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Francisco C. Weffort O populismo na politica brasileira 5 edigio PAZE TERRA (© by Francisco C. Welle, 1978 ciP-Bral. Catalogasso na Fonte Sindicato Nacional don Edtres de Livros, Rl Welfor, Pancico Cort. (0 populism na politica brie! Francico Cortés Welles — Rio de Jaco Pa eer, 2005 ISBN §5.219.0599.8 1. Brasil — Police govemo 2. Populism no Br! U Tine IL Sése Wa2ip cpp - 320156 320981 cpu - 3317 32081) Dios atguitido pea EDITORA PAZ E TERRA Sia Rondo Tinie 17 Sota Bits io ul, SP — CEP 01212010 Tel: (11) 3357-859 us Genel Venti Flores, 305 — i 08 "de Jn, RI CEP. 22441480 "Ta onl 251-748, E-mail vendss@panctrra com.br Home page: wor pazterr.com.be 2003 Imptsso no Brasil (Printed Breil Em meméria de don José Medina Echevarria ede Wilson Cantoni, por suas ligdes de vida e de iberdade Sumario Primeira Pare Capito 1 Politica de massas 1. Povo e democracia 2, Opovo no comicio 3.0 povo no govern" Capitulo tL Estado e massas no Brasil 1. Autoritarismo © democracia 2. Estado: mito © compromisso Capitulo IL © poputismo na politica brasileira 1. A crise da oligarquta e as novas classes 2. Estado e classes populares 5. Pressdo popular e cidadania 4.0 Estado em crise Segunda Parte Introdugio. 15 2 38 m 8 85 93 Capitulo TV Classes populares pol Partcipasao econdmica © paticipagio social Histsra e poder Capitulo V Liberalismo e oligarquia Hegemonia da burguesia agra [As “classes méilias”e a crise da oligarquia (Crise da hegemonia oligirquica Capitulo VI Urbanizagio, migragdes e populisme Populism e cidade Populismo e “*mobilizaga0 socal” Mobilizag30" e classes populares Capitulo VET Estrutura de classes e populisme Mobilidade e comportamento politico CCrescimento do emprego ¢ amplisg0 do consumo Populismo e alianga de classes Capitulo VII [Notas sobre a teoria da dependéncia: teoria ide classe ou ideologia nacional? Notas sobre a teria da dependéncia: classe © gio “Teoria da dependéncia™ ou teria do imperialsmo? tos 109 121 128 133 12 14 ISI 165 167 176 190 197 Nota do autor Como entender a formas populsas de emergéncia das mas- sas populares na politica? Como entender 0 duplo paradoxo do”) populismo, de setores dos grupos dominantes que promovem a par- filpago dos dominados e de masas que servem de suporte para um regime no qual sio dominadas? Os estdos reunidos neste volume apareceram, alguns hs véros anos, como aigos que sao hoje de dite acesso otros so captlos de tese universitra. As circuns- tinea eos motives que me levaram a escrevé-os soos mas diver- Sos, mato Tema € comum ees expresso ns peguntas que apre- senioscima. Quando comeyam novameate a aparecer no horizonte 6s sinais de um possvelressurgimento das classes populates na poles brasileira, aver valha a pena vltrareflei sobre as ex- pericias do passed, afinal So recente ainda. Esta € a razdo que tne lev aagrupar agi exes pequenos ensaios sole o Brasil que dio também lugar, especialmente na Segunda Parte do volume, a algumas referacits a Argentina e outros pales latino-amesicanos, ‘Os capitals da Primera Parte reproduzem, com igeiras alte ragies forms, o que eram quando de sua publicagio ein. L- Iiter-me apenas, edeiro do pssivel uma limpeza das repetigtes. Aitlsi de evitar em tabalos bee o mesmo tems que foram, como fstesesrtosem momentos ectcunstincias diferentes, “Politica ‘de massa” € de setembeo de 1963, quando 6 populism brasileiro tera poder vigete oa, plo menos, aparentava so. por isso que, no obwtane a ateragbes de redagio que se izeram necessis para $s publicagdo num livo organiza em 1965 por Otavio lana ‘manifesta ainda uma intenga0 polémica qe era a minha naguele ‘moment. Quando s dois anigos seguites foram claberados, Populism j era o pssado: “Estado e massas”€ de 1964 efi pu ica inicalmene pela Revista Latino-Amercana de Sociologia, de Buenos Aires; "O populismo ma poica taser” fob escrito em 1967 para um mero coletva da revista Les Temps Modemes. ot anizado por Celso Furtado, ‘0s capitolos da Segunda Parte so, com excepto do sltimo, ina ineditos em portugues. Foi s6nestescailos que me permit fazer algumas emendas de conte e, ainda asim, merameatesi- pressivas. Quem j se deu 20 trabalho de ler a minha tese de dou toramento,aresentada a Universidade de Sio Paulo em 1968, a ‘er venha a peweber que & publicago atl elimina, dentro do gue tno foi possvel, a adesdo &chamada “tera da dependénci, que tne areca, ao momento em que foram escrito estes capitals, um enquadramento necessci para nterpretagio do pops, Ven- do agora estes textos com uma distancia maior, patece-me, pelo cotriro, que as supressbes fits em nada alteram o andemento dos argumentos af apresentados.