movimento de translação, é de
365 dias e 6 horas, a cada quatro anos temos um ano de 366 dias, dia este que é acrescido ao nosso calendário
no mês de fevereiro e que recebe o nome de ano bissexto.
O movimento de translação é o responsável pelas quatro estações do ano: verão, outono, inverno e prima-
vera, que ocorrem em razão das diferentes localizações da Terra no espaço.

Afélio e periélio
§§ Afélio: momento em que a Terra está mais afastada do sol.
§§ Periélio: momento em que a Terra está mais perto do sol.

Influência das estações do ano


1. Solstício: período do ano em que os raios solares incidem perpendicularmente nos trópicos.
Desenvolve as estações de verão e inverno, quando ocorre maior diferença em relação à duração da
luminosidade do dia e da noite.
2. Equinócio: período em que os raios do Sol incidem perpendicularmente sobre o Equador.
Nessa fase, podemos ter as estações intermediárias, outono e inverno, nas quais o dia e a noite apresen-
tam a mesma duração.

89
Coordenadas geográficas
Linhas imaginárias (paralelos e meridianos) que dividem o Planeta com o objetivo de melhor precisar a
localização.
1. Meridianos: linhas verticais que ligam o norte e o sul do Planeta.
O meridiano principal chama-se Greenwich, que divide a Terra em leste e oeste.
Com o espaço do meridiano principal, em relação a outro qualquer, temos a longitude.
2. Paralelos: linhas horizontais que circundam o Planeta.
O paralelo principal se chama Equador, que divide a Terra em norte e sul.

MERIDIANOS PARALELOS
antimeridiano Polo norte 90º N Latitudes
180º
de Greenwich norte


Greenwich

Equador

© César da Mata/Schäffer Editorial


Latitudes
0º sul
Longitudes Longitudes
oeste leste

Zonas de iluminação
Para regionalizar as áreas similares quanto ao recebimento de luz solar, o globo terrestre foi classificado em
três principais zonas de iluminação: zona tropical ou intertropical, zona temperada, dividido em norte-sul e zona
polar, também com divisão Norte -Sul.
§§ Zonas Polares: os raios solares atingem a superfície terrestre de maneira bastante inclinada, portanto, as
temperaturas são as mais baixas da Terra.
§§ Zonas temperadas: os raios incidem à superfície de forma relativamente inclinada em relação à zona
intertropical, desse modo as temperaturas são mais amenas.
§§ Zona tropical: áreas que recebem luz solar de forma praticamente vertical em sua superfície, o fato produz
regiões com temperaturas elevadas, conhecida como zona tórrida do planeta.

Círculo polar
Ártico 4. Zona polar do 66º33'
Norte

Trópico de 2. Zona temperada do Norte 23º27'


Câncer
© César da Mata/Schäffer Editorial

1. Zona tropical
Equador 0º

Trópico de 23º27'
Capricórnio 3. Zona temperada do Sul

5. Zona polar do
Círculo polar Sul 66º33'
Antártico
90
Fuso horário e noções de cartografia
Fuso horário
Os fusos horários geralmente estão centrados nos meridianos das longitudes que são múltiplos de 15°;
no entanto, as formas dos fusos horários podem ser bastante irregulares devido às fronteiras nacionais dos vários
países ou devido à questões políticas (caso da China, que poderia abranger algo como 4 fusos horários, mas obriga
todo o país a utilizar o horário de Pequim com evidentes distorções no oeste chinês, onde quando não é inverno o
sol nasce por volta das nove horas da manhã).
Todos os fusos horários são definidos em relação ao Tempo Universal Coordenado (UTC), o fuso horário que
contém Londres quando esta cidade não está no horário de verão, onde se localiza o meridiano de Greenwich, o
qual divide o fuso horário.

-12 -11 -10 -9 -8 -7 -6 -5 -4 -3 -2 -1 0 +1 +2 +3 +4 +5 +6 +7 +8 +9 +10 +11 +12


90° 90°

Círculo Polar Ártico


Reykjavik
60° 60°
Moscou
Is.Aleutas
Vancouver Londres
Berlim
Ottawa Paris Astana

Madrid Bucareste
Nova Iorque Beijing Seul
Açores Argel
Washington
Los Angeles Is. Madeira Trípole Teerã Tóquio
30° Cairo 30°
Trópico de Câncer
Is. Canárias Riad Nova
Délhi
Hong Kong
Is.Havaí Cidade do
México Cabo Verde Dacar Manila
Niamei
Georgetown Adis Abeba
Equador Bogotá
0° 0°
Nairóbi
Meridiano de Greenwich (GMT)

Is.Galápagos
Is.Maldivas
Luanda Jacarta

Lima Is.Fiji
Brasília
Trópico de Capricórnio
Is.Tonga
Is.Pitcairn Maputo
30° 30°
Cidade Sydney
Buenos Aires do Cabo
Melbourne

Is. Malvinas

60° 60°
Círculo Polar Antártico

90° 70 0 140km

180° 120° 60° 0° 60° 120° 180° PROJEÇÃO DE ROBINSON

Horário f racionado Linha internacional de data

Fonte: Atlas Geográfico. 3. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1986. Adaptado.

Fuso horário no Brasil


§§ Primeiro fuso (UTC−2): Atol das Rocas, Fernando de Noronha, São Pedro e São Paulo, Trindade e Martim
Vaz.
§§ Segundo fuso – horário de Brasília (UTC−3): regiões Sul, Sudeste e Nordeste; estados de Goiás, To-
cantins, Pará e Amapá; e o Distrito Federal.
§§ Terceiro fuso (UTC−4): estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Roraima, e a parte do
Amazonas que fica a leste da linha que interliga Tabatinga e Porto Acre.
§§ Quarto fuso (UTC−5): estado do Acre e a porção do Amazonas que fica a oeste da linha.

91
Brasil: fuso horário

70° O VENEZUELA 60° O GUIA NA 50° O 40° O 30° O


FRA NCESA N
SURINA ME
COLÔMBIA
- 4:30 O L
horas RR GUIANA
OC S
AP EA
Linha do Equador NO

AT
L Â

N
TI
AM PA

CO
MA CE
RN
PB
PI
PE
AC AL
10° S TO 10° S
RO SE

MT BA
PERU

DF
GO

BOLIVIA MG
MS ES
20° S 20° S
PA RA GUA I
SP RJ
o
Capricórni
Trópico de

O
CHILE PR

IC
T
PACÍFICO

N
OCEANO

Â
SC
A TL
ARGENTINA RS O
N
A
E

Escala 1:40 000 000


30° S
C

400 200 0 400 km


30° S
O

URUGUA I
Projeção Policônica
70° O 60° O 50° O 40° O 30° O

- 5 horas - 4 horas - 3 horas -2 horas


Fonte : IBGE. Disponível em: <http://mapas.ibge.gov.br/politico-administrativo>. Acesso em: Nov. 2014

Cartografia
Ciência que tem por objetivo a representação gráfica da superfície terrestre, confeccionando um mapa.

