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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

FERNANDA LUÍZA CASTRO DE OLIVEIRA

FICHAMENTO: TOLENTINO, Luana. Outra Educação é possível: feminismo,


antirracismo e inclusão em sala de aula. 1ed. Belo Horizonte: Mazza Edições,
2018.

BELO HORIZONTE, MINAS GERAIS


Luana Tolentino, professora de História da educação básica, retrata em sua obra
acontecimentos por ela considerados cruciais para a construção de uma nova
educação, que voltada principalmente para a realidade dos alunos com quem ela
trabalha, busca aproximá-los de sua verdadeira história, aumentar sua autoestima
através do empoderamento, evidenciar a real representação dos negros seja na
arte, música, literatura e ampliar os horizontes dos discentes, que muitas vezes
pouco enxergam além da pobreza, violência e racismo que os cercam.
Disposto na forma de crônicas, os relatos abordam projetos e trabalhos realizados
com os alunos e com a ajuda de diversas outras pessoas, sempre mostrando o
objetivo e a importância daquele trabalho, as dificuldades e medos enfrentados, o
impacto nos alunos, o resultado final e também o impacto na própria Luana. Ao
mesmo tempo em que a professora buscou inovar em seu ensino ela aprendeu
lições valiosas e emocionantes com os alunos.

Rap da Felicidade

Aborda a utilização da música como forma de expressão e empoderamento. Como


parte do projeto Novembro Negro, proposto pela professora, os alunos foram
convidados a cantar a música Rap da Felicidade, dos cantores Cidinho e Doca. A
adesão pelos alunos foi imediata, além do reconhecimento por eles de sua
proximidade com o que é retratado na música, além do perceber do estigma que por
isso carregam e que isso deve ser por eles combatido.

"Professores, quando eu crescer quero ser Carolina Maria de Jesus!"

Estimulando nos alunos o prazer pelo aprendizado através da pesquisa, a


professora relata como foi para eles o processo de reconhecimento de que negros
muito contribuíram com obras e a história brasileira, evidenciada na literatura. A
professora trabalhou assim a elevação da autoestima dos alunos e o incentivo, além
de fazê-los notar o quanto essa contribuição de autores negros é pouco
reconhecida.
I Desfile do Cabelo Crespo e Cacheado

Aborda a aceitação da própria imagem proporcionada através de um desfile onde as


alunas puderam exibir seus cabelos não só apenas para a escola, mas para a
comunidade externa, onde mesmo os pais de alunos reconheceram que há algum
tempo nada disso seria possível. O desfile foi proposto a fim de combater práticas
discriminatórias e promover a representação de grupos de muitas vezes foram e
continuam sendo convidados a realizar os mais diversos procedimentos para que se
tornem "aceitáveis", como alisamentos. Assim como em outros projetos, Luana
retrata aqui os receios pelos quais passou e toda a ajuda que recebeu para que o
evento se tornasse possível.

Taís, a menina que queria ser negra

Retrata o momento comovente em que duas alunas demonstraram em que uma


muito se orgulhava de sua professora, querendo ser negra, e outra se orgulhava
bastante pelo fato de já o ser. A expressão das alunos ocorreu após dois meses
onde a professora trabalhou principalmente a questão da construção da identidade
desses alunos. Contrastado com este fato há o relato da professora, que na mesma
idade tinha uma visão totalmente diferente de sua identidade, evidenciada pela não
aceitação de sua identidade.

Encurtando distâncias

Aborda a troca de correspondências entre alunos da região metropolitana de Belo


Horizonte e alunos de Moçambique. O fato que se sobressai nesta crônica é o
evidente desejo, por ambas as partes, de uma realidade diferente da que se vive,
onde reine a segurança e oportunidades para todos, e não a violência. O processo
até foi demorado e permeado por receios e grandes expectativas por todos.

Futebol: um caminho para unir Brasil e África


Este é um relato sobre como foi possível mudar a visão dos alunos sobre o
continente africano. Através de uma mudança de protagonismo, Luana conseguiu
transformar estudantes africanos em ídolos e provocar grande entusiasmo em toda
a escola.

Chimamanda é linda e feminista!

Este relato aborda a tentativa de mudança da visão sobre o continente africano,


onde muitas vezes pensa-se apenas na “pobreza, fome, miséria, Aids e animais.”
Para construir esta mudança a professora pediu que os alunos livremente
procurassem sobre personalidades africanas, como escritores, figuras políticas,
atores, etc. Uma das alunas reconheceu a beleza em uma destas personalidades e
a comparou com a professora, que no dia seguinte levou livros para que os alunos
pudessem olhar. Todo o contexto relembrou a autora das dificuldades que ainda
hoje são enfrentadas nas escolas, como a censura e situações em que os
professores são considerados doutrinadores. A lição que fica é que mesmo com
todos os obstáculos a serem enfrentados, mesmo que atualmente eles parecem
absurdos, não devemos desistir de promover a construção de uma sociedade mais
igualitária.

