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RESENHA

MACHEN, J. Greshan, D.D. Cristianismo e Liberalismo. São Paulo: Editora Os


Puritanos, 2001, 181p.

Gresham Machen, uma dos defensores mais articulados da teologia cristã ortodoxa contra o as
tendências do liberalismo e racionalismo cristão no início do Sec. XX. Nascido em Baltimore
em 1981, teólogo pelo Seminário de Princeton em 1902, onde posteriormente ocupa a cadeira
de Literatura e Exegese do NT entre 1906-1929. Estudou com iminentes professores como
B.B. Warfield, Gerhardus Vos, Francis Patton e R.D. Wilson. Estudou na Europa nas
Universidades de alemãs de Maburg e Gottingen com Johannes Weids e Adolf Gulidrer.

Cristianismo e Liberalismo - referência clássica na defesa do Cristianismo ortodoxo tem por


objetivo expor as falácias do Liberalismo. Nesta obra Machen apresenta a posição do
Cristianismo Ortodoxo em contraposição ao Liberalismo Teológico afirmando a posição
conservadora acerca da doutrina de Deus, Homem, Bíblia, Cristo, Salvação e Igreja. Nesta
discussão ele prova que liberalismo e cristianismo histórico são duas religiões distintas e
incongruentes, e que, protestantismo liberal não era um mero tipo de cristianismo diferente,
mas uma religião completamente distinta. Em decorrência desta disputa, Machen deixa ao
Seminário de Princeton e a Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos (PCUSA) para fundar o
Seminário Teológico de Westminster e a Igreja Presbiteriana Ortodoxa.

Esta obra continua sendo referência segura e de grande relevância e importância quase um
século depois da sua primeira publicação naquele momento de inquietação religiosa, quando
Machen tomou vigorosa posição contra a sutil influência do liberalismo na Igreja
Presbiteriana e no Seminário de Princeton.

No capítulo inicial o objetivo do livro é claramente evidenciado ao afirmar que “O propósito


deste livro não é decidir a questão religiosa dos dias de hoje, mas meramente apresenta-la da
forma mais precisa e clara possível a fim de que o leitor possa ser auxiliado a decidir por si
mesmo.”

Neste capítulo Machen apresenta a problemática religiosa do momento como um tempo de


conflito quando a grande religião redentora – Cristianismo luta contra uma forma religiosa
destrutiva da fé cristã. Para tanto, ele faz uma clara definição de termos apresentando
classificando “liberal” a religião arraigada no naturalismo, firmada na negação de Deus em
um contexto onde sobrepuja o conhecimento humano e a e avanço das ciências provocando
mudanças nas condições materiais da associadas as mudanças espirituais conduzindo o
homem ao isolamento e cobiça científica de maneira que têm conduzido ao erro na
abordagem que se faz em termos de investigação científica e religião.

No segundo capítulo a defesa é construída sobre a relevância preponderante da doutrina


baseada em eventos e fenômenos históricos claramente definidos e verificáveis em termos de
uma exposição de fatos sobre os quais a experiência é baseada, afirma o autor. Para
fundamentar a sua argumentação, neste capítulo o autor recorre à defesa doutrinária que o
Apóstolo Paulo faz acerca da morte e ressurreição históricas de Jesus Cristo como ato
triunfante da graça de Deus para provar que a igreja primitiva era dependente da doutrina na
construção da interdependência de evento e significado para a solidificação de uma religião
baseada no significado de fatos históricos definidos. Isto posto, ele afirma que o liberalismo é
um ataque frontal contra a Bíblia e contra o próprio Jesus.

No capítulo três, depois de retomar a defesa da necessidade dos eventos históricos


acontecidos no primeiro século para definição da questão doutrinária; Machen avança em
direção à apresentação das doutrinas básicas do evangelho cristão acerca de Deus e do
Homem e de como Deus salvou este último. No tocante a estes pressupostos o autor afirma
que o liberalismo é diametralmente oposto ao Cristianismo por negar a busca do
conhecimento de Deus numa insistente objeção às questões doutrinárias.

Para este conhecimento de Deus, ele evoca o mesmo tipo de relacionamento prático e não
apenas teórico que Jesus tinha com o Pai, o que deve ser característico do cristão.

Machen, no quarto capítulo observa que a doutrina liberal de Deus e do homem são
completamente divergentes à visão cristã acerca destes dois conceitos básicos da fé cristã, ao
afirmar que “a divergência relaciona-se não apenas aos pressupostos da mensagem, mas
também à própria mensagem.”

Portanto ele pontua que a mensagem cristã é oriunda da Bíblia, a revelação acerca do modo
pelo qual o homem pecador pode entrar em relacionamento com o Deus vivo.

Esta revelação, tanto no A.T. quanto no N.T. apontam para o evento histórico do Filho de
Deus sendo oferecido como sacrifício pelos pecados dos homens. Neste aspecto ele faz
objeção à experiência com forma válida para verdadeira fé, desprovida da sedimentação
histórica da vida e obra de Jesus na realização da obra redentora do homem pecador por meio
do sacrifício realizado na Cruz.

