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O uso pedagógico da Sala de Informática da escola

08/05/2010  PROFJC 51 COMENTÁRIOS

Desde o início da década de noventa alguns governos vêm investindo continuamente no


aparelhamento das escolas públicas com a implantação de Salas de Informática, também
chamadas de Laboratórios de Informática dentre outras denominações. No mesmo período as
escolas particulares também começaram a investir pesadamente na montagem dessas salas e
em equipamentos de multimídia, como datashows e telões.
A partir do início dessa década, lá por 2002, muitas escolas já dispunham dessas salas e de um
histórico de uso das mesmas, quase sempre ruim. Agora, no final dessa primeira década, já
temos condições de fazer um bom balanço desse processo e dos resultados advindos dele. E o
balanço é bastante negativo.

A implantação de Salas de Informática nas escolas se baseou, na maioria das vezes, no


pressuposto errado de que “faltava apenas o computador” para que o processo de modernização
das escolas e do ensino se desse de forma natural, como se isso fosse um processo simples e
automático. Além disso, como nossos gestores políticos entendem muito pouco de educação,
mas adoram fazer “investimentos”, as Salas de Informática configuraram-se como uma ótima
oportunidade para se gastar o dinheiro público com reformas e equipamentos, mas sem uma
preocupação verdadeiramente pedagógica por trás do investimento.

Ainda no início da década passada já encontrávamos diversas escolas onde esses computadores
estavam quebrados, desatualizados, sucateados e sem nenhuma manutenção. Agora, já
praticamente fechando a primeira década do terceiro milênio, a situação continua muito parecida
em muitos lugares. Computadores que custaram caro, pois o poder público é expert em gastar
mal o nosso dinheiro, continuam depreciando em centenas de escola sem nenhum uso por parte
dos alunos. Sobre a depreciação desses computadores e a necessidade econômica (além de
pedagógica) de seu uso, veja o artigo “Quebrando computadores“, escrito originalmente no início
de 2005 e republicado aqui nesse blog em 2008.
Paralelamente à falta de inteligência dos gestores públicos, vimos uma generalizada falta de
vontade de educadores que resistiram bravamente ao uso dos computadores, mesmo quando
estes estavam em plenas condições de serem usados. Sob argumentos que iam do “não preciso
disso” até o “não sei como usar”, foram poucos os professores que se dispuseram a aprender a
usar os computadores de forma pedagógica ou mesmo a repensar suas práticas pedagógicas
diante da necessidade de inserir seus alunos no universo digital onde eles, os alunos, e o próprio
professor, já vivem há muito tempo.

Agora, passadas duas décadas desde o início desse processo de inserção das novas tecnologias
na escola, já não faz mais nenhum sentido discutir se vale ou não a pena usar os computadores,
a internet e as TICs de forma geral. O mundo, independentemente da falta de vontade de alguns
professores e da má vontade da maioria dos políticos, já definiu que não poderá continuar
existindo sem essas novas tecnologias. É simplesmente impossível conceber um mundo e uma
escola sem essas tecnologias, a menos que se faça a opção por uma vida eremita.

Nesse contexto, o uso da Sala de Informática deixa de ser uma possibilidade a mais e passa a
ser uma necessidade que se impõe tão fortemente quanto a necessidade da lousa e do giz, que
ainda existirão por um bom tempo. Mas como promover esse uso?

Este artigo não pretende justificar a necessidade de se usar os computadores e a Sala de


Informática, mas ao invés disso pretende apontar algumas possibilidades de uso desse ambiente
de maneira que  o professor,  mesmo aquele que ainda não se sente seguro para desenvolver
atividades diretamente na Sala de Informática, possa dar aos seus alunos alguma possibilidade
de usá-la, independentemente dele usá-la também, se for o caso.

