Você está na página 1de 46

Direito Civil V - Família e Sucessões

O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

Sumário
1. União Estável ................................................................................................................ 2
1.1 Concubinato .................................................................................................................................. 2
1.2 Identidade ..................................................................................................................................... 3
1.2.1 Efeito pessoal da união estável ...................................................................................................... 3
1.2.2 Novo conceito de união estável ..................................................................................................... 4
1.3 Lealdade ........................................................................................................................................ 5
1.4 Poliamor ........................................................................................................................................ 7
1.5 União estável putativa ................................................................................................................... 7
1.6 Conversão da união estável em casamento .................................................................................... 8
1.7 Regime de bens ........................................................................................................................... 11
1.8 Informativos STJ – união estável .................................................................................................. 13

2. Alimentos ................................................................................................................... 16
2.1 Espécies ............................................................................................................................................. 16
2.2 Poder familiar ..................................................................................................................................... 19
2.3 Estatuto da juventude ........................................................................................................................ 20
2.4 Alimentos entre parentes ................................................................................................................... 23
2.5 Alimentos avoengos ........................................................................................................................... 24
2.5.1 Informativos do STJ e alimentos avoengos ................................................................................... 25
2.6 Transmissibilidade .............................................................................................................................. 28
2.7 Características .................................................................................................................................... 29
2.7.1 Incompensáveis ........................................................................................................................... 29
2.7.2 Impenhoráveis............................................................................................................................. 30
2.7.3 Irrepetíveis .................................................................................................................................. 30
2.7.4 (Ir)renunciáveis ........................................................................................................................... 30
2.8 Alimentos e sociedade conjugal .......................................................................................................... 31
2.9 Alimentos compensatórios ................................................................................................................. 37
2.10 Alimentos gravídicos......................................................................................................................... 39
2.11 Estatuto do idoso.............................................................................................................................. 40
2.12 Revisão de alimentos ........................................................................................................................ 42

1
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

1. União Estável
De acordo com o art. 1.723 do CC, a união estável é uma entidade familiar formada
por pessoas, caracterizada por uma convivência pública, duradoura e contínua, com o
objetivo de estabelecimento de vida em comum, desde que não haja impedimentos
matrimoniais.
Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a
mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o
objetivo de constituição de família.

Se houver impedimentos matrimoniais, não será considerada união estável, mas


concubinato.
1.1 Concubinato
Segundo o art. 1.727 do CC, o concubinato é uma relação afetiva sólida, duradoura,
mas pode ter sido clandestina, ou pode ter sido estabelecida por pessoas que não
poderiam se casar, já que havia impedimentos matrimoniais entre elas. Por isso, esse
relacionamento não terá força para formar uma família.
Art. 1.727. As relações não eventuais entre o homem e a mulher, impedidos de casar,
constituem concubinato.

Não sendo união estável, não surtirá qualquer efeito, porque os deveres e direitos
que decorrem de uma união estável, conforme o art. 1724 são extrapatrimoniais e, nos
termos do art. 1725, produz o efeito patrimonial pelo regime de bens.
Art. 1.724. As relações pessoais entre os companheiros obedecerão aos deveres de
lealdade, respeito e assistência, e de guarda, sustento e educação dos filhos.

Art. 1.725. Na união estável, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-se às
relações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de bens.

Dessa forma, só haverá direito a alimentos, direito sucessório, direito a regime de


bens etc., se a relação formar uma família por união estável. Se isso não for possível, a
relação será caracterizada como concubinato.
A única exceção prevista em lei está no § 1º do art. 1723.
Art. 1.723 (...)
o
§ 1 A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do art. 1.521; não
se aplicando a incidência do inciso VI no caso de a pessoa casada se achar separada de
fato ou judicialmente.

O art. 1521, VI, estabelece que uma pessoa casada não pode contrair novo
casamento, sob pena de incorrer em bigamia. Assim, essa pessoa casada está impedida de
celebrar um novo casamento até que o atual seja extinto.
Art. 1.521. Não podem casar:
VI - as pessoas casadas;
2
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

Por outro lado, a pessoa casada que está em impedimento matrimonial,


excepcionalmente, poderá formar união estável, desde que esteja separada judicialmente
ou de fato.
A separação de fato faz grande diferença em relação à Lei nº 9278/96, porque a
Emenda Constitucional nº 66/2010 retirou a exigência de se cumprir dois anos de
separação de fato para se ter direito ao divórcio direto.
Dessa forma, a EC nº 66/2010 acabou por alterar a compreensão dessa separação
de fato do § 1º do art. 1723 e, desde julho de 2010 passou a ser consagrado, no Brasil, que
a qualquer momento de uma separação de fato, não interessa se um ano ou seis meses,
será possível constituir outra família por união estável.
Portanto, não são mais necessários os dois anos de uma separação de fato para que
uma pessoa casada possa formar outra família por união estável, basta que ela esteja
separada de fato para que isso seja juridicamente possível.
1.2 Identidade
1.2.1 Efeito pessoal da união estável
Outro aspecto sobre a união estável, vale destacar, está previsto pela Lei nº
6.015/73 (LRP – Lei de registros públicos), no seu art. 57, §§ 2º a 4º.
Art. 57. A alteração posterior de nome, somente por exceção e motivadamente, após
audiência do Ministério Público, será permitida por sentença do juiz a que estiver sujeito
o registro, arquivando-se o mandado e publicando-se a alteração pela imprensa,
ressalvada a hipótese do art. 110 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 12.100, de
2009).
(...)
§ 2º A mulher solteira, desquitada ou viúva, que viva com homem solteiro, desquitado ou
viúvo, excepcionalmente e havendo motivo ponderável, poderá requerer ao juiz
competente que, no registro de nascimento, seja averbado o patronímico de seu
companheiro, sem prejuízo dos apelidos próprios, de família, desde que haja
impedimento legal para o casamento, decorrente do estado civil de qualquer das partes
ou de ambas. (Incluído pela Lei nº 6.216, de 1975).
§ 3º O juiz competente somente processará o pedido, se tiver expressa concordância do
companheiro, e se da vida em comum houverem decorrido, no mínimo, 5 (cinco) anos ou
existirem filhos da união. (Incluído pela Lei nº 6.216, de 1975).
§ 4º O pedido de averbação só terá curso, quando desquitado o companheiro, se a ex-
esposa houver sido condenada ou tiver renunciado ao uso dos apelidos do marido, ainda
que dele receba pensão alimentícia. (Incluído pela Lei nº 6.216, de 1975).

Trata da possibilidade do companheiro acrescentar o sobrenome do outro. Mais


especificamente, a lei prevê a possibilidade de a companheira acrescentar o nome do

3
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

companheiro, mas quando o art. 5º da Constituição Federal estabelece a igualdade de


gênero, inclusive quando o próprio Código Civil, no seu art. 1.565, § 1º, admite ao homem
acrescentar o sobrenome da mulher, a compreensão dos parágrafos 2º a 4º do art. 57,
passa a ser contaminado por essa mudança paradigmática.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...)

Art. 1.565. Pelo casamento, homem e mulher assumem mutuamente a condição de


consortes, companheiros e responsáveis pelos encargos da família.
§ 1o Qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu o sobrenome do outro.

Então, apesar de o texto da lei mencionar o acréscimo do sobrenome do


companheiro pela companheira, por causa dessas alterações, tanto constitucionais, como
na legislação ordinária, passa-se a admitir que o companheiro também acrescente o
sobrenome da companheira.
1.2.2 Novo conceito de união estável
Voltemos ao seguinte ponto. Para que uma pessoa casada constitua família por uma
união estável, ela deve estar, pelo menos, separada de fato.
Consideremos que Gustavo e Clarice formem uma família por união estável. Então,
eles mantêm uma relação matrimonial, possuem um lar em conjunto, têm filhos, mantêm
a vida em comum há alguns anos, uma relação sólida e são conhecidos socialmente como
marido e mulher. Entretanto, Gustavo estabelece uma relação paralela com Bianca e, de
acordo com o art. 1724, ele é desleal. Isso porque ele não é casado com Clarice e, assim,
seu estado civil é solteiro.
A sociedade, em tese, não tem meios para investigar se Gustavo, ostentando o
estado civil de solteiro, formou ou não uma família, mas cabe a ele ser leal a Clarice. Dessa
forma, a relação que ele estabelece com Bianca é de amante, representando uma relação
desleal com a que ele forma com Clarice.
A falta dessa lealdade faz com que o STJ entenda que as relações paralelas formem
concubinato.
Pensando de outra forma, se Gustavo e Clarice fossem casados e Gustavo
mantivesse uma relação com Bianca sem estar separado, essa relação seria concubinato,
porque haveria o impedimento matrimonial e, por isso, não poderia ser união estável.
No caso apresentado, embora Gustavo não seja casado com Clarice, em razão da
lealdade que deve incidir sobre as relações afetivas, a relação de Gustavo com Bianca
ofende o vínculo matrimonial que ele mantém com Clarice. Por isso que o STJ não admite
as relações paralelas.
4
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

1.3 Lealdade
Prevista no art. 1724, representa um impedimento para as relações paralelas.
Segundo os Informativos nºs 274, 435, 464 e 494, não são admitidas as uniões
paralelas, sendo que a primeira é união estável e as demais são concubinato.
Informativo n. 0274

Período: 13 a 17 de fevereiro de 2006.


UNIÃO ESTÁVEL. CONCOMITÂNCIA. UNIÕES. INCABÍVEL.
Não se equipara ao casamento putativo o relacionamento do autor da herança com uma
mulher, sem que tenha se desvinculado da anterior união estável, na qual vivia como se
fosse marido. Não há como configurar união estável concomitante a outra. REsp
789.293-RJ, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, julgado em 16/2/2006.

Informativo Nº: 0435


Período: 17 a 21 de maio de 2010

FAMÍLIA. UNIÕES ESTÁVEIS SIMULTÂNEAS. PENSÃO.


In casu, o de cujus foi casado com a recorrida e, ao separar-se consensualmente dela,
iniciou um relacionamento afetivo com a recorrente, o qual durou de 1994 até o óbito
dele em 2003. Sucede que, com a decretação do divórcio em 1999, a recorrida e o
falecido voltaram a se relacionar, e esse novo relacionamento também durou até sua
morte. Diante disso, as duas buscaram, mediante ação judicial, o reconhecimento de
união estável, consequentemente, o direito à pensão do falecido. O juiz de primeiro grau,
entendendo haver elementos inconfundíveis caracterizadores de união estável existente
entre o de cujus e as demandantes, julgou ambos os pedidos procedentes, reconhecendo
as uniões estáveis simultâneas e, por conseguinte, determinou o pagamento da pensão
em favor de ambas, na proporção de 50% para cada uma. Na apelação interposta pela
ora recorrente, a sentença foi mantida. Assim, a questão está em saber, sob a
perspectiva do Direito de Família, se há viabilidade jurídica a amparar o reconhecimento
de uniões estáveis simultâneas. Nesta instância especial, ao apreciar o REsp, inicialmente
se observou que a análise dos requisitos ínsitos à união estável deve centrar-se na
conjunção de fatores presentes em cada hipótese, como a affectio societatis familiar, a
participação de esforços, a posse do estado de casado, a continuidade da união, a
fidelidade, entre outros. Desse modo, entendeu-se que, no caso, a despeito do
reconhecimento, na dicção do acórdão recorrido, da união estável entre o falecido e sua
ex-mulher em concomitância com união estável preexistente por ele mantida com a
recorrente, é certo que o casamento válido entre os ex-cônjuges já fora dissolvido pelo
divórcio nos termos do art. 1.571, § 1º, do CC/2002, rompendo-se, definitivamente, os
laços matrimoniais outrora existentes. Destarte, a continuidade da relação sob a
roupagem de união estável não se enquadra nos moldes da norma civil vigente (art.
1.724 do CC/2002), porquanto esse relacionamento encontra obstáculo intransponível no
dever de lealdade a ser observado entre os companheiros. Ressaltou-se que uma
sociedade que apresenta como elemento estrutural a monogamia não pode atenuar o
dever de fidelidade, que integra o conceito de lealdade, para o fim de inserir, no âmbito
do Direito de Família, relações afetivas paralelas e, por consequência, desleais, sem
5
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

descurar do fato de que o núcleo familiar contemporâneo tem como escopo a realização
de seus integrantes, vale dizer, a busca da felicidade. Assinalou-se que, na espécie, a
relação mantida entre o falecido e a recorrida (ex-esposa), despida dos requisitos
caracterizadores da união estável, poderá ser reconhecida como sociedade de fato, caso
deduzido pedido em processo diverso, para que o Poder Judiciário não deite em solo
infértil relacionamentos que efetivamente existem no cenário dinâmico e fluido dessa
nossa atual sociedade volátil. Assentou-se, também, que ignorar os desdobramentos
familiares em suas infinitas incursões, em que núcleos afetivos justapõem-se, em
relações paralelas, concomitantes e simultâneas, seria o mesmo que deixar de julgar
com base na ausência de lei específica. Dessa forma, na hipótese de eventual interesse
na partilha de bens deixados pelo falecido, deverá a recorrida fazer prova, em processo
diverso, repita-se, de eventual esforço comum. Com essas considerações, entre outras, a
Turma deu provimento ao recurso, para declarar o reconhecimento da união estável
mantida entre o falecido e a recorrente e determinar, por conseguinte, o pagamento da
pensão por morte em favor unicamente dela, companheira do falecido. REsp 1.157.273-
RN, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/5/2010.

Informativo nº 0464
Período: 21 a 25 de fevereiro de 2011.
UNIÕES ESTÁVEIS PARALELAS.
A Turma, ao prosseguir o julgamento, deu provimento ao recurso especial e estabeleceu
ser impossível, de acordo com o ordenamento jurídico pátrio, conferir proteção jurídica a
uniões estáveis paralelas. Segundo o Min. Relator, o art. 226 da CF/1988, ao enumerar
as diversas formas de entidade familiar, traça um rol exemplificativo, adotando uma
pluralidade meramente qualitativa, e não quantitativa, deixando a cargo do legislador
ordinário a disciplina conceitual de cada instituto - a da união estável encontra-se nos
arts. 1.723 e 1.727 do CC/2002. Nesse contexto, asseverou que o requisito da
exclusividade de relacionamento sólido é condição de existência jurídica da união estável
nos termos da parte final do § 1º do art. 1.723 do mesmo código. Consignou que o maior
óbice ao reconhecimento desse instituto não é a existência de matrimônio, mas a
concomitância de outra relação afetiva fática duradoura (convivência de fato) - até
porque, havendo separação de fato, nem mesmo o casamento constituiria impedimento
à caracterização da união estável -, daí a inviabilidade de declarar o referido paralelismo.
Precedentes citados: REsp 789.293-RJ, DJ 20/3/2006, e REsp 1.157.273-RN, DJe
7/6/2010. REsp 912.926-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 22/2/2011.

