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A ÚLTIMA

ILUSÃO
Frases curtas para um despertar
instantâneo

MM SAINT
Copyright © 2012 Nome do autor

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ISBN-13:
DEDICATÓRIA

A todos os seres viventes


CONTEÚDO

Agradeciment i
os
1 Nome do 1
capítulo

2 Nome do Nº da
capítulo página

3 Nome do Nº da
capítulo página

4 Nome do Nº da
capítulo página

5 Nome do Nº da
capítulo página

6 Nome do Nº da
capítulo página

7 Nome do Nº da
capítulo página

8 Nome do Nº da
capítulo página

9 Nome do Nº da
capítulo página

1 Nome do Nº da
0 capítulo página
AGRADECIMENTOS

A todos os seres viventes.

i
1 O ESFORÇO DEVE CESSAR

A vida exige ação. De onde provém, no


entanto, nossas ações? Um fato é percebido
pelos sentidos. Nenhum esforço é necessário
para ver ou ouvir. A visão assim como os
demais sentidos funciona naturalmente. O
olho vê a imagem sem nenhum julgamento
de agrado ou desagrado. A imagem
percebida, por exemplo o pôr do sol, é
captada pelos olhos e guardada no cérebro
sem agregar a esse fato qualquer valor
emocional. Eis a percepção natural. Porém o
julgamento existe. Não podemos negar.
Vemos o pôr do sol e dizemos “como é lindo’
e depois de julgar ocorre o apego – ‘quero
ver isso mais vezes’. Quando não consigo
repetir essa experiência me sinto frustrado.
Quando a repito sinto algo estranho – não é
mais a mesma coisa da vez anterior. Conflito

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e frustração. Eis a percepção distorcida e


contaminada pela interpretação. A
interpretação é o problema todo. Vejo o pôr
do sol e comparo com o anterior. Quero que
ele seja exatamente igual, mas não é. Quero
sentir o mesmo da vez anterior, mas não
sinto. Aumento as doses, a frequência,
agrego a isso valores importados de outras
experiências – digo que Deus está naquele
pôr do sol ou que as cores são matizes
belíssimos e por aí afora. A memória da
experiência do pôr do sol passado, com sua
emoção, sentimento, sensação se tornou a
autoridade psicológica irreal a qual estou
preso. Estou diante de um novo pôr do sol,
mas procuro o velho. Não vejo o novo,
sobreponho a ele a memória que é o pôr do
sol passado. Ambas não se encaixam.
Entram em conflito. Eu sofro e procuro
solucionar esse conflito ajustando o pôr do
sol real, o atual, ao pôr do sol que só existe
em forma de memória. Deixo de ver o que é
para projetar sobre ele o que deveria ser. Já
não vejo as coisas como elas são pois estou
preso na armadilha da interpretação que é o
processo de comparar o que vejo com o que
já vi anteriormente. Tudo que deve ser feito
é ver que esse processo é limitante e
gerador de conflito. Quando vejo que o
nomear, comparar, interpretar é o
problema, esse mesmo processo cessa e eu

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A ÚLTIMA ILUSÃO

estou ‘automaticamente’ fora da mente, fora


da armadilha da mente que é sempre velha.
Nesse instante já não existe mais a divisão
entre o que é visto e aquele que vê porque
aquele que vê é apenas o processo de
interpretar. Como esse processo foi visto em
sua totalidade, ele cessou, e o que resta é
apenas o ver sem aquele que vê. Já não
existe mais eu, ego, divisão. Nem mais
existe a questão de ser ou não ser livre, pois
essa questão aponta para uma entidade que
ilusoriamente existe e da mesma forma está
presa. O que existe quando a mente, que é o
processo de traduzir pára, é o puro estado
de existência sem sujeito. Isso é meditação
ou iluminação. Simples e sem esforço. Existe
a experiência sem sujeito e dessa forma o
tempo, o sofrimento e a morte nem mais são
temas ou problemas as serem resolvidos
pois só existiam quando o ser psicológico
que era apenas um pensamento identificado
com o processo de interpretar tudo pelo
filtro da memória existia. Cessando esse
processo cessa o eu, e sem o eu quem existe
para sofrer, nascer ou morrer? E quem
voltará da experiência para falar sobre ela?

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2 A ÚLTIMA ILUSÃO

A última ilusão a ser abandonada como


resultado de uma compreensão plena de sua
natureza original é a ilusão de que você é
uma ‘pessoa iluminada’.

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3 SER NÃO É UM ESFORÇO

Ser já é. Nenhum esforço está envolvido


nisso. Na verdade qualquer forma de esforço
encobre esse estado original e natural
sempre presente. Todo esforço aponta para
um ‘vir a ser’ no futuro seja daqui a um ano
ou dez minutos. O esforço é a negação do
estado de ser. Eu sou, mas por meio do
esforço desejo me tornar outra coisa. Seja lá
no que for que eu venha a pretender me
transformar será falso pois só existirá
enquanto o esforço necessário estiver
atuante. Basta um simples instante de sono
sem sonhos e aquela imagem se desfaz. O
ser real, original e imutável e ainda assim
sempre novo não é fruto de um esforço. Ser
já é. Isto ou aquilo é a meta, a imagem, o
condicionamento que pede por um esforço
para vir a ser. Mesmo dizer ‘seja’ já
constitui a negação do estado de ser, uma
fuga e uma ilusão pois seja implica que
ainda não sou e por meio de algum processo
virei a ser. Seja é o início da armadilha. E
quanto mais refinada mais atraente e difícil
de perceber. Dizer ‘permaneça’ no ser seria
uma expressão mais ‘adequada’ pois
‘permaneça’ implica em não ‘se mover com
um desejo’ não se atrelar a um pensamento,
não se identificar com qualquer fenômeno

