OESTE DO ESTADO DE SÃO PAULO Rodolfo Moreda Mendes Instituto Geológico-SMA, São Paulo, Brasil, rodolfo.mendes@igeologico.sp.gov.br
Daniela Girio Marchiori Faria
Instituto Geológico-SMA, São Paulo, Brasil, danielaf@igeologico.sp.gov.br
Jair Santoro Instituto Geológico-SMA, São Paulo, Brasil, jsantoro@igeologico.sp.gov.br
RESUMO: O trabalho apresenta os resultados de atendimentos emergenciais realizados pelo
Instituto Geológico, no âmbito das operações de Planos Preventivos de Defesa Civil (PPDC), em municípios da região oeste do Estado de São Paulo. Os riscos geológicos urbanos analisados estão associados a processos erosivos e de colapso de solo que comprometeram sócio e economicamente várias áreas dos municípios atendidos. Os processos ocorridos na região oeste paulista demonstram a necessidade de estudá-los mais detalhadamente, bem como avaliar sua associação com eventos chuvosos, visando propor técnicas e/ou instrumentos preventivos de gestão de riscos associados a tais processos para o enfrentamento dos problemas.
PALAVRAS-CHAVE: Riscos Geológicos, Colapso de Solo, Erosão, Atendimentos Emergenciais.
1 INTRODUÇÃO uma importância considerável para a
determinação das ações de redução e controle Os acidentes geológicos são responsáveis pela de risco. morte de milhões de pessoas ao redor do mundo No Brasil, o crescimento dos estudos ao longo do século XX, de acordo com relacionados à prevenção e controle de riscos estimativa realizada pelo Committee for geológicos é recente, sendo o Instituto Disaster Research of the Science Council of Geológico (IG) um dos principais núcleos de Japan, em 1989. pesquisas nesse tema no Estado de São Paulo. Uma das causas desse aumento de mortes O Instituto Geologico atua em atividades de relacionadas aos acidentes nas últimas décadas prevenção e controle de riscos geológicos é o crescimento dos centros urbanos e a urbanos no Estado de São Paulo a partir da conseqüente concentração populacional em realização de mapeamentos de áreas de riscos áreas suscetíveis a processos geológicos. associados a desastres naturais e atendimentos A análise de risco nas áreas urbanas é emergenciais durante a operação de Planos impulsionada pela necessidade de prever e Preventivos de Defesa Civil (PPDC). identificar as situações de risco, caracterizando Os riscos geológicos que ocorrem com maior os eventos potencialmente perigosos, freqüência no Brasil são: escorregamentos e determinando a freqüência e as condições processos correlatos, erosão continental e espaciais e temporais para a sua ocorrência, costeira, assoreamento, subsidência/colapso em indicando a probabilidade de danos sócio- áreas cársticas e em terrenos constituídos por econômicos. solos colapsíveis. É diante desse fato que os estudos sobre No Estado de São Paulo, mais riscos geológicos, voltados ao entendimento da especificamente na porção oeste paulista, os dinâmica e evolução dos mesmos, ganharam principais riscos geológicos urbanos identificados estão relacionados com processos 2 METODOLOGIA de erosão e colapso de solos. Os processos de erosão de solos são 2.1 Riscos Geológicos Urbanos Estudados caracterizados pelo comprometimento de grandes áreas urbanas afetadas principalmente Os riscos geológicos urbanos estudados por ravinas e boçorocas. Geralmente, tais envolvem fenômenos de colapso e erosão de processos são provocados por problemas no solos que atualmente representam os principais sistema de infra-estrutura urbana associado com tipos de problemas geotécnicos ocorrentes no a suscetibilidade natural do meio físico presente oeste paulista, onde os atendimentos na região oeste do Estado de São Paulo. emergenciais associados a tais processos são Recalques diferenciais em solos arenosos do cada vez mais freqüentes, principalmente em Grupo Bauru representam problemas comuns na períodos chuvosos. porção oeste paulista e a ocorrência desses A associação de características