SÍNTESE: Abordagem Contemporânea do Conceito Saúde
A saúde como ausência de doença
Mato Grosso
Junho/2013 Síntese
O conceito de saúde ainda permanece indefinido, pois envolve
diferentes dimensões e muitos aspectos constitutivos, porém pode se caracterizar como a ausência de doença. Doença é o estado de desarmonia de um organismo, provocado por diversos fatores sendo eles exógenos e/ou endógenos. Uma análise mais profunda sobre o termo ‘saúde’ mostra que cientistas e filósofos dedicaram pouca atenção ao tema. Não existe ainda uma acepção única, mas é possível apresentar diferentes perspectivas sobre o assunto.
Desde a Grécia Antiga a dificuldade em definir o termo é reconhecida.
As transformações ocorridas na Idade Moderna colocam em destaque a discussão empírica e racionalista. A primeira acreditava ser necessária a vivência de experiências para que se pudesse elaborar uma teoria que fosse capaz de explicitar a realidade, enquanto a segunda definia que se precisava primeiramente da existência do conhecimento teórico para despertar a busca pelo empírico. A partir daí ocorre a estruturação do método científico e o modelo teórico moderno relacionado à doença.
Segundo Foucalt, a construção da medicina científica moderna se dava
sob o comando de um sistema capitalista, que ocasionou grandes mudanças sociais fazendo surgir a primeira noção de Estado e de intervenção social.
Até metade do século XVIII, no período industrial, a doença era tida
como algo natural, um elemento passível de classificação e organização taxonômica, propiciando bases para terapias que tratassem da mesma. Em contrapartida, esta classificação não dispunha de um método de prevenção para as epidemias que se alastravam no período. Este sistema foi interrompido com o surgimento da clínica moderna, na qual o poder religioso é substituído pelo poder dos médicos na estruturação dos hospitais, tal este agora com o intuito de cura, e posteriormente de aprendizado e não mais de salvação.
O atendimento passa a ser sistematizado, com o advento dos
prontuários médicos, a separação dos doentes e o reconhecimento das doenças de acordo com os sintomas. Os estudos passam a ser mais aprofundados, não partindo apenas do conhecimento anatômico dos órgãos, mas sim da análise de tecidos. Através dessa óptica, a doença metamorfoseia- se em patologia.
Até meados do século XIX, a doença era relacionada ao contato, que
trazia o contágio, portanto relacionada ao tato e ao olfato. No entanto, com o surgimento da clínica, a visão passa a ser o fator principal no entendimento desta. Segundo Czeresnia os primeiros sentidos não traduziam imagens e linguagens, diferente da visão, que está mais próxima da razão. O alicerce do estudo direcionado à doença passa a ser perceptivo, observador e experimental. Consequentemente a saúde é compreendida como a inexistência de patologia.
O conhecimento então é especializado funcionalmente em cada
estrutura corpórea, nas quais se analisa suas disfunções. O conceito de saúde é restringido, uma vez que sua compreensão está implicitamente associada a “não-doença”. Para o filósofo Boorse, “A saúde de um organismo consiste no desempenho da função natural de cada parte.” Para ele, somente a biologia e a patologia poderiam defini-la, excluindo fatores sociais, econômicos, psicológicos e culturais. Segundo seu conceito negativo de saúde, é inexistente uma meta perfeita de saúde para se alcançar, pois desta forma haveria a dificuldade de se estabelecer a promoção da mesma.
O modelo biomédico, estruturado durante o século XIX, associa doença
à lesão, reduzindo o processo saúde-doença à sua dimensão anatomofisiológica, excluindo as dimensões histórico-sociais, como a cultura, a política e a economia e, consequentemente, localizando suas principais estratégias de intervenção no corpo doente. Na linha de raciocínio da antropologia aplicada, há diferenças entre patologia e enfermidade, a primeira relaciona-se a alterações e disfunções orgânicas, definidas de acordo com a concepção biomédica. De outro ângulo a enfermidade está correlacionada à percepção individual, através da transformação da patologia em experiência humana e em objeto da atenção médica.
Popularmente saúde é não estar doente, contudo é uma definição
limitante, uma vez que a ausência de sinais e sintomas não esteja diretamente ligada à inexistência de doença. A psicanálise questiona a diferença entre o normal e o patológico, afirmando que o indivíduo considerado saudável em seu meio pode estar doente de acordo com o ponto de vista clínico e/ou laboratorial Na contemporaneidade, pensadores se opuseram à ideia boorseana, contradizendo e combatendo-a, alegando o fato de que a saúde não é o oposto lógico da doença.
Segundo Canguilhem, o estado patológico é a falta ou excesso do
estado fisiológico, é uma variação de quantidade, mas não apenas isso, ele também implica a possibilidade de doença e de recuperação. Sendo assim, a ameaça da doença é um dos elementos que constituem a saúde.
O reducionismo, visto através da concepção biomédica foi muito
criticada por Canguilhem, que acreditava que a saúde nos permite viver em harmonia com o meio externo. Segundo ele, a clínica possibilitou a interação do médico com o paciente, de forma completa e individual, e não mais com a limitação de seus órgãos.
Concluindo, o último estudo sobre o conceito de saúde analisa o ser
humano como exclusivo, e relaciona diretamente as sensações com a dor e o prazer, ou seja, Canguilhem define que saúde não é um conceito científico, mas sim um conceito filosófico e comum, estando acessível a todos.
REFERÊNCIA
BATISTELLA, C. Abordagens Contemporâneas do Conceito de Saúde. In:BATISTELLA,
C.et al. Educação Profissional e Docência em Saúde: a formação e o trabalho do agente comunitário de saúde, Rio de Janeiro, p. 51-57, 2007.
MATTA, G. C, MOROSINI, M.V.G. Atenção à Saúde. Rio de Janeiro, 2009. Disponível
em:<http://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/atesau.html>. Acesso em 25 de junho de 2013.