Pré-condições mínimas para o uso da Sala de Informática


Não faz sentido falar em uso da Sala de Informática se a escola não dispuser de, pelo menos,
alguns requisitos básicos que permitam esse uso:

1. A Sala de Informática deve se encontrar em condições físicas de uso (possuir mobiliário


adequado, instalação elétrica compatível, etc.) e, pelo menos, um computador
funcionando, podendo ou não estar conectada à internet;
2. Os alunos devem ter acesso permitido à Sala de Informática no contraturno do período em
que estudam e não apenas no período de suas aulas;
3. Deve haver um conjunto de regras de uso da Sala de Informática, visível na própria Sala
de Informática, e previamente apresentado, discutido e acordado com os alunos;
4. Se a escola não tiver um funcionário que possa cuidar do acesso à Sala de Informática,
deve ser montada uma equipe de alunos monitores que se encarregarão dessa tarefa;
5. A escola deve possuir alguma forma de garantir a manutenção de software (configuração
dos computadores) e, preferencialmente, também deve possuir alguma manutenção de
hardware e condições de substituir peças que podem se estragar naturalmente, como
mouses e teclados.
Uma boa Sala de Informática deveria ter em torno de 40 computadores conectados à internet por
banda larga de pelo menos 4 Mb, possuir periféricos (como impressoras, scanners, fones de
ouvido e webcan) e um datashow ou uma lousa digital. Porém, não é necessário que se tenha
uma Sala de Informática como essa para que se possa fazer um algum uso pedagógico dela, pois
mesmo com as pré-condições mínimas descritas acima é possível usar a Sala de Informática em
diversas situações.

Pós-condições mínimas para o uso da Sala de Informática


Havendo uma Sala de Informática que atenda esses requisitos mínimos, falta agora saber se há
na escola ao menos um professor disposto a cumprir seu papel de educador e não apenas o seu
compromisso de “dadador de aulas”. Na verdade todos os educadores deveriam ter uma
preocupação razoável com a inserção de seus alunos no mundo tecnológico onde se encontram,
mesmo que esses mesmos professores já tenham jogado a toalha no que diz respeito à sua
própria capacidade de continuar aprendendo.
Um único professor, que seja, que proponha ou execute atividades para as quais o computador
seja uma ferramenta, já possibilita o uso da Sala de Informática de forma pedagógica. Um grupo
de cinco professores fazendo uso intensivo das TICs já satura a capacidade da Sala de
Informática. Portanto não é preciso convencer aquele professor que só está preocupado em
contar os dias para a sua aposentadoria ou aquele outro que dá 60 aulas semanais em cinco
escolas e se diz sem tempo para fazer outra coisa que não seja escrever na lousa.

Usando a Sala de Informática sem nunca entrar nela


Desde que a escola disponha de uma estrutura que permita o acesso dos alunos à Sala de
Informática no contraturno (por meio de um funcionário encarregado de disponibilizá-la ou mesmo
de um grupo de alunos monitores) é sempre possível propor atividades para os alunos com o uso
dos computadores, mesmo que o professor se sinta constrangido em adentrar a um ambiente
onde ele é, muitas vezes, o mais ignorante dos presentes.

