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Fundamentos

Metodológicos do
Ensino de História e
Geografia
Material Teórico
As Diferentes Concepções de Natureza

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Dra. Adriana Furlan

Revisão Textual:
Profa. Esp. Vera Lídia de Sá Cicaroni
As Diferentes Concepções de Natureza

• As Diferentes Concepções de Natureza

• A Natureza dos Povos Primitivos

• Sociedades e Concepções de Natureza

• A Nova Natureza

·· Nesta unidade, discutiremos a construção de conceitos, utilizando


como exemplo o conceito de Natureza.
··
A construção desse conceito deve ser considerada como uma
base para o entendimento de como as ideias e conceitos estão
relacionados, uma vez que, mudando as ideias, mudam os conceitos.
·· Para atingirmos satisfatoriamente nossos objetivos nesta disciplina,
saliento a importância da leitura atenta aos textos e o empenho na
realização das atividades propostas.

Você já percebeu a importância da leitura do texto teórico e do desenvolvimento das atividades


para o acompanhamento do conteúdo a ser desenvolvido e para o máximo de aproveitamento
das aulas. Também percebeu que os textos complementares e os vídeos, entre outros materiais,
auxiliam na compreensão dos conceitos básicos desenvolvidos nas unidades de conteúdo.
Dando continuidade à nossa discussão sobre os fundamentos de História e Geografia,
estudaremos, nesta unidade, o conceito de Natureza.
Vamos, neste primeiro momento, fazer uma pequena pausa para reflexão: que imagem vem
a sua mente quando pensa em natureza? Árvores, rios, praias, cachoeiras, cidade, plantações?
Geralmente, relacionamos a ideia de natureza a uma paisagem com elementos chamados
físicos: clima, relevo, vegetação, rios etc. Por quê? Porque criamos, em nossa mente, essa ideia
de natureza, que, no geral, nos exclui (os homens) dela?

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Unidade: As Diferentes Concepções de Natureza

Veremos que a ideia que temos de natureza, hoje, em nossa sociedade industrial e capitalista,
não é a mesma ideia de natureza que povoava a mente dos povos primitivos e nem dos de
1.000 anos atrás. Dessa forma, discutiremos que os conceitos são criados em determinadas
condições sociais e que, se mudarem as sociedades, o significado de cada conceito poderá
mudar também.
Considere que o estudo que realizaremos sobre a ideia (conceito) de natureza pode ser
aplicado a todos os outros conceitos produzidos pelos homens.
Se partirmos do princípio de que, um dia, cerca de 300 milhões de anos atrás, os seres
humanos nem existiam ainda, poderemos, então, considerar que as palavras e ideias foram
criadas e adquiriram significado na medida em que os seres humanos e os grupos sociais (e
sociedades) foram se desenvolvendo e se tornando mais complexos.
Considere, então, que o conceito não é fixo, mas que ele revela muito da sociedade que o cria.

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Contextualização

Para Pensar
O que é natureza? Podemos responder a partir do que acreditamos que seja natureza ou podemos
responder: “depende”.
Depende do quê? A natureza não é uma só?

Veja um trecho do poema de Fernando Pessoa:

“Vi que não há Natureza,


Que Natureza não existe,
Que há montes, vales, planícies,
Que há árvores, flores, ervas,
Que há rios e pedras,
Mas que não há um todo a que isso pertença,
Que um conjunto real e verdadeiro
É uma doença das nossas ideias.”

Por que será que o poeta afirma que natureza não existe? Podemos tocar a natureza? Os
conceitos não são relativos a coisas concretas?
No sentido do poema e do que discutiremos nesta unidade, a natureza e o que pensamos
sobre ela é fruto de nossas mentes (doença, segundo Fernando Pessoa), porque só existe a partir
do momento em que damos significado a ela.
Você come fruta? Nesta linha de raciocínio a resposta é: não! Não comemos fruta, mas só
laranja, banana, melancia... Fruta é uma abstração que significa um conjunto de elementos
agrupados e designados por um nome. Para nós, abacate é fruta, mas, para outros povos, é
legume. Tomate também.

