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No lu •<H d;1 a111<::aça c do pcri •o tanque, Sílvio Rom~.

:ro, por exemplo, falava do EucLIDES DA Cu HA


pcngo ale mito ..
Ao longo do século XX, o livro foi dest<lcado menos como defesa da
monarquia, que j;í havia pouca chances de o império ser restaurado. Sua
r ·rupcra<; to deveu ~c muito mais a ser considerado a primeira obra que aprc.
Os sertões
sen tava uma vis;~o antiamericana, muito antes de serem desfraldadas as ban-
dciru\ wnu.t o unpo..:rí,illsmu ianque. O livro também demarca a diferenças c
.1 d1 tfincia~ t:ntrc o Br,1sil c os dcmais países da América Latina, versão que
pt:ntMill ccu na cultura política brasileira durante quase todo o século c que só
conwçou a ~c alterar reccntcmentc.
Logo após a publicação de A i/meio americana a presença norte-ame-
Walnice Nogueira Galvão
ric,ma avançou muito mms não só na América do ui c Central, mas em dire-
ç;IO à Á~1a, com a anexação do I Ia •a í c das Filipinas (1898). Com a ascensão
c o governo de 1 hcodorc Roosevelt na pre idência dos Estado Unidos (1901 -
1909), o país passou a as um ir papel ainda maior c mais agrcssi vo na América
Latina Por outro lado, Theodorc Roosevelt, com sua forte personalidade, de-
senvolveu uma grande campanha contra a corrupção e contra os trustes, mos-
trando que, pelo menos em parte, as denúncias de Eduardo Prado sobre a vida
de negocíos nos Est,tdos Unidos tinham fundamento.
É nc~sa époc"I que os Estados Unidos estavam começa ndo a se afirmar
como verdadeira potência mundial. o que vai se consolidar após as duas guer-
ras mundiais.
As Dhserva~ocs c os exemplos citados por Ed uardo Prado em sua análi-
s · sohre o. Fstados Unidos expõem com clareza as bases do seu pensamento-
a defesa dos valores do mundo ibérico ou europeu, do catolicismo, da honra
c do re~peito à hierarquia. Esse. são valorcs que reaparecem toda vez que se
condena o mundo capitalista c se denunciam os ma les da civilização burguesa.
A .málisc das diferenças e distâncias entre o Brasi l e os Est.ados Unidos
<Oll\titui um,! trilha que teve continuadores ao longo do século XX, valendo
cit.Ir o h\·to de Viana Moog ~6

' t P10nt m>1. puhhcJdo m 1954. Sobre o lema. \er Lúcta Ltppt Olivetra
r' d1l lltl( w,za/ rw Bra.ul ~ no\ E.\tndcJ:J Umdo'i (Belo Horizonte
1,lr ltlc!adc.

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0& tempos que se ucedem à proclama ã da rep. r . e
d'd;~ um ano antes pela libertação dos escra\os, a 1 ma e -
1
to'n' 0 nac1onal de insurreições rnaí ou menos profundas e
teffl ·
~ezes limitadas a pequenos Je, antes loca1 . Até que o no o cg1me con-
5
a lide e passe a funcio nar, vános anos decorrerão A Guerra de Canudo
:sencadeada no sertão da Bahia em 1896-1897. não é mats do que um e -
sas revoltas que compõem o cortejo de uma mudança de regune. Dedtcado
crônica de um evento histórico, que seu autor testemunhou de corpo pre nt ,
Os sertões tem por objeto essa guerra.
Os elementos de diversa natureza que estiveram na origem d ua com-
posição, entre eles a formação do autor, a conjuntura histónca. o momcnt<
cultural e literário, bem como as práticas discursivas da época, dc\em cr
tomados em consideração, para que esse livro possa ser apreciado no JU~to
contexto.

Ü AUTOR E! SUA FORMAÇÃO

Para começar, detenhamo-nos um instante na formação do autor. típico


fruto da Escola Militar, tal como ela era em seu tempo. Até 181 O, ano em que
D. João VI, recém-chegado ao país, cria a escola, o oficialato era obrigatoria-
mente formado no exterior, o que queria dizer sobretudo Portugal. O ohjettvo
primordial da nova instituição era antes de mais nada qualificar o oficialato e
preparar os engenheiros necessários para os serviços públicos civis, como a
construção de estradas, portos e pontes.
Assiste-se assim ao paradoxo de uma escola que copia um modelo ins-
taurado pela Revolução Francesa, funcionando com materiais didáticos fran-
ceses tais como os programas de ensino e os manuais escritos por encomenda,
instalada numa remota colônia escravista aurífera e açucareira, na periferia de
um império. O caráter inovador da escola, valorizando as ciências c a tecnologia,
em detrimento do prestígio na época conferido ao estudos clássicos ou ~
ret6rica, vai gerar entre os alunos um comportamento vanguardista e uma
atitude contestatária. Bem como, o qÚe não é menos notável, instigar à consciên-
cia da cidadania e à militância política. Tudo isso coisas extremamente raras
nos rincões coloniais.
Quando Euclides ingressa na Escola Militar. em 1885, os alunos, além de
acreditarem na ciência e no progresso, estavam empenhados na batalha pela
unplantação do regime republicano e pela abolição do cativeiro. Essas dispo6J-

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0& tempos que se ucedem à proclama ã da rep. r . e
d'd;~ um ano antes pela libertação dos escra\os, a 1 ma e -
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to'n' 0 nac1onal de insurreições rnaí ou menos profundas e
teffl ·
~ezes limitadas a pequenos Je, antes loca1 . Até que o no o cg1me con-
5
a lide e passe a funcio nar, vános anos decorrerão A Guerra de Canudo
:sencadeada no sertão da Bahia em 1896-1897. não é mats do que um e -
sas revoltas que compõem o cortejo de uma mudança de regune. Dedtcado
crônica de um evento histórico, que seu autor testemunhou de corpo pre nt ,
Os sertões tem por objeto essa guerra.
Os elementos de diversa natureza que estiveram na origem d ua com-
posição, entre eles a formação do autor, a conjuntura histónca. o momcnt<
cultural e literário, bem como as práticas discursivas da época, dc\em cr
tomados em consideração, para que esse livro possa ser apreciado no JU~to
contexto.

Ü AUTOR E! SUA FORMAÇÃO

Para começar, detenhamo-nos um instante na formação do autor. típico


fruto da Escola Militar, tal como ela era em seu tempo. Até 181 O, ano em que
D. João VI, recém-chegado ao país, cria a escola, o oficialato era obrigatoria-
mente formado no exterior, o que queria dizer sobretudo Portugal. O ohjettvo
primordial da nova instituição era antes de mais nada qualificar o oficialato e
preparar os engenheiros necessários para os serviços públicos civis, como a
construção de estradas, portos e pontes.
Assiste-se assim ao paradoxo de uma escola que copia um modelo ins-
taurado pela Revolução Francesa, funcionando com materiais didáticos fran-
ceses tais como os programas de ensino e os manuais escritos por encomenda,
instalada numa remota colônia escravista aurífera e açucareira, na periferia de
um império. O caráter inovador da escola, valorizando as ciências c a tecnologia,
em detrimento do prestígio na época conferido ao estudos clássicos ou ~
ret6rica, vai gerar entre os alunos um comportamento vanguardista e uma
atitude contestatária. Bem como, o qÚe não é menos notável, instigar à consciên-
cia da cidadania e à militância política. Tudo isso coisas extremamente raras
nos rincões coloniais.
Quando Euclides ingressa na Escola Militar. em 1885, os alunos, além de
acreditarem na ciência e no progresso, estavam empenhados na batalha pela
unplantação do regime republicano e pela abolição do cativeiro. Essas dispo6J-

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OS SERTÕES
WAL:>;ICE. 'OGCEIRA GAL\ÃO