& que a minha compreensto da “toora da dependéncia ea, em 1968, apenas retéricaeidolosicn, ou seria aquela “teri apenas uma forma de retéricae de ideale. ia Pasadosjtantos anos ds debates sobre a "dependénia" no reio que a resposta a uma pergunta como esta enha hoje mai in- terese. Se a deixoassinalada aqui ¢ apenas para josificar a8 Si- esos feitas na Segunda Pate e para expica inelusio como «pt fnal,quase em forma de apne, de minha etca 30 “de- pendentismo”,eserta em 1970 para um debate com Fernando Henvigue Cardoso na Facultad Latino-Americana de Ciencias Sociales (Facio), de Santiago, Chile ‘io Paulo, 3 de abril de 1978 Francisca C. Welfort Primeira Parte CAPITULO 1 Politica de massas* 0 eA slogan de Antonio Carls em 1930 — “Fagamos a revolugio antes que 0 povo a fag” — constitu a diviss de todo © Periodo histrco que se abre com aquele movimento e se encera om 0 gope de Estado de 1964. Por forga da clisicaanecipago das “cites”, as massas populares permaneceram neste peiodo (© permanecem ainda nos diss aus) 0 pareito-fantasma no jogo pollice, Fora a grande fogs que munca chegou s pariciparaire- tamente dos grandes embates, sempre resolvides ene 0s quads poltios dos grupos dominantes, alguns dos quis reivindicando Dara si imterpetgolestima dos intereses populares. Em todas as crises, deste 1985, a imervengo do povo spareeu como poss bildade, mas o jogo dos pacers eis consis em avai, tact rene, imporncia desta intervengSoe em blefar sobre exe ed culo, Ainda nos debates de 1963 sobre a reformas de bas, por txcmplo, todos — mesmo 0s mais radcais— comportavar-se como Se experssem encontrar ura “Térmula” que tomasse desnecest fia aguetaparsipaso. Em pals algum terse-d observado ua Go ftsona busca de compromisso, até entre os grupos politicos mais, ntagénicos, qu evitasse a adicalizagio do press poco e seu éencaminhamento para solugdessurpreeadents ‘As vésperas do golpe de Estado de 1964, mas de 30 anos apés a revolugdo que demubou a Repiblica Velhs, ea inegével, conta. * Fst ago ¢ uma versio moificads de wm capitulo eseito em setembro 4 19630 texto aul toma por bse o publicado na cletinea Poca € tevolucdo soetal ao Brasil orgsnizada por Otavio lan para 9 Editors CCivieaSo Brasilia, em 1968 3 do, a marca do esptito oligirquico nas novas elites, repentinamen- te envelhecida ante a profundidade dos problemas que deveriam ‘uperi-la. Tomava-se evidente 0 esclerosamento dos quadros poli- ticos diame do agigantamento do fantasma popular, esclerosameno ‘que atingia mesmo aqueles que, adotando solugdes reformistas, pretendiam revigorar a velba divisa de 1930. As margens de eficé ia da tradicional politica de compromissos reduziam-se drasi mente, Desde 1961, com a renincia de Jénio Quadros & presidén- cia, a erise politica mostrava suas rales socais © econdmia e 08 politicos viam-se ante o drama de perceber que nem tudo se resu- ‘mia em “fGrmulas” de acomodagdo. A urgéncia crescente de solu- ‘es radieais para 0s problemas posts pelo desenvolvimento do ‘ais deinavam bastante claro que alguns Setores politicos deveriam Ser sacrificados, © no poderiam ser compreendidos no desfecho ‘ve se prenuncia. Nao obstante, desde 1961, © panorama permane- cia essencialmente estitco. Nenhum dos grupos policos realmen- te pretendia, apesar de muito que se falava no Pariamento, tomar a Iniciativa de abrir processo de lta, inseguros todos eles sobre os resultados finais. A elite politica encontrava-se, em conjunto © no cessencial,paralisada. Para disfargar sus importancia real, imag nava “formulas”, protelatérias e superficias, de acomodagio. O ‘que no impedia a ocorrncia de grandes batalhas no Parlamento: ‘0s reformistas mais raicais ameagando com povo, os reaions- Fios mais impenitentes condenando ex-ante a “baderna” que deve ria vir, sem que se soubesse como nem por ordem de quer, Aclite politica esperava, talver, uma solugSo providencia que a lberasse do pesado encargo de resolver qual 0 caminbo a tomar. A solugdo veio em 1964, sob a forma de um golpe militar que ra ddamente exeluiu do processo politico os setores reformisas. Ex> cluiu depois. setor por seto, praticamente tudo que restava da elite politica formada nas condiges cradas pela Revolugio de 1930. Excliu, inclusive, os setoes politicos mais eonservadores, alguns dos