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Unidade: As Diferentes Concepções de Natureza

As Diferentes Concepções de Natureza

Em nossa sociedade capitalista e industrial, separamos sociedade de natureza, ou seja,


separamo-nos da natureza, não nos consideramos parte dela. Todos nós pensamos assim? Será
que há outras sociedades ou agrupamentos humanos que, neste início de século XXI, pensam
de outra forma?
Segundo Moreira (1999), todos nós usamos os termos natural e natureza como oposição
àquilo que consideramos artificial. O senso comum diz que natural é aquilo que não foi feito
pelo homem, o que é próprio da natureza, e artificial é tudo aquilo feito pelo homem, mesmo
que com recursos e ajuda da natureza.
Vejamos. Uma árvore plantada em um jardim de uma casa é natural ou artificial? A tendência
é considerarmos que seja natural, mesmo que tenha sido colocada ali pelo homem. Uma cadeira
de madeira é natural ou artificial? Neste caso, tendemos a considerar que é artificial, pois foi
fabricada pelo homem. A madeira transformada em cadeira deixou de ser natureza? Por quê?

Fonte: Wallyg - Flickr.com Fonte: sxc.hu

Essa discussão é complexa, mas queremos chamar a atenção para o fato de que os conceitos
são muito mais do que simples definições sobre as coisas. Envolvem uma forma de concebê-las
e essa forma pode mudar ao longo do tempo, como a história humana o tem demonstrado.
Para Moreira (1999, p. 11),
Importante é compreender que entre os seres humanos e os outros seres que
compõem a nossa realidade as diferenças não se devem ao fato de uns
serem naturais e outros não. As diferenças encontramos nas dinâmicas, nos
ritmos, nas finalidades, nas formas, na reprodução, na recriação que cada
um ou o conjunto de seres que compõem o planeta apresenta. (...) É entre os
seres humanos, ou para as sociedades humanas, que tem sentido dizer que
os homens fizeram ou fazem sua própria história. A natureza também tem a
sua própria história. Mas é a história que nós contamos!

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O que a citação de Moreira significa? Em primeiro lugar, que a Natureza, por si mesma, não
escreve sua história, embora o passado geológico da Terra, por exemplo, esteja registrado nas
rochas. Mas cabe ao homem, com base nas suas ideias, desvendar e dar nomes aos fatos e
elementos do planeta, a começar por chamar determinadas coisas de rocha. Em segundo lugar,
os homens reconhecem que existe um conjunto de elementos (a que chama de natureza) que
se manifestam de forma distinta das chamadas coisas humanas. Para o autor citado, a diferença
entre esses dois conjuntos (natureza e sociedades) é que a característica, composição e ritmos
de cada um são diferentes.
Por exemplo, um morro leva milhares e até milhões de anos para se formar, mas a ação
humana pode transformá-lo ou eliminá-lo em uma semana, um dia!

Além dos diferentes ritmos que há na natureza e na sociedade, os significados de cada


elemento que as compõem muda ao longo do tempo e a partir da visão de mundo que cada
povo, no presente e no passado, tem desses elementos. Por exemplo: uma floresta.

Fonte: Rahmonet - sxc.hu

Uma floresta pode ter diferentes significados, dependendo de quem a olha. Um madeireiro
pode imaginar riqueza nas árvores, a partir de seu corte e venda da madeira. Para os indígenas,
a floresta é fonte de alimento e moradia. Para os ecoturistas, a floresta é lugar de lazer e
contemplação. Para os laboratórios farmacêuticos, é fonte de pesquisa e lucros. E poderão
existir outros olhares e outras significações para uma floresta.
Da mesma forma, a natureza, em cada uma das diferentes sociedades que habitaram e
habitam este planeta, será vista e assumirá significados distintos segundo os valores e objetivos
de cada agrupamento social.

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Unidade: As Diferentes Concepções de Natureza

Dessa forma, a construção da ideia de natureza (e de tantos outros conceitos que utilizamos
em nosso cotidiano) é cultural e não natural. Conforme Gonçalves (1996, p. 34),

toda sociedade, toda cultura cria, inventa, institui uma determinada ideia do
que seja a natureza. Nesse sentido, o conceito de natureza não é natural,
sendo na verdade criado e instituído pelos homens. Constitui um dos pilares
através do qual os homens erguem suas relações sociais, sua produção
material e espiritual, enfim, a sua cultura.

