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Adultos: Fundamentos
e Práticas
Material Teórico
Formação do Educador para a Educação de Jovens e Adultos
Revisão Textual:
Profa. Ms. Rosemary Toffoli
Formação do Educador para a Educação
de Jovens e Adultos
O objetivo central desta unidade é conhecer e compreender o debate atual em torno da identidade
e compromisso do educador de jovens e adultos, sua formação como alfabetizador e educador
comprometido com o processo de escolarização da Educação de Jovens e Adultos.
Assim, nesta unidade, contextualizamos a questão da identidade do educador da EJA e da
sua formação e expomos os desafios políticos e pedagógicos da formação desses educadores
no Brasil. Apresentamos o contexto das décadas de 1990 e 2000, a legislação e o debate
sobre o educador da EJA e analisamos os desafios que se colocam para uma formação
específica, considerando aspectos políticos e pedagógicos.
As atividades da unidade consistem na leitura do material teórico e complementar, na
realização de estudos de aprofundamento por meio da utilização de espaços interativos
como o fórum de discussão. Quanto à atividade de sistematização do conhecimento, você
terá acesso a seis questões de autocorreção
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Unidade: Formação do Educador para a Educação de Jovens e Adultos
Contextualização
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Os Programas de Alfabetização de Jovens e Adultos e a formação
do educador
A partir da década de 1990, assistimos na Educação de Jovens e Adultos a tendência à
descentralização do financiamento e dos serviços, bem como o deslocamento dos programas de
EJA de setores de gestão educacional para outros setores da administração pública.
Os três programas que apresentam como traço comum estas características não foram
coordenados pelo Ministério da Educação e foram desenvolvidos em regime de parceria entre
Governo, Organizações Não Governamentais e Empresas. São eles:
1. PAS – Programa Alfabetização Solidária, idealizado em 1996.
2. PRONERA – Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária – delineado em 1997.
3. PLANFOR – Plano Nacional de Formação do Trabalhador – idealizado em 1995.
Eram programas de alfabetização de jovens e adultos desvinculados do Ministério
da Educação, todos apontavam para um processo de alfabetização aligeirado e com
alfabetizadores populares, com uma formação precária para exercer o papel de educador.
Mais uma vez deparamo-nos com a dificuldade da EJA em adquirir um estatuto próprio
e constituir-se enquanto política educacional comprometida a romper com a visão
assistencialista muito presente nesta modalidade de ensino.
A partir de 2002, a política de EJA passou a ser vista como responsabilidade do Ministério
da Educação e foi criada a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade
e Inclusão que, em articulação com os sistemas de ensino, tem elaborado e implementado
políticas direcionadas a alfabetização e educação de jovens e adultos. Ocorre, assim, a
institucionalização da EJA e assume-se o compromisso com esta modalidade na qualidade
de educação, rompendo com a visão assistencialista que até então tinha sido tratada em
diferentes contextos e políticas de governo.
Esta alteração de status da EJA a partir de 2002 representou um ganho no campo das políticas
de educação, bem como a conquista de um estatuto próprio e a constituição da EJA como
campo pedagógico. Para que pudessem atender as demandas de EJA, o SECADI foi dividido
em diferentes diretorias, dentre elas, encontramos a Diretoria de Políticas de Alfabetização e
Educação de Jovens e Adultos (DPAEJA) desenvolvendo as seguintes ações: Programa Brasil
Alfabetizado (PBA); Programa Nacional do Livro Didático para a Alfabetização de Jovens e
Adultos (PNLDEJA); Educação em Prisões e Medalha Paulo Freire.
Quanto à formação de educadores de jovens e adultos, identificamos no Portal do
Ministério da Educação o programa Política de Formação em Educação de Jovens e Adultos
que apoia as iniciativas que atendem aos professores e educadores que trabalham com
jovens e adultos que estejam fora da escola ou em processo de alfabetização, escolarização e
qualificação profissional integrada ao processo educacional. Esta iniciativa integra a política
de formação de professores da educação básica.
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Unidade: Formação do Educador para a Educação de Jovens e Adultos
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A segunda ideia-força indica aos educadores ter como foco da sua ação pedagógica a relação
teórico-prática, a combinação entre a formação feral e profissional e, ainda, o universalismo e a
contextualização de forma a atender as necessidades de aprendizagem próprias da idade adulta
e da condição de trabalhadores. Esta abordagem deve proporcionar o avanço da capacidade
crítica, criativa e autônoma do jovem e do adulto trabalhadores. Esta ideia sugere, também, o
desenvolvimento de estudos que esclareçam quais as competências e saberes que são exigidos
pelos contextos de trabalho e por outras dimensões da vida cotidiana (RIBEIRO, 1999).