“Todo dia é Dia de Índio”

Na busca por aproximar os alunos de toda a história e cultura indígenas, povos tão
pouco representados, Luana leva até a escola Adana Kambeba, estudante de
medicina que também é atriz. Adana, que saiu de sua tribo para correr atrás de seu
sonho, tornou-se um modelo de inspiração para o alunos, que muitas vezes têm
dificuldades de contemplar uma vida onde podem sonhar alto e enxergam além da
pobreza e violência que os cercam.

Leonardo da Vinci, Michelangelo, Donatello e a arte do Vale do Jequitinhonha


Pequenas observações dos alunos são o ponto alto desta crônica, revelando o quão
grande é o conhecimento dos alunos e o quanto eles têm a nos ensinar. Abordando
a arte renascentista e também a arte que é produzida no Vale do Jequitinhonha, é
possível perceber e provocar nos alunos a noção de que a produção nacional tem
também valor imensurável.

Funk cordélico

Neste relato podemos ver os esforços da professora com uma turma pouco
responsiva e receptiva, com alunos pouco interessados e participativos. No entanto,
após propor uma atividade onde os alunos tiveram a oportunidade de se expressar
artisticamente, através de encenações e música, é possível notar como há uma
reviravolta no envolvimento dos alunos, que se comportaram de maneira
extremamente integrada e eficazmente mesclaram o conhecimento da disciplina
com outras formas de aprender. É interessante notar que na maioria das vezes os
alunos também são nossos professores, e que muito aprendemos com eles sobre
as diversas formas de ensinar, uma vez que cada público tem demandas
específicas.

Que você seja muito feliz!

Esta crônica dá início a série de relatos onde a professora Luana começou a aplicar
seus conhecimentos de filosofia budista e meditação em suas aulas. Uma simples
mudança de comportamento e palavras foi capaz de provocar em Luana e também
nos alunos uma mudança de perspectiva acerca de si e de todos a sua volta. O foco
no bem estar e saúde psicossocial dos alunos é algo que também deve fazer parte
de nossas rotinas.

"A meditação faz a gente ficar mais calmo"

Novamente este é um relato onde Luana enfatiza a importância de uma educação


que seja holística e foque no todo. Aqui ela relata as impressões e mudanças e.
Uma turma após a implementação de uma simples prática de meditação focada na
gratidão. Este tipo de exercício permitiu e aos alunos pausarem e se concentrarem
no momento presente, tornando-se mais conscientes do seu mundo interior e dos
outros ao seu redor. Os alunos passaram a ansiar pela prática, que teve impacto
direto em seu comportamento em sala.

A meditação salva e cura

Ainda colhendo os frutos que a prática meditativa proporcionou em seus alunos,


Luana conta aqui as mudanças que a prática lhe proporcionou, principalmente. É
ressaltado o quanto podemos aprender com os alunos e o potencial da escola como
um local de transformações, para muito além de uma "educação bancária".

Queremos estudar e aprender!

Remando contra a maré, segundo a própria Luana, é dever da escola ser um lugar
onde é despertado nos alunos o amor e curiosidade pela pesquisa e pelo ato de
aprender. É possível relembrar os alunos da sua capacidade de pensar e serem
críticos, para muito além de simplesmente fazerem cópias de livros.

Cartas de amor

Este relato é mais uma amostra de que a escola e os alunos são bem mais do que
meros clientes, e que através de atos simples, mas muito humanos, é possível fazer
o bem e ao mesmo tempo aprender. Através da utilização da prática de escrever
cartas, Luana despertou não só a empatia em seus alunos como também o
interesse genuíno pela escrita.

Notícias da sala de aula: uma carta para minha irmã

Neste relato emocionado Luana conta à sua irmã como vão as coisas na escola. A
professora perdeu a irmã para a batalha contra o câncer e também perdeu uma
pessoa com a qual ela se comunicava e contava sobre os acontecimentos no seu
dia-a-dia. Assim como devemos considerar o todo dos alunos, devemos considerar
o todo dos professores, e ver que há um conjunto de fatores que os torna quem eles
são e impactam diretamente seus caminhos no ensino.

Lugar de mulher é onde ela quiser

A busca por uma educação antirracista e feminista ainda hoje traz desafios, mesmo
entre os mais jovens quando vemos relatos de que as roupas que uma mulher usa
justificam o estupro. Ainda assim, a maioria dos alunos entendem que é preciso
lutar por mais equidade, segurança para as mulheres e que eles são os verdadeiros
formadores de opinião do futuro. Desde cedo todos já tem papel fundamental nestas
lutas.