naturais do solos requer estudos específicos relativos à meio físico (geotécnicas, geológicas, identificação e caracterização de solos geomorfológicas, pedológicas e climáticas) com colapsíveis, visando a prevenção de danos em a deterioração ou ausência de obras de infra- sistemas estruturais de fundações de pequenas e estrutura urbana (e.g. sistemas de macro e grandes obras. microdrenagem de águas pluviais, redes de No Estado de São Paulo tem-se registrado a água e esgoto) tem proporcionado uma situação ocorrência de processos erosivos e de colapso de elevada suscetibilidade à ocorrência de de solos em diversas regiões do centro e oeste colapso e erosão de solos no oeste do Estado. paulista: Adamantina, Bauru, Ilha Solteira, Na Figura 1 são apresentadas algumas Itapetininga, Monte Alto, Pederneiras, Pereira regiões do oeste do Estado de São Paulo que se Barreto e São José do Rio Preto (Mendes 2001, caracterizam principalmente pela presença de Rodrigues 2007). solos originários de arenitos do Grupo Bauru, O Instituto Geológico a partir de um Termo os quais são extremamente suscetíveis à de Cooperação Técnica estabelecido com a ocorrência de processos erosivos (erosão Coordenadoria Estadual de Defesa Civil da laminar, sulcos, ravinas e boçorocas) e de Casa Militar (CEDEC-SP), realiza colapso de solo (recalques diferenciais). atendimentos emergenciais em áreas de risco por meio de vistorias técnicas, fornecendo apoio técnico e subsídios às prefeituras na implantação de medidas corretivas nas áreas afetadas. Neste contexto, o presente trabalho tem como objetivo apresentar os resultados dos atendimentos emergenciais realizados durante períodos chuvosos nos municípios de Adamantina, Dracena, Irapuru e Ilha Solteira, em virtude da ocorrência de acidentes associados a processos erosivos e de colapso em solos arenosos originários do Grupo Bauru. As informações do presente trabalho visam indicar aos gestores públicos municipais a importância do diagnóstico e análise dos riscos geológicos urbanos para que os mesmos possam planejar as ações preventivas de minimização dos danos causados por tais processos. Figura 1. Regiões do oeste do Estado de São Paulo favoráveis à ocorrência de erosão e colapso de solo. Os processos erosivos causados pela água diferencial, em geral de considerável das chuvas têm abrangência em quase toda a magnitude, devido à ruptura de condutos de superfície terrestre, em especial nas áreas com água ou esgoto. Outras fontes responsáveis pela clima tropical, onde os totais pluviométricos alteração das condições de umidade do solo são bem mais elevados que em outras regiões podem ser: infiltração de água de chuva, do planeta. Além disso, em muitas dessas áreas, fissuras e trincas em reservatório enterrado, as chuvas concentram-se em certas estações do ascensão do lençol freático, etc. ano, o que agrava ainda mais a erosão. Segundo Cintra (1998), são dois os A energia cinética da chuva determina a requisitos básicos para o desenvolvimento da erosividade, que é a habilidade da chuva causar colapsibilidade em solos naturais: uma estrutura erosão. A determinação do potencial erosivo porosa (alto índice de vazios) e a condição não depende principalmente dos parâmetros de saturada (baixo teor de umidade). Mas para um erosividade e erodibilidade do solo, e também solo colapsível entrar efetivamente em colapso, das características das gotas de chuva, que duas condições básicas devem ser atendidas: a variam no tempo e no espaço. elevação do teor de umidade até um Na medida em que uma grande percentagem determinado valor limite e a atuação de um das gotas maiores (> 4,0 mm) situam-se na estado de tensões crítico que, em fundações, é intensidade entre 50 e 100 mm/h, as energias representada pela carga de colapso (Cintra cinéticas maiores estão nesse intervalo de 1998). intensidade. Levando-se em conta que a energia Portanto, os solos suscetíveis ao