ções de e ·pírito permanecerão dominante , como se verá, tanto no pro·e


· do fumro eng nhe1ro· m1·1·Jtar quanto em seu 1·1vro Os sertões. ~ to de :t\fas é preci ~ c?nvir que o seu foi o único a tomar- e um monumento da
, 1da
literatura brastle1ra; todos os outros, sem exceção. perderam interesse ao lon-
go do tempo. _ , .
E é digno de nota que nao so no Bras!l, mas em geral por toda a América
CORRESPO:>;DE ITE DE GUER RA Latina, a história das insurreições populares tenha sido escrita por militares.
Segundo Angel Rama, isso se explica por que o projeto modemizador, que
Euclides da Cunha viria a participar da Guerra de Canudos como enviad rejudicava as populações rurais pobres, foi em toda parte imposto a força
0
e -pecial do jornal A Pro1·íncia (hoje O Estado) de S. Paulo. De lá remeteu um pelo exérci to, que já então ocupava posição de mando nos países neo-ibéricos
série de reportagens que se tomaria célebre, mas que ele mesmo nunca republic a
ou. ~o conti nente. Os militares, sem esquecer o tenente, e adjunto do mini tro da
E que o apareceria em forma de livro postumamente, em 1939, com o título de Guerra, Euclides da Cunha, foram ao mesmo tempo os algozes e as testemu-
Can11dos- Diário de uma expedição. Entretanto, o interesse maior da série é nhas que legaram seu depoimento à posteridade.
o fato de poder ser vista a poste rio ri como o embrião de Os sertões.
Marco na história da imprensa nacional, essa guerra foi de um impacto
A TERRA
extraordináno: pela primeira vez no país foi feita uma cobertura em bloco no
palco dos acontecimentos. As principais folhas do Rio de Janeiro, São Paulo e É com a primeira parte, intitulada "A terra", abrindo o livro como um
Bahia criaram uma coluna especial, quase sempre intitulada "Canudos", dedicada majestoso pórtico, esplêndido em suas galas literárias, que o lei tor entra em
exclusivamente ao assunto, por toda a duração da guerra Além disso, estampa- contato com o livro. Assim, Os sertões começa sublinhando o privilégio que
vam qualquer coisa: invencionices, pareceres dogmáticos de militares de partido concede ao espaço, ao investir diretamente o planalto central brasileiro. onde
previamente tomado, e até trechos da correspondência do comandante da quar- se situa Canudos.
ta e ·pedi,..ão com sua esposa. Todas essas publicações tinham o objetivo comum A primeira frase reza: "O planalto central do Brasil desce, nos litorais do
de reforçar a idéia de uma iminente restauração monárquica. Sul, em escarpas inteiriças, altas e abruptas. Assoberba os mares; e desata-se
A importância Ja imprensa nesse lance não deve ser minimizada. O jor- em chapadões nivelados pelos visos das cordilheiras marítimas [etcT. Des e
nal era, na época, antes da invenção dos meios de comunicação audiovisuais, o modo, o narrador, impessoalmente identificado ao leitor ("quem o contorna"),
mau medwm por excelência. A util ização da figura do enviado especial, ou vai propor uma investigação integral dessa imensa porção do país. revelando a
seja, um jornalista que vai observar pessoalmente os eventos no próprio local, heterogeneidade que a caracteriza. Assim o fazendo, desenha um percurso
é quase uma novidade no Brasil da época. E certamente a Guerra de Canudos que dá uma improvável volta completa em tomo do planalto central, mostran-
foi o primeiro evento no país a ser totalmente coberto como tal, ou seja, como do-o ao leitor através do olhar do narrador.
evento mediático. o que foi viabilizado pela recente instalação de redes de Considerando-o de três pontos de vista, a saber o astronômico, o topo-
t légrafo cobrindo o sertão, pelas quais transitavam as notícias. E é curioso, no gráfico e o geológico, passa a argumentar que se trata de uma "região ~riv ile­
qu conceme à campanha, que os correspondentes fossem em geral militares. giada, onde a natureza armou a sua mais portentosa oficina". O porque dessa
al.;u deles m~smo combatentes. afirmação, só bem mais à frente se desvendará. . .
C Jmo a Guerra de Can udos provocou uma comoção considerável que Procede então à descrição topográfica e geológica da regiã~. fetta com
m0 i!Jzou a opinião pública- num primeiro tempo para apoiá-la e num segundo uma paixão tal que lhe atribui belêza inaudita e capacidade de atrair 0 ho~e~.
empo para denunciá-la-, não é de surpreender que a maioria dos enviadOS Esta capacidade se assinala .mclustve em seus no · s• que correm ao. contrariO,
.
Clat< tenha escrito livros a respeito do que ali assistiram, utilizando suas da costa para o interior, arrebatando-o no seu cur50 · 0 rumo dos nos vat cons-
reportag -ns e notas inéditas. lituir mais um dos paradoxos tão do gosto desse autor. .. d
ç • - gião dá margem a qua ros
rm é q lC, quando o livro de Euclides surgiu em dezembro de 1902,já Diversificando ainda mais sua tetçao, are b em
, . recipitam saltam e tom am
pre ·dido por mu1tas outras reportagens e livros, ficcionais ou nãO· naturais mais imponentes" ate. Os nos se P '
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OS SERTÕES
WAL:>;ICE. 'OGCEIRA GAL\ÃO

ções de e ·pírito permanecerão dominante , como se verá, tanto no pro·e


· do fumro eng nhe1ro· m1·1·Jtar quanto em seu 1·1vro Os sertões. ~ to de :t\fas é preci ~ c?nvir que o seu foi o único a tomar- e um monumento da
, 1da
literatura brastle1ra; todos os outros, sem exceção. perderam interesse ao lon-
go do tempo. _ , .
E é digno de nota que nao so no Bras!l, mas em geral por toda a América
CORRESPO:>;DE ITE DE GUER RA Latina, a história das insurreições populares tenha sido escrita por militares.
Segundo Angel Rama, isso se explica por que o projeto modemizador, que
Euclides da Cunha viria a participar da Guerra de Canudos como enviad rejudicava as populações rurais pobres, foi em toda parte imposto a força
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e -pecial do jornal A Pro1·íncia (hoje O Estado) de S. Paulo. De lá remeteu um pelo exérci to, que já então ocupava posição de mando nos países neo-ibéricos
série de reportagens que se tomaria célebre, mas que ele mesmo nunca republic a
ou. ~o conti nente. Os militares, sem esquecer o tenente, e adjunto do mini tro da
E que o apareceria em forma de livro postumamente, em 1939, com o título de Guerra, Euclides da Cunha, foram ao mesmo tempo os algozes e as testemu-
Can11dos- Diário de uma expedição. Entretanto, o interesse maior da série é nhas que legaram seu depoimento à posteridade.
o fato de poder ser vista a poste rio ri como o embrião de Os sertões.
Marco na história da imprensa nacional, essa guerra foi de um impacto
A TERRA
extraordináno: pela primeira vez no país foi feita uma cobertura em bloco no
palco dos acontecimentos. As principais folhas do Rio de Janeiro, São Paulo e É com a primeira parte, intitulada "A terra", abrindo o livro como um
Bahia criaram uma coluna especial, quase sempre intitulada "Canudos", dedicada majestoso pórtico, esplêndido em suas galas literárias, que o lei tor entra em
exclusivamente ao assunto, por toda a duração da guerra Além disso, estampa- contato com o livro. Assim, Os sertões começa sublinhando o privilégio que
vam qualquer coisa: invencionices, pareceres dogmáticos de militares de partido concede ao espaço, ao investir diretamente o planalto central brasileiro. onde
previamente tomado, e até trechos da correspondência do comandante da quar- se situa Canudos.
ta e ·pedi,..ão com sua esposa. Todas essas publicações tinham o objetivo comum A primeira frase reza: "O planalto central do Brasil desce, nos litorais do
de reforçar a idéia de uma iminente restauração monárquica. Sul, em escarpas inteiriças, altas e abruptas. Assoberba os mares; e desata-se
A importância Ja imprensa nesse lance não deve ser minimizada. O jor- em chapadões nivelados pelos visos das cordilheiras marítimas [etcT. Des e
nal era, na época, antes da invenção dos meios de comunicação audiovisuais, o modo, o narrador, impessoalmente identificado ao leitor ("quem o contorna"),
mau medwm por excelência. A util ização da figura do enviado especial, ou vai propor uma investigação integral dessa imensa porção do país. revelando a
seja, um jornalista que vai observar pessoalmente os eventos no próprio local, heterogeneidade que a caracteriza. Assim o fazendo, desenha um percurso
é quase uma novidade no Brasil da época. E certamente a Guerra de Canudos que dá uma improvável volta completa em tomo do planalto central, mostran-
foi o primeiro evento no país a ser totalmente coberto como tal, ou seja, como do-o ao leitor através do olhar do narrador.
evento mediático. o que foi viabilizado pela recente instalação de redes de Considerando-o de três pontos de vista, a saber o astronômico, o topo-
t légrafo cobrindo o sertão, pelas quais transitavam as notícias. E é curioso, no gráfico e o geológico, passa a argumentar que se trata de uma "região ~riv ile­
qu conceme à campanha, que os correspondentes fossem em geral militares. giada, onde a natureza armou a sua mais portentosa oficina". O porque dessa
al.;u deles m~smo combatentes. afirmação, só bem mais à frente se desvendará. . .
C Jmo a Guerra de Can udos provocou uma comoção considerável que Procede então à descrição topográfica e geológica da regiã~. fetta com
m0 i!Jzou a opinião pública- num primeiro tempo para apoiá-la e num segundo uma paixão tal que lhe atribui belêza inaudita e capacidade de atrair 0 ho~e~.
empo para denunciá-la-, não é de surpreender que a maioria dos enviadOS Esta capacidade se assinala .mclustve em seus no · s• que correm ao. contrariO,
.
Clat< tenha escrito livros a respeito do que ali assistiram, utilizando suas da costa para o interior, arrebatando-o no seu cur50 · 0 rumo dos nos vat cons-
reportag -ns e notas inéditas. lituir mais um dos paradoxos tão do gosto desse autor. .. d
ç • - gião dá margem a qua ros
rm é q lC, quando o livro de Euclides surgiu em dezembro de 1902,já Diversificando ainda mais sua tetçao, are b em
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OS \IH!()f'i
WALNIC I. NOCoi'I.JKA Co!\IV r)

XÍI.JU •xiqu s. c.ilx:<;as-de-fradc, yuip:ís, palmatórias-do inferno. Em suma, <I ~iio