1. Definições de mapas e cartas


Cadastrais: de 1:5.000 a 1:10.000;
Topográficos: de 1:25.000 a 1:250.000;
Geográficos: de 1:500.000 a 1:1.000.000.
2. Ferramentas importantes:
Orientação e rosa dos ventos;
Legenda: interpretação de símbolos.
3. Sensoriamento remoto: a técnica que se realiza através da separação física do sensor (câmera ou saté-
lite) e a área de estudo, com objetivo de mapeá-lo posteriormente.

92
Projeções
Arte ou efeito de representar as formas esféricas da Terra em um plano.
1. Projeção cilíndrica: paralelos e meridianos retos, formando ângulos de 90°.

© Pearson Prentice Hall, Inc.


Projeção cilíndrica de Mercator: conformante – mantém a forma dos continentes, mas distorce a área.
© César da Mata/Schäffer Editorial

Projeção cilíndrica de Peters: equivalente – mantém a área, porém modifica a forma.


© César da Mata/Schäffer Editorial

93
2. Projeção cônica: paralelos círculos concêntricos; os meridianos são retas convergentes.

© César da Mata/Schäffer Editorial


3. Projeção azimutal (plana ou polar): plano tangente sobre qualquer plano da esfera terrestre; se locali-
zada em um dos polos, os meridianos serão retas convergentes no centro e os meridianos círculos concên-
tricos.

© César da Mata/Schäffer Editorial

Equador

Eq
ua
do
r

Escalas
Relação do tamanho real de uma área e sua diminuição para que possa ser representada em um plano.
§§ Escala gráfica: é uma linha reta graduada, na qual se indica a relação da distância real com as distâncias
representadas no mapa. Por exemplo: 1 cm = 100 km.
§§ Escala numérica: representada por uma fração, na qual o numerador indica a distância no mapa, e o
denominador indica a distância na superfície real.
Uma escala 1:100 000 (um por cem mil) significa que a superfície representada foi reduzida 100 mil vezes.
Nesse caso, 1 cm no mapa = 100 000 cm = 1 000 m = 1 km na realidade.

94
Elementos do clima e fatores climáticos
Diferença entre clima e tempo
§§ Tempo: é o estado da atmosfera em determinado momento e lugar;
§§ Clima: é a sucessão habitual de estados de tempos.

Atmosfera
A atmosfera é formada por camadas gasosas sobrepostas com, aproximadamente, 1000 km de altitude.

Aquecimento terrestre
Apenas 51% do total dos raios solares emitidos chegam à superfície terrestre, o restante é absorvido pela
atmosfera ou refletido pelas nuvens.

95
Elementos do Clima
Radiação solar
É a energia radiante emitida pelo Sol, em particular aquela que é transmitida sob a forma de radiação
eletromagnética.

Temperatura
A temperatura atmosférica da Terra é resultado das ondas electromagnéticas que vêm do Sol. A variação de
temperatura dependem de vários fatores, como o vento, a umidade do ar, a latitude, o ângulo de incidência do raio
solar na superfície terrestre, etc. A temperatura revelada em registros meteorológicos é medida por termômetros
que não estão expostos diretamente aos raios solares. Essa é conhecida como temperatura na sombra.

Umidade
É a presença de vapor d’água existente no ar (umidade absoluta). Umidade relativa é a relação entre a
quantidade de vapor d’água presente no ar e a quantidade máxima que poderia haver numa mesma temperatura
(saturação).

Pressão atmosférica
É a força exercida pelo ar em um determinado ponto da superfície. Está intimamente ligada à umidade do
ar, temperatura, altitude e latitude.

Velocidade e direção do vento


Consiste na circulação atmosférica.

Precipitação
Fenômeno relacionado à queda de água do céu, em forma de chuva, neve ou granizo.

Tipos de chuva
§§ Chuvas convectivas

Fonte: Jean-François Beaux. L'environnement; repêres pratiques. Paris. Nathan, 1998

96
§§ Chuvas frontais

§§ Chuvas orográficas

Fonte: Jean-François Beaux. L'environnement; repêres pratiques. Paris. Nathan, 1998

Fatores climáticos
§§ Latitude
§§ Continentalidade/Maritimidade
§§ Relevo
§§ Vegetação
§§ Correntes marítimas
§§ Altitudes

Massas de ar
São partes da atmosfera (grandes bolsões de ar) que se formam em regiões de relativa homogeneidade e
estão em constante movimento, carregando as características de temperatura e umidade de sua região de origem.
Deslocam-se de regiões de alta pressão para regiões de baixa pressão.
§§ Frentes frias: encontro de duas massas de ar, ambas frias, ou uma fria e uma quente.
§§ Frentes quentes: encontro de duas massas de ar, ambas quentes, ou uma quente e outra fria.

97
Ventos alísios La Niña
É o resultado da ascensão de massas de ar que con- É o resfriamento maior que o normal das águas
vergem de zonas de alta pressão (anticiclônicas), nos do Pacífico, ocorre ao fim do fenômeno El Niño.
trópicos, para zonas de baixa pressão (ciclônicas), no
Equador, a chamada ZCIT (Zona de Convergência Inter- Climas do Planeta
tropical), formando um ciclo.
§§ Clima equatorial

Fenômenos atmosféricos
devastadores §§ Clima tropical
§§ Ciclones
São fortes ventos carregados de umidade, com
velocidade superior a 200 km/h. Ciclones tropi-
cais ocorrem em regiões de baixa latitude e ci-
clones extratropicais formam-se em regiões de
elevadas latitudes. Quando acontece no oceano
Pacífico ou no Índico, recebe o nome de tufão;
quando se formam no oceano Atlântico, recebem
o nome de furacão.
§§ Tornados
Provocados pelo forte deslocamento de vento
em forma circular, com velocidade superior a
500 km/h.

El Niño
É o aquecimento superficial das águas do ocea-
no Pacífico, como consequência do enfraqueci-
mentos dos ventos alísios.

98
§§ Clima desértico §§ Clima temperado oceânico

§§ Clima mediterrâneo §§ Clima subpolar

§§ Clima temperado continental §§ Clima polar

99
Climas do Brasil
Massas de ar que atuam no Brasil

Fonte: educação.globo.com/geografia
Atuação das massas de ar no Brasil – Inverno e verão

§§ Massa Equatorial Continental (mEc): quente e úmida;


§§ Massa Equatorial Atlântica (mEa): quente e úmida;
§§ Massa Tropical Continental (mTc): quente e seca;
§§ Massa Tropical Atlântica (mTa): quente e úmida;
§§ Massa Polar Atlântica (mPa): fria e úmida.

