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Comentários à Resolução nº723/18 do CONTRAN

Dr. Paulo André Cirino

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Comentários à Resolução nº723/18 do CONTRAN
Dr. Paulo André Cirino

Paulo André Cirino

● Fundador do portal “Na Blitz Cursos de Trânsito”


● Advogado efetivo do DETRAN|ES;
● Já atuou como Presidente de Comissão Julgadora
de Defesa Prévia do DETRAN/ES;
● Ex Membro da JARI do DETRAN/ES;
● Membro da Comissão de Trânsito da OAB|ES;
● Pós graduado em Direito de Trânsito;
● Já atuou como assessor do Tribunal de Justiça do
Estado do Espírito Santo;
● Consultor da FENASDETRAN;
● Palestrante em direito de trânsito e direito
administrativo;
● Professor de Direito Administrativo e Direito de Trânsito em cursos para
concursos;
● Professor da Escola de Serviço Público do Estado do Espírito Santo – ESESP;
● Articulista na área de Direito de trânsito;
● Professor de Pós graduação na cadeira de Direito Administrativo de Trânsito e
Processo Administrativo de Trânsito;
● Professor de cursos online

Outras obras do autor

● 5 Passos para fazer o recurso de multa de trânsito


● Jurisprudências de direito de trânsito selecionadas

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• Lei seca na prática

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INTROUÇÃO

O processo administrativo de trânsito durante o longo do tempo tem ganhado muita


notoriedade e importância em virtude da repercussão social que suas conseqüências
geram.

Temos visto o número crescente de medidas administrativas e legislativas para tentar


frear o cometimento incessante de infrações de trânsito que assola o Brasil.

Em consequência deste quadro, a quantidade de processos administrativos e também


judiciais vem crescendo de forma absolutamente desordenada, principalmente
aqueles referentes às penalidades que dizem respeito ao direito de dirigir.

Atento à esta necessidade profissional e acadêmica, escrevi este livro com o objetivo
de fazer uma análise crítica à Resolução nº 723/18 que ratificou a Deliberação nº
163/17, norma esta que teve o objeto de revogar a Resolução nº 182/05 do
CONTRAN, e alterou severamente o procedimento administrativo de suspensão do
direito de dirigir e da cassação da CNH.

As alterações foram profundas e merecem um olhar apurado principalmente por parte


daqueles que trabalham com o processo administrativo e judicial de trânsito.

Desejo a todos uma excelente leitura e #VamosJuntos!

Vitória/ES, março de 2018

Paulo André Cirino

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Comentários à Resolução nº723/18 do CONTRAN
Dr. Paulo André Cirino

RESOLUÇÃO Nº 723, DE 06 DE FEVEREIRO DE 2018

Referendar a Deliberação CONTRAN nº 163, de 31 de outubro de 2017, que dispõe


sobre a uniformização do procedimento administrativo para imposição das
penalidades de suspensão do direito de dirigir e de cassação do documento de
habilitação, previstas nos arts. 261 e 263, incisos I e II, do Código de Trânsito
Brasileiro (CTB), bem como sobre o curso preventivo de reciclagem.

O CONSELHO NACIONAL DE TRÂNSITO (CONTRAN), no uso da competência que


lhe confere o artigo 12, inciso I, da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997, que
instituiu o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) e nos termos do disposto no Decreto nº
4.711, de 29 de maio de 2003, que trata da coordenação do Sistema Nacional de
Trânsito (SNT).

Considerando a Lei nº 13.154, de 30 de julho de 2015, e a Lei nº 13.281, de 04 de


maio de 2016;

Considerando a necessidade de uniformizar os procedimentos relativos à imposição


das penalidades de suspensão do direito de dirigir e de cassação do documento de
habilitação na forma do disposto nos arts. 261 e 263 do CTB, bem como do curso
preventivo de reciclagem, previsto no art. 261, § 5º, do mesmo diploma legal;

Considerando o que consta no Processo Administrativo no 80000.112839/2016-02,


RESOLVE:

► Art. 1° Referendar a Deliberação CONTRAN nº 163, de 31 de outubro de 2017,


publicada no Diário Oficial da União (DOU) do dia 01 de novembro de 2017, nos
termos desta Resolução.

CAPÍTULO 1 - DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

► Art. 2º Esta Resolução estabelece o procedimento administrativo a ser seguido


pelos órgãos e entidades componentes do Sistema Nacional de Trânsito (SNT),
quando da aplicação das penalidades de suspensão do direito de dirigir e de cassação
do documento de habilitação, decorrentes de infrações cometidas a partir de 1º de
novembro de 2016, bem como do curso preventivo de reciclagem.

Ao tutelar sobre o procedimento administrativo aplicável às penalidades de suspensão


do direito de dirigir e cassação da CNH, a Resolução nº 723/18, referenda a
Deliberação nº 163/17 que por sua vez revogou a Resolução nº 182/05 do CONTRAN
com efeito ex tunc aplicável apenas aos processos decorrentes de infrações
cometidas a partir de 1º de novembro de 2016.

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Ex tunc é o efeito retroativo do ato administrativo. Desta forma, como consta em seu
bojo a resolução regulará também processos que terão/tiveram origem em infrações
cometidas antes dela, isto é, atos ocorridos a partir de 1º de novembro de 2016. Seus
efeitos são para o passado, e claro, para o futuro, pois doravante ela dará a tônica
dos processos em testilha.

A Resolução também trata do curso preventivo de reciclagem previsto nos parágrafos


5º, 6º e 7º do art. 261 do CTB destinado aos motoristas que exercem atividade
remunerada, hipótese em que a eles é oportunizada a realização do curso quando
forem atingidos 14 pontos no período de 1 ano1.

► Art. 3º A penalidade de suspensão do direito de dirigir será imposta nos seguintes


casos:

I - sempre que o infrator atingir a contagem de 20 (vinte), no período de 12 (doze)


meses;

II - por transgressão às normas estabelecidas no CTB, cujas infrações preveem, de


forma específica, a penalidade de suspensão do direito de dirigir.

Como não poderia deixar de ser, o CONTRAN apenas reproduz os termos do art. 261
do Código, uma vez não ter competência legislativa para instituir novas formas de
suspensão do direito de dirigir dada a ausência de previsão legal para tanto.

Vale lembrar que de acordo com o art. 22, XI da Constituição Federal, a competência
privativa para legislar sobre trânsito e transporte é da União, e qualquer inovação
neste sentido por parte de quem quer que fosse seria inconstitucional.

► Art. 4º A cassação do documento de habilitação será imposta nos seguintes


casos:

I - quando, suspenso o direito de dirigir, o infrator conduzir qualquer veículo;

II - no caso de reincidência, no prazo de doze meses, das infrações previstas no inciso


III do art. 162 e nos arts. 163, 164, 165, 173, 174 e 175, todos do CTB.

As previsões de cassação da CNH estão presentes no art. 263 do CTB conforme fiel
reprodução no art. 4º acima.

Neste sentido os mesmos comentários feitos no art. 3º se aplicam ao presente texto.

1 Sobre o curso preventivo de reciclagem, veja os comentários ao capítulo III

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► Art. 5º As penalidades de que trata esta Resolução serão aplicadas pela


autoridade de trânsito do órgão de registro do documento de habilitação, em processo
administrativo, assegurados a ampla defesa, o contraditório e o devido processo legal.

Todo ato administrativo que impute penalidade a quem quer que seja
necessariamente deverá observar as garantias constitucionais do contraditório e da
ampla defesa previstas no inciso LV do art. 5º da CF.

Assim, antes de aplicar qualquer punição, a Autoridade de trânsito do órgão de registro


do documento de habilitação deverá garantir a observância de todas as balizas
constitucionais e procedimentais.

Cabe lembrar que ordinariamente tais processos serão instaurados pelos DETRAN’s
tendo em vista que de acordo com o inciso II do art. 22 do CTB cabe exatamente
aos órgãos ou entidades executivos de trânsito dos Estados e do Distrito Federal no
âmbito de sua circunscrição, “realizar, fiscalizar e controlar o processo de formação,
aperfeiçoamento, reciclagem e suspensão de condutores, expedir e cassar Licença
de Aprendizagem, Permissão para Dirigir e Carteira Nacional de Habilitação, mediante
delegação do órgão federal competente.”

CAPÍTULO 2 – DA SUSPENSÃO O DIREITO DE DIRIGIR

SEÇÃO I - POR PONTUAÇÃO

► Art. 6º Esgotados todos os meios de defesa da infração na esfera administrativa,


a pontuação prevista no art. 259 do CTB será considerada para fins de instauração
de processo administrativo para aplicação da penalidade de suspensão do direito de
dirigir.

Como visto, a penalidade de suspensão pode ocorrer em duas situações, sendo uma
delas por acúmulo de pelo menos 20 pontos no período de 12 meses.

Ocorre que os pontos aqui referenciados por óbvio advêm de infrações de trânsito que
isoladamente não tem o condão de gerar a suspensão da CNH.

Desta forma o processo de suspensão apenas terá início quando cada uma dessas
infrações forem alvo de processos administrativos próprios, com a garantia mais uma
vez dos preceitos constitucionais e procedimentais.

Cabe observar que uma infração de trânsito pode ser cometida pelo proprietário ou
pelo condutor que não seja proprietário. Cada uma destas hipóteses terá um rito
próprio e deverá ser observado sob pena de nulidade do futuro processo de
suspensão (e também de cassação).

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Explico:

Imagine que Marcela empreste seu veículo para Joana.

Joana comete a infração prevista no inciso I do art. 252 do CTB referente a dirigir o
veículo com o braço do lado de fora, ação esta que caracteriza infração média com a
penalidade de multa.

Na situação posta, tanto Marcela (proprietária) quanto Joana (condutora) terão


interesse em apresentar defesas da autuação.

Marcela terá interesse e legitimidade para figurar no processo, pois de acordo com a
Resolução nº108 do CONTRAN, independentemente de quem estiver conduzindo o
veículo a responsabilidade pelo pagamento da multa é sempre do proprietário.

E Joana também será parte legítima para apresentar defesa contra a suposta infração,
uma vez que, caso o auto seja julgado subsistente os pontos serão registrados em
seu prontuário, pontos estes que se somados a outros porventura existentes ou que
venham a existir no período de 12 meses darão ensejo à suspensão do direito de
dirigir.

Logo, caso estes 4 pontos da infração média se mostrem por exemplo como o estopim
para o início do processo de suspensão, o mesmo apenas poderá ser considerado
quando à ambas (proprietária e condutora) forem garantidos os direitos ao
contraditório e ampla defesa na forma do capítulo XVI do CTB que trata do processo
administrativo de trânsito, bem como das resoluções nº 619/17 e 299/08.

Infelizmente, muitos DETRAN’s tem a idéia errada de que não precisam notificar os
condutores, mas apenas os proprietários dos veículos por força literal do art. 282 do
CTB, o que é um erro absurdo e dá ensejo à NULIDADE total do futuro processo de
suspensão do direito de dirigir.

À guisa de exemplo, veja o julgado abaixo:

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO.


SISTEMA NACIONAL DE TRÂNSITO. PROCESSO DE
CASSAÇÃO DO DIREITO DE DIRIGIR. AUTO DE INFRAÇÃO.
NOTIFICAÇÃO DE IMPOSIÇÃO DE PENALIDADE. REMESSA
SOMENTE AO PROPRIETÁRIO DO VEÍCULO. DIREITO DO
CONDUTOR AO CONTRADITÓRIO. NÃO OPORTUNIZADO.
Ainda que a autuação da infração de trânsito se tenha dado em
flagrante, o Auto de Infração de Trânsito não foi assinado pelo
condutor, inexistindo prova nos autos acerca de sua ciência
inequívoca para apresentar defesa. Neste quadro, injustificável
a remessa do Auto de Infração de Trânsito e da Notificação de
Imposição de Penalidade ao proprietário do veículo e não ao
condutor infrator, mormente em virtude de a autarquia ter
conhecimento acerca do endereço do condutor - conforme
evidencia documentação trazida pela própria apelante. A
apresentação de defesa pelo proprietário face à notificação
recebida não implica a ciência inequívoca do condutor acerca

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da penalidade, já que a autarquia não pode delegar ao


proprietário o dever de notificar o infrator. Manutenção da
sentença. NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO.
UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70072952930, Segunda Câmara
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Laura Louzada
Jaccottet, Julgado em 28/06/2017).

(TJ-RS - AC: 70072952930 RS, Relator: Laura Louzada


Jaccottet, Data de Julgamento: 28/06/2017, Segunda Câmara
Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 13/07/2017)

Desta forma, apenas ao final do processo da multa de trânsito onde são garantidas
três defesas, caso o auto seja julgado subsistente é que os pontos serão considerados
para a instauração de um novo processo, qual seja, o de suspensão do direito de
dirigir.

► Art. 7º Para fins de cumprimento do disposto no inciso I do art. 3º serão


consideradas as datas do cometimento das infrações.

► § 1º Os órgãos e entidades componentes do SNT que aplicam a penalidade de


multa deverão comunicar, por meio do registro no RENAINF ou outro sistema
eletrônico, aos órgãos executivos de trânsito de registro do documento de habilitação,
a pontuação correspondente, após o encerramento da instância administrativa da
infração.

Este certamente é um dos principais textos do processo administrativo de suspensão


do direito de dirigir (e também de cassação da CNH).

Devemos lembrar que de acordo com o art. 7º do CTB2, vários são os órgãos do SNT,
e que em sua maioria eles têm a competência para fiscalizar e aplicar multas de
trânsito.

A Resolução literalmente afirma que estes órgãos após aplicarem as multas,


comunicarão ao DETRAN (órgão executivo de trânsito responsável pelo registro do
documento de habilitação) que a partir daquele momento ele (DETRAN) poderá
registrar a pontuação, pois o processo administrativo da infração (multa) já se
encerrou.

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Art. 7º Compõem o Sistema Nacional de Trânsito os seguintes órgãos e entidades: I - o Conselho
Nacional de Trânsito - CONTRAN, coordenador do Sistema e órgão máximo normativo e consultivo; II
- os Conselhos Estaduais de Trânsito - CETRAN e o Conselho de Trânsito do Distrito Federal -
CONTRANDIFE, órgãos normativos, consultivos e coordenadores; III - os órgãos e entidades
executivos de trânsito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; IV - os órgãos e
entidades executivos rodoviários da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; V - a
Polícia Rodoviária Federal; VI - as Polícias Militares dos Estados e do Distrito Federal; e VII - as Juntas
Administrativas de Recursos de Infrações - JARI.

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Ou seja, é como se por exemplo a PRF tivesse registrado uma infração, autuado, dado
ao infrator o direito à ampla defesa, e somente após todos estes passos comunicasse
ao DETRAN que todo o processo transcorreu legalmente e já era possível efetuar o
registro dos pontos.

Note que o DETRAN em momento algum participa do processo de multa, pois se não
foi ele quem registrou a infração obviamente não terá competência para gerir o
processo.

O grande problema é que quando os demais órgãos de trânsito informam o DETRAN


sobre os pontos a serem registrados ao fim do regular processo de multa, não cabe
outra atitude a ser tomada que não a de efetuar o registro e uma vez verificado o
acúmulo de pontos, instaurar o processo de suspensão.

Daí em diante os condutores muitas vezes administrativa e judicialmente questionam


o DETRAN sobre ilegalidades nos processos de multas de trânsito.

Claramente, não detém o DETRAN competência para responder sobre atos de


terceiros, tanto é que parte da jurisprudência já entende desta forma:

EMENTA: APELACAO CIVEL – PROCESSUAL CIVIL -


ANULACAO DE AUTO DE INFRACAO EXPEDIDO PELO
DER/ES - ILEGITIMIDADE DO DETRAN/ES - LEGITIMIDADE
AD CAUSAM CONFERIDA A PESSOA JURIDICA QUE
PROCEDEU A AUTUACAO DA INFRACAO - RECURSO
PROVIDO - REFORMA DA
SENTENCA DE 1º GRAU - PROCESSO JULGADO EXTINTO
SEM RESOLUCAO DE SEU MERITO COM FULCRO NO ART.
267, VI, DO CPC -. 1. TRATANDO-SE DE ACAO CUJO
PEDIDO CONSISTE NA ANULACAO DE AUTOS DE
INFRACAO, DEVE FIGURAR NO POLO PASSIVO DA
DEMANDA A PESSOA JURIDICA RESPONSAVEL PELA
AUTUACAO E, CONSEQUENTEMENTE, PELA ANULACAO
DOS AUTOS, QUE NO CASO EM EXAME E O DER/ES.
2. TENDO EM VISTA QUE O DETRAN/ES NAO POSSUI
LEGITIMIDADE AD CAUSAM - POR NAO SER
RESPONSAVEL PELOS AUTOS DE INFRACAO
IMPUGNADOS -, INAFASTAVEL O JULGAMENTO DO FEITO
SEM RESOLUCAO DE SEU MERITO, NOS MOLDES DO ART.
267, VI, DO CPC. 3. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.
APELACAO Nº 0035445-04.2006.8.08.0024 (024060354453)
VITORIA - 2ª VARA DA FAZENDA PUBLICA ESTADUAL –
TJ/ES JULGADO EM 16/04/2013 E LIDO EM 16/04/2013

Não ignoramos o entendimento diverso, muito embora o mesmo não se sustente


quando analisado sob o aspecto administrativo, fato este que quase nunca é analisado
pelo Poder Judiciário, uma vez que quando declina para este lado simplesmente
imputa ao DETRAN a responsabilidade pelo procedimento de suspensão e ignora a
responsabilidade dos atos anteriores que não lhe dizem respeito.

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Exemplificando, cito precedente do mesmo Tribunal de Justiça:

APELAÇÃO. PROCESSO CIVIL. INFRAÇÃO DE TRÂNSITO.