d;r c,liiiJO?;r no ardor da~ ·ca é bem traduzida pelo termo tupi caatmuluvo, OU
111 tcJTIP 01 J
ríos. irnpcdrndo m de se prl'Crprldf<'lll Jc urna •" IC/ d,r r,n,rs nt.ll
• · •
l evando de roldao o prcc<~no htrrnm 1.: crodmdn ;r ~up •rfr··r,, 1 •I · ·.urdno
uwtodcx:rrte, cx prc ~\imdo uma "vegetação agonizante, doente c informe, cxau,. · tlt~ s. . . .. I
' d. novo a seca. Assrrn ~c comlrlurrra loco urn SI' ll'llt.t dr ur r •.r ,u>mtnro
t.J, num e s pa ~ rno doloroso" solo c . .
. 1,5 b·rrato c duradouro, que f;u ra a ualtltc/,Jtrah.tlh,u ,r w11 favor , ,. rl.rll
srntP ~.: . • ' • . .
Entrt:taniO, a• vezes , súbitas tempestades violentíssimas anunciam firn . os pc•fÍgOS, da eVa()OfiiÇ:JO raprda flOJ' lliiO ll[lJ't'\l'lllar 11111 l'~Jll'lh<) d olf'U.I
0 do
d,1 c~ ração sl'c:a . E no di.t ~eguinte, fato rnuiras vczc · observado, a caaringa
únrco. c, vasto . . é o dt'~L'IIo' "·">. .1 1 Jr c• 11
· · O problema Cl~nlral a ..sn alacado
r · ~ w sc11a c se cobre toda de verde. Outras espécies da nora fazem enrão sua
rncra con·sc"üência .., daquele, porque O rnartrr 10 do houwm, ,rJr,t o' ·fi, xn .,,.
.tpanç.w. ( 01110 mulungus noridos. caraíbas, baraúnas, marizciros, qwxabciras
tortura maior• ma i~ .ampla, , "abrangendo a cconnr111a gt•r,lf d.r V1d:r i'• ,. dn
rco;t i1os, ouricuris, umburanas,jurcrnas, cri trinas c, coroando rudo, umbuzeiro~ rnartírio secu lar da l erra ... ·
qu< fu rw:ccm o suculcnto fruto agridoce apreciado na região. O senão, de
ulft mo que t·, se mcramorfoscw em paraíso.
() IIOMJIM
Alt; .r fauna , que parrrra cm busca de paragens mais amenas, ressurge
com a procr~~ao de cairirus, queixadas, emas, scriemas, sericóias, tapircs ou
.rnt . r~ . nrr ~ a s, mocós, veados c mesmo bezerros perdidos. Ma c tá logo à vi&la A questão prirnacial - c por isso a mais compll'xa ·no ··~.rrrclu do honwur
o retorno crclíco da seca. brasileiro é sem dúvida a rncstiçagcrn, nó l'OIH.:cituul corn qrrc ~.t· dd>ciii.HII ·I
l'nx.:urando situar o ser! fio de Canudos numa tipologia geográfica , o au- época rodos os pensadores do país. A dificuldade dcc~H."'Jitl tlr· .rv.tlr.rr oi'
lnr tt·rmrnil pm conclurr que ele é inclassificável, na medida em que suas ca- J'l!SJlCC(iVélS COntribuiçõeS de índiOS, bJ,llnC:OS C llegJI)~ ..')JfJCIJid,ldt• oil!'llJIJ,ld I
pdo fato de a miscigenação nüu .ser unrforme t' ~·t·r ar VJJ rm lrpos d,· <lllllhlll.i
racteríMrcas não corncidcm cxatamenlc corn nenhuma das categorias cxisrcntcs.
Juq.~rncnte por causa dessa oscilação dual entre a esrcri lidade estiva! c a cxu-
ção, podendo resultar no rnularo (branco com lll'gro).llo ma11whr< o nu 1 trr rhn• .i
(branco com índio), c no cafu;. (negro com índio). ·r mim dt•s ll'rrrkrranr .11r.r
hcr oillllil hihcrnal, ft:v.r a pen ·ar que "a naturCla se compra; em urn jogo de
.rnlílt'St' " vés de sucessivos cruzamcnlos. para o pardo, qut' st•ri.r 11 hrasrlrrrn. I n.in •
possível enfrentar a quL·~tiio sem ante~ analrsar o hrslt li rco das v;u r.ts 'or" n
O tft . t'rlo im morra! no~ o é pmduzrdn só por agenrcs narur:ris. Também o
lc& de povoamento.
honwrn ~.: rcspon~.rvel pela r:XÍ\ll:ncia de!~:, c parlicul<trrncnrc enlrc nós. Os
Preocupado com a influrncia do duna t' J,rs c:oordt•nad.l !'<'ol''· f 11 ,1
ullollil<rdorc hcrdurarn do.s rndios o costume dl! fatcr a queimada para des-
SOhJ'C () iJOJllelll, () aulor Vai COillparar dill'IO:IIfL'S ll'gÍtll'S do pab 11.1 \o li J,JhrfrrJ.r
h,Jsl,u o mato c preparar o planlro. c :rrnJa a expandiram ao abrir pastos para o
de de seus condicionantes mesológicns. A m·sll· o qu.tdrot: hem drlt'll'llh' do
j.:.tdo em lOJa a pnrçao ccntr .ti do pars. Desde os rempos da colônia sucessivos
h:íhilat ama;ônko, assim como o que st• passa no~ t'Jltll' diH'I)'< do '1 11
gmr:rnm IL'rn proibido. SL'Ill ê\Jio, esse coslurnc. Sirllt'lizando c concluindo:
oror rc no Sul. I~s~t·s dados teriam tido st·u pesnnu po\ o.llll<'lll 11 unt rai ti••JMI
"( 'oi.Jhorando wrn os ckmcntos rnctcnrol<ígicos, com o [vl·ntol nordeste, com
concedendo ao hundt•irantc paulista.jü cruz.1do nm1 o rndw. rrlllllfHH'ttrolo 'h 01
.t ~m·~·úo dos c~tratLJs. c:nrn as caní rrlas, com a crosao cólia, com us tcmpe ta·
rl'dn l'slahilitado. Bt•rwficiado de!.de o pollh> de purtrd.r por Hlll <lrm.t JIJ,it
dcs suhilânc;rs o homt•rn fl'l-se uma componl'r1le nefasta entre as forças
illlleno c dt• llll'rtorclo contrastes, este se tor 111111 um dnmi11.rJnr d.l 1<' 11 •1· .nrl
dayurk L lim.t dcmnlrdor."
11nn1o c livtt'. l'm isso, seu pape I nu dt: Ilia' ,um . ·n't) t JtllOI •I<,. llldOI!J,l rf <li
I\ las. harn1oni;.rndn··SL' com n ritmo das forças cósrnk·a~ que a cada pns·
.r Sl'l dl' prinwira plan:t.
~t1 <' Lr.Jn~lotmam nn ~t·u conrr,írio, o homem que criou o deserto tarnllélll
rnúer.tl'\lin~:'ui lo. P.n.t t.tnlo. h.tsta atentar para wtustos l'Xl'mplos c verifi·
'.r r l't 111l(l 11s n>m.mo~ na Tnnrsi.t, à beira do deserto do Saar.r, souberam cn· Q SI Rl I O
H um·t St luç.to p.tr,J ,, ll.tgel<>, a qu.tl milênios 111.1is tarde os colonizadores

fr t'~ ll'' ll.tltlari.rm na mcsnurcgiào. A ~nlw.-.io u)n. i tiu 'llll'rf:!U r uma St• nao ~l' pode propriament ''~ulnr mm lt,J quc'nohlrrrnllln.mln•
t' l ·I' qu,·n.t · h.tnag •n. qut• dt•svi.lss •m as ton·,•nh.'S sat.OllolÍS do n ,,_ f I qu
Pnlti •ic o hr.t~rl iro", ·ntr tanto 1'\ll til no uma ul ' \ I n11

/<,\ I o

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XÍI.JU •xiqu s. c.ilx:<;as-de-fradc, yuip:ís, palmatórias-do inferno. Em suma, <I ~iio


d;r c,liiiJO?;r no ardor da~ ·ca é bem traduzida pelo termo tupi caatmuluvo, OU
111 tcJTIP 01 J
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• · •
l evando de roldao o prcc<~no htrrnm 1.: crodmdn ;r ~up •rfr··r,, 1 •I · ·.urdno
uwtodcx:rrte, cx prc ~\imdo uma "vegetação agonizante, doente c informe, cxau,. · tlt~ s. . . .. I
' d. novo a seca. Assrrn ~c comlrlurrra loco urn SI' ll'llt.t dr ur r •.r ,u>mtnro
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. 1,5 b·rrato c duradouro, que f;u ra a ualtltc/,Jtrah.tlh,u ,r w11 favor , ,. rl.rll
srntP ~.: . • ' • . .
Entrt:taniO, a• vezes , súbitas tempestades violentíssimas anunciam firn . os pc•fÍgOS, da eVa()OfiiÇ:JO raprda flOJ' lliiO ll[lJ't'\l'lllar 11111 l'~Jll'lh<) d olf'U.I
0 do
d,1 c~ ração sl'c:a . E no di.t ~eguinte, fato rnuiras vczc · observado, a caaringa
únrco. c, vasto . . é o dt'~L'IIo' "·">. .1 1 Jr c• 11
· · O problema Cl~nlral a ..sn alacado
r · ~ w sc11a c se cobre toda de verde. Outras espécies da nora fazem enrão sua
rncra con·sc"üência .., daquele, porque O rnartrr 10 do houwm, ,rJr,t o' ·fi, xn .,,.
.tpanç.w. ( 01110 mulungus noridos. caraíbas, baraúnas, marizciros, qwxabciras
tortura maior• ma i~ .ampla, , "abrangendo a cconnr111a gt•r,lf d.r V1d:r i'• ,. dn
rco;t i1os, ouricuris, umburanas,jurcrnas, cri trinas c, coroando rudo, umbuzeiro~ rnartírio secu lar da l erra ... ·
qu< fu rw:ccm o suculcnto fruto agridoce apreciado na região. O senão, de
ulft mo que t·, se mcramorfoscw em paraíso.
() IIOMJIM
Alt; .r fauna , que parrrra cm busca de paragens mais amenas, ressurge
com a procr~~ao de cairirus, queixadas, emas, scriemas, sericóias, tapircs ou
.rnt . r~ . nrr ~ a s, mocós, veados c mesmo bezerros perdidos. Ma c tá logo à vi&la A questão prirnacial - c por isso a mais compll'xa ·no ··~.rrrclu do honwur
o retorno crclíco da seca. brasileiro é sem dúvida a rncstiçagcrn, nó l'OIH.:cituul corn qrrc ~.t· dd>ciii.HII ·I
l'nx.:urando situar o ser! fio de Canudos numa tipologia geográfica , o au- época rodos os pensadores do país. A dificuldade dcc~H."'Jitl tlr· .rv.tlr.rr oi'
lnr tt·rmrnil pm conclurr que ele é inclassificável, na medida em que suas ca- J'l!SJlCC(iVélS COntribuiçõeS de índiOS, bJ,llnC:OS C llegJI)~ ..')JfJCIJid,ldt• oil!'llJIJ,ld I
pdo fato de a miscigenação nüu .ser unrforme t' ~·t·r ar VJJ rm lrpos d,· <lllllhlll.i
racteríMrcas não corncidcm cxatamenlc corn nenhuma das categorias cxisrcntcs.
Juq.~rncnte por causa dessa oscilação dual entre a esrcri lidade estiva! c a cxu-
ção, podendo resultar no rnularo (branco com lll'gro).llo ma11whr< o nu 1 trr rhn• .i
(branco com índio), c no cafu;. (negro com índio). ·r mim dt•s ll'rrrkrranr .11r.r
hcr oillllil hihcrnal, ft:v.r a pen ·ar que "a naturCla se compra; em urn jogo de
.rnlílt'St' " vés de sucessivos cruzamcnlos. para o pardo, qut' st•ri.r 11 hrasrlrrrn. I n.in •
possível enfrentar a quL·~tiio sem ante~ analrsar o hrslt li rco das v;u r.ts 'or" n
O tft . t'rlo im morra! no~ o é pmduzrdn só por agenrcs narur:ris. Também o
lc& de povoamento.
honwrn ~.: rcspon~.rvel pela r:XÍ\ll:ncia de!~:, c parlicul<trrncnrc enlrc nós. Os
Preocupado com a influrncia do duna t' J,rs c:oordt•nad.l !'<'ol''· f 11 ,1
ullollil<rdorc hcrdurarn do.s rndios o costume dl! fatcr a queimada para des-
SOhJ'C () iJOJllelll, () aulor Vai COillparar dill'IO:IIfL'S ll'gÍtll'S do pab 11.1 \o li J,JhrfrrJ.r
h,Jsl,u o mato c preparar o planlro. c :rrnJa a expandiram ao abrir pastos para o
de de seus condicionantes mesológicns. A m·sll· o qu.tdrot: hem drlt'll'llh' do
j.:.tdo em lOJa a pnrçao ccntr .ti do pars. Desde os rempos da colônia sucessivos
h:íhilat ama;ônko, assim como o que st• passa no~ t'Jltll' diH'I)'< do '1 11
gmr:rnm IL'rn proibido. SL'Ill ê\Jio, esse coslurnc. Sirllt'lizando c concluindo:
oror rc no Sul. I~s~t·s dados teriam tido st·u pesnnu po\ o.llll<'lll 11 unt rai ti••JMI
"( 'oi.Jhorando wrn os ckmcntos rnctcnrol<ígicos, com o [vl·ntol nordeste, com
concedendo ao hundt•irantc paulista.jü cruz.1do nm1 o rndw. rrlllllfHH'ttrolo 'h 01
.t ~m·~·úo dos c~tratLJs. c:nrn as caní rrlas, com a crosao cólia, com us tcmpe ta·
rl'dn l'slahilitado. Bt•rwficiado de!.de o pollh> de purtrd.r por Hlll <lrm.t JIJ,it
dcs suhilânc;rs o homt•rn fl'l-se uma componl'r1le nefasta entre as forças
illlleno c dt• llll'rtorclo contrastes, este se tor 111111 um dnmi11.rJnr d.l 1<' 11 •1· .nrl
dayurk L lim.t dcmnlrdor."
11nn1o c livtt'. l'm isso, seu pape I nu dt: Ilia' ,um . ·n't) t JtllOI •I<,. llldOI!J,l rf <li
I\ las. harn1oni;.rndn··SL' com n ritmo das forças cósrnk·a~ que a cada pns·
.r Sl'l dl' prinwira plan:t.
~t1 <' Lr.Jn~lotmam nn ~t·u conrr,írio, o homem que criou o deserto tarnllélll
rnúer.tl'\lin~:'ui lo. P.n.t t.tnlo. h.tsta atentar para wtustos l'Xl'mplos c verifi·
'.r r l't 111l(l 11s n>m.mo~ na Tnnrsi.t, à beira do deserto do Saar.r, souberam cn· Q SI Rl I O
H um·t St luç.to p.tr,J ,, ll.tgel<>, a qu.tl milênios 111.1is tarde os colonizadores

