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Grande Plano
A insustentável
leveza do ser
SE O RENASCIMENTO DA ALPINE VEIO RESGATAR O
SAUDOSO A110, A MARCA FRANCESA DEU AGORA UM PASSO
MAIS LONGE AO LANÇAR A VERSÃO S, MAIS POTENTE,
MAIS RÁPIDA E DINAMICAMENTE MAIS COMPETENTE. ISTO
PROMETE...
Para quem tem memórias de finais da década de podendo este ser totalmente desligado.
1960, inícios de '70, o Alpine A110 possui um signi- Todas estas alterações vêm acompanhar os 15% de
ficado especial. E a sua reedição, em 2017, veio rea- aumento de potência, obtido por ajustes de eletróni-
cender a paixão dos amantes da Alpine e de despor- ca que proporcionam mais pressão de turbo (0,4
tivos franceses. Com PVP a partir dos 64 mil euros, bar) acima das 5000 rpm. O resultado são 292 cv às
é daqueles raros casos em que exclusividade e pres- 6400 rpm, 400 rpm mais acima da versão de 252 cv.
tações de eleição não têm um preço proibitivo. Pelo No entanto, a caixa de dupla embraiagem Getrag de
contrário. Mas agora a Alpine veio baralhar e dar sete relações mante-se inalterada e limita o binário
de novo com o lançamento do A11OS. Basicamente, máximo a 320 Nm.
trata-se de uma versão mais desportiva, a que cor- A demarcação do 'S' é rematada com alguns equi-
responde uma alma mais possante e um upgrade de pamentos exclusivos, como o sistema de escape des-
chassis. Tudo em nome da eficácia e do cronómetro. portivo ativo, pedais em alumínio, sistema de som
Perdurando a filosofia "lightweight" preconizada Focal, bacquets Sabelt em couro (pesam apenas 13
pelo seu fundador, Jean Rédélé, a Alpine manteve o kg), jantes forjadas Fuchs de 18" em cor titânio (op-
'S' pouco acima dos 1100 kg, e apimentou o chassis cionais, por 1033€) e teto em fibra carbono acetina-
com molas 50% mais firmes e amortecedores afina- do, que reduz o peso total em quase 2 kg, custando
dos a preceito, além de barras estabilizadoras com 2460€ extra.
o dobro da rigidez. Com isto, este Alpine fica 4 mm
rebaixado e está calçado com Michelin Pilot Sport 4
para um grip mais extremo. A travagem fica a cargo OS DESÍGNIOS DE RÉDÉLÉ
de pinças de alta performance Brembo (em cor de
laranja), que mordem um quarteto de discos venti- A Alpine ganhou o seu nome pelo gosto que Jean
lados de 320 mm - o mesmo sistema oferecido em Rédélé tinha em conduzir pelas estradas alpinas,
opção no A110 standard. Os técnicos da Alpine re- e por isso os seus produtos tinham de ter um com-
calibraram o controlo de estabilidade para melhor portamento de excelência nesse território, fazendo
lidar com os parâmetros dinâmicos deste modelo, uso de aptidões como o (já referido) baixo peso e a
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ALPINE A110 S
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agilidade, mas igualmente o conforto e a facilidade sobre a competência deste chassis quando chega a
de condução. E é por isso que este A110 S encarna hora da verdade. Em pleno apoio, a frente nunca se
tão bem o perfil traçado por Rédélé. Apesar da sus- nega a uma correção de trajetória quando a curva
pensão ser notoriamente firme em mau piso, nunca `fecha', e é preciso acreditar, tal a veemência com
chega a ser incómoda, e junta-se a isso o bem-estar que o eixo dianteiro se assanha ao asfalto. Perante
que sentimos no aconchegado das bacquets Sabelt. uma dianteira tão agarrada, pensar-se-ia que seria
O apoio é correto em todos os aspetos - lateral, lom- a traseira a ceder. Mas nem isso_ A neutralidade
bar e assento -, e nem mesmo após quilómetros de do `S' é surpreendente. A versão base ainda mostra
ritmos mais apressados nos pudemos queixar, dei- laivos de rebeldia - mais por inércia do que sob po-
xando transparecer que a ergonomia foi bem estu- tência -, mas aqui nem a potência extra consegue
dada quando a Sabelt as desenhou. Mas não é só. demover os pneus traseiros de maior largura. Por
Também a direção dá aqui um contributo, não sen- vezes, numa mudança mais curta e sob carga total,
do demasiado pesada nem demasiado leve. Promove é possível sentir uma ligeira deriva, facilmente con-
pouco tato com estrada, é certo, mas quase esque- tida com uma ligeira contrabrecagem, pouco mais.