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transitório. Ser já é, aqui e agora, a


consciência consciente dos conteúdos e de
seus movimentos. Permanecer no ser
implica no reconhecimento, aqui e agora,
desse estado natural e original, não tocado
pelo pensamento, não produzido por
nenhuma ideia, e já auto realizado.
Permanecer no ser corta a raiz que nos
prende a todo passado sem que nenhum
esforço, imagem ou ideia esteja nisso
envolvido. É a imobilidade (consciente) em
meio a agitação de todos os conteúdos; é o
silêncio (consciente) em meio a todo ruído e
barulho; e a ordem (auto estabelecida) em
meio ao caos e desordem reinantes no
mundo dos fenômenos transitórios. É a
ausência de desejos em meio a todos os
desejos, é o fim do sofrimento em meio a
todo sofrimento, é a eternidade do não-
tempo em meio ao fluxo do tempo, é a
segurança e imutabilidade em meio a
insegurança e mutação.

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A ÚLTIMA ILUSÃO

4 UM SÓ PROBLEMA

O mundo não tem tantos problemas


assim, parecem muitos mas é apenas um e o
mesmo problema manifestado de diferentes
formas em variados contextos. O mundo só
tem um único problema e compreendê-lo
completamente é a sua solução; o problema
do mundo é tão somente a cegueira, porque
ver é agir. Em meio a escuridão os homens
tateiam porque sua própria luz está
apagada. Recorrem à luz dos outros mas
isso só aumenta sua cegueira. Você não vê.
Esse é seu único problema. Você olha mas
não enxerga. E o que você olha mas não vê?
Você não vê a verdade a respeito de quem
você é. Um cego não conseguindo enxergar
a cor de um cachorro, pergunta e alguém
lhe diz ‘é preto’. Então sempre que lhe
perguntam sobre a cor do cachorro ele
repete ‘é preto’ sem que isso faça o menor
sentido para ele. Similarmente você não

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sabe quem você é. Quando criança lhe


deram um nome e agora você responde ‘sou
fulano’. Da mesma forma tudo que você sabe
a respeito do mundo e da vida, de como as
coisas funcionam e de como deveriam ser é
semelhante ao conhecimento do cego a
respeito do cachorro; tudo lhe foi dito, mas
nada disso tem qualquer substância para
você. São apenas palavras. Você repete que
Deus criou o mundo, mas nunca teve sua
experiência com Deus. Você tem medo da
morte sem jamais ter compreendido o que
isso significa. Tem medo da morte e vive
também com medo da vida. Tudo porque
você, tal qual o cego, só sabe por meio de
terceiros. Todo cachorro que percebe você
diz que é preto, a menos que outra pessoa
lhe diga que é de outra cor. Da mesma
forma que dizer ao cego a cor do cachorro
não o fez enxergar, receber explicações a
respeito do que é o amor, se existe Deus,
qual o sentido da morte e da vida, se é que
existe, também não resolve sua cegueira,
pelo contrário o torna mais cego pois agora
você, sem conhecer realmente nada a
respeito, passa a acreditar que sabe. Alguém
lhe descreve Deus ou você lê um livro e
toma a descrição pela coisa. E a cada
descrição ou página virada os relatos se
contradizem e você rearranjar as coisas de
modo a concatena-los. Você não sabe porque
não viu. Lhe deram uma resposta e agora
você não quer mais saber. E o piro cego é
exatamente esse; aquele que não quer
enxergar porque acredita que a descrição
que tem é a coisa descrita.

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A ÚLTIMA ILUSÃO

Você não sabe por você mesmo quem


você é. Tudo que sabe a seu próprio respeito
lhe foi dito por terceiros. Por volta dos dois
ou três anos você ainda pronunciava seu
nome na terceira pessoa. Até que um dia
aquele nome colou no seu estado de ser. Lhe
deram um nome e com ele veio um
sobrenome, uma nacionalidade, uma
ideologia, uma religião e centenas de
dogmas e uma extensa e pesada carga
cultural. Tudo que você sabe tem a mesma
qualidade do conhecimento do cego a
respeito da cor do cachorro; você só sabe
por falarem, jamais teve qualquer
experiência a respeito. E as respostas que ti
deram, ao contrário de ti fazerem enxergar,
tornaram-te mais cegos ainda. Essa
cegueira é envolta numa aura de glamour;
cultura, tradição e conhecimento. A
sociedade promove competições e disputas
para ver quem sabe mais, ou seja, que é
mais cego do que os outros. Colocam o mais
cego no alto do podium e então todos os
outros almejam conseguir a mesma
cegueira. As escolas, as igrejas, as religiões,
os partidos políticos, o comércio e as
famílias recompensam os mais cegos e
castigam aqueles que , desconfiando da
cegueira, pretendem enxergar por seus
próprios olhos. A tradição institui seus
representantes e os declara santos e
especialistas. Você não precisa ver, apenas
acreditar no que esses heróis lhe dizem. E
caso você exija ver, será taxado de
incrédulo. Aos que creem receberam elogios
e promessas por acreditarem no que não

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viram. Sua cegueira tem um que de


loucura, submissão e preguiça. Ver as coisa
como elas são resultaria em ação correta,
mas você tem medo pois essa ação não pode
ser premeditada, não pode ser
preconcebida. Um homem que vê é um
perigo para uma sociedade que exige ter
controle sobre as ações de cada um de seus
integrantes, e um homem que enxerga não é
previsível, ele não tem um padrão de
comportamento porque padrão é memória e
ele já não vive do passado, mas bebe da
vida direto na fonte do aqui e agora.