quis haviam apoiado o golpe (desde Juscelino Kubitschek até Carlos Lacerda). ‘As massas populares alo fizeram a “baderna temida pel ieita nem salram em defesa do governo Goulart, como esperavam, as liderangasreformists, Em abril de 1964, elas foram ainda wma uw _vezo parcero-fantasma no jogo politico: em seu nome o reformismo © 0 govero formulavam sua politica de referma agréria e nacions- lizapses: por temor de sua ascensio politica os conservadores © diretstas de todos os matizes uniram-se para a propaganda contra © govemo e depois para a répida adesio aos militares vitorosos. CContudo, as massas populares, com excegio de algumas agitaes esparsas no Rio de Jansiro no I* de able de uma indecisa e malo- sada palavra de ordem do cor por um greve gral, estiveram pra- ‘Assinalemos desde j4 que determinar o carter desta ausén- «ia envolve mais do que uma anlise das circunstincias que condu- zem A queda do governo Goulart, Com a sua queda, incia-se a que- bra do regime anterior e se atinge a liquidagdo de tod a elite pol- tiem: com a exclusio politica das massas populares inicia-se a ex- cluslo politica de quase toda a sociedade civil Basta por agora esta indieagio para termos sugerdo algo sobre o egime e sobre 0 qua- dro de relagdes de classe na poltca vigetes até 1964, CCabe-nos, neste ensaio, a tentativa de uma andlise de emet= ‘géncia das massas populares no quadro formado por estas rla- {es sociais © politics. Esperamos que deste exanie resulte algo Util para entendermos sua auséncia em 1964, bem como alguma indicagio sobee as posibilidades de sua presenga futura na hist6- fia brasileira 1. Povo e democracia Acris institucional que se manifestaem toda a plenitude, desde ‘a rendncia de Sinio Quadros, expressa-se, em verdade, em todas as Crises que desde 1945 assinalaram a histéria potice do Brasil. Por orga das transformagbes socais ¢ econdmicas que se associam a0 desenvolvimento do cepitalismo industrial e que assumem um ritmo mais intenso a partir de 1930, a democracia defronta-se — apenas ‘comega a instaurar-se no pés-guerra — com a taefa tigi de toda ‘democracia burguess: a incorporagdo das massas populares ao pro- esto politico, O erescimento das cidades e do proleariado lana & vida politica amplos contingentes da populagao, eo processo de absorgdo das massas passa & consitir uma dimensdo politica es: 5 sencial de novo periodo. Se eonseguirmos, no exame dos acontect ‘mentos, i além das sugestesilusorias do detalhe, encontraremos pressio crescente das massas sobre a estrutura do Estado como un das condigies decisiva das crises desta fase. Sob certos aspectos,pode-se dizer que crise de poder, nunca ‘io manifesta come no governo Goulart esté comtida em germe ‘na eleigdo do general Eurico Dutra, em 1945: candidato eminente- mente contervadoreleto, porém, com substancial ajuda do amplo prestigio popular de Getlio Vargas. Temos af uma solugio de com- promissos que ndo pode esconder as tenses que engendra e que se ddesenvolvem de maneirainevitével. Deste modo, podemos crer que ‘Vargas, jem 1950, quando se elege presidente diretamente pelo ‘oto popular, tocava o ponto essenial em comentiro que teria fe- to sobre a designagio de seu minisério: “Governo popula, minis- tério reacionéro; por muito tempo ainda teré que ser assim" Parece-nos desnecesséria insistr sabre a importancia das smascas nesta fase da histria brasileira, em que tem vigEncia uma constituigio democrtica,Diverss esritores, em particular os ide6- Jogos do nacionalismo, fizeram-no o bastante para que a nosio de- rocrétiea do pova como substato real do poder se tomasse, na ‘quela época, um dado da conscigncia politica brasileira, Os nacio- nalistas, em realidade, chegaram a ir mais longe, pois viram n0 ovo a categoria essencial, a reaidade bisica de nossa histria & festabeleceram, partir daf, uma ideologia politica e mesmo uma filsotia. Nao pretendemos tanto e nem nos parece que a nog8o do ovo sejafundaento slo para tudo isto. Em verdade, a exaltaio nacionalsta do povo confunde, em vez de esclarecer, sentido real «a partcipagdo poltica das masses. ‘Comecemos, pos, pr esclarecer que no é a redemocratiza- fo que vai provocar em 1945 a emergéncia politica das masses. A Importincia das formas democriticas esti em que legalizam, em bora de maneira rests, a possibilidade de que as inssisfagdes populares aleancems, com cera antonomis, 0 poder e interfiram em {uma condo tao poitcamente passva como a que se observa no periodo da