PENALIDADE. SUSPENSÃO DE DIREITO DE DIRIGIR.
LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM DO DETRAN.
SENTENÇA MANTIDA. 1. Conforme a teoria da asserção, as
condições da ação devem ser aferidas a partir da narrativa
constante na petição inicial, ou seja, in status assertionis.
Precedentes. 2. A demanda foi ajuizada pleiteando a nulidade
do processo administrativo que culminou na suspensão do
direito da autora de dirigir, tendo em vista que não foi notificada
do indeferimento de sua defesa prévia e dos demais atos. 3.
Apesar das infrações de trânsito terem sido autuadas por outros
órgãos fiscalizadores, tais como o DER⁄ES e o DETRAN⁄RJ,
restou comprovado na inicial que o procedimento para a
aplicação da sanção foi centralizado no DETRAN⁄ES, quem
instaurou o processo administrativo que se pretende anular.
Arts. 22, inc. VI; 256, inc. III e 261, §10 do CTB. 4. Mantém-se
incólume a r. sentença que, ainda que de forma concisa, rejeitou
a preliminar de ilegitimidade passiva ad causam. Recurso
conhecido e improvido. (TJES, Classe: Apelação,
21150076863, Relator: ELISABETH LORDES, Órgão julgador:
TERCEIRA CÂMARA CÍVEL , Data de Julgamento: 04/07/2017,
Data da Publicação no Diário: 14/07/2017)

► § 2º Será instaurado um único processo administrativo para aplicação da


penalidade de suspensão do direito de dirigir quando a soma dos pontos relativos às
infrações cometidas atingir 20 (vinte), no período de 12 (doze) meses.

Como o CTB institui que sempre que o infrator atingir a contagem de 20 (vinte) pontos
no período de 12 (doze) meses haverá a imposição da penalidade de suspensão,
poderiam haver interpretações equivocadas no sentido de que a cada 20 pontos seria
instaurado um novo processo.

Não é este o entendimento correto, mas sim o previsto no parágrafo em análise que
admite apenas um processo por período.

Assim, é possível a instauração de um processo de suspensão por acúmulo de 100


pontos no período de 12 meses, sendo inviável, contraproducente e contrário à norma,
a instauração de 5 processos de suspensão, cada um pelo acúmulo de 20 pontos no
mesmo período.

Entendemos ser este o posicionamento mais adequado a ser aplicado na hipótese


em foco.

► § 3º Não serão computados pontos nas infrações que prevêem, por si só, a
penalidade de suspensão do direito de dirigir.

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A Resolução veda o bis in idem que é a repetição de uma pena pelo mesmo fato.

Por óbvio não seria juridicamente lícito que um condutor que por exemplo viesse a
cometer a infração prevista no art. 165 do CTB, que é uma infração que por si só gera
suspensão, também desse ensejo ao cômputo de pontos para ser registrado em novo
processo de suspensão.

Desta forma o condutor iria ser punido duas vezes pela mesma infração.

► § 4º Ressalvada a hipótese do §3º, todas as demais infrações previstas no CTB


deverão ser consideradas para cômputo de pontuação, independentemente de sua
natureza, inclusive as de responsabilidade do proprietário

Retomando o já citado parágrafo 3º do artigo em questão, seria realmente ilógico


computar pontos de uma infração que por si só já gera uma penalidade tão severa
quanto a suspensão do direito de dirigir.

Dito isto, o texto do parágrafo 4º (texto este que não estava na deliberação nº 163)
informa que fora a hipótese do parágrafo anterior, TODAS as demais infrações
previstas no código serão computadas.

Pois bem, a norma em questão apresenta um desafio severo.

Quando afirma que todas as demais infrações deverão ser pontuadas, o que fazer em
situações como a prevista no art. 245 do CTB? Cito:

Art. 245. Utilizar a via para depósito de mercadorias, materiais


ou equipamentos, sem autorização do órgão ou entidade de
trânsito com circunscrição sobre a via:
Infração - grave;
Penalidade - multa;
Medida administrativa - remoção da mercadoria ou do material.
Parágrafo único. A penalidade e a medida administrativa
incidirão sobre a pessoa física ou jurídica responsável.

Veja que estamos diante de uma infração que não gera suspensão, logo, está
abarcada na hipótese em análise.

Mas a quem serão registrados os pontos?

Será que deixar entulho na rua é realmente uma infração de trânsito?

Um condutor habilitado deverá ter em seu prontuário 5 pontos em razão desta infração
grave?

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E se a pessoa física mencionada no artigo não for habilitada?

Perceba que de acordo com o CONTRAN, deverá o órgão de trânsito efetuar o


necessário registro dos pontos seja lá a quem for, pois, valendo-me mais vez da
expressão trazida pelo próprio Conselho: todas as infrações deverão ser
consideradas, (...) independentemente de sua natureza.

► § 5º A qualquer tempo, havendo anulação judicial ou administrativa do autos de


infração, o órgão autuador deverá efetuar nova comunicação aos órgãos de registro
da habilitação, para que sejam adotadas providências quanto a processos
administrativos de suspensão ou cassação do direito de dirigir eventualmente
instaurados com base nas autuações anuladas.

O parágrafo em estudo vem reforçar a separação de competências e


responsabilidades entre os órgãos de trânsito do SNT.

O Conselho volta ao tema que trata de órgão autuador diverso daquele que promove
o processo de suspensão.

Aqui resta claro mais vez que o DETRAN não poderá responder por atos praticados
por outros órgãos/entidades que não estão em sua escala hierárquica.

Neste sentido, o CONTRAN reforça a responsabilidade destes órgãos autuadores, a,


da mesma maneira que informaram o DETRAN sobre o fim dos processos
administrativos das multas que iriam gerar a suspensão/cassação, informarem
também que levaram a efeito a anulação daquele(s) determinado(s) auto(s) e que em
virtude de tal fato o processo de penalidade sobre a infração já não teria mais razão
de existir, o que nos leva à conclusão óbvia do §6º abaixo.

► § 6º Configurada a hipótese do §5º, o órgão de registro da habilitação anulará, de


ofício, a penalidade eventualmente aplicada, cancelando registro no RENACH, ainda
que já tenha havido o encerramento da instância administrativa.

É mais do que claro que se o órgão que lavrou o auto de infração que deu ensejo à
penalidade de suspensão ou de cassação, anulou o referido auto, não teria qualquer
sentido manter a penalidade que daquele AIT decorria.

Por esta razão, tendo em vista ser o sistema totalmente interligado, espera-se que tal
consequência ocorra sempre de ofício.

SEÇÃO II - POR INFRAÇÃO ESPECÍFICA

► Art. 8º Para fins de cumprimento do disposto no inciso II do art. 3º, o processo de


suspensão do direito de dirigir deverá ser instaurado da seguinte forma:

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I - para as autuações de competência do órgão executivo de trânsito estadual de


registro do documento de habilitação do infrator, quando o infrator for o proprietário
do veículo, será instaurado processo único para aplicação das penalidades de multa
e de suspensão do direito de dirigir, nos termos do § 10 do art. 261 do CTB;

Uma grande inovação no processo de suspensão do direito de dirigir foi a inclusão do


§10º ao art. 261 do CTB pela Lei nº 13.281/16 que instituiu o seguinte:

§ 10. O processo de suspensão do direito de dirigir referente ao


inciso II do caput deste artigo deverá ser instaurado
concomitantemente com o processo de aplicação da penalidade
de multa.

Veja que pela redação do §10 acima, caso seja cometida uma infração de trânsito que
tenha como penalidade, além da multa, a suspensão, deveriam ser instaurados dois
processos concomitantemente.

De modo a regulamentar esta previsão, o inciso I do art. 8º da Resolução de forma


questionável determinou que somente, e tão somente, quando o órgão autuador for o
DETRAN e o infrator for o proprietário do veículo, existirá apenas um processo e não
dois em sequência como era feito até então.

Ou seja, sequer estamos falando em processos concomitantes.

A regra nesta hipótese será um único processo que ao final poderá punir o infrator
com três penalidades:

Multa, suspensão do direito de dirigir e curso de reciclagem3.

Assim, uma vez julgado subsistente o auto de infração, ao final do processo teremos
como consequência não apenas a multa de trânsito aplicável e exigível, mas também
a suspensão de imediato e a obrigatoriedade do curso de reciclagem.

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O infrator também irá ser punido com o curso de reciclagem, uma vez que embora omitido pela
Resolução, sabemos pelo inciso II do art. 268 que tal pena irá acompanhar a suspensão.

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II - para as demais autuações, o órgão ou entidade responsável pela aplicação da


penalidade de multa, encerrada a instância administrativa de julgamento da infração,
comunicará imediatamente ao órgão executivo de trânsito do registro do documento
de habilitação, via RENAINF ou outro sistema, para que instaure processo
administrativo com vistas à aplicação da penalidade de suspensão do direito de dirigir.

Pela leitura do inciso II do artigo em estudo, fica claro que o já citado §10º do art. 261
do CTB não será aplicado em todo e qualquer caso, mas tão somente naqueles em
que estiverem presentes os 3 requisitos, quais sejam:

1 - Ser o DETRAN o órgão autuador;


2 - Ser o infrator o proprietário do veículo;
3 - A infração acarretar suspensão do direito de dirigir.

Em resumo, quando o primeiro requisito acima não estiver presente, continuará a


regra até então praticada que é a existência de dois processos: o de multa e o de
suspensão.

► Parágrafo único. Na hipótese prevista no inciso I do caput, o procedimento de


notificação deverá obedecer às disposições constantes na Resolução CONTRAN nº
619, de 06 de setembro de 2016, e suas alterações e sucedâneas, devendo constar
ainda:

I - na notificação de autuação: a informação de que, mantida a autuação, serão


aplicadas as penalidades de multa e de suspensão do direito de dirigir;

II - na notificação de penalidade: as informações referentes à penalidade de multa e à


penalidade de suspensão do direito de dirigir, nos termos do art. 15 desta Resolução.

Tendo em vista que a dupla notificação ainda é uma obrigação inquestionável para a
validade do processo administrativo punitivo de trânsito, a Resolução reafirma a sua
necessidade e apresenta a forma como as mesmas devem ser feitas quando estiver
o DETRAN diante da hipótese de processos únicos (que deveriam ser concomitantes).

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Podemos ver claramente que as defesas apresentadas nestas hipóteses realmente


serão atinentes única e exclusivamente à multa de trânsito, de modo a que, caso seja
o auto declarado válido, o proprietário irá arcar com as 3 penalidades já citadas.

CAPÍTULO 3 – DO CURSO PREVENTIVO DE RECICLAGEM

Antes de adentramos este tema, é importante entendermos um dos tópicos mais


importantes do direito administrativo de trânsito, refiro-me ao poder normativo.

Neste sentido, importantíssimas são as lições de Matheus Carvalho4:

“O poder normativo se traduz no poder conferido à


Administração Pública de expedir normas gerais, ou seja, atos
administrativos gerais e abstratos com efeitos erga omnes. Não
se trata de poder para a edição de leis, mas apenas um
mecanismo para a edição de normas complementares à lei.
trata-se de prerrogativa dada à Administração Pública de editar
esses atos e permitir sua efetiva aplicação sempre limitada pela
lei. Na observação de José dos Santos Carvalho Filho, “ao
poder regulamentar não cabe contrariar a lei (contra legem) sob
pena de sofrer invalidação. Seu exercício somente pode dar-se
secundum legem, ou seja, em conformidade com o conteúdo da
lei e nos limites que esta impuser.

O poder normativo facilita a compreensão do texto legal. os seus


atos são sempre inferiores à lei e visam regulamentar
determinada situação de caráter geral e abstrato, pois facilitam
a execução da lei, minudenciando seus termos.

Nesse sentido, somente a lei é capaz de inovar no ordenamento


jurídico, criando ou extinguindo direitos e obrigações a todos os
cidadãos. A lei é a fonte primária do direito administrativo e
somente ela estabelece regras, em caráter inicial que obrigam
toda a atuação do administrador público. É indiscutível nesse
ínterim, a supremacia da lei em face dos atos administrativos
normativos que não podem alterá-la ou desrespeitar os seus
termos.”

Ou seja, o poder normativo em verdade é uma prerrogativa que o poder público tem
para garantir que a norma primária (lei) que porventura não seja autoexecutória, passe
a ser.

Todavia o exercício deste poder deve respeitar os limites impostos pela própria lei e
pelo ordenamento legislativo.

4CARVALHO, Matheus. Manual de Direito Administrativo. 3 ed. – Salvador: JusPODIVM, 2016, p.117-
118

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Os órgãos que detém o poder normativo não podem se valer desta atribuição para
efetivamente legislar, fato este que não poucas vezes ocorre.

A normatização de um preceito legal nunca pode falar mais do que a própria previsão
legal sob pena de usurpação de competência e nulidade do ato.

Do mesmo pensamento comunga Elyesley Silva do Nascimento5:

“Não raro, as leis uma vez em vigor, não estão prontas para
execução imediata pela Administração em virtude de não serem
minuciosas o suficiente. Nesse contexto, assume fundamental
importância o poder regulamentar, que tem por objetivo detalhar
o conteúdo das leis administrativas para sua fiel execução pela
Administração Pública.

(...)

É imperioso enfatizarmos o caráter dos regulamentos, que são


atos administrativos normativos, naturalmente, subordinados
aos termos e limites da lei a ser regulamentada. Os decretos
não podem inovar na ordem jurídica (criar novos direitos e
obrigações que não estejam previstos em lei), mas somente
estabelecer direitos e obrigações que já tenham sido
disciplinados em lei o fundamento para tal constatação é o art.
5º, II da Constituição, segundo qual “ninguém será obrigado a
fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.”
Pela leitura do dispositivo conclui-se que apenas a lei é
instrumento idôneo para inovar na ordem jurídica, criando
direitos e obrigações inéditas no sistema normativo.”

Por oportuno, pontuo que o inciso I do art. 12 do CTB fixa competir ao CONTRAN
estabelecer as normas regulamentares referidas no código.

Ou seja, cabe ao Conselho Nacional de Trânsito regulamentar o Código de Trânsito


Brasileiro quando houver a necessidade de tal ato, e caso haja violação dos limites
desta competência estará configurado o excesso de poder, espécie de abuso de poder
conforme adverte mais uma vez o professor Elyesley Silva do Nascimento:

“Os poderes administrativos são prerrogativas especiais que a


ordem jurídica confere aos agentes públicos para a satisfação
do bem comum.

Quando o agente público exerce normal e regularmente os


poderes administrativos, conforme o que dispõe a lei e os
princípios da Administração Pública, dizemos que há uso do

5 NASCIMENTO, Elyesley Silva do. Curso de direito administrativo. Rio de Janeiro: Impetus, 2013,
p.227-228

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poder. de outra forma, quando os poderes administrativos são


exercidos irregularmente há o abuso de poder.

As condutas marcadas por abuso de poder, sejam comissivas


ou omissivas, dolosas ou culposas, serão nulas e
importarão responsabilização para os agentes que nelas
incorrerem.

(...)

O abuso de poder é gênero que abriga duas espécies: o


excesso de poder e o desvio de poder.

O excesso de poder é caracterizado pela prática de ato com


defeito na competência e ocorre de duas formas:

(...)

b) Quando o agente, embora formalmente competente para


praticar o ato, vai além do permitido, exorbita no uso de suas
faculdades administrativas e confere ao ato efeitos que este não
está apto a produzir.”

Dito isto, passemos à análise do art. 9º que trata do curso preventivo de reciclagem.

► Art. 9º Para fins de cumprimento do disposto nos §§ 5º, 6º e 7º do art. 261 do


CTB, o órgão executivo de trânsito de registro do documento de habilitação do
condutor aplicará a regulamentação prevista para o art. 268 do CTB.

Prima facie, ressalte-se que o curso é um benefício pensado em favor do motorista


profissional, que por depender de sua CNH como meio de sustento terá o direito de
se valer desta previsão, evitando assim que amargue a suspensão do direito de dirigir
e porventura perca sua ferramenta de trabalho.

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Assim, o condutor que se enquadre nas hipóteses previstas nos termos dos
parágrafos 5º, 6º e 7º do art. 261 do CTB ao atingir 14 pontos (lembrando que a
suspensão por pontuação exige no mínimo 20) poderá se submeter ao curso
preventivo de reciclagem de modo a evitar a premente suspensão e todas as
consequências que dela advém.

De antemão, veja do que tratam os parágrafos citados:

§ 5º O condutor que exerce atividade remunerada em veículo,


habilitado na categoria C, D ou E, poderá optar por participar de
curso preventivo de reciclagem sempre que, no período de 1
(um) ano, atingir 14 (quatorze) pontos, conforme
regulamentação do Contran. (Redação dada pela Lei nº 13.281,
de 2016)

§ 6º Concluído o curso de reciclagem previsto no § 5o, o


condutor terá eliminados os pontos que lhe tiverem sido
atribuídos, para fins de contagem subsequente. (Incluído pela
Lei nº 13.154, de 2015)

§ 7º O motorista que optar pelo curso previsto no § 5º não


poderá fazer nova opção no período de 12 (doze) meses.
(Redação dada pela Lei nº 13.281, de 2016)

Os textos legais acima tratam do curso preventivo de reciclagem que pode ser
aplicado aos motoristas que exercem atividade remunerada, de modo a que eliminem
os pontos registrados em sua CNH quando presentes os requisitos legais.

A Resolução não foi muito clara em seu intuito ao dispor que “o órgão executivo de
trânsito de registro do documento de habilitação do condutor aplicará a
regulamentação prevista para o art. 268 do CTB”.

Perante as informações em análise, entendemos que o CONTRAN ao citar o art. 268


está remetendo o DETRAN a observar os termos da Resolução nº 726/18, que dentre
outros assuntos estabelece normas e procedimentos para o curso de reciclagem.

► § 1º Para instauração do processo definido no caput, o condutor que, no período


de 12 (doze) meses, for autuado por infrações cuja soma dos pontos atinja 14
(quatorze) pontos, poderá requerer junto ao órgão de registro do documento de
habilitação a participação no curso preventivo de reciclagem.

► § 2º Também fará jus ao estabelecido no § 1º o condutor que, possuindo uma soma


de pontos por infrações inferior a 14 (quatorze) pontos, no período de 12 (doze)
meses, seja uma vez mais autuado, dentro desse período, e a soma dos pontos das
infrações seja superior a 14 (quatorze) e não ultrapasse os 19 (dezenove) pontos.

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Tendo em vista que a suspensão da CNH por pontuação se dá com o acúmulo mínimo
de 20 pontos, o CONTRAN instituiu que o benefício do curso de reciclagem poderia
ser requerido por condutores que acumulassem de 14 a 19 pontos.

Mesmo sendo lógica esta dinâmica, o fato é que o Congresso Nacional não chancelou
textualmente a possibilidade de utilização do curso preventivo de reciclagem por
condutores que ultrapassassem os famigerados 14 pontos.