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5 AÇÃO LIVRE DE IDEIA

A vida exige ação. Portanto a pergunta fundamental


agora é ‘de onde se originam nossas ações?’ Se a ação é
proveniente de uma ideia essa ação geralmente
produzirá algum tipo de problema pois a vida exige ação
no momento presente, sempre, e uma ação
proveniente de uma ideia é uma ação vinda do passado.
O tempo que é necessário para que a ideia venha do
passado e se torne ação faz com que essa sempre
chegue atrasada, sendo assim, inadequada e criadora
de conflitos. Uma ação natural, ou seja, algo parecido
com um ato reflexo, como por exemplo quando um leão
mata os filhotes do macho derrotado para que a leoa
entre no cio e perpetue a linhagem deste, é portanto
uma ação neutra, não gera problemas mas não havendo
consciência dessa ação nenhuma possibilidade
mudança existe. Por isso os animais continuam em seu
ciclo de violência inconsciente. Iluminação é tão
somente estar consciente da ação sem a influência da
ideia, do passado, do pensamento.

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6 LIVRE DO CONDICIONAMENTO

Condicionamento é a reação de uma


memória. Até onde ele se estende?
Condicionamento é passado e o passado
está todo ele registrado em forma de
memória. O pensamento é uma memória em
movimento, logo, libertar-se do passado ou
viver livre do condicionamento de milhares e
milhares de séculos é nada mais do que
simplesmente libertar-se do fluxo de
pensamentos! Não há necessidade nenhuma
de pará-lo, mas apenas de reconhece-lo
como um fluxo natural de continuidade do
passado operando por si mesmo .
Compreendendo e vendo por si mesmo que
agarrar-se ao movimento dos pensamentos,
seguindo-os, dando-lhes atenção é
sofrimento, naturalmente a consciência
estabelece-se em sua própria natureza sem
nenhum esforço pois percebe que todo
esforço em ‘vira ser’ é uma continuidade do
passado e portanto sofrimento.

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7 COMPREENSÃO CORRETA
GERA AÇÃO CORRETA

Quando compreendemos no que implica a


interpretação do aqui e agora por meio dos
filtros da memória, tal processo cessa e a
percepção natural se revela como uma
Inteligência holística. Cessando a
interpretação já não estamos mais sob a
tirania do condicionamento, que é o
passado. Livres do passado a vida acontece
por meio de ações integrais, o eu se dissolve
em sua própria fonte, o conflito cessa e a
verdadeira eternidade é percebida como
ausência do tempo psicológico.

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8 LIBERTE-SE DO SI MESMO

Abrir ‘mão do si mesmo’ é o serviço mais


profundo e revolucionário que uma pessoa
pode fazer pela sociedade em que vive e por
si mesmo. E o que é o ‘abrir mão do si
mesmo? É abrir mão de nossos desejos
pessoais, das opiniões particulares e de
nossa particular ideologia para descobrir
nos relacionamentos diários a ação correta
em cada situação. E qual é a ação que
sempre será a ação correta não importando
a variedade da situação? É o falar e o agir
que não geram conflitos. E qual o falar e
agir que não gera conflito? É aquele falar e
agira que não está contaminado pela
competição inerente às ideias e opiniões
particulares, e que não visa o ganho
particular de nenhuma forma que seja.

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9 É SEMPRE MAIS FÁCIL ACHAR
QUE A CULPA É DO OUTRO

Podemos dividir, para efeito de


entendimento, a sociedade em dois grupos e
pessoas; os que estão sofrendo e aqueles
que estão desfrutando do conforto que os
avanços tecnológicos garantem para os que
têm poder de adquiri-los. E costuma-se
muito geralmente classificar os que sofrem
como vítimas da situação. Obviamente estão
sofrendo e são vítimas das mazelas que uma
sociedade hierarquizada impõem. No
entanto isso é apenas metade da verdade. É
a metade que todos, demagógica ou
hipocritamente, gostam de expor e tentar
tratar, seja para promover sua auto imagem
de bom samaritano ou para angariar verbas
que serão desviadas. A outra parte dessa
situação geralmente não se evidencia sem
uma observação mais apurada pois está
obscurecida pela propaganda altruísta que é
tão lucrativa para ong’s e instituições
religiosas e políticas. Outro motivo de não
ser conhecida de todas é o fato de que essa
outra metade podre da laranja vai mexer
exatamente com os que figuram como
vítimas da sociedade e exigir deles mesmo
uma mudança em sua condita de vida.
Obviamente o grupo daqueles que, por

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motivos diversos desfrutam de uma vida


regalada, jamais irão fazer coisa alguma
para mudar essa situação. Muito pelo
contrário farão de tudo para que as coisas
continuem como estão. Time que está
ganhando não se mexe. Mas e quanto
àqueles que estão sofrendo e são sim, em
parte, vítimas dessa sociedade corrupta e
imoral, qual é a parte de culpa deles nesse
contexto? Vejamos. Será que eles querem
realmente que uma profunda mudança
ocorra de modo que nesta nova sociedade
nada possa se reconhecer da antiga? Ou o
que eles querem é tão somente que sua
condição particular mude de modo a terem
acesso e desfrutarem de tudo que o outro
grupo desfruta? É para mim bastante óbvio
que os que não tem invejam os que tem. Não
tem carro e desejam ter um ou dois. Não
podem ir à praia e desejam acesso ao clube
caríssimo que os afortunados frequentam.
Em suma, o que sofrem invejam os que não
sofrem, os que não tem desejam possuir os
objetos que os outros usufruem. Os quem
tem um vida sofrida, miserável e
tremendamente limitada desejam que, por
algum milagre qualquer, quem sabe um
bilhete premiado achado na beirada de uma
calçada alta, transforme sua vida e lhe
arrebate do grupo dos que não tem para o
time dos que esbanjam mais do que podem
consumir. Dessa forma fica evidente que o
que está operando neles é a inveja. Por isso,
quando um proletariado sobe ao poder em
geral torna-se mais cruel do que o anterior,
pois agora fará de tudo para que nada

