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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO


DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
CURSO DE JORNALISMO

Breno Lemos Pires

Participação do público no webjornalismo esportivo: estudo de caso do


LANCENET! e do Blog do Torcedor

Junho
2010
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
CURSO DE JORNALISMO

Participação do público no webjornalismo esportivo: estudo de caso do


LANCENET! e do Blog do Torcedor

Monografia apresentada pelo


estudante Breno Lemos Pires ao
curso de Comunicação
Social/Jornalismo da Universidade
Federal de Pernambuco como
requisito parcial para obtenção do
grau de bacharel em Comunicação
Social/Jornalismo
Orientadora: Isaltina Mello Gomes

Junho
2010
BRENO LEMOS PIRES

PARTICIPAÇÃO DO PÚBLICO NO WEBJORNALISMO ESPORTIVO:


ESTUDO DE CASO DO LANCENET! E DO BLOG DO TORCEDOR

Monografia apresentada ao curso Comunicação Social/Jornalismo da Universidade


Federal de Pernambuco como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em
Comunicação Social/Jornalismo, submetida à avaliação da banca examinadora
composta pelos seguintes membros:

Profa. Dra. Isaltina Maria de Azevedo Mello Gomes

Prof. Dr. José Afonso da Silva Júnior

Ms. Rosário de Pompéia

Recife, junho de 2010


A meu pai Ruy e a minha mãe Fátima,
pelo amor incondicional e pela fé,
dedico.

2
AGRADECIMENTOS

A todos aqueles que fizeram parte da minha graduação e que fizeram parte da minha
vida nestes anos de graduação.

A Isaltina, pela amizade, em primeiro lugar, e pela orientação acadêmica;

Aos professores e funcionários do Departamento de Comunicação da UFPE,


especialmente Teresa;

A Marcelo Cavalcante, pelo estágio prático no Blog do Torcedor, muito importante para
a minha formação e sem o qual eu não teria visualizado este tema para a minha
monografia;

À equipe do JC Online – Wladmir, Benira, Gustavo, Inês, Juliana, Isabelle, Jamildo,


Daniel, entre outros igualmente importantes –, com que tenho convivido e aprendido
muito;

A Guilherme Gomes e Felipe Zito, do Lancenet, pela atenção dispensada na troca de


informações e de ideias;

Aos melhores jornalistas de meia tigela do universo, isto é, meus companheiros de


turma, desta forma batizados pelo professor Dacier de Barros – dos quais destaco
Amanda, Diogo Guedes, João Guilherme, José Bruno, Lara, Rafael Filipe, Rafael
Mesquita, Raquel, Sofia Costa Rêgo e, especialmente, a Laura, a parceira maior;

A Camilla e a Sofia Campos, pelo amor, pela força e pelos ensinamentos que
compartilharam comigo ao longo destes anos, e por terem sempre acreditado em mim;

A Andreza, que, com muita atenção e interesse, ajudou a me manter firme neste
trabalho;

A meus familiares, em especial à minha avó Terezinha, pela confiança e pelo incentivo
que me passa em cada olhar;

A quem mais torceu por mim e me desejou o bem,

Agradeço.

3
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Exemplos da Web 1.0 e da Web 2.0 ......................................................... 08
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Relação de postagens do LANCE!ACTIVO 2.0 e do LANCENET! no corpus
restrito ............................................................................................................................ 31

Tabela 2: Relação de postagens do Blog do Torcedor no corpus restrito ................... 46

Tabela 3: Recursos interativos do LANCENET!, LANCE!ACTIVO 2.0 e Blog do


Torcedor ........................................................................................................................ 52

2
LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Exemplo de postagem do blog De olho no Lance!, editado pela equipe do


LANCE!ACTIVO 2.0 ................................................................................................... 33

Figura 2: Exemplo de postagem de um usuário do LANCE!ACTIVO 2.0 ................. 34

Figura 3: Parte da lista de notícias do LANCENET! no dia 26/02/2010 ..................... 38

Figura 4: Torcedor no Mundo ...................................................................................... 44

Figura 5: Texto de um torcedor alertando possível briga de torcidas e criticando a


tabela do Campeonato Pernambucano ........................................................................... 46

Figura 6: Enquete no Blog do Torcedor sobre a demissão de treinador do Náutico .... 47

Figura 7: Reportagem produzida por internauta do Blog do Torcedor ........................ 49

3
RESUMO

Vivemos uma época em que as formas de comunicação em rede crescem em ritmo


acelerado e implicam mudanças nas configurações de diversas atividades na sociedade.
O jornalismo é um desses campos que vêm sendo reconfigurados, desde que passou a
ser feito na World Wide Web, à medida que novas tecnologias da informação e
comunicação (NTICs) se desenvolvem e facilitam a difusão de informações no nosso
dia a dia. Estamos no nascimento de uma nova era da comunicação, onde o cidadão
comum tende a assumir um papel mais presente diante da circulação de informações,
inclusive jornalísticas. Desenha-se um novo cenário em que o indivíduo ontem chamado
de receptor da informação passa a ser visto como um interagente, capaz de participar de
forma cada vez mais direta no processo noticioso. Este trabalho visa identificar e
analisar as estratégias que vêm sendo implementadas no webjornalismo na área de
esportes a fim de promover uma maior integração dos internautas à atividade
jornalística. É feito um estudo das estratégias que promovam a interatividade e a
participação do público, tendo como objeto de estudo dois sites especializados na
cobertura de esportes, o LANCENET! e o Blog do Torcedor, cujas políticas editoriais
— particularidades à parte — têm dado destaque à figura do internauta. O
LANCE!ACTIVO 2.0, editoria do LANCENET! voltada para a interatividade, recebe
atenção especial. A análise é embasada em pesquisas que vêm se desenvolvendo desde
meados da década de 1990 na área do webjornalismo, considerando as implicações que
os avanços tecnológicos têm trazido em sua prática. Também se aborda a evolução do
jornalismo esportivo no Brasil, antecipando algumas novas tendências observáveis na
abordagem midiática do esporte.

Palavras-chave: Webjornalismo, Web 2.0, interatividade, participação, esportes,


Lancenet, Lance!Activo 2.0, Blog do Torcedor.

4
SUMÁRIO

1 Introdução............................................................................................................... 1
1.1 Caminhos metodológicos......................................................................................... 3
1.2 Apresentação dos capítulos ..................................................................................... 4

2 Webjornalismo: características e evolução ......................................................... 5


2.1 Web 2.0 .................................................................................................................... 7
2.2 Gatekeeping x Gatewatching .................................................................................. 10

3 Da interatividade à participação do público no webjornalismo ...................... 12


3.1 Benefícios e riscos da participação do público ....................................................... 21

4 Jornalismo esportivo ............................................................................................ 24

5 LANCENET! ........................................................................................................ 28
5.1 LANCE!ACTIVO 2.0 ............................................................................................ 30
5.1.1 Recursos interativos e participativos do LANCENET! ....................................... 31
5.1.2 Tipos de interação no LANCE!ACTIVO 2.0 ...................................................... 35
5.1.3 Da participação no LANCE!ACTIVO 2.0 ........................................................... 36

6 Blog do Torcedor .................................................................................................. 43

7 Considerações finais ............................................................................................. 52

8 Referências bibliográficas .................................................................................... 55

Apêndice 1 – Entrevista na íntegra concedida pelo editor do LANCE!ACTIVO 2.0, que


pertence ao LANCENET!, Guilherme Gomes .............................................................. 59

5
1 INTRODUÇÃO

O jornalismo chega ao fim da primeira década do século XXI com a interatividade


desenvolvida a níveis sem precedentes. É cada vez mais viável às pessoas fazer-se ouvir,
emitir opinião, colocar assuntos em discussão. A crescente participação do público no
jornalismo tem sido estudada por diversos autores (Alex Primo e Marcelo Träsel, 2006;
Axel Bruns, 2003, 2008; Claudia Quadros, 2005; Fernanda Dal-Vitt, 2009; Dan Gillmor,
2005; Luciana Mielniczuk, 2003; e Marcos Palacios, 2003). Em seu cerne, está a
evolução da internet e das tecnologias digitais. A popularização do acesso à web, o
advento dos blogs e das mídias sociais e a abertura dos canais de publicação de
conteúdo produzido pelo cidadão comum, através de serviços gratuitos como YouTube,
fomentam e viabilizam a aproximação entre o público, os veículos de comunicação e a
notícia, no webjornalismo, trazendo conseqüências também para os meios de
comunicação tradicionais. Nesse sentido, a internet se apresenta como o meio mais
propício para a divulgação de informações, troca de idéias e para práticas interativas e
dialógicas, que se renovam constantemente.

Enquanto a internet se revela o campo ideal para a arrancada da interatividade no


jornalismo, os esportes se apresentam como uma das editorias mais apropriadas para a
introdução e desenvolvimento de conteúdos e formatos interativos. O jornalismo
esportivo tem uma das maiores aceitações do público com relação à interatividade, pois
se caracteriza por uma linguagem clara e de fácil entendimento (BARBEIRO &
RANGEL, 2006 apud CARVALHO & SETTE, 2009, p.7). Nele, são permitidas
experimentações em termos de narrativa (seja em texto, em áudio ou em vídeo), com
regras menos rígidas do que em editorias como política, economia e cidades. Outro
fator que contribui para isso é o grande interesse do público pelo assunto, o que permite
uma avaliação mais direta da reação do leitor/ouvinte/telespectador ao estímulo que lhe
é feito para interagir.

Visto como um lugar de inovação da prática jornalística, o jornalismo esportivo lança


mão de diferentes estratégias de interatividade que variam de acordo com o meio de
comunicação. Por outro lado, é no ambiente da internet que melhor se desenvolvem
quadros ou seções de caráter interativo. Diversos sites, portais e blogs jornalísticos têm

1
buscado explorar da melhor forma as potencialidades dessa combinação entre
jornalismo, interatividade e esporte.

Este trabalho tem a finalidade de estudar a interatividade no jornalismo esportivo na


internet, por meio da observação das estratégias implantadas pelos veículos para dar ao
leitor/torcedor a oportunidade de participar da cobertura dos esportes, bem como a
forma com que se dá essa participação.

Aqui iremos discorrer sobre o webjornalismo1 e sobre a participação do público nele


inserido, para, em seguida, identificar e analisar as estratégias que vêm sendo
implementadas no jornalismo esportivo na World Wide Web a fim de estreitar a
interatividade com os leitores/usuários e promover a participação deles na produção
jornalística.

Alguns fatos nos motivaram a realizar este estudo. Um deles foi a nossa proximidade
com um dos objetos de estudo, o Blog do Torcedor, no qual tenho trabalhado desde
setembro de 2008, como estagiário. Outro ponto foi a escassa bibliografia relativa à
participação do público no jornalismo esportivo na web, considerando as experiências
brasileiras. Esperamos, com este trabalho, poder preencher parte dessa lacuna de análise
e também apontar os avanços que as produções de jornalismo na área esportiva no
tocante à interatividade têm trazido para o jornalismo como um todo. A missão a que
nos propomos não é de esgotar a questão da interatividade no jornalismo esportivo na
internet, mas, sim, trazer um recorte do que se tem como uso de características
interativas em seu ofício diário.

1
A atividade do jornalismo na internet tem sido nomeada de formas diferentes. Adotaremos, neste
trabalho, a nomenclatura webjornalismo, que trata do jornalismo desenvolvido para a World Wide Web.
Entendemos que o termo é mais específico que ―jornalismo digital‖ e ―jornalismo online‖, que são o
mesmo que jornalismo desenvolvido utilizando tecnologias de transmissão de dados em rede e em tempo
real. No entanto, há de se esclarecer que World Wide Web não é exatamente um sinônimo de internet,
embora seja confundida muitas vezes. Trata-se, na verdade, de uma forma de acesso à informação através
da internet usando o hypertext (HTTP) e os navegadores da web (Netscape Navigator, Internet Explorer,
Mozilla Firefox); ela não inclui outros protocolos como e-mail, mensagem instantânea, transferência de
arquivo (FTP) e o protocolo P2P para compartilhamento de dados.

2
1.1 CAMINHOS METODOLÓGICOS

Para o desenvolvimento deste estudo, selecionamos o LANCENET!2 — site do grupo


LANCE!, que conta também com o diário LANCE! — e o Blog do Torcedor3, do JC
Online. Ambos os sites têm adotado uma política de estímulo à participação do leitor.
No caso do LANCENET!, foi criada uma editoria voltada para pontencializar a
interatividade e a participação do público, o LANCE!ACTIVO 2.0 4 . Nele, os
internautas podem customizar perfil, criar blogs próprios, postar vídeos e fotos e
interagir com outros usuários. O Blog do Torcedor, por seu turno, também busca a
inserção do leitor na produção do site e coloca-se como um canal onde o torcedor pode
ser ouvido. Nele, o leitor/usuário pode participar de formas diferentes, desde o envio de
comentários nos posts da equipe até a publicação na íntegra de textos da sua própria
autoria no blog, com os créditos atribuídos pela equipe.

No nosso estudo dos recursos editoriais e demais estratégias voltadas para a


interatividade utilizadas no Lancenet e no Blog do Torcedor, trabalhamos com um
corpus restrito e um corpus ampliado. O corpus restrito são as publicações dos dois
sites durante uma semana composta, entre 02 de fevereiro e 22 de março. Já o corpus
ampliado é mais amplo, pois envolve todo o período, de setembro de 2009 a maio de
2010. No Lancenet, recortamos as postagens e notícias da categoria Activo, que são de
autoria dos usuários do Lance Activo e ficam exibidas na lista de últimas notícias, junto
com a produção regular da equipe do site. No Blog do Torcedor, recortamos as
postagens que apresentavam indícios de participação do público na sua elaboração ou
edição5.

Durante a pesquisa, elaboramos um formulário para registro de dados relativos aos dois
sites. Além disso, foram coletadas informações junto a membros dos dois websites,

2
www.lancenet.com.br
3
www.blogdotorcedor.com.br
4
LANCENET! e LANCE!ACTIVO 2.0 são grafias oficiais. Em títulos, tabelas e legendas, serão
mantidas. No entanto, no texto corrido, serão utilizadas doravante as grafias Lancenet e Lance Activo,
para simplificar a leitura. A abreviação de LANCE!ACTIVO 2.0 para L!ACTIVO ou ACTIVO também é
utilizada.
5
Sempre que existe uma contribuição do leitor — seja com informação, seja com o texto integral — há
uma indicação nesse sentido. São essas indicações que chamamos de ―indícios de participação do
público‖.

3
inclusive em uma entrevista com o editor da editoria de interatividade do Lancenet,
Guilherme Gomes.

As notícias e postagens mapeadas na semana composta serviram como dados


quantitativos, ao mesmo tempo em que delas foram retirados exemplos para reforçar os
argumentos do estudo. Além disso, o trabalho recorre a exemplos fora do corpus restrito,
já que alguns elementos que verificamos nos sites não ocorreram durante a semana
composta. Esse é o caso, principalmente, de algumas postagens do Blog do Torcedor,
que, embora não tenham sido utilizadas para análise quantitativa, se revelaram
significativas quanto ao potencial de interatividade; e, por isso, foram usadas para
ilustrar o estudo.

1.2 APRESENTAÇÃO DOS CAPÍTULOS

No segundo capítulo, discorreremos sobre a evolução do webjornalismo e abordaremos


as suas características, estabelecendo um paralelo com a evolução da World Wide Web
como plataforma, rumo à Web 2.0, que dá margem ao aparecimento de mudanças nas
formas de se comunicar as quais se refletem no jornalismo e alteram o ofício do
jornalista.

Enfocaremos, no terceiro capítulo, desde a interatividade até a participação do público


no fazer jornalístico, observando as etapas percorridas até o presente e discutindo
aspectos positivos e aspectos negativos que essa participação possa trazer.

O jornalismo esportivo é o tema do quarto capítulo, que serve de introdução para que
tratemos dos nossos objetos de pesquisa, o LANCENET e o Blog do Torcedor, que
ocupam o quinto e o sexto capítulos, os últimos de análise antes das considerações
finais.

4
2 WEBJORNALISMO: CARACTERÍSTICAS E EVOLUÇÃO

O jornalismo nas redes digitais, e especificamente na internet, é um fenômeno


relativamente recente, que começou a se espalhar em meados da década de 1990,
paralelamente ao desenvolvimento da World Wide Web. Nos estudos da prática
jornalística nas redes digitais, pesquisadores elencaram algumas características-chave.
Deuze e Bardoel (2001) foram precursores ao apontar a interatividade, a
hipertextualidade, a multimidialidade e a customização (ou personalização) de conteúdo
como esses elementos. Em seguida, Palácios (apud MACHADO e PALÁCIOS, 2003,
p.17) acrescentou a esta lista a atualização contínua (ou instantaneidade) e a memória.

Essas características podem ser constatadas separadamente em outros meios de


comunicação; no entanto, foram agregadas na internet, de forma convergente,
distinguindo o jornalismo praticado na rede mundial de computadores do que é feito em
outros meios de comunicação. Todavia, não foi desde o início que elas puderam ser
verificadas.

Na busca por uma compreensão do webjornalismo, é preciso considerar a evolução da


própria internet como plataforma. A internet começou a se popularizar a partir do
surgimento da World Wide Web, em 1991, e viveu uma etapa em que, de uma forma
geral, apresentava características que limitavam uma apropriação aprofundada por parte
do jornalismo, a exemplo da publicação de conteúdos em páginas estáticas, do acesso
do internauta a sites que normalmente não lhe permitiam o envio de informações, do
download sendo feito ainda em medida incipiente.

Ainda com poucos recursos técnicos, os sites dos jornais e os portais criados tinham
dificuldades para colocar em prática o que a internet prometia oferecer. A atualização
contínua, por exemplo, não existia no início: os sites de jornais continham apenas as
publicações da edição impressa, transpostas. Um repositório em que a interatividade se
estabelecia de forma tímida, quase que como num jornal impresso, e a hipertextualidade
ainda não era tão explorada.