Será que efetivamente o curso de reciclagem não era um tema de simples, rápida e
automática aplicação com os três parágrafos do art. 261 do CTB?

Diante da construção toda feita até este momento, a nosso juízo o art. 9 da Resolução
nº 723/18 representa uma violação dos limites do poder normativo, aparentando o já
citado excesso de poder.

Dito isto, é importante ressaltar que fora a questão doutrinária, até que a presente
norma seja revogada/reformada ou declarada ilegal, fato é que os órgãos de trânsitos
são OBRIGADOS a aplicar a norma da presente Resolução.

A Administração Pública não tem a discricionariedade de escolher seguir ou não


preceitos normativos (ainda que ilegais) editados pelo CONTRAN, caso contrário
estariam os gestores praticando ato de improbidade administrativa e sujeitos então a
todas as mazelas constitucionais6 e infraconstitucionais destes atos.

A situação posta apresenta dois possíveis problemas:

O primeiro é que este elastecimento não consta na lei e é claramente ilegal por
violação aos limites do poder regulamentar.

O segundo é que diferentemente do processo de suspensão por pontos que só pode


ser instaurado após o final dos processos das multas de trânsito, onde vemos
claramente o respeito ao devido processo legal, o CONTRAN admite que poderá ser
instaurado o procedimento do curso preventivo de reciclagem mesmo antes da
estabilização da pontuação.

► § 3º Poderá fazer o requerimento o condutor que, mesmo já tendo atingido a soma


exata de 14 (quatorze) pontos, no período de 12 (doze) meses, for autuado por
infrações que não ultrapassem 19 (dezenove) pontos, sendo eliminada a pontuação,
observado o disposto no §6º deste artigo.

Mais uma vez aqui existe a ratificação do abuso de poder por parte do CONTRAN
pelos motivos acima narrados.

6
Art. 37, § 4º da CF - Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos
políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma
e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.

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► § 4º Para fins de instauração, análise e deferimento do processo do curso


preventivo de reciclagem, não é necessário o trânsito em julgado das infrações
relacionadas no requerimento do condutor ou a existência da pontuação respectiva
no RENACH.

Ao permitir que o curso preventivo de reciclagem seja eventualmente deferido antes


mesmo do trânsito em julgado das infrações presentes no requerimento, o CONTRAN
esquece que o curso de reciclagem não deixa de ser uma penalidade.

O condutor que se submeter ao curso após deferimento do pedido ao órgão de


trânsito, só o estará fazendo em virtude do registro de infrações de trânsito que ainda
podem estar sendo questionadas na esfera administrativa.

Ocorre que se após ou mesmo durante o cumprimento do curso de reciclagem os


autos de infração questionados nos processos administrativos próprios forem julgados
insubsistentes, o condutor poderá requerer ao órgão de trânsito o reembolso dos
danos que teve por ter cumprido uma penalidade que não lhe cabia.

Ora, se os pontos apenas são registrados após o fim do processo administrativo, como
pode o CONTRAN admitir que alguém simplesmente autuado se submeta a um curso
de reciclagem de modo a retirar pontos que ainda não estão registrados e talvez nunca
venham a ser?

► § 5º Novo requerimento para o curso preventivo de reciclagem só poderá ser


realizado uma vez a cada período de 12 (doze) meses, contado da data de conclusão
do último curso preventivo de reciclagem.

§ 6º Concluído com êxito o curso preventivo de reciclagem, a pontuação das infrações


relacionadas será eliminada para todos os efeitos legais.

Note que o que será eliminado é a pontuação, mas não a multa.

A única penalidade que substitui a multa de trânsito é a advertência por escrito.

CAPÍTULO 4 – DO PROCESSO ADMINISTRATIVO DE SUSPENSÃO DO DIREITO


DE DIRIGIR

► Art. 10. O ato instaurador do processo administrativo de suspensão do direito de


dirigir de que trata esta Resolução, conterá o nome, a qualificação do infrator, a(s)
infração(ões) com a descrição sucinta dos fatos e a indicação dos dispositivos legais
pertinentes.

§ 1º Instaurado o processo, far-se-á a respectiva anotação no prontuário do infrator, a


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qual não constituirá qualquer impedimento ao exercício dos seus direitos.

O texto reflete mais uma vez a tônica de nosso pensamento sobre o famigerado efeito
suspensivo dos recursos de multas de trânsito.

Muito embora o §1º do art. 285 do CTB afirme que o recurso não terá efeito
suspensivo, e o §3º do mesmo artigo fixe que “Se, por motivo de força maior, o recurso
não for julgado dentro do prazo previsto neste artigo, a autoridade que impôs a
penalidade, de ofício, ou por solicitação do recorrente, poderá conceder-lhe efeito
suspensivo.”, resta mais do que claro pelo §1º do art. 10º da resolução, que
obrigatoriamente todo e qualquer recurso terá efeito suspensivo.

Se não tivesse, qual seria o efeito prático do processo de suspensão?

Obviamente seria de, imediatamente, suspender o direito de dirigir.

Por este motivo, se nenhum impedimento ao exercício dos direitos do condutor irá
gerar, e claramente dirigir é um direito, a conclusão é a de que o processo de
suspensão, assim como o de cassação, tal qual o de multa, tem SIM efeito suspensivo,
e caso em algum processo tal efeito não seja conferido de imediato, caberá a
impetração de Mandado de Segurança.

Robustecendo a temática, a mesma resolução indica no inciso VI do art. 15 que


aplicada a penalidade a autoridade de trânsito do órgão de registro do documento de
habilitação deverá notificar o condutor informando-lhe a data em que iniciará o
cumprimento da penalidade fixada caso não seja entregue o documento de habilitação
físico e não seja interposto recurso à JARI nos termos do artigo 16.

Veja que a resolução mais uma vez é enfática em dizer que a notificação informará a
data do cumprimento da pena, dentre outra situação, caso não seja interposto recurso
à JARI.

Ou seja, caso haja recurso, não há que se falar em aplicação de pena, e se não há
que se falar em aplicação de pena diante da existência de recurso, é porque o mesmo
tem efeito suspensivo.

Mais uma vez de forma a ratificar o aqui disposto, veja a clareza do inciso I do art. 16
da Resolução em estudo:

Art. 16. A data de início do cumprimento da penalidade será


fixada e anotada no RENACH:

I - em 15 (quinze) dias corridos, contados do término do prazo


para a interposição do recurso, em 1ª ou 2ª instância, caso não
seja interposto, inclusive para os casos do documento de
habilitação eletrônico;

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II - no dia subsequente ao término do prazo para entrega do


documento de habilitação físico, caso a penalidade seja mantida
em 2ª instância recursal;

Ainda sobre o tema, vale trazer à baila o parágrafo único do art. 290 do CTB, que sem
a menor necessidade de regulamentação aduz: “Esgotados os recursos, as
penalidades aplicadas nos termos deste Código serão cadastradas no RENACH.”

Para finalizar, valho-me do magistério de Fredie Didier7:

“A interposição do recurso prolonga o estado de ineficácia em


que se encontrava a decisão; com o recurso, os efeitos dessa
decisão não se produzem.

O efeito suspensivo é aquele que provoca o impedimento da


produção imediata dos efeitos da decisão que se quer impugnar.
É interessante notar que, antes mesmo da interposição do
recurso e pela simples possibilidade de sua interposição, a
decisão ainda é ineficaz. Isso porque não é o recurso que tem
efeito suspensivo, tenso antes o condão de prolongar a
condição de ineficácia da decisão.

(...)

O efeito suspensivo não decorre, pois, da interposição do


recurso: resulta da mera recorribilidade do ato. significa que,
havendo recurso previsto em lei, dotado de efeito suspensivo,
para aquele tipo de ato judicial, esse, quando proferido, já é
lançado aos autos com sua executoriedade adiada ou
suspensa, perdurando essa suspensão até, pelo menos, o
escoamento do prazo para interposição do recurso. Havendo
recurso, a suspensividade é confirmada, estendendo-se até seu
julgamento pelo tribunal. Não sendo interposto o recurso, opera-
se o trânsito em julgado, passando-se, então o ato judicial a
produzir efeitos e a conter executoriedade.”

7
DIDIER Jr., Fredie. CUNHA da., Leonardo Carneiro. Curso de Direito Processual Civil. V3. 14 ed.
Salvador: JusPODIVM, 2017, p. 166-167

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► § 2º A autoridade de trânsito deverá expedir notificação ao infrator, contendo no


mínimo, os seguintes dados:

I - a identificação do infrator e do órgão de registro do documento de habilitação;

II - a finalidade da notificação, qual seja, dar ciência da instauração do processo


administrativo para imposição da penalidade de suspensão do direito de dirigir por
somatório de pontos ou por infração específica;

III - a data do término do prazo para apresentação da defesa;

IV - informações referentes à(s) infração(ões) que ensejou(aram) a abertura do


processo administrativo, fazendo constar:

a) o(s) número(s) do(s) auto(s) de infração(ões);

b) órgão(s) ou entidade(s) que aplicou(aram) a(s) penalidade(s) de multa;

c) a(s) placa(s) do(s) veículo(s);

d) tipificação(ões), código(s) da(s) infração(ões) e enquadramento(s) legal(is);

e) a(s) data(s) da(s) infração(ões); e

f) o somatório dos pontos, quando for o caso.

A rigor, o processo administrativo de trânsito depende basicamente de duas


notificações, a notificação de instauração de processo administrativo de suspensão
do direito de dirigir (ou cassação), e a notificação de penalidade.

O parágrafo em estudo se refere à primeira notificação, isto é, à notificação de


instauração de processo administrativo de suspensão do direito de dirigir.

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► § 3º A notificação será expedida ao infrator por remessa postal, por meio


tecnológico hábil ou por outro meio que assegure a sua ciência.

A notificação deve alcançar o seu objetivo primordial que é dar ciência ao suposto
infrator da existência de um processo administrativo cuja consequência pode ser a
sua efetiva penalização.

Por este motivo é absolutamente necessário que o órgão de trânsito efetue um tipo
de notificação que assegure a ciência do interessado sob pena de nulidade do
processo, seja ela de que tipo for na forma do texto acima.

Ressalto desde já que conforme o parágrafo 6º abaixo, que reproduz o §1º do art. 282
do CTB, o órgão de trânsito não cometerá ato nulo se a notificação for devolvida por
desatualização do endereço do proprietário do veículo, eis que neste caso será
considerada válida para todos os efeitos.

Um tema muito importante ainda nos dias de hoje é a validade para fins probatórios
da notificação feita por carta simples e não por AR.

Conforme se depreenderá das linhas que seguem, entendemos que quando se trata
de notificação via remessa postal, apenas a notificação por AR ou similar tem o
condão de gerar a prova concreta de que a Administração efetuou com propriedade a
sua obrigação.

Ab initio, vejamos como o sistema de notificação é tratado pela legislação atual.

O Código de Trânsito Brasileiro em seu artigo 282 traça normas básicas, mas
importantes sobre a notificação, veja:

Art. 282. Aplicada a penalidade, será expedida notificação ao


proprietário do veículo ou ao infrator, por remessa postal ou por
qualquer outro meio tecnológico hábil, que assegure a ciência
da imposição da penalidade.

§ 1º A notificação devolvida por desatualização do endereço do


proprietário do veículo será considerada válida para todos os
efeitos.

§ 2º A notificação a pessoal de missões diplomáticas, de


repartições consulares de carreira e de representações de
organismos internacionais e de seus integrantes será remetida
ao Ministério das Relações Exteriores para as providências
cabíveis e cobrança dos valores, no caso de multa.

§ 3º Sempre que a penalidade de multa for imposta a condutor,


à exceção daquela de que trata o § 1º do art. 259, a notificação
será encaminhada ao proprietário do veículo, responsável pelo
seu pagamento.

§ 4º Da notificação deverá constar a data do término do prazo


para apresentação de recurso pelo responsável pela infração,

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que não será inferior a trinta dias contados da data da


notificação da penalidade. (Incluído pela Lei nº 9.602, de
1998)

§ 5º No caso de penalidade de multa, a data estabelecida no


parágrafo anterior será a data para o recolhimento de seu valor.

Posto isso, o CONTRAN utilizando o seu poder normativo editou a Resolução nº 619
em substituição à Resolução nº 404, e dedicou o art 4º para tratar sobre o tema
“notificação”.

CAPÍTULO II DA NOTIFICAÇÃO DA AUTUAÇÃO

Art. 4º À exceção do disposto no § 5º do artigo anterior, após a


verificação da regularidade e da consistência do Auto de
Infração de Trânsito, a autoridade de trânsito expedirá, no prazo
máximo de 30 (trinta) dias contados da data do cometimento da
infração, a Notificação da Autuação dirigida ao proprietário do
veículo, na qual deverão constar os dados mínimos definidos no
art. 280 do CTB.

§ 1º Quando utilizada a remessa postal, a expedição se


caracterizará pela entrega da notificação da autuação pelo
órgão ou entidade de trânsito à empresa responsável por seu
envio.

§ 2º Quando utilizado sistema de notificação eletrônica, a


expedição se caracterizará pelo envio eletrônico da notificação
da atuação pelo órgão ou entidade de trânsito ao proprietário do
veículo.

§ 3º A não expedição da notificação da autuação no prazo


previsto no caput deste artigo ensejará o arquivamento do Auto
de Infração de Trânsito.

§ 4º Da Notificação da Autuação constará a data do término do


prazo para a apresentação da Defesa da Autuação pelo
proprietário do veículo ou pelo condutor infrator devidamente
identificado, que não será inferior a 15 (quinze) dias, contados
da data da notificação da autuação ou publicação por edital,
observado o disposto no art. 13 desta Resolução.

§ 5º A autoridade de trânsito poderá socorrer-se de meios


tecnológicos para verificação da regularidade e da consistência
do Auto de Infração de Trânsito.

§ 6º Os dados do condutor identificado no Auto de Infração de


Trânsito deverão constar na Notificação da Autuação,
observada a regulamentação específica.

§ 7º Torna-se obrigatório atualização imediata da base nacional,


por parte dos órgãos e entidades executivos de trânsito dos

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Estados e do Distrito Federal, sempre que houver alteração dos


dados cadastrais do veículo e do condutor.

Como se vê, nem o Congresso Nacional muito menos o CONTRAN atentaram para a
lacuna legal e infralegal que deixaram em aberto quando não especificaram o tipo de
carta (simples ou com aviso de recebimento) deveria ser adotada pelos órgãos de
trânsito do SNT.

Tal fato pode ensejar então a interpretação de que “tanto faz” a forma adotada.

Esta interpretação no entanto não pode subsistir quando a confrontamos com os


seguintes princípios constitucionais e administrativos:

1 - Legalidade
2 - Eficiência
3 - Segurança Jurídica
4 - Finalidade
5 - Economicidade
6 - Proporcionalidade e Razoabilidade

Inicialmente precisamos entender os fundamentos lógicos de uma notificação.

O processo administrativo punitivo de trânsito depende de vários contornos legais


para ser válido.

Dentre eles, as notificações.

Logo, a pergunta crucial é: uma carta simples guarda os requisitos necessários de


validade plena e total do processo administrativo?

Como o Poder Judiciário trata a alegação da falta de notificação e como os órgãos de


trânsito se defendem de tal acusação?

Quais são as consequências da falta de prova da notificação?

Em verdade estas devem ser as questões analisadas.

É sabido que não existe necessidade jurídica para que o condutor infrator seja
notificado pessoalmente, podendo ser tal ato recebido por terceiros como parentes,
porteiros, etc.

Não é incomum que as assessorias jurídicas dos órgãos de trânsito sejam


confrontadas com demandas judiciais onde a alegação repousa na seguinte assertiva:
“eu não fui notificado”.

Nesses casos a única defesa possível é a apresentação do AR enviado para o


endereço correto e assinado por quem quer que seja.

Por oportuno, trago a informação presente no site www.correios.com.br sobre o AR.

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Características

- O formulário do AR é devolvido ao remetente com a assinatura


da pessoa que recebeu o objeto;

- Pode ser utilizado nas postagens de Cartas, Cartão Postal,


Impressos, Mala Direta Postal, e Encomendas (PAC e SEDEX).

Por que usar este serviço?

- Validade jurídica para demonstração do recebimento do objeto


postal ao qual se vincula;

- Disponibilização de modelos diferenciados de AR, para


clientes a faturar.

Ou seja, logo de início já se verifica que o AR representa eficiência e segurança


jurídica.

Para a jurisprudência o tema “notificação” já é uma questão definida.

Ou o infrator foi notificado ou não foi, e se não foi, o processo é ANULADO.

E o que uma anulação geraria de efeitos para o órgão de trânsito?

1 - Anulação do processo;

2 - Devolução das quantias pagas a título de multas;

3 - Pagamento de honorários advocatícios

4 - Anulação do processo de suspensão ou cassação;

5 - Perdas financeiras com os pagamentos feitos às Comissões de defesa Prévia, e


JARIS que deliberaram sobre as possíveis defesas e recursos;

6 - Gasto com audiências, petições e demais atos praticados pelo advogados do;

7 - Pagamento de custas judiciais;

8 - Pagamento de indenizações por danos morais.

(...)

Corroborando este posicionamento, cito alguns precedentes jurisprudenciais dos


Tribunais pátrios:

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Dr. Paulo André Cirino

REMESSA NECESSÁRIA. DIREITO ADMINISTRATIVO.