Como parte integrante do processo de conhecimento, a terceira ideia-força indica considerar
as características cognitivas dos alunos jovens e adultos e as possibilidades de integrar os saberes
adquiridos em sua experiência de vida e os conteúdos escolares. E, nesse sentido, Ribeiro (1999,
p. 194) entende que é preciso “o amadurecimento de uma psicologia dos adultos” que estude e
considere o seu processo de construção de conhecimento, a especificidade dessas fases da vida,
jovem e adulta, bem como os efeitos provocados pela aprendizagem a esses jovens e adultos.
O educador tendo este instrumental teórico durante a formação poderá “distinguir mais
claramente no que é que, de fato, a escolarização pode fazer diferença para os jovens e adultos.”
(RIBEIRO, 1999, p. 195)
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Unidade: Formação do Educador para a Educação de Jovens e Adultos
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Confira, na prática, o discurso do educador da EJA.
https://youtu.be/4FpzrfFwRrM
Romper com um ensino tradicional, ser crítico e criativo são exigências de um professor
que saiba decidir, em cada situação do processo pedagógico, quais formas de agrupamento,
sequenciação, meios didáticos e interações propiciarão o maior progresso possível dos alunos,
considerando a diversidade que inevitavelmente caracteriza o público da educação básica de
jovens e adultos. (RIBEIRO, 1999)
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Como bem nos esclarece Freire (2001)
Por isso também é que ensinar não pode ser um puro processo, como tanto tenho
dito, de transferência de conhecimento do ensinante ao aprendiz. Transferência
mecânica de que resulte a memorização maquinal que já critiquei. Ao estudo
crítico corresponde um ensino igualmente crítico que demanda necessariamente
uma forma crítica de compreender e de realizar a leitura da palavra e a leitura
do mundo, leitura do contexto.
O educador, no seu processo de formação inicial e continuada, precisa compreender que para
superarmos o ato mecânico de ensinar para uma ação educativa reflexiva, crítica e consciente
ele deve saber ler o contexto e a sociedade do seu tempo e de outro tempo histórico, situada em
espaços diversos. A sua atuação crítica, consciente e cidadã depende do seu compromisso político.
A responsabilidade no ato de planejar, agir e pensar a EJA, no atual contexto, assinala o seu
envolvimento com o projeto pedagógico da escola, participando na sua elaboração, execução
e avaliação. Entendemos que a EJA como modalidade da educação básica faz parte do Projeto
Pedagógico da escola, não se constitui isoladamente, mas na relação com as outras modalidades
de educação. Portanto, a formação do educador deve contemplar também o planejamento
como uma categoria da dimensão política de sua formação.
Com o intuito de ampliar a visão sobre o debate das dimensões presentes no processo de
formação do educador e da sua atuação, recorremos, também, a Terezinha Rios (2001) que
nos fala em dimensões da competência que é envolvida pela técnica (techne/poeoésis), estética
(aesthesis), ética (ethos) e política (polis). Esta visão apresenta a ideia que o ato de decidir
vir a se tornar professor é um processo complexo e continuo que envolve questões internas e
externas. Envolve motivações e repertorio, além da atitude e consciência política. Ser educador
é, nesse sentido, escolher trilhar caminhos na busca em “aprender a ser”. Não basta dizer eu
sou, e, sim, como me torno, como me constituo educador? Pergunta que nos acompanha em
toda nossa trajetória.
Na busca em aprender a ser, a se constituir enquanto educador, temos as questões motivadoras
que geram nossas escolhas, mas também as questões de competência que nos colocam desafios
ditos por Terezinha Rios acima, como técnica, estética, ética e política. Desafios que nos colocam
em pleno movimento de formação permanente.
Sobre a dimensão estética colocada por Rios (2001, p. 97) diz que “a sensibilidade e a
criatividade não se restringem ao espaço da arte. Criar é algo interligado a viver no mundo
humano. A estética é, na verdade, uma dimensão da existência, do agir humano”. Isso significa,
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Unidade: Formação do Educador para a Educação de Jovens e Adultos
segundo a autora, que o trabalho docente também deve ser permeado por beleza, que visa ao
bem, ao fazer bem-feito, com técnica, sem perder a emoção.