ditadura. Desde 1945, © povo pode influir — e efetiva- mente o faz anda que apenas indiretamente na composigao de for ‘98 com as elites e em sua renovago,E alicergado no grande pres- 6 tigio popular construido durante a ditadura que Getilio Vargascom lama das alavancas para sobrepor-se ao ostracism a que fora lan- ado em 1945, de modo a infuir na eleigio de Eurico Dutra e, de- pois, voltar A presid2ncia em 1950, Outro exemplo desta relativa aulonomia popular no perfodo democritico & a surpreendente ele- ‘0 de Kinio Quadros para prefeito de Sio Paulo em 1953, quando cerca de 70% da populagio da cidade apeiando Quadros recusou a ltemativa que Ihe propunha o conjunto do sistema partido apota- do pelo governo do Estado e pela Presidencia da Replica, [Na inerpretasio do periodo que se abre em 1945, € preciso, Portano, ago descuidar a importincia do sufréio. Por menos que Se quera, este meio formal elimitado fot decisive como forma de expressio politica das massas populares. a Por certo, nlo se pode confundir povo com corpo eleitoral: a restrigdo do direito de voto aos alfabetzados afasta da aividade politica (e em ampla medida elimina) a maiora da populacio adol- {2 © 8 quase totaidade da populagdo rural. Este fato, que consti ‘uma das mais elamorosas injustias da democracia parcial instla- dda no pés-guerr, precisa ser adequadamente compreendido em seus efeitos politicos. De inicio, basta que nos Tembremos da posi de relevo ocupada pelas discusses referents & reforma agri para {que percebamos que os problemas rurais constituiram em 1962 e 1963 exatamente © nicleo da luta politica. Importa, porém, preci- sar a sinificagio dada & questo agi: a visio do pats — entre ‘cidade que cresce sob 0 impulso do desenvolvimento industrial e 0 ‘campo, onde ainda se observa a predominancia das estruturas de cadentes do velho capitaismo voltado para produts de exportagao — constituia © problema fundamental das elites governantes. Cel so Purtado define de maneira clara o aspect poltco desta preocu pagdo: tatarse-ia de elimina, por meio da incorporacio das mas- S88 rurais a0 processo demosrtico e as “vantagens do desenvolvi mento", a8 condigdes que as tornam acessveis & pregaso revolu- cionéra." A preacupagio com 0 campo tem também seu aspects tconfmico e este talver tenha sido mais importante, E de novo a Furtado, o mais inflvente economista do regime desde 0 governo Kubitschek, que devemos as iias mais dfundida a respeito: ta tar-sedia de eliminar os obsticulos impostos pela estrtura agrévia ” 4 expanséo do capitlismo industial pela reforma —, ou, quando menos, pela modemizagao agricola —, da qual se esperava uma ampliagdo do mercado interno de produtos industrais © uma reorientagdo da produgdo agricola com o objetivo de melhorar @ oferta de alimentos nas ciades ‘Contudo, a importéncia dada & questio agrétia no debate politico os timos anos do governo Goulart ndo deve nos leva 80 qutvoco de superestimar sua relevinca eal. De fto, cidade tem- se consiuido, desde 1945 quando menos, no cent Bisco da ag politica. Os problemas russ s6 tém conseguido expresso, tanto ha perspective reformista quanto em qUalguer ours, através dos problemas urbanos, O dimensionamento politic refomista da ques- tao agréra € batizado peas dificuldades encontradas no processo de desenvolvimento do capitlismo industrial, do mesmo modo que 48 proposigdes revolucionéias sobre © campo sioinfluenciadas pela natreza das insatsfaBes sociais urbanas. Desde a crise de 1928, que desariclou o velho capitalism agro voltado para a cexporigio, e desde a Revolugio de 1930, que rompeu a hegemonia| das oligarguias rurais, a cidade vem progressivamente oferecendo as condigdesecondimicas e poltias para proposigzo do conjunto dos problemas do pas. Nests circnstancis, as populagdes urba- tas representriam no conjunto do pov o coatingentepoicamente decisivo. Voltemos, pois, & questa do sufrigio como forma de expres- slo politica. Se observarmos, ainda que rapidamente, as forms assumidas pela partcipagio popular até 1964, perecberemos que (os resultados concretos de alguns grupos pace organizar as massas| Populares estio muito aquém do que pode resultado simples uso do dizeto de voto. E desneessério scorer aqui sobre a manifesta incapacidade de penetraga0 popular dos partidos. A opso eletoral tem sido decisiva eomo meio de exprssio, cmbora no envolva de ‘modo profundo 0 conjunto da personalidade socal © politica do eleitor como membro de uma clase. Pelo contro, na