PERMISSÃO PARA DIRIGIR. CONCESSÃO DA CARTEIRA
NACIONAL DE HABILITAÇÃO DEFINITIVA. POSTERIOR
CASSAÇÃO. AUTUAÇÃO POR INFRAÇÃO DURANTE
PERÍODO DA PERMISSÃO. VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DO
CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA. RECURSO
DESPROVIDO. 1) O CTB expressamente dispõe no art. 265
que "as penalidades de suspensão do direito de dirigir e de
cassação do documento de habilitação serão aplicadas por
decisão fundamentada da autoridade de trânsito competente,
em processo administrativo, assegurado ao infrator amplo
direito de defesa." 2) O ônus da prova quanto à notificação do
condutor recai sobre o Departamento de Trânsito, sob pena de
se exigir prova negativa do notificado. 3) Remessa
desprovida. ACORDA a Egrégia Segunda Câmara Cível, em
conformidade da ata e notas taquigráficas da sessão, que
integram este julgado, à unanimidade, conhecer da remessa e
lhe negar provimento. Vitória, 26 de julho de
2016. DESEMBARGADOR
PRESIDENTE DESEMBARGADOR RELATOR
(TJES, Classe: Remessa Necessária, 35120274648, Relator :
JOSÉ PAULO CALMON NOGUEIRA DA GAMA, Órgão
julgador: SEGUNDA CÂMARA CÍVEL, Data de Julgamento:
26/07/2016, Data da Publicação no Diário: 03/08/2016)

INTERNO NA APELAÇÃO CÍVEL. PRELIMINAR DE


NULIDADE DO JULGAMENTO MONOCRÁTICO REJEITADA.
MÉRITO. PROCESSO ADMINISTRATIVO DE IMPOSIÇÃO DE
MULTA DE TRÂNSITO. NULIDADE EM RAZÃO DA AUSÊNCIA
DE NOTIFICAÇÃO DAS INFRAÇÕES. ÔNUS DA PROVA DO
ENTE PÚBLICO. RECURSO DESPROVIDO. 1) O legislador
prevê expressamente, por intermédio do artigo 557 do CPC, a
possibilidade de decisão monocrática para julgar desprovido o
recurso que estiver em confronto com jurisprudência dominante
do respectivo Tribunal. De toda sorte, eventual nulidade da
decisão monocrática calcada no aludido dispositivo fica
superada com a reapreciação do recurso pelo órgão
colegiado. Preliminar rejeitada. 2) Conforme sedimentado pelo
Superior Tribunal de Justiça no verbete sumular nº 312, ¿no
processo administrativo para imposição de multa de trânsito,
são necessárias as notificações da autuação e da aplicação da
pena decorrente da infração¿. 3) Sob esse prisma, é pacífica a
jurisprudência desta Corte, inclusive desta Segunda Câmara
Cível, no sentido de que o ônus da prova de que as notificações
foram expedidas é do ente público, sob pena de exigir do
cidadão prova de fato negativo. 4) Desse modo, a presunção
juris tantum de legitimidade do ato administrativo não dispensa
a autarquia da comprovação de que notificou regularmente o
infrator. 5) Recurso desprovido. ACORDA a Egrégia Segunda
Câmara Cível, em conformidade da ata e notas taquigráficas da
sessão, que integram este julgado, à unanimidade de votos,
negar provimento ao recurso. Vitória, 15 de dezembro
2015. DESEMBARGADOR PRESIDENTE
DESEMBARGADOR RELATOR

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Dr. Paulo André Cirino

(TJES, Classe: Agravo Ap, 48090000687, Relator : JOSÉ


PAULO CALMON NOGUEIRA DA GAMA, Órgão julgador:
SEGUNDA CÂMARA CÍVEL, Data de Julgamento: 15/12/2015,
Data da Publicação no Diário: 19/01/2016)

Ementa: AGRAVO. TRÂNSITO. SUSPENSÃO DO DIREITO DE


DIRIGIR. PERDA DO OBJETO. NULIDADE. RECURSO
ADMINISTRATIVO. 1. Em se tratando de matéria a cujo respeito
há súmula ou jurisprudência dominante do respectivo tribunal,
do Supremo Tribunal Federal ou de Tribunal Superior, o Relator
está autorizado a negar seguimento ou a dar provimento a
recurso. Art. 557 do CPC . 2. É nula a notificação por edital, no
processo de suspensão do direito de dirigir, sem a prova de
remessa da carta AR para o endereço do condutor constante
em seu prontuário. Frustrada notificação pessoal do condutor no
endereço registrado no certificado de propriedade do veículo de
sua propriedade, cumpria ao DETRAN promover a notificação
no endereço do seu registro de condutor, máxime porque se
cuida de infração imputada ao motorista. Recurso desprovido.
(Agravo Nº 70053662375, Vigésima Segunda Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Maria Isabel de Azevedo
Souza, Julgado em 21/03/2013)

ACORDÃO Nº 1.2412/2011 APELAÇÃO CÍVEL. TRÂNSITO.


MULTA. ALEGAÇÃO DE FALTA DE NOTIFICAÇÃO PRÉVIA.
INOCORRÊNCIA. NOTIFICAÇÃO EFETIVADA.
NOTIFICAÇÃO PESSOAL. DESNECESSIDADE. ENVIO DE
CARTA COM AR AO ENDEREÇO DO CONDUTOR.
COMUNICAÇÃO VÁLIDA. PRESUNÇÃO DE LEGALIDADE
DOS ATOS ADMINISTRATIVOS. RECURSO CONHECIDO E
PROVIDO. REEXAME NECESSÁRIO. COMPROVAÇÃO DA
EFETIVAÇÃO DE NOTIFICAÇÕES. VALIDADE DAS MULTAS
RECONHECIDAS. SENTENÇA CONFIRMADA EM PARTE.
(TJ-AL - APL: 02220207819978020000 AL 0222020-
78.1997.8.02.0000, Relator: Des. Tutmés Airan de Albuquerque
Melo, 1ª Câmara Cível, Data de Publicação: 19/12/2011)

ADMINISTRATIVO. AGRAVO NO AGRAVO DE


INSTRUMENTO. DETRAN. MULTA. INFRAÇÃO DE
TRÂNSITO. SUSPENSÃO DO DIREITO DE DIRIGIR.
PROCESSO ADMINISTRATIVO. SÚMULA 312 DO STJ.
MUDANÇA DE ENDEREÇO E CONHECIMENTO DA
ADMINISTRAÇÃO. NOTIFICAÇÃO INVÁLIDA. VIOLAÇÃO DO
CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA. IMPOSSIBILIDADE
DO RECORRIDO FAZER PROVA NEGATIVA. DETRAN NÃO
COMPROVOU A NOTIFICAÇÃO. RECURSO DE AGRAVO
CONHECIDO E DESPROVIDO. 1. Trata-se de Recurso de
Agravo interposto com fundamento no Art. 557, § 1º do CPC,
em face da decisão terminativa que negou provimento ao
Agravo de Instrumento e declarou prejudicado o Agravo
Regimental, mantendo o entendimento do juiz de primeiro, o
qual deferiu a liminar pleiteada nos Mandado de Segurança nº
0083428-38.2014.8.17.0001, no sentido de suspender a
penalidade prevista nos autos do processo administrativo nº
2012144097 (auto de infração nº D2262162-5169) e retirar do

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prontuário da Carteira Nacional de Habilitação nº 004.172.855-


66/PE qualquer restrição administrativa e pontuação vinculada
ao auto de infração supradito. 2. Em seus motivos recursais, o
DETRAN afirma que o agravante não atualizou o seu endereço
e que por esse motivo não poderia alegar a anulação da
imposição da multa por não ter sido notificado do processo
administrativo de suspensão do direito de dirigir. Informou que
o agravado manteve o endereço que constava no banco de
dados do DETRAN/PE quando da renovação da sua CNH em
fevereiro deste ano, qual seja, na Rua Coronel Anízio Rodrigues
Coelho, 254, apto 102, Boa Viagem, Recife - PE. Aduz, ainda,
que o agravado não contestou o fato de ter cometido a infração
tipificada no art. 165 do CTB e que não há vícios na imposição
da penalidade. 3. A cobrança de multas de trânsito tem por
intuito desestimular atos omissivos ou comissivos que
representem infrações às normas de segurança no trânsito. O
sistema legal de imposição do pagamento das infrações como
condição ao licenciamento ou transferência não foge desse
desiderato e constitui lícito meio coercitivo, que se insere no
poder de polícia. 4. Súmula 312 do STJ: no processo
administrativo para imposição de multa de trânsito, são
necessárias as notificações da autuação e da aplicação da pena
decorrente da infração 5. De acordo com o Histórico Geral do
Condutor (fls.73/74), o recorrido renovou os exames de sua
CNH em março de 2009, momento em que atualizou seus dados
cadastrais. O DETRAN trouxe aos autos a informação de que o
agravado, quando da renovação de sua CNH em fevereiro deste
ano, manteve o endereço já constante no banco de dados
cadastrais, o da rua Coronel Anízio Rodrigues, o mesmo
informado no Termo de Registro da Aferição do Condutor (fls.
53), o qual foi preenchido pelo Agente de Trânsito. 6.Entretanto,
o DETRAN não trouxe prova (cópia do AR, por exemplo) de que
enviou qualquer notificação em nome do recorrido para o
endereço da Rua Coronel Anízio Rodrigues. Além disso, carece
de lógica o fato das cartas seguintes terem sido enviadas para
a Rua Ernesto de Paula Santos em nome do recorrido já no ano
de 2012, sendo que ele alterou o endereço em 2009 e manteve
o endereço que já constava no banco de dados, de acordo com
informação trazida pelo próprio DETRAN. 7. A importância da
multa ser endereçada corretamente ao condutor e ao
proprietário do veículo (quando não for o condutor), resulta no
fato de que a multa fica vinculada ao veículo, mas as
penalidades decorrentes dela, como a suspensão de dirigir, por
exemplo, são impostas ao condutor. E se o condutor não toma
conhecimento do processo administrativo que corre contra ele,
não terá como exercer seu direito de defesa. 8. Em casos como
o dos autos, o DETRAN é quem tem que fazer prova negativa
de que o recorrido recebeu a notificação em face da
impossibilidade da parte provar que não recebeu algo. Pelo
conjunto probatório dos autos, ficou claro que desde o ano de
2009 o DETRAN/PE tinha conhecimento do endereço
atualizado do recorrido, mas, em 2012, 03 anos depois, enviou
a notificação para o endereço antigo, prejudicando o agravado
no seu direito de defesa, o que enseja a anulação da penalidade

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e todos os efeitos decorrentes. 9. Recurso de Agravo


DESPROVIDO por unanimidade.
(TJ-PE - AGV: 3737991 PE, Relator: Erik de Sousa Dantas
Simões, Data de Julgamento: 26/05/2015, 1ª Câmara de Direito
Público, Data de Publicação: 05/06/2015)

Como se vê, é amplamente majoritário o entendimento de que cabe aos órgãos de


trânsito realizar a famigerada prova negativa.

Compete a eles comprovar que efetivamente notificaram (ou tentaram) notificar o


infrator.

O descumprimento de tal ônus gera a inafastável declaração de nulidade de todo o


processo.

Retirar o envio de carta com aviso de recebimento irá gerar, com a mais absoluta
certeza, um ônus financeiro desproporcional e inaceitável, além de maior descrédito
do já atacado e criticado processo administrativo punitivo de trânsito.

A substituição do AR pela carta comum tem um poder destrutivo e esta escolha


representa um retrocesso não apenas no que tange à valores, mas também no
atingimento do bem comum, pois a premente anulação de processos conforme
demonstrado acima devolveria ao trânsito condutores despreparados e
CONDENADOS por seus próprios erros, mas absolvidos por uma brecha que os
próprios órgãos de trânsito estariam criando.

Esta prática viola, dentre outros, o princípio da indisponibilidade do interesse público.

Nas palavras de Diogo de Figueiredo Moreira Neto8:

“Interesses estão sempre conotados a valores. cada interesse


contém, portanto, um ou mais valores informativos: afetivos,
morais, utilitários, estéticos ou quaisquer que sejam meramente
subjetivos.

Nas relações tipicamente privadas, de coordenação de


interesses, o direito trata esses interesses isonomicamente,
respeitando a presumida igualdade de vontade das partes para
que exerçam a sua autonomia com relação a seus respectivos
interesses, de modo que os valorizem como lhes aprouver e
deles disponham livremente.

Nas relações tipicamente públicas, de subordinação de


interesses, o quadro se inverte: cabe à lei captar e identificar um
determinado interesse geral para defini-lo e guindá-lo a
interesse público e, com isso, priorizar, em certas condições, o

8
MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de Direito Administrativo; ed 16. Gen. 2014 pg 95, 96

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seu atendimento prioritário, mesmo com o sacrifício total ou


parcial de outros interesses.

Portanto, é função da norma legal, ao enunciar um interesse


público específico, cometer ao Estado, através de qualquer de
suas entidades órgãos, ou mesmo a particulares, o encargo
finalístico de satisfazê-lo, definindo, em consequência,
competências, condições de proteção e os direito e deveres
jurídicos correlatos.

Uma vez determinados pela ordem jurídica o binômio - interesse


público e competência orgânico- funcional atribuída à
Administração Pública - para a sua ação satisfativa, origina-se
para esta um inafastável dever de atuar na sua prossecução.
Vale dizer que, cometida certa competência a entidade, órgão
ou agente públicos, não mais lhes cabe senão exercê-la, pois o
interesse público específico se torna indisponível para a
Administração Pública, não importando de que natureza seja:
patrimonial, fazendário, moral, estético, etc.”

(...)

Distinguem-se, todavia, neste processo, os dois graus de


interesse público: o substantivo, que diz respeito aos fins
visados pela Administração, e o adjetivo, que diz respeito aos
meios disponíveis para atingi-lo, sendo que apenas o
substantivo é indispensável.

Outro ponto a se considerar na situação em tela é o potencial ato de improbidade


administrativa que a escolha pela carta simples pode gerar.

Atualmente definida pela Lei nº 8.429, improbidade administrativa pode ser


caracterizada pela ação ou omissão de agentes públicos (art. 2º) ou particulares
conjuntamente com agentes (art. 3º) que praticam os atos previstos nos artigos 9º, 10
e 11 da citada lei.

Em termos, o ato de improbidade administrativa pode ser enquadrado por:

Enriquecimento ilícito (art. 9º);

Prejuízo ao erário (art. 10);

Violação de princípios da Administração Pública (art. 11).

Com efeito, caso seja constatado que in casu a adoção de carta simples ao invés de
AR não tenha sido uma opção economicamente viável conforme os fundamentos
alhures delineados, ou que tal opção não observou princípios da Administração
Pública como proporcionalidade e razoabilidade, poderá haver a tipificação do ato de
improbidade administrativa.

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Sobre o primeiro aspecto (atos de improbidade administrativa que geram prejuízo ao


erário), cito a já utilizada obra de Elyesley Silva do Nascimento9:

“Nessa espécie de ato de improbidade o que é sobremodo


relevante é a existência de prejuízo aos cofres públicos.
Aqui estamos falando de danos econômicos que lesam a
Fazenda Pública.

(...)

Como corolário do anteriormente dito, o pressuposto


dispensável é o enriquecimento ilícito do agente público,
pois haverá situações em que agente não perceberá
qualquer vantagem econômica mas, mesmo assim, pela
sua conduta, causará prejuízo ao patrimônio público.

O elemento subjetivo nessa espécie de improbidade pode


ser o dolo (intenção de causar dano aos cofres públicos)
ou a culpa (prejuízo causado por imprudência, negligência
e imperícia).

(...)

Já que o ato de improbidade pode ser doloso ou culposo,


a natureza do tipo pode suceder por conduta omissiva ou
comissiva. isto é, o ato de improbidade que causa prejuízo
ao erário tanto pode advir da atuação positiva do agente
público quanto de abstenções (condutas negativas) no
exercício da função pública.”

Já no que toca ao ato de improbidade por violação de princípios, o mesmo autor se


manifesta nos seguintes termos10:

“O servidor público que se portar de maneira a violar


quaisquer desses princípios estará incorrendo em ato de
improbidade administrativa, independentemente de haver
enriquecimento ilícito ou dano ao erário. Assim, temos que
o pressuposto exigível dessa espécie de improbidade é a
violação a princípio da Administração Pública, enquanto o
pressuposto dispensável é o dano ao erário ou
enriquecimento ilícito.”

9
NASCIMENTO, Elyesley Silva do. Curso de direito administrativo. Rio de Janeiro: Impetus, 2013.p. 1042

10
NASCIMENTO, Elyesley Silva do. Curso de direito administrativo. Rio de Janeiro: Impetus, 2013. p 1044

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Neste diapasão é importante tecermos algumas linhas sobre o mérito administrativo.

Para o professor Matheus Carvalho11:

“Quando uma determinada decisão administrativa for proferida,


sob alegação de análise de critérios de oportunidade e
conveniência, de forma desarrazoada, esta conduta será ilegal
e ilegítima, por ofender a lei em sua finalidade e, neste caso,
poderá o Poder Judiciário corrigir a violação, realizando,
realizando o controle de legalidade da atuação viciada. com
efeito, não obstante não se admita que a correição judicial possa
invadir o mérito administrativo, haja vista pertencer ao
administrador valorar a melhor atuação em cada caso concreto,
não se deve esquecer que a discricionariedade encontra
respaldo na lei e nos princípios constitucionais.

Dessa forma, todas as vezes que o mérito administrativo


extrapola os limites da lei, seja por atuação que afronta
expresso dispositivo legal, seja pela violação ao princípio da
razoabilidade, compete ao judiciário, desde que provocado,
sanar o vício da conduta estatal, determinando a anulação do
ato ilícito.”

Como já dito, não existe um impedimento expresso na legislação de trânsito que


inviabilize a adoção da carta simples em substituição ao AR.

Esta decisão repousa no chamado ato administrativo discricionário e deve ser


praticado sob a análise do binômio: conveniência/oportunidade, sistematizado pelos
princípios da razoabilidade e proporcionalidade acima definidos pela doutrina.

Desta feita, caso a Administração Pública adote uma ação que no futuro se mostre
desproporcional e não razoável, poderá haver questionamento através do controle
externo levado à efeito pelo Poder Judiciário.

EMENTA Agravo regimental no recurso extraordinário. Servidor


público militar. Exclusão da Corporação. Ato administrativo.
Controle judicial. Possibilidade. Princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade. Reexame de fatos e provas. Impossibilidade.
Precedentes. 1. Não viola o princípio da separação dos poderes
o controle de legalidade exercido pelo Poder Judiciário sobre os
atos administrativos. 2. A Corte de origem, ao analisar o
conjunto fático-probatório da causa, concluiu que a punição
aplicada foi excessiva, restando violados os princípios da
razoabilidade e proporcionalidade. 3. Não se presta o recurso
extraordinário ao reexame de fatos e provas da causa.
Incidência da Súmula nº 279/STF. 4. Agravo regimental não
provido.