5
O cenário acima descrito representa uma primeira fase do webjornalismo, na
classificação que Pavlik (2001) e Mielniczuk (2003) propõem das suas características.
Nela, ―os conteúdos disponibilizados online são os mesmos que antes foram publicados
nas versões tradicionais do meio‖ (GRADIM, apud BARBOSA, 2007, p. 87). Pavlik
(2001) buscou uma sistematização das fases do webjornalismo propondo que há outras
duas gerações além da primeira. O eixo da análise de Pavlik é a produção de conteúdo.

Fase 2. Os conteúdos são produzidos unicamente para as versões online,


contendo já hiperligações, aplicações interactivas e, nalguns casos, fotos,
vídeos ou sons. Fase 3. Conteúdos desenvolvidos exclusivamente para a
web, tirando partido de todas as suas características. (GRADIM, apud
BARBOSA, 2007, p. 87)

Mielniczuk (2003) não diverge muito de Pavlik ao propor uma classificação que
contemple o webjornal a partir da esfera do produto e que também possa ser expandida
para pensar questões relacionadas à produção e à disseminação das informações. A
autora também divide o webjornalismo em três gerações. A primeira se caracterizava
pela transposição do modelo do jornal impresso para a internet, com parca utilização de
recursos para a interação com o leitor.

Na segunda, apesar de se prosseguir com o padrão de texto dos jornais impressos, têm
início experiências na tentativa de explorar as características específicas oferecidas pela
grande rede, com o uso, ainda incipiente, do hipertexto, lista de últimas notícias,
matérias relacionadas, e a apropriação do e-mail como forma de comunicação entre
jornalista e leitor; além disso, os veículos começam a publicar conteúdo para a versão
online.

Finalmente, na terceira geração, os conteúdos passam a ser desenvolvidos


exclusivamente para a internet, com tentativas de efetivamente explorar e aplicar as
potencialidades oferecidas pela web para fins jornalísticos (MIELNICZUK, 2003).
Primo e Träsel (2006) apontam que, nessa etapa, as publicações online aprofundam a
hipertextualidade e a multimodalidade permitidas pela convergência das mídias digitais,
e passa a ser levada em conta a possibilidade de distribuição do conteúdo para outras
plataformas, como telefones celulares e handhelds. ―Ao mesmo tempo, a notícia ganha
interconexão para além do material de apoio e menus de navegação‖ (PRIMO e
TRÄSEL, 2006, p. 6).

6
Gradim (apud BARBOSA, 2007) aponta que sobretudo as duas últimas fases merecem
o nome de webjornalismo. Uma observação pertinente, pois o primeiro estágio era
deveras incipiente.

Para além dessas três fases, Schwingel (2005) aponta tendências para a consolidação de
uma quarta fase do Jornalismo Digital, através da utilização de tecnologias de banco de
dados associadas a sistemas automatizados para a apuração, edição e veiculação de
informações na elaboração de produtos jornalísticos.

Há de se ressaltar que, nessas classificações, não se faz uma divisão engessada e que as
categorias não são excludentes entre si. Em um mesmo período de tempo, é possível
encontrar publicações jornalísticas para a web que se enquadram em diferentes gerações
e, em uma mesma publicação, podemos encontrar aspectos que remetem a gerações
distintas, conforme lembra Mielniczuk (2003, p. 6).

A evolução da internet como plataforma tem sido fundamental para que os veículos de
webjornalismo façam maiores apropriações dela e, consequentemente, desenvolvam o
seu potencial. Isso tem sido possível graças ao surgimento, na segunda metade da
década de 1990, de sites, serviços e programas disponíveis na rede que facilitam a
publicação de conteúdo na rede.

Como frisa Moherdaui (2007. p. 5), ―a utilização de gerenciadores de conteúdo com


interfaces amigáveis, com ferramentas de edição de áudio, vídeo, imagem, flash, slide
show, permitem realizar todo o processo de produção em uma redação online‖.
Naturalmente, com essas novas tecnologias, existem mudanças no ofício jornalístico
online.

2.1 WEB 2.0

No desenvolvimento das redes digitais foram sendo oferecidas ferramentas de uso


simplificado que permitiram a quem navega na internet tanto publicar quanto consumir
informação de forma mais rápida e constante. A web se expande como plataforma e, ao
seu largo, surgem novos princípios e práticas comunicacionais que estão relacionados

7
aos sites que têm a participação e colaboração direta do usuário. O que se chama de
Web 2.0 está assentado nesse conjunto de mudanças.

O conceito de Web 2.0 foi formulado em 2004, por Tim O‘Reilly e sua empresa de
estudos na área de mídia, a O‘Reilly Media, Inc. Em artigo sobre o que é a Web 2.0,
O‘Reilly explicou que a definição não tem fronteiras rígidas, mas, pelo contrário, um
centro gravitacional. ―Pode-se visualizar a Web 2.0 como um conjunto de princípios e
práticas que interligam um verdadeiro sistema solar de sites que demonstram alguns ou
todos esses princípios e que estão a distâncias variadas do centro‖ (O‘REILLY, 2005,
p.2). A formulação do conceito de Web 2.0 veio de um brainstorming entre a O‘Reilly
Media Inc. e a MediaLive International para exemplificar a diferença entre esta nova
fase da web e a anterior. Elas comparavam programas, serviços e configurações de
publicação de conteúdo na internet, contrapondo os mais antigos, situados
predominantemente na década de 1990, com os mais recentes e inovadores. Na ocasião,
eles compuseram uma tabela exemplificando com sites e ferramentas online a diferença
entre estas duas fases da World Wide Web.

WEB 1.0 WEB 2.0


DoubleClick  Google AdSense
Ofoto  Flickr
Akamai  BitTorrent
mp3.com  Napster
Britannica Online  Wikipédia
sites pessoais  Blogs
especulação com nomes de domínio  otimização para ferramenta de busca
page views  custo por clique
―screen scraping‖  serviços web
Publicação  Participação
content management systems  Wikis
diretórios (taxonomia)  tags (folksonomia)
Stickiness  Syndication

Quadro 1 – Exemplos da Web 1.0 e da Web 2.0


Fonte: O‘REILLY, 2005, p.2

8
Convém destrincharmos esses elementos a fim de ilustrar o que houve de novidade. A
Wikpédia, site mais representativo dos chamados wikis6, permitiu a construção aberta e
colaborativa de conteúdos informacionais dos mais diversos e se tornou fonte de
pesquisa para o cidadão comum, sobressaindo no dia a dia diante de enciclopédias
pagas; além do que trouxe a confiança no usuário e em seus conteúdos. Programas
7 8
como Napster e, num segundo momento, o BitTorrent potencializaram o
compartilhamento de dados, através do protocolo P2P (peer to peer), e causaram um
boom no número de downloads, de forma que alterou a relação do internauta com os
conteúdos em rede e transformou o mercado fonográfico. Os blogs, de diários pessoais
na web, passaram a um importante amplificador da voz do internauta, gerando
informação e levando ao debate a cerca dos mais diversos temas; aqui se evidenciou o
caráter de participação (e não apenas publicação) que o usuário deve ter em rede. Os
usuários passaram a poder receber por seus blogs, através do serviço Google AdSense,
que remuneram de acordo com os cliques originários da página do internauta com
destino à publicidade. O YouTube, criado em 2005, era novo demais para entrar nessa
lista, mas ampliou a convergência à Web 2.0.

Cada um desses elementos são facetas da Web 2.0, que tem como uma de suas máximas
a de que ―o serviço fica automaticamente melhor quanto mais forem os usuários que
dele se utilizam‖, conforme O‘Reilly (2005). E os serviços têm melhorado à medida que
ferramentas de fácil usabilidade têm sido disponibilizadas aos internautas, as quais
oportunizam que qualquer pessoa, mesmo com poucos conhecimentos em linguagem de
programação e editoração, crie, atualize e personalize documentos na internet (DAL-
VITT, 2009 a).

Dessa forma, na Web 2.0, o público se afirma como produtor de conteúdo próprio, que
circula entre seus pares, pode ser levado aos veículos de comunicação e até ser por estes
ser prospectado. Enquanto isso, tem se desenvolvido uma cultura de participação dos

6
Wikis são programas instalados num servidor, acessíveis através de um navegador normal, que
permitem aos usuários a criação e publicação conjunta de conteúdo em páginas da Web. Em geral,
qualquer um pode editar o conteúdo, inclusive as contribuições de outros usuários. A maioria dos wikis
também oferece um histórico de modificações, que permite a reversão para versões anteriores. Disponível
em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Wiki. Último acesso em: 14 de julho de 2007.
7
O Napster teve vários sucessores, como o Kazaa e o eMule.
8
É importante frisar que o Napster e o BitTorrent, na verdade, não são aplicativos da World Wide Web,
conceito que, como exposto anteriormente neste trabalho, não abrange toda a internet .

9
leitores e usuários da internet nos meios de comunicação, a qual demanda uma
reconfiguração do papel do jornalista e também do conceito de notícia.

2.2 GATEWATCHING X GATEKEEPING

Em comunicação social, um dos paradigmas que teorizam a seleção de notícias é o


gatekeeping. Segundo este paradigma, utilizado há décadas, as informações circulam e
são apresentadas ao jornalista, e este exerce decide, com base em seus conhecimentos
do campo jornalístico e a sua intuição, quais deverão ser levadas ao público. Lewin,
White e McQuail definem gatekeeping como ―o processo pelo qual seleções são feitas
no trabalho midiático, especialmente decisões de admitir ou não uma notícia particular a
passar através dos ‗portões‘ de um veículo jornalístico aos canais de notícia‖ 9 (1994, p.
213 apud BRUNS, 2003, p.1). O jornalista seria, assim, uma espécie de ―porteiro‖ do
conteúdo. Naturalmente esta seleção é feita observando os critérios de noticiabilidade
jornalísticos, o valor-notícia da informação — o que não nos interessa discutir aqui.

No entanto, o gatekeeping, no contexto atual da comunicação em rede, não se mostra


mais suficiente enquanto paradigma que explique a seleção de notícias, por conta dos
novos fenômenos surgidos e na potencialização da circulação de informações de que
nós temos falado. O público não mais depende da ―permissão‖ do jornalista para tomar
conhecimento. Os portões foram abertos. O jornalista se encontra diante de um fluxo
torrencial e constante de informações circulando em rede e não tem como impedi-lo.
Neste contexto, ele adquire uma função nova (que não elimina as anteriores): a de se
apropriar de certas informações e transformá-las em notícia, com o tratamento
jornalístico. Em contraste ao gatekeeping, passa a existir o gatewatching, processo em
que o jornalista (gatewatcher) filtra o conteúdo disponível na rede e republica em um
contexto específico, acrescentando dados com o intuito de aprofundar a notícia
(BRUNS, 2003).

9
Tradução livre para: ―The process by which selections are made in media work, especially decisions
whether or not to admit a particular news story to pass through the ―gates‖ of a news medium into the
news channels‘ (1994, p. 213 apud BRUNS, 2003, p.1).

10
Essa nova função do jornalista pode ser comparada com a de um bibliotecário. Ele
pesquisa que fatos noticiáveis tornam-se disponíveis em uma variedade de mídias e,
quando é abordado por quem busca informações, serve como um guia às fontes mais
relevantes. Bruns destaca que ―em seus trabalhos, as equipes de muitos serviços de
jornalismo novos na internet combinam aspectos dos papeis de jornalistas ‗gatekeepers‘
e de bibliotecários especialistas para chegar a uma prática que nós poderíamos chamar
de gatewatching‖ 10 (2003, p. 8).

Não é preciso ter uma técnica jornalística significativa a fim de exercer a função de
gatewatcher. Ao contrário, é preciso ter mais conhecimentos sobre as técnicas de
pesquisa na internet. Segundo Bruns, os gatewatchers fundamentalmente publicizam
notícias, ao apontar para fontes, em vez de as publicarem, por meio de uma compilação
de informações aparentemente completas das fontes disponíveis. Com base nessas
observações, podemos interpretar que qualquer pessoa pode ser um gatewatcher —
assim como todo cidadão pode ser um jornalista, como defendem os veículos
concebidos em razão do jornalismo participativo. No Twitter, encontramos diversos
usuários que constantemente apontam para conteúdos.

10
Tradução livre para: ―in their work the staff of many new online news operations combine aspects of
the roles of both gatekeeper-journalists and specialist librarians to arrive at a practice which can usefully
be termed gatewatching‖ (BRUNS, 2003, p. 8).

11
3 DA INTERATIVIDADE À PARTICIPAÇÃO DO PÚBLICO NO
WEBJORNALISMO

Conforme apontado anteriormente no trabalho, a interatividade é uma das


características-chave do webjornalismo, junto com a customização de conteúdo, a
hipertextualidade, a multimidialidade, a atualização contínua e a memória. Dentre esses
elementos, a interatividade se apresenta como o mais promissor no tocante a uma
possível democratização nos meios de comunicação, pois é a que diz respeito ao contato
— que se torna cada vez mais direto — entre o público e o veículo de comunicação.

A interatividade tem sido estudada por autores diversos (MACHADO, 1997; LÉVY,
1999; SARAIVA JÚNIOR, 2004). Para Lévy,

o termo ―interatividade‖ em geral ressalta a participação ativa do


beneficiário de uma transação de informação. De fato, seria mostrar que
o receptor de informação, a menos que esteja morto, nunca é passivo.
Mesmo sentado na frente de uma televisão sem controle remoto, o
destinatário decodifica, interpreta, participa, mobiliza seu sistema
nervoso de muitas maneiras, e sempre de forma diferente de seu
vizinho. (LÉVY, 1999, p. 79).

Partimos do princípio que a interatividade se faz presente em qualquer veículo de


comunicação com que o cidadão tenha contato. Mesmo no jornal impresso, a seleção
dos cadernos, páginas e textos que se vão ler são escolhas do próprio leitor. Quem
assiste à televisão escolhe o canal e muda-o quando quiser, conforme seu gosto, com a
liberdade para iniciar ou interromper este processo da maneira que lhe convir. Outro
exemplo é a navegação por páginas na internet, através do hipertexto. O processo
interativo é particular para cada indivíduo e acontece seja qual for a tecnologia utilizada.

No webjornalismo, a interação entre o homem e os dispositivos da rede ocorre mesmo


sem a interferência de uma equipe jornalística durante seu desencadeamento. Existe um
processo multi-interativo, de acordo com Machado (1997), em que a interatividade
acontece no ato da navegação do leitor/usuário pelo hipertexto, no âmbito da própria
notícia.

Adota-se o termo multi-interativo para designar o conjunto de processos


que envolvem a situação do leitor de um jornal na Web. Diante de um

12
computador conectado à Internet e a acessar um produto jornalístico, o
Utente estabelece relações: a) com a máquina; b) com a própria
publicação, através do hipertexto; e c) com outras pessoas — autor(es)
ou outro(s) leitor(es) — através da máquina. (MACHADO, 1997 apud
PALACIOS, 2002).

No entanto, o tipo de interação pode variar. Essa interação entre o homem a máquina ou
entre o homem e a publicação é qualificada, por Primo (2004) como interação reativa.
É um processo interativo, mas cujas trocas encontram-se pré-determinadas no par ação-
reação. Trata-se de um tipo de interação diferente daquele que se percebe quando o
público participa no jornalismo, enviando informações, trocando conhecimentos. Esta
seria a interação mútua, que Primo (2004) define como ―processos interativos baseados
em negociação, nos quais o relacionamento desenvolvido entre os interagentes têm um
impacto recursivo sobre a interação, seus participantes e produtos‖.

Neste trabalho, contudo, tratamos, tal qual Saraiva Júnior (2004), a interatividade de
forma mais específica, trazendo para o sentido da participação, como a abertura dada ao
receptor da mensagem para que ele atue no processo jornalístico.

Não é novidade os veículos de comunicação de massa buscarem oferecer ao público a


oportunidade de participar da produção jornalística. A participação, enquanto valor e
elemento esperado do jornalismo, é um fenômeno antigo e começou a ser estabelecida
através de funções como a do ombudsmen e ―reader representants‖ (representantes de
leitura), que se tornaram aceitos nas organizações pelo mundo, começando pelo Japão e
pela Suécia no começo do século XX (DEUZE, 2006). Outros exemplos já consagrados
nas mídias tradicionais são a participação da audiência por telefone em emissoras de
rádio e de televisão, bem como a publicação, nos jornais, de cartas enviadas ao leitor.

Apesar de outros meios de comunicação se valerem da interatividade e da participação,


este aspecto está de forma geral mais ligado ao ambiente online do que a qualquer outro,
como uma característica que o discerne dos demais. Quando se observam as notícias
online, o elemento interativo é de essencial importância. Elas têm, na visão de Deuze e
Bardoel (2001), o potencial de fazer o leitor/usuário parte da experiência noticiosa,
graças à interatividade que as redes digitais lhe permitem.

13
O fato de jornais, revistas e até emissoras de TV terem passado a usar a internet como
canal para o público participar, mediante o envio de conteúdos que vão de votações de
enquetes e de mensagens escritas até vídeos, reforça esta vocação da internet, que, neste
caso, serve a meios da imprensa tradicional como uma mídia complementar. Ela amplia
o contato entre o veículo e o público, que dependia de cartas e telefonemas e, portanto,
era mais custoso, menos plural, além de limitado do ponto de vista da multimidialidade
(não se envia vídeo por carta).

De uma forma geral, pode-se dizer que a internet as tecnologias digitais têm sido um
motivador para uma maior participação popular no processo noticioso. O internauta
sabe que seu comentário tem muito mais chances de ser publicado na grande rede do
que numa transmissão ao vivo. ―A filtragem daquelas cartas 11 , o pequeno espaço
disponível para sua publicação e a necessidade de utilização de outro meio para envio
(não se pode responder através da televisão) acabam por desestimular uma maior
participação‖, destaca Primo (2006).

No webjornalismo, até a virada do século, a interatividade acontecia na troca de e-mails


entre os jornalistas e os usuários; no envio de comentários dos usuários nas páginas das
notícias; nos chats entre o público e personagens envolvidos nas matérias, com a
mediação dos jornalistas. Todavia, percebe-se que ao longo da primeira década do
século XXI a relação entre os leitores e demais usuários com os veículos de
comunicação e com os jornalistas tem sido reconfigurada e as partes envolvidas têm se
aproximado na construção das notícias.

