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UNIP – Universidade Paulista

Instituto de Ciências Humanas


Curso de Psicologia

“DOZE HOMENS E UMA SENTENÇA”: ANÁLISE DO PROCESSO GRUPAL NA


PERSPECTIVA DA TEORIA DE ENRIQUE PICHON RIVIÈRE

Campinas/SP
2018
UNIP – Universidade Paulista
Instituto de Ciências Humanas
Curso de Psicologia

“DOZE HOMENS E UMA SENTENÇA”: ANÁLISE DO PROCESSO GRUPAL NA


PERSPECTIVA DA TEORIA DE ENRIQUE PICHON RIVIÈRE

Trabalho de Atividade Prática


Supervisionada, apresentado à disciplina
“Processos Grupais” do 7º semestre do
curso de Psicologia da Universidade
Paulista – UNIP.

Campinas/SP
2018

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SUMÁRIO

Apresentação...............................................................................................03
1. Contextualização da obra e do autor.......................................................04
2. Principais conceitos para a compreensão do processo grupal...............06
3. Análise do processo grupal evidenciado pelo filme................................08
4. Considerações Finais..............................................................................09
Referências Bibliográficas............................................................................10

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Apresentação

O presente trabalho tem como objetivo abordar, por uma perspectiva prática,
as ricas contribuições do autor Enrique Pichon Rivière, para o estudo e compreensão
dos processos grupais. Para isso, analisamos a clássica obra de Reginald Rose à luz
de seus pressupostos teóricos.
Dirigida orginalmente por Sidney Lumet em 1957, a obra intitulada
originalmente como “Twelve Angry Men”, foi traduzida e distribuída no Brasil como “12
Homens e uma sentença” e, desde então, vem sendo objeto de reflexão dentro e fora
da academia.
Durante esse trabalho, pretendemos estabelecer então uma linha lógica entre
os processos grupais visualizados durante o filme e as teorias desenvolvidas por
Pichon, acreditando que, com essa materialização do trabalho desenvolvido pelo
autor, possibilitaremos uma compreensão mais aprofunda das dinâmicas percebidas
a partir de suas contribuições, tão importantes para o desenvolvimento das práticas
psicológicas.

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I) Contextualização da obra e do autor:

Enrique Pichon Rivière, nasceu em Genebra, Suíça em 1907. Sua família


mudou-se para Argentina quando tinha 3 anos de idade e lá permaneceu até sua
morte em 1977.
Formado em psiquiatria, fundou a Escola Psicanalítica Argentina em 1940 e o
Instituto Argentino de Estudos Sociais em 1953. Foi um participante ativo dos
movimentos dos intelectuais de vanguarda de sua época, incorporando conceitos da
psiquiatria dinâmica com a psicanálise.
Rivière foi deixando a concepção de psicanálise ortodoxa, concentrando seus
estudos e prática nos grupos da sociedade e desenvolvendo um novo enfoque
epistemológico que o levou à Psicologia Social.
Trabalhou 15 anos no Hospital Psiquiátrico De La Merced, onde observou a
importância da família na recuperação dos pacientes. Dessas experiências
profissionais, Rivière criou a teoria do Grupo Operativo, que se constitui em uma
técnica terapêutica de atendimento grupal. Mais tarde, seus estudos também foram
utilizados na área de recursos humanos em empresas e, posteriormente, na área
educacional.
Para Rivière, o conceito de grupo é um conjunto restrito de pessoas ligadas por
uma tarefa implícita ou explícita, interatuando mediante a uma complexa troca de
papéis, sendo uma passagem do “eu para o nós”, da afiliação para pertença.
Segundo Rivière (1988), a teoria do vínculo é uma estrutura psíquica complexa,
que vai se construindo e sendo internalizada mutuamente na tessitura das relações,
o que possibilita aos integrantes do grupo operativo, meios para que eles entendam
como se relacionam com os outros.
Os papéis no grupo são constituídos de papéis verticais e horizontais, o vertical
está relacionado com a história pessoal e o horizontal está relacionado com o extrato
do grupo que pode ser consciente e inconsciente.
Estes grupos operativos são centrados na tarefa, diferente dos grupos
psicanalíticos que são centrados na pessoa e dos grupos centrados no grupo que são
baseados na teoria de Kurt Lewin, onde se analisa a própria dinâmica.
O princípio básico do grupo operativo é promover uma integração de seus
membros, de forma articulada, desenvolvendo a capacidade de trabalhar em equipe

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e com foco na aprendizagem. Desta forma, os participantes são conduzidos a
aprender a pensar e operar, desenvolver a capacidade de resolver contradições
dialéticas, sem criar situações conflitantes que imobilizam o crescimento do grupo.
Rivière defende que aprendizagem é sinônimo de mudança, inerente à
realização do objetivo do grupo, no processo de mudança, os grupos convivem
com dois medos básicos, relativos a perdas de suas conquistas e aos desafios diante
do novo. Assim, é instalada uma resistência no grupo que requer a elaboração desses
medos como condição para a realização da tarefa grupal.