cemos esse pecado por ser tão direta e contribuir de E isto mesmo em modo Track - o mais radical das
forma tão positiva para a agressividade com que a opções disponíveis, com maior `liberdade eletróni-
frente se inscreve em curva. Depois há a aderência ca' - e na presença de um autoblocante eletrónico.
mecânica proporcionada pelo apoio de suspensão Definitivamente, este modelo não foi afinado a pen-
combinado com a garra dos Michelin Pilot Sport 4, sar em lúdricos powerslides.
o fator fundamental na emoção sentida ao volante No quadro geral, o que sobressai é a leviandade com
do AllOS. As trocas de apoio são feitas sem o míni- que tudo se passa. Não há necessidade de correções,
mo esforço e a sensação de circularmos sobre car- não há desvios de trajetória, não há hesitações. Ape-
ris é enorme, ao ponto de termos registado 1,4 G de nas grande precisão, pura eficácia e uma naturali-
aceleração lateral no menu Alpine Telemetrics - um dade de quem curva a 100 km/h como se estivesse
mimo oferecido por este modelo aos petrolheads a 40 km/h. E é aqui que reside a magia deste Alpine
mais fanáticos. Só este valor já diz qualquer coisa face à concorrência: a facilidade de conduzir muito
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depressa, e ao alcance de qualquer condutor médio. quase sanguinário, tal a ferocidade com que chega
Tal como Jean Rédélé o quereria. à zona vermelha. O clássico chrono de O a 100 km/h
cumprido em 4,4 segundos diz quase tudo, mas é
a relação peso-potência de 3,8 kg/cv que melhor
MECÂNICA FEROZ expressa o tipo de aceleração que este automóvel
propicia, espelhado na instantânea capacidade de
O motor não pode, obviamente, ser descartado des- recuperação, principalmente numa toada média-
ta envolvência. As alterações operadas no 1.8 turbo rápida. Em Track, a caixa Getrag acompanha esta
deram ao A110 S um timbre especial, e não falamos natureza austera, sendo ríspida a cada desmultipli-
apenas da rouquidão de escape a baixos regimes nos cação, ao passo que as reduções são acompanhadas
modos Sport e Track, antes sim das curvas caracte- do indispensável blip de acelerador (um ponta tacão
rísticas, nomeadamente do binário, que desenvolve eletrónico) e de um delicioso som embrulhado de
uma curva plana (320 Nm) das 2000 às 6400 rpm, escape.
precisamente o regime de potência máxima. Ora, Apesar deste temperamento, o A110 S é também dó-
aqui está uma particularidade típica de motores de cil e perfeitamente utilizável em condução citadina.
competição, isto é, quando os picos de binário e po- Basta rodarmos em modo Normal. É muito cheio
tência coincidem. Isto significa que é uma unidade desde as 1200 rpm, mas por vezes a progressivida-
que reclama altas rotações, onde revela um feitio de de resposta entre as passagens de caixa pode ser
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confundida com turbolag. Torna-se assim bastante O pior é que não tem regulação em altura - apenas
refinado de usar, mesmo em cenários mais calmos, recorrendo a chaves de parafusos. E quem gosta de
pois é ausente de solavancos, e há uma fluidez que o uma postura desportiva prefere sentar-se mais bai-
torna quase discreto no meio do trânsito, sobretudo xo.
