tempo de quefazer.(...)
(FREIRE,2000)
Introdução
1
Departamento de Medicina Social e Preventiva, Faculdade de Ciências Médicas, Pontifícia
Universidade Católica de Campinas. (endereço). Betsmek@aleph.com.br .
2
Departamento de Medicina Preventiva e Social, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade
Estadual de Campinas. Cidade Universitária Prof. Zeferino Vaz, Campinas, SP 13083-970, Brasil.
Noliveira@,mpc.com.br.
3
Poema editado em manuscrito, da coleção de Ana Maria Araújo Freire, escrito em Genebra, 71,
constante no livro publicado em 2000, de autoria de Paulo FREIRE, seus últimos escritos antes do
falecimento em maio de 97, organizado e recolhido por Ana Maria de Araújo Freire,
intituladoPedagogia da Indignação - cartas pedagógicas e outros escritos, pela editora UNESP
1
atuações e reflexões buscando contribuir para a perspectiva da formação
dos profissionais, a partir do campo da Educação em Saúde.
4
O LACES é um Laboratório do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de
Ciências Médicas da UNICAMP que congrega educadores de saúde com as mais diversas formações
que vem desenvolvendo trabalhos educativos pontuais ou continuados junto a profissionais de saúde
desde 1992.
2
imprevisibilidade e abrangência da tarefa (articular "micro" e "macro")
nas ações educativas, complexifica sua realização, bem como a avaliação
de seus resultados. Esses limites e possibilidades vem nos desafiando já
há algum tempo. Com este texto pretendemos apresentar algumas
reflexões que têm apoiado nossas práticas, colocando o foco nas
relações objetais estabelecidas entre propostas educativas e sua
"população alvo", mirando a "utopia possível" posta no processo de
emancipação.
3
destacar a dimensão pedagógica da construção de hegemonia das
práticas cotidianas em que a Educação em Saúde se insere. Busca-se
explicitar os mecanismos e técnicas infinitesimais de poder que estão
intimamente relacionados com a produção de determinados saberes (...)
e analisar como esses micropoderes possuem tecnologia e história
específica (COSTA, 1987, p. 5-6).
4
A greve geral de 1917 exigindo redução da jornada de trabalho,
regulamentação do trabalho da mulher, da gestante e da criança,
organização da assistência médica, etc. evidenciava uma das facetas da
crise de legitimidade do modelo agro-exportador e favorecia reformas e
mudanças nas estratégias de diálogo entre grupos hegemônicos no
poder e os segmentos apartados, e subalternos. A partir de 1920,
especificamente em 1923, com a aprovação de um novo regulamento
sanitário, além da regulamentação da assistência médica das Caixas de
Pensão e de Aposentadoria (Lei Eloy Chaves), o movimento higienista
amplia seu espaço e poder de atuação, interferindo sobre a educação
sanitária da população (medidas de divulgação de higiene pessoal e
pública), inspeção médica de imigrantes, confinamento de leprosos,
tuberculosos, sifilíticos, cuidados frente a saúde infantil e das gestantes
(idem, pp.12-15).
5
atenção das reflexões sobre políticas sociais e condições de vida e de
trabalho da população. Nesse sentido, a base biologicista dessa
concepção se apóia no pressuposto de que os problemas de saúde da
população estariam relacionados à sua ignorância de normas de higiene,
ou seja, através da mudança de atitudes e comportamentos individuais,
seriam solucionados os problemas de saúde como um todo (pp.21-23).
6
hegemônica expressa, outros contra-movimentos estavam acontecendo
nos subterrâneos da saúde e da sociedade brasileiras.
7
como capacidade de consumo de tecnologia através da assistência
médica.
8
europeu, pelo estadunidense e à nova ordem econômica e política do
período desenvolvimentista.
9
cuidando de favorecer a tomada de consciência para mudança do estado
de doença para o estado de saúde (PEREIRA, idem, p. 24).
10
Contraditoriamente, essa situação criou condições para ampliação
do conceito sobre o processo saúde/doença e do redimensionamento do
papel do educador e da Educação em Saúde. Do esvaziamento de
partidos e sindicatos, da agudização da iniqüidade social e do descaso
estatal pelos problemas do povo foram se conformando novas formas de
resistência, de organização da vida política e de relação entre o saber
popular e o saber acadêmico.
11
se organizam, expressam suas bandeiras de luta, pressionam, obtêm
conquistas (CARDOSO DE MELO, idem).
12
instrumental que não recuperam, por si, o estado de saúde da
população, e muito menos conseguem dar conta da complexidade dos
novos problemas de saúde, posto que cada vez mais fica evidente sua
característica medicalizante;
13
politicamente em torno da defesa de seus interesses (VASCONCELOS,
1987 e 1991, SMEKE, 1989; STOTZ, 1993).
14
de cobertura dos serviços através da Medicina Comunitária, como
medida de contenção tensões e de racionalização de custos. No plano
interno, as correntes marxista e fenomenológica disputavam a
hegemonia no campo da Educação em Saúde.
15
O que nos parece preocupante, no plano da intersubjetivade
decorrente dessa forma de relação é que, para alem da baixa
efetividade, uma vez que as pessoas se identifiquem com estas
explicações e teorias, vai se recriando uma nova subordinação. Esse
“sujeito”, agora “epistêmico” (TESTA, 1997) vai pavimentando sua
prática político-social em defesa de interesses conservadores,
acreditados como seus e como progressistas. Grupos sociais distintos
chegam a defender mais medicalização, mais "convênios, pronto-
socorros e remédios" por exemplo. O problema agrava-se na medida em
que este enfoque tradicional baseado no modelo da História Natural da
Doença, em que o nível da prevenção primária permite certo
entendimento dos determinantes estruturais a serem trabalhados,
fundamenta grande parte do currículo de formação dos diferentes
profissionais de saúde. Sendo muito utilizado na prática, ainda que
revestido por outros discursos, é parte do senso comum para todos. É,
na verdade a teoria que sustenta as explicações oferecidas pelos
profissionais na saúde, explicitamente educadores ou não.