ausénia de partidos efcientes, o sufrgio tende a vansformar a relagéo poii- a numa relagdo entre individos Nio obsante tena crescido no perfodo Goulart a importin- cia politica das organizagSes sindicaise estudants, pesavam sobre clas limitagbes diversas. Anote-se, de inci, que toda a aividade 16 ‘que conseguiram desenvolver restringiu-se quase sempre a setores Iinortirios dos agrupamentos sociis que representavam, Os st dicatos exemplificam claramente este fate: a minora sindicalizada da classe aceita, em gera, a lideranga dos companheiros mais efi- cients na esfea sindical, mas isto no signfice que aceite aorien- tagio politica correspondente, Ela distingue ene agio sindical © agio politica, votando, por exemplo, em um comunista para dit Bene do sindicato, mas, conforme ocorreu com a maiora da classe ‘opetiria em 1960, que votou em Janio Quadros para presidente ‘embora os comunistas apoiasem outro eandidato.* ‘As associagSes tendem a constituir-se no propriamente em, fonte de poder politico, mas em mecanismo que ajuda a estabelecer as condigdes que o fazem mais eficiente. Est foi, essencialmente, 2 Tango das associagSes, inclusive as estudants (as quis, porém,so- freram limitagdes ainda mires, por se apoiaem em ums camada social em constanterenovagio e socialmente incapazes de definir ‘objetivs politicos préprios). No que se teere a esruturasindical, € fora de divida que, considerada em seuconjunto,elasecolocou como intermedidria entre o poder politico ea classe; pode-se mesmo dizer «que, de maneira geral, ela representou a class para reivindicapées condmicas junto do poder, por euro lado represent (com menor €xito) o poder junto da classe para apelos politicos. Sobre as organizagbes sindicais © que impora ter em conta & que, envelvidas na aniguidade do intermeditrio, dependem duran- te ado este periodo de um poder js consituido. Eis porque a influén- cia do getulsmo, do janguismo ou do janismo nos sindicaos oscila segundo o destino politico de cada um desseslideres politicos. Essa falta de astonomia das oxganizag6es sinicals€ apenas um aspecto dda dependéncia politica das organizagbes populares em geral (in- ‘elusive as partidias), em face do poder constiuide no Estado ou das regras de jogo ditadas pelos grupos no poder. Nao se sabe de nenhium movimento popular de opiniso (nacionalizagso do petrs- Jeo, carestia de vida etc.) que tenha conseguido manter uma posi io de efetiva independéncia diante das politcas governamentas. Para que qualquer movimento desse género tivesse ito, se- ria necessério conta pelo menos cam a complacéncia dos gover- ‘os, endo mesmo com apoio eventual de grupos vineulados aos » overnos. Into que € verdadeiro para 0s movimentos de opinido € igualmente verdadeiro, no gera, para 0s surtos de greves que se dbservam de modo intermitente desde 1945, e que tendem a ocoret exatamente quando a politica governamental se orienta para uma flexiilidade maior em relagio As reivindicagdes operas, ‘Tratese, com efeito, de uma situagdo em que a expresso politica popular é, esencialmene, individvalizada por meio do frégio (fendmeno que te associa a duas outras caratersticas da politica brasileira, a hiperrofia dos executivos eo elevado grau de personalizagio do poder governamental). E podemos perceber fa- ‘ilmente que essa manifesto indvidualizada e desorganizada das rmassas pelo voto, se ndo depende, como ocorre em ato rau com as associagdes, de um govern particular jé constituido, depende, po- rém, dretamente dos arranjos pré-eeitorais possiveis 30s grupos bes que esta pretendia preserva (e este desvinculamento é um dado Central se temos em vista entender sua conduta durante © golpe nilitar). Em verdade, 0 desprestigio do Parlamento, por exemplo, fra um fato bastante evidente desde hé muito tempo, Do mesmo ‘modo, era manifesto que a paricipagio clitoral das massa orien- tave-se predominantemente para 0s pleitos executives: como diria ‘Marx, o presidente “é o eleto da naga, ¢ @ lo de sua eleigio € 0 ‘runfo que © povo soberano langs uma vez em cada quatro anos”. Com efeito, desde 1945, qualquer politico que pretendia con uistar fungbes executivas com um minimo de autonomia em rela- ‘lo 20s grupos de imteresse localizados no sistema partido, deve- fia, embora de maneita parcial e mistficadora, prestar contas 35 rmassas eleitrais, S6 este fato significa uma alteragdo substancial ro processo politico a pari do fim da ditadurae, talvez por permese » toda a politica quotidiana, tem