com a caixa em registo automático. Se não dermos Depois vêm os espaços de arrumação, ou melhor,
largas ao pé direto, o consumo nivela-se perfeita- a falta deles. Salva-se uma pequena bolsa entre os
mente pelos 7,8 1/100 km em estrada aberta. Caso bancos (à altura dos ombros) e um pequeno espaço
contrário, médias de 14,5 litros são uma consequên- para telemóvel e cartão-chave. Nada de porta-luvas
cia natural, ainda assim nada chocante para um nem bolsas nas portas. E se for de fim-de-semana,
motor com uma potência específica de 162 cv/litro. não leve mais do que duas mochilas (pequenas), que
cabem nas duas bagageiras - um à frente e outra
atrás - ridiculamente compactas. Com tudo bem
NÃO HÁ BELA SEM SENÃO acondicionado, ainda dá para juntar mais uns sacos
de supermercado, mas não haja ilusões: malas tipo-
Apesar de tanto nos ter agradado mecânica e dina- trolley não são opção de carga.
micamente, o Alpine A110 S não passa sem os seus Mas ninguém disse que o A110 S aspirava a ser um
defeitos. É prático de conduzir, mas não tanto em GT perfeito, apenas uma máquina de condução in-
matéria de 'convívio interior'. Melhor explicado, as tuitiva, rápida e que produz sensações recompensa-
bacquets têm regulação longitudinal, mas não das doras, e foi isso que a Alpine concebeu, exatamente
costas, o que sinceramente não constitui problema. como Jean Rédélé teria feito. //
L Fb NI E •
Instrumentos de medição 2 o
800
600 1000 35 45
400 1200 30 50
El <50 50
200 1400 25 55
mBar
O 1600 20 60
Pressão do turbo "r" admissão
[1 E
Grande Plano
(
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RESUMO
ALPINE Allil S 0-1011KMIll
4,4
PYP BASE PYP CARRO TESTADO PESO DO CARRO TESTADO
Tara: 1114 kg
KM DO CARRO TESTADO
0-400M
12,6
4300 km
VELOCIDADE MÁXIMA
260 km/h
A ltura 1248mm
6,5 1 /1 00 km
O
O
POTÊNCIA (CVIRPM)
BINÁRIO (NMIRPM)
292/6400rpm
320/2000-6400 rpm
BINÁRIO ESPECÍFICO
CAPACIDADE DA MALA
177 Nm/I
96 + 100 litros Esqueleto
DEPÓSITO 45 litros O Alpine recorre ao alumínio para a estrutura
e carroçaria, resultando num peso conjunto de
TRANSMISSÃO DIREÇÃO apenas 1,1t. Isto não só favorece a dinâmica,
EQUIPAMENTO com baixa inércia de reações e maior agilidade,
CAIXA Caixa Dupla embraiagem, 7 como promove melhores prestações de um motor
velocidades BACUUETS DESPORTIVAS SABELT Série relativamente compacto e de potência média.
CONCORRENTE
ACELERAÇÃO RECUPERAÇÕES
2,8 segundos
Porsche 718 Cayman PDK
0-40014 (SEGUNDOS) 12,7 80-120 KMIH (EM 0)
Não é fácil apontar um rival com as mesmas
0-1.000M (SEGUNDOS) 22,5 80.120 HMIII (EM 4a) 3,6 segundos características do A110 S. O Porsche Cayman
(com caixa PDK) é aquele que mais se aproxima,
HL. MÁXIMA (KWH) 260 (limitada) 80-120 051i0 (EM 5a) 4,4 segundos
mas tem uma filosofia algo diversa: é menos ágil
220
e perfomante Mas conduzir um Porsche confere
um estatuto que a recém-renascida Alpine ainda
200 16,4, COMPORTAMENTO não granjeou. Como tal, o modelo francês dirige-
-se a saudosistas, amantes de reações puras e a
180 12,9s ACELERAÇÃO LATERAL (G) 1,4 quem procura uma exclusividade 'alternativa' a
160 10,2s Neutro propostas germânicas, nipónicas e britânicas por
TENDÊNCIA
um preço adequado.
140 8.0s TRAVAGEM
6.1s
PREÇO
120
200-0 KMIll (M) 136
a partir de
180-0 KWH (M) 83 72 989€
80 3,4s 65,2
140-0 KWH (M)
60 2,4s 33,4
100-0 KWH (M)
40 1,6s 8,4
50-0 KIAIR (M)
20
RUÍDO INTERNO CONSUMOS
km/h
120 KWH (DB) — MÉDIO 8,1
6 12 18 24 30