Informativo Nº: 0494

Período: 26 de março a 3 de abril de 2012.


RECONHECIMENTO DE UNIÃO ESTÁVEL SIMULTÂNEA AO CASAMENTO.
Ser casado constitui fato impeditivo para o reconhecimento de uma união estável. Tal
óbice só pode ser afastado caso haja separação de fato ou de direito. Ainda que seja
provada a existência de relação não eventual, com vínculo afetivo e duradouro, e com o
intuito de constituir laços familiares, essa situação não é protegida pelo ordenamento
jurídico se concomitante a ela existir um casamento não desfeito. Na hipótese, havia
dúvidas quanto à separação fática do varão e sua esposa. Assim, entendeu-se

6
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

inconveniente, sob o ponto de vista da segurança jurídica, inviolabilidade da vida


privada, da intimidade e da dignidade da pessoa humana, abrir as portas para
questionamento acerca da quebra da affectio familiae, com vistas ao reconhecimento de
uniões estáveis paralelas a casamento válido. Diante disso, decidiu-se que havendo uma
relação concubinária, não eventual, simultânea ao casamento, presume-se que o
matrimônio não foi dissolvido e prevalece os interesses da mulher casada, não
reconhecendo a união estável. Precedentes citados do STF: RE 397.762-BA, Dje
11/9/2008; do STJ: Resp 1.107.195-PR, Dje 27/5/2010, e Resp 931.155-RS, DJ 20/8/2007.
REsp 1.096.539-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/3/2012.

1.4 Poliamor
Alguns cartórios têm feito contrato de uniões poliafetivas, um homem e duas
mulheres ou duas mulheres e um homem e até de três mulheres ou três homens. Por
enquanto só temos notícias de uniões a três, mas o poliamor não estabelece um número
específico, de quantos seriam.
O STJ não admite o poliamor1. Ainda existe muita resistência quanto a essa
estrutura familiar no Brasil, porque ele ainda é um país de prática monogâmica.
O art. 1521, VI, do Código Civil, como nós já vimos, homenageia a monogamia e,
aliás a bigamia ainda é considerada crime no Brasil.
Então, em razão de valores sociais, o poliamor encontra muita resistência. Todavia,
ele é admitido pela doutrina e ainda há alguns militantes na área da família bastante
favoráveis ao poliamor, tendo em vista que é uma possibilidade e uma prática sustentável,
na medida em que é ética.
Duas ou mais pessoas mantêm relações familiares simultaneamente e elas se
aceitam, se acolhem e se legitimam. Por isso, a união estável acaba sendo vivenciada por
essas pessoas, mas o Estado brasileiro ainda não a reconhece.
O CNJ mandou suspender todas as escrituras de relações de poliamor 2, até que o
STJ decida se deve ou não lavrar escrituras de poliamor em tabelionato de notas no Brasil.
Por enquanto, isso representa um claro posicionamento contrário.
1.5 União estável putativa
É uma relação paralela, mas que transita pela boa-fé subjetiva. A união estável
1
Nota do monitor: Segue exemplo de julgado do STJ.
“(...) Realmente, não há como se admitir a coexistência de um casamento nas circunstâncias ora expostas
(sem separação de fato) com uma união estável, sob pena de viabilizar a bigamia, já que é possível a
conversão da união estável em casamento (...)” (STJ, REsp 684.407/RS, 4ª Turma, Rel. Min. Jorge Scartezzini,
DJ de 27/6/2005).
2
Nota do monitor: “O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) sugeriu que cartórios suspendam as escrituras
públicas de relacionamento entre mais de duas pessoas, as chamadas uniões poliafetivas, até a
regulamentação do tema. A recomendação foi repassada às corregedorias estaduais até que o CNJ analise
representação da Associação de Direito de Família e das Sucessões (ADFAS), que pediu, em liminar, a
proibição do reconhecimento do poliamor”. Fonte: http://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,cnj-pede-
suspensao-de-registro-de-trisal,10000052712
7
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

putativa é uma aplicação do art. 1561 do CC, por analogia.


Art. 1.561. Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de boa-fé por ambos os
cônjuges, o casamento, em relação a estes como aos filhos, produz todos os efeitos até o
dia da sentença anulatória.
o
§ 1 Se um dos cônjuges estava de boa-fé ao celebrar o casamento, os seus efeitos civis
só a ele e aos filhos aproveitarão.
o
§ 2 Se ambos os cônjuges estavam de má-fé ao celebrar o casamento, os seus efeitos
civis só aos filhos aproveitarão.

Assim, não se admite o casamento viciado, sem que as pessoas saibam, declarando-
se nulo esse casamento por sentença, mas são conferidos os efeitos ao casamento nulo,
em homenagem à boa-fé subjetiva das partes que desconheciam os impedimentos
matrimoniais.
Ora, se existe essa possibilidade para o casamento, então, deve-se admitir essa
possibilidade para a união estável.
É importante destacar um julgado do Rio Grande do Sul, segundo o qual:
(...) Comprovada a notoriedade e a publicidade do relacionamento amoroso havido
entre a autora e o de cujus e, por isso é cabível o reconhecimento da união estável
putativa, quando fica demonstrado que a autora não sabia do relacionamento paralelo do
varão com a mãe da ré (...) (TJRS, Apelação Cível nº 70 025 094 707, Rel Des. Sérgio
Fernando de Vasconcellos Chaves, 7ª Câmara Cível, j. 22/10/2008)
Exemplo: Angélica mantém relação com um homem que a assume publicamente
como sua esposa e, depois, ela descobre que esse homem tem uma relação com outra
mulher que pode ser sua esposa ou companheira e essas mulheres desconheciam que
estavam em relações paralelas, porque foram enganadas e iludidas. Embora a segunda
relação não seja reconhecida como união estável, deve-se dar a ela os efeitos de uma
união estável, tal qual acontece com o casamento, porque se deve homenagear a boa-fé
subjetiva.
1.6 Conversão da união estável em casamento
Reconhecido que o casamento e a união estável são duas uniões afetivas aptas a
formar família, destaca-se o art. 226, § 3º, da CF/88, o qual estabelece que a legislação
ordinária deve facilitar a conversão da união estável em casamento.

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.

§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a


mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.

Imaginemos um casal que iniciou uma relação de união estável em 1982, possuindo
34 anos de vida em comum, vivendo em família durante esse período e, agora, em 2016,
8
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

esse mesmo casal resolve casar.


De duas, uma: ou eles vão solicitar a habilitação para casar e serão considerados
casados a partir de 2016 em diante; ou vão pedir a conversão dessa união estável em
casamento, conforme estabelece o art. 1726.
Art. 1.726. A união estável poderá converter-se em casamento, mediante pedido dos
companheiros ao juiz e assento no Registro Civil.

Esse artigo prevê que esse casal que está há 34 anos em união estável, em
conjunto, podem requerer a conversão da união estável em casamento e deverá ser
prolatada sentença.
Interessante é que o art. 8º da lei nº 9278/96 também previa essa conversão da
união estável em casamento, mas isso se dava em cartório. O Código Civil de 2002
estabeleceu e regulamentou também essa conversão, mas de forma judicializada.
Art. 8° Os conviventes poderão, de comum acordo e a qualquer tempo, requerer a
conversão da união estável em casamento, por requerimento ao Oficial do Registro Civil
da Circunscrição de seu domicílio.

Então, pelo Código Civil, a conversão deve se dar por sentença.


Em primeiro lugar, essa sentença tem que declarar a união estável, reconhecendo
que os requerentes vivem em união estável desde determinada data. A próxima fase é
determinar o momento em que eles poderiam ter se casado.
Considerando o caso hipotético apresentado acima, se fosse possível o casamento
em 1982, ou seja, se os requerentes tivessem capacidade para casar e não houvesse
impedimentos matrimoniais, desde aquela data eles poderiam ter casado. Então, se a
sentença converteu desde 1982, significa que ela terá efeito retroativo e quando for
registrada no domicílio dos companheiros, agora já cônjuges, far-se-á o registro de um
casamento desde 1982.
Se, por exemplo, um deles estivesse separado judicialmente em 1982 e só tivesse
conseguido o divórcio em 1984, a sentença iria declarar a união estável desde 1982, porém
a conversão deveria ocorrer em 1984, a fim de que não houvesse bigamia, já que, de 82 a
84, um dos companheiros estava casado, porém separado judicialmente, então ele poderia
formar união estável, mas não poderia se casar.
Dessa forma, essa sentença poderia reconhecer a união estável, mas não poderia
convertê-la em casamento. Se em 84 ocorre o registro de averbação do divórcio do
primeiro casamento, já pode haver o registro de um segundo casamento. Dessa forma, a
conversão é retroativa a 1984, e não a 1982.
Se não existisse esse efeito retroativo, não se falaria em conversão, configurando
em mera habilitação para casar. O casal em comento, por exemplo, casaria em 2016 e
seguiria em frente casado.
9
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

A conversão, por outro lado, quando se converte uma coisa em outra, significa que
se está transformando uma união estável em casamento. É a mesma coisa quando se
converte um arresto em penhora. O arresto quando vira penhora, o registro da penhora
tem efeito retroativo. Igualmente, quando se converte uma hipoteca em penhora, haverá
efeito retroativo.
A conversão da união estável em casamento é um pedido judicial comum retroativo
à data da constituição da união estável, salvo se, na data da constituição da união estável
houver impedimento matrimonial. Havendo impedimento matrimonial, a retroatividade
não será a data do reconhecimento da união estável, será a data em que fosse possível os
requerentes terem se casado.
Prestem atenção ao Enunciado 526, da V Jornada de Direito Civil: “É possível a
conversão de união estável entre pessoas do mesmo sexo em casamento, observados os
requisitos exigidos para a respectiva habilitação”.
Nesse mesmo sentido, o STJ dispôs no Informativo 486.
Informativo Nº: 0486

Período: 24 de outubro a 4 de novembro de 2011.


CASAMENTO. PESSOAS. IGUALDADE. SEXO.
In casu, duas mulheres alegavam que mantinham relacionamento estável há três anos e
requereram habilitação para o casamento junto a dois cartórios de registro civil, mas o
pedido foi negado pelos respectivos titulares. Posteriormente ajuizaram pleito de
habilitação para o casamento perante a vara de registros públicos e de ações especiais
sob o argumento de que não haveria, no ordenamento jurídico pátrio, óbice para o
casamento de pessoas do mesmo sexo. Foi-lhes negado o pedido nas instâncias
ordinárias. O Min. Relator aduziu que, nos dias de hoje, diferentemente das constituições
pretéritas, a concepção constitucional do casamento deve ser plural, porque plurais são
as famílias; ademais, não é o casamento o destinatário final da proteção do Estado, mas
apenas o intermediário de um propósito maior, qual seja, a proteção da pessoa humana
em sua dignidade. Assim sendo, as famílias formadas por pessoas homoafetivas não são
menos dignas de proteção do Estado se comparadas com aquelas apoiadas na tradição e
formadas por casais heteroafetivos. O que se deve levar em consideração é como aquele
arranjo familiar deve ser levado em conta e, evidentemente, o vínculo que mais
segurança jurídica confere às famílias é o casamento civil. Assim, se é o casamento civil a
forma pela qual o Estado melhor protege a família e se são múltiplos os arranjos
familiares reconhecidos pela CF/1988, não será negada essa via a nenhuma família que
por ela optar, independentemente de orientação sexual dos nubentes, uma vez que as
famílias constituídas por pares homoafetivos possuem os mesmos núcleos axiológicos
daquelas constituídas por casais heteroafetivos, quais sejam, a dignidade das pessoas e
o afeto. Por consequência, o mesmo raciocínio utilizado tanto pelo STJ quanto pelo STF
para conceder aos pares homoafetivos os direitos decorrentes da união estável deve ser
utilizado para lhes proporcionar a via do casamento civil, ademais porque a CF
determina a facilitação da conversão da união estável em casamento (art. 226, § 3º).
Logo, ao prosseguir o julgamento, a Turma, por maioria, deu provimento ao recurso para

10
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

afastar o óbice relativo à igualdade de sexos e determinou o prosseguimento do processo


de habilitação do casamento, salvo se, por outro motivo, as recorrentes estiverem
impedidas de contrair matrimônio. REsp 1.183.378-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgamento em 25/10/2011.

O enunciado 526 foi resultado do julgamento da Ação Direta de


Inconstitucionalidade 4277 e que acabou sendo reforçado posteriormente pela Resolução
CNJ nº 175, segundo a qual as Corregedorias de Justiça dos Estados e do Distrito Federal
deveriam assegurar a habilitação de casamento de pessoas do mesmo sexo.
RESOLUÇÃO Nº 175, DE 14 DE MAIO DE 2013

Art. 1º É vedada às autoridades competentes a recusa de habilitação, celebração de


casamento civil ou de conversão de união estável em casamento entre pessoas de
mesmo sexo.
Art. 2º A recusa prevista no artigo 1º implicará a imediata comunicação ao respectivo
juiz corregedor para as providências cabíveis.
Art. 3º Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação.

Esse reconhecimento representou um grande momento para a cidadania no Brasil.


1.7 Regime de bens
Cumpre destacar o acórdão do STJ que ganhou muita mídia e chamou muita
atenção por resolver a questão da partilha de bens da união estável, pela aplicação da
Súmula 380 do STF, por considerar que as relações de concubinato, ao serem dissolvidas e
quando constituírem sociedades de fato, necessita de prova da contribuição econômica.
Súmula 380
Comprovada a existência de sociedade de fato entre os concubinos, é cabível a sua
dissolução judicial, com a partilha do patrimônio adquirido pelo esforço comum.

Essa decisão foi um triste episódio para a história da Corte Superior, porque ela só
serviu para reafirmar a deficiência dos Ministros no que tange à família. O artigo 1725 do
Código Civil consagrou o que já era previsto desde a Lei nº 9278/96, ou seja, o regime de
bens.
Isso quer dizer que, uma vez reconhecida a união estável, fica também comprovada
uma sociedade afetiva, que atrai para si as regras da comunhão parcial de bens, na forma
do artigo 1725, sem prejuízo de um contrato entre os companheiros, elegendo outro
regime de bens se preferirem.
Logo, voltamos a insistir: cuidado com acórdãos que fogem à orientação do próprio
tribunal, porque, muitas vezes, eles só servem para expressar a deficiência pontual de
alguns ministros e, infelizmente, isso acontece. Até porque cabe ao STJ zelar pela vigência
de lei federal e, quando o STJ nega vigência ao art. 1725 do Código Civil, ele presta um
enorme desserviço à ordem jurídica pátria.

