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Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância

ISCED

Centro de Recursos de Pemba

Trabalho de Campo de Cidadania

Tema: Análise Crítica da Situação da Prevalência e Aplicabilidade da


Cidadania na Sociedade Moçambicana

Discente: Zaina Issa Infalume

Pemba Outubro de 2018


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Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância

ISCED

Centro de Recursos de Pemba

Tema: Análise Crítica da Situação da Prevalência e Aplicabilidade da


Cidadania na Sociedade Moçambicana

Trabalho de campo de carácter


avaliativo da cadeira de Cidadania, a
ser submetido no Instituto Superior
de Ciências e Educação a Distância,
no Curso de licenciatura em Ciências
Politicas e Relações Internacionais,
2º ano.

Pemba Outubro de 2018


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Índice
Introdução..........................................................................................................................3

Análise crítica da situação da prevalência e aplicabilidade da cidadania na sociedade


Moçambicana....................................................................................................................4

Noções sobre cidadania.....................................................................................................4

A cidadania em Moçambique............................................................................................5

Cenário Actual da Cidadania.............................................................................................5

Cidadania e o Retorno das Autoridades Tradicionais em Moçambique...........................6

Cidadania na Idade Média.................................................................................................7

A Cidadania na Idade Moderna.........................................................................................7

Tipos de sociedade e exercício de cidadania Moçambicana.............................................8

Conclusão........................................................................................................................10

Bibliografia......................................................................................................................11
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Introdução

A cidadania desenvolveu-se em um processo contínuo de evolução com consequente


incorporação de um status já existente, ou seja, para o autor, de algum modo, o status de
cidadania já estava presente nas sociedades medievais, ocorre que esse status foi sendo
paulatinamente estendido a todos os membros da comunidade. A defasagem na
implementação dos direitos, que corporificam a cidadania, seria uma consequência da
composição social e dinâmica acarretada pelo desenvolvimento do capitalismo inglês.

Cidadania é uma conquista e só se realiza a partir da conscientização das pessoas de


seus deveres e direitos. Uma sociedade desinformada a respeito dessas duas coisas não
se emancipa. A cidadania esteve e está em permanente construção; é um referencial de
conquista da humanidade, através daqueles que sempre buscam mais direitos, maior
liberdade, melhores garantias individuais e colectivas, e não se conformando frente às
dominações, seja do próprio Estado ou de outras instituições
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Análise Crítica da Situação da Prevalência e Aplicabilidade da Cidadania na


Sociedade Moçambicana

Falar de cidadania em Moçambique significa rebuscar inúmeros aspectos da história de


um País do século XX e, tentar condensá-los para justificar o conceito, sendo assim, não
se mostra tarefa fácil e muito menos algo que possa ser esgotado numa reflexão apenas,
contudo, a necessidade de abrir esta página, e tentar entender o real significado de
cidadania em Moçambique apresentam-se-nos algo irresistível, devido aos conturbados
momentos que marcam o quotidiano moçambicano.]

Em Moçambique, realidade sobre a qual se assenta o presente trabalho, o fenómeno da


cidadania, ultimamente, tem sido evocado com frequência. Nesse país, onde a
democracia acabou de ser introduzida, a problemática em relação à cidadania encontra-
se em pauta, o que leva a inferir que o entendimento sobre os direitos e deveres dos
cidadãos ainda estejam aquém do desejado. Muitos cidadãos não conhecem, ou pouco
sabem, sobre o real exercício da cidadania. Existe, em Moçambique, uma grande
maioria da população excluída e sem acesso a bens materiais e intelectuais que
possibilitem o exercício pleno da sua condição de cidadãos.

Noções sobre cidadania

Na óptica de Marshall (1967) estabelece que “cidadania é um status concedido àqueles


membros integrais de uma comunidade”. Há uma espécie de igualdade humana básica
associada com o conceito de participação integral na comunidade, a qual não é
inconsistente com as desigualdades que diferenciam os vários níveis económicos na
sociedade.