fr t'~ ll'' ll.tltlari.rm na mcsnurcgiào. A ~nlw.-.io u)n. i tiu 'llll'rf:!U r uma St• nao ~l' pode propriament ''~ulnr mm lt,J quc'nohlrrrnllln.mln•
t' l ·I' qu,·n.t · h.tnag •n. qut• dt•svi.lss •m as ton·,•nh.'S sat.OllolÍS do n ,,_ f I qu
Pnlti •ic o hr.t~rl iro", ·ntr tanto 1'\ll til no uma ul ' \ I n11

/<,\ I o

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WALNJCE NOGUEIRA GALVAO

. urgido de tanto. l'aldcamentos c dc tanlo ondicionamentos mesológicos d'. 0 diagnóstico de Antônio Conselheiro é contraditório, o lellor perceben-
1
vcrgc ntc . Dclincaram-st' dcs c modo duas categorias de mestiçagem
do 11 hesit:Jção do autor entre decretá-lo não desequilibrado c constdetá-lo
ord '. te, confonm: se tratas~c do litoral ou do sertão. No litoral, onde 0 af~~~ "doente grave", afetado de paranóia. Determinado pelas variáveis raclil!S que
l\lllt> foi .1hundantc como mão-de obra para os canaviais e engenhos,
. d . 0 po.. entramm em sua constituição, sob o influxo da condições do meio foi rcgrcdindo
vo.lllll' ll!O t ' ndcu a a~ . entnr- c c o 11po prc ommuntc a cr o mulato. No sertã até tornar-se um heresiarca, a exemplo daqueles do cristinnilimo primtti\'o.
,,k ritmo dt• \ td.l durís~inll). a\ csso à scdcntarização, os bandeirnntcs paulist<~~
Envolvido por tabela nas lutas de família entre Maciéis c Arau1os . •ilém das
·o~ mdios acab.1r.1m por pr,'lduzir c 1mo tipo predominant • o curiboca. atrocidades de que seu clã foi vítima viveu infelicidades pe soais que 0 lev:t -
\ popul.t ' Jl) do sert:il. após Ir~ · cculo, de i ·olamcnto. c mostra rc. ram à loucum. Quando ressurge, é já como o Peregrino. que as ·im c intitul,tv:t,
cr· Í\',t et'm rclaç:io .to prt"Cnte por niio t •r rcc •bido influência posteriores. partindo para trinta anos de peregrinação pelos sertões, em penitência sab ·-se
J),·dk.mdo-. ' colctivam ·ntc .to trabalho nômade do rcgime pastoril, manift• ta ltl por que pecados. "Condensando o ob curantismo de três ruças", a pessoa
t' t1.1 ·o, p. ict,logtcos d.1mdolc .tv ·nturcira dos bandeirantes c da impulsividud~ do líder "rres eu tanto que se projetou na Hi tótia''.
indtgcn.t. t •nto .10 tipo fí ico, ou fL·nótipo. o autor encontra ncle uma grande Líder místico, Antônio Conselheiro, acompanhado de scu SCljltazcs. \a
Ulll h rmid.td '. d ·onde conclui que ertancjo ~"o tipo de uma sub alegoria gut:a a pclo sertão. Quando cntrava nas vilas e aldeias, fazia seu st:rmão d•:m-
ctni ·.1 J·' Ctln titutd.t". Fort 'corajn o. sem dúvida ele é: ma,. por ter parado te da igrt:ja e depois ia comandar a construção ou reconstrução dt: igrcj:ts.
no tl'mpo. i"'u.tlml'nte H rasado e ·upcr tkio. o. cemih::rios c açudes. Assim se passaram trinta anos. com o s~quito scmprc ,,
pl · atinnar .1 supcnoridud' do •rtanejo. procede o autor então a um aumentar. Até que a Igreja, já de há muito não \·endo com bon ·olho · aquck
diagm,sttl'l' contra. tin1 entre dots tipo, dt.' \ aquciro•. o ·rtanejo e o gaúcho. competidor avulso, mandou uma missão investigar o que se pns uva no arr,Hal
Dt ~ti ngu· m·: ·por tudl)..lt ' pd,t roupa ·.jaque meioc pinho odoprimciro de Canudos, onde os conselhciristas se tinham finalmente refugiado.
m 'lJ u. 11 ·ar.tt ·r tanto quanto o meio genero o do segundo. o primeiro se A narrativa dessa missão, que se conhece pela pala\ ras de um do.
th'lll .1 .li' ui a qut.' s • tran~mud.t num Jtimo em ativid,td • violen! 1, enquanto no enviado , frei João Evangeli ta do Monte Marciano. é seguida d • perto ~lo
. ~undl . • notam .1jO\ ialid.tde c o •n. o dc fe. ta. autor. De acordo com ela, o dois capuchinhos dt ·garam a C.mudo:. p.u:1
LLngl • ..:ur. o ' \.!mina a. \e. tes do ertan ·jo. sua momdia, seu co tu· executar es õe de reavivamento, como cru comum em todo o sertão. P1c a-
m' .. u IJ: 'r. s ·u foklor '. o· Mdi · que dt.'sen\'Oive para enfrentar a eca ram no recinto sagrado, pura uma multidão ho til c ostensivamente arm,ld.t.
•t ·rn:~m nt p.lir.tr l l em .tmea ·a llbrc sua cabe 'a c. finalmente, sua rdigio- Denunciaram os perigos a que estavam expo tos os pec.tdores ali ~umdo . al'
~id.td Lt.l, 'l'lliO •le. rne. u.;a. porque ab on·e elementos da crença dos obedecerem ma i a Antônio Conselheiro do que ~ Santa Madre lgrqa. Onl ·-
ind1 ''· J p0rtugtl' -e, • d,), africano . entre elas as superstiçõe de toda naram que o presentes se desarmassem e abandonas em o arrai<~l eu hd 'r.
md ·m l t t ianismo. Compro\·am-n o fato de j.i terem havido na região. e voltando aos lares di tantes. E finalmente interpelaram o n elhctro quanto a
hJ t.:mpos. \,trw. outr · :urto · de in urrciçõe marcadas pela religião. poi · eu dissídio com a república, e orlando-o a aceitar a nova fL rma de g~.wemo.
<'m la mi:tu • Jl. i(!UJ irn nte o b.lnditi mo e tomou endêmico. ~01110 re ultado, tiveram que sair dali meio fugiJo . amedrontado pela re.u;a
Ytolenta que os ameaçou .
. De volta. fizeram seu relatório, em vit1udc dP qual a Igreja retir u s.:u
010
"-· :rõ:-.·1o Co~sELHEJRo ap a Antônio Conselheiro e pa ou a engro ar as fileira' de to.k - quanD
auguravam o desmantelamento de 'Canudo-.

UM PARJ1-..'TESE IRRIT.-\:-;TE

mem··
es a ordem de nívei di cursi\os. \atn enc ntrar n:~ parte ··o ho-
uma argumentação bem urpre •ndcnte. ~ gund da.