sido, paradoxalmente, descuidado fas apreciages sobre a democracia brasileira até 1964, Em verda- e, a simples circunstincia de que politico algum pode esquivar-se totalmente das expectativas populares, desvia de maneira radical aquele regime do Estado oligirquico anterior aos anos de 1930. A perplexidade amarga dos liberais vinculados as classes médias ta- dicionais diante da vitoria de Getdlio Vargas em 1950 € muito lucidtiva a respeito do carder explosivo da emergéncia politica ‘das massas: “No dia 3 de outubro, no Rio de Janeiro, era meio mi Ihdo de miseréveis, analfabetos, mendigos famintos € andrajosos, spirits recalcados e justamenteressentidos. individuos que se tor rnaram pelo abandono homens bosais, maus e vingatives, que des- cetam 0s morros embalados pela cantiga da demagogia berrads de jjanelas e automéveis, para votar na nica esperanga que Ihes res tava: naquele que se proclamava o pai dos pobres. o messias-char- Iatso.." ‘A sonsibilidade liberal tradicional foi imediatamente capa 4e registrar a diferenga politica do periodo que se abre em 1945, © Imanifestou desde logo sua decepgdo ante uma democracia em que 6 preciso “cortjar as massas". O impopular moralismo tradicional ‘exprime a repulsa contra o que se poderiachamar, de seu ponto de vista, de “popularizagio da corrupeo". Nas palavras de um jor lista liberal que analsa as eeigGes de 1945, a expicagio da derro- ta, que lamenta, de seu candidato estaria no que chama de “subor- no coleivo”:"(..) 0 voto secreto transfere 0 subomo do individuo para os grupos, as classes, os sistemas de interesse”* Desnecessé- rio mencionar que nesta repulsa diante da democracia de massas esté uma ponta de nostalgia dos tempos “austeros” da Repablica Velha, quando 0 suborao e a corrupgo eram apenas individuas. ‘© que se observa, porém, é que a democracia brasileira veio progressivamente deixando de Ser a mera formalidade, como o fora antes de 1930, quando apenas consagrava os ajuses de interesses fentre os grupos dominantes, Mesmo o moralismo tradicional € ¢3- paz de acentuar, embora de maneira deformada com “suborno co- let”, trago diferencia do novo periodo: 0s inteesses populares passam, a conta eo regime, de uma forma ou de outa, deve atendé- Tos. O voto secreto, a grande conquista da Revolugio de 1930, $615 a anos depois comega a produzir seus frutos. preciso ndo perder dé Vista o significado desta tansformagio: € a revolugio democriica se realizando Pobre revoluso, comparada a0 modelo europe, rio temes e nfo teremos outa, Diane dessa democracia que bus- cava razes nas massas, a classe mia tradicional desesperou-se ‘Marginal na Velha Repiblica, apoiada na grande propriedade da terra, marginal nesta democracia, que busca apoio nas massas — a classe média nunca encontou 0 terreno adequado para democra- cia, pura de suas preenstes aistociticas Sera talvez um pouco estranho atribui influéncia, como © temos feito até agi, 3s formas democriicas no Brasil. A demoers- cia, como ideal de vida potica, nunca chegou ater, entre n6s,con- Aigdes propicias de difuso, e & dificil goranir que possua razes sociais profundss. Ainda mais dificil € admitir que, no Brasil, © repime demoeriico possua a eficécia apregoada pelos nore-ame- ricanos como formula de equilfrio e de controle social. A histéia ‘brasileira desenvolveu nos politicos ¢ no povo uma aguda sensbili- dade em relago a0 poder uma conscincia clara, fundada em ind eras experincias, de qué a politica se resume em posgbes de for- ¢8© em ltas de intereses. Todos sabem. os politicos e 0 povo, ave & ormas fimadss na Constiuigdo 96 adguirem vaidade em vi tude dos conteidos particulars que assumem em cada easo, em rao dos iteresses mateiais qe coincidem com elas em circuns- ‘ncias determinad. io obstante, a democraca foi uma realidade no Brasil, tan- to quanto pode ser real a democracia burguesa. Nio, porém, no ‘sentido formal da vigéeiaimperativa de uma Constituga0, mas no _sentido de que a8 massas participaram do jogo politico. Da a rela- tva estabilidade do regime neste perfodo,ndo obstante as ropuras ‘eventusis da Consiuigo. Dai tamibém a parlisiaobservada entre 8 elites polticas 8s vésperas de 1964: quanto mais fortes as dificl- dades de composi ene os grupos polticamente dominates e, Poranto, quanto mas se desenvolve, em cade grupo, © anseio por olpes palacianos, mais claro fica que 0s golpes jé nio possuem ondigdes de sucesso duradouto se nfo tém cobertra popular or sanizada ou, altemativamente, se