Para Marshall (1967:66) divide o conceito de cidadania em três partes ou elementos,


que são: o civil, o político e o social. O primeiro composto pelos direitos à liberdade
individual-liberdade de ir e vir, liberdade de imprensa, pensamento e fé, o direito à
propriedade e de concluir contratos válidos e o direito à justiça; o segundo constituído
pelo direito de participar no exercício do poder político, como um membro de um
organismo investido da autoridade política ou como um eleitor dos membros de tal
organismo e o terceiro e último se refere a tudo o que vai desde o direito a um mínimo
de bem-estar económico e segurança ao direito de participar por completo na herança
social e levar a vida de acordo com os padrões que prevalecem na sociedade.
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A cidadania em Moçambique

Sendo Moçambique um país resultado da dominação colonial portuguesa, a diversidade


étnica é algo conflituoso de tal forma que, os moçambicanos transfronteiriços vivem
quase sempre num dilema, pois acabam não sabendo a que realidades efectivamente
pertencem, por partilharem com os cidadãos dos países vizinhos não só a mesma língua,
como também a mesma cultura.

Analisando os quatro momentos podemos notar que em Moçambique a cidadania foi


construída de cima para baixo, isto é, foi construída uma cidadania passiva e/ou estado-
cêntrica. Tal passividade resulta de vários factores, dentre eles: a delimitação das
fronteiras (imposta pelo Estado colonial); o período da revolução socialista onde o
processo de construção da nação foi através da submissão da população ao Estado; o
fato da Frelimo ter agido numa lógica de partido único, no qual a manifestação do
movimento social na sua diversidade era inaceitável; a crença numa ”revolução” [11] do
Estado, que se transformou no instrumento privilegiado e o lugar de realização da
unidade nacional e construção da cidadania e, por último, a guerra civil que dividiu os
moçambicanos, fazendo com que uma vez mais o Estado continuasse a dirigir os
destinos do País seguindo uma nova realidade, mas, criando uma cidadania cada vez
mais passiva.

A questão de cidadania moçambicana deve ser vista tendo em conta a história do país.
Sendo Moçambique, um país resultado da dominação colonial portuguesa, a diversidade
étnica é conflituosa, afectando directamente o entendimento do conceito de cidadania,
de tal forma que, os moçambicanos transfronteiriços vivem quase sempre num dilema,
pois acabam não sabendo a que realidades efectivamente pertencem, por partilharem,
com os cidadãos dos países vizinhos, não só a mesma língua, como também a mesma
cultura

Cenário Actual da Cidadania

Com os desafios da globalização ou mundialização como alguns pretendem designar,


nos quais os países em vias de desenvolvimento se vão tornando cada vez mais
periféricos, a classe burguesa em formação, busca o Estado para o atendimento dos seus
interesses privados e a classe média e baixa equaciona a questão da cidadania apenas
como uma vontade do Estado. Apesar de existir integridade territorial ela não garante a
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coesão nacional, que passa pelo respeito e, aceitação pela diversidade étnica, cultural,
religiosa e linguística.

É necessário que desapareça o sentimento de exclusão que vai surgindo no país e, um


dos sinais evidentes é a criação de várias associações de amigos e naturais de todos os
pontos do país. O que se verifica é que quiçá apenas nesses locais alguns moçambicanos
se sentem cidadãos e construtores da cidadania.

Os direitos sociais permitem às sociedades politicamente organizadas reduzir os


excessos de desigualdade produzidos pelo capitalismo e garantir um mínimo de bem-
estar para todos. A ideia central em que se baseiam é a da justiça social. Mas, tomando a
cada um desses direitos de forma isolada, nota-se que eles não são oferecidos com
equidade e percebe-se que a cidadania não é a mesma em todos os níveis sociais, e sim
múltipla, variando conforme classe social, categoria profissional, raça, género e outras
variáveis que indicam grupos humanos.