Percebemos, então, que diferentes ideias são reflexo de diferentes tempos e de diferentes
sociedades. O surgimento de novas concepções acerca dos elementos do mundo e das relações
entre as coisas sempre significa que algumas mudanças ocorreram em determinada sociedade.
A aceitação de explicações (novas) dependeria (e depende) de mudanças nas relações
estabelecidas entre os homens, pois essas mudanças é que são capazes de criar novas exigências
de conhecimento, de relacionamento e de explicações das coisas naturais. Assim, diferentes
sociedades produzem diferentes explicações de mundo.
A natureza e a história do homem estão intrinsecamente ligadas, já que faz parte da natureza do
homem produzir ideias, concepções, modos de vida, hábitos de convivência, ou seja, produzir cultura.
No princípio, homem e natureza integravam um todo indissociável, mas isso não é mais assim,
ao menos em nossa sociedade, pois, mesmo afirmando o contrário, não nos consideramos parte
da natureza. A natureza reconhecida como alteridade (o outro) indica o início de mudanças nas
relações sociais, ocorrendo a divisão entre o mundo natural e o mundo social. Por que ocorre
essa divisão? Veremos que o homem, para poder explorar a natureza em seu benefício (sem se
sentir culpado), precisou se afastar dela, conhecer seu funcionamento e explicá-la (a partir do
surgimento e aperfeiçoamento das ciências).
Todas as verdades que já disseram sobre a natureza, e todas que ainda serão ditas, dão ao
poeta liberdade de entendê-la como produto (“doença”) das nossas ideias, e a nós a certeza
de que a melhor e mais correta maneira de a ela (natureza) nos referirmos não é a de dizermos
o que ela é abstratamente, mas sim o que ela tem sido para nós, ao longo de cada um dos
diferentes momentos históricos que os homens já produziram (Carvalho, 1999).

É justamente isso que nos diz Fernando Pessoa em seu poema transcrito a seguir.

Num dia excessivamente nítido,


Dia em que dava a vontade de ter trabalhado muito
Para nele não trabalhar nada,
Entrevi, como uma estrada por entre as árvores,
O que talvez seja o Grande Segredo,
Aquele Grande Mistério de que os poetas falsos falam.
Vi que não há Natureza,
Que Natureza não existe,
Que há montes, vales, planícies,
Que há árvores, flores, ervas,
Que há rios e pedras,
Mas que não há um todo a que isso pertença,
Que um conjunto real e verdadeiro

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É uma doença das nossas ideias.
A Natureza é partes sem um todo.
Isto é talvez o tal mistério de que falam.
Foi isto o que sem pensar nem parar,
Acertei que devia ser a verdade
Que todos andam a achar e que não acham,
E que só eu, porque a não fui achar, achei.

Disponível em: http://goo.gl/wcu5kj. Acesso em 13/04/13.

A Natureza dos Povos Primitivos

Os primeiros agrupamentos humanos (chamados de primitivos, por terem sido os primeiros)


ainda existem hoje espalhados pelo planeta, e muitos vivendo como seus antepassados de
centenas e alguns milhares de anos atrás.
Para esses povos, natureza e sociedade formam um todo indissociável e cada ser é parte
desse todo, sem diferença entre eles. A relação com os outros elementos não humanos é dada
através de ritos mágicos e as explicações para a existência de tudo se dá através de mitos
(poderes sobrenaturais). Não há, para esses povos, diferenças sociais, pois cada um exerce seu
papel para que o mundo “funcione”.
Nesse sentido, uma cena, como a retratada na imagem a seguir, pode ser excepcionalmente
compreendida. Mas, sem considerar a relação existente entre sociedade primitiva e sua ideia
de natureza, essa cena não faz sentido, ou seja, é muito difícil imaginar uma mulher de nossa
sociedade amamentando seu filho e um porco do mato ao mesmo tempo.