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A ÚLTIMA ILUSÃO

ameace sua nova ordem econômica. Está é


pois, a culpa dos que sofrem à respeito dos
próprios sofrimentos. Eles amam essa
sociedade tal qual ela está estruturada,
desejam galgar os degraus rumo ao lugar
mais alto no podium. Eles, os que sofrem,
não querem uma sociedade alternativa a
esta que aí está, querem tão somente
participar dos benefícios dela e tudo que
desejam é que sua condição particular
mude, não a coisa toda. É por isso que
sempre temos a sensação de termos votado
na pessoa errada. Ela parecia correta, mas
bastou chegar ao poder e a corrupção que
estava oculta, somada ao medo de perder o
novo status, faz com que ela aproveite ao
máximo o momento a seu favor sem sequer
qualquer indício de crise na consciência
pois, afinal, diz para si mesma, ‘todos
roubam’. E assim seguem, os que sofrem es
os que desfrutam, aparentemente de lados
opostos, perpetuando a sociedade que
recompensa os poucos que, não importando
os meios, alcançaram os fins desejados. E
esses que estão no poder, é claro, cuidam de
tudo para que cada coisa continuem em seu
devido lugar. E a mais letal das armas
utilizada para manter o ‘status quo’ é a
educação – tanto a religiosa quanto a
acadêmica – criando pessoas
psicologicamente mansas e premiando os
tecnicamente preparados (aqui
tecnicamente preparado significa também
alienado – tema que será investigado em
outro texto).
Em resumo, ninguém quer que a

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sociedade mude realmente. Os que estão por


cima não querem e, pasmem, os que estão
por baixo também não, pois no momento em
que invejam os privilegiados, tudo que eles
querem é apenas fazer parte de sue séquito
e desfrutar de suas delícias. Tudo que os
excluído querem é que sua particular
condição mude, e não percebem que quando
lutam para obter sucesso dentro dos
padrões da atual sociedade, está tão
somente contribuindo com seu tempo e
energia para que as relações continuem
como sempre foram; de exploração de um
pelo outro. É por isso que programas de TV
que pegam um morador de rua, ou
reformam uma casa ou carro velho na
periferia faz tanto sucesso, do contrário os
oprimidos jamais aceitariam tal aberração
de pegar uma pessoa em meio à milhões,
dar-lhe quinze minutos de fama e devolve-la
para a miséria de onde saiu. Se as pessoas
que sofrem não invejassem os que delas se
aproveitam, não invejariam possuir os bens
materiais nem desfrutar de seus
entretenimentos, mas fariam imediatamente
um revolução pacífica e interna, onde a
mudança ocorreria dentro de suas cabeças,
mudando as prioridades e valores que
perseguem. A classe mais abastada se veria
escassa de escravos voluntários e os
próprios miseráveis descobririam um modo
de vida baseado na cooperação e
responsabilidade social de uns pelos outros.
Mas enquanto invejarem os que deles se
aproveitam, cada esforço particular apenas
continuará a perpetuar a atual situação de

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A ÚLTIMA ILUSÃO

coisas. Quando desejo estar nas mesmas


condições dos que desfrutam, a estrutura da
sociedade precisa permanecer exatamente
como está. Minha inveja diz ‘não mude não,
agora não pois a qualquer hora pode chegar
a minha vez!” As aparentes ‘revoltas contra
as desigualdades sociais’ nada mais é do que
pura inveja. Você não deseja que a
sociedade mude. O que você quer é fazer
parte dos três por cento da população
mundial que tem liberdade para fazer o que
bem entender. Seu desejo de mudança, caso
você investigue e seja honesto consigo
mesmo, é mera inveja. Do contrário se você
realmente achasse errado e imoral, corrupto
e desumano a forma como os milionários
vivem, você jamais almejaria ser um deles.
Quando eu invejo o que o outro tem, eu me
disponho a fazer o que ele fez. Fato.
Desculpe a dureza das palavras. Tudo que
você quer é estar com eles no topo da
colina, não importando que o caminho que
tenha de trilhar para isso seja o roubo, a
lavagem de dinheiro, a extorsão, o desvio de
verbas, o superfaturamento, empresas
fantasmas ou o sequestro. Por isso você se
vende nas eleições. Vota em corruptos por
que você também é corrupto, elege ladrões
porque está à espera da oportunidade certa
para também roubar. Invejando aqueles que
não sofrem, os que sofrem estão apenas
perpetuando a estrutura que os condena.
Seguem assim, desejando uma coisa e
construindo outra, na eterna contradição de
serem carrascos e vítimas de uma sociedade
que eles mesmo ajudaram a construir e

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MM SAINT

agora, invejando, ajudam a perpetuar. Não é


a corrupção, este ou aquele partido, mas a
inveja a única coisa que impede de
transformarmos essa sociedade cruel e
violenta numa irmandade de homens e
mulheres que se respeitam e se ajudam
mutuamente.

10 PARA O DESPERTAR
INSTANTÂNEO

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A ÚLTIMA ILUSÃO

O mundo inteiro é insatisfatório. Nele


nada há que seja sinônimo de segurança e
felicidade. Nem posses nem
relacionamentos nem crenças. Nele tudo
está no fogo do tempo a queimar diante de
nossos olhos.
Os sentidos são insatisfatórios. Por mais
que sejam treinados e ampliados, neles nada
há que seja sinônimo de segurança e
felicidade.
As percepções e sensações são
insatisfatórias. Nelas nada há que seja
sinônimo de segurança ou felicidade.
Nelas tudo está no a queimar no fogo do
tempo, diante de nossos olhos.
Desejos, pensamentos e ações são
insatisfatórios. Neles nada há que seja
sinônimo de segurança e felicidade. Neles
tudo está no fogo do tempo a queimar diante
de nossos olhos.
Compreendendo este fato por si mesmo, o
que mais falta compreender para despertar
dessa ilusão de ser um eu que sofre e deseja
ser feliz? Falta compreender por si mesmo
que o esforço também é insatisfatório!