11
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

O art. 1725 do CC está em vigor desde 11 de janeiro de 2003, ou seja, é uma


vigência de mais de 13 anos, estabelecendo o que todo mundo já sabe desde os bancos da
faculdade e da graduação.
Uma vez constituída a família pela união estável, o regime de bens entre as partes
será a comunhão parcial, salvo se os companheiros tiverem estabelecido outro regime de
bens diferente, significando a liberdade dos companheiros de eleger a separação, a
comunhão universal, enfim, desde que seja por contrato escrito. Se não houver esse
contrato escrito, o regime é o da comunhão parcial. No caso da comunhão parcial, a lei
presume o esforço comum.
Exemplo: se a mulher é dona de casa e o marido trabalha, o patrimônio formado
onerosamente num casamento pela comunhão parcial, decorreu de um esforço comum. A
esposa contribuiu porque a sociedade não é empresária, é afetiva. Da mesma forma, a
união estável, na forma do art. 1725.
Os informativos 254 e 505 do STJ enunciam que a lei que estiver em vigor enquanto
houver união estável é atraída para regulamentá-la, no que tange ao regime de bens.
Informativo nº 0254
Período: 1º a 5 de agosto de 2005.
UNIÃO ESTÁVEL. LEI N. 9.278/1996. PARTICIPAÇÃO. FORMAÇÃO. PATRIMÔNIO.
Tem-se por certo o convívio do casal em união estável por 12 anos e substancial aumento
de seu patrimônio durante esse período. Os bens imóveis foram registrados apenas em
nome da recorrida, que, após o rompimento da relação, entregou-os em doação a seus
filhos, reservado seu usufruto vitalício. Note-se que, após a Lei n. 9.278/1996, os bens
adquiridos pelo casal na constância da união estável são frutos do trabalho e da
colaboração comum. Dessarte, conclui-se pertencer a ambos. Todavia, de acordo com a
jurisprudência, nos relacionamentos rompidos antes da vigência daquela lei, tal qual
reconhecido no caso em tela, há que se perquirir, para efeito de partilha, a participação
de ambos na formação do patrimônio (Súm. n. 380-STF), mas não se exige, para tal
mister, que a contribuição seja pecuniária e direta. Dessa forma, firmado pelas instâncias
ordinárias que o recorrente teve participação na formação do patrimônio, tem ele direito
à partilha dos bens. Em relação aos que já foram vendidos ou doados pela recorrida, há
que se pagar ao recorrente a correspondente indenização. Com esse entendimento, a
Turma, ao prosseguir o julgamento, por maioria, deu provimento ao recurso.
Precedentes citados: REsp 443.901-RS, DJ 17/2/2003; REsp 120.335-RJ, DJ 24/8/1998, e
REsp 147.098-DF, DJ 7/8/2000. REsp 488.649-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
2/8/2005.

Informativo n. 0505
Período: 20 de setembro a 3 de outubro de 2012.
DIREITO CIVIL. UNIÃO ESTÁVEL DISSOLVIDA APÓS A LEI N. 9.278/1996. PRESUNÇÃO DE
ESFORÇO COMUM.

12
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

É devida a partilha dos bens adquiridos onerosamente por um ou ambos os conviventes


na constância da união estável, independentemente da comprovação de esforço comum,
em caso de dissolução da união após o advento da Lei n. 9.278/1996, salvo se houver
estipulação contrária em contrato escrito ou se a aquisição ocorrer com o produto de
bens adquiridos em período anterior ao início da união. Aplicam-se as disposições da Lei
n. 9.278/1996 às uniões estáveis dissolvidas após a sua vigência. Dispõe o art. 5º da Lei
n. 9.278/1996 que “os bens móveis e imóveis adquiridos por um ou por ambos os
conviventes, na constância da união estável e a título oneroso, são considerados fruto do
trabalho e da colaboração comum, passando a pertencer a ambos, em condomínio e em
partes iguais, salvo estipulação contrária em contrato escrito”. A Lei n. 9.278/1996 não
exige, como previa o regime anterior, a prova de que a aquisição dos bens decorreu do
esforço comum de ambos os companheiros para fins de partilha. Precedentes citados:
REsp 986.290-RS, DJe 28/2/2011; REsp 623.566-RO, DJ 10/10/2005; REsp 147.098-DF, DJ
7/8/2000; REsp 602.199-PB, DJe 14/9/2009, e REsp 915.297-MG, DJe 3/3/2009. REsp
1.021.166-PE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 2/10/2012.

Dessa forma, a união estável que já existia quando entrou em vigor o Código Civil de
2002 atraiu o art. 1725. Assim, mesmo que se trate de um patrimônio antigo, formado
muito antes de o Código Civil, este, ainda assim, irá incidir, porque aquela união estava viva
quando a nova lei entrou em vigor, apesar de o Conselho da Justiça Federal ter entendido
que deveria ser aplicada a regra que estivesse em vigor na data da aquisição do bem, por
exemplo, se o bem fosse adquirido em 1977, teria que aplicar a regra de comunicação
patrimonial de 77, se foi adquirido em 93, teria que ser a regra de 93.
Porém, não foi assim que o STJ resolveu, não foi assim que os tribunais seguiram e
não é esse o entendimento doutrinário. É aplicado o regime de bens da comunhão parcial,
salvo se tiver sido escolhido outro regime pelos companheiros para fazer a partilha de
bens, considerando a data da dissolução da sociedade conjugal.
Então, se a sociedade foi dissolvida em 2009, será aplicada a regra em vigor em
2009, e não na data da aquisição do bem.
1.8 Informativos STJ – união estável
 508: presunção de paternidade é estendida à união estável
A presunção de paternidade prevista no art. 1597 também é aplicada para a união
estável.
Informativo Nº: 0508
Período: 5 a 14 de novembro de 2012.
DIREITO CIVIL. UNIÃO ESTÁVEL. PRESUNÇÃO DE CONCEPÇÃO DE FILHOS.
A presunção de concepção dos filhos na constância do casamento prevista no art. 1.597,
II, do CC se estende à união estável. Para a identificação da união estável como entidade
familiar, exige-se a convivência pública, contínua e duradoura estabelecida com o
objetivo de constituição de família com atenção aos deveres de lealdade, respeito,
assistência, de guarda, sustento e educação dos filhos em comum. O art. 1.597, II, do CC
dispõe que os filhos nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade

13
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

conjugal presumem-se concebidos na constância do casamento. Assim, admitida pelo


ordenamento jurídico pátrio (art. 1.723 do CC), inclusive pela CF (art. 226, § 3º), a união
estável e reconhecendo-se nela a existência de entidade familiar, aplicam-se as
disposições contidas no art. 1.597, II, do CC ao regime de união estável. Precedentes
citados do STF: ADPF 132-RJ, DJe 14/10/2011; do STJ: REsp 1.263.015-RN, DJe
26/6/2012, e REsp 646.259-RS, DJe 24/8/2010. REsp 1.194.059-SP, Rel. Min. Massami
Uyeda, julgado em 6/11/2012.

 370: é dispensada a coabitação para configurar a união estável (aplicação da


Súmula 382 do STF).
Informativo nº 0370
Período: 29 de setembro a 3 de outubro de 2008.
UNIÃO ESTÁVEL. COABITAÇÃO.

A recorrente busca reconhecer a existência de uma entidade familiar formada entre ela e
o de cujus apta a reservar-lhe meação nos bens deixados. A seu favor pesa a constatação
de que a Lei n. 9.278/1996 não enumera a coabitação como um elemento indispensável,
um requisito essencial, à formação da união estável (vide Súm. n. 382-STF), mesmo que
não se negue ser ela um dado relevante para perquirir a intenção de constituir família.
Quanto à prova de efetiva colaboração da recorrente na aquisição dos bens, tal
circunstância é relevante apenas para afastar eventual sociedade de fato, subsistindo a
necessidade de definir se existente a união estável, pois ela presume a mútua
colaboração na formação do patrimônio, a refletir na conseqüente partilha (art. 5º da
referida lei). Porém, afastada a única premissa utilizada pelo Tribunal a quo para repelir
a existência da união estável (a falta de coabitação), só resta a remessa dos autos à
origem para que lá, à luz dos demais elementos de prova constantes dos autos, examine-
se a existência da mencionada união, visto o consabido impeço de o STJ revolver o
substrato fático-probatório dos autos. Precedentes citados: REsp 278.737-MT, DJ
18/6/2001, e REsp 474.962-SP, DJ 1º/3/2004. REsp 275.839-SP, Rel. originário Min. Ari
Pargendler, Rel. para acórdão Min. Nancy Andrighi (art. 52, IV, b, do RISTJ), julgado em
2/10/2008.

 431: in dubio, pro casamento (art. 1547, CC).


Informativo nº 0431
Período: 19 a 23 de abril de 2010.

UNIÃO ESTÁVEL. CASAMENTO.


Cuida-se de ação de reconhecimento de união estável post mortem e consequente
dissolução ajuizada pela recorrente em face dos herdeiros do de cujus. Na ação, ela
alega ter mantido relacionamento pelo período de 30 anos, de 1970 até 2000, ou seja,
até a data do falecimento do aludido companheiro. Salienta que dessa união advieram
quatro filhos. Ressalta que trabalhou como sua secretária pessoal, relacionamento
profissional que se transformou em afetivo, culminando com o nascimento dos filhos.
Acrescenta que o companheiro separou-se judicialmente da primeira mulher em 1983,
ano em que reconheceu a paternidade dos filhos. Por sua vez, os netos, na contestação,
alegaram que o avô nunca viveu em união estável com a autora, e sim em concubinato
impuro, visto que nunca se separou de fato da primeira mulher. Embora separados,
conviviam como se fossem casados, dividindo o teto conjugal, que nunca se desfez. O
14
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

Min. Relator (em voto vencido) dava provimento ao recurso, entendendo que a ausência
de coabitação não constitui motivo suficiente para obstar o reconhecimento de união
estável. A Min. Nancy Andrighi, em seu voto vista divergente, mas vencedor, destacou
que a declarada ausência de comprovação da posse do estado de casados, vale dizer, na
dicção do acórdão recorrido, a ausência de prova da intenção do falecido de com a
recorrente constituir uma família, com aparência de casamento, está intimamente
atrelada ao fato de que, muito embora separados judicialmente, houve a continuidade
da união dele com a primeira mulher, pois permaneceram juntos até a morte do cônjuge
varão, o que vem referendar a questão, também posta no acórdão impugnado, de que
não houve dissolução do casamento válido, ponderando-se, até mesmo, a respeito do
efetivo término da sociedade conjugal, porque notória a continuidade da relação, muito
embora não formalizado pedido de retorno ao status de casados. Nos termos do art.
1.571, § 1º, do CC/2002, o casamento válido não se dissolve pela separação judicial,
apenas pela morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio. Por isso mesmo, na hipótese de
separação judicial, basta que os cônjuges formulem pedido para retornar ao status de
casados. Já, quando divorciados, para retornarem ao status quo ante, deverão contrair
novas núpcias. Esse entendimento, consagrado pela doutrina e jurisprudência, sob a
vigência do CC/1916, apenas foi referendado pelo CC/2002, o que permite sua incidência
na hipótese. Por fim, a Min. Nancy Andrighi entendeu que a relação mantida entre o de
cujus e a recorrente era despida dos requisitos caracterizadores da união estável. Dessa
forma, na hipótese de eventual interesse na partilha de bens, deverá a recorrente fazer
prova, em processo diverso, de eventual esforço comum. Diante disso, a Turma, ao
prosseguir o julgamento, por maioria, negou provimento ao recurso. REsp 1.107.192-PR,
Rel. originário Min. Massami Uyeda, Rel. para acórdão Min. Nancy Andrighi, julgado em
20/4/2010.

Numa discussão entre companheira e cônjuge, na dúvida, pro casamento.


Informativo 431.
Exemplo: O morto deixou bens e há duas mulheres reclamando a condição de viúva,
Juliana, e de ex-companheira, Marta. Juliana tem uma certidão de casamento. Ela prova
que era casada com o falecido e, tendo sido aberta a sua sucessão, ela é cônjuge
sobrevivente e possui os direitos sucessórios (art. 1543). Marta, por sua vez, afirma que
não, que o falecido estava separado de fato de Juliana, quando estabeleceu uma relação
afetiva com ela (art. 1723, § 1º).
Art. 1.543. O casamento celebrado no Brasil prova-se pela certidão do registro.
Parágrafo único. Justificada a falta ou perda do registro civil, é admissível qualquer outra
espécie de prova.

Ora, se ele estava separado de fato de Juliana, ela não teria direitos sucessórios,
quem os teria era a companheira sobrevivente.
A questão para o STJ é que quem está alegando o fato é Marta. Ela que alega a
separação de fato do morto com a Juliana. Então, se Marta acusa e sustenta a separação
de fato, o ônus da prova cabe a ela. Se Marta não conseguir comprovar a separação de fato
de Juliana e do falecido, então ela não consegue comprovar a união estável.

15
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

Quando termina o processo, mas o juiz está em dúvida, entende o STJ que a dúvida
significa que Marta não conseguiu comprovar a união estável dela, logo, Juliana é a viúva e
a que tem o direito sucessório. Por isso que, na dúvida, em favor do casamento.
2. Alimentos
Aqui a gente começa o fim da nossa abordagem sobre família, que são os alimentos.
Os alimentos se dividem, logo que regulamentados pelo Código Civil, em duas
espécies. Os alimentos civis (art. 1694, caput) e os alimentos naturais (art. 1694, § 2º).
Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os
alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social,
inclusive para atender às necessidades de sua educação.
o
§ 1 Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos
recursos da pessoa obrigada.
§ 2o Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a situação de
necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia.