No capítulo V, depois de ter demonstrado que o liberalismo é distinto da religião cristã e da


sua mensagem acerca da visão acerca da doutrina de Deus, do Homem e da Bíblia ele passa a
enumerar as distinções acerca de Cristo e sua obra evidenciando o testemunho que o Novo
Testemunho apresenta sobre ele. Machen mostra que no Novo Testamento, tanto a
comunidade cristã primitiva, quanto o Apóstolo Paulo tinham Jesus não apenas como
exemplo de fé, mas claramente como objeto da fé. Uma fé construída sobre a obra redentora
de Jesus. Neste particular a distinção se dá pelo fato de ter-se ou não um relacionamento
pessoal com Jesus Cristo. Para o liberal, Jesus é apenas um exemplo de fé, jamais o objeto de
fé.

Neste aspecto em que o N.T. testemunha sobre o relacionamento com Jesus como objeto da fé
e Salvador em quem os homens deviam confiar o liberalismo diferentemente não goza deste
relacionamento, vendo-o apenas em termos de experiência religiosa.

Ao chegar ao sexto capítulo, depois de vir construindo a sua argumentação à partir das
doutrinas bíblicas basilares, Gresham Machen acrescenta a pedra angular do seu libelo ao
diferenciar entre a compreensão liberal e a bíblica referente à doutrina da salvação e expiação.
Para aqueles salvação é algo encontrado, onde lhes interessa, uma salvação centrada no
homem e a expiação e morte de Cristo apenas como um exemplo de auto sacrifício a ser
imitado. Assim a obra de Cristo, para os teólogos liberais, adquire um significado distinto
daquele que as Escrituras apresentam a respeito da obra redentora de Cristo como base única
para a redenção do homem. Salvação unicamente possível por meio do evento histórico
acontecido há muitos anos atrás, quando o Filho Deus morreu numa cruz em lugar do pecador
por causa do ódio de Deus ao terrível pecado e culpa do ser humano. Os liberais, afirma
Machen, em oposição criticam esta visão da salvação arraigada e dependente da história.
Contudo, ele observa; se a religião fosse independente da história, não haveria evangelho. E
ao tirar a salvação unicamente por meio da aceitação do Evangelho o liberalismo abdica da
característica mais óbvia da mensagem cristã. Por outro lado, o cristianismo vincula a
salvação unicamente à pessoa e obra de Cristo. A doutrina da Cruz é estranha e ofensiva ao
liberalismo.

Contudo, afirma Machen, na defesa do verdadeiro evangelho que “A morte expiatória de


Cristo, e somente ela, tem apresentado pecadores como justos à vista de Deus; o Senhor Jesus
pagou a pena total dos seus pecados e os vestiu com sua justiça perfeita ante do julgamento de
Deus.” Por fim ele conclui o capítulo asseverando que a vida cristã não é vivida apenas pela
fé, mas, também pela esperança e neste sentido algo processual e transformador que deve ser
experimentado em todas as áreas da vida humana.

Por fim, no último capítulo, a apresentação da distinção dos conceitos de igreja pelo
cristianismo é liberalismo são apresentadas. Embora ambos estejam interessados em
instituições sociais, Para o cristianismo este organismo – igreja é a reunião dos perdidos que
foram salvos e agora estão unidos em todos os lugares na irmandade da igreja cristã. Ao
contrário, o liberal afirma que o todos os homens, em todos os lugares, não importa sua raça
ou credo, são irmãos. Para o cristão a verdadeira irmandade é aquela composta pelos remidos,
a quem se reserva o termo “irmão”. Para o cristão conservador a igreja é a comunidade dos
pecadores nascidos de novo, a irmandade dos redimidos, onde o cristão encontra esperança
para a sociedades.

Para sanar estes problemas, Machen apresenta quatro medidas necessárias à igreja, hoje. a)
Encorajar aqueles que estão se engajando em lutas intelectuais e espirituais no propósito de
esclarecer de forma ordenada e positiva as riquezas completas do evangelho; b) Decidir sobre
as qualificações dos candidatos ao sagrado ministério; c) Mostrar sua lealdade a Cristo em sua
capacidade como membros de congregações locais; d) - o mais importante de todas - deve
haver uma renovação da educação cristã no combate da ignorância dos próprios cristãos
acerca do que é Cristianismo. Medidas urgentes e necessárias.

Por fim a obra é concluída com a afirmação de que é na vida cristã não há lugar para o
desespero e que se a Palavra de Deus for entendida, a batalha cristã será lutada tanto com
amor quanto com fidelidade. Como prova disto ele cita que batalha semelhante foi lutada e
vencida no segundo século. Enquanto a luta acontece diz: “as nossas almas são testadas”.
Finalmente, fica claro que para o Cristianismo a Igreja é a resposta cristã mais significativa
aos reclames da sociedade do da pessoa humana individualmente.
Considerações finais

Cristianismo e Liberalismo, obra publicada há quase um século atrás continua sendo


altamente relevante para dirimir as questões relativas aos aspectos teológicos e práticos que
distinguem o Liberalismo da verdadeira religião cristã. O conteúdo do livro logicamente
embasado e ao apresentar, refuta criticamente o liberalismo tanto de forma bíblica quanto
prática. Com coragem, inteligência e firmeza Machen defende a verdade cristã histórica.
Influenciador de vários escritores e instituições que têm se apegado a autoridade e inerrância
da Palavra de Deus.

A vida e obra de Greshan Machen é motivo para se dar glória a Deus por haver em um
momento crítico da história da igreja, levantado este servo para defender a verdadeira fé
bíblica dos ataques do liberalismo.

De argumentação qualificadamente técnica é indicado para pastores, professores de teologia,


seminaristas, líderes da igreja e daqueles que queiram renovar-se em termos de educação
cristã.

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