161

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. urgido de tanto. l'aldcamentos c dc tanlo ondicionamentos mesológicos d'. 0 diagnóstico de Antônio Conselheiro é contraditório, o lellor perceben-
1
vcrgc ntc . Dclincaram-st' dcs c modo duas categorias de mestiçagem
do 11 hesit:Jção do autor entre decretá-lo não desequilibrado c constdetá-lo
ord '. te, confonm: se tratas~c do litoral ou do sertão. No litoral, onde 0 af~~~ "doente grave", afetado de paranóia. Determinado pelas variáveis raclil!S que
l\lllt> foi .1hundantc como mão-de obra para os canaviais e engenhos,
. d . 0 po.. entramm em sua constituição, sob o influxo da condições do meio foi rcgrcdindo
vo.lllll' ll!O t ' ndcu a a~ . entnr- c c o 11po prc ommuntc a cr o mulato. No sertã até tornar-se um heresiarca, a exemplo daqueles do cristinnilimo primtti\'o.
,,k ritmo dt• \ td.l durís~inll). a\ csso à scdcntarização, os bandeirnntcs paulist<~~
Envolvido por tabela nas lutas de família entre Maciéis c Arau1os . •ilém das
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\ popul.t ' Jl) do sert:il. após Ir~ · cculo, de i ·olamcnto. c mostra rc. ram à loucum. Quando ressurge, é já como o Peregrino. que as ·im c intitul,tv:t,
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J),·dk.mdo-. ' colctivam ·ntc .to trabalho nômade do rcgime pastoril, manift• ta ltl por que pecados. "Condensando o ob curantismo de três ruças", a pessoa
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\\\(.f( f r>;(l(illiR\(,\1\ \11

1\ • ,dt.l ao dtl bran o como 1.1ça ~upctiM eta con ·nte n.1 lt'llii,J do
"' •undt' unp 'I r;di~mo t•uropt.:u, n.1s ultunas tléc.tda.~ tio seculo 1X ,,. 011 ,1s
pltldllZid•l' • l'\ idcntcmcntc, pelo~ ·uropeus
.• . . () <]llt' l' lll:ll' UI rll'lllk l'lllllJllt'lll
Jt•r. p.u.1 11 castl 1k' pcns.mwnto brasiiL'If(' Jn me~nl.lt'poc,J. t' q1u 0 r.u 1 ~mo
st'J·• a ·r1to t' :.~provado preCisamente por ,tquelcs qut•l'lc t.li~r 11 mmJ
1\ prl'lt:rêu ·w pelo mtlio não~ no\ idaJ ·nem t•strt•J,It'lll (h- ,,.,to
1
.1. 1 1.1

. histom:am ·ntc dat.tda c a~sume, no imagm.il io das l'lilt's ·olnni,Ji~. uma l1nt
~';10 ueflagrat.la pdl s lliOI'illlClllOS d. indt•pcndt~nda IIJ Allll'l it'.l l.dlllt.l RI' I
1 in.Jit:,Jr ancestrais indíg ·nas s1gnillcava opor-se .111 rolmuz;1dor unlpt·u

dt minantc. Na l!poca da independência, era lrcqtlentc \l'ft'lll s~ ht.lsilciros


fL•ncgar seu nome português c adotar um nomt• indígena. l·:s~a lt'il 1111h ~~ .lll
ab origciH'- i\ qual se sorna ma i tarue aqucl.1 que afinn.t o autoctonl~llln do
mdio. ponto de vista igualmcnt • Jefcndido cm Os urtocs nm~!Jtun1 uma
primem1 manifestação de nacionalismo, ou nativtsmo.
o plano literário, encontra-se o corrd;Jto dess.t pns!lu.t 11.1 tl'lfl'lll<'
indianista do Romanti mo. Enquanto nas litcmtma t•uropéia. o indianiSillth ·up.1
um lugar re. !rito. na literatura hr.Jsilt-ira toma-se dominanll' pnrqut• !t'lll supn1
te no idcario da conjuntura hi tórica. No Romanti!.tno n.1!11 o, o indin .J~smnt' <1
pnpcl que tem na literatura europ~ ia o c.tvalcilo cJrante. o .mcesu.d mcd11 v.ll.
de uma ~poca em que a ,, Õt.'. do horn ·n · cr.un dt•!t'nmnadas P<)t \'otlm~s
nobres. E ·sa personagem a pu r 'Ct' as im como uma reaç.w cnntr.t o
mercantilismo e o material i. mo burguês trMiJo p ·la r ·voluçatl mJu~tri.tl. l~.l'
·,1111' um.1 p 1 1111,1~ ·m d,• .1nt.mh'1 ta '"r comn a auto-atinnaçio de uma liter.Jtura hrasil•ir.t indt•p,·ndl'nk d.1
hl< IJJ,•, I .ll'II,J fd1111111l'n!t' cntr' ~UJ rnn ·i~ll~Ja C ,IS tt•orias raci ta • po1tuguesa passa pelas obras indianistas de dois autmcs ntl\l'l.'l'tllf\(,1,, Jn t'
I 1111111.111lh• i'' r thl' •,u .tpro im.Jdanwntt' ,Jum.t acomot.l,t)'otO. Sua conclusà(l. tk r\lt•ncar, primeiro a dar nível i\ prosa r·ahst,J, c o !!Iandt• poL'1.1 ronhlntJC<1
IIIC P 'f.IU,It' '111 Llltlli,ldl .llltl'lll as lnHI,l. expo~I.J S ali llle~ll\ll t'lll seU li\f(l, <ion,·alws Dias. Por t'Sses dois motivos comergt•ntcs nacit1n,lli~m,, ,. H
'.tj.lr ·c ·ndn 1111do tn .'lJnlt' llll lt'\1<1, ~ .t de que o hr.t. Jk'lrtl do \crtao scnJ '1 111
i1HIIsmo o índio imaginário, que como se satx· nadJ tt'lll a 1 c1 l'tlln .1411 lcs
P1im 'fil' I'Hxlutn d.t mrs,·1gcn.1ç.io dos h.mJl'ir.mtt'. hr;mt O\ com os índiO~ Ju ll',IIS, \ t'ill ,I tornar-se (l emblema da "brasiiJdadt•".
r.ll\h' h(•s '·rui,,. d. IStll,lllll'IIIO. Fs ol rnistur.l, ond. só L'lllrariam as melhores
lJIIJhd.tdt•\ d '' Jn.ts r.tç.t., t' tJUt'. 11.1 mdhm tr,tdic;ão n.Jcion.tl, scqtlcstra 1'
11 10
'• · l'll\.lunu o Sl'll.lnl.'jo. Fstt• pr im ·irn t' n táwl r •stJitado ("Os ·rtuncjtl A LliT
.nn 's tk tud,, um h'tlt'. ''), ~ •ri.t a r.J\'•1 t rasil ira prüpriamt'lllt' dita. ou pcl•l
111 11 11111
' ''' ·' suhl'at •g,•li.l,·tnica. c mforme suas p.ilan.1 Acrsct•nte-.c. par
' mpt.· •nd 1 ·st.l r,•ntor ·~x· .. o drama intdn:tual •.h) .tutor. dilacerado 111
11 11
u,J ,. J, lt:sg.lt,Jr u mt•mtiria do. canudt•ns ·s c o • aht!r de ua épocA
qu 'Ih 'l n.t 11~;, ntrario E: a disl'lt ao foi por •lc m smo hamadad ''Udl

162

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\\\(.f( f r>;(l(illiR\(,\1\ \11

1\ • ,dt.l ao dtl bran o como 1.1ça ~upctiM eta con ·nte n.1 lt'llii,J do
"' •undt' unp 'I r;di~mo t•uropt.:u, n.1s ultunas tléc.tda.~ tio seculo 1X ,,. 011 ,1s
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.• . . () <]llt' l' lll:ll' UI rll'lllk l'lllllJllt'lll
Jt•r. p.u.1 11 castl 1k' pcns.mwnto brasiiL'If(' Jn me~nl.lt'poc,J. t' q1u 0 r.u 1 ~mo
st'J·• a ·r1to t' :.~provado preCisamente por ,tquelcs qut•l'lc t.li~r 11 mmJ
1\ prl'lt:rêu ·w pelo mtlio não~ no\ idaJ ·nem t•strt•J,It'lll (h- ,,.,to
1
.1. 1 1.1

. histom:am ·ntc dat.tda c a~sume, no imagm.il io das l'lilt's ·olnni,Ji~. uma l1nt
~';10 ueflagrat.la pdl s lliOI'illlClllOS d. indt•pcndt~nda IIJ Allll'l it'.l l.dlllt.l RI' I
1 in.Jit:,Jr ancestrais indíg ·nas s1gnillcava opor-se .111 rolmuz;1dor unlpt·u

dt minantc. Na l!poca da independência, era lrcqtlentc \l'ft'lll s~ ht.lsilciros


fL•ncgar seu nome português c adotar um nomt• indígena. l·:s~a lt'il 1111h ~~ .lll
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mdio. ponto de vista igualmcnt • Jefcndido cm Os urtocs nm~!Jtun1 uma
primem1 manifestação de nacionalismo, ou nativtsmo.
o plano literário, encontra-se o corrd;Jto dess.t pns!lu.t 11.1 tl'lfl'lll<'
indianista do Romanti mo. Enquanto nas litcmtma t•uropéia. o indianiSillth ·up.1
um lugar re. !rito. na literatura hr.Jsilt-ira toma-se dominanll' pnrqut• !t'lll supn1
te no idcario da conjuntura hi tórica. No Romanti!.tno n.1!11 o, o indin .J~smnt' <1
pnpcl que tem na literatura europ~ ia o c.tvalcilo cJrante. o .mcesu.d mcd11 v.ll.
de uma ~poca em que a ,, Õt.'. do horn ·n · cr.un dt•!t'nmnadas P<)t \'otlm~s
nobres. E ·sa personagem a pu r 'Ct' as im como uma reaç.w cnntr.t o
mercantilismo e o material i. mo burguês trMiJo p ·la r ·voluçatl mJu~tri.tl. l~.l'
·,1111' um.1 p 1 1111,1~ ·m d,• .1nt.mh'1 ta '"r comn a auto-atinnaçio de uma liter.Jtura hrasil•ir.t indt•p,·ndl'nk d.1
hl< IJJ,•, I .ll'II,J fd1111111l'n!t' cntr' ~UJ rnn ·i~ll~Ja C ,IS tt•orias raci ta • po1tuguesa passa pelas obras indianistas de dois autmcs ntl\l'l.'l'tllf\(,1,, Jn t'
I 1111111.111lh• i'' r thl' •,u .tpro im.Jdanwntt' ,Jum.t acomot.l,t)'otO. Sua conclusà(l. tk r\lt•ncar, primeiro a dar nível i\ prosa r·ahst,J, c o !!Iandt• poL'1.1 ronhlntJC<1
IIIC P 'f.IU,It' '111 Llltlli,ldl .llltl'lll as lnHI,l. expo~I.J S ali llle~ll\ll t'lll seU li\f(l, <ion,·alws Dias. Por t'Sses dois motivos comergt•ntcs nacit1n,lli~m,, ,. H
'.tj.lr ·c ·ndn 1111do tn .'lJnlt' llll lt'\1<1, ~ .t de que o hr.t. Jk'lrtl do \crtao scnJ '1 111
i1HIIsmo o índio imaginário, que como se satx· nadJ tt'lll a 1 c1 l'tlln .1411 lcs
P1im 'fil' I'Hxlutn d.t mrs,·1gcn.1ç.io dos h.mJl'ir.mtt'. hr;mt O\ com os índiO~ Ju ll',IIS, \ t'ill ,I tornar-se (l emblema da "brasiiJdadt•".
r.ll\h' h(•s '·rui,,. d. IStll,lllll'IIIO. Fs ol rnistur.l, ond. só L'lllrariam as melhores
lJIIJhd.tdt•\ d '' Jn.ts r.tç.t., t' tJUt'. 11.1 mdhm tr,tdic;ão n.Jcion.tl, scqtlcstra 1'
11 10
'• · l'll\.lunu o Sl'll.lnl.'jo. Fstt• pr im ·irn t' n táwl r •stJitado ("Os ·rtuncjtl A LliT
.nn 's tk tud,, um h'tlt'. ''), ~ •ri.t a r.J\'•1 t rasil ira prüpriamt'lllt' dita. ou pcl•l
111 11 11111
' ''' ·' suhl'at •g,•li.l,·tnica. c mforme suas p.ilan.1 Acrsct•nte-.c. par
' mpt.· •nd 1 ·st.l r,•ntor ·~x· .. o drama intdn:tual •.h) .tutor. dilacerado 111
11 11
u,J ,. J, lt:sg.lt,Jr u mt•mtiria do. canudt•ns ·s c o • aht!r de ua épocA
qu 'Ih 'l n.t 11~;, ntrario E: a disl'lt ao foi por •lc m smo hamadad ''Udl