Antes de qualquer coisa, os alimentos consistem na expressão econômica da


solidariedade familiar. Como é que uma pessoa se mostra solidária a outra em lhe auxiliar a
sobrevivência? Com dinheiro ou com bens em espécie ou bens in natura.
Portanto, os alimentos são essa expressão econômica de um afeto, de uma
solidariedade, de um auxílio comum que os parentes e cônjuges e companheiros devem
entre si.
2.1 Espécies
1) Naturais ou necessários: indispensáveis à vida
2) Civis ou côngruos: relativos ao padrão social
De acordo com a regra do Código Civil, os alimentos devem ser estabelecidos de
acordo com o padrão socioeconômico das pessoas envolvidas no caso.
Isso porque, quando se questiona a necessidade de alguém: “O que alguém
precisa?”, essa resposta varia muito de acordo com o padrão socioeconômico. Será que
plano de saúde é uma necessidade? Será que colégio particular é uma necessidade, babá
ou empregada doméstica, psicólogo ou um motorista. Isso tudo vai depender do padrão
econômico das pessoas envolvidas. O que para algumas pessoas é uma necessidade, para
outras é um luxo.
Então, esses alimentos, essa solidariedade deve ser prestada dentro da realidade
socioeconômica em que essas pessoas vivem. Alguém que tenha a realidade de baixa
renda, ela vai poder suprir menos demandas do que outra pessoa que tenha o padrão
socioeconômico maior.
Entretanto, quando a necessidade é o resultado do comportamento de quem
16
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

reclama alimentos, a exemplo de uma pessoa que pede alimentos porque nunca estudou,
nunca trabalhou, sempre viveu de mesada do pai e da mãe, ou então era uma pessoa que
pegava o que tinha e distribuía, sem fazer reserva nenhuma, ou seja, era uma pessoa
perdulária, tinha trinta e gastava quarenta, então, nesses casos, pode-se alegar que quem
pede os alimentos foi quem deu causa à própria necessidade.
Se for percebido esse nexo de causalidade entre o comportamento de quem pede
os alimentos e a sua necessidade criada por esse comportamento, pode aquela pessoa a
quem se reclama os alimentos, chamada de alimentante, afirmar que irá prestar o socorro,
mas não é justo ela manter o padrão socioeconômico dessa pessoa que, se hoje reclama
alimentos, é porque buscou por isso.
O alimentante pode optar por não pagar, por exemplo, o aluguel e o condomínio no
lugar em que a pessoa credora de alimentos mora, podendo pagar no lugar mais barato
possível, pode, ainda, escolher não ajudar a alimentanda a ter um carro, sendo ela
obrigada a usar o transporte público, nem disponibilizar uma pessoa a lhe auxiliar nos
serviços domésticos, tendo a alimentanda que ela mesma fazê-los. Em suma, o alimentante
pode reduzir o padrão socioeconômico da pessoa que reclama alimentos ao indispensável.
Isso porque essa pessoa só fez jus aos alimentos naturais, ou seja, indispensáveis à sua
sobrevivência.
Os alimentos foram reduzidos ao indispensável, porque a pessoa que reclama
alimentos foi quem deu causa à própria necessidade, ela foi a responsável por, hoje, estar
na situação de penúria. Caso contrário, se não for essa a situação, os alimentos são civil.
Observação: Dever não significa obrigação. Isso quer dizer que o dever de prestar
alimentos decorre de parentesco ou de matrimônio. Os parentes que devem,
reciprocamente, alimentos são os ascendentes, os descendentes e os irmãos (arts. 1696 e
1697, CC). Pelo matrimônio, devem prestar alimentos os cônjuges e companheiros.
Art. 1.696. O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo
a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta
de outros.
Art. 1.697. Na falta dos ascendentes cabe a obrigação aos descendentes, guardada a
ordem de sucessão e, faltando estes, aos irmãos, assim germanos como unilaterais.

De acordo com o art. 1697, quando alguém vai reclamar alimentos, deve começar
pelos seus ascendentes, na ordem do grau de parentesco: primeiro os pais, depois os avós,
depois os bisavós, esgotando o pedido alimentar de acordo com o distanciamento do grau
de parentesco. Esgotados os ascendentes, então se pode reclamar alimentos dos
descendentes, também obedecendo ao grau de parentesco: primeiro dos filhos, depois dos
netos e depois dos bisnetos.
Esgotados os ascendentes e descendentes, então, poder-se-á reclamar alimentos
aos irmãos, sejam os irmãos germanos ou unilaterais.
17
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

Esse dever de prestar alimentos pode virar uma obrigação. Para que esse dever se
transforme em obrigação, é necessário enfrentar alguns elementos desse dever, para se
questionar se esse dever abstrato pode se tornar uma obrigação concreta.
Assim, questiona-se: será que aquele parente tem a obrigação de prestar alimentos
ao outro? Primeiramente, temos que examinar a necessidade de quem requer.
A primeira coisa que uma pessoa que está pedindo alimentos deve alegar e
comprovar é a sua necessidade. Essa necessidade seria a inaptidão de quem requer de
prover suas próprias necessidades. Se isso fica provado, a pessoa tem direito de reclamar
alimentos.
Dessa forma, uma pessoa pode ter quarenta e cinco anos, mas, por algum motivo
sério, não está pronta nem apta e pode pedir alimentos, porque, por exemplo, está presa
em casa cuidando de alguém, ou tem algum problema de saúde, ou está temporariamente
afastada do mercado de trabalho. Por isso, pode ser que essa pessoa, momentaneamente
ou por tempo indeterminado tenha essa necessidade.
Comprovada a necessidade, passamos a um segundo elemento, que é a
possibilidade. Digamos que uma pessoa provou que precisa do auxílio para que seu
sustento seja provido. Então, a sua necessidade é clara. Contudo, a pessoa requereu
alimentos, por exemplo, dos seus pais, que são muito pobres e eles não têm condições de
prover o sustento próprio.
Se eles não têm meios de, eles mesmos, sobreviverem, não terá como ajudar essa
pessoa. Logo, não adianta uma pessoa ter necessidade, se as pessoas a quem ela reclama
os alimentos não tiverem a possibilidade de lhe ajudar. Por outro lado, os pais podem ser
milionários, mas se o filho não tiver necessidade, não há que se falar em pensão
alimentícia.
Sendo assim, a necessidade confere a possibilidade de reclamar alimentos e a
possibilidade das pessoas a quem são reclamados os alimentos é que vai viabilizar que elas
sejam obrigadas a ajudar.
O problema surge quando se requer alimentos a mais de uma pessoa. Quando mais
de uma pessoa é demandada em alimentos, a proporcionalidade se torna um terceiro
elemento, formando, então, um trinômio.
Se, por exemplo, uma pessoa reclama alimentos em face do seu pai e da sua mãe,
não é justo que os dois paguem a mesma quantia. No caso, a pessoa pede três mil reais a
título de alimentos. Está comprovada a sua necessidade de três mil reais, porque o resto
ela mesma pode prover. Então, seu pai e sua mãe são réus, mas pode ser que seu pai tenha
menos possibilidade que sua mãe, e, por isso, sua mãe pode ser condenada a pagar dois
mil e seu pai mil.
Assim, se houver um desequilíbrio econômico entre os reclamados que tiverem
18
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

possibilidade de prestar alimentos, eles não terão que pagar a mesma quantia, porque a
fixação da pensão alimentícia quando tiver mais de um demandado, deverá observar a
proporção de quanto cada um tiver força para contribuir.
Conclui-se, então, que o dever de prestar alimentos têm os ascendentes,
descendentes, irmãos, cônjuges e companheiros, mas esse dever só se transforma em
obrigação depois de enfrentado o binômio “necessidade-possibilidade”, que pode vir a se
transformar num trinômio, pelo ingresso da proporcionalidade, se houver mais de uma
pessoa demandada para prestar alimentos.
É importante destacar o Enunciado 573 da VI Jornada de Direito Civil, segundo o
qual “Na apuração da possibilidade do alimentante, observar-se-ão os sinais exteriores de
riqueza”.
Isso significa acabar com o “golpe do esperto”, que é aquele que diz que não pode,
que não tem condições ou que apresenta um contracheque muito baixo, mas pelas redes
sociais, através de fotos e testemunhas, se vê que o sujeito ostenta um padrão
socioeconômico incompatível com a renda que comprova.
Então, na hora de fixar a pensão alimentícia, ou de identificar a obrigação, o juiz não
deve levar em consideração apenas o que a parte demandada alega e produz de prova,
mas também deve-se considerar o que ela ostenta.

2.2 Poder familiar


Vale a pena fazer algumas considerações sobre a obrigação alimentar quando ela
decorrer de poder familiar.
Quando a obrigação alimentar decorrer de poder familiar é o menor que está
exigindo pensão aos pais. Não se deve exigir do menor que ele comprove a sua
necessidade, já que se admite que, por ser menor, a pessoa deve ser protegida. Não é o
menor que deve prover seu próprio sustento. Essa obrigação é dos seus pais.
Assim, quando decorrer do poder familiar, não existe dever, mas sim obrigação
legal.
O enfrentamento das provas numa ação de alimentos que envolva poder familiar
servirá tão-somente para a fixação do valor da pensão, porque já se sabe que a obrigação
existe, mas não se sabe seu valor.
Prestem atenção ao Enunciado 344, da VI Jornada de Direito Civil e o seu diálogo
com a Súmula 358 do STJ.
De acordo com o Enunciado 344, “A obrigação alimentar originada do poder
familiar, especialmente para atender às necessidades educacionais, pode não cessar com a
maioridade”.
Nesse caso, dependerá do caso concreto, isto é, da realidade que se esteja
19
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

examinando. Então se os pais não tiverem condições de sustentar um filho a partir dos
dezoito anos, porque seu padrão socioeconômico não lhes permite, a obrigação alimentar
poderá cessar e o filho maior de idade terá que trabalhar para suprir suas próprias
necessidades. Por outro lado, até que se prove em contrário, os pais continuam pagando
alimentos, mesmo com a maioridade.
Nesse sentido dispõe a Súmula 358, a qual estabelece que o cancelamento da
pensão alimentícia por maioridade depende de contraditório, mesmo que nos próprios
autos.
Sendo assim, enquanto o devedor de alimentos não provar que não existe mais
necessidade do filho maior ou que não há mais sua possibilidade, os pais continuam
obrigados a manter a pensão alimentícia.
Vez ou outra, vê-se filho de trinta e poucos anos recebendo pensão alimentícia dos
pais. Isso ocorre porque ninguém foi pedir exoneração. Enquanto não houver o
contraditório da exoneração da pensão alimentícia, ela continua sendo devida.

2.3 Estatuto da juventude


Só para reforçar a ideia de que não há vinculação da pensão alimentícia só até os
vinte quatro anos, ressalta-se que o Estatuto da juventude (Lei 12.852/2013) estabeleceu
políticas públicas para inserção dos jovens entre 15 e 29 anos na nossa sociedade.
Entre os 15 e 18, o Estatuto da Juventude está no campo de intersecção do Estatuto
da criança e do adolescente. Nesse caso, prevalece o último, tendo em vista que o nosso
ordenamento jurídico obedece ao princípio da proteção integral ao menor, mas, no
momento em que esse adolescente ingressa na fase adulta, ele está, até os 29 anos, sob o
manto do Estatuto da juventude.
Art. 15. A ação do poder público na efetivação do direito do jovem à profissionalização,
ao trabalho e à renda contempla a adoção das seguintes medidas:
I - promoção de formas coletivas de organização para o trabalho, de redes de economia
solidária e da livre associação;
II - oferta de condições especiais de jornada de trabalho por meio de:

a) compatibilização entre os horários de trabalho e de estudo;


b) oferta dos níveis, formas e modalidades de ensino em horários que permitam a
compatibilização da frequência escolar com o trabalho regular;
III - criação de linha de crédito especial destinada aos jovens empreendedores;
IV - atuação estatal preventiva e repressiva quanto à exploração e precarização do
trabalho juvenil;

V - adoção de políticas públicas voltadas para a promoção do estágio, aprendizagem e


trabalho para a juventude;

20
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

VI - apoio ao jovem trabalhador rural na organização da produção da agricultura familiar


e dos empreendimentos familiares rurais, por meio das seguintes ações:

a) estímulo à produção e à diversificação de produtos;


b) fomento à produção sustentável baseada na agroecologia, nas agroindústrias
familiares, na integração entre lavoura, pecuária e floresta e no extrativismo
sustentável;
c) investimento em pesquisa de tecnologias apropriadas à agricultura familiar e aos
empreendimentos familiares rurais;
d) estímulo à comercialização direta da produção da agricultura familiar, aos
empreendimentos familiares rurais e à formação de cooperativas;
e) garantia de projetos de infraestrutura básica de acesso e escoamento de produção,
priorizando a melhoria das estradas e do transporte;
f) promoção de programas que favoreçam o acesso ao crédito, à terra e à assistência
técnica rural;
VII - apoio ao jovem trabalhador com deficiência, por meio das seguintes ações:
a) estímulo à formação e à qualificação profissional em ambiente inclusivo;
b) oferta de condições especiais de jornada de trabalho;

c) estímulo à inserção no mercado de trabalho por meio da condição de aprendiz.


Art. 16. O direito à profissionalização e à proteção no trabalho dos adolescentes com
idade entre 15 (quinze) e 18 (dezoito) anos de idade será regido pelo disposto na Lei
no 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente, e em leis
específicas, não se aplicando o previsto nesta Seção.
Art. 17. O jovem tem direito à diversidade e à igualdade de direitos e de oportunidades
e não será discriminado por motivo de:
I - etnia, raça, cor da pele, cultura, origem, idade e sexo;

II - orientação sexual, idioma ou religião;


III - opinião, deficiência e condição social ou econômica.
Art. 18. A ação do poder público na efetivação do direito do jovem à diversidade e à
igualdade contempla a adoção das seguintes medidas:
I - adoção, nos âmbitos federal, estadual, municipal e do Distrito Federal, de programas
governamentais destinados a assegurar a igualdade de direitos aos jovens de todas as
raças e etnias, independentemente de sua origem, relativamente à educação, à
profissionalização, ao trabalho e renda, à cultura, à saúde, à segurança, à cidadania e ao
acesso à justiça;
II - capacitação dos professores dos ensinos fundamental e médio para a aplicação das
diretrizes curriculares nacionais no que se refere ao enfrentamento de todas as formas
de discriminação;
III - inclusão de temas sobre questões étnicas, raciais, de deficiência, de orientação
sexual, de gênero e de violência doméstica e sexual praticada contra a mulher na

21
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

formação dos profissionais de educação, de saúde e de segurança pública e dos


operadores do direito;

IV - observância das diretrizes curriculares para a educação indígena como forma de


preservação dessa cultura;
V - inclusão, nos conteúdos curriculares, de informações sobre a discriminação na
sociedade brasileira e sobre o direito de todos os grupos e indivíduos a tratamento
igualitário perante a lei; e

VI - inclusão, nos conteúdos curriculares, de temas relacionados à sexualidade,


respeitando a diversidade de valores e crenças.