processo de cinética está relacionada à intensidade da colapso apresentam uma grande sensibilidade à chuva, ela é função da sua duração, massa, ação da água, ou seja, o aumento do teor de tamanho da gota e velocidade (Guerra 1999). umidade é o mecanismo deflagrador do colapso. O tipo de solo determina a suscetibilidade ou Alguns indicativos da presença de solos potencial à erosão, ou seja, a menor ou maior colapsíveis são: baixos valores do índice de facilidade dos solos serem erodidos resistência à penetração (geralmente NSPT ≤ 4 (erodibilidade). Os solos mais arenosos, por golpes), granulometria aberta (ausência da exemplo, se desagregam mais facilmente que os fração silte), baixo grau de saturação (≤ 60%) e solos argilosos. Assim sendo, os solos grande porosidade, geralmente maior que ≥ identificados e classificados a partir da 40% (Ferreira et al. 1989). pedologia, com base neste conjunto de No Estado de São Paulo, destacam-se como características, sintetizam seu comportamento solos comprovadamente colapsíveis os solos frente à erosão (Santoro 1991). Por exemplo, originários do Grupo Bauru ocorrentes em solos do tipo podzólico são, em geral, mais diversas regiões do oeste paulista, conforme suscetíveis à erosão que os latossolos. Além resultados obtidos por Mendes (2001), Oliveira dessa característica, outras variáveis que (2002), Lobo et al. (2003), Rodrigues (2003), influenciam o potencial ou suscetibilidade à Menezes et al. (2004), Rodrigues & Lollo erosão (erodibilidade) dos solos são: (2004) e Rodrigues (2007). profundidade, textura, permeabilidade e estrutura (Santoro 1991 e 2000). 2.2 Características Gerais do Meio Físico das Os processos de colapso geralmente ocorrem Áreas Estudadas por causa do aparecimento acidental de uma fonte de água que passa a modificar as 2.2.1 Formações Geológicas condições de umidade do solo e, conseqüentemente, alterar o comportamento A partir de estudos anteriores (Arid 1966, dos sistemas isolados de fundações. Desta Mezzalira 1974, Barcha 1980), foi possível maneira, as fundações das edificações acumular muitas informações sobre a natureza implantadas em solos colapsíveis podem se litológica, estratigráfica e tectônica do Grupo comportar satisfatoriamente por algum tempo, Bauru. Os termos litológicos que constituem o mas bruscamente sofrer um recalque Grupo Bauru já são bem conhecidos, variando de arenitos com diferentes granulações, siltitos, espessura máxima compreendida entre 80 e 100 argilitos, conglomerados de seixos de argilitos e metros na região dos vales dos rios Santo calcáreos, distribuídos em diversas áreas do Anastácio e Piraposinho, no oeste do Estado, já Estado de São Paulo. próximo ao Pontal do Parapanema (Boian A Figura 2 apresenta a distribuição das 1995). unidades litoestratigráficas do Grupo Bauru no A Formação Adamantina ocorre por vasta Estado de São Paulo. O Grupo Bauru é extensão do oeste do Estado de São Paulo, composto pelas seguintes formações constituindo os terrenos da maior parte do geológicas: Caiuá, Santo Anastácio, Planalto Ocidental, só deixando de aparecer nas Adamantina e Marília. porções mais rebaixadas dos vales dos principais rios, onde já foi removida pela erosão. Estende-se ainda para o Triângulo Mineiro, extremo sul de Goiás, Mato Grosso do Sul, e mais restritamente, para o norte do Paraná. A Formação Adamantina abrange “um conjunto de fácies”, cuja principal característica é a presença de bancos de arenitos de granulação fina a muito fina, cor de róseo a castanho, portando estratificação cruzada, com espessura variando entre 2 a 20 metros, alternando com bancos de lamitos, siltitos e arenitos lamíticos, de cor castanho avermelhado a cinza-castanho, maciços ou acamamento Figura 2. Distribuição das unidades litoestratigráficas plano paralelo grosseiro, freqüentemente com aflorantes do Grupo Bauru no Estado de São Paulo marcas de onda e microestratificação cruzada (modificado