Quadros (2005) propõe uma categorização da relação interativa entre o público e o


mediador nos sites e portais jornalísticos, dividindo-a em seis fases. As formas de
participação através de e-mails, comentários e chats são típicas nas primeiras três fases12.
A autora detecta outras três fases, que vão sendo verificadas a partir dos anos 2000, na
esteira do surgimento de novas e variadas possibilidades de promover a participação do
público no webjornalismo.

11
O autor se refere, aqui, às ―cartas do leitor‖, habituais em revistas e jornais.
12
Segundo Quadros, na primeira fase, há o envio de e-mail à redação, sem resposta — apenas a
publicação de seu conteúdo num espaço reservado. Na segunda, o usuário já consegue, ainda que de
forma incipiente, a exploração do hipertexto e uma troca de e-mails com o jornalista. Na terceira, os
veículos promovem em quantidade maior chats com jornalistas e com personalidades; a intenção é atrair o
público.

14
Na quarta fase da relação interativa entre público e os portais, tem-se um nível de
participação mais significativo. Os blogs já encontraram seu espaço na internet, e os
comentários dos leitores dos sites jornalísticos passam a ser publicados logo abaixo das
reportagens, com o mediador eventualmente citando mensagens que lhe despertem o
interesse; a capacidade de memória do usuário é estendida por meio do banco de dados,
que faz o elo entre informações fragmentadas ao relacionar o conhecimento humano.

A quinta fase descrita por Quadros é aquela em que o público é convidado a produzir
matérias com o apoio do mediador, bem como conteúdos audiovisuais, que poderão ser
publicados. Nesta fase, porém, ainda haveria um grau alto de experimentação. É como
se o internauta não estivesse consciente das suas responsabilidades. Para Quadros, o
cidadão-repórter só viria na sexta fase, na qual ―emissores e receptores invertem os
papéis para construir de modo interativo uma história‖ (QUADROS, 2005. p. 14).

Se analisarmos a classificação das fases da interatividade proposta por Quadros (2005, p.


14) nos sites jornalísticos, apenas as três primeiras já se encontram bem estabelecidas
no webjornalismo no Brasil. Características da quarta e da quinta fases podem ser
encontradas em diversos veículos de comunicação online. Entretanto, algumas
experiências no webjornalismo estão indo além e — pelo menos em suas propostas —
já sinalizam a entrada na sexta fase, em que o público participa diretamente na
construção de notícias, como cidadãos-repórteres. É o caso de canais de webjornalismo
participativo como o ―Vc Repórter‖ 13 , do Portal Terra, o ―Vc no G1‖ 14 , do Portal
Globo, e o ―Minha Notícia‖15, do Portal IG.

Ward (2006) propõe uma forma diferente de classificação dos níveis de interatividade
nos meios de comunicação, em três modelos: unilateral, bilateral e trilateral. No
primeiro, os veículos transmitem a mensagem sem levar em consideração a opinião do
público, unilateralmente. No segundo, há uma troca de informações, em forma de
comentários do público sobre o que deseja ler/ver/ouvir, além de ele poder propor
pautas, o que é uma forma de fornecer conteúdo. O profissional da mídia atua como um

13
http://www.terra.com.br/vcreporter
14
http://g1.globo.com/VCnoG1
15
http://minhanoticia.ig.com.br

15
filtro, uma vez que tanto a produção do conteúdo quanto a mensagem recebida são
canalizadas por ele, que segue numa posição hierarquicamente superior diante da
informação. Já no terceiro modelo proposto por Ward, o internauta discute e colabora
com os outros internautas e com o jornalista, acrescentando informações, opiniões e
sugestões, numa relação triangular. A expressão mais comum do modelo trilateral é o
grupo de discussão (newsgroup) ou quadro de mensagens, segundo Ward. Quando o
jornalista produz em colaboração com seus pares na web, ele deixa a sua condição de
autor individual e passa à produção colaborativa.

Como observa Dal-Vitt, ao retomar as considerações de Ward,

o modelo trilateral vem ganhando a cada dia mais espaço na sociedade,


o que denota um cidadão mais consciente do seu papel social e que,
além de destinatário da informação, quer participar de forma ativa no
envio de conteúdo que esteja relacionado ao seu cotidiano e ao seu
universo de conhecimento. (DAL-VITT, 2009a, p. 22).

Entendemos, contudo, que os modelos propostos por Ward não esgotam as


possibilidades de participação do público no webjornalismo, pois, além dessa discussão
e troca de informações entre o público e os jornalistas, existem também as produções
que são feitas do início ao fim pelos internautas, no esquema do jornalismo participativo.
Essa produção pode sofrer uma edição do jornalista, mas neste caso não chega a haver
uma discussão, uma autoria colaborativa. O texto do internauta sofre uma edição assim
como o texto do jornalista também sofreria — em que pese tipo da edição ser diferente.

Podemos observar que os veículos de comunicação têm aberto cada vez mais espaço
para produções do público, inclusive de caráter jornalístico, bem como as mais
opinativas. Verifica-se com certa clareza que os consumidores de informação estão
libertos da condição de mero receptor das mensagens que lhes eram dirigidas. Johnson
(2001) já discernia a condição do público da internet da dos demais meios de
comunicação.

One-to one (um-um), one-to-many (um-muitos) e many-to-many


(muitos-muitos): usualmente, engenheiros e teóricos da comunicação
distinguem esses três modos de comunicação à distância. Um seria a
comunicação ponto a ponto, ou um-um, típica de cartas, telégrafo e
telefone. O segundo é o um-muitos, característica dos meios de
comunicação de massa — jornal, cinema, rádio, TV — onde uma

16
fonte emite uma mesma mensagem para vários receptores. A terceira,
só encontrada na Internet, é a muitos-muitos, onde todos podem ser
emissores e receptores e há muitas mensagens heterogêneas. Os
exemplos podem ser salas de chat ou os newsgroups, que se parecem
com festas e assembléias. É interessante notar que a Internet, como
meio de comunicação, reúne estes três modos de comunicação à
distância, como por exemplo: chats (muitos-muitos), o e-mail (um-
um) e a leitura de jornais online (um-muitos). (JOHNSON, 2001, p.
81 apud DAL-VITT, 2009, p. 19)

Dessa possibilidade de comunicação de todos para todos nasce uma pluralidade de


vozes, dos mais diversos lugares, com histórias e olhares particulares, os quais desejam
compartilhar. O espectro de atuação do público no campo da comunicação tem sido
ampliado.

Novos tipos de jornalismo interativo ou dialógico estão emergindo


próximos aos modelos de narração existentes, hierárquicos, baseados
na percepção de ‗contar às pessoas o que eles precisam saber‘. (...)
Blogs têm sido cooptados por organizações de notícia tão variadas
como Le Monde, na França, e o Mail & Guardian, na África do Sul,
oferecendo um espaço moderado no blog online para os seus leitores.
Esses exemplos sugerem um aumento exponencial no nível de
participação gerada por e expressada no sistema de notícias
profissionais da mídia (DEUZE, 2006, p. 20)16

A própria definição de público e audiência começa a ser questionada. Jay Rosen,


professor de jornalismo da Universidade de Nova Iorque e autor do blog Press Think17,
faz referência às ―pessoas anteriormente conhecidas como público‖ (―The People
Formerly Known as the Audience‖ ou ―TPFKATA‖). Brambilla (2005), por sua vez,
adota o termo interagentes para se referir ao internauta que acessa, troca e produz
informações na internet. Primo (2006) também utiliza o termo, por considerar que ele
destaca a participação ativa no processo interativo, em contraposição a usuário, que
provém da indústria da informática e se refere aos consumidores de hardware ou
software. Utilizaremos este termo a partir de agora.

16
Tradução livre para: ―Indeed, new types of dialogical or interactive journalism are emerging next to
existing models of hierarchical, top-down storytelling based on a perception of ‗telling people what they
need to know‘. (…) Weblogs have also been co-opted by news organizations as varied as Le Monde in
France and the Mail & Guardian in South Africa, offering moderated blogspace online to their readers.
These examples suggest an exponential increase in the level of participation generated by and expressed
in the professional news media system.‖ (DEUZE 2006, p. 20)
17
http://journalism.nyu.edu/pubzone/weblogs/pressthink

17
O desejo das pessoas de compartilhar as próprias informações e conteúdos nos sites de
notícia se torna viável à medida que se amplia o acesso à internet e a interfaces
simplificadas para a publicação de conteúdo e troca de mensagens com os meios de
comunicação. Essas condições, somadas a outras como a popularização e
miniaturização de câmeras digitais e celulares e a afirmação das novas mídias sociais,
têm favorecido a participação do público no processo noticioso e, assim, o
desenvolvimento do webjornalismo participativo.

As tecnologias digitais têm servido como motivador para uma maior


interferência popular no processo noticioso. Tal processo tem como
fator inicial a ampliação das formas de acesso à Internet: a queda
progressiva do custo de computadores e de conexão; a multiplicação de
serviços e pontos de acesso gratuito (como em telecentros, ONGs e
outras instituições comunitárias), ciber-cafés e pontos de conexão sem
fio (Wi-Fi). Além disso, blogs (incluindo fotologs e moblogs2), wikis e
as tecnologias que simplificam a publicação e cooperação na rede
favorecem a integração de qualquer interagente no processo de redação,
circulação e debate de notícias (PRIMO E TRÄSEL, 2006, p. 3).

Nesse cenário, a notícia deve ser encarada como o princípio de algo e não um fim em si
própria. Deve ser entendida como o ponto de partida para uma discussão com os
interagentes. ―A máxima ‗nós escrevemos, vocês leem‘ pertence ao passado‖, aponta
Canavilhas (2001, p. 65).

Gillmor (2005), em We the Media, segue nesta linha e aponta que ―a reportagem e a
produção das notícias do futuro serão mais próximas de uma conversa ou de um
seminário. As linhas entre os produtores e os consumidores vão borrar, modificando o
papel de ambos de uma forma que nós estamos apenas começando a ter noção agora‖18.

O autor defende que ―na nova era das comunicações digitais, com múltiplas direções, o
público pode tornar-se parte integral do processo de produção de notícias — e começa a
tornar-se evidente que tem de o ser‖ (ibidem, p. 118). Estaríamos no limiar do que o
autor chama de mídia participativa, ou seja, aquela em que toda a sociedade participa do
processo informativo. Experiências nesse sentido vêm sendo desenvolvidas em sites que

18
Tradução livre para: ―Tomorrow‘s news reporting and production will be more of a conversation, or a
seminar. The lines will blur between producers and consumers, changing the role of both in ways we‘re
only beginning to grasp now.‖ (GILLMOR, 2005, p. 13)

18
não pertencem ao mainstream jornalístico. Sites como o Slashdot19, o OhMyNews20, o
21
CMI e o Wikinews 22 trabalham com a produção aberta de notícias por parte do
público, cuja participação avança e, gradualmente, vai transformando mesmo o campo
de atuação dos jornalistas profissionais.

Um exemplo disso é a edição, por parte dos jornalistas, dos textos enviados pelos
colaboradores, conforme ocorre no Oh My News. Este site, que começou na Coreia do
Sul como uma forma de o público se posicionar diante num país em que a comunicação,
havia muito tempo, era centralizada. Primeiro, a ditadura militar nos anos 80, não
permitia a liberdade de expressão; e, nos anos 90, já no processo de redemocratização,
três grupos de mídia conservadores receberam do governo o controle de 80% da
imprensa.

O sul-coreano Ohmy News, em sua versão internacional, busca ser um


webjornal de cobertura mundial. Qualquer pessoa pode cadastrar-se no
site (fornecendo dados pessoais e cópias de documentos) e enviar
reportagens acompanhadas de áudio, vídeo ou foto. Diferentemente de
outros projetos participativos, as notícias são editadas por uma equipe
de jornalistas profissionais. Cada colaborador recebe um valor
simbólico, caso a notícia que submeteu seja publicada. Os leitores têm
um espaço para comentários e podem enviar e-mails diretamente aos
autores (PRIMO E TRÄSEL, 2006, p. 3).

Outro site que pioneiro na área de jornalismo participativo foi o Indymedia (ou Centro
de Mídia Independente), criado por ativistas a fim de cobrir manifestações contrárias à
Organização Mundial do Comércio em Seattle, 1999. Gillmor (2005) constatou que,
com o sucesso na cobertura feita por voluntários munidos de câmeras e gravadores, o
CMI ganhou notoriedade e gerou projetos semelhantes no mundo inteiro, inclusive no
Brasil. Uma cobertura de destaque no CMI norte-americano foi a de manifestações
contra a invasão do Iraque, em São Francisco, Califórnia. Os ―jornalistas
independentes‖ — como Gillmor os chama — revelaram muitos casos de brutalidade
policial que a mídia tradicional não alcançou. Sobre a ocasião, o antigo vice-presidente
de Mídia Digital do jornal San Francisco Chronicle declarou, em 2004, que ―Indymedia

19
http://slashdot.org
20
http://english.ohmynews.com
21
http://midiaindependente.org
22
http://www.wikinews.org

19
kicked our ass‖. Um dos princípios, adotado até como slogan, do Indymedia, é uma
frase de Jello Biafra: ―Don't hate the media, become the media‖ (Gillmor, 2005).

Conceitualmente, a adaptação dos veículos jornalísticos a esta nova realidade não deve
ser feita como uma estratégia para aproximar o público do site a fins de fidelização, de
oferecer a ele a chance de se expressar. Os leitores são potenciais repórteres (mesmo se
não forem redatores) e têm um raio de ação potencialmente maior que o dos jornalistas.

Tudo se resume algo de muito simples: os leitores (ou telespectadores,


ou ouvintes) sabem mais do que os profissionais dos media. Uma
verdade por definição: eles são muitos e nós, nas mais das vezes, somos
um só. Necessitamos de reconhecer o que é óbvio e, no melhor sentido
da palavra, valer-nos dos conhecimentos deles. Se o não fizer mos, mal
os nossos antigos leitores verificarem que não têm de contentar-se com
informações mal cozinhadas, poderão decidir irem eles mesmos para a
cozinha (GILLMOR, 2005 apud PRIMO e TRÄSEL, p. 14).

Deuze (2006, p. 20) entende que a mídia se move em direção ao que chama de
―jornalismo cidadão‖ — aqui chamado por nós de jornalismo participativo. Esse
jornalismo cidadão, observa Deuze, deve ser feito combinando filtro editorial com o
conteúdo gerado pelo próprio usuário. Em outras palavras, deve-se colocar em prática
gatewatching.

O cenário que vem se delineando é a coexistência entre os cidadãos-repórteres e


jornalistas.

Neste cenário, a ―atividade‖ do cidadão-repórter e do jornalista pode se


complementar. Isso porque, os voluntários são produtores de conteúdos
e transmissores do fato em si. Cabe então aos jornalistas compreender
as mudanças que estão ocorrendo no campo da comunicação e trabalhar
de forma conjunta, ou seja, partir das contribuições enviadas pelos
cidadãos-repórteres, os jornalistas devem filtrá-las e utilizá-las como
sugestão de pauta, bem como aprofundarem o assunto em questão, com
o intuito de oferecer uma informação mais completa, que forneça
parâmetros para que o público faça sua própria análise (DAL-VITT,
2009b, p. 15).

Manter e tirar proveito de uma boa convivência com uma audiência que possui uma
ânsia de comunicar — e mais: está munida de meios para encontrar e publicar por si
mesma a informação — é algo que as corporações midiáticas têm de aprender. Segundo

20
Primo e Träsel (2006), elas já estão aprendendo e isso a longo prazo promete benefícios
para as redações.

3.1 BENEFÍCIOS E RISCOS DA PARTICIPAÇÃO DO PÚBLICO NO


JORNALISMO

A participação do público no jornalismo traz benefícios e riscos ao veículo de


comunicação. Tratemos aqui desses prós e contras.

França, Lima, Costa Filho e Santos (2009) fizeram um interessante apanhado das
vantagens e os perigos de se incluir as pessoas na produção de conteúdos jornalísticos.
Entre os benefícios que dizem respeito à qualidade do trabalho jornalístico, está a
oportunidade de abrir espaço para fontes de informação espontâneas e que podem
conseguir materiais complementares, inéditos ou de difícil acesso e acabar se tornando
essenciais, por exemplo, em novas pautas, reportagens e matérias. Outro ponto positivo
é ter à mão possíveis ―revisores‖ de conteúdo, que, sobretudo no webjornalismo,
apontam erros e sugerem correções prontamente, contribuindo no polimento da notícia
ou reportagem.

Destacamos a maior possibilidade de as pessoas estarem no local e no momento em que


uma notícia surge, ao contrário dos jornalistas. A novidade e a imprevisibilidade foram
os critérios de noticiabilidade mais recorrentemente detectados por Dal-Vitt (2009b, p.
13), em análise do canal de jornalismo participativo do Portal G1, o VC no G1. Esses
elementos são interessantes ao público, que envia notícias que os contenham, e aos
editores, que publicam dando destaque ao que é novo e imprevisível.

A abertura para a participação do interagente também ajudaria o veículo a estabelecer,


perante o público, uma imagem positiva, de receptibilidade, estimulando que ele se
afeiçoe com a organização e até mesmo com a atividade jornalística em si. Em termos
de mercado, esta seria uma chance de reconquistar ou ampliar um público. Colocando
esses potenciais em prática, o veículo também se posiciona como antenado com a nova
realidade, que demanda uma postura editorial mais moderna.

21
Outra faceta da aproximação entre os veículos e os interagentes nesta nova era da
comunicação é que a informação, quando circulando pelas redes de que os internautas
fazem parte, como as mídias sociais, Twitter, Facebook e mesmo o YouTube (como um
canal de republicação), adquirem uma ―vida útil‖ mais longa. Uma informação de
qualidade produzida pela mídia profissional pode ter uma capacidade muito maior de
circulação e visibilidade, através de sua difusão via blogosfera, onde permanecerá por
mais tempo sendo observada e repercutindo.

