Palavras Da Crítica

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Autorta Norma Telles My gilts are what/weentalogue/ Tit take a nif/and hep a frog. ‘Anne Sexton. ‘A inclusio numa antologia do verbete autora pode parccer muitos desnecessirio e edundante, pois éfato gramaticale cultu- fal esabelecido que o genera maseulino engloba o feminino. Nos {ilimos anos, entretanto, temse demonstrado que os contesdos © significados para pares de palavras que denotam diferengas de igenero nio sto.os mesmos, Senhor, por exemplo, denota dominio € controle, enquanto senhora 0 pertencimento a outro, “Que infelizes, minha a ibas amarradas por leis 180 desumaias ‘que tornam a mulher pertenca sempre de alguém, dominio, terra ‘nde se pernoita esemeia." Poel, afirma o diciondrio, deriva do igrego: "aquele que faz"; poctisa, na mesma fonte, € mulher que faz poesia, algo menor, até pejorativo, Na verdade autora nao é femminino de autor nem lingiitiea, nem Iiteriia, nem cultural "As teoras sio responsive tanto pela inclusio ¢ exclusto de textos ou verbetes em antologins e cinoneslterrios, quanto pela Inaneita como sio lidos, O que nels se omiti, até pouco tempo dlvis, era que quando Temos textos — ou quando escritores Iéem, ‘ecifiam e regstram o mundo ~ utlizimos estratégas interpreta: tivas historieamente determinadas e, moldadas, portanto, por de- Finigdes de genero. A referéncia profunda figura da autora foi deformada por muitos Extores slencioseinterrupcbes da meméria toletiva, Para x chegar ela preciso ler através das ocultaghes {Que evidenciam confltos sincrOnicas entre as representagies da Iullier, as representacdes de sua desfiguragio ea afirmagio pela % Auona cscrta, Vamos encontar uma feltura e temas das autorss, Bes nfo coincidem © as mundo que tecem, através de tens6es, sho diiclmente redutfves tuma hota. A abordagem de autores que também sio mulheres ‘exige, pois, a diseussio de questdes mais amplas, ‘Aliteratura escrta por mulheres & em certo sentido, um palimpsesto, pois o desenho de superficie esconde ou obscurece tim nivel de significado mais profundo, menos acessivel ou menos aceitivel socialmente. & uma arte que tanto expressa quanto dis- farga’ Este exereicio de letura, levando em conta a miriade de nfluéncias que afetam nossas vidas, sonhos, faculdades critcas © Teituras, nfo pretende uma postura neutra, mas segue o conselho de Virginia Woolf girar o ‘aleidoscépio para desvendar novas ppaisigens a partir de uma perspectiva alfenigena. Quando se faz {Esse tipo de leltura, que entrelaca os campos de significados e de Atividades, verifica-se que as narrativas deautoras nao s6 convidam ‘uma andlise semiiea, mas realizam esse gesto por nds 10 que distingue or estudos da erica e teorias feminists das Uikimas décadas €o deasjo de alterareampliaro que éconsiderado felevante em nossa heraga cultural e literdia. Assim como a Titeratura nfo é uma categoria derivada da biologia, mas uma insituiglo socal também noses leitura € uma atividade aprendida ¢ hibitos de leitura fixos sempre funcionaram normativamente, fobscutrecendlo amplas reas da paisagem. Masa literatura tampou- co€ destino, A intervengio dos estos sobre iteraturaescrta por ‘mullieres como Moers, Showalter, Gilbert ¢ Gubsar, Spacks, Spi- tack, Kolodny, Miller ¢ tantas outras foi crucial no sentido de ampliar os modelos e mostrar novas manciras de ler e desler, Infinit vaviagdes co mesmo texto, ampliagées ereondenagdes dos enone. ‘Adrienne Rich, como jé Gera Virginia Woolf, apontou a rnecessidadle de wi novo comego, querendo dizer que os materials. ‘iponiveis para a simbolizagio efiguraclo para os contextos das lautoras sio necessariamente diferentes daqueles radicionalmente ‘tlzados para os homens, Pr caminhos ¢éom resuladas diversos {dos de Harold Boom (ver ensaio sobre “Thflugncia” nesta coleté- nea), propds que se excuse iia de um texto fixo ou conhecide, Sugeriu uma resisio, isto 6, um ato de olhar para tris de maneira Wer este seja un dcles — em que preck Aura ” ‘samos nos levar mals a sério ou morrer; quando temos que nos Tivrar das encantagvs, dos rmos pelos quais nos temos movido, invefltidamente, /eresgatar a nés mesimas, preservarsnos/ para fescuta atenta, desobstruida/ (..]™ tos cen ano, tricos — homens € mulheres — tém brineado coms idéia de “um corpo de inguagem anatomicamente ddeterminado, que tradiza os termes ¢ as articulagbes do corpo hnuim corpo artculado de tenninologia, que denominamos ingua- ‘gem’. Para integrar o termo autora e as forgas divergentes de poder, linguagem e sigutieado, é preciso traar algumas das per- futagBes entre Finguageme contexto cultural mais amplo. Lingiis tas como Dale Spender mostraram que exstem, em inglés, notiveis Uiferencas entre a fans, vocabulivios € comportamentos de ho- ‘mens e mulheres. As mnlveres alam menos que os homens ¢ com ior cuidado gramaticale sio tammbéin mais conservadoras quan ‘a inovagGes estlisticas. Robin Lakoff notou o freqiente uso de feufemisinos