de Paula e Silva et al. 2003). (Boian 1995). São comuns ocorrências de seixos de argilito Os arenitos da Formação Caiuá indicam o da própria unidade, cimento e nódulos início de deposição do Grupo Bauru em uma carbonáticos. A Formação Adamantina tende a área restrita, sobrepondo-se aos basaltos da apresentar sedimentos finos e bem Formação Serra Geral. A área de ocorrência selecionados, freqüentemente com mica e, mais restringe-se ao extremo oeste do Estado de São raramente, feldspato, sílica amorfa e opacos. As Paulo. Esta formação caracteriza-se por maiores espessuras dessa Formação ocorrem apresentar uma grande uniformidade litológica. geralmente nas porções ocidentais dos espigões A Formação Santo Anastácio ocorre sempre entre os grandes rios. Atinge 160 metros entre nas porções baixas dos vales vinculados aos os rios São José dos Dourados e Peixe, 190 afluentes do Rio Paraná e, restritamente, metros entre os rios Santo Anastácio e acompanha alguns vales de afluentes da Paranapanema, e 100 metros a 150 metros entre vertente norte do rio Paranapanema em contato os rios Peixe e Turvo, adelgaçando-se destas direto com o basalto da Formação Serra Geral. regiões em direção a leste e nordeste (Boian A litologia mais característica da Formação 1995). Santo Anastácio é representada por arenitos A Formação Marília aparece sustentando marrom avermelhados e arroxeados, de dois espigões alongados segundo WNW, granulação fina à média, seleção geralmente separados pelo alto vale do rio do Peixe. No regular a ruim, com grãos arredondados e espigão norte aparecem arenitos finos a médios, subarredondados, cobertos por película com arenitos muito finos subordinados, e níveis limonítica. Mineralogicamente constituem-se de seixos. Os arenitos são mal selecionados, essencialmente de quartzo, ocorrendo com arredondamento regular a ruim e subordinadamente feldspato, calcedônia e esfericidade predominantemente baixa. No opacos. A Formação Santo Anastácio apresenta espigão sul ocorrem arenitos grosseiros e recobre predominantemente colinas amplas com arenitos conglomeráticos, freqüentemente com declividade máxima de 15%, apresentando alta grãos finos, grânulos esparsos e níveis de porosidade e permeabilidade. seixos. Os grãos são subangulares, mal Os podzólicos ocorrem predominantemente selecionados e com baixa esfericidade. em relevo de colinas médias e de morrotes com Em ambos os espigões os arenitos são declividade superior ao de colinas amplas e constituídos de quartzo, feldspato, sílica amorfa apresentam uma quantidade maior de argila que e opacos, apresentando cimento e nódulos o latossolo. carbonáticos generalizadamente, com exceção A terra roxa estruturada e a terra roxa das intercalações. Matriz argilo-siltosa aparece legítima, além de ocuparem relevos de colinas em pequena quantidade. A espessura máxima amplas, com declividade baixa, possuem da Formação no espigão norte é de 180 metros, características físicas e químicas e quantidade com cota de nível mais baixa de ocorrência na de argila que oferecem uma maior resistência interdigitação em torno de 460 metros, e no ao impacto pluvial. espigão sul é de 110 metros, com cota de base Os solos hidromórficos ocupam em torno de 600 metros (Boian 1995). principalmente os fundos dos vales, cujos terrenos são baixos e relativamente planos, 2.2.2 Relevo situados próximo às margens dos rios e sujeitos, periodicamente, a inundações. O relevo da região oeste do Estado de São O latossolo vermelho escuro - fase arenosa é Paulo apresenta forte imposição estrutural, sob caracterizado por ter uma textura fina a média o controle de camadas sub-horizontais, com de alta porosidade e permeabilidade, teores de leve caimento para oeste, formando uma argila em torno de 15 %, com tendência a extensa plataforma estrutural suavizada, com aumentar em profundidade, podendo chegar a cotas entre 250 e 600 metros. 