11
CARVALHO, Matheus. Manual de direito administrativo. Salvador: JusPodivm, 2016. p 84

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(STF - RE: 609184 RS, Relator: Min. DIAS TOFFOLI, Data de


Julgamento: 05/03/2013, Primeira Turma, Data de Publicação:
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-078 DIVULG 25-04-2013
PUBLIC 26-04-2013)

Outrossim, estariam atendidos todos os princípios acima enumerados com a adoção


da inovação legislativa prevista no novel art. 282-A do CTB e regulamentado pela
resolução nº 622/16 que instituiu o sistema de notificação eletrônica.

Por fim, antes que vozes administrativas se levantem no afã de tentar justificar a
conduta da adoção da carta simples ratificada pela publicação da notificação no diário
oficial, cabe aqui um último registro.

Em primeiro lugar, a jurisprudência é majoritária no sentido de entender NULA a


notificação dos infratores por meio de edital quando ainda não esgotadas as tentativas
de notificação pessoal, vejamos alguns precedentes:

APELAÇÃO CÍVEL. TRÂNSITO. MULTA. PROCESSO


ADMINISTRATIVO. NOTIFICAÇÃO POR EDITAL.
POSSIBILIDADE APÓS TENTATIVA FRUSTRADA ATRAVÉS
DO CORREIO. AUSÊNCIA DE NULIDADE. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. NOTIFICAÇÃO POR EDITAL. Viável a
notificação por edital em expedientes administrativos do
DETRAN, quando esgotadas as tentativas por remessa postal,
à inteligência do art. 282 do Código de Trânsito Brasileiro e art.
13 da Resolução nº 363/2010 do CONTRAN. Precedentes da
Corte. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. Mantida a verba
honorária fixada, considerando-se as peculiaridades do caso.
APELAÇÃO DESPROVIDA. (Apelação Cível Nº 70065655524,
Vigésima Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Almir Porto da Rocha Filho, Julgado em 19/08/2015).

(TJ-RS - AC: 70065655524 RS, Relator: Almir Porto da Rocha


Filho, Data de Julgamento: 19/08/2015, Vigésima Primeira
Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia
26/08/2015)

DECLARATÓRIA. Pretensão à nulidade de multa de trânsito.


Notificação não comprovada. Devolução dos comprovantes dos
ARs enviados para o endereço da apelada sem qualquer
assinatura. Infrutífera a notificação, valeu-se a autoridade de
trânsito da modalidade editalícia. Edital que não preencheu os
requisitos do art. 280 do CTB. Art. 282, § 1º. Inaplicabilidade.
Endereço atualizado. Recurso ao JARI. Objeto: não
recebimento da notificação das imposições de penalidade. Fato
não impugnado pela apelante. Recurso não provido.

(TJ-SP - APL: 40000902620138260408 SP 4000090-


26.2013.8.26.0408, Relator: Paulo Galizia, Data de Julgamento:
29/09/2014, 10ª Câmara de Direito Público, Data de Publicação:
01/10/2014)

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Em segundo lugar, ainda que o edital (em Diário oficial) seja publicado
concomitantemente com o envio da carta (simples ou AR) apenas com o cunho de
ratificação, tal conduta violaria os princípios da economicidade e do interesse público,
pois os órgãos de trânsito teriam que fazer um alto investimento que muitas vezes se
mostraria inócuo, e admitir um gasto desnecessário com o dinheiro que nunca foi
privado, mas sim público.

► § 4º A ciência da instauração do processo e da data do término do prazo para


apresentação da defesa também poderá se dar no próprio órgão ou entidade de
trânsito, responsável pelo processo, mediante certidão nos autos.

Além das formas ordinárias de ciência, a Resolução em estudo andou bem ao trazer
à baila a possibilidade da “ciência inequívoca” dos atos da Administração.

Este instituto jurídico ocorre quando o interessado vai até o órgão público, e mesmo
que não tenha sido validamente notificado é automaticamente cientificado da
existência do processo, bem como das atitudes cabíveis.

Esta hipótese terá o condão de suprir as nulidades ocasionadas pela falta de


notificação a contento.

Certamente tal “novidade” teve influência do §5º do art. 26 da Lei nº 9.784, in verbis:

§ 5o As intimações serão nulas quando feitas sem observância


das prescrições legais, mas o comparecimento do administrado
supre sua falta ou irregularidade.

► § 5º Da notificação constará a data do término do prazo para a apresentação da


defesa, que não será inferior a 15 (quinze) dias contados a partir da data da notificação
da instauração do processo administrativo.

Perceba que o órgão de trânsito poderá sim conferir um prazo superior a 15 dias para
que o interessado apresente defesa, mas tal decisão ficará estritamente a seu critério
por se caracterizar ato administrativo discricionário.

Vale ressaltar que o prazo para defesa inicia-se apenas da efetiva ciência do
interessado e não da expedição da notificação.

► § 6º A notificação devolvida, por desatualização do endereço do infrator no


RENACH, será considerada válida para todos os efeitos legais.

Esta regra, assim como outras está prevista no §1º do art. 282 do CTB.

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► § 7º A notificação a pessoal de missões diplomáticas, de repartições consulares de


carreira e de representações de organismos internacionais e de seus integrantes será
remetida ao Ministério das Relações Exteriores para as providências cabíveis,
passando a correr os prazos a partir do seu conhecimento pelo infrator.

§ 8º Os órgãos de registro do documento de habilitação para fins de instauração do


processo de suspensão ou cassação deverão considerar, exclusivamente, as
informações constantes no RENAINF ou outro sistema informatizado.

CAPÍTULO 5 – DA APRESENTAÇÃO DE DEFESA E DE RECURSO

► Art. 11. Os critérios gerais para apresentação de defesa, recursos ou outros


requerimentos deverão seguir as disposições constantes na Resolução CONTRAN nº
299, de 04 de dezembro de 2008, e suas sucedâneas.

De forma louvável, a Resolução unificou o rito procedimental que antes era tratado de
forma diferente para defesas e recursos de multas (Resolução nº 299/08) e o processo
de suspensão e cassação (Resolução nº182/05).

Doravante o procedimento será o mesmo.

CAPÍTULO 6 – DA APLICAÇÃO DA PENALIDADE

► Art. 12. Concluída a análise do processo administrativo, a autoridade do órgão ou


entidade de trânsito proferirá decisão motivada e fundamentada.

Como todo processo administrativo que tenha a possibilidade de inferir em um direito,


o processo administrativo punitivo de trânsito deverá ter o seu ato decisório composto
pela formalidade da motivação.

Mais uma vez cabe a leitura e inserção dos ensinamentos da lei nº 9.784/99, que
define ser motivada a decisão que apresenta a indicação dos fatos e dos fundamentos
jurídicos (art. 50 da lei).

A indicação dos fatos remete à idéia de demonstrar as situações que efetivamente


ocorreram.

Já os fundamentos jurídicos são caracterizados pela indicação da hipótese legal. Isto


é, de que os fatos ocorridos no mundo real têm previsão em lei e que a junção dos

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dois (fatos e fundamentos jurídicos) enseja a feitura de algo pela Administração


Pública, que no caso em estudo será a aplicação da penalidade.

Somente depois de instaurado o contraditório o processo estará apto a ser julgado


pela autoridade competente, mesmo que o interessado abra mão do exercício da sua
garantia constitucional e deixe transcorrer o prazo a ele destinado.

► Art. 13. Acolhidas as razões da defesa, o processo será arquivado, dando-se


ciência ao interessado.

Caso a análise do processo demonstre a existência de algum equívoco por parte do


órgão de trânsito que lhe deu início, este será arquivado.

É importante ressaltar que o processo pode ser arquivado inclusive de ofício mediante
a utilização do princípio da autotutela12.

As razões que causam o arquivamento de um processo de suspensão ou de


cassação, em geral estão ligadas a erro na notificação destes processos e
extrapolação de prazos por parte da Administração Pública.

Muito embora conforme comentários ao art. 6º desta Resolução algumas pessoas


insistam em ventilar junto ao DETRAN supostos erros cometidos no processo da multa
feitos por outros órgãos de trânsito, reafirmo que o DETRAN nunca poderá levar em
consideração tais alegações, uma vez NÃO ter competência para realizar o controle
externo da atuação de outros membros do SNT.

Seria como se a Polícia Federal pudesse analisar atos da Polícia Civil e anulá-los em
virtude de alguma ilegalidade que tenham constatado.

Claramente isso é impossível, pois a Polícia Federal não é superior hierárquica à


Polícia Civil, assim como o DETRAN não é superior hierárquica às Prefeituras, ao
DER, ao DNIT, ou qualquer outro órgão ou entidade.

Se o DETRAN constata por exemplo que o DER não enviou a notificação de


penalidade ao condutor que agora esta sendo suspenso, não pode ele (DETRAN)
anular o processo de suspensão, pois se assim fizesse estaria desconsiderando o fato
de que o DER por não ter vislumbrado qualquer equívoco no processo de multa,

12
Sobre a autotutela, veja os textos a seguir:
Súmula nº 346 do STF - A administração pública pode declarar a nulidade dos seus próprios atos.

Súmula nº 473 do STF - A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam
ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade,
respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.

Art. 53 da Lei nº 9.784/99. A Administração deve anular seus próprios atos, quando eivados de vício de legalidade,
e pode revogá-los por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos.

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informou o DETRAN na forma do art. 6º13 da Resolução que os pontos dali derivados
poderiam ser inseridos no prontuário do infrator para todos os fins.

O que tem ocorrido em algumas partes do país é o famoso e odioso “jeitinho brasileiro”
que passa por cima de procedimentos, da lei e por vezes da honestidade para “ajeitar”
situações que nem sequer lhe dizem respeito.

Como por exemplo quando o CONTRAN passa por cima dos limites de sua
competência para “legislar”.

Desta forma, os que com a lei não concordam devem propor mudanças e não
simplesmente adequá-las ao seu modo de entender ou interesses.

► Art. 14. Não apresentada, não conhecida ou não acolhida a defesa, a autoridade
de trânsito do órgão de registro do documento de habilitação aplicará a penalidade de
suspensão do direito de dirigir.

Grande equívoco comete a presente Resolução.

Se a defesa não for apresentada ou mesmo não for conhecida por algum erro no
atendimento dos requisitos de admissibilidade, mesmo assim a Administração deverá
analisar toda a situação posta e mediante o princípio da autotutela verificar se seus
atos estão corretos sob pena de nulidade.

A aplicação da penalidade de suspensão e cassação é ato extremo e sua efetivação


deve estar cercada de certeza e plausibilidade.

A redação apresentada pelo CONTRAN traz a idéia errada de que a Administração


deve analisar apenas o mérito da defesa, e caso ele (o mérito) não exista, ou sua
análise for obstada pelo não adimplemento dos pressupostos de admissibilidade, deve
simplesmente punir o interessado sem esquadrinhar nenhum requisito básico e legal
que a levou a inaugurar o processo punitivo, como por exemplo, verificar se os pontos
estão ou não dentro do cômputo de 12 meses.

► Art. 15. Aplicada a penalidade, a autoridade de trânsito do órgão de registro do


documento de habilitação deverá notificar o condutor informando-lhe:

I - identificação do órgão de registro do documento de habilitação, responsável pela


aplicação da penalidade;

II - identificação do infrator e número do registro do documento de habilitação;

III - número do processo administrativo;

13
Art. 5º Esgotados todos os meios de defesa da infração na esfera administrativa, a pontuação prevista no art.
259 do CTB será considerada para fins de instauração de processo administrativo para aplicação da penalidade
de suspensão do direito de dirigir.

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IV - a penalidade de suspensão do direito de dirigir aplicada, incluída a dosimetria


fixada, e sua fundamentação legal;

V - a data limite para entrega do documento de habilitação físico ou para interpor


recurso à JARI;

VI - a data em que iniciará o cumprimento da penalidade fixada, caso não seja


entregue o documento de habilitação físico e não seja interposto recurso à JARI, nos
termos do artigo 16 desta Resolução.

Perceba que se a defesa for indeferida ou se mesmo não apresentada, entender o


DETRAN que é o caso de aplicação da penalidade, será expedida a segunda
notificação denominada Notificação de Penalidade (NP).

Como ponto mais importante temos o disposto no inciso V que traz a determinação
de que a notificação já apresente a data limite para a entrega do documento de
habilitação e assim seja iniciado o cumprimento da pena, ou para que o interessado
apresente o recurso à JARI.

Outra questão digna de nota é o texto do inciso VI que traz a previsão de outro prazo
para ser observado referente ao início do cumprimento da pena. De acordo com o
texto, esta situação estará configurada quando o recurso não for apresentado e não
seja entregue o documento de habilitação.

Deste modo o interessado não terá mais a possibilidade de alegar desconhecimento


do prazo em que finalmente estará bloqueado.

► § 1º O prazo de que trata o inciso V não será inferior a 30 (trinta) dias.

► § 2º No caso de perda, extravio, furto ou roubo do documento de habilitação físico


válido, o condutor deverá providenciar a emissão da 2ª via, para que seja juntada ao
processo, a fim de se dar início ao cumprimento da penalidade.

Caso a CNH tenha sido perdida14, aduz o parágrafo em análise que o condutor deverá
apresentar a segunda via para que seja dado início ao cumprimento da pena.

Todavia este parágrafo não faz muito sentido de existir quando fazendo uma reanálise
do inciso VI do caput, lembramos que caso o documento de habilitação não seja
entregue, ainda assim a suspensão será aplicada no prazo fixado na notificação de
penalidade.

Agora infelizmente o CONTRAN está “incentivando” os infratores a não entregarem a


CNH no prazo inicial para o cumprimento da pena.

14
Por “perdida”, vamos considerar todas as hipóteses previstas no §2º, como: perda, extravio, furto
ou roubo.

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Na prática o parágrafo 2º já nasce “morto”.

Quem terá interesse em tirar uma segunda via do documento de habilitação para
iniciar o cumprimento da penalidade, se em x dias15 o bloqueio será efetivado
automaticamente e ele (infrator) poderá providenciar a 2ª via ao final do cumprimento
da pena?

► Art. 16. A data de início do cumprimento da penalidade será fixada e anotada no


RENACH: I - em 15 (quinze) dias corridos, contados do término do prazo para a
interposição do recurso, em 1ª ou 2ª instância, caso não seja interposto, inclusive para
os casos do documento de habilitação eletrônico;

Em primeiro lugar é necessário definir o que se entende por recursos de 1ª e 2ª


instância.

Conforme cediço, recurso é o ato de inconformismo a uma decisão.

Neste sentido, o “recurso em 1ª instância” a que se refere o texto em análise só pode


estar se referindo ao recurso à JARI, uma vez que a defesa prévia não é recurso e
logo não poderia ser entendida como tal.

Em segundo lugar, a “2ª instância” tem que se referir ao recurso apresentado via de
regra ao CETRAN16, isto por força do que consta no inciso V do art. 14 do CTB que
confere ao CETRAN a competência de julgar os recursos interpostos contra decisões
das JARI.

Assim, muito embora a Resolução não faça menção expressa, é óbvio que a mesma
não tem a menor competência de restringir o direito à ampla defesa dos acusados,
que neste caso perpassa pelo direito a apresentar recurso ao CETRAN em 2ª
instância recursal.

Dito isso, de acordo com o texto sub examine, caso o interessado deixe transcorrer in
albis o prazo de apresentação dos recursos à JARI ou ao CETRAN, a partir do término
deste prazo serão contados 15 dias corridos para o início automático do cumprimento
da pena.

15
O prazo real irá depender de cada processo.
16
Art. 289. O recurso de que trata o artigo anterior será apreciado no prazo de trinta dias:
I - tratando-se de penalidade imposta pelo órgão ou entidade de trânsito da União:
a) em caso de suspensão do direito de dirigir por mais de seis meses, cassação do documento de habilitação ou
penalidade por infrações gravíssimas, pelo CONTRAN;
b) nos demais casos, por colegiado especial integrado pelo Coordenador-Geral da JARI, pelo Presidente da
Junta que apreciou o recurso e por mais um Presidente de Junta;
II - tratando-se de penalidade imposta por órgão ou entidade de trânsito estadual, municipal ou do Distrito
Federal, pelos CETRAN E CONTRANDIFE, respectivamente.

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II - no dia subsequente ao término do prazo para entrega do documento de habilitação


físico, caso a penalidade seja mantida em 2ª instância recursal;

Se o interessado utilizar todas as instâncias possíveis do processo e apresentar


recurso ao CETRAN (2ª instância recursal), caso o resultado seja a negativa de
provimento e assim finalize toda a extensão do processo, a data do início do
cumprimento da pena será o dia imediatamente posterior ao prazo determinado para
a entrega do documento de habilitação.

III - na data de entrega do documento de habilitação físico, caso ocorra antes das
hipóteses previstas nos incisos I e II.

Se o interessado optar por apresentar recurso, ou uma vez tendo apresentado queira
dele desistir, a entrega da habilitação terá o efeito de causar a desistência do recurso
e será o marco inicial do cumprimento da penalidade.

► § 1º Na notificação de resultado dos recursos de 1ª e de 2ª instâncias deverão


constar as informações definidas no art. 15, no que couber.

Se a notificação for para comunicar o resultado de negativa de provimento do recurso


junto à JARI, é necessário que lá conste o prazo para a apresentação de recurso ao
CETRAN, bem como a data em que iniciará o cumprimento da penalidade fixada caso
não seja entregue o documento de habilitação físico e não seja interposto recurso ao
CETRAN.

Já se a notificação tiver como objeto informar a negativa de provimento por parte do


CETRAN, deverá constar a data limite para entrega do documento de habilitação físico
e a data em que iniciará o cumprimento da penalidade fixada caso o documento não
seja entregue.

► § 2º A inscrição da penalidade no RENACH conterá a data do início e término da


penalidade, período durante qual o condutor deverá realizar o curso de reciclagem.

► § 3º Cumprido o prazo de suspensão do direito de dirigir, caso o condutor não


realize ou seja reprovado no curso de reciclagem, deverá ser mantida a restrição no
RENACH, que deverá ser impeditivo para devolução ou renovação do documento de
habilitação, impressão de 2ª via do documento de habilitação físico ou emissão de
Permissão Internacional para Dirigir - PID.

Uma grande celeuma administrativa e inclusive jurisprudencial parece chegar ao fim.

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Por muito tempo persistiu o questionamento se a não realização do curso de


reciclagem influenciaria no termo final do prazo de suspensão do direito de dirigir.