Fonte: www1.folha.uol.com.br

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Unidade: As Diferentes Concepções de Natureza

Com o passar do tempo, pequenos avanços tecnológicos - como a invenção do arado e


de ferramentas utilizadas para o plantio e colheita - reduziram o tempo de trabalho necessário
para a produção de alimentos e deixaram tempo livre para que pudessem ser realizadas festas,
viagens, ritos etc. Nesse momento, esses grupos não tinham necessidade de produzir excedentes,
ou seja, de produzir mais do que fosse necessário para sua sobrevivência.
Na medida em que alguns grupos começaram a produzir mais do que necessitavam e a trocar
ou comercializar esses produtos, eles acabaram por abandonar sua condição de comunidade
selvagem (da selva). Iniciou-se um processo de estratificação social culminando na desigualdade
social, em que uns passaram a ter mais poder (como os pajés, curandeiros, caciques, faraós,
sacerdotes, entre outros), porque se relacionavam com o sobrenatural, e outros passaram a
obedecer a esses em função do poder que eles exerciam e, além disso, começaram a produzir
excedentes de comida para alimentá-los (já que sua função é outra que não a de trabalhar para
produzir seu alimento).
Surgiu, assim, a partir de processos internos dos agrupamentos sociais ou de guerras e
escravizações, a desigualdade social. Dessa forma, na distribuição das atividades, passou a haver
diferenças, pois havia diferentes funções e cada um ocupava um lugar distinto na sociedade.
Por exemplo, os faraós, sacerdotes, reis, governantes, e poderosos em geral, isolavam-se dos
produtores e dos lugares de produção. O lugar de produção era o campo e esses produtores
ficavam em contato direto com a natureza (produzindo alimentos para si e para os comandantes)
e os governantes ficavam distantes da natureza (dessa pelo menos).
Dessa forma, podemos considerar que a diferenciação social precedeu a distinção entre o social
e o natural, ou seja, primeiro uns homens tornaram-se diferentes dos outros e estabeleceram
novas relações sociais (uns dominando os outros) e depois partiram para a dominação da
natureza para satisfação de suas necessidades, cada vez maiores, de bens.

Sociedades e Concepções de Natureza

Ao olharmos para o passado e contarmos a história da natureza (criada por nós mesmos),
percebemos que há diferentes concepções de natureza e, em diferentes momentos, ocorreram
rupturas na estrutura social vigente e na relação dos homens com a natureza.
Os egípcios e outros povos do oriente tinham como natureza as “leis” dos mitos e relacionavam-
se com o mundo de forma mágica, através da manipulação dos poderes sobrenaturais pelos
sacerdotes, reis e faraós, sendo estes as próprias (encarnações das) divindades. Todos deviam
obediência a eles, que, em troca, lhes davam proteção contra qualquer adversidade ou mal.
Os gregos avançaram muito em certas áreas do conhecimento e seu legado está presente
ainda hoje. Na medida em que questionaram a forma de explicação das coisas do mundo e
de sua origem, propuseram novas concepções de mundo. As relações sociais e a organização
da sociedade grega apresentavam padrões muito distintos daqueles dos povos primitivos. Na

