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Todos os seres procuram a felicidade e se livrar do sofrimento. Essa é uma afirmação que
conecta todos nós. Estamos a cada momento procurando ser felizes e nos afastar do
sofrimento. Cada um faz isso a sua maneira, e as vezes a busca do outro entra em conflito
com o nosso próprio interesse em ser feliz.
Felicidade genuína
Já que todos os seres almejam isso, é um tema super importante e precisamos entender as
verdadeiras causas. A felicidade vem do olhar que oferecemos ao mundo e não do olhar que
buscar retirar coisas do mundo. A felicidade é algo cultivado internamente e não algo que
vamos obter do mundo externo. Tudo que coletamos do mundo externo é insatisfatório e
transitório. A gente nunca chega a ter a sensação de trabalho finalizado.
No começo precisamos transformar nosso ruído mental — que é como um dia na bolsa de
valores — em relaxamento. Não vamos controlar a nossa mente. Vamos relaxar, aquietar o
conteúdo usual que fica emergindo a todo instante.
Não usamos a meditação apenas como uma espécie de anestésico para amortecer a nossa
confusão, e nem para criamos uma espécie de zona confortável, do tipo “ficar zen”, e sim
como plataforma para reconhecer nossas qualidades inatas. O objetivo não é criar um estado
pacífico de mente para se proteger das dificuldades e sim abrir espaço na mente para poder
acolher todas as dificuldades.
Meditar é trabalhar com a nossa pressa, com nossa inquietação, com nossa
constante atividade. A meditação provê espaço ou terreno no qual a
intranquilidade pode mover-se, onde pode haver lugar para ser intranquila,
onde pode relaxar por estar sendo intranquila. Se não interferirmos na
intranquilidade, ela então se tornará parte do espaço. Não reprimimos nem
atacamos o desejo de correr atrás de nossa própria sombra.
A meditação é uma ferramenta para descortinar uma nova forma de ver e se relacionar com a
realidade, onde as causas do sofrimento gradativamente vão diminuindo e nossa capacidade e
motivação genuína de ajudar as pessoas aumenta. Essa foi a razão pelo qual o Buda revelou
um caminho onde a meditação entra como uma dos principais mecanismos de transformação.
Começando a meditar
O que fazer com o corpo
Você não precisa ter a flexibilidade de um contorcionista do Cirque du Soleil pra começar a
meditar. Caso seja muito desconfortável sentar no chão, utilize uma cadeira. Independente da
forma que for meditar, não descuide sempre de duas coisas: o olhar e a coluna. Deixe seus
olhos abertos, olhando a frente, em direção ao espaço ou então no ângulo do nariz, pra baixo.
Certifique-se que a coluna sempre esteja alinhada e firme. É muito importante que ela fique
assim. E a respiração deixe acontecer naturalmente. Não tente controlar e não fique
preocupado se a inalação é maior que a exalação e vice versa. Fique a vontade, relaxe.
Tempo de meditação
Inicie com sessões curtas. Pode começar com 10 minutos. Durante o dia faça várias sessões.
À medida que for se sentido mais a vontade, aumente o período das sessões. Tente priorizar o
turno da manhã para realizar a prática. Especialmente logo após ter acordado.
>> Aceite todos os conteúdos que surgem na mente. Aceite no sentido de apenas estar
consciente, sem tentar reprimi-los ou encorajá-los. Não entre em julgamentos. Pensamentos
são apenas pensamentos. Não podem fazer nada sozinhos.
>> Não se previna contra a intranquilidade, porque senão viveremos numa eterna paranoia e
controle para evitar que isso aconteça, o que aumenta nossa tensão e ansiedade.
>> Não reprima suas emoções. Fique aberto. Não entre em pânico, a meditação fornece
ferramentas para simplesmente fazer seu trabalho completa e meticulosamente com elas.
>> Ruminação. Remoer assuntos que passaram e ficar remoendo sobre eventos futuros prende
a mente numa teia discursiva desgastante; ficamos com a sensação de sermos oprimidos por
nossa mente. Estudos neurocientíficos já mostram que 15 minutos de ruminação podem
ocasionar uma modificação cerebral. Se for ruminar, rumine coisas positivas. Imante a sua
mente com visões positivas.
>> Lembre-se: a mente precisa ser nossa aliada. Para acontecer isso, não podemos fazer nada
com força, tensão ou pressa.