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OS ,\UUtltS
WALNICE NOGUEIRA GALVÃO

c'nns1·llwuo,qut· c1a católico c beato mas não tinha sido ordenado sacerd
• . lOS
uhtinl1.1 ou lidO a tolcJ,JilCJa I v1g ános Ioca1s,
. con f orme oca o. Sabe-se taOte ' te Pires Ferreira. Emboscadas estas em Uauá, seguiu-se um combak "an-
tx: qul'. Jll'tamcntc por nao ser pa re, c c pregava somente no adro d·rn.
111 · ~ d 1 grento. em que os canu,denses foram dizimados. Ainda assim, sem sab~r ava-
ig1t·ju• c nao no altur, c queM! abstinha de administrar os sacramentos co a. liar a quantidade em numeros e os recursos de que o adversário dispunha, a
• rno
~ ·• .um:ntc , o bat•~mo, etc. Pc1cgrinava acompanhado por um séquito q 0 tropas bateram em retirada. Esse episódio passou à história como a primeira
, ue 0 expedição contra Canudos, ou Expedição Pires Ferreira ( 1896).
at:oltL!V.t na. nhr.ts c nas orações. rezando junto com ele.
01a, o .tdvcnto da república acarreta alterações que perturbam 0 ânirn Enceta-se então a preparação de uma nova ofensiva, sempre com tropas
estaduais baianas, agora mais numerosas e mais bem armadas. hem como ~ob
do~ pc1egrinos De um lado, ~ão decretados novos impostos, que gravam~
0 comando de uma patente mais alta, o major Febrônio de Brito. Em janeiro de
popul<u,;io poiJJe do sertão. De outro, certas medidas laicas, mas afetando
1897 deslanchao ataque, que resulta igualmente em derrota, nos arredores de
prJncJpio, rehgiosos vincadamcnte tradicionai • ão postas em ação. É caso
0 Canudos. Essa foi a segunda expedição contra Canudos, ou Expedição Febrônio
da t'Jl.lraç~o entre Igreja c Estado, a liberdade de culto e a instituição do
de Brito.
l':t .uncnto CJvil pela Assembléia Constituinte de 1890. Especialmente esta,
qut• rontr.Jdllla frontalmente um sacramento católico.
Apcís algum,,., csraramuça com as autoridades das vilas e arraiais do
0 DESASTRE
imcnnr. os peregrinos passaram a evitar as aglomerações urbanas e a afundar-
( cada Vl'l. mais no deserto, para votar-se à vida contemplativa. Acabam por
A terceira expedição ganha uma patente superior, tendo por comandante
,Jrrandt.tr, por volta do ano de I893. na tapera de uma fazenda abandonada no
um coronel, e que coronel: Moreira César tivera sua reputação firmada duran-
lundo do ;crtJo d.t Balua, longe de tudo. As ruínas eram de uma antiga proprie-
te a campanha contra a Revolução Federalista no sul do país, quando se desta-
tl.•<lt· fun ltaria ora ab<tndonada c que pertencera à Casa da Torre, um vasto
cara pelo rigor da repressão que exercia, ganhando então o cognome de
dom mio ú criação de gado estabelecido pelo bandeirante Garcia d' Ávila nos
"Corta-cabeças", ou "Corta-pescoço". O perigo que Canudos veio a repre-
p11mtí1Jio da rolúma. Sohre as ruínas os peregrinos instalam seu acampamen-
sentar, após essas duas derrotas, já é agora considerado de alçada nacional c
to. edilic.un pouco a pouco seu~ barracos de pau-a-pique - futura Tróia de
grave demais para ficar sob a responsabilidade de tropas estaduais. Monta-se
'"'flll, no o nnor euclidiano-. reconstroem a pulso, e pedra por pedra, um uma grande ofensiva, com forças federais vindas de todo o país, armamento
nt1go templo loc,JI l.Omcçam a erguer um outro muito maior, defronte àque- moderno incluindo canhões, e uma ampla campanha no sentido de alertar a
le A111hos no largo central do povoado, serão batizados como Igreja Velha e opinião pública. Os ânimos estão exaltados, a demagogia patriótica cspicaçada,
lgn:j.1 'ov,t F<.ta ·a imtalado o arraial de Canudos, nome pelo qual já era c começa-se a insinuar que os incidentes do sertão apontam para uma tentati-
onhccida ·• untiga fatt•nda . va de restauração monárquica.
Ü da ct'n~tnJçao dJ Igreja Nova que decorre um primeiro incidente, a Acompanhada pela atenção de todo o país, a terceira expedição se reúne
nHrltlplic.t\ão ddc . e .. , olumando até Jdlagrar uma verdadeira guerra. em Salvador c marcha para Canudos. Chega a atacar o arraial, ma após
to h.1 lllJ.deira nu sertão. cuja cobertura vegetal típica é a caatinga. a algumas horas, sofrendo pesadas perdas, inclusive a de seu comandante, hate
qual. como\ m10s. nJo p.tssa de um mato ralo. de garranchos, gravetos e cac· em retirada, dehandando, enquanto para facilitar a fuga joga fora armas c
11 1
I' r o o pô' o de Canudos tinha comprado c pago antecipadamente na munições - que serão coletadas e ;ntesouradas pelos canudense - e até
:d.tdc d Juazeiro um lote de peças necessárias para as obras da Igreja Nova. i>Cças de farda, como dólmans ou botas.
Jo tcnJn 1do ntreguc a encomenda. apesar de paga, ameaçaram ir buscá·
A celeuma provocada por mais eua derrota é incalculável. Manifestaçõc
la pc ' llm nt •.
0 de rua nas duas principais cidades do país, Rio de Janeiro e São Paulo, acabaram
' .filctarn, organizados num.t proci são precedida pela bandeira~O se transformando em motins em que o furor da multidão se desencadeou obre
05
•nt Santo, cantando hinos religiosos. Mas as autoridades IocaJS alvos mais óbvios, ou seja, os poucos jornais monarquistas sobrevivente ·
11\ ocarlt '· parJ recebê-lo . tropas estaduais, comandadas pelo renen- quatro foram empastelados e o dono de um deles foi linchado. Todos clamavam