Climas brasileiros

Fonte: <profwladimir.blogspot.com.br/2012/09/
mapas-Brasil-clima.html>. (Adaptado)
Fonte: <profwladimir.blogspot.com.br/2012/09/
mapas-Brasil-clima.html>. (Adaptado)

100
Fonte: <profwladimir.blogspot.com.br/2012/09/mapas-Brasil-cli-
Fonte: <profwladimir.blogspot.com.br/2012/09/ ma.html>. (Adaptado)
mapas-Brasil-clima.html>. (Adaptado)

Fonte: <profwladimir.blogspot.com.br/2012/09/
mapas-Brasil-clima.html>. (Adaptado)
Fonte: <profwladimir.blogspot.com.br/2012/09/
mapas-Brasil-clima.html>. (Adaptado)

101
Geomorfologia do Brasil
As variadas formas de relevo encontradas na superfície resultam da ação de forças endógenas (internas),
como o vulcanismo, o tectonismo e os abalos sísmicos, responsáveis pela gênese do relevo, e/ou de forças exóge-
nas (externas), como a ação da temperatura, chuva, vento, águas correntes, geleiras, seres vivos e antropogênicas,
responsáveis pela esculturação do relevo.

Classificações do Relevo
§§ Aroldo de Azevedo: critério altimétrico

§§ Aziz Ab'Saber: critério altimétrico e geomorfológico (erosão/sedimentação)

102
§§ Jurandyr Ross: critério altimétrico, geológico e estrutural

Planaltos em:
OCEANO Bacias sedimentares
ATLÂNTICO 1 - Planalto da Amazônia Oriental
2 - Planaltos e Chapadas da Bacia do Parnaíba
3 - Planaltos e Chapadas da Bacia do Paraná

Intrusões e coberturas residuais de plataforma


4 - Planalto e Chapada dos Perecis
5 - Planaltos Residuais Norte-Amazônicos
6 - Planaltos Residuais Sul-Amazônicos

Cinturões orogênicos
7 - Planaltos e Serras do Atlântico Leste-Sudeste
8 - Planaltos e Serras de Goiás-Minas
9 - Planaltos residuais do Alto Paraguai

Núcleos cristalinos arqueados


10 - Planalto da Borborema
11 - Planalto Sul-Rio-Grandense

Depressões
12 - Depressão da Amazônia Ocidental
13 - Depressão Marginal Norte-Amazônia
14 - Depressão Marginal Sul-Amazônia
15 - Depressão do Araguaia
16 - Depressão Cuiabana
17 - Depressão do Alto Paraguai-Guaporé
18 - Depressão do Miranda
19 - Depressão Sertaneja e do São Francisco
20 - Depressão do Tocantins
21 - Depressão Periférica da Borda Leste da
OCEANO Bacia do Paraná
22 - Depressão Periférica Sul-Rio-Grandense
ATLÂNTICO
Planícies
N 23 - Planície do Rio Amazonas
24 - Planície do Rio Araguaia
25 - Planície e Pantanal do Rio Guaporé
0 450 km
26 - Planície e Pantanal Mato-Grossense
27 - Planície da Lagoa dos Patos e Mirim
28 - Planícies e Tabuleiros Litorâneos

Formas de relevo
Planaltos
Relevo acima de 300 metros, onde o processo erosivo é predominante. Subdividem-se em:
1. Planaltos em bacias sedimentares
2. Planaltos em intrusões e coberturas residuais de plataformas
3. Planaltos em núcleos cristalinos arqueados
4. Planaltos em cinturões orogênicos

Planícies
Relevos abaixo de 100 metros, onde o processo sedimentar é predominante. Algumas delas:
1. Planície litorânea
2. Planície fluvial
3. Planície lacustre

Depressões
Superfície mais plana que os planaltos e mais baixas do que as áreas do entorno, onde o processo erosivo é
predominante. Essas formas de relevo se apresentam no território brasileiro da seguinte forma:
1. Depressão periférica
2. Depressão marginal
3. Depressão interplanáltica
Todas as depressões no Brasil são relativas (acima do nível do mar)

103
Hidrologia e bacias hidrográficas
Ciclo hidrológico
§§ evaporação;
§§ precipitação;
§§ infiltração;
§§ escoamento.
Vapor transportado para
terra firme

Precipitação
Transpiração

Evaporação
Percolação Precipitação
Evaporação

Lago

Rio
Terra
Oceano

Fluxo subterrâneo

Mares e oceanos
§§ 71% do planeta é composto por águas oceânicas;
§§ Oceano Pacífico, Atlântico, Índico e Glacial Ártico;
§§ Oceanos regulam o mecanismo climático;
§§ Mares abertos: ligados diretamente aos oceanos;
§§ Mares continentais ou interiores: ligados restritamente;
§§ Mares fechados: sem ligação com o oceano.

104
Ondas e marés
§§ Ondas são movimentos de massas de água provocados pelo vento;
§§ Maré é o movimento diário das águas que avançam e recuam, resultado de forças gravitacionais que o Sol
e a Lua exercem sobre a Terra.
LUA NOVA
maré lunar
LUA

SOL
Maré Viva
Lua em sigízia
(Sol e Lua em conjunção) maré solar
QUARTO LUA
CRESCENTE

maré lunar

SOL
Maré Morta
Lua em quadratura maré sonar

LUA CHEIA
maré lunar
LUA

SOL
Maré Viva
Lua em sigízia
(Sol e Lua em oposição) maré sonar
QUARTO maré lunar
MINGUANTE

SOL
maré solar

Maré Morta
Lua em quadratura LUA

Correntes marítimas
§§ Massas menores de água que se deslocam em várias direções, mantendo suas características de cor, salini-
dade e temperatura;
§§ Proveniente dos ventos e do movimento de rotação da Terra;
§§ HN: seguem no sentido horário;
§§ HS: seguem no sentido anti-horário.