O estatuto da juventude serve para alimentar e incentivar políticas de


potencialização do jovem. E por que até os 29 anos? Porque a população brasileira, hoje,
vive mais tempo do que antigamente.
Logo, se atualmente uma pessoa ingressa no mercado de trabalho aos trinta anos,
por exemplo, é porque essa pessoa tem tudo para viver até depois dos setenta. Se ela tem
uma vida produtiva mais longa, até porque ela ingressou mais tarde no mercado de
trabalho, significa que nesse período em que ela se prepara para esse ingresso, justifica-se
a manutenção da pensão alimentícia.
Exemplo: um sujeito terminou a faculdade, entre 22 e 24 anos de idade, mas ele
continua se preparando para o ingresso no mercado de trabalho, com uma pós-graduação,
MBA, ou está estudando para um concurso, isto é, a preparação hoje para o mercado de
trabalho não se encerra com um diploma de graduação, como acontecia antigamente.
Ora, se a família desse jovem tem condições de lhe potencializar, de lhe permitir
essa preparação, a idade dele, de até 29 anos, justifica ele continuar recebendo esse
investimento familiar, desde que haja possibilidade.
Aqui entra o disposto no art. 1694. Se a família não tem condições de ajudar esse
jovem com dezoito anos, ele precisará trabalhar para, ele mesmo, custear seus estudos,
mas se a família tem condições, não significa que ela ficará limitada ao curso de graduação.
Se esse jovem demonstrar que ele ainda se prepara para um melhor ingresso no mercado
de trabalho e a sua família pode lhe socorrer, não se pode ficar preso a conceitos antigos.
O que é importante levar em consideração em cada caso concreto é o padrão
socioeconômico de cada uma das partes envolvidas no processo.
O Estatuto da juventude só foi citado nesta aula, primeiro porque muita gente não
o conhece e, em segundo lugar, para combater o mito de que faz jus à pensão alimentícia o
jovem até 24 anos ou até a data da conclusão da sua graduação universitária.
Não é bem assim. Esse jovem pode não fazer jus aos alimentos muito antes disso,
porque seus familiares não têm possibilidade de lhe ajudar, como, da mesma forma, ele
pode fazer jus a essa pensão inclusive depois dos 24 anos, porque sua família tem
condições de lhe ajudar e ele se prepara para um melhor ingresso no mercado de trabalho.
22
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

2.4 Alimentos entre parentes


Entramos, então, em outra questão, a família.
Imaginemos que meus pais não tenham condições de me ajudar, eu não tenha
descendentes e os meus avós sejam muito pobres, mas os meus tios tenham uma
excelente situação financeira. Eu posso pedir alimentos aos meus tios? Não, porque o
pleito de alimentos só chega até os irmãos, germanos ou unilaterais.
A ordem do art. 1697 é taxativa e não admite interpretação extensiva. Logo, não é
possível reclamar alimentos em face de parentes afins e nem de parentes colaterais de
terceiro e quarto graus.
Mais adiante, o art. 1698 do Código Civil estabelece o chamamento ao processo,
seguindo a ordem subsidiária, ou seja, é possível reclamar alimentos dos avós, depois de
terem esgotados os pais; pode-se chegar aos descendentes, depois de terem sido
esgotados os ascendentes; é possível reclamar dos irmãos, depois dos ascendentes e
descendentes.
Art. 1.698. Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não estiver em condições
de suportar totalmente o encargo, serão chamados a concorrer os de grau imediato;
sendo várias as pessoas obrigadas a prestar alimentos, todas devem concorrer na
proporção dos respectivos recursos, e, intentada ação contra uma delas, poderão as
demais ser chamadas a integrar a lide.

Isso acontece da seguinte forma: promove-se uma ação em face de um ascendente.


Identificado no processo que aquele ascendente não tem condições de prestar auxílio ao
autor, este, então, chama ao processo quem está na sequência. Assim, é feita a citação,
analisa-se a contestação e, se não tiver também condições, chama-se ao processo o
próximo. Em outros termos, ao invés de se prolatar a sentença e encerrar o processo, os
parentes vão sendo chamados, na ordem do art. 1697, até que se consiga o pagamento
total da necessidade de quem comprovou tê-la.
Tomem cuidado! Essa subsidiariedade do art. 1698 não ultrapassa o art. 1697. Ela
termina nos irmãos. Se outros parentes promoverem o auxílio, isso é entendido como
mera liberalidade.
O padrasto que ajuda o enteado, o sogro que ajuda a nora, o tio que ajuda um
sobrinho, um primo que ajuda o outro, são todos compreendidos pelo STJ (Informativo
381) como atos de liberalidade, de caridade e de ajuda. Nenhum deles tem dever jurídico.
Só há dever jurídico de prestar alimentos as pessoas do art. 1697.
O Enunciado 523, da V Jornada de Direito Civil dispõe que “O chamamento dos
codevedores para integrar a lide, na forma do art. 1698 do Código Civil, pode ser requerido
por qualquer das partes, bem como pelo Ministério Público, quando legitimado”.
Sobre o enunciado, a doutrina ainda vai mais longe. Ela defende que, também, que
23
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

o próprio juiz, de ofício, pode chamar ao processo para defender interesse de menor.
A questão da subsidiariedade dos alimentos pode ser exemplificada da seguinte
forma:
(A) Alimentando: prova necessidade
(B) Alimentantes: pai e mãe
Digamos que o pai, sozinho, consiga suprir quarenta por cento das necessidades do
alimentando e a mãe consiga suprir trinta por cento dessas necessidades.
Os dois reconhecem essa necessidade, bem como o juiz e o Ministério Público, mas
os pais, sozinhos, só conseguem suprir setenta por cento. Pergunta-se: quem são os
próximos? Os próximos são os avós.
Os avós vão complementar os trinta por cento faltantes. Serão distribuídos os trinta
por cento que estão faltando para suprir essas necessidades entre os avós.
Percebam, então, que a responsabilidade dos avós foi subsidiária, porque eles só
foram chamados ao processo porque os pais não tiveram condições de cobrir
integralmente as necessidades do filho.
Assim, a nesse caso, a obrigação dos avós é subsidiária.
Outro ponto importante é que os avós não têm que dividir com os pais essa
necessidade. Eles só vêm completar o que está faltando. Se falta trinta por cento, será
distribuído esse valor entre os quatro avós.
Pode ser que um pague dez por cento, o outro quinze por cento, outro pague cinco
por cento e o outro não pague nada. Em primeiro lugar, os avós não são titulares de poder
familiar, por isso, eles não têm obrigação legal de sustentar o neto. Eles só vão contribuir
se tiverem possibilidade. Em segundo lugar, ainda que tenham possibilidade, eles só vão
complementar, na hipótese de os pais não puderem atender integralmente a necessidade
do alimentando.
2.5 Alimentos avoengos
Enunciado 342, da IV Jornada de Direito Civil: “Observadas suas condições pessoais
e sociais, os avós somente serão obrigados a prestar alimentos aos netos em caráter
exclusivo, sucessivo, complementar e não-solidário quando os pais destes estiverem
impossibilitados de fazê-lo, caso em que as necessidades básicas dos alimentandos serão
aferidas, prioritariamente, segundo o nível econômico-financeiro de seus genitores.”
Em caráter exclusivo, em razão do seguinte. Digamos que a necessidade
reconhecida judicialmente foi de treze mil reais e, então, o avô que ficou com a obrigação
de dez por cento, irá pagar trezentos reais. Nesse caso, ele só responde pelos trezentos
reais que ele assumiu, mesmo que os outros não paguem a parte deles. Ele assumiu essa

24
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

obrigação, porque o trinômio necessidade-possibilidade-proporcionalidade estava


presente.
O elemento possibilidade fez com que ele contribuísse e o elemento possibilidade
fez com que ele contribuísse só com trezentos reais. Logo, ninguém pode lhe executar em
mais de trezentos reais mensais.
A obrigação é sucessiva, porque o avô só se tornou devedor, porque os pais do
alimentando não tiveram condições de suprir sozinhos o seu sustento. Ela é complementar,
porque o avô só vai dividir com os outros avós a parte que falta para fechar o sustento do
alimentando.
A obrigação alimentar decorre de um princípio de solidariedade afetiva. É a
solidariedade familiar que justifica a pensão alimentícia. Em outros termos, a legislação
criou os alimentos para os parentes, porque entende que eles têm que ser solidários entre
si.
Contudo, essa solidariedade não é obrigacional, da obrigação civil. O que é então
uma obrigação civil solidária no que tange aos devedores? O credor pode escolher exigir a
integralidade da prestação de qualquer um dos devedores solidários e o devedor solidário
que paga toda a prestação tem direito de regresso contra os demais.
Assim, o avô que ficou obrigado a pagar trezentos reais não tem solidariedade
quanto aos outros. O seu neto não pode cobrar-lhe os treze mil reais para depois o avô
dividir proporcionalmente entre os outros. Por ser exclusiva a obrigação, o avô só
responderá pela parte que lhe cabe.
Portanto, se são cinco devedores de alimentos para um mesmo credor e os cinco
não pagam os alimentos, o credor terá que promover cinco execuções diferentes, uma
para cada devedor, porque cada devedor só vai responder por sua própria prestação.
A obrigação de alimentos é divisível e não é solidária.
Se os avós forem ricos e os pais da classe média, a necessidade do neto não é
aferida de acordo com o padrão socioeconômico dos avós, mas sim de acordo com o
padrão socioeconômico dos seus pais.
Embora a necessidade dos filhos não tenha limite, ou seja, quanto mais ele tenha
mais ele precise, o limite dessa necessidade, na verdade, será a força econômica dos seus
pais.
2.5.1 Informativos do STJ e alimentos avoengos
236/315/421/438: a obrigação dos avós é subsidiária e complementar.
Informativo nº 0236
Período: 21 a 25 de fevereiro de 2005.

HC. AÇÃO DE ALIMENTOS. AVÓS.


25
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

A responsabilidade de os avós pagarem pensão alimentícia aos netos decorre da


incapacidade de o pai cumprir com a obrigação. Assim, improcede a ação de alimentos
ajuizada diretamente contra os avós paternos sem comprovação de que o devedor
originário esteja impossibilitado de cumprir com o seu dever. A constrição imposta aos
pacientes se mostra ilegal. A Turma concedeu a ordem. HC 38.314-MS, Rel. Min. Antônio
de Pádua Ribeiro, julgado em 22/2/2005.

Informativo nº 0315
Período: 26 a 30 de março de 2007.

ALIMENTOS. OBRIGAÇÃO COMPLEMENTAR. AVÓS.


A jurisprudência da Quarta Turma deste Superior Tribunal entende ser subsidiária à dos
pais a responsabilidade dos avós em prestar alimentos. Contudo deve ser averiguada
concomitantemente com a dos pais, ou seja, há que ser aferida se está ou não sendo
prestada pelos pais e, mesmo que esteja, se é bastante ou não para atender as
necessidades do alimentando. Se for prestada e suficiente, não há que se falar em
complementação pelos avós. Se é prestada, mas não atende satisfatoriamente as
necessidades do menor, mas já atinge o limite da suportabilidade dos pais, aí sim devem
ser chamados os avós para completar. Assim, a Turma conheceu do recurso, deu-lhe
parcial provimento para reconhecer a possibilidade jurídica do pedido de alimentação
complementar e determinou que o Tribunal a quo examine o mérito do pedido provisório
de pensionamento. Precedente citado: REsp 119.336-SP, DJ 10/3/2003. REsp 373.004-RJ,
Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, julgado em 27/3/2007.

Informativo nº 0421
Período: 1º a 5 de fevereiro de 2010.
ALIMENTOS. RESPONSABILIDADE. AVÓS.
Em matéria sobre a obrigação de os avós alimentarem os netos, a Turma reafirmou que
se trata de responsabilidade subsidiária e complementar à responsabilidade dos pais, por
isso só é exigível em caso de impossibilidade de cumprimento da prestação ou de
cumprimento insuficiente pelos genitores. Precedentes citados: AgRg no Ag 1.010.387-
SC, DJe 30/6/2009, e REsp 858.506-DF, DJe 15/12/2008. REsp 831.497-MG, Rel. Min.
João Otávio de Noronha, julgado em 4/2/2010.

Informativo Nº: 0438


Período: 7 a 11 de junho de 2010.
AÇÃO. ALIMENTOS. AVÓS.
É cediço que a jurisprudência deste Superior Tribunal firmou-se no sentido de que a
obrigação dos avós em prestar alimentos aos netos é subsidiária e complementar, visto
que primeiro os pais respondem pelo alimentando; consequentemente, só quando os
pais não podem prestá-los integralmente ou parcialmente é que a ação pode ser
ajuizada contra os avós. Na hipótese de ser intentada tal ação, é necessária a
demonstração da possibilidade de os avós arcarem com parte ou com a totalidade do
sustento do neto. No caso dos autos, a ação de alimentos foi movida contra os avós com
o objetivo de obter pensão equivalente a seis salários mínimos, porém o TJ julgou-a
26
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

improcedente, confirmando a sentença e deixando consignado, ainda, que a ação foi


intentada primeiro contra os avós, embora pudesse sê-lo contra o pai e que se deixou de
demonstrar que os avós poderiam arcar com tal pagamento. Nesse contexto, para o Min.
Relator, a decisão a quo harmoniza-se com a jurisprudência deste Superior Tribunal,
além de que, ausente a prévia vindicação dos alimentos ao pai da autora recorrente, não
poderia ter êxito a ação. Quanto à alegação de que o pai reside no exterior, explica que
essa questão não foi tratada nos autos e examiná-la, bem como os outros fatos, incidiria
a Súm. n. 7-STJ. Diante do exposto, a Turma não conheceu do recurso. REsp 576.152-ES,
Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, julgado em 8/6/2010.

464: a responsabilidade dos avós deve ser repartida entre os avós paternos e os
maternos, porque todos eles são ascendentes de segundo grau.
Informativo nº 0464
Período: 21 a 25 de fevereiro de 2011.
ALIMENTOS. RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA. AVÓS.

A Turma deu provimento ao recurso especial a fim de deferir o chamamento ao


processo dos avós maternos no feito em que os autores pleiteiam o pagamento de
pensão alimentícia. In casu, o tribunal a quo fixou a responsabilidade principal e
recíproca dos pais, mas determinou que a diferença fosse suportada pelos avós
paternos. Nesse contexto, consignou-se que o art. 1.698 do CC/2002 passou a prever
que, proposta a ação em desfavor de uma das pessoas obrigadas a prestar alimentos, as
demais poderão ser chamadas a integrar a lide. Dessa forma, a obrigação subsidiária
deve ser repartida conjuntamente entre os avós paternos e maternos, cuja
responsabilidade, nesses casos, é complementar e sucessiva. Precedentes citados: REsp
366.837-RJ, DJ 22/9/2003, e REsp 658.139-RS, DJ 13/3/2006. REsp 958.513-SP, Rel. Min.
Aldir Passarinho Junior, julgado em 22/2/2011.

483: é necessária a produção probatória acerca do trinômio por não terem os avós
poder familiar.
Informativo Nº: 0483
Período: 12 a 23 de setembro de 2011.

OBRIGAÇÃO ALIMENTAR. AVOENGA. ÔNUS DA PROVA.