Além desses aspectos, e de certa forma como um resultado de todos eles, o jornalismo
participativo contribuiria para a democratização da comunicação, através de
contribuições ―cidadãs‖, o que tornaria a iniciativa socialmente mais importante. Este, o
benefício mais esperado, vem há muito tempo sendo desejado pelo público e prometido
pelos veículos de comunicação. O processo a inversão de papeis entre consumidores e
produtores da notícia tem sido gradual; por outro lado, se dá em ritmo menor do que
professavam teóricos do ciberespaço.

Apesar dos benefícios que possa trazer, a participação do público também oferece riscos
à qualidade da informação jornalística em si, o que pode trazer prejuízo ao veículo de
comunicação e, claro, à sociedade. O primeiro risco é o de as promessas de benefícios
não se concretizarem. Outros riscos que um veículo jornalístico tem ao lançar mão da
participação do público são:

o de se compor um processo de interação desajeitado e aparencial, o


que poderia vir a irritar o público; (...) o (risco) de perder-se em
informações, pouco relevantes ou não, enviadas pelos leitores ou,
ainda, (...) o de se aumentar, a troco de nada — ou de uma suposta
satisfação dos usuários participantes — um já excessivo fluxo de
informações existente com materiais ―dispensáveis‖; (...) o risco de,
paralelamente ao anterior, se estar seriamente suscetível a desvios de
publicação ocasionados por atos de vandalismo ou ―ignorâncias‖ de
qualquer tipo (FRANÇA, LIMA, COSTA FILHO e SANTOS, 2009. p.
12-13).

O maior risco, no entanto, da participação do público diz respeito à ética jornalística. Os


veículos podem ficar suscetíveis a usuários interessados em utilizar a participação para
favorecer certas pessoas, instituições, empresas ou partidos. Essa possibilidade, que é
real, demonstra o quanto deve ser rígida a filtragem das produções dos usuários nos
veículos que se proponham a desenvolver experiências com o jornalismo participativo.

22
A necessidade de se estar constantemente sob o peso da verificação (ou não) das
possibilidades de informações equivocadas ou fraudulentas é, aliás, uma nova
dificuldade operacional para os veículos.

23
4 JORNALISMO ESPORTIVO

O esporte ocupa um papel de destaque no Brasil contemporâneo, de forma


multifacetada. Consiste em profissão, lazer e negócios, e uma de suas modalidades é
uma das expressões máximas da identidade nacional — o futebol. Dado o grande
interesse que geram no público, os esportes recebem uma atenção especial também nos
meios de comunicação, com editorias nos principais jornais, espaço fixo nas grades de
programação das emissoras de tevê e tempo ainda mais extenso no rádio23.

No entanto nem sempre foi assim. No início do século XX o esporte ficava em segundo
plano na cobertura esportiva. Era considerado material de segunda importância. Poucos
acreditavam que esporte poderia ser assunto para estampar manchetes (COELHO, p.7).
Mesmo se fosse o remo, esporte de maior prestígio naquela época, em que eventos
esportivos eram ao mesmo tempo eventos sociais. Graciliano Ramos chegou a afirmar
que o futebol não daria certo jamais no Brasil. ―Futebol não pega, tenho certeza;
estrangeirices não entram facilmente na terra do espinho‖ (apud COELHO, p.7). Mas
―pegou‖.

A popularização começou nos anos de 1910 e, na década seguinte, o futebol caiu de vez
nas graças do público. Os negros passaram a ser aceitos nos times, e nessa inclusão o
clube pioneiro foi o Vasco da Gama, que foi campeão da segunda divisão carioca em
1923 e, logo na chegada à primeira divisão, ganhou o de 1924. A importância do futebol
crescia bastante, a ponto de, em 1927, o presidente da república, Washington Luiz, ir
para a inauguração do estádio da equipe carioca. A participação vitoriosa do Brasil no
Campeonato Sul-Americano de 1919 e no de 1922, com o bicampeonato, também
impulsionou o interesse das pessoas. No jornalismo, contudo, os esportes demoraram a
―pegar‖.

A primeira experiência jornalística brasileira que começou a dar algum destaque às


competições esportivas foi no jornal Fanfulla, que reservava algumas páginas para o
esporte, sobretudo o futebol, na década de 1910. Não se tratava de periódico voltado

23
Apesar do espaço reservado aos esportes, no meio jornalístico os jornalistas que trabalham com esportes
não são creditados com o mesmo prestígio do que os de política e economia. Em muitos casos até os
salários são menores.

24
para as elites, não formava opinião, mas atingia um público cada vez mais numeroso na
São Paulo da época: os italianos, de acordo com Coelho (ibidem, p.8). A Fanfulla é até
hoje a grande fonte de consulta aos arquivos do Palmeiras sobre as primeiras décadas do
futebol. Trazia relatos de página inteira e informava as fichas de todos os jogos do clube
que na época era chamado de Palestra Itália.

Nos anos 30, nascia no Rio de Janeiro o Jornal dos Sports. A rigor foi o primeiro diário
exclusivamente dedicado aos esportes no país (COELHO, p. 9). Por outro lado, em São
Paulo, a Gazeta Esportiva começou como um suplemento da Gazeta na década de 30 e
se tornou independente na década seguinte. Com o passar dos anos, revistas e jornais de
esportes foram surgindo e desaparecendo. A Revista do Esporte viveu bons anos entre o
final da década de 1950 e o início dos anos 60 — fase de ouro do futebol brasileiro, com
a conquista de duas Copas do Mundo — e mesmo assim não sobreviveu (COELHO, p.
10).

A partir da segunda metade dos anos 60, com cadernos esportivos mais presentes e de
maior volume, o Brasil entrou na lista dos países com imprensa esportiva de larga
extensão (COELHO, p. 10). Mas quando a primeira revista brasileira dedicada
inteiramente ao futebol foi fundada, no final da década de 1960, recebeu vaticínio de
ninguém menos que João Saldanha, jornalista esportivo e técnico de futebol que dirigiu
inclusive a seleção brasileira.

Duvidar foi o esporte preferido até mesmo de gente experiente, que


vivia de escrever para os cadernos especializados, já no meio do
século XX. João Saldanha fez uma previsão no final dos anos 60,
quando um aventureiro resolve lançar não um caderno, mas uma
revista inteiramente dedicada ao futebol. Placar nunca sairia dos
primeiros números, imaginava Saldanha, que prestou inestimáveis
serviços ao esporte brasileiro (COELHO, 2003, p. 8).

A revista Placar vive até hoje, e já alternou grandes momentos com outros mais
delicados. Hoje talvez tenha como maiores atrativos as produções especiais, como os
guias das competições mais importantes. As revistas especializadas perderam espaço
com o fortalecimento do webjornalismo. Mesmo assim, ainda se procura um espaço
para as revistas. Nos últimos anos surgem a revista FutLance! e a Revista ESPN.

25
Quanto aos jornais, em 1997 foi criado o primeiro inteiramente voltado aos esportes no
Brasil, o LANCE!, sobre o qual falaremos no capítulo 5.

Hoje o jornalismo esportivo se encontra num momento de transformação. Por um lado o


acesso à informação é muito mais amplo e o consumo mais frenético. Na internet, é
possível ter acesso a análises elaboradas, feitas inclusive pelas pessoas que escrevem
nas revistas. Outro aspecto é o crescimento das televisões a cabo. Canais pagos como
ESPN, a SporTV e o Bandsports, em pouco mais de dez anos, têm sido pródigas em
―roubar‖ talentos da imprensa escrita para a internet. No perfil dos profissionais de
destaque no jornalismo esportivo nacional, os blogs ou colunas online são quase que
obrigatórios.

Nesta década que se inicia, na qual o Brasil será sede de uma Copa do Mundo, em 2014,
e de uma Olimpíada, em 2016, espera-se um fortalecimento do jornalismo esportivo no
Brasil. Espera-se que ele se torne mais maduro e vá além dos assuntos de campo,
―marcando‖ de perto aqueles que gerem os esportes, os presidentes de clubes, os
presidentes das federações estaduais, os presidentes das confederações nacionais de
cada modalidade, bem como personagens dos outros tantos setores da sociedade
envolvidos no esporte, como a economia e a política, cujos atores muitas vezes não são
transparentes.

Talvez na contramão dessa necessidade, há uma tendência de cada vez mais levar o
esporte pelo viés do entretenimento. Assim tem se posicionado a Rede Globo, maior
emissora televisiva do País. O Globo Esporte, programa diário veiculado no horário do
almoço, aboliu o modelo de apresentação de bancada, rígido, em que o apresentador, no
conforto de sua poltrona, lia no tele-prompter as informações antes da entrada do VT. A
comunicação tem se dado mais diretamente com o telespectador, existe mais espaço
para o improviso, e também para matérias mais longas. O apresentador do programa na
edição de São Paulo, Thiago Leifert, tem se destacado nesse novo estilo de apresentação,
que também é adotado por Tadeu Schmidt no bloco esportivo do Fantástico, programa
semanal da Globo que ocupa o horário nobre do domingo.

26
Com essas experimentações, o Globo Esporte viu a sua audiência crescer. Embora
historicamente seja o líder de seu horário, estava, entre 2006, 2007 e 2008, ficando atrás
do seriado Chaves, do Sistema Brasileiro de Televisão – SBT (RANGEL, 2009, p.4).

O exemplo do Globo Esporte mostra que estão mais antenados às novas tendências de
comunicação sobre que temos falado neste trabalho. Contudo não se pode perder de
vista que a função essencial do jornalismo é informar. E que é dever do jornalista
esportivo fiscalizar o que acontece fora das quadras, dos gramados e das pistas de
atletismo, para que o esporte nacional se fortaleça.

27
5 LANCENET!

O Lancenet é o site de notícias do grupo LANCE!, voltado inteiramente aos esportes.


Primeiro veículo do grupo a ser lançado, foi ao ar em 18 de outubro de 1997, oito dias
antes de a edição impressa, o diário LANCE!, começar a circular no Rio de Janeiro, e
15 antes de a edição paulista estrear. A proposta do fundador do LANCE!, Walter de
Mattos Júnior, era modernizar o jornalismo esportivo nacional, com um jornal
concebido para um público jovem de classe média e também popular. Sua inspiração
veio de alguns dos principais jornais que tratavam especificamente de esportes no
mundo, como a Gazzetta dello Sport, da Itália, fundada em 1927; o Marca, tablóide dos
esportes de Madrid; na França, o L‘Équipe; em Portugal, A Bola; e na Argentina, o Olé.
O LANCE! foi o primeiro jornal do Brasil a ser impresso inteiramente em cores, todos
os dias.

Desde seu princípio, o LANCE!24 e o Lancenet se propuseram a ser mais do que uma
fonte de informações. Encaravam o leitor como o elemento torcedor como central do
jornal, e procuravam formas de atraí-lo, com variados tipos de conteúdos. No site, existe
desde o princípio a seção ―Fala Doente‖, em que certos ―torcedores‖ 25 expressam
opiniões e expectativas sobre o seu time, de forma irreverente, o que despertava uma
identificação e, assim, interesse do público. Esses ―doentes‖ ficam expostos na seção
―Blogs‖, junto com os blogs de jornalistas, entre os quais estão Mauro Beting, Eduardo
Tironi, André Kfouri e Benjamin Back.

As notícias e reportagens do Lancenet são classificadas em quatro canais: Clubes,


Futebol, Esportes e De Prima — nesta última são divulgados os furos de reportagem, ou
as notícias mais quentes assim que se toma conhecimento delas, antes da reportagem
completa. Com relação a serviços gerais, o site oferece ao leitor tabelas dos
campeonatos de diversas modalidades e a LANCE!Pédia, uma espécie de enciclopédia
dos esportes. Outras seções são o L!Clic, E-Bizz, A+, LANCE!Store. Por fim há uma
chamada para o internauta assinar o diário LANCE! ou outros produtos do grupo. Além

24
O LANCE!, com uma média de 114 mil exemplares diários até o fim de 2008, foi o décimo jornal
nacional em circulação naquele ano.
25
Esses torcedores em questão não são pessoas reais, e sim personagens, com nome e sobrenome
aludindo ao clube pelo qual são doentes. No caso, a do Flamengo se chama Scarlet (vermelho) Breu
(preto).

28
disso, o Lancenet também serve de plataforma para a TV LANCE! e a Rádio LANCE!.
Vê-se, portanto, que ele não se resume ao webjornalismo.

É importante destacar que o Lancenet tem uma política editorial que dá destaque à
participação do público. Verificamos vários recursos de interatividade. O site conta com
enquetes e chats, promove a discussão de determinados temas em um fórum, oferece
canais diretos de comunicação para sugestões e reclamações, via e-mail — elementos
que não são novidade e, na classificação que Quadros (2005) faz dos níveis de
interatividade se encontram nas fases 1, 2 e 3. Além disso, o Lancenet desenvolve desde
2008 uma experiência inovadora no âmbito da participação do público no
webjornalismo, o Lance Activo, que analisamos mais a fundo no próximo tópico deste
trabalho.

Um dos motivos para o seu crescimento é a adoção de políticas voltadas para integrar o
leitor ao site. Aqui é importante mencionar que o Lancenet chegou pela primeira vez à
marca de 1 milhão de visitantes únicos em um único dia em 29 de janeiro de 2009. Nos
quatro primeiros meses de 2010, teve uma média de 10.775.951 visitantes únicos
mensais, ou 359 mil visitantes únicos diários.

Convém, antes da análise do Lance Activo, destacar que o Lancenet tem uma editoria
específica para tratar de jornalismo participativo, chamada PROLANCE! 26 . Nessa
experiência, o leitor poderia até ser remunerado caso o seu material fosse publicado pelo
grupo LANCE!. Havia uma tabela diferenciada conforme a publicação: que podia ir
desde página interna do Lancenet até a capa do LANCE!. No entanto a iniciativa não
teve o sucesso desejado e está temporariamente desativado. Por esse motivo, o Prolance
não receberá uma análise neste trabalho. Sobre a atual postura editorial com relação ao
Prolance, o editor do Lance Activo, Guilherme Gomes27, explica:

Tivemos alguns exemplos de Prolance que foram parar em nossas


mídias. De cabeça me lembro de uma matéria legal sobre um
brasileiro no futebol na China; uma matéria sobre um adversário do
Corinthians na Copa do Brasil ser patrocinado pelo grupo musical
Calcinha Preta, etc... (...) Uma constatação do Prolance é a dificuldade
de entendimento do público em geral em distinguir o que é

26
A partir daqui, no lugar de PROLANCE!, será adotada a grafia Prolance.
27
Entrevista concedida ao autor deste trabalho em 02/02/2010.

29
matéria editorial e o que é material opinativo. Na verdade, o Prolance
está desativado, mas é algo temporário. A intenção é retomar o serviço.
Com a implantação do L!Activo 2.0 como rede social do L!,
centramos esforços nisso. A gente percebeu que seria melhor ter uma
comunidade, uma rede social, com todo esse conteúdo, do que ficar
forçando só no jornalismo participativo.

5.1 LANCE!ACTIVO 2.0

O Lance Activo é uma editoria do Lancenet, criada em novembro de 2008, para


aproximar os internautas ao site e entre si. O Lance Activo pode ser definido como uma
rede social para torcedores. Os usuários desta comunidade — 118 mil, até 18 de maio
de 2010 — criam seus próprios blogs, nos quais discutem sobre esportes, especialmente
o futebol, mostram seu sentimento pelos seus clubes e fazem comentários sobre temas
que lhe interessem no âmbito esportivo; ao mesmo tempo, podem adicionar outros
usuários como amigos e comentam as postagens deles, que possuem seus próprios blogs.
No Lance Activo, o usuário pode personalizar a sua página, e as ferramentas do site
permitem o usuário a postar fotos, áudios. Porém o Lance Activo é mais do que uma
comunidade com blogs para troca de informações entre si. O seu diferencial consiste no
fato de que, regularmente, postagens dos torcedores são chamadas na lista de últimas
notícias do Lancenet, em meio às produções ordinárias da equipe de jornalismo do site.
Isso é feito de forma constante, com várias postagens dos torcedores sendo chamadas a
cada dia. A escolha de quais delas receberam esse destaque é feita pela equipe do
Activo, composta atualmente por um editor, um repórter e um estagiário.

Na tabela a seguir, dados relacionados às postagens do Activo que foram chamadas na


lista de últimas notícias durante uma semana composta, de 2 de fevereiro a 22 de março.
A quantidade de notícias chamadas nestes dias foi:

Data Nº de postagens Nº total de postagens Percentual de postagens


do L!ACTIVO no LANCENET! do Activo no total do dia

02/02/2010 14 239 5,85%


10/02/2010 19 246 7,72%
18/02/2010 13 239 5,43%

30
26/02/2010 22 252 8,73%
06/03/2010 8 159 5,03%
14/03/2010 3 187 1,60%
22/03/2010 13 210 6,19%

Tabela 1: Relação de postagens do LANCE!ACTIVO 2.0 e do LANCENET! no corpus restrito.

5.1.1 RECURSOS INTERATIVOS E PARTICIPATIVOS DO LANCENET!

O Lancenet oferece diversos recursos e serviços interativos e/ou participativos para o


público, levando em consideração a tendência mundial de os leitores se tornarem ativos
no processo noticioso. Identificamos enquetes, chats e fóruns de discussão28. No entanto,
na página do Lancenet, o internauta não tem a possibilidade de comentar as notícias
produzidas pelo veículo — as exceções são as notícias que os editores entendem como
mais relevantes e, assim, abrem um fórum para elas. O site também não permite o
reenvio ou recomendação de notícias e não permite o reenvio ou recomendação de
notícias.

Por outro lado, o Lance Activo, carro-chefe do Lancenet no quesito interatividade e


participação, oferecem alguns recursos que complementam os já existentes no portal. É
o caso da permissão para a criação de blogs de usuário. Dentro de seu blog, o usuário
pode fazer comentários, recomendar notícias, algo que não lhe é permitido fazer no
Lancenet.

No Lancenet, o usuário enviar vídeos, textos e fotos para o site — o que pode ser
através do Lance Activo e podia ser feito por meio do Prolance, que está
temporariamente desativado.

28
Não é sempre que os fóruns são utilizados no Lancenet. Eles são abertos pelos editores quando surge
alguma informação que seja importante discutir. Em algumas notícias os editores abrem um fórum para
discussão. ―Fóruns‖ é uma das seções que ficam exibidas no alto da página. Além disso, o Lance Activo
deve ser considerado o maior fórum de todos.