Correntes marítimas – temperatura e direção

105
Degradação e poluição marinha Lugares referenciais de um rio
§§ Jusante: para onde a água corre (dependendo do
Causas ponto de referência);
§§ Montante: de onde a água vem (dependendo do
§§ Poluição dos rios; ponto de referência);
§§ Esgotos domésticos e industriais;
§§ Deposição de resíduos radioativos; Diferencia entra rede e
§§ Vazamento de óleo (maré negra); bacia hidrofitográfica
§§ Descarga de lama de drenagem.
§§ Rede hidrográfica: é o conjunto formado por um
rio principal e seus afluentes e subafluentes, mas
Prejuízos não abrangem a área territorial por onde os rios
correm;
§§ Desequilíbrio ecológico que causa a mortandade §§ Bacia hidrográfica ou de drenagem :corresponde
de organismos e animais marinhos; à rede hidrográfica e sua área de capitação de
§§ Contaminação de peixes e outros animais que água.
serão consumidos por pessoas;
§§ Morte de pássaros que se alimentam de peixes;
Tipos de drenagem
§§ Litorais impróprios para o banho;
§§ Degradação de regiões de mangues. §§ Exorreica;
§§ Endorreica;

Águas continentais §§
§§
Arreica;
Criptorreica;

Origem dos rios Modelagem do relevo


§§ Pluvial; §§ Ciclo de erosão fluvial: erosão, transporte e se-
§§ Glacial; dimentação.
§§ Lacustre;

Tipos de Foz
Lagos
§§ Formados por depressões ou falhas preenchidas
1. estuário por água de origem glacial.
2. delta
3. mista
Poluição das águas
§§ Expansão das atividades industriais;
§§ Crescimento das cidades;
§§ Diminuição das fontes de água potável;
§§ Atividades mineradoras.

Foz em estuário e foz em delta

106
Bacias hidrográficas brasileiras

Bacia amazônica
§§ O rio principal nasce nos Andes (terrenos cristalinos);
§§ 20 mil km de rios navegáveis, propícios ao desenvolvimento do transporte hidroviário, como o rio Madeira,
Xingu, Tapajós, Negro, Trombetas e Jari;
§§ A hidrovia rio Madeira opera de Porto Velho a Itacoatiara e transporta a maior parte da produção de grãos
e de minérios da região;
§§ Principais hidrelétricas: Belo Monte, Jirau e Santo Antonio.

Bacia do São Francisco


§§ Nasce na Serra da Canastra (MG), corta o Sertão da Bahia e deságua no Oceano Atlântico;
§§ Plenamente navegável até Petrolina;
§§ Usinas hidrelétricas de grande porte: Paulo Afonso, Sobradinho, e Itaparica;
§§ Transposição do São Francisco.

Bacia do Tocantins-Araguaia
§§ O rio Tocantins nasce em Goiás e desemboca na foz do rio Amazonas. Seu potencial hidrelétrico é aprovei-
tado pela usina de Tucuruí (PA);
§§ O rio Araguaia nasce na Serra das Araras (MT) e desemboca no rio Tocantins;
§§ A construção da hidrovia Tocantins-Araguaia foi bastante questionada em razão dos impactos ambientais.

Bacia do Prata
§§ O rio do Prata é formado pelas bacias dos rios Paraguai, Paraná e Uruguai.

1. Bacia do Paraná: maior potencial hidrelétrico instalado do país, que garante o abastecimento de ener-
gia para a região Sudeste;
2. Bacia do Paraguai: amplamente navegável;
3. Bacia do Uruguai: pouco aproveitada para navegação e geração de energia pois exige muitos acordos
internacionais para a realização de projetos.

107
Bacias secundárias
§§ Paranaíba;
§§ Paraíba do Sul;
§§ Atlântico Sul;
§§ Atlântico Leste.

As 12 Regiões
Hidrográficas Brasileiras
Amazonas
Tocantins-Araguaia
Atlântico NE Ocidental
Parnaíba
Atlântico NE Oriental
São Francisco
Atlântico Leste
Atlântico Sudeste
Paraná
Paraguai
Uruguai
Atlântico Sul

Fonte: ANA - Agência Nacional das Águas, 2005

Bacias hidrográficas do mundo Domínios


Rios da África morfoclimáticos
§§ Rio Nilo;
§§ Rio Congo.
Formações florestais
1. Domínio das terras baixas florestadas da
Rios da Europa Amazônia (Floresta Amazônica)
§§ clima quente e úmido;
§§ Rio Reno;
§§ relevo com predomínio de planícies;
§§ Rio Pó;
§§ Rio Volga; §§ floresta latifoliada (folhas largas);
§§ Rio Ródano. §§ ombrófila;
§§ higrófila;
§§ perene (sempre verde);
Rios da América do Norte §§ densa (de difícil penetração);
§§ heterogênea;
§§ Rio São Lourenço;
§§ Rio Colorado; §§ biodiversa;
§§ Rio Mackenzie; §§ solos pouco férteis (pouco húmus e muito lixi-
§§ Rio Yukon; viado);
§§ Rio Mississipi; §§ acelerado processo de devastação;
§§ Rio Missouri. §§ políticas de integração intensificaram os fluxos
migratórios.

108
2. Domínio dos mares de morros florestados
§§ clima quente e úmido;
§§ relevo com predomínio de planaltos;
§§ floresta latifoliada (folhas largas);
§§ ombrófila;
§§ higrófila;
§§ perene (sempre verde);
§§ densa (de difícil penetração);
§§ heterogênea;
§§ biodiversa;
§§ ficou reduzida a menos de 7% da cobertura original.

3. Domínio do planalto das araucárias


§§ clima frio e úmido;
§§ relevo planáltico;
§§ floresta subtropical aciculifoliada;
§§ aberta (de fácil penetração);
§§ homogênea;
§§ restam apenas pouco mais de 10% da mata original;
§§ solos férteis (terra roxa).

Formações arbustivas
1. Domínio das depressões interplanálticas do semi-árido do nordeste
§§ clima quente e seco;
§§ relevo com predomínio de depressões;
§§ vegetação xerófila e caducifólia;
§§ solos ricos em sais minerais e pobre em húmus;
§§ ocorrência de brejos em regiões mais úmidas;
§§ produção de frutas;
§§ rios intermitentes em sua maioria.

2. Domínio dos chapadões recobertos por cerrados e penetrados por mata galeria
§§ clima tropical (chuvas no verão e estiagem no inverno);
§§ relevo planáltico com chapadas;
§§ solos com baixa fertilidade (alta concentração de alumínio);
§§ 45% devastado em função da expansão agropecuária;
§§ nascentes de rios importantes como o São Francisco.

109
Formação herbácea
Domínio das Pradarias mistas do Rio Grande do Sul
§§ clima frio e úmido;
§§ terras baixas com colinas (cochilias)
§§ vegetação de gramíneas;
§§ imensa pastagem (favoreceu a pecuária de corte);
§§ rizicultura.

Formações complexas
§§ Pantanal.
§§ Mata dos Cocais.
§§ Manguezais.