no so epazes de alia impla- Cavelmente a massa popular do proceso politico. Por outa lado, 2 a possibilidades de compromisso ene os grupos dominantes re duziran-se tanto que nenhum deles podiasrscarse a apelar 3s rasas,reeesos todos dendo poder conet 0 andamento do pro- cesso por me dersjstes de cul A elt reformist ea prove. ‘elmente a mais afcuda, imobilizada ene 0 impulos contadits- Fos de buscar uma solugdo pia com o gope (que tenfou com a propostamalograda de estado-de-sto em outubro de 1963) eape- far ds masss (0 que tentou no eomicio de 13 de maryo de 1963, «quando ji era demasiado tarde). Eafim,o fantasma popular tem has caesas; é dtl para as elites confitr no povo = Mas a democraia era real anda em outro sentido, Neste con texto, as mises faze mals do que parca De fto, ao presio~ tat © poder, de certo modo 0 confrmam,legimart-no; mobiiza- das 8 sombra do pode. em especial por grupos da esquerda nacio- nals, pode-se der que as massas populares resseniamse, JO meso modo que as elites embora sob formas distin, da perl sia que dominava a pltie oficial, Sua presdo sobre o Estado, que €creseente desde 0 inicio dos anos de 1950, jamais pode i além da ‘iagdo de formas erescentementeradicais de “oposgtes domésti cas” Paradoralmente, estas clases sociise economicamente do- minadastomavamese em lguma medida parcipes do grande com promisso socal em que se apoiava © Estado. Ao pressinarem © oder por meio de grupos politicos vinculados i ets, fazem-no ono $e elas prprasestivessem represents nel. Fazse neessro examinar mais de per o sentido da pat cipapdo popular por alguns de suss formas concres de mate tap pola: a ideranga de massas do tipo populit, que se cos Siuia'em uma das principais formas de imobiizagdo poles no periodo democréic, ¢ 9 nacionalio, ideologa que insptou a8 linhas hiscas da ago de diversas orgnizages de esquerda(prin- cipalment or) eteve grand infugacia sobre 0s sndieatoseasso- ciagdesextudants. : 2.0 povo no comicio © populismo manifests-se jé no fim da dtadura®e permane- cerd uma constante no processo politico até 1964. O que € 0 B populism? E curioso observar que a visio liberal oferece © con {edo bésico da nogdo usual sobre este fendmeno, Escrevendo $09 © impacto do fracasso de seu partido nas eleigdes de 1945 um ibe ral anota os seguintes “conselhos" a quem pretenda éxito na poiti= “ca: “Evite por todos os meios abrigar © povo a refleti. A reflexdo € um trabalho penoso a que 0 povo nfo esté habituado, DE-the sem- pre razio. Prometa-Ihe tudo que ele pede e abrace-o quaato pu det" Este solene desprezo pelas massas, esta incapacidade de en- tender um fato politico adverso, sio compreensveis vindos de una camada social decadent, cujo liberalismo perdeu sentido e cuja Sinica alterativa & tomar-se caudatéria dos interesses mais resco rérios. Para esta camada socal, em geral representada pela UDS, uma democracia com panticipacio de mass nada pode significar, pois as massas, continua o nosso liberal amargurado, tm uma “mesistiveltendéncia para 0 pha." E surpreendente, porém, que mesmo os idedlogos do nacio- nalismo ndo consigam, apesar de suas proclamagées de identifia- ‘lo com o povo, ir muito além dessa concepgio liberal esta for- jada nos horizontes ideolégicos da velha classe média brasileira DDefinem, em gera, 0 populism pelos seus aspectos exterires — a ‘ago Toi to longe que a grande premissa de sua esteaégia politica ‘nos ilimos anos do governo Goulart foram, por mais estranka que parega, exatamente os militares. Ou seja, colocaram no setor do Estado encaregado de preservéclo a “esperanga” de garantir a es- teatégia que chamavam revolucionsria, ‘Os nacionalistas, e com eles 0 conjunto da esquerda brasilei- + no apenas se fascinaram pelo Estado como tal, mas também pelos seus tragos oligrguicos. Deixaram-se fascinar também pela sistematicaoligirquica dos arrnjos e compromissos dentro do Par- lamento e do jogo dos partidos dominantes, Sobretudo, Lentaam tepresentar as massas jogando oligarquicamente acima delas, € assim prepararam sua prépria “traiglo" pelas massas. Incapazes de organiza com autonomia os movimentos populares € mantendo com as masses um vinculo unilateral de intengéo, perderam toda independéncia real perante © jogo entre 0s grupos dominantes © fasenio diante do Estado, no qual punham todas as espe- rangas, nfo permitiu aos nacionalstas perceber que o Estado, tal ‘como estava estruturado, jé nfo era capaz de nenhuma agio. Esta- ‘va de foto paralisado