31
No Lance Activo, o convite à participação do internauta, com informações fixas nas
páginas incentivando o cadastro e o comentário, é o primeiro passo da interação. Além
disso, há três blogs gerenciados pelos editores do Lance!Activo gerenciados pelos
editores. O Blog do Activo e o Blog De olho no Lance! servem como um guia temático
para o torcedor comentar. Listam as notícias mais importantes e pedem que o torcedor
comente. A demissão do técnico Muricy Ramalho do Palmeiras foi um desses
momentos. O De Olho no Lance postou notícia e fez três perguntas para o torcedor (―O
que você achou da demissão?‖, ―Muricy era o principal problema do Palmeiras?‖ e
―Quem você quer ver no comando do Verdão?‖), pedindo que comentassem (figura 1).
A resposta veio em cascata: 165 comentários. Uma postagem foi chamada na home:
―Muricy: você não era bom pra caramba?‖ (figura 2).

32
Figura 1 – Exemplo de postagem do blog De olho no Lance!, editado pela equipe do
LANCE!ACTIVO 2.0. Disponível em: http://www.lancenet.com.br/lactivo/?opine/Blog/MURICY-
RAMALHO-NAO-E-MAIS-O-TECNICO-DO-PALMEIRAS-COMENTE/44409. Acessado em
10/05/2010.

33
Figura 2 – Exemplo de postagem de um usuário do LANCE!ACTIVO 2.0.

O terceiro blog ―institucional‖ do Lance Activo é o LANCE! Divulgue. Ele foi criado
para que os usuários divulguem os seus novos posts. A intenção é facilitar a
visualização — por parte dos editores — das postagens dos usuários, pois a equipe não
tem condições de pesquisar de um por um. Com o Divulgue, eles vão direto às que
podem interessar. O editor do Lance Activo, Guilherme Gomes 29 , reconhece uma
possível limitação causada pelo uso do Divulgue: o de deixar de enxergar boas

29
Entrevista concedida ao autor deste trabalho em 02/02/2010.

34
postagens que não tiverem sido ―anunciadas‖ pelo seu autor. Isso pode acontecer caso o
usuário não esteja totalmente ambientado na rede.

5.1.2 TIPOS DE INTERAÇÃO NO LANCE!ACTIVO 2.0

Observando a classificação de formas de interação proposta por Ward (2006),


consideramos que o Lance Activo se enquadra no modelo bilateral de comunicação. A
editoria convida o usuário a participar e recebe como retorno as postagens no blog.
Sendo assim, além do público ser consumidor, se transforma em fornecedor de
conteúdo, ainda que não seja este necessariamente jornalístico. Nesse processo, os
jornalistas do Lance Activo atuam como um filtro, uma vez que o recebimento do
conteúdo e a seleção do que deve ser publicado é feito por meio deles.

Não chega a haver uma troca de informações simultânea entre editor e usuário.
Normalmente os editores selecionam as postagens feitas pelos torcedores sem entrar em
contato direto com eles. Além disso, os editores não modificam o texto do usuário, cujo
conteúdo permanece inalterado na página do seu blog. Por este motivo, entendemos que,
na classificação das formas interação de interação proposta por Primo (interação reativa
ou interação mútua), a relação entre o usuário e os editores do Lance Activo se
caracteriza pela interação reativa.

Também se percebe que, regularmente, o Lancenet e o Lance Activo estimulam a


interação mútua dos usuários entre si. Essa é uma das características fundamentais do
site. O Lance Activo foi concebido como uma comunidade de usuários ligados ao
Lancenet que pudesse dar mais espaço, abrir espaço, dar voz para os usuários, os
leitores, conforme Guilherme Gomes30.

No que diz respeito à classificação proposta por Quadros (2005) sobre as fases de
interatividade no webjornalismo, detectamos no Lancenet aspectos apontados como a da
quinta fase da interatividade na internet, como a produção de matérias pelos leitores e a
disponibilização de conteúdos audiovisuais por estes, também estão presentes no

30
Entrevista concedida ao autor deste trabalho em 02/02/2010.

35
Lancenet. No entanto, o sistema não admite comentários do torcedor nas matérias
produzidas pelo próprio site. Os comentários podem, sim, ser sobre matérias do
Lancenet, mas têm de ser feitos no Lance Activo, onde os leitores/usuários também
podem emitir opinião sobre o texto dos seus pares, no blog deles.

Em nossa análise verificamos que o Lance!Net apresenta traços do gatekeeping e do


gatewatching. Por um lado, no Lance Activo, os editores filtram, na rede de blogs dos
usuários, os conteúdos que identificam como os mais apropriados e dão-lhes destaque
editorial na página principal. Entretanto, o conteúdo não chega a ser republicado como
notícia e não recebe um tratamento jornalístico, tampouco recebe o acréscimo de dados;
por estes motivos entendemos que não se estabelece genuinamente o gatewatching. Por
outro lado, o Lance Activo também possui alguns resquícios de gatekeeping, que pode
ser visto através do blog Divulgue. Os usuários, centenas deles, acessam esta página e
divulgam o conteúdo que produziram, a fim de que seja chamado na home do Lancenet.
Os editores recebem as postagens de forma pronta e selecionam quais delas serão
admitidas e passarão pelo portão que separa o Lance Activo do Lancenet, o que é uma
característica do gatekeeping.

5.1.3 DA PARTICIPAÇÃO NO LANCE!ACTIVO 2.0

A estratégia editorial de chamar as postagens dos usuários na lista de últimas notícias do


site, mesmo que com o selo Activo, servindo para distingui-las das demais, confere uma
visibilidade extraordinária ao conteúdo produzido pelos blogueiros do Lance Activo. A
título de comparação, nos principais portais que trabalham com jornalismo participativo
as postagens não costumam aparecer na home31, e sim dentro do canal específico, que
precisa ser acessado para que as publicações sejam exibidas em lista. É o caso do VC no
G1, do portal de notícias G1, e do VC repórter, do portal Terra.

Além de ter seu texto recebendo um destaque editorial no Lancenet, o torcedor pode vê-
lo publicado também na edição impressa, o LANCE!, que reserva espaços diários para
opiniões dos usuários do Lance Activo. E no jornal, como na internet, a mensagem do

31
Por home, entenda-se a capa de um portal de notícias.

36
torcedor fica situada entre as demais notícias, e não numa seção isolada de carta do
leitor. Se a intenção é fazer-se ouvir, o torcedor encontra no LANCE! um ―parceiro‖ de
primeira.

Entretanto, o Lancenet não se responsabiliza pelas produções dos internautas. O editor


do Lance Activo, Guilherme Gomes32, deixou claro que, embora o Lance Activo dê voz
e visibilidade ao leitor, a proposta do Lance Activo não é promover jornalismo
participativo. Segundo o jornalista, os conteúdos são ―eminentemente opinativos‖ e de
responsabilidade dos leitores. A presença do termo ACTIVO à esquerda do título de
cada uma destas postagens, na lista de últimas notícias, é o sinal que indica que o
conteúdo não foi produzido pelo Lancenet.

Antes do link exposto, tem um ícone chamado ACTIVO. Se o


usuário não está familiarizado que o Lance Activo é esse
ambiente, ele pode se confundir, achar que aquilo seja uma
opinião do jornal ou uma informação oficial, certo? Quando isso
não é. Isso tem que estar claro. Isso é somente um conteúdo que a
gente achou interessante de disponibilizar junto às informações
jornalísticas, mas é uma coisa eminentemente opinativa, e de
responsabilidade dos leitores. É uma forma de valorizar a opinião
dos leitores, mas tem que estar claro que tem uma diferença, uma
fronteira entre a informação oficial do LANCE! e a informação
dos leitores. Existe essa fronteira e a gente mostra isso.
(GOMES33)

As postagens do Lance Activo listadas no Lancenet no dia 26-02-2010 (figura 3)


retratam bem o caráter opinativo dos conteúdos dos usuários do Lance Activo.
Observando-se apenas os títulos, percebem-se frases subjetivas e comentários, alguns
deles com adjetivos e até exclamação:

32
Entrevista concedida ao autor deste trabalho em 02/02/2010.
33
Entrevista concedida ao autor deste trabalho em 02/02/2010.

37
Figura 3 —Parte da lista de notícias do dia 26-02-2010

Das nove postagens listadas, apenas uma não expressa qualquer tipo de opinião em seu
título: ―Corinthians: a volta da defesa menos vazada!‖. Entretanto, a exclamação
transmite a emoção do torcedor, que não cabe na redação jornalística.

38
Postagens como ―Zagueiro inglês Wayne Bridge é um homem de honra!‖34 e ―Ewerthon
vai fazer muitos gols pelo Palmeiras!‖ não possuem sustentação do ponto de vista
jornalístico para entrar em qualquer lista de notícias. A primeira é uma opinião a
respeito de uma notícia, a segunda é uma opinião e, ao mesmo tempo, previsão. Outro
post listado qualifica o time do São Paulo de covarde, algo que também foge à
moderação que se espera de um jornalista.

Apesar de refutar se responsabilizar pelas postagens dos usuários, o Lancenet já passou


por um inconveniente quando um desses textos ofendeu um empresário ligado ao
futebol. Os advogados do iraniano Kia Jooarabichian, que representava o grupo de
investimento MSI no Corinthians, entraram em contato com o Lancenet e ameaçaram
processar o site por uma informação que consideraram caluniosa. O caso foi
solucionado com a remoção imediata do conteúdo escrito pelo usuário, o pedido de
desculpas e a garantia de que o fato não voltaria a se repetir. Essa confusão revela que,
apesar do selo ACTIVO, há uma confusão sobre se seriam ou não as produções dos
usuários jornalismo participativo. No momento que o veículo chama a postagem na
homepage, mesmo que não assuma a responsabilidade no aspecto factual, o Lancenet dá
credibilidade à opinião do torcedor, ao sugerir que seja lida.

Ainda que não se proponha a ser um canal de jornalismo participativo, e que o caráter
da participação do público seja eminentemente opinativo, há momentos em que o
torcedor publica notícias de fato, com potencial para publicação pelo próprio site
mesmo como jornalismo participativo. É o caso de uma matéria de um torcedor sobre
uma visita-surpresa do jogador de futebol Cristiano Ronaldo ao Brasil.

Cristiano Ronaldo uma vez apareceu no Brasil de surpresa. Passou


dois dias ali com conhecidos, familiares, e se encontrou com uma atriz
brasileira famosa no hotel Unique. Isso ninguém estava sabendo, um
usuário fez uma foto, porque estava lá, e mandou para o Lance Activo.
Ou seja, foi um jornalismo participativo. Então entrou pela porta do
Lance Activo, foi para o jornal como jornalismo participativo, e nesse
caso até a pessoa foi até remunerada, porque o nosso plano de
jornalismo participativo tem uma remuneração, e entrou como uma

34
A esposa de Wayne Bridge o traiu com um outro jogador da seleção inglesa, John Terry, que tentou
cumprimentar o traído em uma partida estendendo-lhe a mão, que Bridge se recusou a apertar.

39
foto-legenda no jornal. Então existem casos como esse, são raros, mas
existem. (GOMES35).

Um dos fatores que facilita a participação do público no webjornalismo esportivo é o


alto grau de opinião utilizada nessa área. Por outro lado, nos meios mainstream que
lidam com a participação do público como produtor de conteúdo, o gênero informativo
é predominante (DAL-VITT, 2009, p.88). Este contraste reforça a constatação de que,
no âmbito esportivo, a subjetividade encontra um bom espaço para se manifestar.

Os editores, diante de uma participação ativa do público, têm como principal trabalho
esta filtragem do que deve ser publicado ou não.

O Lance Activo tem mais de 100 mil usuários cadastrados. Então tem
muito conteúdo publicado que é somente manifestação simples de
torcedor, xingamento. Porém, dentro desse universo de conteúdo, têm
muito conteúdo interessante, análises interessantes e às vezes até uma
informação interessante. Então o trabalho do Lance Activo é tentar
filtrar um pouco isso e pôr em destaque as coisas mais interessantes.
Isso... O grande segredo do Lance Activo é tentar fazer essa edição. É
um trabalho de edição de um monte de conteúdo para um conteúdo
interessante. (GOMES36).

Devemos refletir sobre a qualidade dessa interação. Apresentando as postagens como


mera ―opinião de torcedor‖ o Lancenet busca satisfazer o seu público, que se sente
ouvido, porém não se estabelece um diálogo de fato entre o produtor e o destinatário das
notícias. Existe uma pluralidade de vozes, mas não uma troca de informações e
conhecimentos que vise aprimorar o ofício jornalístico. O torcedor, fortuitamente,
produz conteúdos que se encaixam nos moldes de notícia e de reportagem, mas esta
ação parte do indivíduo, sem instruções de técnica jornalística. Os interlocutores dos
usuários são os próprios usuários, que se entendem entre si.

Apesar de manter esta distância do usuário comum, o Lancenet se mantém atento à


opinião dele sobre o site e sobre o que pode ser feito para melhorá-lo. Na busca por
constantes melhoramentos dos recursos que oferece, o Lancenet criou um comitê de
usuários do site e do Lance Activo, com os internautas mais participativos. Segundo

35
Entrevista concedida ao autor deste trabalho em 02/02/2010.
36
Entrevista concedida ao autor deste trabalho em 02/02/2010.

40
Gomes37, trata-se de: ―Um comitê oficial, de troca de informações, e que tem um acesso
mais direto à chefia do Lancenet‖. O editor do Lance Activo conta que os usuários são
convocados e vão à redação de suas respectivas praças, São Paulo ou Rio de Janeiro,
para trocar idéias com a equipe de jornalistas. Com essa troca de informações, o veículo
compreende o ponto de vista dos usuários, no tocante à navegação, às informações
disponíveis. São dois os comitês, um no Rio de Janeiro e o outro em São Paulo, cada
um deles com seis a oito integrantes. O primeiro encontro aconteceu no segundo
semestre de 2009.

Gomes38 exalta o retorno que esta iniciativa traz:

É muito interessante, porque, por exemplo, a gente abre o site na hora


junto com eles, e já podemos saber percepções. ―Vocês sabiam que
isso aqui faz isso?‖. Ou seja, é mais uma troca de informações e
percepções. Porque às vezes quem está do lado de cá acha uma coisa,
e quem está do lado de lá acha outra coisa. Isso é muito interessante,
seria muito legal até se pudesse ser feito até mais vezes. Mas é que
tem muitas dificuldades, né?

Esses usuários, que vivem na mesma cidade onde se encontra a redação, participam
desse processo sem receber remuneração, apenas a alimentação e eventualmente
produtos da marca LANCE!. Essa voluntariedade endossa as teorias de que o novo
público nos meios de comunicação realmente deseja colaborar para o desenvolvimento
do jornalismo, como professava Gillmor (2005).

No Lance!NET, não se pode falar que a tão propalada inversão de papéis entre o
jornalista e o leitor nos meios de comunicação já esteja ocorrendo. Por outro lado, há
uma associação do conteúdo de ambos, que coexistem lado a lado no site como no
jornal. Ambos tomam parte na produção de sentido do veículo. Esta experiência mostra
que a informação especializada pode ser complementada por uma opinião
assumidamente parcial de um leitor como qualquer outro. Trata-se de um
posicionamento salutar, por favorecer a diversidade de pontos de vista.

Várias empresas têm pensado formas de se adaptar a esta nova fase da comunicação
social, como observa Quadros:
37
Entrevista concedida ao autor deste trabalho em 02/02/2010.
38
Entrevista concedida ao autor deste trabalho em 02/02/2010.

41
[...] no ciberespaço, as alternativas disponíveis ao usuário permitem que
ele tenha voz ativa, alguém que o escute — ainda que isso signifique
uma única pessoa — e um lugar para obter informação relevante do seu
ponto de vista. Com isso, os meios de comunicação tradicionais e as
suas versões digitais voltam a se preocupar com a possível migração de
sua audiência para blogs ou outras experimentações interativas na rede
mundial dos computadores. Na tentativa de reconquistar e/ou ampliar o
seu público, empresários da comunicação olham com mais seriedade as
mudanças em seu entorno, buscando adaptar e até criar algumas idéias
que atraiam o usuário/ leitor/ telespectador/ ouvinte (QUADROS, 2005,
p. 4).

A experiência que vem sendo desenvolvida no Lancenet, com o Lance Activo, se


encaixa perfeitamente nessa descrição. E, dentro dessa proposta, vem sendo
desenvolvida com sucesso, leva os comentários de um usuário a uma quantidade antes
inimaginável de outros leitores.

42
6 BLOG DO TORCEDOR

O Blog do Torcedor é um blog que integra o JC Online, portal de webjornalismo do


Grupo Jornal do Commercio de Comunicação. Criado primeiro como coluna do caderno
de Esportes do Jornal do Commercio e só depois como blog em si, no segundo semestre
de 2008, Blog do Torcedor trata especificamente de futebol; não obstante, veicula
ocasionalmente informações relativas a outros esportes. É, desde o princípio, editado
pelo jornalista Marcelo Cavalcante, que passou a contar também com um repórter a
partir de setembro de 2008.

Apesar de ser um blog, o Blog do Torcedor apresenta um ritmo de produção que mais se
assemelha ao de um site de notícias, tanto pela alta média de posts diários quanto pelo
tipo de conteúdo que veicula. Os blogs de jornalismo já se estabeleceram e tornaram-se
importantes na comunicação pelo caráter mais analítico de suas publicações; o Blog do
Torcedor também se vale desse estilo mais opinativo, no entanto possui uma ligação
muito forte com as notícias factuais, sobretudo a notícia de primeira mão. A
instantaneidade da informação é muito prezada no Blog do Torcedor39, cuja equipe, em
diversas situações, dá prioridade à publicação integral do conteúdo (que pode ser em
áudio, texto ou vídeo) colhido junto às fontes, como, por exemplo, nas entrevistas de
depois dos jogos, deixando para um segundo momento o desenvolvimento de análises
dos eventos. Por conta dessas particularidades, nesta pesquisa considera-se que o Blog
do Torcedor faz webjornalismo.