Brasil: domínios morfoclimáticos

Fonte: cursinhopreenem.com.br/geografia

Amazônico
OCEANO
Cerrado
ATLÂNTICO
Mares de Morros
Caatinga
Araucárias
Pradarias
Faixas de transição
0 280 km

110
Biomas Problemas
Formações florestais: vegetação com árvores de ambientais no Brasil
grande porte.
§§ Floresta Amazônica.
§§ Mata Atlântica. Problemas urbanos
§§ Floresta de araucárias.
§§ Poluição atmosférica;
Formações arbustivas e herbáceas: constituída por §§ Efeito estufa;
arbustos dispersos e isolados por vegetação rasteira §§ Inversão térmica;
§§ Cerrado. §§ Chuva ácida;
§§ Caatinga. §§ Ilha de calor;
§§ Campos. §§ Carência de áreas verdes;
§§ Problemas no abastecimento de água e poluição
Formações complexas: ocorrem em áreas de tran- dos rios.
sição entre formações e apresentam características de
duas ou mais dessas formações
Problemas no espaço agrário
§§ Mata dos cocais.
§§ Pantanal. §§ Agrotóxicos;
§§ Mangue. §§ Poluição do solo;
§§ Perda de nutrientes;
Áreas protegidas no Brasil §§ Desertificação

Unidades de conservação
São espaços destinados à conservação de paisagens
naturais. Existem unidades de uso indireto, onde os re-
cursos não podem ser explorados. São elas: estação
ecológica, monumento natural, parque nacional,
refúgio de vida silvestre e reserva biológica.
Outra categoria é a unidade de uso sustentá-
vel (como a reservas extrativista), onde é permitido o
uso racional dos recursos naturais. São elas: área de
proteção ambiental, área de relevante interesse
ecológico, floresta nacional, reserva de desen-
volvimento sustentável, reserva de fauna, reser-
va extrativista e reserva particular do patrimô-
nio natural.

111
U.T.I. – Sala
1. Defina solstício e equinócio? Como esses fenômenos relacionam-se na dinâmica climática?

2. Compare as projeções cilíndricas de Mercator e de Peters com o contexto histórico que foram cria-
das e destaque as suas respectivas distorções.

3. Explique qual a diferença entre tempo e clima e quais são os principais fatores modificadores do
clima.

4. Defina o que são domínios morfoclimáticos e bioma. Cite três domínios existentes no Brasil, bem
como suas particularidades, definindo também as áreas de transição entra um domínio e outro.

5. Explique como se dá a origem dos rios e como acontece o trabalho de modelagem do relevo à partir
deles.

6. (UFRJ) As “ilhas de calor”


As imagens de satélite constituem hoje um instrumento essencial ao conhecimento das mudanças
ambientais que ocorrem na superfície da Terra.
As figuras a seguir são da cidade de Atlanta (EUA) e foram feitas pela NASA em 2000.

A partir da observação das figuras, aponte dois fatores responsáveis pela formação de “ilhas de
calor” em áreas urbanas.

7. (UEG) Historicamente, os rios tiveram um papel importante na formação de centros urbanos, tanto
pelo abastecimento de água como por ser um meio de transporte que favorecia as trocas de merca-
dorias, sobretudo de produtos agrícolas.
Entretanto, ao longo do tempo, os rios passaram a ser utilizados como rede de esgoto. Discorra
sobre dois problemas socioambientais decorrentes do uso inadequado dos recursos hídricos em
áreas urbanas no Brasil.

112
8. Cerca de 95% do mercado nacional de gesso é abastecido pelos depósitos de gipsita existentes na
bacia do Araripe, no sertão nordestino. No Brasil, o processo de produção de gesso consome grande
quantidade de energia proveniente da queima da lenha e do carvão vegetal, extraído do bioma
caatinga.
a) Apresente uma característica da caatinga que a diferencia das demais formações vegetais brasileiras.
b) Aponte uma consequência ambiental do desmatamento da caatinga.

9. Diferencia as 3 principais classificações do relevo brasileiro e quais foram os critérios utilizados


por cada autor.

1
0. Explique as formas de relevos brasileiros, suas definições com enfase na hipsometria e nos proces-
so exógenos predominantes.

113
U.T.I. – E.O
1. Mapa de fuso horário

Fonte: <www.estudopratico.com.br/wp-content/uploads/2013/01/fuso-horario-mapa-conceito-em-geografia.jpg>

Um fotógrafo sai do Rio de Janeiro às 18:00 hs do dia 1º (sábado), em direção à Hong Kong. A
duração do voo foi de 12 horas. Que horas será no Rio de Janeiro quando essa pessoa chegar no
seu destino?

2. Os climogramas abaixo representam dois tipos climáticos que ocorrem no Brasil. Observe-os e
responda:

a) Quais são os tipos de clima nas localidades A e B?


b) Discorra sobre as características dos dois climas e quais são as massas de ar que atuam nessas loca-
lidades.

3. O sabiá no sertão
Quando canta me comove
Passa três meses cantando
E sem cantar passa nove
Porque tem a obrigação
de só cantar quando chove
“Chover, ou invocação para um dia líquido”
Mas o povo que sente na pele os efeitos diretos desse calor – extensivos à economia regional, pela
ausência de perenidade dos rios e de água nos solos – não tem dúvida em designá-lo simbolicamen-
te por “verão”. Em contrapartida, chama o verão chuvoso de “inverno”. Tudo porque os conceitos
tradicionais para as quatro estações somente são válidos para as regiões que vão dos subtrópicos
até a faixa dos climas temperados, tendo validade muito pequena ou quase nenhuma para as regi-
ões equatoriais, subequatoriais e tropicais.
AB’SÁBER, Aziz Nacib. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003, p. 85.

114
Como bem exemplificou o professor Aziz Ab’Saber, os sertanejos costumam chamar o verão de in-
verno porque, irregularmente, a Massa Equatorial Continental traz chuvas esporádicas à região. A
partir do texto e da música do grupo “Cordel do Fogo Encantado“, explique a origem da mancha se-
miárida no Nordeste brasileiro e o por quê desse deficit hídrico, já que a mEc é uma massa úmida.

4. Os homens que vivem ao longo dos igarapés foram fadados a conviver com as sombras e a solidão.
Trabalharam ou trabalham para alguém que mal conhecem. Na qualidade de serem gregários, para
garantir um tributo básico da condição humana, transformaram os igarapés em caminhos vicinais.
O “caminho da canoa” do índio tornou-se a via vicinal dos amazônides, oriundos de muitas pro-
cedências étnicas e subculturas em contato. Ninguém melhor do que Euclides da Cunha conseguiu
fixar o drama dos habitantes da beira dos igarapés, tal como está gravado em seus escritos, como
o Judas Asverus, de “A Margem da História”.
AB’SÁBER, Aziz Nacib. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003, p. 73.

Com base no texto, responda:


A qual domínio morfoclimático o texto se refere? Explique suas principais características, levando
em consideração os três patamares de vegetação existentes.

5. A partir do perfil topográfico e geológico abaixo e de seus conhecimentos, responda:

a) Quais compartimentos regionais de relevos são indicados pelos números 1 e 2?


b) Explique a formação desses compartimentos.

6. Observe a figura que mostra o esquema de circulação geral da atmosfera e responda:

a) O que são ventos alísios e contra alísios?


b) Qual é a relação dos ventos alísios com o fenômeno El Niño?