diate da erse vivida pelo pais, equilibrado pela impoténeia dos grupos que o compunham. O Estado “de todo 0 ‘pov0" estava imobilizado pelo eqilbrio da expresso poltica das ‘contradigbes dentro da sociedade que supunta representa Extava claro que aquele equilibrio de forgas contraditérias, ‘era insustentavel. Contudo, todos pareciam esperar que a Provi- ‘aca Ihes designass o camino a tomar: 0s partidos dominantes foram incapazes de oferecer qualquer alternativa, do mesmo modo ‘que os nacionalistascoataminads pelo estilo oligérquco das elites (0 conjunto da esquerda enveredado no reformismo nacionals. ‘a, O desenvolvimento histrico posterior & 1930 havia constitu, por meio do populismo de Vargas e de seus herdetos, a figura do ‘moderno Estado brasileiro, Mas esta se encontrava inacabada,im- 46 perfita, pois 0 fato de que o Estado do periodo populisa se tomas se aoessvel aos diversos grupos socaisevidenciava que o povo n80 era uma conunidade mas um conjunto de contradigdes. Quanto mais diretamente 0 Estado brasileito pretendeu representar 0 con- junto ds sociedade, menos ele se relizou como Estado e mais como ‘expressio de tensGes em desenvolvimento sta forma peculiar de revolusio democritica-bunsuesa, que se realizou por meio do populismo e do nacionalismo, s6 poderia ‘estar coneluida com o seu proprio desmascaramento. Com 0 golpe de 1964, o Estado projetou-se sobre o conjunto da sociedade e pare- ce dirig-la soberanameate, Esta transformagdo da imediata repre- ‘entagio contradtéria do povo & 0 ponto de chegada da evolugio histrica anterior e 0 comego de uma nova etapa. Necessariamente, porém, as massas populares no tm partcipagéo neste Estado que, fssim, desvenda sua verdadeira natureza de classe. Notas 1. Furtado, Celso, “Reflexses sobre a pé-revolsto Brasilia, Revista Brasileira de Ciencias Soca, mat. 1982-2. 2-1 2 Na leigespresidenciis em 1960, 0K 0 cnjunto da esquerda apis Tam o general Henngoe Lat, minsro da Guerra ho govern Kubisehek. {ot fr lang cand pla coligagso nr e fer una campaaha de unbo nacionalita. 530A ita €retada de not eaitrial da revista Anhembi 1, 1 ez 1980. 4 bens do Amal, O Estado de S, Paulo, 9/1198, 5. Amimeira fr de manifesto pout de massas —no estilo que sexs ‘domante po perododemcrticn ee dee das grandes manfesages feral comemoratves oa festivas do perodo tata fo 0 "qderemismo". ‘desgnagSo deriva do slogan (ns queremos Geto") do movimento de ‘opinio organizado por Vargas no fm da ditadura.E da mesma épocs © rvimenta da “Contitunte com Geli, do qua participa {6 Pino Barto, O Evtado de. Paulo, 2911957 TLE Cader do Nosso Tempo. 02 1984 1 Nunes Leal. V, Cornetioma entadae vot, edo ate, p 181 9 Op eit, p12. 10. Una ands das leiges de 1962, poled ser eacotraa em meu ai go sobre “As rales seis do populism em Slo Paulo" Revista Chia (ie Brasil, m2, 1965, CAPITULO II Estado e massas no Brasil* © profundo abalosoftido pela economia de exporago com a crise de 1929 e com a depressio dos anos de 1930 abre, no Bras as condigbes sociopoliticas iniiis para oprocesso de democratia. 0 do Estado, Com efeit, 2 Revoligdo de 1930 ¢ 0 ponte de parti 4a de uma nova fase na bistéria brasileira, em que se assste a um complexo desenvolvimento histrico polio cujos tagos dominat- tessioas endéncias de liquidago do Estado cligdrquico,aliergado cm uma esrutura social & base da grande propiedade agri vol tada pate 0 mercado extemo, ede formagio de um Estado demo- ctico, apoiado principalmente nas massas populares urbanas ¢ nos stores soca lgados&industrilizagao, Tem inicio, nesta épo- ‘i, a Tansgao que podera ser designada, nos termos da tipologia ‘de Geemani, como a passagem de uma “democacia com pari asdolimitads” a uma "democracia com patcipasio ampliads CCentamente, 0 perfodo que se estende de 1945 (fim da ditad- 1a Vargas ¢ inicio da redemocratizao) a {queda do governo Goulart realizanitidamente as tendéncias e forgas potticas que compiem as grandes coordenadss daguele proceso. Por se Waar de um peviodo de ampla ligerdadé de expresso o analsta pode aprender com maior clareza configura de poder ss tenses interes. Trat-e, ademas, de um situagSo em que aquela for {as.¢tendéncias amadoreceram plenamente¢ chegari = Versso modkficad do atgo publicado a Reva Chiliaedo Brasileira, 2.7.19, * \ de suas possibilidades de manifestagSo com a série de erses que termina em abril de 1968 ‘io obstante, parce-nos necessério propor esta tenativa de

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