O fato é que, como penalidade acessória à suspensão, faria mais sentido que apenas
com a apresentação da comprovação do aproveitamento do curso de reciclagem
houvesse o cumprimento total da pena principal, qual seja a suspensão.

Polêmicas à parte, a Resolução neste aspecto é digna de aplausos quando preceitua


que mesmo com o transcurso do prazo de suspensão, o bloqueio continuará mantido
até que as exigências do curso e da prova sejam devidamente satisfeitas, gerando
inclusive a possibilidade do cometimento de infração que dê ensejo ao processo de
cassação da CNH.

► § 4º Caso o condutor já tenha cumprido o prazo de suspensão do direito de dirigir


e seja flagrado na condução de veículo automotor sem ter realizado o curso de
reciclagem, e estiver portando o documento de habilitação físico, esta deverá ser
recolhida e caso não esteja portando ou se trate de documento eletrônico, caberá a
autuação do art. 232 do CTB, observado o disposto no § 4º do art. 270 do CTB.

O presente parágrafo apresenta sérios problemas técnicos.

Ele começa dizendo: “Caso o condutor já tenha cumprido o prazo de suspensão do


direito de dirigir e seja flagrado na condução de veículo automotor sem ter realizado o
curso de reciclagem”.

Pois bem, qual é a diferença entre dirigir durante o período de suspensão e dirigir
depois do período de suspensão sem ter feito o curso de reciclagem?

NENHUMA! Pois de acordo com o parágrafo 3º estudado acima, em ambos os casos


estaremos diante do condutor que está absolutamente na mesma situação, qual seja:
SUSPENSO.

Logo, se o motorista for flagrado conduzindo veículo, obviamente não poderá ser
autuado na forma do art. 232 conforme sugere o §4º em estudo, simplesmente porque
não faz o menor sentido autuar alguém por dirigir sem os documentos de porte
obrigatório se esta pessoa NÃO poderia estar dirigindo.

Este parágrafo nem mesmo precisaria existir.

Outro absurdo presente no parágrafo em estudo é a previsão de recolhimento da CNH


em total e completa divergência com o previsto no art. 270 do CTB que aduz: “O
veículo poderá ser retido nos casos expressos neste Código.”

Ora, a hipótese prevista na Resolução não tem qualquer precedente legal, o que por
consequência, a torna ilegal.

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A única informação válida neste particular é a de que o condutor que dirige com
Carteira Nacional de Habilitação, Permissão para Dirigir ou Autorização para Conduzir
Ciclomotor cassada ou com suspensão do direito de dirigir comete a infração
gravíssima prevista no inciso II do art. 162 do CTB.

► Art. 17. Os órgãos e entidades executivos de trânsito dos Estados e do Distrito


Federal deverão aplicar a penalidade de suspensão do direito de dirigir, conforme o
disposto no art. 261 do CTB.

Texto sem nenhuma utilidade, uma vez que obviamente a aplicação da suspensão
deve seguir os preceitos do CTB antes de qualquer outra norma.

► Art. 18. O documento de habilitação físico, que tiver sido entregue, ficará acostado
aos autos e será devolvido ao infrator depois de cumprido o prazo de suspensão do
direito de dirigir e comprovada a realização e aprovação no curso de reciclagem, no
caso de documento de habilitação eletrônico este deverá ser regularizado na forma
estabelecida pelo Departamento Nacional de Trânsito.

A exigência textual da aprovação no curso de reciclagem nesta Resolução é uma


informação importante, haja vista alguns juízes entenderem que tal requisito teria sido
invenção descabida por parte dos DETRANS, e não dos órgãos normativos de
trânsito.

Sobre a legalidade da exigência:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PÚBLICO NÃO


ESPECIFICADO. MANDADO DE SEGURANÇA. INFRAÇÃO
DE TRÂNSITO. SUSPENSÃO DO DIREITO DE DIRGIR.
CURSO DE RECICLAGEM E PROVA TEÓRICA.
IRREGULARIDADE NÃO CONFIGURADA. É POSSÍVEL A
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EXIGÊNCIA DE PROVA TEÓRICA PARA O CUMPRIMENTO


DA PENALIDADE IMPOSTA.
A liminar em mandado de segurança possui natureza
antecipatória, sendo necessária para seu deferimento a prova
escrita, inequívoca e pré-constituída dos fatos, bem como o
relevante fundamento jurídico a ensejar tal pretensão. Os atos
administrativos gozam da presunção de legitimidade e
veracidade, até prova em contrário. A realização e aprovação
em prova teórica estão regularmente disciplinadas pela
legislação de trânsito. Hipótese em que o impetrante não logrou
êxito em comprovar qualquer irregularidade no ato emanado
pela Administração Pública. AGRAVO DESPROVIDO. (Agravo
de Instrumento nº 70064791809, Rel. Des. Lúcia de Fátima
Cerveira, 2ª Câmara Cível do TJ/RS, julgado em 19.08.15).

CAPÍTULO 7 – DA CASSAÇÃO DO DOCUMENTO DE HABILITAÇÃO

► Art. 19. Deverá ser instaurado processo administrativo de cassação do


documento de habilitação, pela autoridade de trânsito do órgão executivo de seu
registro, observado no que couber as disposições dos Capítulos IV, V e VI, desta
Resolução, quando:

Muito embora ao longo da Resolução possamos ver o termo “cassação do documento


de habilitação”, que remete à idéia de cassação de todo e qualquer documento de
habilitação, devemos lembrar que as penalidades de trânsito representam um rol
taxativo e estão todas elas previstas no art. 256 do CTB17.

Assim, a única cassação que faz sentido ser dita e entendida no contexto da
Resolução é a cassação da CNH, prevista no inciso V do citado artigo18.

17
Art. 256. A autoridade de trânsito, na esfera das competências estabelecidas neste Código e dentro de sua
circunscrição, deverá aplicar, às infrações nele previstas, as seguintes penalidades:
I - advertência por escrito;II - multa;III - suspensão do direito de dirigir;IV - apreensão do veículo; (Revogado pela
Lei nº 13.281, de 2016)V - cassação da Carteira Nacional de Habilitação;VI - cassação da Permissão para
Dirigir;VII - freqüência obrigatória em curso de reciclagem

18
Quanto á cassação da permissão para dirigir, vale ressaltar que a mesma não pode ser aplicada atualmente em
virtude da falta de procedimento próprio, eis que o art. 264 do CTB que trataria do assunto fora vetado.

O texto dizia o seguinte: “A cassação da permissão para dirigir dar-se-á no caso de cometimento de infração grave
ou gravíssima, ou ainda, na reincidência de infração media.”

Ocorre que, como muito bem lembrou o professor Arnaldo Rizzardo: “O Poder Executivo entendeu exagerada a
severidade, vetando o cânone e argumentando: “Os §§3º e 4º do art. 148 tratam adequadamente da matéria, uma
vez que impõem a suspensão do direito de dirigir e obrigam o condutor detentor de Permissão para dirigir a reiniciar
o processo de habilitação caso, no período de um ano, tenha cometido infração grave ou gravíssima ou seja
reincidente em infração média.” RIZZARDO, Arnaldo. Comentários ao código de trânsito brasileiro.6 ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2007. p. 531

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I - suspenso o direito de dirigir, o infrator conduzir qualquer veículo;

Como já dito, deverá (espera-se) estar suspenso o condutor que estiver bloqueado e
mesmo após o decurso do tempo previsto originalmente não tenha finalizado o curso
e sido aprovado na prova de reciclagem.

II - no caso de reincidência, no prazo de doze meses, das infrações previstas no inciso


III do Art. 162 e nos Arts. 163, 164, 165, 173, 174 e 175.

Vide artigo 263 do CTB.

► § 1º Na hipótese prevista no inciso I do caput:

I - o processo administrativo será instaurado após esgotados todos os meios de defesa


da infração que enseja a penalidade de cassação, na esfera administrativa, devendo
o órgão executivo de registro do documento de habilitação observar as informações
registradas no RENAINF ou outro sistema;

Vide comentários ao inciso II do art. 9º desta Resolução.

II - caso o condutor seja autuado por outra infração que preveja suspensão do direito
de dirigir, será aberto apenas o processo administrativo para cassação, sem prejuízo
da penalidade de multa;

Interessante o preceito trazido pelo inciso em voga.

Vamos a um exemplo prático.

Estando Josué com o seu direito de dirigir suspenso, caso o mesmo seja flagrado
cometendo a infração prevista no art. 165 do CTB este não responderá a processo do
qual possa resultar nova penalidade de suspensão, mas certamente será objeto de
processo que poderá culminar em cassação da CNH, além da penalidade pecuniária
(multa) atrelada às infrações cometidas.

III - a autoridade de trânsito de registro do documento de habilitação do condutor, que


tomar ciência da condução de veículo automotor por pessoa com direito de dirigir
suspenso, por qualquer meio de prova em direito admitido, deverá instaurar o
processo de cassação do documento de habilitação;

A redação é extremamente nebulosa e apresenta mais um inciso que não tem razão
de existir.

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A ideia apresentada é simples:

Quando o DETRAN tomar ciência(?) por qualquer meio de prova admitido em direito
que alguém(?) suspenso está conduzindo um veículo automotor, deverá instaurar o
processo de cassação.

Como é isso? Estaria o CONTRAN dizendo que não é mais preciso o auto de infração
de trânsito onde o agente flagra devidamente o ilícito ocorrendo?

Basta uma “informação” comprovada sabe-se lá como de que alguém está violando a
penalidade de suspensão e pronto? Estará o DETRAN obrigado a instaurar o
processo de cassação?

O certo é que por qualquer prisma que se analise este inciso ele nunca fará o menor
sentido, e esperamos que nunca ninguém tente colocá-lo em prática.

A regra é simples e continua muito clara:

A infração do inciso II do art. 162 do CTB gera a cassação prevista no inciso I do art.
263.

Qualquer norma fora desta realidade deve ser sumariamente ignorada.

IV - quando não houver abordagem, não será instaurado processo de cassação do


documento de habilitação:

a) ao proprietário do veículo, nas infrações originalmente de sua responsabilidade;

b) nas infrações de estacionamento, quando não for possível precisar que o momento
inicial da conduta se deu durante o cumprimento da penalidade de suspensão do
direito de dirigir.

As consequências advindas do registro de determinadas infrações sem abordagem,


vez ou outra causavam polêmicas profundas no âmbito jurídico.

Da redação acima podemos tirar duas conclusões importantes:

1º Conclusão: Nas hipóteses previstas nos incisos “a” e “b” (embora não seja possível
entender exatamente qual foi a mens legis, dada a redação truncada principalmente
da alínea “b”) não será possível punir o proprietário do veículo (ou o principal condutor)
sem que tenha ocorrida a efetiva abordagem.

Por oportuno, trago à colação parte integrante do artigo jurídico intitulado: “A


necessidade do flagrante para aplicação da Cassação do Direito de Dirigir Artigo 263,
inciso I do Código de Trânsito Brasileiro”, produzido pelo Dr. Henrique Serafim Gomes
com base na revogada Resolução nº 182/05, onde aduz que era necessária a

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abordagem em todas as situações para que o processo de cassação da CNH fosse


lícito:

“O legislador, na elaboração do Código de Trânsito Brasileiro,


estabeleceu dois tipos de punição ao direito de dirigir, a
SUSPENSÃO, prevista no art. 261, como a mais amena, e a
CASSAÇÃO, prevista no art. 263, como a mais severa, as quais
esclareceremos as diferenças em tópico específico.

O legislador acompanhou a rigorosidade da pena também com


a rigorosidade dos requisitos de aplicação, como
demonstraremos a seguir.

Para se acusar um motorista por uma multa de trânsito, basta


que o agente de trânsito preencha o auto de infração, que estará
amparado pelo Princípio da Legitimidade, cabendo ao acusado
apresentar defesa que comprove sua inocência.

No entanto, para aplicação da penalidade de suspensão, nos


preceitos do art. 261 do CTB, é necessário ter anotado as
pontuações no prontuário do acusado e respeitado o devido
processo legal, não basta uma autoridade de trânsito alegar que
o acusado tem excesso de pontos para iniciar uma acusação. É
necessário demonstrar as pontuações e o enquadramento legal.

Já no caso de cassação, previsto no art. 263, I do CTB, é


necessário que o acusado conduza veículo durante o período
de suspensão. A Resolução 182/05 do CONTRAN, em seu art.
19, § 3°, determinou o flagrante para tal acusação, em nenhuma
regulamentação que trata de CASSAÇÃO foi prevista a simples
anotação de pontuação no prontuário como fundamentação
legal para abertura de procedimento administrativo.

“Art.19. § 3º. Sendo o infrator flagrado conduzindo veículo,


encerrado o prazo para a entrega da CNH, será instaurado
processo administrativo de cassação do direito de dirigir, nos
termos do inciso I do artigo 263 do CTB.” (Grifo nosso)

Evidente, portanto, que o objetivo do Legislador e do


CONTRAN, neste parágrafo, que regulamenta a forma de se
imputar a responsabilidade de estar conduzindo um veículo, ser
ao condutor E NÃO AO PROPRIETÁRIO.

A palavra “flagrado” obriga haver a prova indiscutível do


verdadeiro condutor, presença de corpo do infrator e da
autoridade punitiva no exato momento da conduta ilegal, ou uma
confissão do verdadeiro condutor em processo administrativo.
Caso contrário, ou seja, não havendo o flagrante, confissão ou
qualquer outra prova inequívoca de autoria, não há de se falar
em cassação (art. 263, I do CTB).

Melhor explicando, a legislação prevê a abertura de


procedimento de cassação, SOMENTE COM A OCORRÊNCIA
DE FLAGRANTE.”

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2º Conclusão: Por se tratar de rol taxativo, a contrario sensu, em todas as demais


hipóteses não previstas neste inciso será possível a instauração do processo de
cassação do condutor que porventura esteja suspenso.

Veja que esta conclusão vai de encontro com o entendimento firmado acima de que
não seria possível em hipótese alguma o início do processo de cassação sem que
houvesse abordagem, qualquer que fosse a infração.

Todavia, fazendo um simples comparativo, ao optar por enumerar situações onde a


cassação não poderia ser feita, deixou o CONTRAN margem para o entendimento de
que em todas as outras hipóteses a cassação sem abordagem é possível.

Não fosse esta a intenção, bastaria reproduzir o texto da Resolução nº 182/05:

Resolução nº 182/05 Resolução nº 723/18


Art. 19, § 3º. Sendo o infrator flagrado Art. 19, IV - quando não houver abordagem,
conduzindo veículo, encerrado o prazo para não será instaurado processo de cassação
a entrega da CNH, será instaurado processo do documento de habilitação: a) ao
administrativo de cassação do direito de proprietário do veículo, nas infrações
dirigir, nos termos do inciso I do artigo 263 do originalmente de sua responsabilidade; b)
CTB. nas infrações de estacionamento, quando
não for possível precisar que o momento
inicial da conduta se deu durante o
cumprimento da penalidade de suspensão do
direito de dirigir.

V - é possível a instauração do processo de cassação do documento de habilitação


do proprietário que não realizar a indicação do condutor infrator de que trata o art.
257, § 7º, do CTB.

O inciso em análise também é uma inovação trazida pela Resolução nº 723 inclusive
em relação à Deliberação nº 163.

No entanto, ao analisar o inciso IV acima, chegamos à conclusão lógica que fora as


hipóteses previstas nas alíneas “a” e “b”, será SEMPRE possível a instauração do
processo de cassação em casos em que não houver a abordagem.

Logo, este inciso realmente não apresentava qualquer necessidade.

► § 2º Na hipótese prevista no inciso II do caput:

I - o processo administrativo será instaurado após esgotados todos os meios de defesa


da infração que configurou a reincidência, na esfera administrativa, devendo o órgão
executivo de registro do documento de habilitação observar as informações

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Comentários à Resolução nº723/18 do CONTRAN
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registradas no RENAINF ou outro sistema;

Vide comentários ao inciso II do art. 8º desta Resolução.

II – para fins de reincidência, serão consideradas as datas de cometimento das


infrações, independentemente da fase em que se encontre o processo de aplicação
de penalidade da primeira infração;

Mais uma vez o CONTRAN adota um entendimento que prejudica o condutor de forma
desmedida e até mesmo com viés inconstitucional.

Quando aduz que para fins de reincidência serão consideradas as datas de


cometimento das infrações, é possível entender que caso um condutor seja flagrado
duas vezes em menos de 12 meses cometendo por exemplo a infração prevista no
art. 173 (disputar corrida), o mesmo já poderá ser cassado.

Entretanto, será lícito, justo e constitucional instaurar um processo de cassação sendo


que a primeira infração flagrada ainda esteja em fase recursal?

Como pode um cidadão ser considerado reincidente se ainda não foi condenado pela
primeira infração?

Somos partidários da tese de que o princípio da inocência previsto no inciso LVII do


art. 5º da CF deve ser estendido à esfera administrativa também, de modo a evitar a
imposição de sanções antes do fim do processo.

Se uma penalidade não pode ser aplicada antes do fim do processo, como então
poderíamos considerar alguém reincidente se a primeira infração ainda está em
trâmite e pelo princípio da inocência não se pode afirmar que o suposto infrator saiu
da figura de suposto e assumiu a de infrator?

De forma a corroborar o nosso entendimento sobre a aplicação do princípio da


presunção de inocência no âmbito administrativo, cito parte do artigo de Carlos Ari
Sundfeld e Rodrigo Pagani de Souza publicado na revista do direito público de
Londrina19:

A figura da reincidência é daquelas pertencentes ao Direito em


geral, ao invés de se revelar exclusiva de um ramo qualquer
(p.ex., do direito penal, muito lembrado quando se trata da
matéria). Em Direito, a reincidência é a prática de nova infração
posteriormente à conclusão de processo em que punida outra
infração de mesma natureza, cometida pelo mesmo sujeito.

A figura jurídica da reincidência supõe, portanto, que a infração


objeto do segundo processo sancionador tenha ocorrido após
se tornar definitiva a decisão de sancionar a infração objeto do

19
Disponível em: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/direitopub/article/viewFile/26272/20912

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primeiro processo. Logo, não se verifica propriamente


reincidência, de Direito, se ainda não houver uma decisão
definitiva acerca da infração paradigma no caso concreto
(paradigma no qual o infrator possa reincidir).