16
informações obtidas e das decisões tomadas, que poderiam levar ou não
a determinados comportamentos desejados. Por outro lado, confere uma
falsa idéia de legitimidade ao ponto de vista do sujeito cognoscente,
porque é um ponto de partida para as reflexões que necessariamente
devem corroborar a perspectiva científica hegemônica de saúde/doença.
As conclusões do processo educativo sempre concordarão com o ponto
de vista médico ou epidemiológico, parecendo muito mais uma
manipulação sedutora psicopedagógica para atingir os mesmos objetivos
que o modelo criticado não atingia, o que nos parece mais eficaz na
construção do mesmo sujeito epistêmico.
17
ampliando a sua participação social em questões relacionadas à saúde e
a doença (idem, p. 95).
5
(...) é a tomada de consciência de que a saúde é um direito da pessoa e um interesse da
comunidade. Mas como esse direito é sufocado e esse interesse descuidado, consciência sanitária é
a ação individual e coletiva para alcançar esse objetivo (BERLINGUER, 1983 citado em STOTZ, 1993,
p. 13).
18
Reafirma que o papel do educador em saúde é atuar a partir de uma
compreensão da dialética indivíduo/sociedade, aplicando Imaginação
Sociológica, criativamente no âmbito da saúde pública (idem, p. 19).
Pressupõe, assim, que sua ação deve buscar um entrelaçamento entre a
consciência individual dos próprios limites e possibilidades de vida com o
reconhecimento das mesmas circunstâncias em relação a todas as
pessoas que estão na mesma situação. Isto porque as necessidades de
saúde são (aquelas) de milhões de indivíduos e, ao mesmo tempo, (são)
necessidades coletivas (idem, p. 21, grifos do autor), posto que a
dimensão do sofrimento individual e do direito da pessoa à saúde não
pode ser secundarizada, da mesma forma que a própria percepção da
doença é influenciada pela posição social e pela cultura do grupo social
de referência dos indivíduos (p. 20). Nesse sentido, caberia ao educador
facilitar as capacidades dos indivíduos e dos grupos sociais para terem o
máximo poder sobre suas vidas - o que implica, necessariamente,
intervir sobre as relações sociais nas quais constróem suas vidas (p. 21).
19
precisa fazer (p. 21), isto é, ficaria fazendo proselitismo sanitário, em
vez de se preocupar com os objetivos pedagógicos como democratizar a
palavra, as decisões, o funcionamento orgânico do grupo, dentre outros.
Nesse sentido, o êxito de trabalhos de saúde numa linha (que está sendo
sugerida) parece depender de sua capacidade de produzir processos de
grupalização, nos quais a reflexão das pessoas envolvidas possa
progressivamente ultrapassar o universo pragmático de combate à
doença e a sua prática seja cada vez mais animada pelo fortalecimento
do ideal comunitário, através do auto-questionamento constante das
diferentes visões da realidade, dos objetivos do grupo e da sua própria
ação (pp. 28-9). Neste sentido o papel do educador em saúde seria mais
o de ajudar o grupo a pensar do que pensar pelo grupo, mais de
questionar do que de discursar, mais de assessorar do que de decidir,
contribuindo assim para o crescimento do grupo em termos de
solidariedade, autonomia e consciência (p. 30).
20
perceber a realidade em únicas formas de percebê-la (p. 246 – grifos da
autora). Nessa perspectiva, o direito à saúde viria acompanhado do
direito à informação de todos os tipos: as epidemiológicas, as gerenciais,
as institucionais, as diretamente envolvidas com a mobilização popular,
entre outras.
21
Educação em Saúde e Desafios para a mudança
22
hegemônicas entre os integrantes da humanidade e destes com tudo o
que os cerca (FREIRE,2000).
6
Nesta fala Paulo Freire referia-se a um grupo interdisciplinar de pesquisa coordenada por Adriano
Nogueira, em que uma das frentes se refere à formação de professores e professoras em nível de
produção de conhecimento (mestrado) a partir de questões didáticas, numa configuração
transversal de Ambiente e Ciência, chamado pelo autor de AMBIÊNCIA. Podemos tomá-la para um
projeto coletivo de educação em saúde comprometido com a emancipação das classes populares em
defesa da vida. Cf. NOGUEIRA,2000
23
• uma percepção mais ampla do processo de produção da
saúde/doença/intervenção, que passa a ser entendido no contexto de
seus determinantes sócio-históricos, como também do auto-
reconhecimento e da potencialização das capacidades individuais e
grupais;
24
"...As pessoas, porém,
inclusive de esquerda,
para quem o futuro
perdeu sua
problematicidade -o
futuro é um dado dado -
(FREIRE,1996:21)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
25
CARVALHO, A.I., (?). Saúde e Educação de Base: algumas notas: 19-33,
(mimeo).
26
PEREIRA, G.S., 1993. O Profissional de saúde e a Educação em Saúde:
representações de uma prática. Dissertação de mestrado apresentada na
ENSP/FIOCRUZ/MS, Rio de Janeiro.
STOTZ, E.N., 1993. Enfoques sobre educação e saúde. In: VALLA, V.V. &
STOTZ, E.N. Participação popular, educação e saúde: teoria e prática.
Rio de Janeiro, Relume Dumará: 13-21.
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Resumo
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