26%, com mais de 70% de areia. São, portanto, Nesta grande porção do interior paulista as solos arenosos, profundos, com boa drenagem. altitudes variam entre 300 e 500 metros e Estas características conferem a estes solos somente nos vale dos rios Paraná e grande sensibilidade à erosão, embora ocupem Paranapanema, assim como na foz de seus posição preferencial em relevo de colinas vários afluentes encontram-se altitudes amplas, que não favorecem o escoamento e inferiores a 300 metros. Somente no Planalto de compensam a fragilidade dos mesmos. Marília encontram-se cotas acima dos 600 A terra roxa legítima e a terra roxa metros, enquanto no seu entorno a altitude não estruturada originárias do basalto da Formação ultrapassa os 500 ou 550 metros, em desníveis Serra Geral, por exibirem textura média a muito que chegam a atingir de 100 a 130 metros (Boin argilosa, com alta capacidade de retenção de 2000). água conferem a este tipo de solo, uma baixa suscetibilidade à erosão. 2.2.3 Pedologia Os solos dessa região do Estado de São Paulo, quando analisados com base nas Os solos da região oeste do Estado de São informações levantadas na caracterização física, Paulo são derivados das rochas areníticas do apresentam relações litológicas e Grupo Bauru, em quase toda a sua extensão, e geomorfológicas que indicam sua de rochas básicas da Formação Serra Geral em suscetibilidade à erosão. algumas regiões menos abrangentes. Desta forma, e considerando os tipos de Estas rochas deram origem a cinco grupos de solos existentes no interior paulista e sua solo que correspondem aos podzólicos, à terra associação com os fatores geológicos e do roxa estruturada, à terra roxa legítima, ao relevo, montou-se um quadro síntese (Tabela latossolo vermelho escuro e aos solos 1), indicativo destas relações. hidromórficos. O latossolo vermelho escuro, fase arenosa, predominantemente constituídos por areia fina Tabela 1. Solos do oeste paulista e suas relações com pouco argilosa, vermelha ou marrom escura. O relevo, litologia e suscetibilidade à erosão (adaptado de processo de lixiviação dos finos dos horizontes Boin 2000). Formação Suscetibilidade superficiais resultou num solo poroso e Pedologia Relevo Geológica à erosão estruturalmente instável. Colinas médias e Solos morretes com Podzólicos declividade > 15 %. Santo Muito Alta a Alta (Variedade Escarpas Anastácio, suscetibilidade à Marília) festonadas com Adamantina e erosão. (Erodibilidade declividade entre Marília. 48,2 ton/ha) 15 e 30%. Colinas médias e Solos morretes com Podzólicos declividade > 15 %. Santo Alta a Média (Variedade Escarpas Anastácio, suscetibilidade à Lins) festonadas com Adamantina e erosão. (Erodibilidade declividade entre Marília. 34,4 ton/ha) 15 e 30%.
Latossolo Colinas amplas Caiuá, Santo Moderada
Vermelho com Anastácio e suscetibilidade Escuro declividade < 15%. Adamantina. erosiva.
Colinas amplas Baixa
Serra Geral Terra roxa com suscetibilidade (Basalto) declividade < 15%. erosiva
Coberturas Não suscetível à
Fundo de vales, cenozóicas erosão quando Hidromórfico mais em fundo de em ou menos planos. vales área de várzea
2.2.4 Clima
O clima do oeste paulista é do tipo tropical,
sendo caracterizado pela presença de um período seco (inverno), sob influência predominante dos sistemas polares e um período chuvoso (verão), influenciado pelos sistemas tropicais. A precipitação anual média varia entre 1200 a 1500 mm, enquanto a temperatura média anual permanece acima de 22° C. As características pluviométricas do interior paulista associada com as características geológicas, geomorfológicas, pedológicas e geotécnicas têm uma importância fundamental Figura 3. Sondagens SPT realizadas em regiões do oeste para os processos de erosão e colapso dos solos, do Estado de São Paulo (fontes: 3A-Rodrigues 2007, 3B- particularmente no que diz respeito às Giacheti et al. 2000, 3C-Mendes 2001, 3D-Rodrigues e precipitações excepcionais. Lollo 2004).