10 SUA BELEZA

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MM SAINT

Sua beleza tem a feiura da obediência de


quem inveja a aparência do outro. Seu
sentido de beleza é, em si mesmo, feio
porque na realidade ele nada mais é do que
sujeição a um padrão determinado por
forças exteriores a você. Não é o resultado
de seu autodescobrimento, do
embelezamento de suas particularidades,
mas é uma homogeneização a conceitos
determinados por profissionais da moda,
pagos com altos salários pelos industriários
e comerciantes para submeter você a
padrão previsível que caiba nos cálculos de
suas linhas de produção. Você se acha um
indivíduo comprando e consumindo tudo
exatamente igual! Por que e para que você
se olha no espelho antes de sair depois e se
arrumar? Para verificar se está de acordo
com o que lhe disseram para parecer. Você
se tornou o censor de si mesmo. Mantendo-
se na linha até mesmo quando vai deitar.
Você não é livre para se vestir da maneira
que lhe agrada, não é livre e nem permite
ser pois sai a criticar quem não combinou
corretamente o verde com o rosa-choque.

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11 SE AMÁSSSEMOS NOSSOS
FILHOS

Se realmente amássemos nossos filhos a


sociedade mudaria da noite para o dia. Não
necessitaria tempo para acabarem as
guerras porque não os enviaríamos aos
quartéis nem os forçaríamos a serem
policiais. Não os entregaríamos para serem
doutrinados por padres e pastores,
comerciantes e militares para serem
programados para matar, competir e morrer
por ideias de ganância e violência sectária.
Se amássemos nossos filhos não
permitiríamos que professores os
adestrassem a competir uns com os outros
em sala de aula, mas que se ajudassem
mutuamente para que todos, como uma
família, alcançassem os mesmos níveis de
conhecimento.
Se amássemos realmente a nossos filhos a
quem os entregaríamos? A quem?

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MM SAINT

12 A BELEZA DE UMA CRIANÇA

A beleza de uma criança reside no fato de


ela ainda não ter sido contaminada pela
sociedade. Até seu choro estridente é belo.
Existe beleza até em trocar sua frauda cheia
de cocô! Tal beleza tem como essência a
originalidade no sentido de que tudo que ali
está e ocorre é a mais prua manifestação da
natureza, sem nenhuma intervenção do
pensamento com suas ideologias de certo e
errado. Porém chega um momento em que
ela precisa ser treinada a repetir certos
comportamentos de acordo com o ambiente.
Esse momento é muito impactante para a
criança porque logo quando ela começara a
desfrutar da liberdade e consentimento de
simplesmente ser o que ele é, vem a
sociedade , na forma de família e
professores, e começa a dizer que o que
antes era engraçado agora não pode mais. É
feio. Como que a criança vai entender isso?
Não vai. Aí entra em cena o castigo. Duas ou
três palmadas já dão o vislumbre de que
tipo de comportamento deve repetir. A
relação da mãe que era de amor e carinho
agora mudou para castigo e recompensa.
Ela leva umas chineladas e fica sem saber
direito o que está acontecendo até que por
fim descobre que é o ‘eu’ que está levando
uma surra por ter jogado a comida no chão.

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A ÚLTIMA ILUSÃO

A primeira vez que um criança diz ‘eu’ é


geralmente numa situação de castigo. Esse
eu é sofredor desde o início. E quando sua
consciência se identifica com esse eu sua
beleza natural está irremediavelmente
perdida. Ela quer novamente os afagos e
elogios gratuitos da infância, mas descobre
agora eu tudo tem seu preço, até ser
elogiada pelos pais – é preciso fazer cada
coisa de um certo jeito se quiser
recompensas. Desse modo ela, sem
perceber, se torna dependente de aceitação.
Não tinha outra saída. Era isso ou castigo.
Ela não pode mais ser ela. Por algum motivo
agora ser simplesmente ela já não é o
suficiente. Precisa crescer e aparecer. E
para isso precisa imitar. Precisa devolver as
respostas que o professor lhe deu quarenta
e cinco dias atrás, e precisa agir conforme
lhe foi dito. Infelizmente esse é um mau
necessário. A sociedade é um deserto de
beleza natural, tudo nela é artificial,
premeditado, falso no sentido de não ser
original, é uma cópia de cópias, mas a
criança precisará atravessar esse deserto se
quiser crescer psicologicamente. No
momento em que ela disse ‘eu’ pela primeira
vez a sociedade começou efetivamente a
molda-la. Já fazia isso na barriga da mãe
preparando-lhe o enxoval e escolhendo seu
nome, mas é a partir da identificação com
um ‘eu’ psicológico que será modelada
segundo os padrões da época. Nesse
processo ela se tornará violenta e
competitiva e descobrirá que a sociedade
não se importa com os meios mas apenas

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MM SAINT

com os resultados. Descobre que ser ávida


e esquizofrênica é o que chama de sujeito
normal. O choro, mecanismo do desejo
infantil será reprimido e substituído pela
dissimulação. A comparação com os demais
será sua métrica de sucesso e sua felicidade
estará projetada nas cosias fora dele. Torna-
se assim ambicioso sem saber o porque de
tanto querer. Quando consegue um dedo
deseja a mão. E quando é abandonado pela
pessoa que pensa amar chora que nem
criança. É o mecanismo original irrompendo
das profundezas de seus ser quando o
comportamento adestrado não funcionou.
Todo adulto é assim uma criança reprimida.
por isso a bebida é tão agradável. Voltamos
às peripécias da infância. Sua vida nada de
belo possui, é apenas uma cópia mal feitas
de outras cópias. Vivem uns com medo dos
outros, das opiniões dos outros. E isso é bem
sensato pois podem perder o emprego caso
o patrão não ‘vá com sua cara’ naquela
reunião. Entre no jogo absurdo de
obediência da sociedade. Para um adulto
assim só há dois resultados; conseguindo o
que quer sente-se vazio, não conseguindo
sente-se frustrado. Seu sentido de felicidade
foi adquirido da sociedade e nada tem de
autorrealização. É sempre a realização de
uma meta determinada por outra pessoa ou
instituição e está relacionada a possuir e
acumular coisas. Daí as pessoas normais se
medirem pelo que possuem. Nada mais
natural nesse sistema de coisas. Sentem-se
tristes e não sabem o porquê. Acumulam
coisas para serem felizes e não são. Veja a

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A ÚLTIMA ILUSÃO

cara das pessoas em seus carros de luxo.