Todas as atividades listadas abaixo podem ser realizadas pelos alunos sem a necessidade de um
professor que os acompanhe:
 Pesquisa na internet: os alunos já fazem pesquisas na internet quando seus professores
lhes pedem “trabalhos”. O fato de muitos deles devolverem trabalhos que são meramente
cópias descaradas de sites, ou mesmo trabalhos já publicados na internet, depende muito
mais da incapacidade do professor em propor uma boa pesquisa do que da disponibilidade
de sites e trabalhos prontos na internet ou da “desonestidade” dos alunos. Para propor
uma boa pesquisa o professor não precisa sequer entrar na Sala de Informática, bastando
apenas que ele seja realmente um professor que saiba propor pesquisas (com ou sem
internet) e não um “dadador de aulas” que ao fim e ao cabo espera mesmo que o aluno lhe
entregue um punhado de papel e não que ele aprenda algo com isso. Aqui mesmo nesse
blog você encontrará alguns subsídios para compreender melhor o mecanismo de
pesquisa na internet (veja, por exemplo, o artigo “Pesquisa escolar na Internet: Ctrl+C &
Ctrl+V versus Cópia Manuscrita“) e sobre como propor boas pesquisas.
 Digitação de textos e elaboração de apresentações: Ao invés de solicitar que os alunos
criem cartazes e os pendurem nas paredes da escola, o professor pode propor que eles
apresentem seus trabalhos usando um projetor multimídia (se a escola dispuser de um) ou
mesmo usando uma TV com aparelho de DVD. Se o professor não faz idéia de como criar
uma apresentação de slides e então apresentá-la em um datashow ou em um formato de
DVD, não tem problema algum, pois seus alunos, que também não sabem, aprenderão
sozinhos, mesmo que o professor não se disponha a ajudá-los a aprender ou a aprender
com eles. A maioria dos alunos de hoje em dia é bem mais autônoma do que seus
professores e, por isso, conseguem aprender a fazer coisas que seus professores não
conseguem;
 Uso de softwares de criação e edição de imagens, vídeos e arquivos sonoros: os
alunos são capazes de ilustrar um trabalho com um vídeo produzido por eles mesmos,
usando seus celulares, e posteriormente editado no computador da Sala de Informática, ou
usar o mesmo celular para gravar uma entrevista e depois editá-la no computador,
transcrevê-la para um documento de texto e até mesmo publicar esse documento na web.
Não é preciso que o professor saiba nada disso, e mesmo se ele não quiser ou não se
sentir capaz para aprender, ainda assim ele pode solicitar isso a seus alunos e certamente
eles o farão, enriquecendo assim sua aprendizagem;
 Busca e uso de materiais didáticos alternativos: a internet é uma biblioteca literalmente
infinita onde os alunos podem encontrar informações e materiais didáticos sobre qualquer
assunto ou disciplina. Mesmo o professor que vive limitado aos seus poucos livros, às
vezes apenas um, deve ter consciência de que seu aluno obterá muito mais informação na
internet do que nas suas aulas e, portanto, não deve dispensar esse recurso como fonte de
informação para seus alunos. Evidentemente esperar-se-ia que um bom professor fosse
capaz de indicar os melhores sites para consulta,  os links para bons materiais
jornalísticos, etc., mas mesmo aquele professor que mal sabe para si mesmo ainda pode
indicar de forma “genérica” que seus alunos busquem mais informações sobre os temas da
aula no “Google”. O hábito de pesquisar informações e conteúdos na internet tende a se
intensificar cada vez mais e em breve poderemos aposentar enfim os professores cuja
única utilidade continua sendo copiar e colar na lousa os conteúdos pobres que ele dispõe
de um ou dois livros didáticos apenas;
 Aprendizagens colaborativas, redes sociais e multimeios: na Internet o aluno pode
fazer amigos, discutir assuntos de seu interesse, paquerar e surfar por temas que não tem
nenhuma relação com os conteúdos escolares, mas ele também pode participar de grupos
de discussão, pode tirar dúvidas com professores que não se sentem “velhos, acabados e
desestimulados” e que se dispõem a ajudar alunos que nem mesmo são seus. Nas redes
sociais também se podem formar grupos de estudo, pode-se paquerar ou fazer a lição de
casa “à distância”, pode-se matar o tempo vendo vídeos engraçados ou assistindo a
experimentos e demonstrações que muitas vezes seus professores se negam a fazer por
“falta de tempo ou de recursos”. Enfim, a internet também é, em muitos casos, uma escola
bem mais útil para o aluno do que a velha sala de aula chata onde uma voz monótona
repete parágrafos copiados de livros velhos;
Evidentemente há ainda muitas outras possibilidades para se abandonar seu aluno na Sala de
Informática e, mesmo assim, conseguir dele uma melhor aprendizagem do que a que ele obtém
apenas copiando aquilo que o próprio professor copia dos livros. E, evidentemente, também há
riscos e problemas diversos decorrentes desse abandono. Mas é melhor deixar que seu aluno
usufrua desses recursos na Sala de Informática do que privá-lo deles só porque o professor se
sente incompetente para acompanhá-lo nessa jornada. Se o professor sente que “não aguenta”,
que ele deixe que seu aluno vá sozinho, ao invés de puxá-lo junto consigo para as profundezas
do atraso.

Usando e estando presente na Sala de Informática


Para professores que não se sentem constrangidos em aprender e que se dispõem a participar
mais efetivamente do processo de ensino e aprendizagem com seus alunos, a presença na Sala
de Informática poderá não apenas enriquecer, e muito, a aprendizagem dos alunos mas,
principalmente, enriquecer a sua própria aprendizagem.

Ao propor uma pesquisa aos alunos e se dispor a acompanhá-los na Sala de Informática, o


professor tem a oportunidade de avaliar conjuntamente a qualidade, pertinência e eficácia das
informações encontradas nos vários sites pesquisados. Estando presente o professor pode
interferir e redirecionar o processo, pode corrigir, acrescentar, modificar e, acima de tudo,
aprender muito mais sobre o conteúdo que ele está ensinando.