Só se pode admitir uma reincidência se houver certeza jurídica


quanto a uma “incidência” anterior. Não reincide quem ainda
não “incidiu”. E só se pode considerar, com toda certeza, que
alguém “incidiu” no passado – isto é, incorreu efetivamente em
infração – se houver decisão, fruto do devido processo, que o
tenha declarado em definitivo.

Esta “definitividade” da penalização anterior pode ser verificada


em âmbito judicial ou administrativo, o que dependerá da
legislação aplicável. Algumas leis preveem a figura da
reincidência em infrações administrativas (a legislação
antitruste, por exemplo), enquanto outras preveem a
reincidência em infrações judicialmente decretáveis (é o caso do
Código Penal, por exemplo).

Mas tanto na esfera administrativa como na judicial, quando a


lei prevê a reincidência, ela está a se reportar a situações em
que a infração objeto do segundo processo somente terá
sobrevindo quando a infração objeto do anterior já tiver sido
declarada em definitivo.

A figura da reincidência é nesses termos reconhecida por


diversas leis no Direito brasileiro. Nelas sobressaem sempre os
mesmos aspectos, com destaque para esta exigência de
imutabilidade da decisão sancionadora anterior.

(...)

A figura da reincidência tem, pois, esta feição própria, assim


sedimentada no Direito brasileiro.

Por isso é que a reincidência é uma figura do Direito em geral.


Em todo o direito sancionador brasileiro ela é acolhida da
mesma forma, inclusive na seara administrativa. É a prática de
nova infração após ter sido punida em definitivo, em processo
anterior, outra de mesma natureza, cometida pelo mesmo
infrator. Não existe, de Direito, reincidência se não for assim.”

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Comentários à Resolução nº723/18 do CONTRAN
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III - em relação à primeira infração, serão aplicadas todas as penalidades previstas;

Mais uma vez um inciso absolutamente desnecessário.

É óbvio que todas as penalidades previstas para a primeira infração serão aplicadas,
caso contrário estaríamos diante de um benefício sem sentido algum.

IV – em relação à infração que configurar reincidência, caso haja previsão de


penalidade de suspensão do direito de dirigir, esta deixará de ser aplicada, em razão
da cassação.

Como o CONTRAN fixou que a reincidência é considerada a partir da data do


cometimento da infração, não haveria porque aplicar duas suspensões. Por este
motivo constatada a reincidência será instaurado o processo de cassação.

O problema que surge é:

Sendo a reincidência considerada a partir do simples registro da infração e não do fim


do julgamento, caso a primeira infração seja arquivada, e em razão da segunda
(reincidência) já se tenha desconsiderada a suspensão, o que ocorrerá neste caso?

A conclusão é a de que o condutor terá um benefício magnífico e ao invés de ser


suspenso ou cassado pagará apenas a multa.

Estes e outros efeitos sui generis irão acontecer cada vez com mais frequência em
virtude dessa consideração descabida de reincidência.

► § 3º Poderá ser instaurado mais de um processo administrativo para aplicação da


penalidade de cassação, concomitantemente.

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Conforme já vimos em diversas ocasiões, será cassado o condutor que suspenso seja
flagrado conduzindo um veículo automotor.

Ocorre que caso ele seja flagrado novamente dirigindo durante o período da
suspensão, o condutor poderá responder a novo processo de cassação
concomitantemente.

Resta saber se o entendimento a ser adotado pelos DETRAN’s será o de que o infrator
poderá responder por múltiplos processos de cassação ficando múltiplos dois anos
sem poder dirigir, ou se serão vários processos de cassação mas a penalidade
continuará sendo de apenas 2 anos para várias infrações.

► § 4º Após a aplicação da penalidade de cassação, o órgão executivo de trânsito de


registro do documento de habilitação deverá registrar essa informação no RENACH
nos seguintes termos: “Documento de habilitação cassado”, com as datas de início e
de término da penalidade, observado o disposto no art. 16.

► Art. 20. Decorridos 02 (dois) anos da cassação do documento de habilitação, o


infrator poderá requerer a sua reabilitação, submetendo-se a todos os exames
necessários, na forma estabelecida no §2º do art. 263, do CTB.

► Parágrafo único. Decorrido o prazo previsto no caput, o condutor será considerado


inabilitado até a conclusão do processo de reabilitação.

► Art. 21. A não concessão do documento de habilitação nos termos do §3º do art.
148, do CTB, não caracteriza a penalidade de cassação da Permissão para Dirigir.

Mais uma vez cabe uma crítica severa ao CONTRAN neste momento.

Quando ele afirma que a não concessão do documento de habilitação na forma do


§3º do art. 148 não caracteriza a penalidade de cassação da PPD, seria interessante
que o mesmo informasse quando que tal penalidade (cassação da PPD) é aplicada.

Ratificando o comentário feito ao art. 19 da Resolução acerca da cassação da PPD,


ressalto que muito embora prevista no inciso VI do art. 256, tal penalidade não tem
procedimento em lei e nunca foi aplicada licitamente em qualquer lugar do Brasil por
inviabilidade jurídica e procedimental.

Sabemos que muitos confundem o cancelamento da PPD (que não é penalidade),


com a cassação deste documento.

O cancelamento ocorre quando estamos diante da tipicidade dos parágrafos 3º e 4º


do art. 148 do CTB, e é automático.

Já a cassação tem previsão no tópico relacionado à penalidade, e como tal, se


existisse, demandaria um processo legal tal qual o de multa, suspensão e cassação.

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Comentários à Resolução nº723/18 do CONTRAN
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Portanto é inútil o artigo 21 da Resolução enquanto no Brasil não for adotada a


cassação da PPD.

► Art. 22. No caso de perda, extravio, furto ou roubo do documento de habilitação


físico válido, o condutor deverá providenciar a emissão da 2ª via, para que seja juntada
ao processo, a fim de se dar início ao cumprimento das penalidades de cassação do
documento de habilitação e de suspensão do direito de dirigir, que iniciará em 10 (dez)
dias corridos caso essa providência não seja adotada.

Assim como já discutido nos comentários do §2º do art. 15 da Resolução, em caso de


“perda” do documento de habilitação o condutor não precisará se preocupar de
imediato em retirar a segunda via para dar início ao cumprimento da penalidade.

Na verdade, de acordo com o artigo 21, caso o documento não seja entregue por
qualquer motivo, o bloqueio ocorrerá em 10 dias contados do dia final determinado
para a apresentação do documento.

CAPÍTULO VIII – DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS

► Art. 23. Esgotadas as tentativas para notificar o condutor por meio postal ou
pessoal, as notificações de que trata esta Resolução serão realizadas por edital, na
forma disciplinada pela Resolução CONTRAN nº 619, de 06 de setembro de 2016, e
suas sucedâneas.

Como não poderia deixar de ser, o CONTRAN ratifica que a regra quando o tema é
notificação, é que ela seja pessoal, admitindo-se a ficta apenas de forma excepcional
para trazer carga de formalidade ao ato.

Note que caso o órgão de trânsito opte por realizar a notificação via edital antes de
levar a efeito as tentativas de notificação por meio postal ou pessoal, tal notificação
será nula de todos os efeitos conforme jurisprudência pátria:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DETRAN. PRETENSÃO DE


SOBRESTAMENTO DE PROCESSO DE CASSAÇÃO DO
DIREITO DE DIRIGIR. AUSÊNCIA DE PROBABILIDADE DO
DIREITO. TUTELA ANTECIPADA INDEFERIDA NA ORIGEM.
DECISÃO MANTIDA. O demandante fundamentou a
necessidade de suspensão do procedimento administrativo sob
a alegação de que não foi devidamente notificado da imposição
da penalidade de suspensão do direito de dirigir. Em que pese
a alegação de que não houve notificação pessoal do condutor
quando da imposição da penalidade de suspensão do direito de
dirigir, a Carta AR da fl. 163 dos autos de origem comprova que
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a notificação pessoal restou impossibilitada, ante as infrutíferas


tentativas de notificação do autor em sua residência, e
considerando que esse não se dirigiu até a Agente Central dos
Correios para a retirada da correspondência. Desse modo, pelo
menos em juízo sumário de cognição, o autor não demonstrou
a ilegalidade da notificação realizada por edital, o que afasta a
probabilidade do direito. Assim, não restando configurada a
probabilidade do direito afirmado, deve ser mantida a decisão
que indeferiu o pedido de tutela antecipada, pois ausentes os
requisitos do art. 300 do CPC/2015. AGRAVO DESPROVIDO.
UNÂNIME. (Agravo de Instrumento Nº 71007021058, Segunda
Turma Recursal da Fazenda Pública, Turmas Recursais,
Relator: Mauro Caum Gonçalves, Julgado em 24/10/2017)

► Art. 24. Aplicam-se a esta Resolução, os seguintes prazos prescricionais previstos


na Lei nº 9.873, de 23 de novembro de 1999:

I - Prescrição da Ação Punitiva: 5 anos;


II - Prescrição da Ação Executória: 5 anos;
III - Prescrição Intercorrente: 3 anos

O tema da prescrição sempre foi um tópico tortuoso quanto à sua aplicação, termo
inicial, incidentes de interrupção etc.

De modo a elucidar possíveis e nebulosas dúvidas sobre o conceito de prescrição, irei


valer-me dos ensinamentos doutrinários do professor Carlos Roberto Gonçalves 20,
que com a maestria que lhe é peculiar, assevera em sua obra:

“Segundo Pontes de Miranda, a prescrição seria uma exceção


que alguém tem contra o que não exerceu, durante um lapso de
tempo fixado em norma, sua pretensão ou ação. Entretanto, o
atual código civil, evitando a polêmica sobre o que prescreve,
se é a ação ou o direito, adotou o vocábulo “pretensão”, por
influência do direito germânico, para indicar que não se trata do
direito subjetivo público abstrato de ação. E, no art. 189,
enunciou que a prescrição tem início no momento em que há
violação do direito.

(...)

No art. 199, observa-se a aplicação do princípio da actio nata


dos romanos, segundo o qual somente se pode falar em fluência
de prazo prescricional desde que haja uma ação a ser
exercitada, em virtude da violação do direito. Enquanto não
nasce a pretensão, não começa a fluir o prazo prescricional. É
da violação do direito que nasce a pretensão, que, por sua vez,
dá origem à ação. E a prescrição começa a correr desde que a

20
GONÇALVES, Carlos roberto. Direito Civil, 1: esquematizado - 6ª ed - São Paulo: Saraiva, 2016. p. 414, 424

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pretensão teve origem, isto é, a partir da data em que a violação


do direito se verificou.”

Neste particular, penso ter andado bem a Resolução ao tratar do tema de forma
simples e direta.

O instituto da prescrição nos processos de suspensão do direito de dirigir e cassação


da CNH são de três tipos:

● Prescrição da ação punitiva


● Prescrição da ação executória
● Prescrição intercorrente

Por prescrição da ação punitiva, deve-se entender o prazo conferido ao órgão de


trânsito para iniciar o jus puniendi, ou seja, o dies ad quem que marca o fim do prazo
legal para o início do processo de suspensão e cassação, que nestes casos serão de
5 anos contados dos termos iniciais previstos no parágrafo §1º do artigo em comento.

Já a ação executória terá o prazo de prescrição de 5 anos, e embora a Resolução


tenha sido omissa, entendemos que o seu marco inicial será a partir da notificação
fixada no art. 16 de seu texto, uma vez que a previsão contida no extinto art. 1921 da
resolução nº 182/05 não foi reproduzida pela nova norma.

Vale ainda lembrar do antigo art. 23 da Resolução nº 182/05 que fixava o dies a quo
e o dies ad quem da pretensão executória:

Art. 23. A pretensão executória das penalidades de suspensão


do direito de dirigir e cassação da CNH prescreve em cinco anos
contados a partir da data da notificação para a entrega da CNH,
prevista no art. 19 desta Resolução.

Por fim, temos a prescrição intercorrente que com a sua entrada no bojo da
Resolução, põe fim à celeuma da aplicação ou não deste instituto no direito de trânsito.

Ao fixar ser de 3 anos o prazo desta prescrição, a Resolução se filia aos termos do
§1º do art. 1º da Lei nº 9.873/99 que traz a seguinte informação:

§ 1o Incide a prescrição no procedimento administrativo


paralisado por mais de três anos, pendente de julgamento ou
despacho, cujos autos serão arquivados de ofício ou mediante
requerimento da parte interessada, sem prejuízo da apuração

21
Art. 19. Mantida a penalidade pelos órgãos recursais ou não havendo interposição de recurso, a autoridade de
trânsito notificará o infrator, utilizando o mesmo procedimento dos §§ 1º e 2º do art. 10 desta Resolução, para
entregar sua CNH até a data do término do prazo constante na notificação, que não será inferior a 48 (quarenta e
oito) horas, contadas a partir da notificação, sob as penas da lei.
§ 1º. Encerrado o prazo previsto no caput deste artigo, a imposição da penalidade será inscrita no RENACH.

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da responsabilidade funcional decorrente da paralisação, se for


o caso.

► § 1º O termo inicial da pretensão punitiva relativo à penalidade de suspensão do


direito de dirigir será:
I - no caso previsto no inciso I do art. 3º desta Resolução, o dia subsequente ao
encerramento da instância administrativa referente à penalidade de multa que totalizar
20 ou mais pontos no período de 12 meses;
II - no caso do inciso I do art. 8º desta Resolução, a data da infração;
III - no caso do inciso II do art. 8º desta Resolução, o dia subsequente ao encerramento
da instância administrativa referente à penalidade de multa.

► § 2º O termo inicial da pretensão punitiva relativo à penalidade de cassação do


documento de habilitação será:
I - no caso do inciso I do art. 19 desta Resolução, a data do fato;
II - no caso do Inciso II do art. 19 desta Resolução, o dia subsequente ao encerramento
da instância administrativa referente à penalidade de multa da infração que configurou
a reincidência.

► § 3º Interrompe-se a prescrição da pretensão punitiva com:


I - a notificação de instauração do processo administrativo;
II - a aplicação da penalidade de suspensão do direito de dirigir ou de cassação do
documento de habilitação;
III - o julgamento do recurso na JARI, se houver.

§ 4º Suspende-se a prescrição da pretensão punitiva ou da pretensão executória


durante a tramitação de processo judicial, do qual o órgão tenha sido cientificado pelo
juízo. .

A Suspensão e interrupção da prescrição são institutos jurídicos que demandam


necessário entendimento quanto à sua principal diferença.

Sintetizando o tema, Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona22:

“A diferença entre a interrupção e a suspensão da prescrição é


que, enquanto na segunda o prazo fica paralisado, na primeira
“zera-se” todo o prazo decorrido, recomeçando a contagem da
“data do ato que a interrompeu, ou do último ato do processo
para interromper. Assim, transcorridos dois anos do prazo
prescricional para se formular uma pretensão, via ação ordinária
de cobrança por exemplo, e verificada posteriormente uma
causa interruptiva, todo o lapso temporal recomeça “do zero”.

22
GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civil, volume: parte geral / Pablo Stolze Gagliano, Rodolfo
Pamplona Filho. - 12 ed - São Paulo: Saraiva, 2010. p. 521

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Uma outra inovação da disciplina legal da prescrição pelo Novo


Código civil diz respeito à interrupção da prescrição, que, agora,
somente poderá ocorrer uma única vez.”

Diante da teoria apresentada, resta claro que a Resolução do CONTRAN teve o intuito
de separar muito bem causas de suspensão e interrupção, trazendo à luz a diferença
conceitual entre ambas.

Outra inovação importante é a instituída pelo §4º artigo em análise.

Pela redação posta, se durante o transcurso do processo administrativo de suspensão


ou cassação, o interessado ingressar com ação judicial para discutir algum fato que
tenha ligação com a celeuma administrativa, este apenas será suspenso com a
necessária notificação feita pelo juízo da causa.

Este novo procedimento se diferencia em muito daquele que era adotado pelo §2º do
art. 6º da resolução nº 182/05 conforme pode-se depreender do texto abaixo:

§ 2º. Se a infração cometida for objeto de recurso em tramitação


na esfera administrativa ou de apreciação judicial, os pontos
correspondentes ficarão suspensos até o julgamento e, sendo
mantida a penalidade, os mesmos serão computados,
observado o período de doze meses, considerada a data da
infração.

Grande foi a mudança aqui tratada, uma vez que doravante o processo apenas será
suspenso quando houver decisão judicial neste sentido.

Este fato difere bastante da previsão anterior que automaticamente já determinava a


suspensão do processo caso o interessado apresentasse certidão de propositura da
ação judicial.

Resolução nº 182/05 Resolução nº 723/18


§ 2º. Se a infração cometida for objeto de § 4º Suspende-se a prescrição da
recurso em tramitação na esfera pretensão punitiva ou da pretensão
administrativa ou de apreciação judicial, executória durante a tramitação de
os pontos correspondentes ficarão processo judicial, do qual o órgão tenha
suspensos até o julgamento e, sendo sido cientificado pelo juízo.
mantida a penalidade, os mesmos serão
computados, observado o período de
doze meses, considerada a data da
infração.

§ 5º Incide a prescrição intercorrente no procedimento administrativo paralisado por


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mais de três anos.

Vide comentários ao artigo 24 caput.

► § 6º A declaração de prescrição acarretará o arquivamento do respectivo processo


de ofício ou a pedido da parte.

O reconhecimento da prescrição tem o condão de extinguir o direito de punir do


Estado.

Por este motivo, elevado ao nível de matéria de ordem pública, a prescrição pode ser
reconhecida a qualquer tempo inclusive de ofício.

Sua aplicação abarca não apenas o âmbito administrativo, mas também o judicial23.

“A decisão que acolhe a prescrição é decisão do mérito


porquanto diga respeito à impossibilidade de obtenção da
eficácia jurídica pretendida pelo autor - efetivação da prestação
devida - em razão da perda de eficácia da pretensão. A
prescrição está sempre relacionada aos direitos a uma
pretensão (o poder que alguém tem de exigir de outrem o
cumprimento de determinada prestação: fazer, não fazer e dar).
A pretensão é uma situação jurídica ativa presente nas relações
jurídicas que giram em torno do cumprimento de uma prestação.
Reconhecer a prescrição é examinar um dos elementos desta
relação jurídica, pois. Se a relação jurídica discutida é
exatamente o alvo da decisão judicial (o mérito), a decisão sobre
a prescrição somente pode ser decisão de mérito. É
absolutamente inadmissível relacionar a prescrição com a
“extinção da ação processual”, e portanto, considerá-la como
matéria estranha ao mérito da causa.”