O exercício da cidadania é confundida com uma acção inimiga e a resposta é sempre


violenta. No partido Frelimo há gente que considera que a cidadania deve ser exercida,
porém há outra que considera que o exercício da cidadania é uma acção do inimigo. Há
que combater este tipo de mentalidade

Cidadania e o Retorno das Autoridades Tradicionais em Moçambique

A heterogeneidade cultural de Moçambique reflecte-se nas diferentes formas de


regulação social, traduzindo-se pela presença de instâncias não oficiais de resolução de
conflitos. Esta unidade procura debater os desafios que Moçambique enfrenta na
construção de um sistema de justiça multicultural e democrático. As experiências de
justiças comunitárias revelam a criatividade e a vitalidade das outras justiças e a sua
decisão de defender a sua justiça como projecto político. Ao mesmo tempo, a
diversidade de instâncias indicia as disputas e jogos de poder face a um Estado que
reconhece, até certa medida, a presença de outras jurisdições, constituindo um complexo
jogo de integridade. No seu conjunto, este trabalho revela alguns dos paradoxos das
reformas multiculturais em curso, abrindo campo para uma discussão mais ampla sobre
as formas de cidadania, com ênfase na inclusão, convivialidade e celebração, e também,
da diferença.

Em Moçambique é crescente o interesse pelas autoridades


tradicionais e a sua relação com o Estado, uma situação que não é
única nem exclusiva, por se tratar de um tema central ao debate
político no continente africano. A questão que se coloca não é
sobre se existe ou não uma autoridade política determinada que
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actua sobre agrupamentos étnicos, mas sobre o espaço e a


construção social deste, e suas futuras implicações. No caso
específico das autoridades tradicionais, e do seu papel na
administração e gestão local, importa compreender as
características desta forma de poder e problematizar se a mesma
constitui uma oposição tradicional ao poder moderno do Estado.
Neste tema a atenção centra-se, numa primeira fase, no percurso
de alguns conceitos em Moçambique BARBALET, 1989.

Cidadania na Idade Média.

Historicamente, com o desaparecimento da civilização greco-romana, a expansão


territorial e a centralização do poder político culminaram com a instalação do regime de
absolutismo monárquico, que sufocou qualquer iniciativa tendente a reconhecer ou
evoluir a conceituação da cidadania durante séculos.

Não se vê, na idade média, significativa evolução ao conceito de cidadania, em especial


porque após o século XV, conhecido como o início da idade moderna, é que factores
sociais registaram ampliação da cidadania.

A Cidadania na Idade Moderna

Ainda no século XVII a sociedade se dividia em classes que em muito lembravam o


modelo romano. Havia os nobres, beneficiados por privilégios, imunes aos impostos,
proprietários de grandes extensões de terra e ocupavam os cargos políticos mais
importantes.

Portanto, o ponto comum das revoluções burguesas é o fato de que as classes sociais
intermediárias se juntaram às classes sociais menos favorecidas contra a classe social
dominante, na expectativa de que fosse reconhecido o status de cidadão, com
participação política e com garantias individuais.

A actualidade é demonstrada pelo fato de hoje se lutar, em todo o mundo, de uma forma
diversa pelos direitos civis, pelos direitos políticos e pelos direitos sociais: factualmente,
eles podem não coexistir, mas, em vias de princípio, são três espécies de direitos, que
para serem verdadeiramente garantidos devem existir solidários.

Na concepção de T. H. Marshall17 a cidadania “é um status concedido àqueles que são


membros integrais de uma sociedade” e seria composta de direitos civis e políticos,
considerados de primeira geração, e de direitos sociais, considerados de segunda
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geração, sendo certo que a cidadania só seria plena se dotada dos três tipos de direito e
esta condição estaria ligada à classe social.

A análise do conceito de cidadania está associada aos movimentos e lutas sociais,


interesses políticos, à alteração na estrutura das classes sociais, ao pensamento
filosófico, aos tipos de regime de governo, aos interesses individuais e colectivos, a
distribuição de riqueza, alcançando até, em determinados momentos da história da
humanidade, questões de fundo religioso.

Tipos de sociedade e exercício de cidadania Moçambicana

De uma forma geral, Somente no século XX esses “direitos” foram reconhecidos como
“direitos” do cidadão.

Pode-se afirmar que defender a cidadania é lutar pelos direitos humanos e portanto pelo
exercício da democracia que é a constante criação de novos direitos.