Preso nessa armadilha nem mesmo tem
consciência dela. Vive em círculos. Sente a
necessidade de uma mudança completa mas
não importa o que faça sempre volta a
estaca zero de sua personalidade. Quer uma
vida nova mas tudo que consegue é mais do
mesmo já que vive de maneira planejada,
premeditada. Não há outro resultado
possível. Vive e morre como lhe disseram
para viver e morrer. Acreditando ser único,
é na realidade apenas mais um em meio a
multidão de iguais a ele. O mesmo time, a
mesma religião, os mesmos interesses. Sua
mente é o lugar mais insano de seu ser.
Sempre lhe trazendo e cirando ais e mais
problemas e desejos, nunca lhe deixa ou
contribui para um único dia de paz, de
completo desfrutarem nenhum objetivo, sem
ter de atender nenhum demanda ou atingir
qualquer meta. Vive com medo da vida e
também da morte. A medida que a idade
avança e o medo aumenta ele se enche de
crenças e certezas absurdas. Adere a uma
religião, filia-se a um partido, torna-se cópia
de cópias. A beleza original foi ocultada sob
essa grossa camada de obediência e só o
despertar de sua consciência pode traze-la
de volta. E nem sequer desconfia de que
aquele sentido de ‘eu’ que lhe foi imposto na
infância é a origem de todo seu sofrimento.

27
MM SAINT

13 SOCIEDADE É CONTROLE
Sociedade é controle de massa e cada um
de nós foi convertido numa unidade ativa
desse controle. Por meio de nós e em nós a
sociedade exerce seu controle sobre nós

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A ÚLTIMA ILUSÃO

mesmos e os outros. Não somos livres nem


permitimos que sejam. O que nos mantém
nesse fluxo é o pensamento que, sendo
apenas memória em movimento, perpetua o
passado.
Liberdade é abrir mão, de instante a
instante, das autoridades psicológicas que a
sociedade implantou em nós por meio de
rótulos como tradição, cultura e
conhecimento.

14 DESEJO É SOFRIMENTO

Desejo é sofrimento. Desejo realizado me

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MM SAINT

dá prazer, mas o processo até alcança-lo


sempre me sujeita a outra pessoa. Desejo
portanto é sofrimento.

15 A EDUCAÇÃO FALHOU

Quando a escola educa as crianças de


maneira a perpetuarem o passado e
atenderem as demandas de uma sociedade

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A ÚLTIMA ILUSÃO

corrupta e violenta, não está sendo ela


mesma parte ativa nesse problema? E
quando rotula esse adestramento com
nomes pomposos como cultura, tradição e
conhecimento não está sendo hipócrita? E
quando pretende ser solução quando na
verdade é parte do caos não está sendo
demagoga? E quando seus professores
acreditam estarem lutando por mudanças
não estão sendo alienados e alienando? E
quando as crianças estão sendo doutrinadas
a crer em tudo sem questionar não estão
sendo destruídas? E quando mandamos
nossos filhos para essa escola para serem
preparados para a competição, guerra e
ambição estamos realmente amando nossos
filhos? E quando os entregamos a toda sorte
de especialistas é isso amor?

16 VER É AGIR

Quando você olha para algo, você tem a

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MM SAINT

oportunidade de perceber quais são seus conteúdos


mentais. Isso é importante porque são eles que estão
ditando suas ações. Quando você, ao olhar para a
cena acima percebe feiura, é porque a feiura está
dentro de você, como um conceito, um censor
classificando tudo que é percebido pelos sentido de
visão, buscando por ela mesma do lado de fora. Tão
processo impede o verdadeiro ver, pois em vez de
apenas olhar, você segue classificando o que vê,
aceitando o que gosta e entrando em conflito com o
que esse preconceito recusa. O conteúdo está
buscando e interpretando a ele mesmo. Isso é o que,
na prática, significa que "o observador é o
observado". Não significa que você tenha que mudar
isso. O que precisa é VER ISSO OPERANDO EM
VOCÊ. E por que isso é importante na vida prática?
Porque esse conteúdo está ti fazendo sofrer toda vez
que entra em ação e impede você de ver a beleza
que tudo permeia.

17 A-HA!

32
A ÚLTIMA ILUSÃO

Primeiro eu 'penso que sou eu a pensar' e me


identifico com os pensamentos como sendo 'eu
pensando' Depois me dou conta de que 'o
pensamento ocorre por si só’ e começa 'a guerra para
não pensar', a fase de confusão mental. De repente,
percebo que 'o pensamento é um eco do mundo' e
tenho alguns insights ocasionais e começa 'a busca
pelo pensador' (quem sou eu?). Então, o próprio
pensamento se dá conta de que ele é o mundo, de
que nunca houve pensador algum, separado do
pensamento. E subitamente, exatamente no
momento de ausência de esforço psicológico... "a-
ha!"