7. Dentre as estratégias de aproveitamento dos recursos hídricos superficiais do Nordeste Brasileiro,


admite-se a transposição de águas entre bacias hidrográficas. Sobre este tema, resolva os itens a
seguir.
a) Indique dois possíveis projetos de transposição de águas entre bacias hidrográficas, que são discutidos
na mídia.
b) Descreva dois prováveis impactos ambientais negativos resultantes desses projetos.

115
8. (Unesp) No mapa estão indicadas as principais correntes marítimas.

Explique a influência da corrente do golfo no Atlântico Norte sobre a Europa ocidental, e desta-
que os motivos das cidades de Londres e Paris terem invernos mais amenos do que Montreal e
Nova Iorque.

9. (UFPR) A bacia hidrográfica como unidade de análise ambiental tem ganhado destaque, o que
pode ser exemplificado com o caso do Brasil, onde, nas últimas décadas, ela tem sido considerada
um importante recorte espacial para o planejamento e para diagnósticos ambientais. Explique o
que é uma bacia hidrográfica, apresentando os elementos que a compõem, e justifique por que ela
é utilizada como recorte espacial para diagnósticos ambientais.

1
0. (Uerj) O potencial de produção de energia hidrelétrica está relacionado a um grupo de fatores na-
turais que interferem na construção de barragens em bacias hidrográficas. Observe no mapa abaixo
a localização das dez principais bacias hidrográficas brasileiras:

Considerando as características socioambientais da bacia I, cite duas consequências negativas oca-


sionadas pela construção de hidrelétricas nessa área.
Indique, ainda, dois fatores que favorecem a geração de energia elétrica nas usinas instaladas na
bacia V.

116
0 1 Geografia 2

U.T.I.

C H
GEOGRAFIA
Correntes do pensamento geográfico
Ciência e geografia
Espaço como objeto de estudo.

Princípios da geografia
1. Princípio da extensão: refere-se a uma área em que se estuda o fato geográfico (importância da carto-
grafia);
2. Princípio da analogia: comparação de uma área com outras (buscando semelhanças ou diferenças);
3. Princípio da conexão ou interação: relação dos fatos físicos e humanos;
4. Princípio da atividade: dinamismo da paisagem.

Espaço geográfico
1. Relação da sociedade com a natureza.
2. Importância do Estado e a conjuntura técnico-científico-informacional na configuração do espaço contem-
porâneo.

Correntes de pensamento da Geografia


1. Determinismo geográfico (final do século XIX)
O homem é visto como resultado da ação do meio.

2. Possibilismo geográfico (começo do século XX)


Influência recíproca entre o homem e o meio habitado;

3. Método regional (1940)


Diferenciação de áreas.

4. Nova geografia/ geografia quantitativa (1950)


Análise por meio de métodos matemáticos e análises estatísticas.

5. Geografia crítica (1960-1970)


Orientação marxista e oriunda do processo de descolonização da África e da Ásia.

Conceitos geográficos
§§ Paisagem
§§ Lugar
§§ Território
§§ Região
§§ Espaço

119
Geologia
As camadas da estrutura interna da Terra
Quanto à composição química:
§§ Crosta
§§ Manto superior
§§ Núcleo externo
§§ Núcleo interno

Quanto à rigidez dos materiais:


§§ Litosfera ou crosta terrestre
§§ Astenosfera
§§ Manto inferior
§§ Endosfera

A estrutura interna da Terra é representada em modelos baseados em dois critérios

Litosfera
Camada sólida da Terra, formada por minerais e rochas. É dividida em:
§§ Crosta oceânica ou inferior
SIMA (silicato de magnésio)
de 30 a 70 km de espessura
§§ Crosta continental ou superior
SIAL (silicato de alumínio)
de 4 a 8 km de espessura

120
Rochas
São agregados naturais de minerais e formam a parte essencial da crosta terrestre. De acordo com sua
origem, podem ser classificadas em:
§§ Rochas ígneas ou magmáticas
São formadas pela solidificação do magma.
Exemplos: granito (plutônica ou intrusiva), que se solidificou lentamente, e o basalto (vulcânica ou extru-
siva), que se solidificou rapidamente.

§§ Rochas sedimentares
São formadas pela deposição de sedimentos de origem mineral e orgânico.
Exemplos: arenito, calcário e varvito.
§§ Rochas metamórficas
São formadas pela transformação de rochas preexistentes em consequência de alterações de pressão e
temperatura, que reajustam a composição química e a textura das rochas.
Exemplo:
Calcário P+T Mármore
(rocha sedimentar) → (rocha metamórfica)

Geologia do Brasil e exploração mineral


Províncias geológicas
São macroestruturas definidas pela idade geológica e pelos diferentes tipos de rocha, segundo seu processo de
formação. São elas:
§§ Escudo cristalino ou blocos cratônicos
Formaram-se na Era Pré-cambriana, portanto, são antigos e bastante desgastados pela erosão.
§§ Bacia sedimentar
Inicialmente, formaram-se a partir da Era Paleozoica.
§§ Dobramento moderno
Datam da Era Cenozoica do período Terciário e sua origem se relaciona com movimentos tectônicos. São os
terrenos de maiores altitudes do Planeta.

121
As macroestruturas no território brasileiro
Escudos cristalinos
§§ São formados por rochas cristalinas (magmáticas e metamórficas) muito resistentes à erosão;
§§ Correspondem a 36% do território brasileiro;
§§ Possuem importantes jazidas minerais, como ferro, ouro, manganês, alumínio, zinco e estanho, distribuídos
pelos estados do Pará, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Amapá e Rondônia.
Exemplos: Serra dos Carajás (PA), Quadrilátero Ferrífero (MG), Maciço de Urucum (MS).

Bacias sedimentares
§§ São formadas por rochas sedimentares, que são menos resistentes à erosão do que as cristalinas;
§§ Correspondem a 64% do território brasileiro;
§§ Encontram-se importantes combustíveis fósseis, como petróleo, carvão mineral e gás natural.

Geomorfologia:
forças estruturais e esculturais

Teorias que explicam os movimentos da Terra


§§ Deriva continental
§§ Tectônica de placas

122
Dinâmica do relevo Relevo marinho
Os agentes modificadores do relevo são: §§ Plataforma continental
§§ Talude continental
Agentes estruturais (internos) §§ Região pelágica
§§ Região abissal
§§ Tectonismo (orogênese e epirogênese)
§§ Vulcanismo
§§ Abalo sísmico

Agentes esculturais (externos)


§§ Intemperismo (desgaste)
§§ Erosão (transporte)

Tipos de intemperismo
§§ Químico
§§ Físico
§§ Biologico

Tipos de Erosão
§§ Eólica
Solos
§§ Pluvial
Solo ou rigolito é a parte mais externa e não
§§ Fluvial
consolidada da litosfera, que recobre as formas de rele-
§§ Glacial
vo e as estruturas geológicas. Sua origem está ligada ao
§§ Marinha
processo de intemperização das rochas pelos agentes
§§ Erosão antrópica
climáticos e biológicos e ao transporte desses fragmen-
tos pela ação da gravidade.
Formas de relevo
§§ Planície
Todo relevo abaixo de 200 metros onde o pro-
cesso sedimentar é predominante.
§§ Planalto
Todo relevo acima de 300 metros onde o proces-
so erosivo é predominante.
§§ Depressão
Relevo mais plano que os planaltos e mais baixo
do que as áreas do entrono.