In casu, a questão está em analisar a validade da decisão do tribunal a quo que indeferiu
pedido de alimentos provisórios em favor dos recorrentes os quais deveriam ser
prestados pela recorrida, avó dos alimentandos. A Min. Relatora destacou que, apenas
na impossibilidade de os demandados genitores prestarem alimentos, serão os parentes
mais remotos, estendendo-se a obrigação alimentar, na hipótese, para os ascendentes
mais próximos. O desemprego do alimentante primário – genitor – ou sua falta
confirmam o desamparo do alimentado e a necessidade de socorro ao ascendente de
grau imediato, fatos que autorizam o ajuizamento da ação de alimentos diretamente
contra este. Contudo o mero inadimplemento da obrigação alimentar por parte do
genitor, sem que se demonstre sua impossibilidade de prestar os alimentos, não faculta
ao alimentado pleitear alimentos diretamente aos avós. Na hipótese, exige-se o prévio
esgotamento dos meios processuais disponíveis para obrigar o alimentante primário a
cumprir sua obrigação, inclusive com o uso da coação extrema preconizada no art. 733

27
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

do CPC. Assim, fixado pelo tribunal de origem que a avó demonstrou, em contestação, a
impossibilidade de prestar os alimentos subsidiariamente, inviável o recurso especial, no
particular, pelo óbice da Súm. n. 7-STJ. Com essas considerações, a Turma negou
provimento ao recurso. REsp 1.211.314-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
15/9/2011.

Os avós não têm obrigação legal de sustentar os seus netos. Eles possuem o dever
de sustento
2.6 Transmissibilidade
Está destacada no art. 1700 e significa que, quando é fixada a obrigação alimentar,
isto é quando a prestação de pagar alimentos já é quantificada, significa que foram
examinadas a necessidade, a possibilidade e a proporcionalidade.
Art. 1.700. A obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor, na
forma do art. 1.694.

Se alguém recebe alimentos é porque foi atestada a necessidade desse credor, O


seu sustento e a sua sobrevivência está atrelada à percepção da pensão alimentícia.
Teoricamente, se ele deixa de receber a pensão, o seu sustento fica comprometido.
Para que o credor de alimentos possa cumprir as obrigações atreladas a sua vida,
ele precisa receber o pagamento dessa pensão.
Dessa forma, o art. 1700 do Código Civil, permeado pelo princípio da dignidade da
pessoa humana, estabelece que se o devedor, ou a pessoa que paga alimentos, morre os
seus herdeiros assumem a obrigação.
Essa obrigação é continuada, ou seja, a cada mês surgem novamente as
necessidades e a pensão deve ser paga.
O Conselho da Justiça Federal, no Enunciado 343, da IV Jornada de Direito Civil
entendeu que o pagamento de alimentos pelos herdeiros não devia ultrapassar as forças
da herança.
Digamos, então, que a herança atinja um valor de dez milhões de reais. Essa
herança consegue gerar uma renda mensal de nove mil e quinhentos reais. Assim, a
possibilidade passa a ser a força dessa herança, ou seja, quanto ela consegue gerar de
renda. Enquanto que, antes, a possibilidade era o salário do devedor de alimentos.
Consideremos que o credor de alimentos vai receber vinte por cento de nove mil e
quinhentos reais, ou seja, mil e oitocentos reais mensais.
O herdeiro não está impedido de dispor dos bens, mas não poderá deixar de pagar
a pensão.
Imaginemos que o herdeiro passa em um concurso e passa a ter uma renda líquida
de trinta mil reais. Ele não irá pagar vinte por cento do que ganha, porque esses trinta mil

28
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

são resultado do seu esforço. O herdeiro não irá pagar alimentos por ser ele o devedor,
mas porque herdou essa responsabilidade.
Então, entende-se que o pagamento da pensão alimentícia não deve sair da renda
pessoal de quem paga quando essa condição decorre de herança. Portanto, os alimentos
devem sair do patrimônio que foi recebido.
Se a herança foi dividida pela metade, se os alimentos forem estabelecidos em dois
mil reais, o herdeiro que ficou com uma das metades vai pagar mil e o outro herdeiro os
outros mil.
De acordo com o art. 1700 do Código Civil, quando os herdeiros os bens, eles
também recebem a responsabilidade de sustentar a pessoa comprovadamente necessitada
de alimentos.
Dessa forma, a transmissão traz tanto o bônus quanto o ônus. Se o herdeiro aceita
o bônus, assume o ônus também.
É importante ressaltar, entretanto, que o dever não se transmite.
Digamos que um sujeito de origem muito pobre, já casado, formou um grande
patrimônio e, com pena do irmão que é pobre, lhe oferece ajuda, embora nunca tenha sido
condenado a pagar alimentos.
Quando ele morre, a sua mulher que ficou viúva ficará com a meação de todo o
patrimônio, já que o patrimônio foi adquirido onerosamente na vigência do casamento,
sob o regime da comunhão parcial. A parte que cabia ao falecido foi herdada pelos dois
filhos.
Os dois herdeiros não terão nenhum dever de ajudar o tio, porque dever não se
transmite. Só é transmitida a obrigação e o pai não assumiu obrigação alguma de sustentar
seu irmão. Logo, quando o pai morre, não há que se falar em transmissão aos herdeiros de
obrigação, pelo simples motivo de que quando foi aberta a sucessão, o morto não estava
obrigado a pagar alimentos.
Assim, enquanto só houver dever não há que se falar em transmissão. Uma vez
aberta a sucessão transmite-se a sucessão.
2.7 Características
2.7.1 Incompensáveis
Segundo o art. 1707 do Código Civil, os alimentos são incompensáveis com outras
obrigações, tendo em vista que as obrigações civis têm a expressão econômica de
favorecer o patrimônio do credor. Logo, a obrigação civil é destinada ao acréscimo
patrimonial para o credor. Já a obrigação alimentar tem expressão econômica, mas tem
por finalidade prover o sustento de alguém, a fim de manter viva uma pessoa com
dignidade.
29
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

Art. 1.707. Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado renunciar o direito a
alimentos, sendo o respectivo crédito insuscetível de cessão, compensação ou penhora.

Não é possível compensar vida digna com patrimônio. São bens jurídicos tutelados
absolutamente distintos
2.7.2 Impenhoráveis
Pelo mesmo motivo, ela não admite penhora. Não é possível penhorar crédito de
alimentos, nem conta bancária destinada à percepção de alimentos. Se essa conta estiver
sendo usada também para outros fins, pelo menos para aquela quantia referente a
depósitos de alimentos, tem que ser liberada.
2.7.3 Irrepetíveis
Os alimentos não admitem devolução. Se o alimentante já pagou, não há como
obter a devolução do que foi pago a título de alimentos, já que esse valor foi absorvido
para manter uma pessoa viva.
Mesmo se o alimentante tiver comprovado, em uma negatória de paternidade, que
o alimentado não era seu filho, tendo constatado que pagou os alimentos indevidamente.
Ainda assim, os alimentos não serão devolvidos, porque o seu pagamento é irrepetível.
2.7.4 (Ir)renunciáveis
Nos termos do art. 1707, não se pode renunciar alimentos. Entretanto, não é esse o
entendimento do STJ, nem do Conselho da Justiça Federal.
O CJF e o STJ entendem que os alimentos entre parentes não podem ser
renunciados, porque eles decorrem de um vínculo familiar incindível. Enquanto aquelas
pessoas estiverem envolvidas em laços familiares, a causa jurídica da pensão alimentícia
não cessa. Se não cessa a causa, não cessa a consequência.
Por outro lado, quando se trata de cônjuges ou de companheiros, o vínculo familiar
entre eles cessa uma vez dissolvida a sociedade conjugal. Não mais mantendo os laços
matrimoniais, aquelas partes maiores, capazes, que se autodeterminam em seus interesses
econômicos, não têm mais motivos que as impeça de renunciar aos alimentos.
Assim, conforme o Enunciado 263, da III Jornada de Direito Civil “O art. 1707 do
Código Civil não impede seja reconhecida válida e eficaz a renúncia manifestada por
ocasião do divórcio (direto ou indireto) ou da dissolução da ‘união estável’. A
irrenunciabilidade do direito a alimentos somente é admitida enquanto subsista vínculo de
Direito de Família”.
Portanto, enquanto eles forem casados ou estiverem em união estável, os
alimentos são irrenunciáveis.
No mesmo sentido é o Informativo 260 do STJ.
Informativo nº 0260
30
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

Período: 12 a 16 de setembro de 2005.


ALIMENTOS. RENÚNCIA. EX-CÔNJUGE.
A ora recorrida interpôs ação de alimentos contra seu ex-cônjuge, o ora recorrente, mas,
anteriormente, quando da separação judicial, renunciara a eles em acordo homologado.
Assim, o art. 404 do CC/1916 (art. 1.707 do CC/2002), que lastreia a Súm. n. 379-STF não
se aplica à espécie, pois a irrenunciabilidade lá expressa está contida no capítulo que
trata dos alimentos fundados no parentesco. Ora, entre marido e mulher não há
parentesco, o direito a alimentos baseia-se na obrigação mútua de assistência prevista
no art. 231, III, do CC/1916 (art. 1.566, III, do CC/ 2002), a qual cessa com a separação ou
divórcio. Logo, a cláusula de renúncia a alimentos disposta no acordo de separação ou
divórcio é válida e eficaz, não autorizando o cônjuge que renunciou a voltar a pleitear o
encargo. A Turma conheceu e deu provimento ao recurso para julgar a recorrida
carecedora da ação e extinguiu o processo sem julgamento do mérito (art. 267, VI, do
CPC). Precedentes citados: REsp 17.719-BA, DJ 16/3/1992; REsp 8.862-DF, DJ 22/6/1992;
REsp 85.683-SP, DJ 16/9/1996; REsp 36.749-SP, DJ 18/10/1999, e REsp 226.330-GO, DJ
12/5/2003. REsp 701.902-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2005.

Uma vez que se divorciem ou dissolvam a união estável, os alimentos podem ser
renunciados.
A renúncia resulta na extinção do direito. Logo, se alguém renuncia o seu direito a
alimentos, ele não poderá reclamá-los futuramente.
Assim, se uma pessoa, num acordo de divórcio ou de dissolução de união estável,
renunciar aos alimentos, por mais que venha a precisar deles futuramente, não poderá
demandá-los, porque terá perdido seu direito.
Pode acontecer de alguém deixar de reclamar alimentos, podendo deixar de optar
por não exercer, no momento, o direito de requerer alimentos.
Quando alguém declara, no momento que não exerce o direito de reclamar
alimentos, ela está se reservando no direito de, no futuro, se precisar, reclamá-los, mas, se
renunciar, ela perde o direito.
2.8 Alimentos e sociedade conjugal
A Lei 11.441/2007 estabelece que, a partir do momento em que os cônjuges podem
se divorciar em tabelionato de notas em comum acordo, também se admite que eles
estabeleçam, na escritura pública, a sua pensão alimentícia, ou então que estabeleçam a
sua renúncia.
Assim, verifica-se um diálogo claro entre a lei 11.441/2007 e o Enunciado 263 da III
Jornada.
Imaginemos o seguinte: a dona Laura e o seu Francisco se divorciaram e, no seu
divórcio, ela declarou que não exerceria seu direito a alimentos por não ter necessidade.
Ela fez isso porque era funcionária pública, já estava aposentada e, então já tinha a sua
fonte de renda, entendendo que não havia por que estabelecer uma pensão alimentícia em
31
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

seu favor.
Com o passar dos anos, a dona Laura foi sofrendo perdas econômicas, já que a sua
aposentadoria não era reajustada e a inflação corroeu severamente seus rendimentos e,
para piorar, o Estado passa a atrasar o pagamento. Assim suas contas começaram a ficar
descontroladas. Ela precisa usar medicamentos e não consegue adquiri-los, ou seja, ela se
torna uma pessoa necessitada de alimentos quinze anos depois do divórcio.
O Informativo 309 do STJ deixa claro que o divórcio, por si só, não é uma causa de
exoneração. Logo, essa mulher, por mais que esteja divorciada, se ela comprova
necessidade de auxílio do seu ex-marido, porque ela não tem condições de, por si só, se
sustentar mais, não há motivo para que ele não seja solidário com ela.
Informativo nº 0309
Período: 18 de dezembro de 2006 a 9 de fevereiro de 2007.
HC. ALIMENTOS. DIVÓRCIO.

Como consabido, o término do vínculo conjugal proporcionado pelo divórcio, por si só,
não é causa para a exoneração do dever de prestar alimentos, quanto mais se presente
nos autos a prova de que a alimentanda, a ex-esposa, em razão de vários fatores, tais
como a idade, dificilmente poderá exercer atividade laborativa que supra suas
necessidades. Era necessária a juntada da sentença de divórcio para que se pudesse
avaliar eventual acordo judicial a respeito. Note-se que há pendência de ação revisional,
essa sim no foro adequado a tal discussão, a Vara de Família. Outrossim, não se
comprovou tratar-se de antigos débitos de alimentos, o que afasta a pretensão de
suspender os vários mandados de prisão civil expedidos nas mais de vinte execuções
movidas pela alimentanda. HC 63.746-RJ, Rel. Min. Hélio Quaglia Barbosa, julgado em
6/2/2007.

A solidariedade afetiva é mantida, mesmo que o casamento seja desfeito, na


medida em que aquelas pessoas tenham uma história em comum, já formaram uma
família, então, os laços entre elas devem ser mantidos, ainda que por razões da sua história
da identidade.
Dois pontos importantes sobre a sociedade conjugal nos alimentos merecem ser
destacados.
Em primeiro lugar, cumpre observar o art. 1708 do Código Civil, que prevê duas
hipóteses de exoneração legal da pensão alimentícia.
Art. 1.708. Com o casamento, a união estável ou o concubinato do credor, cessa o dever
de prestar alimentos.
Parágrafo único. Com relação ao credor cessa, também, o direito a alimentos, se tiver
procedimento indigno em relação ao devedor.

 Exoneração por força de lei


Em tese, a exoneração da pensão alimentícia decorre da eliminação da necessidade
ou da possibilidade. Nesse caso, quando a lei prevê os casos de exoneração significa que o
32
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

credor ainda pode ter necessidade ou o devedor ainda pode ter possibilidade, mas não são
esses elementos que eliminam a obrigação do devedor de pagar alimentos. De acordo com
o dispositivo legal, exonera o devedor da obrigação de pagar alimentos:
(A) A nova família formada pelo credor de alimentos
Então se o credor se casa novamente, estabelece união estável ou concubinato, o
devedor se vê desobrigado de pagar alimentos.
Observação: O art. 1709 dispõe que a nova família formada pelo devedor não altera
a sua pensão alimentícia. Por isso, o fato de o devedor se casar de novo ou formar uma
união estável, não diminui nem o faz se livrar da pensão alimentícia.
Art. 1.709. O novo casamento do cônjuge devedor não extingue a obrigação constante
da sentença de divórcio.