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Grécia existia a polis e participavam da vida do Estado (cidades-estado) somente os cidadãos; os
considerados não cidadãos eram excluídos (novas formas de relações sociais e desenvolvimento
da exclusão social).
Nessa sociedade, os homens do campo produziam excedentes para alimentar os governantes
e também os pensadores (filósofos), que tinham por função produzir novas concepções de
mundo e desenvolver uma linguagem sobre a natureza e o natural. Esses filósofos afirmaram a
alteridade (o outro), quando diziam que havia dois mundos distintos: o mundo da natureza e
o mundo da sociedade. O mundo da natureza foi investigado e diversos filósofos propuseram,
de maneiras distintas, a origem de tudo: para uns, tudo surgiu a partir da água; para outros, a
partir da terra; outros afirmaram que tudo se originou a partir do ar; e outro grupo defendia a
ideia do fogo como o início de tudo.
Aristóteles, famoso filósofo grego, afirmava que a natureza era tudo aquilo que não fosse
produzido pelo homem, que era a matéria-prima da qual eram feitas as coisas (ideia de natural
e artificial muito presente hoje no senso comum).
Com o passar do tempo, diversas transformações foram ocorrendo e as sociedades se
diversificando e mudando a forma de pensar o mundo. Que outras ideias e formas de explicar
o mundo seriam possíveis? Vamos avançar um pouco mais no tempo.
Chegamos ao período medieval (na chamada Idade Média). Esse período foi fortemente
dominado pela Igreja Católica e sua visão de mundo, segundo a qual Deus criou todas as
coisas presentes neste planeta, inclusive o homem à sua imagem e semelhança. Qualquer outra
explicação para a origem das coisas que fosse contra as Sagradas Escrituras e os dogmas e
crenças cristãs seria considerada uma afronta, uma heresia e quem assim fizesse seria passível
de punição (autos de fé e fogueiras para os hereges).
Nesse período, a Natureza era a própria Terra criada por Deus e perfeita; era a Terra o centro
do Universo (também perfeito, pois foi criado por Deus).
Com o passar do tempo, essas explicações não satisfaziam mais a grupos que apresentavam
novas perspectivas de vida e de futuro. Para que a natureza pudesse ser explorada (em função
de novas necessidades econômicas que estavam surgindo), o homem precisou afastar-se dela,
explicá-la e controlá-la para dela retirar o que fosse necessário para sua satisfação. Se ainda
acreditasse que a natureza estava povoada por seres sobrenaturais e que explorá-la poderia ser
uma ofensa a Deus, o progresso da sociedade (em termos materiais) seria impossível. Então, as
novas ideias sobre progresso levaram a uma nova relação com a natureza e, consequentemente,
uma nova visão e explicação sobre ela.
O final desse período é considerado por muitos autores como um período de transição em que
teria ocorrido uma revolução nas concepções sobre o que é natural e o que é natureza. Nesse
período, o mundo assistiu ao surgimento de uma nova classe social, denominada burguesia
(que surgiu nos burgos, ou seja, cidades). Essa classe desenvolveu-se e ganhou força com o final
do Feudalismo e com o surgimento de novas relações sociais e econômicas na sociedade, que
se transformou rapidamente (em comparação com o período feudal).
Do mercantilismo (comércio entre a Europa e demais regiões do planeta) passamos a um
novo sistema socioeconômico, no qual as relações entre os homens alteraram-se e a busca pela
riqueza e por seu acúmulo transformou as relações dos homens com a natureza.

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Unidade: As Diferentes Concepções de Natureza

Por que ocorreu essa transformação? Vejamos. Para produzir cada vez mais (indústria) e
poder vender cada vez mais (comércio), a matéria-prima precisava estar disponível. Ocorreu,
nesse momento, uma ruptura definitiva entre o homem e a natureza e esta passou a ser vista de
uma nova maneira.
Com a derrocada final do Feudalismo, no século XV, começaram a se constituir os países (na
forma como conhecemos hoje) e novas concepções de mundo e de natureza foram difundidas,
não somente na Europa, mas também nas terras conquistadas pelos povos europeus além desse
continente. A visão europeia de realidade era reflexo de uma nova cultura (ocidentalizada) que
se tornou universal (espalhou-se pelos “quatro cantos do mundo”).
Entre os séculos XV e XVIII ocorreu a consolidação do capitalismo (que passou de comercial
para industrial) e novas relações entre as pessoas foram estabelecidas (principalmente após a
Revolução Industrial).
Na sociedade capitalista, a natureza passou a ser considerada fonte de matéria-prima. Todos
os elementos da natureza deveriam estar à disposição da sociedade, a qual, deles, retirava sua
sobrevivência. Somente a sobrevivência? Não estamos retirando da natureza muito mais do que
precisamos para satisfazer nossas necessidades? Mas quais são nossas necessidades?
Os seres humanos sempre precisaram (como todos os outros animais), para sobreviver,
alimentar-se, abrigar-se e reproduzir. Fazemos isso desde que o homem é homem. O que
mudou? Mudou a forma como resolvemos essas necessidades. Não queremos mais comer carne
de caça crua ou assada em fogueiras; agora desenvolvemos novas necessidades alimentares (e
podemos confirmar isso nas centenas de comerciais de alimentos veiculados, a todo momento,
na mídia, como na TV, por exemplo). Nós precisamos nos abrigar das mudanças climáticas, dos
predadores? Não nos escondemos mais em cavernas e tocas, mas queremos casas maiores e
cada vez mais confortáveis, com objetos que satisfaçam nossas novas necessidades. Por exemplo,
tínhamos, no passado, televisões cujos botões eram manuais e necessitávamos levantar do sofá
para arrumar a faixa vertical que ficava correndo pela tela ou para mudar de canal ou aumentar/
diminuir o volume. E hoje? Não precisamos mais nos levantar para isso, pois as TVs têm controle
remoto. Criamos a necessidade de não nos levantarmos mais, acreditando que isso nos traz
mais conforto. E quanto maior a tela da TV melhor; e, com alta definição, temos um cinema em
casa!! Então... todos nós, genericamente falando, queremos consumir e ter uma dessas novas
maravilhas televisivas. E a reprodução? Bem... inventamos novas formas de reprodução para
garantir a continuidade de nossa espécie.
Será que realmente precisávamos de todas essas novas coisas que criamos e das quais (muitas
delas) nos tornamos dependentes? Karl Marx falava sobre as necessidades socialmente criadas.
Elas são fruto do capitalismo, pois esse sistema, para se manter em funcionamento, depende do
consumo. Se não consumirmos, o que as indústrias irão produzir? Para quem venderão? Como
os capitalistas farão para obter lucro, acumular capital e enriquecer?
Dessa forma, somos levados a crer que, quanto mais tivermos, em termos materiais, melhores
seremos e maior será nosso status nessa sociedade.
Retornando à ideia de Natureza, temos, então, que, para nossa sociedade, diferente das
sociedades que a precederam, ela ganha uma nova concepção. A ciência desenvolve-se, cada
vez mais, para conhecer o funcionamento da natureza e “desvendar seus mistérios” e, dessa
forma, poder utilizá-la (como fonte de lucro).