2.2.5 Caracterização Geotécnica dos Solos do Resultados de ensaios de sondagens de
Oeste Paulista simples reconhecimento (SPT) realizadas em diferentes regiões do oeste paulista, conforme Os solos do oeste paulista são, em sua grande apresentadas nas Figuras 3A-D, indicam que maioria, originários de arenitos do Grupo nos primeiros metros (<4,0 metros) o índice de Bauru. Em termos gerais, tais solos são resistência à penetração é muito baixo, (geralmente NSPT < 4 golpes), ocorrendo um Solteira-SP foi obtido por meio de ensaios crescimento praticamente linear com o aumento edométricos simples e duplos utilizando-se da profundidade. Além disso, observa-se que o diferentes fluidos de inundação para analisar nível de água é normalmente profundo, sendo sua influência no potencial de colapso dos solos raramente encontrado nos furos de sondagem, (I), conforme apresentado na Tabela 3. resultando em horizontes superficiais de solo Analisando a Tabela 3, observa-se que, além do não-saturado, predominantemente constituídos solo arenoso de Ilha Solteira-SP ser por areia fina, pouco argilosa, fofa e de potencialmente colapsível quando inundado, os coloração marrom vermelha. Em termos gerais, valores de potencial de colapso (I) podem ser observa-se também que quanto mais afastado significativamente maiores se a camada de solo das baixadas ou fundos de vales, mais profundo for inundada por esgoto doméstico. Nestas é o nível d’água e, portanto, maior a espessura condições os recalques diferenciais para dos horizontes superficiais de solo não fundações superficiais podem ser ainda mais saturado. catastróficos. Ensaios realizados em amostras deformadas coletadas em poços de inspeção têm Tabela 3. Valores de potencial de colapso (I) e apresentado algumas semelhanças entre as deformação específica (εv) dos solos de Ilha Solteira em características geotécnicas médias dos solos função de diferentes fluidos de inundação (Rodrigues 2003). arenosos do oeste paulista, principalmente em εv (%) Δεv (%) Fluidos de Inundação I (%) relação aos solos dos horizontes superficiais. Água destilada 8,28 23,03 - A seguir são apresentadas as principais Esgoto doméstico 12,14 25,96 2,93 características geotécnicas de solos típicos de Água sanitária 12,01 26,73 3,70 algumas regiões do oeste do Estado de São Detergente 8,46 24,08 1,05 Paulo. A Tabela 2 apresenta os valores médios Óleo 2,29 25,72 2,69 de alguns parâmetros geotécnicos típicos desse Sabão em pó 9,46 29,00 5,97 solo. A caracterização do potencial de colapso Tabela 2. Propriedades geotécnicas médias de solos arenosos do Grupo Bauru ocorrentes no oeste paulista. também foi realizada para os solos da região de Ilha S. J. Rio Pereira Pereira Barreto e São José do Rio Preto, a partir Propriedades Bauru1 2 3 4 de ensaios edométricos com amostras Solteira Preto Barreto Areia 74 65 67 72 indeformadas de solos. A Figura 4 apresenta Granulometria (%) Silte 11 8 8 6 resultados de potencial de colapso (PC) obtidos Argila 15 27 25 22 w (%) 10 11 8 7 em diferentes profundidades para os solos da ρ (ton/m ) 3 1,77 1,54 1,52 1,56 região de Pereira Barreto-SP. Na Figura 4 Índices Físicos n (%) 52 48 52 45 observa-se que a camada de solo superficial de e 0,67 0,86 0,93 0,84 S (%) 42 30 23 22 1,0 a 3,8 metros apresenta potencial de colapso Resistência c' (kPa) 14 2 - 5 (PC) considerado elevado (da ordem de 5,0 a (saturada) φ' (graus) 30 33 - 29 8,5%) para tensões de aproximadamente 300 Fontes: 1Lobo et al (2003), 2 Menezes et al. (2004) e Rodrigues & Lollo (2004), 3 Mendes (2001), 4Rodrigues (2007). kPa, caracterizando o solo da região como potencialmente colapsível. Alguns pesquisadores concluíram, a partir de ensaios de campo e de laboratório, que os solos arenosos do oeste paulista são potencialmente colapsíveis (Mendes 2001, Rodrigues & Lollo 2004, Menezes et al. 2004, Lobo et al. 2003, Rodrigues 2007), podendo inclusive oferecer riscos às construções, principalmente quando forem utilizadas fundações rasas implantadas em camadas superficiais. O potencial de colapso dos solos de Ilha 3 ATENDIMENTOS EMERGENCIAIS NO OESTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