A título de exemplo, imaginemos um sujeito que paga alimentos, vive sozinho e


sustenta o seu apartamento, porque está separado. Ele, então, se casa de novo. Todas as
contas que ele pagava sozinho, agora ele está dividindo com outra pessoa. Condomínio,
aluguel, IPTU, mercado, luz, gás, enfim, todas essas contas são arcadas por duas pessoas.
Nesse cenário, a formação de outra família pelo devedor aumentou a sua possibilidade, ao
invés de diminuir. Logo, não é porque ela forma uma nova família, que perde o poder
econômico para contribuir com o sustento do necessitado.
Se a formação de outra família diminuir a possibilidade, essa diminuição terá que
ser alegada e comprovada, mas o simples fato do devedor ter formado outra família, não
significa, automaticamente, que ele poderá pagar menos.
Formar nova família exonera o ex-cônjuge, ou ex-companheiro de prestar pensão
alimentícia, porque um dos efeitos pessoais do casamento é o estabelecimento dos
deveres conjugais . A assistência material entre cônjuges está prevista no art. art. 1566 e a
assistência material entre os companheiros está no art. 1724.
Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges:
I - fidelidade recíproca;
II - vida em comum, no domicílio conjugal;
III - mútua assistência;

IV - sustento, guarda e educação dos filhos;


V - respeito e consideração mútuos.

Art. 1.724. As relações pessoais entre os companheiros obedecerão aos deveres de


lealdade, respeito e assistência, e de guarda, sustento e educação dos filhos.

Isso significa que, se uma pessoa é casada, presume-se que ela colabora com o
sustento da pessoa que com ela está casada e vice-versa. Se ela está em união estável,

33
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

existe a colaboração econômica entre essas pessoas e assim se presume, por causa do art.
1724.
A questão surge no que tange ao concubinato.
O Enunciado 265, da III Jornada de Direito Civil estabelece que, no concubinato, não
existe presunção legal de assistência material entre os concubinos.
Então quando o ex-marido ou ex-companheiro suscitam que a pessoa que recebe os
alimentos formou o concubinato, ele também terá que provar que existe assistência
material entre os concubinos.
Se fosse casamento ou união estável, não precisaria provar, porque a lei já
presume, conforme os art. 1566 e 1724, porém, se for hipótese de assistência material
entre concubinos, como não existe a presunção legal, quem alega, para se exonerar de
alimentos, tem que provar que naquele concubinato existe assistência material.
Por exemplo: João paga alimentos a Maria e ela, agora, é concubina de Antônio,
que já foi padrasto de Maria em alguma época e, como sabemos que não existe ex-
padrasto, ou se ela for viver com um homem casado, de qualquer forma ela será
concubina. Então, João quer deixar de pagar alimentos porque Maria é concubina. Ele tem
que alegar e provar que ela é concubina e que existe assistência material.
Observação: É aconselhável que as respostas sejam abordadas de acordo com os
enunciados. Ou então, ainda que seja citado o enunciado do Conselho da Justiça Federal, o
qual entende que a ligação de concubinato, tão somente, não exonera a obrigação de
pensão alimentícia, porque não possui a presunção legal de assistência material, afirme sua
discordância justificando que a lei não faz essa ressalva e, por a lei não fazer essa ressalva
no art. 1708, não há necessidade dessa prova.
De qualquer forma, é interessante que o candidato comprove que conhece o
entendimento do Conselho da Justiça Federal.
(B) Indignidade do credor
Se o credor de alimentos mantiver uma conduta indigna diante do devedor, a sua
indignidade, na forma do parágrafo único do art. 1708, pode ser uma causa de exoneração
da pensão alimentícia.
Na verdade, a indignidade é causa de exoneração de qualquer liberalidade. Se vocês
revisitarem os arts. 555 e 557 do Código Civil, verão que a ingratidão revoga a doação. O
art. 557 apresenta causas dessa ingratidão
Art. 555. A doação pode ser revogada por ingratidão do donatário, ou por inexecução do
encargo.
Art. 557. Podem ser revogadas por ingratidão as doações:

34
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

I - se o donatário atentou contra a vida do doador ou cometeu crime de homicídio doloso


contra ele;

II - se cometeu contra ele ofensa física;


III - se o injuriou gravemente ou o caluniou;
IV - se, podendo ministrá-los, recusou ao doador os alimentos de que este necessitava.

O art. 1814 estabelece a indignidade do sucessor e porque ele foi indigno ele perde
os direitos aos bens que ele sucedeu.
Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários:
I - que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa
deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente
ou descendente;
II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem
em crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro;
III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança
de dispor livremente de seus bens por ato de última vontade.

O art. 1961 prevê a deserdação, segundo o qual alguém que pratica o ato de
deserdação pode também ser excluído da sucessão.
Art. 1.961. Os herdeiros necessários podem ser privados de sua legítima, ou deserdados,
em todos os casos em que podem ser excluídos da sucessão.

Logo, vê-se que a lei prevê, em vários momentos, que o beneficiado por uma
liberalidade deve guardar uma relação respeitosa com quem lhe auxiliou, porque, caso
contrário, não há por que manter esse auxílio.
Assim, o art. 1708 vai no mesmo sentido. Ora, se uma pessoa sustenta outra, lhe é
solidária, e lhe provê meios de custear sua vida, ela tem que guardar com aquela pessoa
um tratamento respeitoso de alta consideração. Isso não quer dizer que o beneficiário vá
se sujeitar ou se humilhar à pessoa, mas também não pode ofendê-la.
A lei não diz que ofensa é essa para significar indignidade, coube ao intérprete da
norma compreender indignidade é essa. Então, é possível usar como analogia as hipóteses
de ingratidão, de indignidade e de deserdação para aplicar no art. 1708, parágrafo único,
mas não quer dizer que essas hipóteses previstas em lei esgotem o conceito de ingratidão
do credor para se exonerar da pensão alimentícia. Elas servem de rol exemplificativo.
O Enunciado 264, da III Jornada de Direito Civil estabelece que no art. 1708,
parágrafo único, na interpretação do que seja comportamento indigno do credor, o que
gera exoneração de alimentos, são aplicadas, por analogia, as hipóteses dos incisos I e II do
art. 1814 do Código Civil, que são os casos de exclusão por indignidade.
Como argumento, segue transcrição de parte do julgamento de uma apelação do
Tribunal de Santa Catarina, que deixa claro que o fato de a mulher que recebe alimentos

35
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

ter um namorado ou uma vida sexual ativa não pode servir de fundamento para que o
credor de alimentos pare de lhe prestar auxílio.
TJSC, Apelação Cível n. 2012.053940-5
(...) o direito alimentar não pode ter como fundamento uma obrigação de castidade
pós-separatória da mulher credora da pensão, e não comete ao direito de fiscalizar,
restringir e até coibir sob severa punição de extinguir o direito alimentar, que em última
análise representa o direito à vida, e um direito também à vida íntima e sexual de ex-
cônjuges ou ex-parceiros credores de alimentos.
Sobre esses pontos, é importante ainda destacar o Enunciado 345, da IV Jornada de
Direito Civil que dispõe que, ainda que o comportamento do credor seja indigno, pode ser
que, ao invés de exoneração, essa indignidade implique apenas em redução da pensão
alimentícia para o indispensável à sobrevivência do credor, ou seja, os alimentos deixam de
ser civis, para assumir o caráter natural.
Isso ocorre quando fica comprovado que a exoneração da pensão alimentícia pode
comprometer a sobrevivência do credor de alimentos. Então, o comportamento, por mais
indigno e inaceitável que seja, ele não pode significar a morte do credor.
Fazendo uma análise conjunta do art. 1708 com o art. 1704, constata-se que o
cônjuge ou o companheiro inocente, ou seja, que não deu causa ao rompimento da relação
matrimonial, tem direito aos alimentos civis, tem direito de reclamar uma pensão que lhe
mantenha no mesmo padrão socioeconômico.
Atenção! Nem sempre a separação irá reduzir a capacidade econômica de alguém.
Por exemplo, pode ser que um indivíduo esteja em família e pagando contas e, quando se
separa, vai para a casa dos pais. Então, hoje, ele não paga aluguel, nem condomínio, nem
mercado, nem qualquer outra conta. Seu salário fica livre. Nesse caso, a separação
aumentou sua possibilidade. Ou pode ser que uma pessoa se separe e vá viver com alguém
que ganhe dez vezes mais do que ela.
Em suma, o simples fato de aquele casal ter rompido não significa,
obrigatoriamente, uma diminuição do padrão socioeconômico. Essa correlação não é
obrigatória.
Pois bem, só o cônjuge inocente tem direito a alimentos. O culpado não tem direito
a nada, a não ser que (parágrafo único do art. 1704) ele prove, primeiro, a sua necessidade,
segundo, que ele não tem condições de prover a sua necessidade e, terceiro, que ele não
tem a quem pedir. Nesse caso, o culpado tem direito aos alimentos indispensáveis.

Art. 1.704. Se um dos cônjuges separados judicialmente vier a necessitar de alimentos,


será o outro obrigado a prestá-los mediante pensão a ser fixada pelo juiz, caso não tenha
sido declarado culpado na ação de separação judicial.

36
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

Parágrafo único. Se o cônjuge declarado culpado vier a necessitar de alimentos, e não


tiver parentes em condições de prestá-los, nem aptidão para o trabalho, o outro cônjuge
será obrigado a assegurá-los, fixando o juiz o valor indispensável à sobrevivência.

Parte da doutrina, como os autores Maria Berenice, Leoni, Rosenvald e Cristiano


Chaves, defende que essa questão de inocência e culpa perdeu o sentido, principalmente
depois da Emenda Constitucional 66/2010 que sepultou de uma vez por todas a discussão
de culpa, numa dissolução de sociedade conjugal.
Ainda que você siga essa trilha e adote esse entendimento, há a questão da
indignidade. Se a razão do rompimento da convivência conjugal foi o comportamento
indigno de um dos cônjuges, ora, a indignidade, também é causa de exoneração da pensão
alimentícia, então ela também pode ser motivo de improcedência de um pleito de pensão
alimentícia.
Se a pessoa que requer alimentos teve um comportamento indigno, o pedido deve
ser improcedente.
Do mesmo modo que o Enunciado 345, da IV Jornada de Direito Civil admite a
fixação de alimentos necessários, naturais, para aquele que teve comportamento indigno e
precisa de uma quantia mínima para sua sobrevivência, isso justifica, também, o parágrafo
único do art. 1704.
Exemplo: a mulher deu dezessete facadas no marido em razão de uma crise de
ciúmes, eles se separam e ela vai requerer alimentos em face dele. Ele alega, então,
comportamento indigno da mulher que tentou matá-lo, afirmando que não interessa a sua
possibilidade, mas a indignidade da mulher e, por isso, seu pedido deveria ser
improcedente.
Da mesma forma, ocorre com o caso da mulher que foi vítima de violência
doméstica. Não se trata de uma mera questão de culpa ou inocência. Não é uma mera
questão pessoal entre os dois, mas é uma questão de dignidade, pois representa uma
ofensa que transborda aquela relação conjugal. Logo, essa mulher tem o direito de não
pagar pensão alimentícia a esse marido, porque seu comportamento foi indigno.

2.9 Alimentos compensatórios


Também estão afastados do exame do binômio necessidade-possibilidade, porque
os alimentos compensatórios, que são uma construção doutrinária já absorvida pelos
tribunais, constituem-se no ressarcimento de um prejuízo, surgido exclusivamente do
desequilíbrio econômico ocasionado pela ruptura do matrimônio e carrega em seu
enunciado uma questão de equidade.
Identifica-se com a indenização devida pela perda de uma chance, experimentada
durante o matrimônio pelo cônjuge que mais perde com a separação.
Segue um exemplo de caso concreto: Uma mulher era casada com um médico e
37
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

tinha três filhos. Para que ele tivesse sucesso em sua carreira, ela precisou apoiá-lo. Para
que ele fizesse seus cursos, viajasse e, enfim, pudesse investir em sua carreira, ele ficou
muito tempo longe do ambiente familiar, enquanto que ela ficou cuidando dos filhos. Ela,
por sua vez, era formada em direito e era professora universitária e, como professora,
estruturava seus horários de modo que ela teria um salário e poderia cuidar dos filhos, ao
mesmo tempo em que daria o suporte de que o marido precisava.
Digamos que seu marido tivesse uma renda de noventa mil por mês e ela tivesse
uma renda de seis mil por mês. O padrão socioeconômico dessa família era, então,
sustentado pelo marido. Quando os filhos chegaram a uma determinada idade de maior
independência, essa mulher começou a estudar para concurso e ela acabou passando em
concursos de excelentes carreiras só que para outros estados, mas ela não poderia ser
empossada, porque ela tinha que continuar atendendo ao marido, já que ele tinha uma
carreira há mais de quinze anos e tinha ainda filhos adolescentes e, por isso, ela não podia
se mudar para outro Estado, porque era uma mulher casada e ela acabou perdendo
oportunidades para que seu marido crescesse.
Ela perdeu oportunidades, porque foi necessário para a família. Um dia esses filhos
se tornaram adultos e independentes e o casal rompe o relacionamento.
Ainda que eles acordem que ela continue morando no mesmo lugar, com o salário
que ela tinha não conseguia pagar todas as contas, porque sua renda é absorvida, quase
que integralmente, por suas necessidades.
Ora, no momento em que eles rompem, ela tem renda, tem profissão, não é uma
pessoa doente, e sim produtiva, só que ela, hoje, não tem condições de manter a vida a
qual ela sempre conheceu. Então, seria justo que, num cenário desse, em que houve uma
análise objetiva de prejuízo e claras situações de perda de oportunidades em razão de um
casamento e de uma família, que ela seja auxiliada por ele. Nem que, pelo menos, os
custos de uma residência, por exemplo, se ele paga para ela cinco por cento da sua renda,
ou seja, se ela recebe mais quatro mil e quinhentos reais, ela pode não só continuar se
sustentando, mas, de repente, investir no curso de novo.
Se ela hoje tem cinquenta anos e se sente pronta para trabalhar por mais vinte anos
pela frente, ela pode voltar a estudar para concurso, por exemplo. Ela conseguiria tentar
novos projetos, porque estaria sendo apoiada por ele.
De repente, se no futuro, ela consegue recuperar aquelas chances que ela perdeu
no passado, ele pede a exoneração da pensão.
Aqui, então, não é um fato de que a mulher não precisa. Ela tem casa para morar,
tem emprego, um diploma, mas o problema não é esse, é o severo desequilíbrio
econômico sofrido e prejuízos concretos decorrentes dessas perdas das oportunidades.