Práticas
[1] Meditação de purificação - Mettabhavana
Foque uma pessoa, que pode ser você mesmo, e agora repita:
1.Que (...) seja feliz
2.Que (...) se liberte do sofrimento
3.Que (...) encontre as causas verdadeiras da felicidade
4.Que (...) supere as verdadeiras causas do sofrimento
5.Que (...) se libere totalmente do seu carma
6.Que (...) manifeste lucidez de modo natural e instantâneo
7.Que (...) seja verdadeiramente capaz de ajudar os outros seres
8.Que (...) encontre nisso sua fonte de alegria e energia
Sentamos confortavelmente em meditação. Então, deixe as coisas serem como são. Imagine
que você respira com todo o corpo. Você conecta a sua consciência com o seu corpo ao
observar as sensações que vão surgindo. É como se estivesse passando um scanner por todas
as partes do corpo. Comece na cabeça, os músculos do rosto, os ombros, barriga, pernas e até
a ponta dos seus dedos. Tente ver que o corpo e a consciência são a mesma coisa. Integre isso
em apenas uma experiencia. Aprecie a circulação da energia por todo o corpo. Não fique
seguindo seus pensamentos, mantenha o foco da atenção em seu corpo. Ao mesmo tempo não
caia em outra direção, como o entorpecimento, se esquecendo do que realmente está fazendo,
e como se começasse a dormir. De tempo em tempo, novamente passe o scanner em seu
corpo e localize regiões que possam estar tensas.
Focando na respiração
Sentamos com a sensação de já termos chegado. Sem ansiedades, sem objetivos, sem pressa
de que algo especial aconteça. Abandonamos toda complicação. Escolhemos um lugar
agradável e harmonioso. Em seguida, passamos a manter o foco da nossa atenção na
respiração. É o nosso guia. Quando notamos que nos desviamos, sem alarde, naturalmente
voltamos a focar a respiração. Não tentamos controlar nada, deixamos do jeito que ela estiver.
Somente prestamos atenção sem nenhum tipo de julgamento.
O Sutra da Perfeição da Sabedoria em Dez Mil Linhas d iz:
Elemento Éter - Sentamos e mantemos o brilho do olhar. Quando esse brilho enfraquece,
cansamos, a atenção fica difusa, e o interesse pelas coisas diminui. A mente possui
capacidade de fazer surgir o brilho no olho por si só, sem a necessidade de algo externo —
causal. Começamos por esse reconhecimento: brilho nos olhos, clareza da mente, um brilho
que se funde com a espacialidade da própria mente. Agindo de forma condicionada, nos
engajamos nos pensamentos e nas bolhas de realidade a partir do elemento éter. Surge um
pensamento e, sutilmente, dizemos “oh!” e entramos na corrente de pensamentos. Os
pensamentos produzem um brilho de um certo tipo em nós, e assim entramos na cadeia de
pensamentos discursivos. É através do brilho do elemento éter que nascemos com um corpo
sutil de uma identidade dentro de uma bolha particular. Se estivermos com excesso de
elemento éter, podemos ficar demasiadamente agitados e empolgados. Na sua falta, nos
tornamos apáticos e sem vida. E usualmente manobras as circunstâncias externas pra fazer
esse brilho interno surgir. Quando não conseguimos o que queremos, ou perdemos aquilo que
tínhamos, esse brilho desaparece.
Elemento Vento - Esse brilho da mente produz o elemento ar, nós respiramos. Elemento ar
trás o movimento que surge por dentro do brilho da mente; é o próprio movimento dos
pensamentos, das bolhas que vão se descolando por dentro do espaço da mente. Podemos
também levar a respiração, o movimento do elemento ar, para cada parte do nosso corpo. Se
estivermos com excesso de elemento ar, somos simplesmente arrastados de um lado para o
outro, literalmente ao sabor dos ventos cármicos. Na sua falta, nos tornamos densos, lentos.
Elemento Fogo - Da união desse brilho sutil do elemento éter com a respiração, o movimento
do elemento ar faz surgir um calor interno e o nosso corpo se aquece: surge o elemento fogo.
O elemento fogo produz uma sensação de vida, é o fogo criativo que , cria, dá significados, dá
cor às experiências. Veja a imagens internas surgindo e desaparecendo. Perceba que ao
expirar mais longamente surge um calor na região próxima ao umbigo. Se estivermos com
excesso de elemento fogo, nos tornamos impulsivos, impacientes e irritados. Na sua falta, nos
tornamos apáticos e sem energia e criatividade.
Elemento Água - Do elemento fogo vem a fluidez do elemento água, uma ausência de
rigidez. Sentimos nosso corpo leve, fluido, sem tensão, pronto para agir. Podemos visualizar
todo nosso corpo sendo inundado pela flexibilidade do elemento água. Veja que, o mesmo
fluxo que traz os pensamentos é o mesmo que leva, como um rio — então relaxe, não
controle, não tencione, apenas se mantenha calmamente consciente. Se estivermos com
excesso de elemento água, afundamos nas emoções e pensamentos, nos tornamos
excessivamente emotivos. Na sua falta, nos tornamos insensíveis e secos, sem a capacidade
de flexibilizar.
Elemento Terra - Na sequência surge a estabilidade do elemento terra, uma serenidade, uma
confiança e não oscilação do nosso movimento. Se estivermos com excesso de elemento terra,
nos tornamos rígidos, tensos. Na sua falta, oscilamos junto das experiências, sem estabilidade
nenhuma. De forma condicionada, todos nós aspiramos estabilizar tudo, ter experiências
sólidas como uma casa, um carro, um relacionamento, um emprego. Mas tudo se mostra
impermanente. Enquanto não reconhecermos a estabilidade proveniente da espacialidade da
mente, não vamos conseguir estabilizar nada.