Desde seu nome, o blog carrega a mensagem de que o torcedor deve ter um tratamento
diferenciado nos meios de comunicação. O nome sugere que o blog pertence ao torcedor
e antecipa que é um local onde ele pode se expressar a respeito dos acontecimentos da
área do futebol. Em seu funcionamento, o Blog do Torcedor oferece espaços para que o
público participe das discussões sobre o futebol.

39
Além da instantaneidade, outra característica-chave do webjornalismo que se faz presente com
destaque o Blog do Torcedor é a memória. O blog desempenha um papel essencial que é o armazenar
eletronicamente todo o volume de dados publicados em si. Assim, os conteúdos publicados pelo site
podem ser resgatados pelos sistemas de busca de forma infinitamente mais fácil em comparação com
outros meios.

43
Existem duas formas fundamentais de participação no Blog do Torcedor: os
comentários e o Torcedor no Mundo. Os comentários podem ser feitos em quaisquer
postagens do blog, após o internauta se cadastrar no próprio site. Eles podem conter
relatos de situações passadas pelo torcedor, denúncias, análises dos times e das partidas
e sugestões de postagem e de pautas. Vários comentários vão ao ar diariamente; porém
antes passam por moderação, feita pela equipe. A incidência de comentários no Blog do
Torcedor é alta e chegou a 102 somente nos dois primeiros dias de recorte do nosso
corpus restrito, 02 de fevereiro e 10 de fevereiro.

A segunda forma de participação mais presente é o Torcedor do Mundo. As publicações


dessa área são fotolegendas em que se encontra um ou mais leitores vestindo a camisa
ou carregando a bandeira do seu time do coração em algum outro país do mundo. Trata-
se de um conteúdo voltado em absoluto para o entretenimento, sem pretensões de
informar. A presença de torcedores no mundo foi constatada em cinco dos sete dias do
nosso corpus de postagens do Blog do Torcedor, apenas não indo ao ar no sábado e no
domingo, quando nenhuma outra forma de participação além dos comentários foi
publicada.

Figura 4: Torcedor no Mundo, 18-02-2010. Disponível em:

44
http://jc3.uol.com.br/blogs/blogdotorcedor/canais/torcedornomundo/2010/02/18/alvirrubros_em_ma
drid_64291.php

Mediante essas duas formas de participação, os torcedores estão sempre presentes na


coluna semanal do Blog do Torcedor no Jornal do Commercio, publicada todas as
quintas-feiras. Nela existe sempre um espaço reservado para um Torcedor no mundo,
bem como para um comentário de um torcedor que o editor tenha considerado
pertinente.

No Blog do Torcedor, os comentários publicados pelos internautas geram novos


comentários, apresentando concordâncias ou discordâncias a respeito do que o seu par
falou; nas discussões muitas vezes se perde o foco da publicação original e acontecem
até ofensas entre os usuários ou dos usuários a alguma pessoa envolvida na notícia No
entanto, quando o comentário é considerado interessante — quer seja opinativo, quer
seja uma informação —, pode ser publicado como uma postagem inteira no Blog do
Torcedor, junto com as demais publicações do blog, e também no Jornal do Commercio.

45
Figura 5 – Texto de um torcedor alertando possível briga de torcidas e criticando a tabela do
Campeonato Pernambucano foi postado do dia 10-02-2010. Disponível em:
http://jc3.uol.com.br/blogs/blogdotorcedor/canais/noticias/2010/02/10/possivel_confronto_entre_tor
cidas_na_volta_do_agreste_63697.php. Acesso em 10/05/2010.

Outro caminho para a informação ou a opinião do internauta ser publicada como post no
blog é o envio de e-mail à equipe, que decide quanto à publicação ou não. Na postagem
retratada na figura 5 há um exemplo disso. O comentário do internauta Roberto Corrêa,
de caráter informativo e opinativo, foi publicado pela equipe do Blog do Torcedor.
Trata-se de uma das 20 postagens com conteúdo gerado ou sugerido pelos internautas
que detectamos no corpus restrito deste trabalho.

Data Nº de postagens Nº total de postagens Percentual de postagens


com conteúdo do Blog do Torcedor com conteúdo do
do torcedor torcedor diante do total
02/02/2010 4 18 22,22%
10/02/2010 4 27 14,81%
18/02/2010 5 30 16,66%
26/02/2010 3 26 11,53%
06/03/2010 0 8 0%
14/03/2010 0 17 0%
22/03/2010 4 17 23,52%

Tabela 2: Relação de postagens do Blog do Torcedor que têm participação do público no


corpus restrito.

Entre essas postagens, sete são de Torcedores no Mundo e três outras trazem fotos de
torcedores no Brasil em contextos especiais — um bebê vestido de Santa Cruz, um
torcedor do Sport mergulhando perto de corais exibindo o short do time do coração e
um grupo grande de torcedores do Santa Cruz brincando Carnaval vestindo as cores do
time. São, portanto, dez publicações ancoradas por imagens e com um caráter de
entretenimento.

Verificamos também a participação através de duas enquetes, um artigo e uma charge.

46
Figura 6: Enquete no Blog do Torcedor sobre a demissão de treinador do Náutico. 18-02-2010.
Disponível em: http://jc3.uol.com.br/blogs/blogdotorcedor/canais/emquetes/2010/02/18/
o_nautico_acertou_ao_demitir_macuglia_64287.php. Acesso em 10/05/2010.

Detectamos também dois posts do Blog do Torcedor originados da sugestão de


internautas: um sobre um jogador que vive hoje nos Estados Unidos; outro, um vídeo
que explicaria ―por que Dunga não leva Ronaldinho à seleção‖. Mesmo não tendo o
torcedor, neste caso, criado um conteúdo, ele participou da construção de um post do
Blog do Torcedor.

Além disso, encontramos duas postagens de divulgação/serviço. Uma delas sobre a


organização de uma caravana de torcedores do Náutico para assistir a um jogo do time
fora do Recife e outra sobre um encontro de torcedores que colecionam camisas retrô de
times. Por fim, a 20ª postagem com conteúdo do torcedor é um direito de resposta de
um integrante da Federação Pernambucana de Futebol, enviado por e-mail por iniciativa
própria do autor, que assina o texto como ―Felipe Gomes, leitor assíduo do Blog e
Diretor de Marketing da FPF‖.

Devido à baixa quantidade de tipos de produções relativas ao torcedor, incluindo os


comentários textuais republicados como novos posts, observamos que a publicação por
parte do Blog do Torcedor de conteúdos produzidos ou sugeridos pelo público é uma
prática ocasional, possivelmente porque depende do envio de conteúdos pelos
internautas, o que não acontece regularmente. Percebemos, todavia, que há espaço para

47
a ampliação da participação no Blog do Torcedor. Para isso, é importante que o blog
estimule e oriente o internauta a dar a sua contribuição.

As possibilidades de participação do público no Blog do Torcedor não se resumem às


verificadas no corpus restrito desta pesquisa. Há diversos tipos de produção que podem
ser exploradas, como as crônicas, vídeos e mesmo reportagens — nada impede que um
internauta faça mesmo uma reportagem, envie ao blog e veja-a publicada. Isso já
aconteceu em uma reportagem publicada em novembro de 2009 (figura 7).

48
Figura 7: Reportagem produzida por internauta do Blog do Torcedor. 15/11/2010. Disponível
em:
http://jc3.uol.com.br/blogs/blogdotorcedor/canais/noticias/2010/11/15/microfone_para_a_torcid
a_do_flamengo_57665.php Acesso em 10/05/2010.

49
Na reportagem que se pode visualizar acima (figura 7) o internauta Guilherme Rocha
faz um relato de um acontecimento que viu da janela do seu apartamento, de onde tem
uma visão clara do Estádio dos Aflitos, do Náutico. Ele denuncia que a equipe da
emissora de televisão que transmitira o jogo entre o Náutico e o Flamengo amplificou o
som da torcida do time carioca, o que ele classifica como um ―comportamento
tendencioso em favor dos times do eixo Sul–Sudeste. Como prova do ocorrido enviou
fotos do microfone que foi instalado. A publicação desta matéria mostra que o Blog do
Torcedor tem interesse em aproveitar a tendência de os internautas se tornarem
produtores de conteúdo, a fim de que eles desempenhem participação mais ativa e
acrescentem informações e notícias que a equipe do blog possivelmente não teria.

Um momento em que o internauta pode participar durante o desenrolar dos fatos que
levam à notícia são as coberturas ao vivo que o Blog do Torcedor realiza em ocasiões
que a equipe entenda como especiais. Uma delas foi um jogo entre Náutico e Santa Cruz,
um clássico do futebol pernambucano, no dia 21 de março, situado no corpus ampliado.
O Blog do Torcedor utilizou um serviço chamado Cover It Live40 para a cobertura da
partida. O Cover It Live (www.coveritlive.com) permite ao jornalista e aos leitores a
transmissão de informações em tempo real, no entanto a mensagem do leitor passa por
moderação do jornalista, podendo ser vetada. Nesse espaço faz-se possível a troca de
informações entre os leitores e o jornalista, que interage respondendo perguntas. Ainda
podem ser criadas várias enquetes para o público.

O Blog do Torcedor tem um caráter de construção colaborativo importante. Mesmo que


raramente produza conteúdos jornalísticos, o internauta que frequenta o Blog do
Torcedor está sempre atento às notícias divulgadas em outros veículos e costuma
encaminhá-las para o e-mail do blog ou postá-las na íntegra dentro das publicações da
própria equipe do blog. Nesse sentido há de se considerar que o internauta está
colaborando com o processo de gatewatching que os jornalistas do blog costumam
desempenhar. A seleção do que vai ser publicado como novo tópico no blog continua
sendo do blogueiro jornalista, mas o internauta lhe dá subsídios importantes para a sua
decisão.

40
O Cover It Live (www.coveritlive.com) também é utilizado pelo JC Online em eventos de grande
mobilização do público, como Carnaval e eleições.

50
No Blog do Torcedor o internauta se situa próximo da equipe de jornalistas. Ele
participa do processo noticioso através das sugestões de pautas, linkagem para matérias
publicadas em outros sites, alertas quanto a erros de reportagem, de modo que acaba por
fornecer conteúdo. Nesse contato entre internauta e jornalistas, verifica-se o modelo
bilateral de interatividade, na classificação proposta por Ward (2006). Os jornalistas do
blog atuam como filtro, canalizando a produção de conteúdo e a mensagem recebida.

Com relação aos tipos de interação que Primo (2004) classifica, a mútua e a reativa,
percebe-se nas enquetes, nos comentários sobre as publicações e também no e-mail uma
interação reativa, com códigos pré-estabelecidos. No entanto quando o jornalista retorna
a mensagem do leitor, por exemplo, pedindo uma informação mais detalhada, acontece
aí uma interação mútua.

51
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo deste trabalho identificamos e nos lançamos a analisar recursos e ferramentas


que têm sido utilizados no webjornalismo esportivo para promover uma participação
mais ativa daquele elemento que já foi chamado de leitor e de receptor e hoje já se
reconhece como um interagente no campo da comunicação.

Detectamos, nos dois veículos de webjornalismo analisados, o Lancenet e o Blog do


Torcedor, os elementos presentes na tabela 3.

RECURSOS DE INTERATIVIDADE LANCENET! LANCE!ACTIVO 2.0 Blog do Torcedor


- Contém enquetes? Sim Não Sim
- Contém fóruns? Sim É um fórum Cada postagem é
um fórum
- Contém chats? Sim Não Não*
- Contém blogs de autor (jornalistas ou Sim Não Não
convidados pelo meio)?
- Contém blogs de usuários? Lance Activo Sim Não
- Permite criar e participar em blogs Lance Activo Sim Não
temáticos?
- Permite comentar as notícias? Lance Activo Sim Sim
- Permite reenviar ou recomendar noticias Não Não Sim
a outras pessoas?
- Permite ao usuário enviar textos e Sim. Lance Sim Sim
notícias ao meio? Activo e
Prolance
- Permite ao usuário enviar fotos e vídeos Sim. Lance Sim Sim
ao meio? Activo e
Prolance
- Permite ao usuário criar comunidades Não Não Não
com outros usuários?
- Permite aos usuários criar perfis ou Lance Activo Sim Não
páginas pessoais?
- Permite ao usuário criar seu próprio Lance Activo Sim Não
avatar?

52
Percebemos, neste percurso, avanços no sentido de tornar o internauta parte do processo
noticioso. Encontramos um cenário em que leitores e jornalistas se aproximam, no
entanto de formas diferentes.

No Lancenet os textos dos usuários do Lance Activo convivem lado a lado com os
textos dos jornalistas, de um modo que pluralizam as vozes e enriquecem-nos com
pontos de vista que podem se complementar — a informação dos jornalistas mais a
opinião dos internautas. Ainda falta um entrecruzamento de conteúdos, uma abordagem
mais ampla dos responsáveis pela publicação das notícias, uma tentativa de canalizar o
que o público tem a dizer. Mas, de todo modo, pode-se considerar essa visibilidade
conferida às mensagens do internauta como um avanço no webjornalismo. O Lance
Activo é um serviço interessantíssimo, por congregar uma rede social especificamente
sobre um tema que mexe com os corações dos brasileiros.

Analisar o Blog do Torcedor, por sua vez, nos colocou diante de proposta e raio de
atuação diferentes do Lancenet, o que nos permite fazer contrapontos no tocante às
estratégias para trazer o público para o site. O internauta está mais próximo da equipe de
jornalistas do Blog do Torcedor, se comparado ao Lancenet. Existe uma comunicação
menos burocrática; quando um internauta faz uma observação acerca de uma publicação
ou sugerindo nova, e o jornalista altera o conteúdo que havia publicado antes ou vai
apurar esta nova história, trata-se de uma interação mútua, o público intervindo no
modo de se fazer jornalismo, mesmo que não seja um repórter.

No Blog do Torcedor, ainda em contraste com o Lancenet, não há um processo


mecanizado de seleção de comentários interessantes para republicação no blog; por
conta disso, quando uma postagem do torcedor é escolhida, individualmente, significa
que ela está recebendo uma recomendação editorial mais forte.

Na análise desenvolvida neste trabalho não encontramos elementos que pudessem


sustentar uma das hipóteses que esta pesquisa se prestou a averiguar: se está havendo ou
não jornalismo participativo no campo de esportes na web. Encontramos amostras de
situações em que o internauta realiza uma reportagem, como a contribuição do
internauta Guilherme Rocha (figura 7) para o Blog do Torcedor, mas são situações
esporádicas, que ainda não podemos prever se se estabelecerão.

53
Talvez por se tratar de esportes, um campo que, mesmo com toda a importância cultural
na sociedade brasileira, não afeta diretamente o rumo do País — exceto, talvez, por
situações extraordinárias, como a realização da Copa do Mundo de 2014, envolvendo 12
capitais nacionais — o caráter da participação do público permaneça sendo menos de
informação, como é hoje. No entanto, mais uma vez, o jornalismo encontra no campo
esportivo um gérmen de novas práticas que podem se estender por outras editorias.

Percebemos, no comitê de usuários do Lancenet, uma participação que


hierarquicamente poderia ser considerada ainda mais relevante numa empresa de
comunicação. Os usuários convocados pelo grupo LANCE! participam de reuniões que
modificarão o posicionamento editorial do grupo, ou seja, há um intercâmbio na raiz da
construção das notícias, e que chegará ao repórter mesmo que ele não ouça o público.
Com iniciativas deste tipo o veículo pode se reposicionar adequadamente diante das
novas demandas da comunicação midiática.

54
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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sistemas automatizados para o processo de produção industrial no Jornalismo Digital.
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SILVA JR., José Afonso. A relação das interfaces enquanto mediadoras de


conteúdo do jornalismo contemporâneo: agências de notícias como estudo de caso.
Trabalho apresentado no XI Encontro Anual da Compós. Rio de Janeiro, 2002.

WARD, Mike. Jornalismo online. São Paulo: Roca, 2006. 210p.

58
APÊNDICE 1

Entrevista na íntegra concedida pelo editor do LANCE!ACTIVO 2.0, do LANCENET!,


Guilherme Gomes, em 02 de fevereiro de 2010.

Pesquisador: O que levou vocês a criarem o Lance!Activo 2.0?


Guilherme Gomes: A história é a seguinte. O Lance foi o primeiro jornal do Brasil a ter
uma editoria específica de interatividade. Já de olho nessa coisa do crescimento de rede
social, do crescimento de interatividade com o leitor. E daí surgiu a ideia de fazer esse
ambiente na internet, mas não foi baseado em nenhum modelo, de ter uma comunidade
de usuários ligados ao Lancenet, e que falem sobre futebol, e sobre esporte em geral. E
daí com algumas ferramentas: o cara pode ter o blog, pode compartilhar imagem, foto,
foi isso.

Pesquisador: O que o Lancenet entende por interatividade? Qual a definição na visão de


vocês e qual a importância para o jornalismo da interatividade?
Guilherme Gomes: O que a gente detectou assim é uma tendência mundial de que cada
vez mais os usuários e leitores, eles não querem ser apenas um agente passivo da notícia,
como era antigamente, que o cara comprava o jornal e lia o jornal. Com a globalização,
principalmente com as novas tecnologias, muito equipamento, muita coisa imediata,
muita coisa online, o mundo mudou, e os leitores também mudaram, os usuários, eles
querem hoje em dia participar da notícia, fazer parte, compartilhar opiniões, e isso tem
ganhado muito espaço no mundo todo, na área de mídia. Então o Lance foi nessa linha
de dar mais espaço, abrir espaço, dar voz para os usuários, os leitores.

Pesquisador: Que recursos e estratégias estão sendo usadas formalmente pelo


Lance!Activo
Guilherme Gomes: No Lance!Activo, o cara pode. O grande diferencial é que a pessoa
pode ter um blog dela, como pode ter em outros lugares, como o Blogspot, e outros, só
que tem um diferencial. Como está atrelado ao grupo Lance!, as opiniões das pessoas
podem ser publicadas nas mídias do Lance!. Então você tem um blog pessoal, você
pode falar o que quiser, mas, dependendo desse conteúdo, se a gente achar interessante,
esse conteúdo pode ser publicado no jornal, isso é um diferencial, por exemplo, né? Ele
pode ser publicado no Lance!NET, como tem sido, é outro diferencial. Então são essas
coisinhas que fazem o diferencial do Lance!Activo.