18 DA AMBIÇÃO PARA O
SIGNIFICADO

Quando o pensamento compreende a si mesmo


como auto limitante, as barreiras conceituais caem

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MM SAINT

naturalmente e a mente, antes circunscrita no limites


do conhecimento, reconhece sua imensidão e muda
da ambição para o significado, do esforço para o
estado de graça, o tempo cessa e viver acontece por
meio de ações naturais.

19 AUTO ENCARCERAMENTO

34
A ÚLTIMA ILUSÃO

O controlador é antes de tudo o controlado!

20 IDEIA

Agir impulsionado por uma ideia é viver como um


cão acorrentado a um poste.

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MM SAINT

21 FRACTAIS

O pensamento não é você pensando, é uma


memória reagindo a uma fenômeno ‘externo’.

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A ÚLTIMA ILUSÃO

Consciência é o campo sensível onde a mente


percebe a matéria. Ela está para a mente assim
como o filme está para a fotógrafo.

O objeto está acontecendo. A percepção do objeto


está acontecendo. A consciência a respeito dele está
acontecendo. Esse que percebe tudo isso
acontecendo também está apenas acontecendo.
Além deste ponto a compreensão intelectual não
pode avançar; a mente é o além a mente.

Sofrimento é produto do apego aos conteúdos


percebidos no campo da consciência.

Felicidade é quando a inteligência encontra a


ação.

Inteligência e liberdade são abordagens diferentes


do mesmo ‘fenômeno’; a originalidade do ser.

Objeto e consciência do objeto são apenas


conteúdos manifestos na mente.

O pensamento-sentimento ‘eu’ é apenas mais um


conteúdo percebido no campo da consciência, ao
redor do qual gravitam inúmeros outros conteúdos.

Não agir é a fonte de toda ação integral.

Na ausência de ‘eu’ tudo se torna repleto de ação


e cada ação é uma expressão do universo inteiro em
completa harmonia.
É no exato momento do conflito que é possível ver
o ego e ir além dele.

Quando você experiencia sofrimento está


experienciando ego; esse é o momento onde pode
ocorrer a compreensão completa que resulta em

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MM SAINT

transcendência do tempo, do passado, do vir a ser,


do esforço, e morte e vida tornam-se um único
movimento cheio de significado.

Sofrimento é o resultado entre do choque entre


dois limites e o limite é criado pelo apego a uma
ideia; ideia é sofrimento.

O esforço para perpetuar uma ideia gera divisão,


conflito, sofrimento e violência.

O ego, que é a resistência ao agora por meio do


apego a uma ideia, gera o sofrimento; é nesse exato
momento que temos a oportunidade de nos soltar
dele e experienciar consciência e liberdade.

Se o ego for percebido no exato instante em que


surge, ele se dissolverá em sua própria fonte que é a
mente tal qual uma onda se dissolve no mar que é
ela mesma, e a consciência identificada some dando
lugar a mente universal.

A consciência não é um agregado do eu, é parte


dele tanto quanto os pensamentos. O que há além da
consciência é a questão.

O pensador pensa pensamentos; e não é ele


mesmo apenas outro pensamento?

Não pode ser humilde aquele que ainda não


descobriu a origem de toda a ação.

O homem está apenas obedecendo enquanto


sofre a ilusão da liberdade de escolha.

A meta é o pavio da violência; acesso incendeia


uma floresta inteira.

38
A ÚLTIMA ILUSÃO

Humildade está relacionada a ação, e nenhuma


ação pode ser humilde enquanto o agente não
compreender completa e profundamente a origem da
toda ação e a natureza do agente.

Conteúdo e consciência são uma mesma coisa.

Som e consciência auditiva, imagem e consciência


visual; um surge na dependência do outro, logo, não
existe ‘eu’ independente dos fenômenos. Tudo é
vazio de si mesmo.

O fim do sofrimento é produto de uma ação da


mente que sofre ou resulta de uma completa e
profunda compreensão do mecanismo inteiro que
produz o sofrimento?

Nenhuma ação que tem como centro um ‘eu’ pode


estabelecer ordem visto que o desejo autocentrado,
produto de uma mente que sofre é a origem de todas
as ações ‘pessoais’, só poderá gerar mais desordem.
Toda reação é uma resistência aos fatos tais como
são, proveniente de um estado de insatisfação que é
o movimento de uma memória lutando contra o
presente - é a luta da ilusão das ideias contra a
realidade dos fatos.

As ideias negam os fatos tentando perpetuar o


passado por meio de ideologias.

22 A ORIGEM DO EU

Todos os pensamentos são precedidos pelo


pensamento ‘eu’. Ele é o suporte para todos os
demais pensamentos. Mas de onde surge o
pensamento eu? Embora o pensamento-sentimento-

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MM SAINT

eu seja o centro ao redor do qual gravitam todos os


outros pensamentos, sendo assim a raiz de todos
eles, ele próprio não se fez, não existe de maneira
independente e auto existente. O eu surge também
de outro pensamento que lhe dá origem; esse
pensamento é o pensamento ‘meu’! somente por
volta dos dois ou três anos de idade, depois de muita
insistência dos familiares, é que a criança,
conseguindo formular a ideia de ‘meu’ experiencia o
conceito ‘eu’ para o qual o meu aponta. Logo, o ‘eu’ é
secundário em relação ao ‘meu’, surge e se expande
como produto do apego ao mundo em suas várias
formas. Primeiro meu temos as experiências mais
próximas; minha mãe, meu peito, minha chupeta,
depois essa experiência vai se expandindo para as
coisas mais distantes; meus brinquedos, meus
amigos. Esse movimento de expansão segue
indefinidamente vida a fora para coisas cada vez
mais distantes; minha casa, meu carro, meu diploma,
minha esposa, meus filhos, netos, legado etc. Daí o
eu crescer em direta proporção às posses. Por isso a
natureza do eu é violenta pois seu nascimento,
sobrevivência e expansão só são possíveis por meio
do acúmulo, da conquista e da expansão material e
psicológica. Por isso tentamos não apenas dominar
os outros materialmente mas também
psicologicamente. O mesmo jogo de conquista
territorial acontece no campo psicológico com cada
um tentando dominar e controlar o outro seja pelo
medo, pelas vantagens, elogios, olhares, sugestões,
conselhos ou mesmo promessas de uma vida
espiritual maravilhosa desde que obedecidos uma
série de dogmas pré-estabelecidos . Essa é a maior
de todas as percepções; de que o eu é secundário ao
meu e surge e se perpetua pelo apego ao mundo em
suas infindáveis formas. Por isso ‘eu’ é egoísmo e
libertação é desapego!