Nos dias 26 e 27 de janeiro de 2009
aconteceram chuvas excepcionais na região de Adamantina, responsáveis por diversos pontos de enchentes e alagamentos, tendo como conseqüência a ocorrência de processos erosivos na área urbana de Adamantina e municípios vizinhos, causando danos econômicos severos (destruição de pontes, queda de muros, rompimento dos sistemas de drenagens e erosão em sulcos e ravinas). Segundo dados pluviométricos da Estação Experimental da Agência Paulista de Figura 4. Potenciais de colapso obtidos em diferentes profundidades para os solos da região de Pereira Barreto- Tecnologia dos Agronegócios (APTA) de SP (fonte: Rodrigues 2007). Adamantina, o acumulado de 24 horas no dia 26/01/2009 foi de 214,0 mm. No município de A Tabela 4 apresenta os resultados de Irapuru, o acumulado de 24 horas no dia potencial de colapso de solos representativos da 27/01/2009 foi de 249,1 mm (dados fornecidos região de São José do Rio Preto-SP. Observa-se pela Secretaria Municipal da Agricultura) e em na Tabela 4 que os valores dos potenciais de Dracena, de acordo com a Coordenadoria de colapso são elevados, acima de 2% para a Assistência Técnica Integral (CATI), o grande maioria das amostras ensaiadas, acumulado de 12 horas no dia 27/01/2009 caracterizando, portanto, tal solo como correspondeu a 298,0 mm. potencialmente colapsível. A partir da análise comparativa dos valores de precipitação horária com os dados Tabela 4. Valores de potencial de colapso dos solos (PC) pluviométricos médios mensais dos respectivos de São José do Rio Preto (Mendes 2001). municípios, conforme apresentado nas Figuras Amostra w (%) S (%) e0 PC (%) PCMédio 5 a 7, nota-se que as chuvas excepcionais que PA – 1m 5,8 17 0,96 0,22 ocorreram nos dias 26 e 27 de janeiro foram PA – 2m 10,4 27 1,06 2,04 0,99 iguais ou superiores as precipitações mensais 8,2 23 0,98 0,72 médias do mesmo mês, considerando a série PA – 3m histórica de aproximadamente 50 anos. PB – 1m 5,5 16 0,97 1,83 PB – 2m 6,4 17 1,02 2,85 3,47 PB – 3m 5,9 16 1,04 5,73 PC – 1m 5,8 17 0,93 7,27 PC – 2m 5,0 14 1,00 9,68 6,8 PC – 3m 4,3 11 1,07 3,45 PD – 1m 5,9 18 0,90 2,34 PD – 2m 8,5 23 1,03 2,12 1,85 PD – 3m 5,9 16 1,00 1,1 PD – 7m 11,7 36 0,90 1,76 PE – 1m 8,7 22 1,06 3,21 PE – 2m 7,6 26 0,81 3,97 4,66 Figura 5. Dados pluviométricos do município de PE – 3m 7,6 21 0,99 6,8 Adamantina – pluviograma acumulado médio mensal do período de 1956 a 2000 (fonte: DAEE 2003). Figura 8. Ocorrência de processo erosivo no município de Pacaembú-SP (fonte: Folha Regional 31/01/2009 – www.ifolharegional.com.br). Figura 6. Dados pluviométricos do município de Irapuru – pluviograma acumulado médio mensal do período de Este exemplo foi observado nos demais 1949 a 2000 (fonte: DAEE 2003). municípios atingidos pelas chuvas excepcionais dos dias 26 e 27 de janeiro de 2009. A Figura 9 apresenta processo erosivo ocorrido no município de Irapuru-SP, num local desprovido de pavimento asfáltico e de sistema de drenagem pluvial.
Figura 7. Dados pluviométricos do município de Dracena
– pluviograma acumulado médio mensal do período de 1950 a 2000 (fonte: DAEE 2003).