Questões transversais mas de suma importância, como ética, preceitos morais e legais, regras de
comunicação e convivência, cuidados com a privacidade própria e alheia, cidadania e
responsabilidade, são temas presentes e recorrentes em toda navegação pela web. Quando o
aluno trabalha sozinho ele tem que aprender também a lidar sozinho com essas questões, mas
estando acompanhado por um professor, que se supõe poder orientá-lo nessas questões, ele
poderá construir melhor seu caráter e seus valores enquanto lida com “conteúdos e comandas de
trabalho”.

Além disso, estar presente com os alunos durante a atividade não significa ter a responsabilidade
de saber usar os computadores, os periféricos, os softwares ou o de deter conhecimentos
elaborados sobre os usos e recursos da internet. Assim como os próprios alunos, o professor
será sempre um eterno aprendiz das novas tecnologias e recursos. O papel do professor na Sala
de Informática não é nem nunca foi o de “ensinar informática”, mas sim e tão somente o papel
que ele tem fora da Sala de Informática: o papel de atuar como professor de sua disciplina e
como educador no que diz respeito à formação integral do indivíduo sob sua tutela educacional!

Levar uma classe inteira para a Sala de Informática também requer alguns desafios, mas que
nada têm a ver com a informática em si, e sim com a otimização do uso dos recursos disponíveis:

 trabalhando em grupos: é a forma mais racional de contornar a falta de equipamentos.


Mesmo assim, quando não for possível agrupar os alunos em um número de até no
máximo quatro por computador, divida a turma em dois ou mais blocos e enquanto um
bloco utiliza os computadores (em grupos de até quatro alunos), os demais blocos realizam
outras atividades que não requerem o uso do computador, alternando-se os grupos
durante o espaço da aula;
 organizando os tempos: é a forma mais racional de otimizar o uso da Sala de Informática
de maneira a garantir o uso dos equipamentos por todos os alunos. As atividades
realizadas na Sala de Informática com a presença do professor e da classe toda devem ser
dimensionadas de maneira a permitir sua execução dentro do período da aula;
 preparando previamente a atividade: é a forma mais racional de garantir a aprendizagem
efetiva dos alunos. Assim como em uma aula tradicional, se o professor entrar na sala de
aula sem um plano de aula previamente elaborado, e permitir que cada aluno faça o que
bem quiser, não haverá aprendizado algum.
 permitindo a aprendizagem colaborativa: é a forma mais racional de se obter produtividade
em um ambiente onde alguns sabem mais que outros e onde o professor geralmente não é
o mais capacitado para responder as perguntas específicas sobre o uso de equipamentos
e softwares. Os alunos se ajudam e compartilham seu conhecimento, se sujeitam a
aprenderem com os colegas e se interessam por aprender tanto quanto os mais
experientes. Embarque nessa idéia!
O gerenciamento da disciplina na Sala de Informática segue os mesmos preceitos do
gerenciamento em sala de aula normal quando se tem trabalhos em grupos. As regras de
convivência, respeito mútuo, preservação do patrimônio público e privado, respeito aos preceitos
éticos, morais e legais, devem ser as mesmas da sala de aula tradicional. Mas, se na sala de aula
tradicional seus alunos sobem nas carteiras, escrevem nos tampos das mesas e atiram papéis
uns nos outros, é muito provável que também o farão na Sala de Informática. De onde decorre
naturalmente que, tendo equipamentos caros na Sala de Informática, não é mesmo recomendável
que professores que não têm competência para administrar suas turmas as levem para esse novo
ambiente (ou para qualquer outro lugar). Nesse caso a experiência mostra que a ausência do
professor oferece menos riscos para o patrimônio da escola do que sua presença!

Extrapolando o uso da Sala de Informática


No cenário mais promissor temos, enfim, um professor que consegue realizar atividades com
seus alunos na Sala de Informática e que propõe atividades que os alunos possam realizar nesse
ambiente no contraturno, como tarefas de casa, trabalhos, pesquisas e outras possibilidades.
Evidentemente os alunos também podem fazer essas atividades em suas casas, desde que
disponham de computadores e acesso a internet, mas mesmo assim eles tendem a vir para a
Sala de Informática para fazer algumas dessas atividades quando elas são propostas para grupos
ou como parte de trabalhos multidisciplinares.