Hoje há uma inquietação em relação à qualidade de ensino em nossas escolas. Muitos discursos
são feitos em função dessa realidade; entretanto é fundamental a tomada de consciência de que
a escola não é o único lugar de aprendizado, pois na “sociedade do conhecimento o espaço
escolar é muito maior do que a escola”. O educador deve ter estas preocupações em relação
ao aprendizado de seus alunos, mas em primeira estância pensar também quais os espaços de
formação cultural e pedagógica que podem ir além das salas das universidades, no caso da
formação inicial, e espaços escolares no caso de professores atuantes, ampliando para a rua,
praças, feiras e festas populares, casas de espetáculos, museus, espaços virtuais e presenciais
que possibilitem o sentir a experiência estética.
Quando Rios (2001, p. 96) aborda a dimensão técnica, refere-se a uma prática profissional
na qual há técnica e conhecimento do assunto, conhecimento didático, conhecimento do uso de
recursos materiais, da mediação do conhecimento em diferentes faixas etárias, mas há também
criação e sensibilidade nessa prática docente; portanto, poiési:
Para que a práxis docente seja competente, não basta, então, o domínio de alguns conhecimentos
e os recursos a algumas “técnicas” para socializá-los. É preciso que a técnica seja fertilizada pela
determinação autônoma e consciente dos objetivos e finalidades, pelo compromisso com as
necessidades concretas do coletivo, e pela presença da sensibilidade, da criatividade.
O momento social que estamos vivendo mostra o quanto o professor precisa se preocupar
com a sua competência profissional para lidar com o paradigma da nossa era. Nesta realidade
social da educação, o conhecimento não se apresenta de forma fragmentada. Pelo contrário,
está interligado e contextualizado, e não cabe mais educar por partes, precisamos ter uma visão
ampliada do ensino. Trazendo esta concepção de ensinar e aprender para a questão da formação
do professor chamamos atenção para vivencia de situações culturais que envolvem tanto o
estudo de teorias, discussões em grupos de estudos sobre abordagens de práticas pedagógicas.
Paulo Freire fala em “boniteza” que pode fazer parte da história de construção na formação
do educador como em toda sua história no exercício em ser educador. O educador busca ser
educador na contemporaneidade e desenvolver a competência da autonomia na busca do
conhecimento. Ação que se desenvolve cada vez mais no perfil do “professor pesquisador” e não
é possível na postura do professor “reprodutor”, aquele que apenas busca aulas já formuladas,
não sendo autor do seu próprio trabalho.
Ao projetar o resultado de uma vida de trabalho com beleza, com “boniteza”, utilizando
as palavras de Freire (1996), o professor se constrói e se afirma enquanto sujeito. Portanto, a
formação docente envolve tanto formação técnica como educação estética, não apenas no
campo de arte, como já abordamos neste trabalho, mas também ações que pratiquem o fazer
bem, fazer de forma bela.
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O fato, porém, de que ensinar ensina o ensinante a ensinar um certo
conteúdo não deve significar, de modo algum, que o ensinante se aventure
a ensinar sem competência para fazê-lo. Não o autoriza a ensinar o que
não sabe. A responsabilidade ética, política e profissional do ensinante lhe
coloca o dever de se preparar, de se capacitar, de se formar antes mesmo
de iniciar sua atividade docente. Esta atividade exige que sua preparação,
sua capacitação, sua formação se tornem processos permanentes. Sua
experiência docente, se bem percebida e bem vivida, vai deixando claro que
ela requer uma formação permanente do ensinante. Formação que se funda
na análise crítica de sua prática. (FREIRE, 2001, p. 259)
Conclusão
Concluímos que ainda há muitos desafios para que a Educação de Jovens e Adultos constitua-
se como campo pedagógico e uma política pública comprometida com mudanças substanciais
no atendimento educacional da juventude e da pessoa adulta considerando as especificidades
relacionadas às expectativas e características próprias desses sujeitos.
Além disso, precisamos de uma formação que contemple temas como diversidade, inclusão
e trabalho, questões fundamentais para atuar na EJA no atual contexto.
Sem dúvida, as formações inicial e continuada devem ter claro que o educador de jovens e
adultos precisa ter rigor, ética, compromisso político e pedagógico no ato de ensinar.
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Unidade: Formação do Educador para a Educação de Jovens e Adultos
Material Complementar
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Referências
FREIRE, P. Carta de Paulo Freire aos Professores. Estudos Avançados. n. 15 (42), 2001
RIOS, Terezinha A. Compreender e ensinar – por uma docência da melhor qualidade. São
Paulo: Cortez, 2001.
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Anotações
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