Pesquisador: Eu tinha percebido isso já e foi o que me levou a estudar. O que mais me
chamou a atenção na observação preliminar foi que as notícias do Lance!Activo são
chamadas na lista de últimas notícias do Lancenet
Guilherme Gomes: Isso, exato.

Pesquisador: No jornal é dito lá que o espaço é reservado para o torcedor, mas no


Lancenet você tem na lista de últimas, né? Aí até que ponto isso coloca o leitor, o
usuário, como ator do processo jornalístico?
Guilherme Gomes: Então... Aí até causa... Já tivemos alguns probleminhas. Ali tem um
link, antes das últimas notícias, antes do link exposto, tem um ícone chamado
―ACTIVO‖. Se o usuário não está familiarizado que o Activo é o ambiente, ele pode se
confundir, achar que aquilo seja uma opinião do jornal ou uma informação oficial,
certo? Quando isso não é. Isso tem que estar claro. Isso é somente um conteúdo que a
gente achou interessante de disponibilizar junto às informações jornalísticas, mas é uma

59
coisa eminentemente opinativa, e de responsabilidade dos leitores. É uma forma de
valorizar a opinião dos leitores, mas tem que estar claro que tem uma diferença, uma
fronteira entre a informação oficial do LANCE! e a informação dos leitores. Existe essa
fronteira e a gente mostra isso.

Pesquisador: Eu percebi já que havia a diferenciação, que logicamente está listado lá. E
é visível que não é escrito pelo LANCE!, vai na página do próprio torcedor. Mas ao
colocar na lista de últimas notícias será que o LANCE! não acrescenta nenhum valor
jornalístico ao ser publicado? Como artigo ou crônica?...
Guilherme Gomes: Acrescenta.

Pesquisador: Como é que vocês analisam que está acontecendo isso?


Guilherme Gomes: Então, o Lance Activo tem mais de 100 mil usuários cadastrados.
Então tem muito conteúdo publicado que é somente manifestação simples de torcedor,
xingamento, etc. Porém, dentro desse universo de conteúdo, têm muito conteúdo
interessante, análises interessantes e às vezes até uma informação interessante. Então o
trabalho do Lance Activo é tentar filtrar um pouco isso e pôr em destaque as coisas mais
interessantes. Isso... O grande segredo do Lance Activo é tentar fazer essa edição. É um
trabalho de edição de um monte de conteúdo para um conteúdo interessante.

Pesquisador: Então você falou que às vezes é informação, às vezes é um conteúdo


noticioso...
Guilherme Gomes: Raramente, mas essa parte de conteúdo noticioso se insere em outro
vértice, também é uma tendência mundial, do jornalismo participativo. Na CNN tem o
―I Report‖, tem o OhmyNews na Ásia, que houve uma grande onda do jornalismo
participativo, agora deu uma diminuída, mas o Lance Activo também tem um
pouquinho disso. Então pode acontecer isso. A gente não estimula muito isso, porque é
uma coisa específica, mas também tem, entraria nessa coisa do jornalismo participativo.

Pesquisador: Então, o que eu quero ver é justamente isso, porque até nessa parte teórica
dos estudos prévios, do anteprojeto, qual seria a teoria que eu utilizaria na análise, eu
quero ver até que ponto a gente pode considerar essa experiência do Lance Activo como
uma experiência de jornalismo participativo. Você está me dizendo que é uma
proporção bem reduzida.
Guilherme Gomes: Bem reduzida. Tanto que na editoria de interatividade tinha um
ícone que se chamava Prolance, que seria o jornalismo participativo. A gente percebeu
que o jornalismo participativo não é tão simples de ser feito, porque você precisa
orientar as pessoas como fazer... E acaba sendo que as pessoas acham que estão fazendo
jornalismo participativo, mas estão fazendo opinativo. E então até dentro disso a gente
percebeu que seria melhor ter uma comunidade, uma rede social, com todo esse
conteúdo, do que ficar forçando só no jornalismo participativo.

Pesquisador: Eu estava olhando que o Terra tem o canal dele que é o VC Repórter, e lá
tem as instruções de como enviar o vídeo... Mas assim, embora vocês tenham
constatado essa dificuldade de buscar o jornalismo participativo no momento, vocês
acham que é uma coisa que ainda está para ser mais trabalhada depois?...
Guilherme Gomes: Não, eu acho que é uma coisa que já existe, é uma coisa real, que
não vai acabar e vai aumentar no mundo inteiro. Só que talvez com a velocidade menor
do que se imaginava. Então você pode ver nas experiências da CNN, da BBC, do Terra
aqui e em outros, que acaba você tendo menos conteúdo de jornalismo colaborativo do

60
que se imaginava que se teria há um tempo atrás. A gente vai continuar tendo, nós
temos isso, e... Mas a gente acha que a rede social acabou congregando mais pessoas,
sendo mais interessante como ferramenta.

Pesquisador: O quanto de jornalístico deve ter no mínimo um post do Lance Activo


para ser chamado na lista de últimas?
Guilherme Gomes: Não precisa ter... Zero. Pode ter zero de jornalismo e ser publicado
lá. A gente vai mais pela qualidade da opinião, do texto, do conteúdo. Pode ter 0% de
jornalismo e, mesmo assim, ser publicado lá.

Pesquisador: É isso que eu ia perguntar, porque, se é um texto, digamos uma resenha de


uma partida, não é jornalístico no sentido de profissional, mas é uma busca de um leitor
por reproduzir... Se ela é colocada lá, e se é uma resenha da partida...
Guilherme Gomes: Acaba tendo um conteúdo jornalístico. Esse tem. Nós temos muito
ali que tem. Mas não precisa ter. Se uma pessoa analisa o retorno do Robinho o Brasil,
pode subir lá, se a gente achar que é um conteúdo interessante, que é uma análise, um
pensamento interessante. Daí não teria conteúdo jornalístico.

Pesquisador: E assim, no jornalismo, os textos que se tem mais proximidade são essas
áreas opinativas. Crônicas, etc...
Guilherme Gomes: Isso, mais nessa área.

Pesquisador: Quais são os benefícios e os riscos que o site imaginava que ia encontrar
nesse processo do Lance Activo?
Guilherme Gomes: Benefício: a gente oferecer um serviço a mais para os usuários. Essa
coisa de interação, eles gostam muito de compartilhar opinião, fotos, imagens, e tal... E
de dificuldades, problemas, essa questão de deixar claro que são coisas distintas, uma
coisa é uma rede social, uma coisa é uma informação oficial do Lancenet, e que a gente
já teve uma ou outra pessoa dizendo: ―pô, mas isso aqui parece ser oficial, tal‖, então a
gente procura deixar claro isso.

Pesquisador: O retorno que o Lancenet... que o ACTIVO tem recebido em termos de


participação, de divulgação, você diz que está crescendo o número de leitores, como é
que está isso aí, como você avalia esse processo com um ano e meio quase.
Guilherme Gomes: A gente tem mais de 100 mil usuários cadastrados, e daí nesse caso
tem que contar que é um cadastro diferenciado, porque é uma coisa segmentada, você
sabe o time que o cara gosta, a partir daí dá para fazer ações de marketing ou ações
virais dentro disso. A gente tem cerca de 40 mil visitas por dia, de visitantes únicos, o
que chega a ser 5% do Lancenet, às vezes menos de 5%, mas por ser um serviço
diferenciado ajuda. É isso. Ah, e é uma plataforma, uma ferramenta, que nos permitiu e
permite fazer ações comerciais virais em redes sociais, não só no ACTIVO como o
Orkut, o Facebook, o Twitter, então a gente procura juntar tudo isso na editoria de
Interatividade.

Pesquisador: Você falou em 40 mil visitantes únicos por dia, isso aí você inclui
visitantes na página ou diariamente 40 mil usuários se logam?
Guilherme Gomes: Não, 40 mil visitantes se logam, não é Pageviews.

Pesquisador: 40 mil pessoas entrando, assim, para postar, ou para obsevar...


Guilherme Gomes: Para postar ou só para observar.

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Pesquisador: Mas se eu estiver deslogado e entrar ele conta?
Guilherme Gomes: Não conta.

Pesquisador: Então a participação fica quase a metade do total, diariamente, 40%?


Guilherme Gomes: Exato. O que a gente percebe é que em números é quase a metade.
Mas é que tem um núcleo menor de pessoas que entram muitas vezes ao longo do dia.
Mas você tem 40% de participação. 40% de participantes.

Pesquisador: Você falou das dificuldades e dos benefícios, mas isso é o que vocês
imaginavam ou também o que estão constatando?
Guilherme Gomes: A gente não tinha muito, não imaginava, por ser uma coisa muito
nova, a gente não imaginava antes dos acontecimentos, é algo que a gente constata
agora.

Pesquisador: Falar um pouco assim dos critérios sobre seleção para publicação na
internet.
Guilherme Gomes: Pela qualidade do conteúdo. Ou pela originalidade, ou pela
qualidade ou pela opinião controversa. Aí vai depender de cada conteúdo, mas a gente
escolhe. Por esses critérios.

Pesquisador: Eu percebi um detalhe que os comentários não são liberados nas notícias
do Lance!, né? Do Lance! mesmo, ao contrário de alguns sites. E por que isso? Ele era
antes e deixou de ser?
Guilherme Gomes: Porque... Primeiro tem a questão técnica, que isso representa uma
coisa técnica para servidores, para peso, então... Primeiro tem isso. E segundo e mais
importante foi que a gente tava vendo que tinha muito post ofensivo, briga, então, nós
fizemos todo tipo de coisa no Lancenet. Já teve épocas de com pré-aprovação de
mensagem, que demanda também, na hora que você tem um volume muito grande, você
tem que ter gente para fazer, se não você não dá conta. Já fizemos com liberação de
mensagem total, daí já teve muito problema de xingamento, muita briga, muito post
ofensivo. Então daí com o Lance Activo aberto, a gente optou pelas notícias do
Lancenet fechadas, mas com possibilidade de abrir, ou seja, algumas delas são abertas
para fórum, e o Lance Activo ser aberto no momento. É o que acontece.

Pesquisador: Eu até tentei, tinha uma questão lá ―clique aqui para postar isso no Lance‖,
um ícone que dizia para clicar ali para ir para o Lance, e eu pensei que o conteúdo
apareceria no meu lance activo como uma citação para que eu pudesse escrever no
Lance Activo. Terminou que eu achei que dava para fazer uma coisa no Lance Activo e
não consegui...
Guilherme Gomes: O que tem é o seguinte, quando abre uma postagem de uma notícia
do Lancenet, chama-se fórum. Você manda a sua mensagem e vai para uma relação de
fóruns, mas não vai para o Lance Activo, ainda falta um pouco de integração nesse
ponto.

Pesquisador: Como é esse fórum, que eu não tenho informação a respeito?


Guilherme Gomes: Não, algumas mensagens... Às vezes a gente abre um fórum de
debate, vamos supor, você tá no Lancenet, daí ―Comente essa notícia‖, ―comente a briga
do Petkovic com o dirigente‖. Na hora que você clica, você tá comentando essa notícia
no fórum dessa notícia, mas não no Lance Activo, são coisas separadas. E esse fórum

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não está em todas as notícias, em algumas notícias que os editores querem que tenha o
fórum aberto eles abrem esse fórum.

Pesquisador: Vocês têm os usuários do sistema não é? O Lance Activo. Como é isso aí?
Guilherme Gomes: São os oficiais. São três usuários oficiais. O Blog oficial do Activo.
Depois tem o Divulgue, que é o blog de divulgação, que os usuários põem lá para
divulgar. E o terceiro é o ―De Olho no Lance‖, que é um blog para levantar temas para
as pessoas participarem.

Pesquisador: Eu percebi isso. ―Aconteceu isso e isso e isso, comentem, aconteceu


aquilo e aquilo, opinem‖, Não é?
Guilherme Gomes: Isso, isso, isso... Até para orientar a participação um pouco. A gente
percebeu isso. Então essas são evoluções. Quando surgiu o Lance Activo não tinha essa
ideia dos blogs oficiais. A gente falou: vamos deixar aberto. E depois a gente vai vendo
como funciona.

Pesquisador: Na questão dos fóruns, o fórum não poderia ser um desses blogs aqui?
Guilherme Gomes: Poderia, mas o sistema ainda não está integrado para isso. O fórum é
aberto no Lancenet, separadamente disso. Na verdade os dois acabam tendo a mesma
função. Às vezes você tem no Lancenet o fórum aberto, é que são poucos os fóruns
abertos. Por isso...

Pesquisador: São matérias mais de repercussão e de polêmica...


Guilherme Gomes: De repercussão e de polêmica e também quando precisa ter. Porque
também... Outra coisa é o seguinte: tudo isso depende da demanda do diário, do papel,
às vezes. Vamos supor: o jornal vai fazer uma matéria do Love, e vai ter um espaço lá
de manifestação dos leitores sobre o Love. Então a gente tem que incentivar a
participação do leitor sobre esse assunto. Então às vezes abre fórum para isso, e no
Lance Activo também abre com esses fóruns oficiais.

Pesquisador: Como é a seleção de notícias no tocante aos times envolvidos


Guilherme Gomes: Essa coisa de conteúdo é complexa. Tem alguns clubes que, se eu
não tiver um volume grande de conteúdo, a exigência para ele entrar vai ser menor. E
outros clubes eu tenho tanto conteúdo, mas eu tenho até que deixar coisa legal de fora
porque não consigo aproveitar tudo. Então tem esses dois cenários.

Pesquisador: Complementando um pouquinho a questão dos acessos, você me falou


que hoje corresponde a média de 5% do total dos acessos do Lancenet.
Guilherme Gomes: É, na verdade diminuiu isso. Correspondia a, tipo, 30 a 40 mil,
correspondia a 5%, mas nos últimos 30 dias o Lancenet teve um crescimento violento,
gigantesco, e hoje acho que corresponde a 2%, 3%...

Pesquisador: Como foi esse crescimento do Lancenet?


Guilherme Gomes: Foram melhorias técnicas e melhorias editorias, de equipe, novos
serviços, mais jogos online, mais material diferenciado, mais conteúdo original,
analítico. Teve um boom de crescimento.

Pesquisador: Mas por acaso isso ou uma coisa planejada?


Guilherme Gomes: Uma coisa planejada. Não começou neste ano, mas é uma coisa que
já vem desde o ano passado, foi criado um cargo de editor de mídia digital somente para

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o Lancenet, para mudar um pouco esse viés só da notícia, e daí o Lancenet passou a se
aprofundar nas notícias, então tem muito mais análise, conteúdo diferenciado mesmo, e
isso aí culminou nesse crescimento.

Pesquisador: E essas análises estão entrando nas próprias notícias ou como posts e
comentários...?
Guilherme Gomes: Eu digo análises oficiais, tão entrando como análises oficiais, tão
entrando como agregados nas notícias. Vou dar um exemplo: Robinho no Santos. Além
de ter a notícia de Robinho no Santos, o Lancenet passou a ter muito material de apoio.
Então, especialistas do Lance analisam como o Robinho vai jogar, jogadores que já
atuaram com Robinho falam sobre como acham que vai ser o retorno, veja aqui uma
galerias de foto do Robinho na carreira. Muito hiperlink, muito hipertexto, muito
conteúdo agregado.

Pesquisador: Você teria como falar de um comparativo no que o Lance Activo pode ter
acrescentado aos acessos gerais do Lance!NET...
Guilherme Gomes: Chegamos a ser entre 5% e 7% do volume total de acessos do
Lancenet. Hoje diminuiu isso porque o Lancenet cresceu, mas o ACTIVO também está
crescendo. Então eu diria que se o ACTIVO tiver 10% do volume do Lancenet seria
uma vitória tremenda, porque o Lancenet tem hoje 1,5 milhão de visitantes por dia.
Bateu 1,8 mi, mas a média é 1,5 mi. Se o ativo tiver entre 5% e 10%, ou seja, de 75 a
150 mil visitantes por dia, é uma rede social de peso.

Pesquisador: Esses dados são visitantes únicos?


Guilherme Gomes: Visitantes únicos. Tudo que estamos falando é visitante único.

Pesquisador: Você considera que já é um sucesso ou ainda está para se tornar um


sucesso o Lance Activo?
Guilherme Gomes: Não um sucesso, mas já é um produto, uma ferramenta já
consolidada, mas que tem muito a melhorar ainda, muito a ampliar, até as
funcionalidades dela precisam ser melhoradas. É uma coisa que está em permanente
mudança e evolução.

Pesquisador: Vocês estão buscando caminhos alternativos diariamente...


Guilherme Gomes: Diariamente, porque com 100 mil pessoas cadastradas, você tem
uma demanda muito grande e às vezes não consegue acompanhar o que precisa ser feito
de melhoria na ferramenta. Isso acontece muito. Tem a questão do servidor... Tem muita
parte técnica envolvida, que não é tão simples assim. E os usuários às vezes reclamam
(QUAIS SÃO AS CRÍTICAS?), porque não sabem como que é acompanhar um
crescimento assim.

Pesquisador: Você considera (o Lance Activo) consolidado já?


Guilherme Gomes: Considero consolidado, mas com um campo imenso ainda a ser
explorado.

Pesquisador: Como você disse, vocês começaram sem uma noção precisa de quantos
usuários poderiam alcançar...
Guilherme Gomes: É, a meta era atingir a 50 mil visitantes até o final de 2009.
Chegamos muito perto disso, e em alguns momentos estivemos acima disso. Então
estamos batalhando para ter essa média permanente de 50 mil, seria o primeiro passo,

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em termos de objetivo de audiência. Mas aí tem outras metas correlacionadas. Metas
comerciais, metas de conteúdo, tem outras coisas.

Pesquisador: Com relação ao jornal, vocês mesmo da editoria do Lance Activo que
selecionam o que vai para o jornal?
Guilherme Gomes: A gente seleciona, o Lance Activo é que seleciona o que vai para o
jornal.