Nesse cenário, raro, mas já visível em vários locais, o professor usa os recursos da web 2.0 de
forma compartilhada com seus alunos, troca e-mails com eles, bate papo no MSN, participa de
comunidades do Orkut, de grupos do Yahoo e Google, mantém um blog compartilhado, usa
materiais e recursos da rede e propõe atividades on-line, síncronas e assíncronas.

Para um professor nesse nível de inserção com as TICs, a Sala de Informática já deixou de ser
um ambiente “extraclasse” e passou a ser uma extensão da sua sala de aula e esta, muitas
vezes, já extrapolou até os muros da escola e se estendeu pela rede, na forma de EAD e
comunidades virtuais de ensino e aprendizagem. Para esses professores esse artigo é,
obviamente, inútil, mas para todos os outros talvez haja algo que possa ser repensado e , quem
sabe, “pelo menos tentado”.

Um breve relato de estudo de caso de acesso facilitado à Sala de Informática


Em uma certa escola a Sala de Informática ficou fechada por muitos anos por falta de professores
que a utilizassem com os alunos e por miopia pedagógica da gestão local que preferia mantê-la
trancada para evitar “danos” do que abri-la para os alunos e permitir que, pelo menos eles, a
usassem. O resultado disso foi que ao longo de meia década a sala ficou sem uso e, quando foi
reaberta, por pressão de um professor que queria muito utilizá-la, seus equipamentos já estavam
danificados pelo envelhecimento natural, seus softwares estavam ultrapassados e a configuração
das máquinas já não era suficiente para atender às novas necessidades dos softwares.

Mesmo assim o professor abriu a Sala, recuperou os computadores, fez upgrade do hardware e
dos softwares onde era possível e passou a utilizá-la. Um ano depois a gestão da escola foi
trocada e a nova gestão aceitou com bons olhos o uso da Sala de Informática, mas não havia
nenhum funcionário disponível para garantir o acesso dos alunos.

A solução encontrada foi criar um grupo de alunos monitores cuja função básica era a de abrir e
fechar a Sala de Informática, registrar o uso dos computadores e manter a organização geral de
agendamentos de uso, além, é claro, de ajudar os colegas naquilo que sabiam. Mas nenhum
desses monitores tinha capacitação técnica para realmente “gerenciar” uma sala de informática
ou dar suporte técnico para os demais alunos além do básico.

Nos quatro anos seguintes a Sala de Informática funcionou normalmente e não houve uma única
ocorrência de vandalismo, depredação ou mesmo de mau uso dos equipamentos. Todos os
defeitos apresentados nas máquinas deveram-se ao envelhecimento e ao desgaste natural, como
mouses quebrados, monitores pifados, teclados com defeito ou mesmo placas de rede
queimadas.

Nesse período todos os alunos utilizaram a Sala de Informática  nos períodos da manhã e da
tarde, onde havia monitores, quase sempre sem a presença de algum professor ou funcionário da
escola. Eles mesmos passaram a cuidar da manutenção do software das máquinas, da limpeza e
conservação da sala e, alguns com conhecimentos mais técnicos, se ofereceram para pequenos
consertos. Não se registrou nem mesmo um único rabisco no mobiliário.

Com o tempo mais professores passaram a usar a Sala de Informática com seus alunos, ou
propondo atividades que poderiam ser potencializadas com o uso da Sala de Informática de
maneira autônoma pelos alunos. Aos poucos a cultura de uso e conservação da Sala de
Informática foi sendo construída e todos os mitos provenientes da ignorância e da preguiça (“os
alunos são vândalos e quebrarão as máquinas”, “vão usar a sala para tudo, menos para
aprender”, etc.) foram sendo abandonados diante da realidade nua e crua de que a Sala de
Informática é um patrimônio da comunidade escolar e não uma caixinha de brinquedos da gestão
local ou uma grande caixa de Pandora, de onde sairão todos os monstros dos pesadelos de
professores descomprometidos.

Então, será que já não é tempo de quebrar esses cadeados das portas das Salas de Informática
e das mentes retrógradas de alguns gestores e professores e devolvermos aos alunos o
patrimônio que é verdadeiramente deles?

Fonte Consultada na Internet:


ANTONIO, José Carlos. O uso pedagógico da Sala de Informática da escola, Professor Digital,
SBO, 08 maio 2010. Disponível em: <https://professordigital.wordpress.com/2010/05/08/o-uso-
pedagogico-da-sala-de-informatica-da-escola/>. Acesso em: 25 de março de 2020

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