ssinalando que isso 6tipico dos destituios de poder. ‘As mulheres podem empregardialetos diferentes dos homens ou ‘escrever em forma vernieula, em ver de empregar linguagem formal. A iilidades semntieas nio podem ser facilmente 3 €, por iso, erica francesa, como Cixous Irigaray, ‘0 eipirismo e preferiram analsar as oposiges hiernquicas” da linguagem pactiarcal,tentando supe- rar o binarismo e desvendar uma derture feminine ow um parler Lingua. materna versus sermo aterno: na transformagio da 1ingua em sero, foi fundamental o papel da imprensa, a passogem ‘du oraity para a lierae, Nessa tranaformacio, houvea intermedi. flo dos fermios e tentas do greyo e do latim, aos quai 36 os bburgueses e intelectsais europeus nlm acesso. A partir da Alta Madde Medlin, a lingua materna tomas rade e vulgat, enquanto © sero paterno, eiborado por Dante e Chaucer em vernculo, que efiniram como “materno”, o4 mesmo a ranscriglo semberudica de cangies, estiveramancoradas no latin.” "nada mais pode Ime acontecer neste mundo senio o vier sozinha a imaginar-me, {Gebenganando-me em eartas[.. construfdas todas elas em lingua ‘iio materna[..] tio dace e amarga tornada, desde que da boca ‘dele a ouvi ein proveito de meu uso", dizem as Novas Cartas Portuguesas. ® Autos De Coleridge, Thoreau, Poe, Hopkinsaté Lawrence, Wiliams, O'son ou os tebricos contemporineos, as fantasas lingiisticas ‘masculinas podem ser lidas como uma revisio da Mingua materna realzada por um vidente que pereebe o poder das palavras comuns a0 mesmo tempo que define as palavas das mullires como meros batbucios. As defesas contra a fala feminina tornaramse mais ferozes desde que as mulheres de classe média comecarain a escrever. Assim, por exemplo, William Faulkner explicta o ideal feminino: ~ “una virgem sem pers para me deixar, sem bragos ‘para me abracar, sun cabeca para falar comigo", meramente uma ‘genial artculada” ‘As escritoras, por sua ver, construtram fegBes lingisticas ‘contra tas posigbes. Mas as funtasis femininas nao aio simétricas As masculinas: nunca cagoam ou Fazem potco da linguagem mas: ulna, Os imperativos femininos de revistolinghistiea envolvem sgeraliente todo © processo de simbolizagio verbal que subord- now as mulheres, Nos séculos XIX e XX, a esritoras busearam o jomina “alfabetos arcaicos", una “grandmato- ontra.a gramatologia da lingstea pariaral De Mary Wolstoneserafta Mary Shelley, Emily Dickinson, asirmas Bronte, George Eliot até Virginia Woolf, Adrienne Rich, Monique Wiig, ILD, Margareth Atwood, Doris Lessing ¢ tantas outras, ppodese rastrear esses “alfibetos", num esforgo dese ivrar dosenmo fatemo, de transformyélo ¢ numa tentativa de estabelecer uma idade alternativa, associa a uma linguagem oculta. Para sanar, entre outros,o problema da exclusto da mulher da educagio formal erudita, que inclu grego eo latin, essa e outrasautoras fentaram transtormar a linguaget elssica em lingua nativa Fernie nina anterior ao contrato social do patrareado, O desejosublimi- iar €o deapagar aallabetizacio da histria ea istria doalfabeto ‘eauperara “sentenca masculina”, na expressio de Virginia Woolf, ‘ouseja,“ultrapassara sentencreomojulgamentodefinitivo,a sem tengcomo-decreto interdict, através da qual a mulher fol mate tida longe da sensagio de estar em plena posse da linguagem"? Emily Dickinson pode ser considerada una ancestral na arti- culacio de uma fantasia sobre o poder da linguagem, ao atribuit autoridade e poténcia eseus versos es vores dle sine antecessoras ‘esucessoras. No pocina a Elizabeth Barret Browning, esrito por parece responder as erteas de Romney caractert Aura o zando Aurora Leigh (1856) como pr tea colocagio e celebra a “Insinidade Divina” produzida pelos “Tomos de Feiticaria” de Barret Browning. Redefine a insanidade como fonte de encantagio, através dy qual a poe ‘objetos comuns eo cotidiano numa *Opera Tit son essa “Feitiaria uum pedigre", mas € um alento de vida ‘nova paraa poesia Feminina, ao mestno tempo que estabelece uma ancestalidade secrets, fora da genealogia dis publicagies, mesmo sem autoridade de af considera Hegtna e & sexalldade considera iia além de predizeraseqatncia dos tiunfos esa omunidade subterrnca* Bin Abs Cana também hd referénen 2 Barret Browning c jogos com alftbetos, letra, pvc: "Agora tou invenara pa desiteligente que Go queen acho que sou Poreausa da confust que me fzemas palais ede estar Sempre Galas. A escreveras palavras so feta de ltt es6 ouvern a abe. Fin" Essa conmnidade prosseguit até noso séulo, Entre outros ‘exemplos, com Sst Plath uc, an A Redowa de Vio, 20 let ppanagens do Fianegens Wake de Joyce, mergula numa “sopiaha Aeletas. akira gumente fares mas estranhamente le. fads, como rostos dante de umespethomsigica Via [asletras] Separaremse unna das outrs e saltarens de maneiraabsurda. Depois elas se junaram em formas fintiteas ¢ intradaels Com Virginia Wool, en Af. Dally, quan Septimus eseutaa

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