123
Solos e seus horizontes
HORIZONTES DO SOLOS

São as camadas paralelas à superfície do solo.

O Camada de restos de plantas e animais na superfície


do solo
A Primeiro horizonte mineral do solo, mais escuro, por
conter mais húmus que os horizontes B e C.

B Horizonte formado por partes bastante desagregadas


da rocha-mãe, estando abaixo do horizonte A.

C Horizonte formado por partes pouco desagregadas


da rocha-mãe, com presença de materiais que ainda
estão se transformando em solo.

R Rocha-mãe que, submetida ao intemperismo, se


desagraga e se decompõe, dando origem ao solo.

Fonte: slideplayer.com.br

Grupos de solo Problemas


§§ Latossolos ambientais mundiais
§§ Litossolos
§§ Podzólicos
§§ Aluviões Oscilação decadal do Pacífico
Solos do Brasil §§ É um fenômeno cíclico que consiste na variação
de temperatura das águas do oceano Pacífico,
§§ Terra roxa sendo um dos fatores mais decisivos na dinâmi-
§§ Massapê ca climática em várias partes do mundo.
§§ Salmorão
Oscilação decadal do pacífico e linha de temperatura
§§ Solos aluviais

Problemas no uso dos solos


§§ Lixiviação
§§ Laterização
§§ Compactação
§§ Salinização
§§ Erosão
ciclo da ODP: 50 a 60 anos

124
El Niño
§§ É um fenômeno climático que tem como consequência o aquecimento anormal das águas do oceano Pa-
cífico tropical, que influencia a distribuição da temperatura da superfície da água e, consequentemente, o
clima de várias regiões do mundo.

El Niño

La Niña
§§ Provoca o resfriamento irregular das águas do Pacífico em virtude do aumento da força dos ventos alísios.

125
Aquecimento global
É o processo de aumento da temperatura mé-
dia dos oceanos e da atmosfera da Terra causados por
massivas emissões de gases que intensificam o efeito
estufa, originados da ação antrópica.
No meio científico, debate-se muito a respeito
da existência e das possíveis causas do aquecimento
global.

Savanas
§§ Regiões quentes da Austrália, América do Sul e
África;
§§ Chuvas mal distribuídas durante o ano;
§§ Vegetação arbustiva, herbácea e espaçadas en-
tre si.

Grandes
biomas do mundo

Floresta tropical
§§ Desenvolvem-se em baixas latitudes e próximas
ao Equador; Floresta temperada
§§ Cobre 6% da Terra e abriga mais da metade das
§§ É encontrada entre os polos e os trópicos;
espécies de plantas e animais;
§§ Floresta decídua caducifoliada;
§§ A grande produtividade biológica é resultado
§§ Clima temperado com médias anuais moderadas
da alta radiação solar, temperaturas entre 18 e
e estações bem definidas;
30ºC e alto índice pluviométrico;
§§ O índice pluviométrico é bem uniforme durante
§§ Dossel; o ano;
§§ Estratificação; §§ Solos abundantes em matéria orgânica;
§§ Presença de sombra. §§ Animais migratórios.

126
Campos Taiga
§§ Ocorrem em todos os continentes, como as §§ Constitui-se como um cinturão abaixo do Circulo
pradarias na América do Norte e os Pampas na Polar Ártico, que limita o domínio da tundra;
América do Sul; §§ Possui duas estações bem distintas, com predo-
§§ Vegetação herbácea; mínio do inverno sobre o verão;
§§ É o bioma mais utilizado e transformado pelas §§ Floresta de coníferas;
ações antrópicas. §§ Homogênea;
§§ Alelopática.

Desertos Chaparral
§§ Reduzida precipitação em decorrência da loca-
lização: §§ Distribuem-se em regiões com clima temperado
a) áreas de alta pressão atmosféricas; ameno, como a Califórnia, México, litoral do mar
b) atrás de altas cadeias de montanhas; Mediterrâneo, Chile e costa meridional da Aus-
c) região de influência de correntes marítimas trália;
frias; §§ Vegetação arbustiva e árvores de pequeno e mé-
§§ Clima quente; dio porte, com folhas duras e grossas;
§§ Grande amplitude térmica; §§ Micorrizas: associação entre fungos e raízes, que
§§ Vegetação rara e espaçada, com plantas que ar- aumenta a chance de sobrevivência em condi-
mazenam água, como as cactáceas. ções adversas;
§§ Ocorrência de fogo.
Tundra
§§ Localiza-se no Círculo Polar Ártico;
§§ Inverno longo e rigoroso e verões curtos com
temperaturas amenas;
§§ Permafrost;
§§ Vegetação gramínea, plantas lenhosas e liquens.

127
Caatinga
§§ Encontram-se na América do Sul, no sudeste africano e em algumas partes do sudoeste asiático;
§§ Condições de umidade intermediária entre o deserto e a savana;
§§ Vegetação herbácea e cactácea.

Hotspots ambientais
§§ São pontos ou manchas de extrema biodiversidade.
§§ Dois fatores são críticos na escolha de um hotspot:
1. a existência de espécies endêmicas;
2. grandes taxas de destruição do habitat;
3. g rande biodiversidade.

Hotspots globais

128
Antiga ordem mundial
Reordenação geopolítica mundial
1. Fim da Segunda Guerra Mundial (1945)
2. Guerra Fria:
Comunismo – União Soviética e China;
Capitalismo – EUA, Europa ocidental e Japão;
3. Organizações militares:
OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte: fundada em 1949 pelos países capitalistas;
Pacto de Varsóvia: formado pela URSS, em 1955.
4. Momentos de tensão na Guerra Fria:
Divisão da Alemanha;
Construção do muro de Berlim – 1961;
Espionagem: CIA e KGB;
Crise dos mísseis em Cuba – 1961;
Guerra da Coreia;
Revolução Sandinista;
Corrida espacial;
Corrida armamentista.
5. Fim da Guerra Fria:
Crise econômica e política na URSS;
Revoltas em repúblicas socialistas (Ex.: Hungria e Polônia);
Queda do muro de Berlim;
Capitalismo mundializado;
Crescimento da influência da ONU como poder mundial.