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A ÚLTIMA ILUSÃO

23 INSIGHT

Insight é quando o pensamento-eu não está


presente. Isso ocorre quando o pensamento-meu,
que dá suporte ao conceito-eu desaparece. Neste
momento a mente compreende completa e

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MM SAINT

profundamente tudo que ela iluminar com sua


atenção. O que resulta dessa atenção é sempre novo
porque o que é visto também é novo.

24 O ÚNICO PROBLEMA

O único problema a ser compreendido é o lugar


correto do pensamento. Muito útil e hábil no campo
material ele criou o avião e dividiu o átomo;
desastroso no campo psicológico dos

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A ÚLTIMA ILUSÃO

relacionamentos colocou uma bomba no avião e


jogou em Hiroshima. O pensamento se insinuou no
campo psicológico e contaminou esse com a ideia de
progresso. Fascinados pela eficiência dele nas
questões, por assim dizer, práticas, mecânicas,
transformamos o servo no senhor.

25 A CANÇÃO DA VIDA

Estamos relacionados. Somos interdependentes.


Estamos atados a nos relacionar. Precisamos do
contato. E é exatamente no momento do contato que

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MM SAINT

reside a oportunidade de escutar a canção da vida;


será um canção ruidosa, cheia de distorções ou será
uma bela sinfonia cheia de emoção e entusiasmo
com a divisão perfeita entre as notas, com uma
cadência e ritmos em sincronia e espaços de silêncio
que se alternam entre momentos de tremenda beleza
e comunhão? A canção da vida só pode ser escutada
através dos relacionamentos sem conflito. Daí a
importância de compreender a origem do sofrimento,
desvendar a questão do tempo e saber se existe
outra forma de aprender que não seja a repetição
forçada do passado sobre o presente, e descobrir na
vida qual o sentido da morte, o que é o amor e como
isso se torna ação.

26 SI MESMO

Abri mão do si mesmo é experienciar alegria;


agarrar-se a ele é experienciar sofrimento; veja isto

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A ÚLTIMA ILUSÃO

em sua própria vida, veja como o sofrimento lhe


encontra toda vez que você defende sua auto
imagem. Faça isso durante seu dia a dia, por meio de
suas atividades cotidianas. Perceba em você mesmo
o conflito interno causado pela resistência, pelo
apego à ideais e veja como esse conflito interno se
exterioriza de forma violenta. Desta forma, a partir
deste entendimento, cada momento ordinário como
lavar louças ou ir ao escritório e atender clientes
torna-se meditação - que é a compreensão da vida
sem dela fugir. A vida tal como ela é passa a ser
vivida com um tremendo sentido de presença, de
consciência e sensibilidade a tudo e a todos pois
estamos cientes, a cada instante, de nosso mundo
interno e descobrimos desse modo que ele é produto
do mundo externo – logo não existe realmente tal
divisão interno-externo – tudo é um só movimento –
mas precisa ser visto e não transformado em teoria
romântica a qual nos ajustamos. Com a consciência
altamente alerta, a vida passa a ser vivida em sua
plenitude sem dela nada rejeitarmos ou nos
apegarmos e desse contato direto e completo surge a
ação espontânea, natural e conciliadora que põe fim
ao conflito. Viver a vida tal qual ela nos chega torna-
se nossa meditação incessante. O esforço cessa, as
ideologias caem, as fantasias perdem seu poder de
atração, o conflito dá lugar a cooperação e a ambição
particular transforma-se em amor ao próximo.

26 EIS!

Compreender profundamente a questão do medo,

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MM SAINT

ver sua implicação na liberdade, enxergar o processo


do desejo que é apego e sofrimento, desvendar a
questão do tempo e descobrir o que significa a morte,
ver se existe outra forma de aprender que não seja
pela imitação e desvendar isso que chamamos de
‘eu’ e que é o tema central a respeito do qual
devotamos todos os nossos esforços e pelo qual
transformamos a vida num campo de batalhas; tudo
isso está envolvido no despertar de uma inteligência
que não é produto do acúmulo e que sempre resulta
na ação correta sob quaisquer circunstâncias. Eis
o que significa meditação.

27 LIVRE DE ESCOLHAS

A necessidade de escolher só existe quando a mente

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A ÚLTIMA ILUSÃO

está confusa!
Para uma mente clara, em ordem, a ação é
instantânea.
Lembre-se: sempre que você estiver triste, com raiva
ou medo, esse estado mental é uma escolha sua!

28 GUERRA

A guerra. Dentro e fora de nossas cabeças. Todos


defendendo seu espaço físico e psicológico.
Sorridentes até nos sentirmos invadidos; aí os dentes

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MM SAINT

se tornam navalhas! A frustração se acumulando por


baixo de uma aparente cordialidade. Nos exploramos
mutuamente. Acusamos os outros daquilo que nós
mesmos fazemos e somos. Criticamos atos de
violência como se isso fosse algo separado de nós.
Não percebemos a violência em nossos atos
competitivos, em nossa ânsia por sucesso.
Ah! O sucesso... a cenoura dourado à frente do
cavalo.

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