Por uma educação feminista

O contraste entre a imagem que a sociedade tem de uma escola particular e uma
pública fica ainda mais evidente quando se percebe que a mídia exibe e premia
iniciativas da rede privada, enquanto a rede pública é tratada com indiferença.
Raros são os destaques aos projetos que procuram, por exemplo, enaltecer
ativistas, intelectuais, artistas e escritores negros. Menor destaque ainda é dado
quando se tratam de mulheres negras. Foi principalmente por esta razão que a
homenagem e o trabalho de Daiana Falcão foi tão importante e tocante para Luana.

Precisamos falar sobre feminicídio nas escolas

Sobre a importância de falar sobre feminicídio nas escolas e criar nos alunos o
senso crítico de que a vítima nunca é responsável pelo que lhe aconteceu, ela pode
e deve procurar ajuda e é dever de todos lutar contra o pensamento arraigado de
que valoriza o machismo e a misoginia. Expor dados e estatísticas a respeito da
incidência destes crimes também é uma forma de sensibilizar a todos e
principalmente aos alunos, nos mostrando o quanto a ocorrência é alta e o quanto a
impunidade também é alta.

Educação em Direitos Humanos

Luana busca para seus alunos uma educação que faça sentido, que seja próxima
da realidade. Ela utiliza o conteúdo que é previsto no currículo de história como uma
base e o ressignifica para que possam também ser trabalhados temas como os
Direitos Humanos, intolerância religiosa, homofobia, etc. A adesão dos alunos
sempre é grande e as mudanças em suas percepções são notáveis.

Clara e a oportunidade de enxergar mais e melhor

Sobre inclusão. Mesmo com poucos recursos Luana fez o possível para que suas
aulas se tornassem mais acessíveis para a aluna Clara, assim como também
procurou abrir seus olhos para a possibilidade de que ela pode traçar o caminho que
quiser.

De Clara para Malala

A escola também é lugar de sonhos e inspiração. Ao levar para seus alunos a


história de Malala, Luana provoca nos estudantes a noção de que é possível buscar
um mundo onde reine a equidade e também que são os aparentemente pequenos
gestos e as pequenas lutas que mudam o mundo. Lutar pela educação não é de
forma alguma uma luta pequena, mas pode começar com gestos simples.

Aulas em círculo: para que ninguém fique invisível

Nesta crônica é reiterado o fato de que pequenos atos são responsáveis por
grandes mudanças e grande impacto, principalmente para aqueles que se sentem
pouco representando ou "invisíveis". Todos têm direito ao seu espaço, a participar e
de fazer isso em seu próprio ritmo.
Marcela e Frida Kahlo

"... o espaço escolar deve ser o lugar do sonho e do encanto."


Ao trabalhar com a história da América Latina e principalmente com a pintora Frida
Kahlo, Luana demonstra novamente que o inesperado pode sempre acontecer em
sala de aula. O empoderamento através do exemplo e da história de vida é marcado
neste relato, onde uma aluna de identifica com a pintora e nisso sente coragem para
enfrentar seus medos.

Meu querido diário

Este relato nos recorda da importância de considerar o aluno como um todo,


entender o contexto no qual ele está inserido e como este contexto influencia no seu
rendimento escolar. Ao questionar o porquê de um de seu aluno Pedro não estar
realizando suas tarefas Luana descobre sua situação de vulnerabilidade. A partir
disso ela procura meios de ajudá-lo e dar a assistência que ele precisa, sempre
dentro do seu alcance como docente.

O que eu gostaria que a minha professora soubesse?

A aplicação da prática relatada nesta crônica permitiu a autora se aproximar mais da


história de vida e da realidade de seus alunos, que muitas vezes não transparecem
em meio ao modelo de ensino que trata os alunos como clientes e receptores
passivos. Tolentino vê a mudança deste cenário como algo necessário e possível.

A pobreza não pode tirar da gente o direito de sonhar

Ao ser questionada sobre a necessidade de aprender conteúdos que "nunca serão


aplicados no mundo real", Luana começa a perceber o quanto a educação pode se
afastar da realidade dos alunos e o quão baixa é a autoestima destes alunos, que
muitas vezes enxergam seus destinos traçados e não se permitem sonhar. A autora
traz exemplos para a sala de aula e tenta mostrar que é possível sim almejar
caminhos diferentes daqueles que já parecem estar determinados, ao mesmo tempo
em que desconstrói a ideologia da meritocracia e os mostra a realidade que os
cercam.

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