O mundo bipolar: 1948-1991

129
Nova ordem mundial
A expansão do capitalismo gerou duas concepções do poder:
§§ Ordem unipolar: poder centralizado nos EUA, devido, principalmente, a seu grande poder bélico;
§§ Ordem multipolar: poder dos EUA estaria sendo dividido com a Europa (sobretudo a Alemanha) e o
Japão.
Nova Ordem Mundial tripolar
-12 -11 -10 -9 -8 -7 -6 -5 -4 -3 -2 -1 0 +1 +2 +3 +4 +5 +6 +7 +8 +9 +10 +11 +12
90° 90°

Círculo Polar Ártico


Reykjavik
60° 60°
Moscou
Is.Aleutas
Vancouver Londres
Berlim
Ottawa Paris Astana

Madrid Bucareste
Nova Iorque Beijing Seul
Açores Argel
Washington
Los Angeles Is. Madeira Trípole Teerã Tóquio
30° Cairo 30°
Trópico de Câncer
Is. Canárias Riad Nova
Délhi
Hong Kong
Is.Havaí Cidade do
México Cabo Verde Dacar Manila
Niamei
Georgetown Adis Abeba
Equador Bogotá
0° 0°
Nairóbi
Meridiano de Greenwich (GMT)

Is.Galápagos
Is.Maldivas
Luanda Jacarta

Lima Is.Fiji
Brasília
Trópico de Capricórnio
Is.Tonga
Is.Pitcairn Maputo
30° 30°
Cidade Sydney
Buenos Aires do Cabo
Melbourne

Is. Malvinas

60° 60°
Círculo Polar Antártico

90° 70 0 140km

180° 120° 60° 0° 60° 120° 180° PROJEÇÃO DE ROBINSON

Horário f racionado Linha internacional de data

Fonte: Atlas Geográfico. 3. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1986. Adaptado.

Descolonização da Ásia e da África: Divisão norte-sul – desenvolvidos e subdesenvolvidos.


1. Países Centrais: países que concentram as sedes de grandes empresas globais, indústrias e bancos;
Exemplos: EUA, grande parte dos países da Europa e Japão.
2. Países periféricos: baseados em economia agroexportadora / latifúndio; concentração de renda.
Exemplos: parte dos países africanos, da América latina e Ásia.
3. Países semiperiféricos: possuem grandes concentrações de renda, mas em menor proporção, compara-
dos aos países periféricos; patamar intermediário de bem-estar; conseguiram constituir uma densidade de
industrialização significativa.
Exemplos: Brasil, México, Argentina, Chile e Tigres Asiáticos.

Índice de desenvolvimento humano (IDH): índice proposto pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento).
§§ Função – comparação da qualidade de vida entre os países.
§§ Três dimensões:
1. Riqueza (ou renda per capita);
2. Educação;
3. Esperança média de vida (ou saúde).

130
U.T.I. – Sala
1. Diferencie os processos geradores das for- b) Cuestas
mas de relevo (endógenos e exógenos). c) Inselbergues

2. Explique sucintamente como se dá o proces- 5. Cite e explique três problemas no manejo


so de formação dos três tipos de rocha exis- dos solos.
tentes, citando pelo menos um exemplo para
cada uma delas. 6. Disserte sobre a crise dos mísseis de Cuba,
no contexto da Guerra Fria.
3. Sobre a dinâmica interna da Terra, explique:
a) Como se deu o processo de dobramento do 7. Sobre os eventos El Niño e La Niña, indique a
Himalaia e quais as placas tectônicas envol- área de ocorrência desses eventos, as carac-
vidas? terísticas que os diferenciam e seus impac-
b) Quais são os tipos de placas existentes na tos sobre as regiões Nordeste e Sul do Brasil.
litosfera? Explique-as.
8. Descreva a principal área de ocorrência, as
4. Explique os processos exógenos na escultu- características climáticas, as características
ração das seguintes feições de planaltos: fisionômicas da vegetação e o tipo de explo-
a) Chapadas ração que se faz do bioma taiga.

U.T.I. – E.O.
1. 2. As bacias sedimentares se formaram a par-
EROSÃO tir da era Paleozoica, entrando também pela
Mesozoica e pela Cenozoica. Nesses terrenos,
encontramos recursos combustíveis fósseis,
como o petróleo, o gás natural e o carvão
TRANSPORTE mineral. A partir dos seus conhecimentos,
explique a formação do petróleo em áreas
oceânicas.

3. A chuva é um dos agentes erosivos mais ati-


DEPOSIÇÃO vos, pois provoca enchentes e enxurradas.
Dependendo do grau de intensidade das
chuvas, ocorre erosão pluvial do tipo super-
ficial, laminar, de sulcos e de ravinamento.
SEDIMENTAÇÃO

COMPACTAÇÃO

A figura anterior representa um processo de


erosão. Defina esse processo e explique por
ROCHA SEDIMENTAR que ele ocorre.

O esquema acima é chamado de diagênese,


que descreve o processo de formação das
rochas sedimentares. Discorra sobre esse
processo.

132
4. Analise a charge e responda à questão a se- de Previsão do Clima (CPC) dos Estados
guir. Unidos.
Disponível em: <www.correiodoestado.com.br/ciencia-
e-saude/terceiro-el-nino-mais-intenso-da-historia-
vai-ate-2016/257442/>. Acesso em: 20 fev. 2016.

A partir do texto e de seus conhecimentos


sobre o assunto, responda:
a) Explique o fenômeno climático exposto e
sua relação com os ventos alísios.
b) Durante sua atuação, quais são as principais
consequências ambientais e econômicas que
o fenômeno apresentado desencadeia nas re-
giões Nordeste e Sul do Brasil?

6. (Unesp) Analise o gráfico.

Fonte: <http://3.bp.blogspot.com/-
uMjY1GOwDic/TwM9u81ySLI/AAAAAAAADUE/
BxkMN-hoCYc/s400/image040.gif>

O cartunista satiriza a ordem mundial do


pós-Guerra Fria, cuja principal característica
é a hegemonia do capitalismo mundializado.
Descreva as diferenças dos países centrais e
periféricos.
Considerando as relações existentes entre
5. (UFU) Terceiro El Niño mais intenso da histó- condições climáticas, dinâmica hidrológica
ria vai durar até 2016 e distribuição dos biomas no planeta, faça
uma comparação do nível médio dos ocea-
O fenômeno climático El Niño, que reapa- nos e da distribuição das florestas tropicais e
receu em março, deve durar até o segundo equatoriais nos momentos em que a tempe-
trimestre de 2016 e pode ser um dos mais ratura média do planeta alcançou um ponto
intensos da história, segundo as projeções de mínimo e de máximo no período destaca-
anunciadas nesta quinta-feira pelo Centro do pelo gráfico.

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