Pesquisador: Eles dizem o que tem de espaço e vocês colocam o que tem de melhor...
Guilherme Gomes: Isso, e às vezes até o caminho inverso. Se tiver um conteúdo muito
legal ou forte de algum assunto, a gente sugere que tenha determinado espaço e abre o
espaço.

Pesquisador: Existe alguma moderação nos comentários do Lance Activo?


Guilherme Gomes: No momento não, existem ferramentas de denúncia, e ferramentas
do próprio usuário de apagar mensagens. Mas não tem filtragem nem pré-aprovação.

Pesquisador: Vocês podem editar o texto de uma pessoa?


Guilherme Gomes: Também não, a gente não mexe...

Pesquisador: Digamos que o texto esteja muito bom, mas tenha um palavrão, vocês não
podem removê-lo?
Guilherme Gomes: Não... A gente dá total liberdade, a ferramenta não permite que a
gente mexa no texto de alguém. Isso até causa algum prejuízo, às vezes tem isso que
você falou: um conteúdo legal, mas uma citação extremamente discriminatória que eu
não posso deixar em aberto...

Pesquisador: A última pergunta que eu tenho é com relação a essa coisa de agenda.
Fala-se muito em agenda setting na comunicação, de que o torcedor, o cidadão comum
vai reagir de tal maneira à medida que for estimulado pelo conteúdo, que lhe vem muito
à cabeça, não sai da cabeça. Nesse sentido eu quero saber se o que entra de postagem é
preciso já ter sido noticiado pelo Lance!, é preciso ser um assunto já trabalhado pelo
Lance!?
Guilherme Gomes: Pode entrar, não tem. Se a gente chegar nesse ponto é até o ponto
ideal...

Pesquisador: Falar um pouco sobre as dificuldades que vocês tem tido... Os cuidados
para ter com o Ctrl+C e Ctrl+V e aí então tu fala um pouco desse problema que teve
com o Kia Joorabichian.
Guilherme Gomes: Voltando às dificuldades, uma delas é identificar conteúdos que
sejam copiados e colados de outros sites ou veículos de comunicação. E que são
simplesmente o cara dá o Ctrl+C num site e cola no Blog dele, e daí divulga. E ele não
vai dar a fonte, não tem crédito, e a gente tem que saber identificar isso para a gente não
divulgar uma coisa que não é nossa. Outra coisa é a questão jurídica. Já tivemos casos
de um post opinativo ter alguma acusação sem prova, infundada, e que dá margem para
um processo jurídico de calúnia e difamação, como já houve. Um cara fez um post
sobre o Kia Joorabichian, por exemplo, chamou o Kia de pilantra, e a gente foi
contatado pelo jurídico do Kia, porque tava sendo divulgado no Lancenet. Então tem
que ter um cuidado nessa filtragem para não correr esse risco.

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Pesquisador: Esse caso já se resolveu?
Guilherme Gomes: Se resolveu rapidamente. Primeiro a gente explicou para ele que é
uma rede social, apesar disso tem a margem jurídica de ser conteúdo do Lancenet. Então
foi combinado que a gente tirou aquilo do ar imediatamente, e redobrou a nossa atenção
com relação a isso, e não teve maiores problemas.

Pesquisador: Então no caso a solução encontrada foi tirar do ar...


Guilherme Gomes: A solução encontrada foi tirar do ar, pedir desculpas e mostrar
também que não é opinião do Lancenet, e sim uma rede social. Ou seja, até numa briga
jurídica, há margem jurídica para uma discussão, então não é do interesse nem deles
terem o trabalho de tentar acusar e nem a gente ter o trabalho de tentar defender.

Pesquisador: E depois desse caso teve algum outro?


Guilherme Gomes: Não, a gente apertou a ferramenta de controle, os nossos,

Pesquisador: Sem ofensas a ninguém...


Guilherme Gomes: Sem ofensas a ninguém, tomando bastante cuidado com isso.

Pesquisador: Essa é uma questão que é fundamental no jornalismo participativo...


Guilherme Gomes: É, são essas dificuldades que aparecem assim no dia a dia, não dá
para se prever no lançamento do projeto quais dificuldades a gente vai ter. Essas duas, a
gente, quando concebeu a rede, não visualizou, não vislumbrou que teria isso. São
coisas do dia a dia que acabam acontecendo.

Pesquisador: Também tem a dificuldade de poder enxergar todos os posts, não é?


Guilherme Gomes: Exato, é uma questão técnica, não há tecnologia para você ver 100
mil pessoas postando a qualquer momento, a qualquer hora, você não consegue
enxergar tudo. Então você tem que criar algum tipo de coisa que você possa ter um guia,
e o nosso guia é o Divulgue, um blog oficial na home, ou seja, ―Divulgue o seu
conteúdo aqui‖. O cara faz o conteúdo no blog dele e divulga lá, só um trechinho, só um
link. Agora também a gente tá sujeito também ao seguinte: um cara que faz um
conteúdo belíssimo, mas se ele não puser no Divulgue, pode escapar o nosso controle,
porque a gente não consegue ver 100 mil usuários por dia. Nesse caso às vezes tem
certamente conteúdos bons que ficam perdidos. Porém, com a questão da interação geral,
como um internauta passa para o outro, a gente também vê na hora que você abre o
perfil e você vê as mensagens, ou seja, esse conteúdo também pode chegar ao nosso
conhecimento por outros caminhos. Isso já aconteceu também.

Pesquisador: Nesse caso do Control+C, Control+V deu problema, a questão jurídica e


tal... Mas teve algum caso, alguma postagem, pela qual o Lance recebeu o bônus, um
elogio, ou de repente alguém pode ter identificado como furo do Lance, mas foi do
torcedor.
Guilherme Gomes: Já, já teve. Coisas assim, por exemplo: Cristiano Ronaldo uma vez
apareceu no Brasil de surpresa, passou dois dias ali com conhecidos, familiares, e se
encontrou com uma atriz brasileira famosa no hotel Unique. Isso ninguém estava
sabendo, um usuário fez uma foto, porque tava lá, ou seja, foi um jornalismo
participativo, e caiu no Activo. Então entrou pela porta do Activo, foi para o jornal
como jornalismo participativo, nesse caso até o cara foi remunerado, porque o nosso
plano de jornalismo participativo tem uma remuneração, e entrou um texto legenda no
jornal. Então existem casos como esse, são raros, mas existem.

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Pesquisador: E como é esse plano que você falou de remunerar o leitor, é só para o
jornal?
Guilherme Gomes: O Activo é a rede social. O Prolance, que é o participativo, está
ligado, assim, tem pontos em comum com Lance Activo, mas é diferente, é puramente
jornalismo participativo. E lá tem umas regras de que se um cara faz um conteúdo e esse
conteúdo vai parar no jornal como jornalismo informativo, ele até pode ser remunerado.

Pesquisador: Acho que vou ter que acrescentar no meu projeto um estudo sobre o
Prolance também, não é?
Guilherme Gomes: É, é, na verdade é o seguinte: é que o Prolance foi lançado, daí como
teve essa retração do jornalismo participativo... A gente imaginava que seria uma coisa,
que teria um volume grande e tal. Como ele ficou pequeno, ele tava numa plataforma do
Lancenet anterior, então se você entrar hoje, hoje, você não consegue entrar no Prolance.
A gente está reatualizando o projeto.

Pesquisador: Mas, como foi criado e como funcionava exatamente o Prolance?


Guilherme Gomes: O programa foi criado com base na ideia de jornalismo participativo.
A grande diferença do projeto implantado pelo LANCE! é que o leitor poderia até ser
remunerado em caso de publicação de seu material. Existia uma tabela diferenciada
conforme a publicação: página interna do Lancenet, capa do Lancenet, página interna do
L! e capa do L!. Era algo entre R$ 50,00 e R$ 100,00 reais. Tivemos alguns exemplos
de Prolance que foram parar em nossas mídias. De cabeça me lembro de uma foto/flagra
do Cristiano Ronaldo em um hotel em São Paulo, em uma viagem escondida; uma
matéria legal sobre um brasileiro no futebol na China; uma matéria sobre um adversário
do Corinthians na Copa do Brasil ser patrocinado pelo grupo musical Calcinha Preta,
etc... Uma constatação do Prolance é a dificuldade de entendimento do público em geral
em distinguir o que é matéria editorial e o que é material opinativo. Na verdade, o
Prolance está desativado, mas é algo temporário. A intenção é retomar o serviço. Com a
implantação do L!Activo 2.0 como rede social do L!, centramos esforços nisso.

Pesquisador: Poderiam buscar ver se fazem o Prolance para ser no próprio Lance
Activo, não é?
Guilherme Gomes: É... Na verdade a ideia é ter os dois, mas no Lance Activo. Dentro
do Lance Activo tem um iconezinho de jornalismo participativo.

Guilherme Gomes: Tem mais só uma coisinha, rapidinho, das dificuldades, uma agora
que eu lembrei: agressão entre usuários, por exemplo, xingamentos e ameaças. Já
tivemos casos disso. Então a gente teve de intervir, de cancelar conta, suspender, tem
uma série de ferramentas de punição entre aspas, mas já tivemos situações como essa,
de ter isso. Quando você mexe numa rede social, você está sujeito a bastante coisa.

Pesquisador: Que retorno tem recebido o Lance em termos de conceito?


Guilherme Gomes: A ferramenta, primeiro por ser uma ferramenta inovadora, porque
ela permite algumas coisas assim... Basicamente o diferencial é ter um blog, e esse blog
pode aparecer num jornal, por exemplo, em outras mídias. Têm as ferramentas de
compartilhamento, mas a grande coisa da rede do Lance Activo é que é uma rede social
de um assunto segmentado e apaixonante, então ela acaba viciando, realmente as
pessoas até falam dentro do próprio Activo que é uma coisa que vicia, porque você fica
querendo saber a opinião dos outros, e sobre os seus posts, e você queria comentar sobre

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os outros. E é sobre um tema, futebol, basicamente futebol e esporte, que é muito
apaixonante, por isso que eu acho que cria esse vínculo muito grande. Então tem gente
que passa horas dentro do Activo, é fácil você perceber isso pelo volume.

Pesquisador: Tem alguma relação, vocês se inspiraram de alguma forma no Orkut, que
é a rede social mais forte no Brasil?
Guilherme Gomes: Então, o Orkut, é lógico, tem uma base de inspiração no Orkut. Mas
não é bem fazer um Orkut do futebol, mas é lógico que o Orkut é uma base de todas as
redes. E claro que intimamente tinha o Orkut como fonte, mesmo que seja de uma
forma primária. Mas olha mesmo como as coisas mudam, né? Hoje o Orkut está até
relegado ao segundo plano, e o Twitter hoje em dia entrou como a rede da moda. Qual
vai ser o próximo? O que a gente percebe é que o do futebol, quando você tem uma rede
segmentada, ele marca muito e fica muito viciante. Por exemplo, a pessoa pode ter o
mesmo blog, tem muita gente que tem o blog no Activo e replica o blog no Wordpress
ou Blogspot, e eles falam isso: ―Pô, mas no Blogspot eu tenho mais ferramentas, no
Wordpress eu tenho mais ferramentas e melhores que o Activo, mas eu não sinto a
satisfação porque eu não sinto tanto a interação‖. Porque lá tem blog de todos os
assuntos, no Blogspot tem blog de Astrofísica e de Futebol; no Wordpress a mesma
coisa. Então fica uma coisa mais ―perdida‖, mas vasta. Quando você está numa rede só
de um tema, a interação aumenta.

Pesquisador: Existe algum caso em que um usuário do Lance Activo tenha ganhado
uma notoriedade acima da média?
Guilherme Gomes: Aqui a gente tem um caso curioso. Essa menina, a Fanni, era uma
das primeiras blogueiras do Lance Activo, ela tinha um blog de futebol inglês. O
conteúdo era tão bom que não só a gente chamava no Lance Activo e no LANCENET
como ela foi chamada para um grupo de usuários mais participativos e acabou virando
colunista oficial da revista FUT, a nova revista do Lance, como comunista e blogueira
do Lance Activo. Ou seja, mostra essa coisa da interação do usuário e do leitor não
querer ser um agente passivo mais no mundo da informação, e sim um agente ativo.
Saíram ganhando ela, o Lance, os usuários, e o Lance Activo.

Pesquisador: É uma coisa que pode acontecer com mais outras pessoas, não é?
Guilherme Gomes: Certamente. Isso pode acontecer a qualquer momento e acontece,
gente que vira colunista. Por exemplo, recentemente a gente teve no final do ano,
colunas grandes, oficiais, do Lance! (jornal), abertas para os usuários. Então nós
escolhemos um conteúdo realmente diferenciado para ocupar um espaço nobre no jornal
durante o mês de dezembro. Isso aconteceu, e colunistas do Lance Activo que fizeram
isso.

Pesquisador: E aí o retorno dos comentários do pessoal, eles elogiam em geral, como é


a avaliação que os próprios usuários do Lance Activo, fazem do programa?
Guilherme Gomes: Eles adoram. Eles têm a reclamação permanente, a reclamação
técnica, eles querem mais ferramentas, mas tecnologias, em menor tempo. Isso é
comum. Agora eles gostam muito, o que a gente percebe é que uma rede assim acaba
criando até uma disputa entre eles em termos de conteúdo, para poder aparecer. ―Pô,
você viu o meu conteúdo? Apareceu no jornal‖. ―Ah, o meu foi chamado na home do

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Lance Activo.‖ Dão parabéns entre eles, ou seja, cria-se um mundo de participantes e
que lutam por espaço também.

Pesquisador: Fale um pouco sobre os benefícios que você sente que o ACTIVO tem
trazido ao Lance!
Guilherme Gomes: Na questão de benefícios, uma questão que a aconteceu a partir do
Lance Activo. Foi que a gente percebeu essa coisa da interatividade nas mídias sociais e
criamos um produto viral, junto com o departamento comercial do Lance. Então por
exemplo, uma universidade quis fazer um trabalho de divulgação de um seminário que
ela tava fazendo, e fez um trabalho no Lance Activo e nos virais do Lance NET. O que é
que significa isso: usuários do Lance Activo, quatro ou cinco, foram contratados pelo
Lance para fazer um trabalho de 15, 30 dias, para a divulgação desse seminário.
Divulgação de viralização, em redes sociais, Orkut, Facebook, Twitter, dentro do Activo,
enfim, em todo tipo de rede. Ou seja, já é um serviço a mais, uma coisa que veio depois
do Lance Activo, na esteira do Lance Activo. Outra coisa: a gente tem um comitê de
usuários do Lancenet, Lance Activo, usuários mais participativos, que às vezes são
convocados e vêm na redação de São Paulo ou do Rio, para trocar idéias com a gente,
para mostrar o ponto de vista dos usuários, e para a gente sentir também como que é a
navegação, o que é que eles tão achando, enfim, uma troca de informações.

Pesquisador: Esses usuários são convidados, o Lance paga a hospedagem deles, como é
isso?
Guilherme Gomes: O Lance paga tipo alimentação, na verdade a pessoa mora na mesma
cidade e é convidada a participar se quiser...

Pesquisador: Só o pessoal de São Paulo mesmo?


Guilherme Gomes: São Paulo e Rio. Já teve no Rio e já teve em São Paulo. E as
pessoas ganham produtos Lance!, pela participação, mas é montado um comitê oficial,
de troca de informações, e que tem um acesso mais direto à chefia do Lancenet.

Pesquisador: E tem quantas pessoas nesses comitês?


Guilherme Gomes: Mais ou menos umas seis a oito em cada praça. Aí englobando
Lancenet e Lance Activo. Não só Lance Activo. É muito interessante, porque, por
exemplo, daí a gente abre o site na hora junto com eles, para saber percepções, assim:
―vocês sabiam que isso aqui faz isso?‖. Ou seja, é mais uma troca de informações e
percepções. Que às vezes quem tá do lado de cá acha uma coisa, e quem tá do lado de lá
acha outra coisa. Isso é muito interessante, seria muito legal até se pudesse ser feito até
mais vezes. Mas é que tem muitas dificuldades, né?

Pesquisador: E vocês começaram quando a fazer esse tipo assim de abordagem ao


leitor? A trazer eles para mais perto?
Guilherme Gomes: Desde o segundo semestre do ano passado. Segundo semestre de
2009 foi feito o primeiro comitê. Chama-se comitê de usuários.

Pesquisador: E essa ação de marketing foi quando?


Guilherme Gomes: Ações de marketing, já fizemos duas ou três. Já fizemos com ações
internas do Lance, promoções internas, e também esse exemplo que eu dei de uma
universidade que é patrocinadora do Lancenet.

Pesquisador: Qual o nome da universidade?

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Guilherme Gomes: Unisanta.

Pesquisador: Daqui de São Paulo ou do Rio?


Guilherme Gomes: Do Rio.

Pesquisador: E como é que foi que vocês avaliaram o resultado dessa ação, através dos
usuários?
Guilherme Gomes: Então, na verdade foi um resultado, ainda é meio subjetivo, difícil
de avaliar, porque tivemos algumas peculiaridades, tipo o dia do seminário era um dia
ruim de meio de semana, a grade de palestrantes foi definida muito em cima da hora, e
isso prejudicou. Não deu para medir, mas deu para saber que existe e é um tipo de
serviço a ser feito.

Pesquisador: Eu li uma matéria um dia desses falando que nos Estados Unidos e em
outros lugares já se começa a ter merchandising no Twitter, e vocês fizeram isso no
Lance Activo...
Guilherme Gomes: É a viralização, não só o merchandising no Lance Activo, isso é
uma coisa, merchandising na rede social. A outra coisa é a viralização, é você pegar
usuários ―normais‖, como se fosse eu e você, só que nós vamos divulgar um
determinado produto, mas não de forma oficial, como se eu fosse um... não é um
anúncio oficial, mas eu vou estar falando ―pô, que legal, você viu que lançaram tal
produto...‖

Pesquisador: Acho que a viralização é a conseqüência, né? Mas tá havendo um contato,


tá havendo uma coisa que não é espontânea, é uma coisa que eles vão passar e com isso
vai se tornar espontânea.
Guilherme Gomes: Isso, exatamente, é uma divulgação de forma espontânea.

Pesquisador: Para que seja de forma espontânea.


Guilherme Gomes: Para que seja de forma espontânea.

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