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II) Principais conceitos para a compreensão do processo grupal:

Para se compreender o andamento de processos grupais é necessária uma


compreensão do ser humano em relação a essa questão grupal. O ser humano é um
ser social, e sua existência se baseia em função de seus relacionamentos grupais,
uma vez que ele nasce, aprende, trabalha e morre em grupo. Portanto, torna-se óbvia
a necessidade e importância do estudo da vida grupal.
Pichon-Rivière, é um dos fundadores da psicologia Social, que desenvolveu
todo o seu pensamento e teoria a partir de uma visão contestável da realidade, de um
raciocínio lógico que, embora compreensível em seu encadeamento interno, está
estabelecido em ideias apenas prováveis. (BASTOS, 2010)
Pichon, começou a trabalhar com grupos na medida em que observava a
importância do grupo familiar em seus pacientes, trazendo uma grande e original
contribuição para compreendê-los. Com isso, é interessante mencionar um elemento
muito usado por ele para pensar a realidade e o funcionamento dos grupos, o Conceito
Dialético. (BASTOS, 2010)
Dialética é o processo do diálogo, onde é possível confirmar uma tese através
de uma forte argumentação, que consiga desvendar com facilidade os conceitos da
discussão. Ou seja, é contraditar ideias e delas tirar novos conceitos que confirmem
o que está sendo dito.
Para uma melhor compreensão do conceito que nos leva em direção ao seu
uso na obra de Pichon, é relevante nos aproximarmos de outros conceitos-chaves,
entre eles, a totalidade, onde qualquer objeto que se possa perceber ou criar é sempre
parte de um todo, buscando nisso uma visão em conjunto gerando diversas teses,
dando continuidade a um processo de totalização que nunca alcança uma etapa
definitiva e acabada. Para simplificar, estamos falando da dialética como ciência,
como método científico de investigação e apropriação da realidade.
A teoria pichoniana é bastante rica e complexa, podendo ser abordada em
diversos aspectos e dimensões, porém para seguir o propósito deste trabalho,
optamos por um aprofundamento das ideias no que se refere à compreensão dialética
da realidade, ou seja, da dialética como sistema de conhecimento filosófico e científico
que, além de ser pano de fundo, traduz-se em uma teoria não observável, na qual se
trata de uma “discussão” do sujeito e dos grupos. Para Pichon-Riviére, todo grupo

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possui uma tarefa central, que se dá por meio da análise de as contradições e, para
isso, se analisa o presente momento no grupo, as situações e relações, os processos
de assunção e atribuição de papéis. (PEREIRA, 2013)
É interessante destacar que o ser humano é um ser de necessidades e, por
consequência, toda ação humana acontece com o intuito de satisfação de tais
necessidades, sendo que, quando são realizadas gerarão outras necessidades e
assim consecutivamente. O homem, nessa busca sucessiva, tende ao
desenvolvimento da aprendizagem, se deparando com aquilo que é novo.
O processo de aprendizagem, assim como o processo grupal, se dá por meio
de um permanente movimento de estruturação, desestruturação e reestruturação, que
pode ser representado pelo movimento que acontece entre o desejo de mudança, de
entrar em contato com o novo e os medos e ansiedades que levam a resistência.
Antes de comentarmos brevemente sobre a técnica do Grupo Operativo de
Pichon, é indispensável mencionar o quanto essa teoria tornou-se uma importante
ferramenta para o trabalho com grupos em variados contextos, pelo fato de centrar-
se na aprendizagem e na transformação, lidando com a dialética nos processos
humanos e grupais. (PEREIRA, 2013)
A técnica do grupo operativo é uma técnica não-diretiva, que modifica uma
situação de grupo em um campo de investigação-ativa. Para isso, o líder tem a missão
de cooperar com a comunicação entre os membros, a fim de que o grupo seja
operativo, isto é, que atravesse as dificuldades na resolução da tarefa. Aprender em
grupo significa uma leitura crítica da realidade, uma atitude investigadora, uma porta
para as dúvidas e para as novas inquietações. (PEREIRA, 2013)
Acreditamos que a técnica de grupos operativos, e as hipóteses que a
subsidiam, possam ajudar os psicólogos no sentido de promover uma reflexão sobre
a importância da coordenação e da representação em grupos em direção às possíveis
mudanças de seus integrantes diante das dificuldades e conflitos vivenciados por eles.