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A Nova Natureza

A partir de Charles Darwin, com sua Teoria da Evolução das Espécies, ocorreu a consolidação
da concepção atual de Natureza, que se deu com a consolidação da sociedade industrial.
Nos séculos XVIII e XIX, novas concepções de mundo e natureza surgiram, motivadas pelas
novas relações sociais desenvolvidas no sistema capitalista, o qual tem como ingredientes básicos
a luta de classes, a relação capital X trabalho, o surgimento da crítica ao sistema e a proposta do
socialismo, as ideias liberais de progresso e evolução.
Isso confirma o fato de que criar cultura, hábitos de convivência, entre outras coisas, faz parte
da natureza humana e, toda vez que isso mudar, mudarão as concepções que os homens têm
das coisas, inclusive da natureza.
Podemos acompanhar, hoje, as discussões sobre clonagem, pesquisas com células-tronco,
experimentos com o corpo humano no espaço, entre outras. Isso leva-nos a refletir se estamos
caminhando para uma nova relação entre os seres humanos e para uma nova concepção de
natureza. Será que a investigação e a utilização do corpo humano estão atingindo um novo
limite, novo limiar? Será que estamos cada vez mais nos aprofundando para desvendar outros
mistérios, agora relativos ao corpo dos organismos (e dos homens)? Tudo indica que as novas
relações sociais que tomam lugar neste século XXI podem levar a uma nova concepção de
mundo e, consequentemente, de natureza. Só o tempo nos dirá.

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Unidade: As Diferentes Concepções de Natureza

Material Complementar

Para aprofundamento dos temas discutidos nesta unidade, sugerimos:

Explore

Leituras
• DIAMOND, J. Armas, germes e aço – os destinos das sociedades humanas. 4.ed. Rio de
Janeiro: Record, 2003.
• ______. Colapso – como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso. Rio de
Janeiro: Record, 2005.
• GONÇALVES. C. W. P. Os (des)caminhos do meio ambiente. 5.ed. São Paulo: Contexto, 1996.

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Filmes e vídeos
• Passagem do Feudalismo para o Capitalismo
http://www.youtube.com/watch?v=H4UPpMyhrkA
• Primeira e Segunda Revolução Industrial
http://www.youtube.com/watch?v=dBT266GCJF0
• Aula de Revolução Industrial – Parte ½
http://www.youtube.com/watch?v=meSQG6bNvOM

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Referências

CARVALHO, Marcos de. O que é Natureza. São Paulo: Brasiliense, 1999.

GONÇALVES. C. W. P. Os (des)caminhos do meio ambiente. 5.ed. São Paulo: Contexto, 1996.

DESCARTES, R. Discurso do Método. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

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Unidade: As Diferentes Concepções de Natureza

Anotações

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