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WALNICE NOGUEIRA GALVÃO

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111 · ~ d 1 grento. em que os canu,denses foram dizimados. Ainda assim, sem sab~r ava-
ig1t·ju• c nao no altur, c queM! abstinha de administrar os sacramentos co a. liar a quantidade em numeros e os recursos de que o adversário dispunha, a
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, ue 0 expedição contra Canudos, ou Expedição Pires Ferreira ( 1896).
at:oltL!V.t na. nhr.ts c nas orações. rezando junto com ele.
01a, o .tdvcnto da república acarreta alterações que perturbam 0 ânirn Enceta-se então a preparação de uma nova ofensiva, sempre com tropas
estaduais baianas, agora mais numerosas e mais bem armadas. hem como ~ob
do~ pc1egrinos De um lado, ~ão decretados novos impostos, que gravam~
0 comando de uma patente mais alta, o major Febrônio de Brito. Em janeiro de
popul<u,;io poiJJe do sertão. De outro, certas medidas laicas, mas afetando
1897 deslanchao ataque, que resulta igualmente em derrota, nos arredores de
prJncJpio, rehgiosos vincadamcnte tradicionai • ão postas em ação. É caso
0 Canudos. Essa foi a segunda expedição contra Canudos, ou Expedição Febrônio
da t'Jl.lraç~o entre Igreja c Estado, a liberdade de culto e a instituição do
de Brito.
l':t .uncnto CJvil pela Assembléia Constituinte de 1890. Especialmente esta,
qut• rontr.Jdllla frontalmente um sacramento católico.
Apcís algum,,., csraramuça com as autoridades das vilas e arraiais do
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imcnnr. os peregrinos passaram a evitar as aglomerações urbanas e a afundar-
( cada Vl'l. mais no deserto, para votar-se à vida contemplativa. Acabam por
A terceira expedição ganha uma patente superior, tendo por comandante
,Jrrandt.tr, por volta do ano de I893. na tapera de uma fazenda abandonada no
um coronel, e que coronel: Moreira César tivera sua reputação firmada duran-
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cara pelo rigor da repressão que exercia, ganhando então o cognome de
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"Corta-cabeças", ou "Corta-pescoço". O perigo que Canudos veio a repre-
p11mtí1Jio da rolúma. Sohre as ruínas os peregrinos instalam seu acampamen-
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'"'flll, no o nnor euclidiano-. reconstroem a pulso, e pedra por pedra, um uma grande ofensiva, com forças federais vindas de todo o país, armamento
nt1go templo loc,JI l.Omcçam a erguer um outro muito maior, defronte àque- moderno incluindo canhões, e uma ampla campanha no sentido de alertar a
le A111hos no largo central do povoado, serão batizados como Igreja Velha e opinião pública. Os ânimos estão exaltados, a demagogia patriótica cspicaçada,
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11 1
I' r o o pô' o de Canudos tinha comprado c pago antecipadamente na munições - que serão coletadas e ;ntesouradas pelos canudense - e até
:d.tdc d Juazeiro um lote de peças necessárias para as obras da Igreja Nova. i>Cças de farda, como dólmans ou botas.
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A celeuma provocada por mais eua derrota é incalculável. Manifestaçõc
la pc ' llm nt •.
0 de rua nas duas principais cidades do país, Rio de Janeiro e São Paulo, acabaram
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•nt Santo, cantando hinos religiosos. Mas as autoridades IocaJS alvos mais óbvios, ou seja, os poucos jornais monarquistas sobrevivente ·
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pt lo HIIIIJilÍI<JITll'IIIIJ ut~~a amca~·;~ nacional coJIII'a a n.:p(JhiJca ( J~o. t'>tud~hlr· , crn m:..nulít.c (ru m:mulkha, r; r,., (r rnhlau1
wn1·Ja
a ~imJJ;Hn UJn,t pclíçuo cxí~índo a l1qti•uaçao do!-. ~cqua.r.c~ do "dcJ~Cnt:r;,rJ,, formada ~;rn c;ornhlé<. <: vrmblé:t•., I..(Jm r .gt tro na<; 1,
lkpul.tdo~ L' •,cnadorcs n.:ío dl\cutíarn outra coisa 110 Parlamento. () <:élchrt r·ttnhém tfl<ll'. t<~rdc crn (Juirnariíe•,J<o ~
com (1 ' • • •
JIHI~I" J<ui Barbm.t,camJwaouo libcrall'>mocdodtrcilO, futurod<.:lcgadoh 1a•.if Á medida qut.; r1 a~.sédt'' con\lrtngc 11 arrawl, d•• q <~1 • J.. m.
fO a ('onfcrém;ia da Pat em Haia lx:tn comr> candidato a pm~idénda, prcJfcnu ~c;ndo oc;upacJ~,~. a rc•.i<.téncia inquebrantável d<r. <:a11uden. '• '1 JfMI a ·1 d a
p;tle\lr:t p1íbhca na qual chamou os canudcn&c~ de "horda de mcntccap 111~ c fiar a comprccn~ao c a crmf.lituír-sc em emgma. Algun d1a ar tr_ d , fin. I,
!!'"é'"· durndo qut· uào pa~savam de um caso de po lícia, a qual deveria ha\taJ par I,a menta-~c uma mndiçlí(), n~;gociada prrr Antônto B 'dtmhc,, rncrnbfll da
p;11 a l·lirniná-los. o~ jornats trataram a derrota como uma calamidade nacional, guarda pt.;~~o<d de Anlímio Ccm~clheiro. Para comtcrnaçao der·. alllcan , , en
dis'>cminando a insegurança c n alannc em toda parte, multiplicando nolícia\ !regam-se cerca de trczcnta~ mulheres, reduzida'> pela fr}me <J c md•'fa d
fahas, cJrlas forjada~ c focos conspiralórios até internacionais. c;squcletos, acompanhadas pelas crianças c por algun~ velhw; c a re i téncta
f· nc ,c clima que Euclides da Cunha pela primeira vez ~c pronuncia recrudesce, mais forte agora porque desvencilhada de um pel-e, mr>rto. Final-
sobre a guerra dc Canudos, publicando no jornal A Provfncía (hoje O r~·sttulo) mente, após um bombardeio intenso de vário~ dia~ c da utílizaçao pioncJr<~ d.;
de S. f'mrln dois artigos intitulados "A nossa Vcndéia", onde expressa opinião uma espécie de napa lm primitivo- a gasolina espalhada sobre as ca•,a "'inda
cm nada diferente das demais. habitadas é incendiada por bastões de dinamite sobre ela lançado<; -o arraral
Prepara-se entiio uma quarta expedição, na qual novamente sobe a pa- &e calou, sem se render, a 5 de outubro de 1897. Os últimos re~btente~.
tcnle em comando, agora o general Artur Oscar de Andrade Guimarães, as- calcinados numa cova no largo das igrejas, não eram mais que quatr(), dos
Sl~lido por quatro outros generais - seu irmão Carlos Eugênio de Andrade quais dois homens, um velho e um menino.
(ruimar5es, Cláudio do Amaral Savagct, Silva Barbosa e Miguel Maria Girard. O recenseamento oficial do exército computou 5.200 ca5a~. o que, a
Até um marechal a expedição chegou a ter, pois o ministro da Guerra, mare- base da estimativa conservadora de uma média de cinco pessoas por cac;<~.
dMI Machado Biltcncourt, deslocou-se para o teatro das operações, lá perma- estimativa baixa para o sertão, dá uma população de 26 mil pessoas. Ou seJa,
necendo cpm seu gahinetc adrede montado, e despachando ao lado de Canudos, a contagem elevou Canudos à posição de segunda cidade do Estado da Bahia
em Monte Santo. As tropas são mobilizadas em todo o país, desde o Amazo- na época, coeva de uma São Paulo que mal atingia 200 mil habitantes. O
nas até o Rio Grandc Jo Sul. cadáver de Antônio Conselheiro, que morrera dias antes do final. foi exumado.
Sua cabeça foi cortada e levada para a Faculdade de Medicina da Bahia para
ser autopsiada, com a intenção de descobrir-se a origem de seus descaminho .
A EXPEDIÇÃO FINAL o que, segundo rezavam as teorias lombrosianas, podia ser inferido a partir das
dimensões do crânio e da dissecação do cérebro. Mas, infelizmente, os resul-
A quarta expedição põe-se em marcha em junho de 1897 (com Euclides, lados não foram conclusivos.
nomeado adido do ministro da Guerra, seguindo depois com uma das colunas
em agosto) c vai assediar o arraial, o qual é cercado para impedir socorro ou
reforços. Mas sobretudo para tolher o abastecimento de água, tão preciosa na REPERCUSSÕES
ea.Jtinga seca e penosamente obtida em cacimbas no Jeito seco do rio vaza·
Barns.
Após uma guerra que se revefou ingloriamente como uma chacina de
Entrementes, os canudenses, que antes só dispunham de poucas e arcai·e pobres-diabos, ficou evidente que não houvera conspiração alguma e qu e~te
cas peças de fogo, daquelas de carregar pela boca - arcabuzes, bacamartes bando de sertanejos miseráveis não tinha qualquer ligação.com os ~anarqUis­
coluhrinas - agora dispõem do mais moderno armamento da época, abandona· tas instituídos - gente branca, urbana e de outra classe social, que t~nha ~o~or
do pela t<'rceira expedição em debandada. E especialmente os cobiçados rifleS a '1agunços" e ''fanáticos" pobres como aqueles-, nem qualquer apoio logisuco,
<k repeti'< to Mannlicher austríacos, marca logo metamorfoseada na fala set· seja no país, seja no exterior.
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fO a ('onfcrém;ia da Pat em Haia lx:tn comr> candidato a pm~idénda, prcJfcnu ~c;ndo oc;upacJ~,~. a rc•.i<.téncia inquebrantável d<r. <:a11uden. '• '1 JfMI a ·1 d a
p;tle\lr:t p1íbhca na qual chamou os canudcn&c~ de "horda de mcntccap 111~ c fiar a comprccn~ao c a crmf.lituír-sc em emgma. Algun d1a ar tr_ d , fin. I,
!!'"é'"· durndo qut· uào pa~savam de um caso de po lícia, a qual deveria ha\taJ par I,a menta-~c uma mndiçlí(), n~;gociada prrr Antônto B 'dtmhc,, rncrnbfll da
p;11 a l·lirniná-los. o~ jornats trataram a derrota como uma calamidade nacional, guarda pt.;~~o<d de Anlímio Ccm~clheiro. Para comtcrnaçao der·. alllcan , , en
dis'>cminando a insegurança c n alannc em toda parte, multiplicando nolícia\ !regam-se cerca de trczcnta~ mulheres, reduzida'> pela fr}me <J c md•'fa d
fahas, cJrlas forjada~ c focos conspiralórios até internacionais. c;squcletos, acompanhadas pelas crianças c por algun~ velhw; c a re i téncta
f· nc ,c clima que Euclides da Cunha pela primeira vez ~c pronuncia recrudesce, mais forte agora porque desvencilhada de um pel-e, mr>rto. Final-
sobre a guerra dc Canudos, publicando no jornal A Provfncía (hoje O r~·sttulo) mente, após um bombardeio intenso de vário~ dia~ c da utílizaçao pioncJr<~ d.;
de S. f'mrln dois artigos intitulados "A nossa Vcndéia", onde expressa opinião uma espécie de napa lm primitivo- a gasolina espalhada sobre as ca•,a "'inda
cm nada diferente das demais. habitadas é incendiada por bastões de dinamite sobre ela lançado<; -o arraral
Prepara-se entiio uma quarta expedição, na qual novamente sobe a pa- &e calou, sem se render, a 5 de outubro de 1897. Os últimos re~btente~.
tcnle em comando, agora o general Artur Oscar de Andrade Guimarães, as- calcinados numa cova no largo das igrejas, não eram mais que quatr(), dos
Sl~lido por quatro outros generais - seu irmão Carlos Eugênio de Andrade quais dois homens, um velho e um menino.
(ruimar5es, Cláudio do Amaral Savagct, Silva Barbosa e Miguel Maria Girard. O recenseamento oficial do exército computou 5.200 ca5a~. o que, a
Até um marechal a expedição chegou a ter, pois o ministro da Guerra, mare- base da estimativa conservadora de uma média de cinco pessoas por cac;<~.
dMI Machado Biltcncourt, deslocou-se para o teatro das operações, lá perma- estimativa baixa para o sertão, dá uma população de 26 mil pessoas. Ou seJa,
necendo cpm seu gahinetc adrede montado, e despachando ao lado de Canudos, a contagem elevou Canudos à posição de segunda cidade do Estado da Bahia
em Monte Santo. As tropas são mobilizadas em todo o país, desde o Amazo- na época, coeva de uma São Paulo que mal atingia 200 mil habitantes. O
nas até o Rio Grandc Jo Sul. cadáver de Antônio Conselheiro, que morrera dias antes do final. foi exumado.
Sua cabeça foi cortada e levada para a Faculdade de Medicina da Bahia para
ser autopsiada, com a intenção de descobrir-se a origem de seus descaminho .
A EXPEDIÇÃO FINAL o que, segundo rezavam as teorias lombrosianas, podia ser inferido a partir das
dimensões do crânio e da dissecação do cérebro. Mas, infelizmente, os resul-
A quarta expedição põe-se em marcha em junho de 1897 (com Euclides, lados não foram conclusivos.
nomeado adido do ministro da Guerra, seguindo depois com uma das colunas
em agosto) c vai assediar o arraial, o qual é cercado para impedir socorro ou
reforços. Mas sobretudo para tolher o abastecimento de água, tão preciosa na REPERCUSSÕES
ea.Jtinga seca e penosamente obtida em cacimbas no Jeito seco do rio vaza·
Barns.
Após uma guerra que se revefou ingloriamente como uma chacina de
Entrementes, os canudenses, que antes só dispunham de poucas e arcai·e pobres-diabos, ficou evidente que não houvera conspiração alguma e qu e~te
cas peças de fogo, daquelas de carregar pela boca - arcabuzes, bacamartes bando de sertanejos miseráveis não tinha qualquer ligação.com os ~anarqUis­
coluhrinas - agora dispõem do mais moderno armamento da época, abandona· tas instituídos - gente branca, urbana e de outra classe social, que t~nha ~o~or
do pela t<'rceira expedição em debandada. E especialmente os cobiçados rifleS a '1agunços" e ''fanáticos" pobres como aqueles-, nem qualquer apoio logisuco,
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Vi nf cou ·então uma notável reviravolta da opinião, que mudou de l<!fj,