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III) Análise do processo grupal evidenciado pelo filme:

O filme “12 Homens e Uma Sentença”, conta a história de um jovem de 18 anos,


julgado e acusado de assassinar seu pai a facadas durante uma briga. A bancada de
juris foi composta por doze homens, com doze histórias, contextos sociais e,
consequentemente, opiniões diferentes.

De início, onze deles votam a favor da condenação do rapaz, que o levaria para
a cadeira elétrica, apenas um deles votou contra a condenação, alegando que não
tem certeza da culpa do réu, mesmo gerando revolta entre o grupo.

A história discorre a partir desse conflito, evidenciando cada uma das provas
que levariam o jovem a pena de morte e, ao mesmo tempo, exibe a vida de cada
personagem, que, um a um, vão mudando de ideia sobre a condenação do réu,
entendendo que não existe nenhuma verdade absoluta e nenhuma prova concreta
que consolide sua condenação.

Analisando o filme podemos ver como os processos grupais, podem interferir


no individual. De acordo com Enrique Pichon-Rivière o grupo se defini por pessoas
que têm como alvo uma tarefa em comum.

Pichon passou a vida dedicando-se ao estudo da realidade e do funcionamento


dos grupos e o objetivo principal de um grupo, sob sua perspectiva, é unir seus
membros de forma equilibrada e estratégica, de modo a executarem de maneira
harmoniosa e tendo como finalidade o aprendizado. Nessa perspectiva, todos
contribuem, cada um com sua experiência pessoal, por sua forma de ser e pela
relação que existe entre eles. Não obstante, durante essa execução, surgem
dificuldades de comunicação que são resultados de sinais emergentes de obstáculos
epistemológicos.

Porém o progresso é possível a partir da formulação de novos problemas, que


levam cada um a aprender com maior liberdade rompendo com os estereótipos e é
exatamente isso que o filme mostra. Pessoas com um objetivo em comum, porém um
com ideais diferentes dos outros e que, com isso, ao exibir sua opinião, consegue abrir
os horizontes dos outros integrantes do grupo para uma visão diferenciada, fora dos
pré-conceitos e estereótipos, nos quais estavam estabelecidos.

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IV) Conclusão

Através de uma análise técnica dos fatos, construída a partir dos pressupostos
teóricos da disciplina, foi possível perceber a imensa contribuição que o estudo dos
Processos Grupais promove às atividades concernentes ao ramo da psicologia.
O conhecimento da teoria de Pichon, nos possibilitou assistir ao filme “12
Homens e Uma Sentença” por uma nova ótica, onde os papéis desempenhados por
cada integrante saltaram aos nossos olhos, nos permitindo compreender a tarefa que
os unia e a formação de vínculos que foi se estabelecendo durante o seu decorrer.
Compreendemos que falar da obra de Pichon é falar sobre dialética, pois, como
visto durante o trabalho, o autor desenvolveu seu pensamento e suas teorias a partir
dessa concepção de realidade, a qual, uma vez aplicada à obra “12 Homens e Uma
Sentença”, nos permitiu concluir que não pode haver qualquer mudança ou
transformação sem diálogo, sem a troca, sem a palavra do outro elaborando sentidos
junto à minha, quer seja na mesma direção ou em razões contraditórias, mas sempre
em um movimento duradouro, dialético e flexivo.
Para futuros profissionais de Psicologia a teoria Pichoniana nos ensina a
considerar sempre o universo no qual o sujeito está inserido, pois tudo que o envolve
o afeta, como também aos seus comportamentos. Além disso, Pichon nos mostra
como terapias e trabalhos em grupos podem ser benéficas para o paciente, pois
estando em contexto grupal ele vê como pode aprender com o próximo, aprendendo
a se adaptar às diferentes opiniões e personalidades com as quais precisa lidar.
Com isso, concluímos que o estudo do funcionamento dos grupos operativos
presentes na nossa sociedade, são importantes para que possamos enxergar novos
meios de intervenção e interpretação dos sujeitos em meio a esses processos.
Podendo assim abranger todas as áreas da vida humana e não só as que nos são
passadas voluntariamente pelos pacientes, atingindo então maior sucesso nos casos
interventivos.

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Referências

BASTOS, Alice. A técnica de grupos-operativos à luz de Pichon-Riviére e


Henri Wallon, 2010. Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-
88092010000100010. Acesso em: 07 de mai.2018.

FONTES, Martins. O processo grupal: Pichon- Rivière. Encontro: Revista de


Psicologia, São Paulo, 2014. vol. 17, nº 26.

PEREIRA, Thaís. Pichon-Riviére, A Dialética e os Grupos Operativos:


implicações para pesquisa e intervenção, 2013. Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-
29702013000100004. Acesso em: 07 de mai.2018.

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