Por haver um grau de complexidade e de desigualdade enorme a divisão dos direitos do


cidadão em políticos, civis e sociais já não era suficiente para explicar sua dinâmica. Por
isso foram criada uma classificação em dois tipos de cidadania: cidadania formal e a
cidadania real (ou substantiva)

Cidadania formal refere-se a maneira como a cidadania está descrita formalmente na lei,
nas constituições nacionais, é a garantia que o indivíduo tem para lutar legalmente por
seus direitos.

Cidadania Substantiva ou Real refere-se a maneira como a cidadania é vivida na prática,


no dia-a-dia. Através dela podemos ver que nem todos os seres humanos são iguais
socialmente, que a sociedade se estrutura desigualmente e, pois alguns grupos sofrem os
mais diversos tipos de necessidades e preconceitos. Ex: Um aluno de uma escola
pública que não consegue competir em condições de igualdade com um aluno de escola
particular, tem sua cidadania “formal” conquistada, pois a lei lhe garante acesso a
educação, contudo, a cidadania “real” está bem longe de ser atingida. A mesma situação
dos pobres, dos negros, dos deficientes, etc… que, em maior ou menor grau,
conseguiram reconhecimento “formal”, mas ainda tem um longo caminho para
conquistar a cidadania “real”.
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Um fato marcante que elevou a cidadania ao que conhecemos hoje foi a Carta de
Direitos da ONU (1948). Nela afirma-se que todos os homens são iguais perante a lei,
independente de raça, credo e etnia. Confere-se o direito a um salário digno, à educação,
à saúde, à habitação e ao lazer. Assegura-se o direito de livre expressão, de militar em
partidos políticos, sindicatos, movimentos e organizações da sociedade civil.

Para DaMatta (1997), o povo percebe que, no trato da coisa pública, boa parte dos seus
representantes convenientemente utiliza um critério para a casa, outro para a rua; um
peso para o cidadão, um afago para os amigos. Carvalho (1987, p. 160) esclarece, ao
tecer sua análise do comportamento popular na cidade do Rio de Janeiro diante do
Estado republicano nascente, que, já naquela época, “o povo sabia que o formal não era
sério”. Enquanto isso, segundo o mesmo autor, eram coincidentes as opiniões dos
observadores estrangeiros, dos membros da elite (até mesmo os mais progressistas) e da
própria liderança do movimento operário sobre o povo brasileiro.
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Conclusão

A cidadania, num momento em que a evolução económica e tecnológica na história da


humanidade aproxima todas as estruturas sociais, já reconhece contornos globais de
direitos e deveres do cidadão. A cidadania em nossos dias é muito mais do que votar ou
fazer parte de uma sociedade política. A sociedade deve garantir ao cidadão os direitos
básicos (civis, políticos e sociais) militando na eliminação das diferenças de status, mas
o cidadão deve militar em benefício da sociedade de modo que o recíproco respeito
encontre solo fértil para a cidadania do amanhã.

A questão da cidadania tem se destacado como um debate relevante para a reflexão nos
centros universitários, enquanto relação social colocada a serviço do reconhecimento e
da efectivação de direitos fundamentais, assim, este tema pretende contribuir para o
debate dos estudantes sobre um dos grandes problemas de nosso tempo, qual seja, a luta
para a efectivação dos direitos fundamentais da cidadania.
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Bibliografia

BARBALET, J. M. A cidadania. Lisboa: EditorialEstampa, 1989.

CARVALHO, José. M de. “Cidadania: tipos e percursos”. Estudos históricos, 18, 9:


357-424, Rio de Janeiro, 1996.

CARVALHO, José Murilo de. 1987. Bestializados ou bilontras? In: Os bestializados.


Rio de Janeiro: Companhia das Letras, p. 140-160

DAMATTA, Roberto. 1986. A casa e a rua: espaço, cidadania, . Rio de Janeiro:


Rocco.

Marshall, T.H.Cidadania, Classe Social e Status, Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967,
p. 76.

TELLES, Vera da Silva. Cidadania e Pobreza. São Paulo, Editora 34, 2001.

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