► § 7º A declaração da prescrição das penalidades desta Resolução não implicará,


necessariamente, prejuízo da aplicação das demais penalidades e medidas
administrativas previstas para a conduta infracional.

Um parágrafo deveras desnecessário.

As medidas administrativas como manifestação do poder de polícia preventivo e


repressivo são manifestas no momento da abordagem pelo exercício da coercibilidade
e da autoexecutoriedade.

23
DIDIER JR, Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e processo
de conhecimento - 19 ed- Salvador: Ed. Jus Podivm, 2017. p. 826

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Comentários à Resolução nº723/18 do CONTRAN
Dr. Paulo André Cirino

Por este motivo, como poderia a retenção do veículo ou recolhimento da CNH serem
prejudicadas por um lapso temporal de 3 ou 5 anos?

De igual modo, levando em consideração que a prescrição aqui estudada se refere à


suspensão e cassação, que sentido faria a prescrição dos processos de suspensão e
cassação influir na penalidade de multa que, com exceção da hipótese prevista no
inciso I do art. 8º desta resolução, sempre ocorre ANTES dos processos de suspensão
e cassação?

Mais uma vez não vemos sentido neste texto.

► Art. 25. No curso do processo administrativo de que trata esta Resolução não
incidirá nenhuma restrição no prontuário do infrator, inclusive para fins de mudança
de categoria do documento de habilitação, renovação e transferência para outra
unidade da Federação, até a efetiva aplicação da penalidade de suspensão ou
cassação do documento de habilitação.

Vide comentários ao §1º do art. 10 desta resolução.

► § 1º O processo administrativo deverá ser concluído pelo órgão ou entidade de


trânsito que o instaurou, mesmo que haja transferência do prontuário para outra
unidade da Federação.

Iniciado o processo em um estado da Federação, caso o interessado se mude para


outra localidade, os autos e o procedimento como um todo continuarão no estado de
origem até sua finalização.

Já os próximos processos terão início na nova UF.

► § 2º Na hipótese do § 1º, o órgão ou entidade de trânsito que aplicar a penalidade


de suspensão do direito de dirigir ou cassação do documento de habilitação deverá
comunicá-la ao órgão executivo estadual de trânsito de registro do documento de
habilitação do condutor para o cadastramento da penalidade no RENACH.

► § 3º A interposição de recurso intempestivo não impede o cadastramento da


penalidade no RENACH.

O parágrafo 3º é mais um texto inédito em relação à Deliberação nº 163.

O texto apresenta a informação de que caso seja interposto recurso fora do prazo
legal (intempestivo), ele não impedirá o cadastro da penalidade do registro do
condutor.
60
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Em primeiro lugar, reforço a teoria já muito levantada aqui sobre a existência inata do
efeito suspensivo nos recursos de multas de trânsito, mesmo que negada pelo próprio
CTB.

Em segundo lugar, temos um problema de graves proporções neste parágrafo.

Muito embora não fique claro no texto em análise, via de regra incumbe à algum setor
do órgão de trânsito que irá julgar o recurso, fazer a análise prévia da tempestividade
do ato.

E assim como ocorre em geral nos processos judiciais onde a secretaria da vara
registra a tempestividade ou intempestividade, também no órgão de trânsito o recurso
administrativo usualmente é distribuído com este registro de “tempestivo” ou
“intempestivo”.

Ocorre que esta análise e a respectiva anotação devem ser encaradas apenas como
uma prévia, pois a averiguação da tempestividade é uma competência do órgão
julgador, eis que se trata de um juízo de admissibilidade do recurso.

Pois bem, caso a apreciação preliminar por agente diverso do julgador tenha o condão
de negar seguimento ao recurso, teremos um julgamento nulo em função da violação
do princípio do juiz natural.

Este brocardo muito embora tenha aplicação voltada ao âmbito do Poder Judiciário, é
certo que ao aprofundarmos a discussão fica claro que em verdade a sua força
cogente se aplica a todo e qualquer órgão com competência de julgamento, e por
consequência, ao processo de trânsito.

Enriquecendo o debate, trago à baila o célebre posicionamento de Alexandre de


Moraes24:

“A Constituição Federal prevê, em dois incisos do art. 5º, o


princípio do juiz natural:

XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;


LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela
autoridade competente;

A imparcialidade do judiciário e a segurança do povo contra o


arbítrio estatal encontram no princípio do juiz natural uma de
suas garantias indispensáveis. Boddo Dennewitz afirma que a
instituição de um tribunal de exceção implica em uma ferida
mortal ao Estado de Direito, visto que sua proibição revela o
status conferido ao Poder Judiciário na democracia.

O juiz natural é somente aquele integrado no Poder Judiciário,


com todas as garantias institucionais e pessoais previstas na
Constituição Federal. Assim, afirma Celso de Mello que

24
MORAES, Alexandre de. Direito constitucional.19.ed – São Paulo: Atlas, 2006., p. 76

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somente os juízes, tribunais e órgãos jurisdicionais previstos na


Constituição se identificam ao juiz natural, princípio que se
estende ao poder de julgar também previsto em outros órgãos ,
como o senado nos casos de impedimento de agentes do Poder
Executivo.

O referido princípio deve ser interpretado em sua plenitude, de


forma a proibir-se não só a criação de tribunais ou juízos de
exceção, mas também de respeito absoluto às regras objetivas
de determinação de competência para que não seja afetada a
independência e imparcialidade do órgão julgador. - p. 76

Ampliando o debate, em 2010 o próprio STF analisou a incidência do referido princípio nos
processos administrativos disciplinares.

Dada a importância das balizas ali fixadas, fica o registro de parte do referido precedente25:

Torna-se relevante observar, neste ponto, que prestigiosa


corrente doutrinária reconhece aplicável, ao procedimento
administrativo-disciplinar, o postulado do juiz natural (LÚCIA
VALLE FIGUEIREDO, “Curso de Direito Administrativo”, p.
443/444, item n. 4.1, 9ª ed., 2008, Malheiros; ANGÉLICA
ARRUDA ALVIM, “Princípios Constitucionais do Processo”, “in”
“Revista de Processo”, vol. 74/20-39, item n. 9, abril-junho/94;
CÁRMEN LÚCIA ANTUNES ROCHA, “Princípios
Constitucionais do Processo Administrativo no Direito
Brasileiro”, “in” “Revista de Direito Administrativo”, vol. 209/189-
222, jul-set/97; EDGARD SILVEIRA BUENO FILHO, “O Direito
à Defesa na Constituição”, p. 37/38, item n. 5.7.1, 1994, Saraiva;
NELSON NERY JUNIOR, “Princípios do Processo Civil na
Constituição Federal”, p. 97/105, item n. 15, 8ª ed., 2004, RT;
ADELINO MARCON, “O Princípio do Juiz Natural no Processo
Penal”, p. 207/210, 2004, Juruá; ANTONIO CARLOS ALENCAR
CARVALHO, “O Princípio do Administrador Competente e a
Composição do Colegiado de Sindicância Punitiva no Sistema
da Lei Federal nº 8.112/90”, “in” “Boletim de Direito
Administrativo”, p. 1.146/1.155, ano XX, nº 10, outubro/2004,
NDJ), valendo referir, dentre outros eminentes autores, a lição
expendida por ROMEU FELIPE BACELLAR FILHO (“Processo
Administrativo Disciplinar”, p. 332/337, item n. 8.2, 2ª ed., 2003,
Max Limonad), que assim justifica, com inteira correção e sob
perspectiva eminentemente constitucional, a própria razão de
ser desse princípio nuclear:

“Interessa, nesta sede, perquirir sobre a incidência do princípio


do juiz natural no processo administrativo disciplinar. A resposta
a esta questão, merecedora de estudo doutrinário recente,
passa, antes de tudo, pela compreensão finalística do instituto.
Depois, cumpre avaliar se o processo administrativo disciplinar

25
(íntegra do julgado em: http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo587.htm#transcricao1)

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subsiste sem o atingimento do fim garantido pelo princípio do


juiz natural.
.......................................................
A matriz deste raciocínio está no próprio art. 5°, inc. LV, quando
adiciona à ampla defesa a expressão ‘com os meios e recursos
a ela inerentes’. Trata-se de regra com conteúdo
eminentemente prático, garantindo a incidência de outros
princípios no processo administrativo, desde que o contraditório
e a ampla defesa não possam deles prescindir.
Com efeito, o princípio do juiz natural tem sido interpretado,
tradicionalmente, pela doutrina processualista brasileira, como
princípio inerente à jurisdição. No entanto, este postulado, que
não está ‘literalmente’ posto na Constituição, é consectário de
interpretação orientada pelo sentido do sistema constitucional.
.......................................................
A normatividade do princípio do juiz natural informa o processo
administrativo (inclusive o disciplinar). Quanto ao programa
normativo, os enunciados linguísticos dos incs. XXXVII e LIII do
art. 5° não são incompatíveis com o processo administrativo
disciplinar. A expressão ‘juízo’, como assinalado, comporta o
sentido de julgamento que ocorre em sede de processo
administrativo disciplinar, onde há um juízo administrativo. A
expressão ‘tribunal’, a seu turno, mesmo entendida no sentido
técnico, não é sinônima de tribunal judiciário. Prova disto, a
previsão constitucional do ‘Tribunal de Contas’ (art. 71) não
integrado ao Poder Judiciário. A expressão ‘processado’
engloba o processo administrativo disciplinar, tendo em vista a
afirmação constitucional expressa do ‘processo administrativo’
no art. 5°, inc. LV. O termo ‘autoridade competente’ põe às
claras o sentido amplo dos enunciados informadores do
princípio.
(...)
Vê-se, desse lúcido magistério, que a cláusula do juiz natural,
projetando-se para além de sua dimensão estritamente judicial,
também compõe a garantia do “due process”, no âmbito da
Administração Pública, de tal modo que a observância do
princípio da naturalidade do juízo representa, no plano da
atividade disciplinar do Estado, condição inafastável para a
legítima imposição, a qualquer agente público, notadamente
aos magistrados, de sanções de caráter administrativo.
A incidência do postulado do juiz natural, portanto, mesmo
tratando-se de procedimento administrativo-disciplinar, guarda
íntima vinculação com a exigência de atuação impessoal,
imparcial e independente do órgão julgador, que não pode, por
isso mesmo, ser instituído “ad hoc” ou “ad personam”, eis que
designações casuísticas dos membros que o integram
conflitam, de modo ostensivo, com essa expressiva garantia de
ordem constitucional.

Como restou claro, o princípio do juiz natural se aplica aos processos administrativos,
inclusive os de trânsito, e por este motivo retornando ao tema principal, é ILEGAL o
julgamento (não o simples registro sugerindo a tempestividade ou intempestividade)

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prévio da admissibilidade dos recursos por parte de órgão diverso daquele que tenha
a competência legal para tanto, como a JARI ou o CETRAN.

Outrossim, a análise equivocada da contagem do prazo por órgão (ou pessoa) não
julgador pode ensejar diversos dissabores ao recorrente, como por exemplo ser
abordado em uma blitz e no sistema constar o seu bloqueio em virtude de um recurso
que não gerou efeitos por estar intempestivo.

► Art. 26. A apresentação de defesas, recursos e outros requerimentos previstos


nesta Resolução poderá ser realizada por meio eletrônico, quando disponível pelo
órgão.

O processo digital é uma realidade já em alguns órgãos da Administração Pública e


deve cada vez mais seguir esta tendência, trazendo desta forma transparência,
segurança e rapidez aos feitos.

►Art. 27. Os atos referentes aos processos de que trata esta Resolução deverão
ser registrados no RENACH e no RENAINF.

► Art. 28. As disposições desta Resolução aplicam-se, no que couber, à Permissão


para Dirigir, à Autorização para Conduzir Ciclomotor e à Permissão Internacional para
Dirigir.

► § 1º Havendo prazo a ser cumprido em relação a qualquer uma das penalidades


previstas nesta Resolução aplicada ao condutor portador de Permissão para Dirigir, o
reinício do processo de habilitação de que trata o § 4º do art. 148 do CTB somente se
dará ao fim desse prazo, ainda que a CNH já tenha sido emitida em razão de efeito
suspensivo, dispensado o curso de reciclagem.

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A permissão para dirigir é um documento que legaliza a condução de veículo por um


ano pelo recém habilitado.

Caso o condutor não seja aprovado nos termos do §3º do art. 148 do CTB, ele não
obterá a CNH e será obrigado a reiniciar todo o processo de habilitação.

Mesmo diante do silêncio do CTB, o CONTRAN determinou que se porventura o


condutor v.g praticar neste período infrações que gerem a cassação, apenas ao final
de 2 anos é que o mesmo poderá reiniciar o processo de habilitação.

► § 2º A não obtenção da CNH, tendo em vista a incapacidade de atendimento do


disposto no § 3º do art. 148 do CTB, não exige a instauração do processo
administrativo descrito nesta Resolução.

Tendo em vista o disposto no art. 2º da Resolução em análise que fixa o seu objeto
em estabelecer o procedimento administrativo para a aplicação das penalidades de
suspensão do direito de dirigir, cassação da CNH e curso preventivo de reciclagem,
fica claro que a mesma não iria tratar do cancelamento da PPD, que além de não ser
penalidade de trânsito, não exige prévio processo administrativo para a sua
efetivação.

► Art. 29. Os prazos de suspensão do direito de dirigir para processo instaurado em


decorrência da contagem de 20 (vinte) ou mais pontos, em que haja uma ou mais
infrações praticadas antes de 1º de novembro de 2016, serão os estabelecidos no art.
16 da Resolução CONTRAN nº 182, de 09 de setembro de 2005.

Trata-se de norma de transição e tendo em vista a data da publicação da deliberação


163/17 e da Resolução nº 723/18.

► Art. 30. As informações de que trata o § 2º do art. 16 referentes às penalidades


aplicadas sob a égide da Resolução CONTRAN nº 182, de 2005, deverão ser
lançadas pelos órgãos executivos de trânsito no prazo de 12 (doze) meses da
publicação desta Resolução, na forma estabelecida no art. 16.

► Art. 31. Ficam convalidadas as penalidades e medidas administrativas aplicadas


sob a égide da Resolução CONTRAN nº 182, de 2005.

É no mínimo estranha a redação do art. 31 da Resolução.

A convalidação é um ato de acerto praticado pela Administração Pública para sanar


um defeito do ato administrativo.

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A convalidação necessariamente pressupõe um vício sanável, do contrário


estaríamos diante da necessidade de anulação do feito.

Fazendo um pequeno compêndio da visão de importantíssimos autores


administrativistas, Phillip GIl França:

“Acerca do conceito de convalidação do ato administrativo


disforme aos valore do direito, Lúcia Valle Figueiredo expressa
em sua doutrina que, mediante efeito ex tunc (retroativos aos
efeitos do ato inicial convalidado), trata-se de “ato administrativo
praticado pela Administração com a finalidade de, retificando ato
anteriormente invalidável, torná-lo válido, se subsistentes
condições para emaná-lo de maneira conforme ao
ordenamento”. Romeu Felipe Bacellar Filho lembra que a
convalidação apenas se justifica “em razão de relevante
interesse público e quando o vício constatado for reversível; se
irreversível, o ato deve ser anulado”. Segundo o
Administrativista, “é o que se dessume da redação do art. 55 da
Lei 9.784/99 (Lei de processo administrativo Federal): em
decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão ao
interesse público nem prejuízo a terceiros, os atos que
apresentarem defeitos sanáveis poderão ser convalidados pela
própria Administração.

Para Celso Antônio Bandeira de Mello, convalidação “é o


suprimento da invalidade de um ato a Administração ou de um
ato do particular afetado pelo provimento viciado. Explica o
jurista que a Administração, quando há condições técnicas
jurídicas para tanto, ou seja, quando se pode sanar vícios
encontrados em determinado ato administrativo produzido com
alguma deformidade legal, “corrige o defeito do primeiro ato
mediante um segundo ato, o qual produz de forma consonante
com o direito aquilo que dantes fora efetuado de modo
dissonante com o Direito. Entretanto, sublinha Bandeira de
Mello, “só pode haver convalidação quando o ato possa ser
produzido validamente no presente. Importa que o vício não seja
de molde a impedir reprodução válida do ato. Só são
convalidáveis atos que podem ser legitimamente produzidos.”

Como se pode perceber, para que haja a convalidação de um ato administrativo é


necessário que primeiramente se faça a análise de sua (in)validade.

Não é correto simplesmente afirmar que “ficam convalidadas penalidades e medidas


administrativas” sem sequer averiguar a presença de nulidade, e pior! Se estas são
sanáveis ou não.

Portanto, mais uma vez cabe uma crítica severa a esta parte da Resolução que
simplesmente não tem razão de existir, pois esta “sanatória geral” não tem qualquer
efeito prático muito menos jurídico.

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► Art. 32. Ficam revogadas as disposições da Resolução CONTRAN nº 182, de


2005, com exceção do art. 16, que permanecerá aplicável às infrações cometidas
antes de 1º de novembro de 2016.

► Art. 33. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Resolução Nº 723/18 apresenta importantíssimas inovações no campo processual


de trânsito cabendo a ela críticas e elogios.

Acredito que esta norma será alvo de mudanças urgentes e profundas, eis que vários
são os pontos controversos entre si e até contrários ao CTB.

Assuntos como a dosimetria da pena para os processos pós 01/11/2016, reincidência


e processos concomitantes não foram tratados com a devida diligência, e certamente
se não houver uma alteração esclarecedora, em breve estaremos diante de inúmeros
questionamentos administrativos e judiciais sobre a legalidade das punições.

De todo modo o processo administrativo punitivo de trânsito mudou, e o profissional


seja ele agente público, advogado ou defensor em geral deve se adequar à nova
realidade para não cometer atos ilícitos, atos contraproducentes ou mesmo
ultrapassados.

O certo é que todos devem ficar atentos às novidades que ainda virão, pois certamente
causarão impactos maiores ainda ao sistema processual de trânsito.

Um grande abraço! Paulo André Cirino

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