Esses eventos chuvosos foram responsáveis
pelos atendimentos emergenciais realizados pelo Instituto Geológico nos dias 29, 30 e 31 de Figura 9. Ocorrência de processo erosivo no município janeiro de 2009, nos municípios de de Irapuru-SP (fonte: Acervo IG-SMA 30/01/2009). Adamantina, Irapuru e Dracena, respectivamente. No dia 23 de janeiro de 2009, em A Figura 8 apresenta um exemplo de atendimento ao Termo de Cooperação Técnica processo erosivo em ravina ocorrido na região IG-CEDEC, ocorreu vistoria técnica no de Adamantina-SP, devido à concentração do município de Ilha Solteira (SP) devido ao escoamento de águas pluviais em superfície agravamento dos recalques diferenciais nas associado à deficiência do sistema de drenagem moradias. pluvial. Segundo dados Agrometeorológicos do Departamento de Engenharia Hidráulica e Irrigação da Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira (FEIS-UNESP), a precipitação do dia 22/03/09 foi de 0,5 mm, o acumulado de 72 horas no dia 22/01/2009 foi de 0,8 mm e o acumulado do mês de janeiro de 2009 até o dia 23/03/09 foi de 89,9 mm. Comparando o acumulado do mês de janeiro Tais áreas atendidas e vistoriadas estão até a data do atendimento (23/03/09) com a situadas em zonas com “Alto” (Área 1 e 2) e média mensal para o mês de janeiro da Figura “Médio” (Área 3) graus de risco a colapso, 10, nota-se que a precipitação acumulada é conforme zoneamento da carta de risco a substancialmente inferior ao já registrado colapso elaborada por Oliveira (2002), anteriormente neste mês. Além disso, observa- apresentada na Figura 11. se que a precipitação do dia 22/03 e o Durante as vistorias das moradias situadas acumulado de 72 horas foram praticamente nessas três áreas foram constatadas diversas insuficientes para proporcionarem uma trincas a 45° nas paredes e nos pisos de diversos infiltração significativa das águas de chuva e, cômodos, conforme apresentado nas Figuras 12 conseqüentemente, a elevação do teor de e 13. A Figura 12 apresenta, em detalhe, trincas umidade do solo na área urbana. a 45° com abertura de aproximadamente 5,0 mm na parede da sala de uma moradia situada em área de risco alto a colapso, enquanto a Figura 13 apresenta trincas a 45° com cerca de 4,5 mm de abertura na parede do quarto de uma moradia situada em área de risco médio a colapso de solo.
Figura 10. Dados pluviométricos do município de Ilha
Solteira – pluviograma acumulado médio mensal do período de 1970 a 2000 (fonte: DAEE 2003).
No município de Ilha Solteira-SP foram
vistoriadas várias moradias situadas em três diferentes áreas denominadas de Área-1 (Passeio Teresina), Área-2 (Passeio Imperatriz) Figura 12. Ocorrência de trincas na sala de moradia e Área-3 (Passeio Fortaleza). situada na Área-2 (fonte: Acervo IG-SMA 23/01/2009).
Figura 13. Ocorrência de trincas num dos quartos de
Figura 11. Carta de risco de colapso de solos para a área moradia situada na Área-3 (fonte: Acervo IG-SMA urbana de Ilha Solteira-SP e respectivas áreas vistoriadas 23/01/2009). (modificado de Oliveira 2002). As características de movimentação do Os atendimentos emergenciais realizados terreno, representadas pelas diversas trincas pelo Instituto Geológico e apresentados neste observadas durante trabalho de campo, sugerem trabalho, demonstram a necessidade da adoção haver recalques diferenciais nas fundações rasas de medidas estruturais e não estruturais para o das moradias. Os recalques diferenciais foram enfrentamento do problema. motivados pelo colapso da camada superficial do solo, devido ao vazamento de tubulações AGRADECIMENTOS (esgoto e água) e do sistema de drenagem de água pluviais, que se encontram total ou Os autores agradecem aos Coordenadores parcialmente deteriorados, pois a hipótese de Regionais e Municipais da Defesa Civil pelo colapso por infiltração de água de chuva foi acompanhamento durante os trabalhos de descartada, conforme pôde-se observar pelos campo e a Coordenadoria Estadual de Defesa dados de precipitação apresentados Civil da Casa Militar (CEDEC-SP) pela anteriormente. No entanto, acredita-se que as operacionalização dos atendimentos infiltrações promovidas pela água de chuvas emergenciais através do Termo de Cooperação possam agravar ainda mais os processos de Técnica (PPDC). colapso de solo observados, principalmente durante períodos de chuvas intensas. REFERÊNCIAS
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