(J c tudanl ·~ ~>e rnanifc~t;un de no ·o, mas desta vez para prote tar cr n . ·
a (J
ma acre. ( J jun ta Ruí Barb:J<;a agora chama os canudcn,;cs de "meu•.' tlítr
()
. ' · 1m,mete oh er um habeas rorpus para ele•,- depoí~ de monos. Ue;çr
re ·que o no1 'íário Jomalí IJCO era tcndcncío~c, e em grande parte fal<, 1ficad:
Se 11e- · urr mea culpa gcneralu..ado, cujo exemplo mais perfeito é o livro
• . . • 0J
trto'' . q pr )(;Ufa reabli1tar os IOJUSIJçados c resgatá-los para a históna.
Adernai , deixou de ser egredo que a conduta do exército e~tivera longe
de r Jr p ochávcl Alguns raro~ correspondentes de guerra já haviam re~c­
)Jd a prát1 a, aceita por odos, inclusive pelos comandantes, de degolar em
pú h o pn ioneiro amarrados. Tal prática tinha até seu apelido castrense
o eufemi mo gra ata >ermelha, po1s, como as descrições das testemunha
e larecem rJ procedimento era o seguinte: o executor eventual colocava-se
r.í do p:1 10ne1ro, esticava-lhe o pescoço para trás puxando seus cabelos ou
gu o o tra fon .s, pela introdução de do1s dedos da mão esquerda em
narina , e com a mão direita degolava-o, o que fazia o sangue escorrer do
pe c .o para aixo pe a frt;nte do corpo, tingindo sobre ele como que uma

de admirar, pois, que em consequéncia a reputação do exército,


1 t1 g ira na uerra do Paragu:u e por isso passara a ocupar uma primeiro elemento de composição que impona re er.
1
e pr 1 a p na a condução da política nacional, tivesse sido poluí- O segundo elemento é constituído pela intertex i
o exér.1 o que forç ra a abolição dos escravos no último ano do li· ro, e é o que lhe dá seu sopro enciclopédico, tex os e a re
q e -rrubara a monarquia em prol da república e que fornecera os temente citados e submetidos a discussão _·a parte sobre ·.
-· o p .; 1dentes. A6ora, a re\elação das atrocidades cometidas em recorre não somente a suas próprias reportagens e caderne -~
m da a v ndade crianças obre viventes. cobriu o exército de um também as reportagens dos outros correspondentes. às ordens-<lCHf
OPI'óbllo ttal ~~ue e 1;m ários anos de recuperação. Os presidentes da Repúbli· cito, aos relatórios de governo. No capítulo inic1al, "A terra ·. são . bi
anos aoen ci\Ís, bem como o ministro da Guerra suas- textos e autores de geologia, de meteorologia. de botáni a z
o Bi encou rt física. de química. Em "O homem", o mais polêmico e que ·o ..:~ma
• Cl<1 Importante da guerrc1 de Canudos, e que convém espécie de conjeturas, o autor passa em re,ista e ri de etnol g1 .
rla{!t fTilninliza~r.é ·ela ompleta n processo de consolidação do regime repu- ria da colon iz.ação, de folclore, de psiquiatria, de ne ro ia, de
rm· iu exorCJzar o espectro de uma eventual restauração Entre a polifonia e a intertextuaJidade, que sem se
P ·r rmem a 1~ta dos te temunhos pode-se dizer que a opi· a dificuldade de lidar com uma tal ~valanche de sabere é e ·idente e
a fi maníp•1lada e que os canudenses ser. iram de bode expiatório •e em paráfrases discordantes que se sucedem. . 1mpo 1 ihdade de re z.ar
Ele d <>empenharam Ín\olumariamente o papel de inimigo urna síntese, ou mesmo sínteses parciais. o texto a ança Jogando c m tod t
aq -lt que M! enfrenta coletivamente e que penní!e de antíteses, que podem tomar 0 aspecto de uma figura freqüentemente pr:
I legi·<t da • o ox1moro
- - ''Tróia de taipa", ·Hércules-Quas1'modo·• - aparece r
Oú encadeamento de paráfrases que se contradizem

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OS ,/.RliJI.

Vi nf cou ·então uma notável reviravolta da opinião, que mudou de l<!fj,


(J c tudanl ·~ ~>e rnanifc~t;un de no ·o, mas desta vez para prote tar cr n . ·
a (J
ma acre. ( J jun ta Ruí Barb:J<;a agora chama os canudcn,;cs de "meu•.' tlítr
()
. ' · 1m,mete oh er um habeas rorpus para ele•,- depoí~ de monos. Ue;çr
re ·que o no1 'íário Jomalí IJCO era tcndcncío~c, e em grande parte fal<, 1ficad:
Se 11e- · urr mea culpa gcneralu..ado, cujo exemplo mais perfeito é o livro
• . . • 0J
trto'' . q pr )(;Ufa reabli1tar os IOJUSIJçados c resgatá-los para a históna.
Adernai , deixou de ser egredo que a conduta do exército e~tivera longe
de r Jr p ochávcl Alguns raro~ correspondentes de guerra já haviam re~c­
)Jd a prát1 a, aceita por odos, inclusive pelos comandantes, de degolar em
pú h o pn ioneiro amarrados. Tal prática tinha até seu apelido castrense
o eufemi mo gra ata >ermelha, po1s, como as descrições das testemunha
e larecem rJ procedimento era o seguinte: o executor eventual colocava-se
r.í do p:1 10ne1ro, esticava-lhe o pescoço para trás puxando seus cabelos ou
gu o o tra fon .s, pela introdução de do1s dedos da mão esquerda em
narina , e com a mão direita degolava-o, o que fazia o sangue escorrer do
pe c .o para aixo pe a frt;nte do corpo, tingindo sobre ele como que uma

de admirar, pois, que em consequéncia a reputação do exército,


1 t1 g ira na uerra do Paragu:u e por isso passara a ocupar uma primeiro elemento de composição que impona re er.
1
e pr 1 a p na a condução da política nacional, tivesse sido poluí- O segundo elemento é constituído pela intertex i
o exér.1 o que forç ra a abolição dos escravos no último ano do li· ro, e é o que lhe dá seu sopro enciclopédico, tex os e a re
q e -rrubara a monarquia em prol da república e que fornecera os temente citados e submetidos a discussão _·a parte sobre ·.
-· o p .; 1dentes. A6ora, a re\elação das atrocidades cometidas em recorre não somente a suas próprias reportagens e caderne -~
m da a v ndade crianças obre viventes. cobriu o exército de um também as reportagens dos outros correspondentes. às ordens-<lCHf
OPI'óbllo ttal ~~ue e 1;m ários anos de recuperação. Os presidentes da Repúbli· cito, aos relatórios de governo. No capítulo inic1al, "A terra ·. são . bi
anos aoen ci\Ís, bem como o ministro da Guerra suas- textos e autores de geologia, de meteorologia. de botáni a z
o Bi encou rt física. de química. Em "O homem", o mais polêmico e que ·o ..:~ma
• Cl<1 Importante da guerrc1 de Canudos, e que convém espécie de conjeturas, o autor passa em re,ista e ri de etnol g1 .
rla{!t fTilninliza~r.é ·ela ompleta n processo de consolidação do regime repu- ria da colon iz.ação, de folclore, de psiquiatria, de ne ro ia, de
rm· iu exorCJzar o espectro de uma eventual restauração Entre a polifonia e a intertextuaJidade, que sem se
P ·r rmem a 1~ta dos te temunhos pode-se dizer que a opi· a dificuldade de lidar com uma tal ~valanche de sabere é e ·idente e
a fi maníp•1lada e que os canudenses ser. iram de bode expiatório •e em paráfrases discordantes que se sucedem. . 1mpo 1 ihdade de re z.ar
Ele d <>empenharam Ín\olumariamente o papel de inimigo urna síntese, ou mesmo sínteses parciais. o texto a ança Jogando c m tod t
aq -lt que M! enfrenta coletivamente e que penní!e de antíteses, que podem tomar 0 aspecto de uma figura freqüentemente pr:
I legi·<t da • o ox1moro
- - ''Tróia de taipa", ·Hércules-Quas1'modo·• - aparece r
Oú encadeamento de paráfrases que se contradizem

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f:.RTíJí

CAPI TRA o DE ABREU

Capítulos de história colonial

Ronaldo Vainfas

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