38
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

2.10 Alimentos gravídicos


A Lei 11.804/2008 surgiu para desfazer uma injustiça histórica, em que a mulher era
a única a ser responsabilizada e a ter obrigatoriamente que assumir uma gestação.
A lei dos alimentos gravídicos veio responsabilizar também o homem por uma
gestação. Então a Lei 11.804 tem seus regramentos próprios.
Os alimentos são gravídicos, porque essas necessidades decorrem, única e
exclusivamente, de uma gestação. São necessidades que se referem a exames, consultas,
medicamentos e formação de um enxoval para a criança que vai nascer e que precisa de
um mínimo para ser recebida. Logo, a mulher que está grávida, obrigatoriamente, será
amparada por aquele que deu causa à gestação junto com ela.
Uma situação diferente é a da mulher que procura uma clínica de reprodução
assistida sozinha. Nesse caso, a gestação foi promovida pela mulher e por um doador
anônimo de sêmen. Esse doador não terá responsabilidade, porque ele não será pai.
A ação de alimentos gravídicos segue as regras da Lei 11.804 ainda atrai a Lei dos
alimentos (L. 5478/68), de forma subsidiária, e o CPC para a sua instrumentalização.
A única diferença é o prazo para a contestação. Pela Lei 11.804, o prazo para
contestar é de cinco dias. Então o réu é citado e tem cinco dias para contestar. Na lei dos
alimentos, o prazo para apresentar contestação é até a audiência de instrução e
julgamento. O resto, não tem diferença.
Tanto é que o Enunciado 522, da V Jornada de Direito Civil estabelece que cabe
prisão civil do devedor nos casos de não prestação de alimentos gravídicos estabelecidos
com base na Lei n. 11.804/2008, inclusive deferidos em qualquer caso de tutela de
urgência.
Isso porque a execução dos alimentos gravídicos segue o mesmo artigo 528 do CPC.
Ou seja, para execução de alimentos, sejam gravídicos ou não, aplica-se o CPC.
Art. 528. No cumprimento de sentença que condene ao pagamento de prestação
alimentícia ou de decisão interlocutória que fixe alimentos, o juiz, a requerimento do
exequente, mandará intimar o executado pessoalmente para, em 3 (três) dias, pagar o
débito, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo.

A credora dos alimentos gravídicos é a gestante, e não o nascituro. Então, na ação


dos alimentos gravídicos terá legitimidade ativa aa gestante e será proposta em face
daquele que tiver indícios de paternidade, conforme o art. 6º.
o
Art. 6 Convencido da existência de indícios da paternidade, o juiz fixará alimentos
gravídicos que perdurarão até o nascimento da criança, sopesando as necessidades da
parte autora e as possibilidades da parte ré.
Parágrafo único. Após o nascimento com vida, os alimentos gravídicos ficam convertidos
em pensão alimentícia em favor do menor até que uma das partes solicite a sua revisão.

39
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

Logo, não é necessário provar a paternidade, bastam indícios.


Antigamente, enquanto não havia prova, a criança ficava sem nada. Ela só tinha
direito aos alimentos depois que ficasse provado o vínculo que desse causa à pensão
alimentícia.
Hoje, na falta de prova, o homem tem que pagar se houver indícios. Indício significa
dúvida.
Se o alimentante não produz prova alguma quanto à paternidade, o réu não vai
pagar. Se a autora tem todas as provas quanto à paternidade, o réu terá que pagar os
alimentos. Se a autora produzir provas, mas o juiz ficar na dúvida, ou seja, existem
elementos que não são de certeza, mas que são de grande probabilidade que ele seja o pai,
nessa probabilidade ele paga, porque mesmo que mais tarde se confirme que o réu não era
o pai, pelo menos a criança não sofreu pela ausência.
Só haverá, então, a obrigação de pagar alimentos gravídicos se o juiz identificar a
existência desses indícios.
Os indícios podem ser de maternidade também. Pode ocorrer ser que ocorra uma
relação entre duas mulheres, uma está grávida e a outra participou da reprodução assistida
junto com essa autora. Então, essa gestação é o resultado de um planejamento comum de
ambas serem mães.
Se uma é a gestante e a outra lhe abandona, a que foi abandonada, na qualidade de
gestante, pode exigir daquela que rompeu a colaboração das necessidades relativas à
gestação e ao nascituro. Assim, relações homoafetivas também admitem alimentos
gravídicos.
Se não houver indício algum, nada impede que seja cumulado pedido de
investigação com alimentos. Isso porque a Lei 8.560/1992 prevê a ação de investigação de
paternidade. Assim, se não houver indício algum, se pode promover a ação de investigação
de paternidade e essa lei permite que a ação de investigação cumule alimentos.
A obrigação de pagar alimentos não cessa com o fim da gestação. Os alimentos
gravídicos devem ser revertidos em favor da criança agora nascida.

2.11 Estatuto do idoso


O Estatuto do idoso (Lei 10.741/2003) trata da questão dos alimentos nos arts. 11 a
14.
Art. 11. Os alimentos serão prestados ao idoso na forma da lei civil.
Art. 12. A obrigação alimentar é solidária, podendo o idoso optar entre os prestadores.

Art. 13. As transações relativas a alimentos poderão ser celebradas perante o Promotor
de Justiça ou Defensor Público, que as referendará, e passarão a ter efeito de título

40
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

executivo extrajudicial nos termos da lei processual civil. (Redação dada pela Lei nº
11.737, de 2008)

Art. 14. Se o idoso ou seus familiares não possuírem condições econômicas de prover o
seu sustento, impõe-se ao Poder Público esse provimento, no âmbito da assistência
social.

Preste atenção, o Estatuto do idoso não se refere à obrigação alimentar decorrente


de relações familiares. A obrigação de sustentar e amparar o idoso não é uma questão
privada, familiar, mas se trata de uma questão social
É um dever da sociedade amparar o idoso.
Em primeiro lugar, aquela ordem contida no art. 1697 do Código Civil não se
estabelece aqui. Então, por exemplo, o idoso não fica limitado até os seus irmãos. Ele pode
exigir alimentos dos seus parentes, sejam eles quem for.
O idoso pode reclamar alimentos diretamente daquela pessoa que ele identifica
como apta e capaz de lhe socorrer o sustento e de lhe auxiliar na sua sobrevivência.
O direito de opção do familiar a lhe prestar alimentos atende aos interesses sociais
de amparo à velhice.
O idoso é vulnerável. Tanto é assim que se os parentes do idoso não tiverem
possibilidade de lhe prestar alimentos, o art. 14 da Lei 10.741 estabelece que o Estado,
através da sua assistência social irá pagar alimentos ao idoso, mas essa obrigação é
subsidiária.
Em primeiro lugar, são os parentes que têm que socorrer o idoso. Somente se
ninguém, vinculado ao idoso por parentesco tiver condições de lhe socorrer e lhe prover o
sustento, então, subsidiariamente, o Estado pode ser acionado e deverá socorrer esse
idoso por meio da sua assistência social.
A instrumentalização do pedido de alimentos se dá, de acordo com o art. 11, pela
ação de alimentos da Lei 5478/68 e pela execução de alimentos prevista no CPC.
Ocorre que o Estatuto do idoso criou uma figura que, até então, o CPC não
conhecia. O art. 13 prevê um acordo de alimentos celebrado entre o idoso e seus parentes.
Se esse acordo for assinado por Defensor Público ou por Promotor de Justiça, esse
documento, promovido fora do Poder Judiciário, será um título executivo extrajudicial, não
precisando de homologação para tanto.
Logo, numa execução de alimentos calcada nesse título, o executado não será
intimado, porque não se trata de cumprimento de sentença ou de decisão interlocutória.
Ele será citado.
De qualquer maneira, como se aplica o CPC para execução de alimentos, o
executado será citado nos alimentos recentes e será citado nos alimentos antigos.

41
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

2.12 Revisão de alimentos


A priori, cumpre ressaltar que o reajuste dos alimentos, previsto no art. 1710, do
CC, não tem nada a ver com revisão. Reajuste é uma mera discussão sobre o índice de
correção monetária indexado sobre a pensão alimentícia. O devedor de alimentos quer
alterar essa indexação ou o credor de alimentos quer uma indexação.
Art. 1.710. As prestações alimentícias, de qualquer natureza, serão atualizadas segundo
índice oficial regularmente estabelecido.

Por exemplo, um erro crasso para fixação de alimentos em sentença ou mesmo em


acordo é não indexar a pensão ao índice oficial de correção monetária.
Por exemplo, alguém está pagando dois mil reais de alimentos há dez anos. Dez
anos atrás, dois mil reais tinha uma força econômica muito maior do que se tem hoje,
porque a inflação corroeu a força econômica desses dois mil reais. Se esse valor tivesse
indexado a um índice oficial de correção monetária, ele seria corrigido e reajustado. Isso
não significa que a pensão seria aumentada. Ela não sofreria aumento ou diminuição, mas
apenas reajuste.
Se a inflação foi de dez por cento e a pensão teve um reajuste de nove por cento,
houve uma perda de poder econômico. Já se o reajuste foi de dez por cento e a inflação
também foi de dez por cento, não houve perda nem ganho, mas apenas ajuste da renda à
corrosão econômica gerada pela inflação.
Imagine o seguinte: em 2005 o devedor ficou obrigado a pagar dez salários
mínimos. Em 2016, ele está pagando oito mil e oitocentos reais. Ele sustenta que o salario
mínimo sofre um reajuste num índice muito maior do que os rendimentos que ele
consegue prover. Ele alega, inclusive, que sua renda entrou em crise, por causa dos
problemas econômicos do país. Então ele quer continuar pagando os oito mil e oitocentos
reais. Então, ele quer continuar pagando esse valor, mas quer trocar o índice de reajuste,
substituindo o salário mínimo, por exemplo, pelo índice de preços ao consumidor médio
(IPCM).
A discussão sobre o reajuste, deve se dar dentro do mesmo processo que foi
sentenciado a pensão alimentícia. Ou seja, por petição, dentro dos autos da ação de
alimentos.
Já a revisão de alimentos exige contraditório e ampla defesa, porque alguém está
alegando aumento da necessidade ou da possibilidade. Logo, se ficar comprovado o
aumento da necessidade ou da possibilidade, defere-se a majoração dos alimentos.
Se ficar comprovada a diminuição da necessidade ou da possibilidade, defere-se a
redução. Se ficar comprovada a extinção da possibilidade ou da necessidade, será deferida
a exoneração.
Para que alguém consiga exonerar-se da pensão alimentícia que não sejam por
42
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

aquelas hipóteses legais, somente comprovando a eliminação total da necessidade ou da


possibilidade, a não ser que tenham sido fixados alimentos transitórios.
Os alimentos transitórios são estipulados temporariamente. O juiz estabelece que o
autor da ação de alimentos receberá pensão por dois anos a contar da data da prolação da
sentença. Nesse caso, não será necessário o pedido de exoneração de alimentos. Basta
aguardar o lapso temporal, ou o termo resolutivo, porque o advento do tempo exonera,
automaticamente, o devedor de pagar essa obrigação.
Os alimentos transitórios diminuem a sobrecarga do Poder Judiciário, porque eles
dispensam uma ação de revisão para se pedir exoneração, na medida em que já existe um
termo resolutivo previsto na própria sentença.
Por outro lado, se o credor de alimentos alega aumento de necessidade ou de
possibilidade ele tem que provar. E se ele alega ou prova alguma coisa que prejudica
alguém, a pessoa que será prejudicada tem o direito de se defender.
A revisão para aumentar, diminuir ou para eliminar, significa que, de um lado,
haverá quem alega e prova e do outro quem contradiz e faz prova em contrário.
Em outros termos, não existe revisão de alimentos sem que haja um processo,
Dentro do devido processo legal é que são exercidos o contraditório e a ampla defesa.
Logo, em sentença é que se acolhe ou não se acolhe a majoração, a redução ou a
exoneração dos alimentos.
Não existe identidade objetiva entre a ação de revisão e a ação de alimentos,
porque se o autor da ação da revisão de alimentos provar as mesmas coisas que ficaram
provadas na ação de alimentos, a revisão vai ser julgada improcedente.
A título de exemplo, digamos que o autor a ação de alimentos seja o autor da ação
revisional. O autor da ação de alimentos provou uma necessidade e uma possibilidade. Se
ele agora, na revisão, está pedindo aumento, mas prova a mesma necessidade e a mesma
possibilidade que ele alegou e provou na ação de alimentos, não vai haver revisão, o
pedido é improcedente e mantém-se o mesmo valor quantificado na sentença de
alimentos.
O que, então, serve de causa de pedir na ação revisional é a alteração (art. 1699, do
Código Civil), a mudança dos elementos do trinômio, necessidade-possibilidade-
proporcionalidade.
Art. 1.699. Se, fixados os alimentos, sobrevier mudança na situação financeira de quem
os supre, ou na de quem os recebe, poderá o interessado reclamar ao juiz, conforme as
circunstâncias, exoneração, redução ou majoração do encargo.

Dessa forma, a causa de pedir e o pedido da ação de alimentos deverão ser


diferentes da causa de pedir e do pedido da ação revisional. Então, se só as partes
coincidem nessas ações, não existe identidade nos elementos objetivos da demanda. Por
43
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

isso, a ação revisional é livremente distribuída. Ela não é apensada à ação de alimentos.
Na ação revisional não mais deve ser utilizada a expressão rito sumário, e sim
procedimento comum, porque desde março de 2016 está em vigor o CPC de 2015, então
não há mais a dicotomia entre rito ordinário e rito sumário, só existe agora o procedimento
comum e, por isso, a ação de revisão de alimentos é submetida ao procedimento comum.
No procedimento comum, é possível uma tutela de urgência.
Os alimentos provisórios da ação de alimentos têm natureza de tutela da evidência.
No caso da revisão, por outro lado, como se trata de uma questão revisional, nada é
evidente quanto à concessão ou não de uma liminar. Assim, se não existe essa evidência, a
urgência da concessão dessa liminar tem que ser comprovada.
Na ação de revisão de alimentos existe uma petição inicial, há a distribuição do
pedido e existe uma citação. A decisão de majorar ou de reduzir retroagirá à data da
citação da ação revisional, conforme disposto nos Informativos 207 e 360 do STJ.
Informativo nº 0207
Período: 3 a 7 de maio de 2004
ALIMENTOS. MAJORAÇÃO. CITAÇÃO.
Em caso de majoração dos alimentos determinada na ação revisional, o novo valor
fixado deve retroagir à data da citação. Precedentes citados: REsp 51.781-SP, DJ
24/10/1994; REsp 9.661-CE, DJ 19/8/1991, e REsp 40.436-RJ, DJ 1º/8/1994. REsp
593.367-SP, Rel. Min. Castro Filho, julgado em 4/5/2004.

Informativo nº 0360
Período: 16 a 20 junho de 2008.
ALIMENTOS. NOVO VALOR. RETROAÇÃO. CITAÇÃO.
A Turma reiterou que, na ação de alimentos, alterado o encargo, seu novo valor
retroagirá à data da citação, ressalvadas as parcelas quitadas, que são irrepetíveis.
Precedentes citados: REsp 209.098-RJ, DJ 21/2/2005; REsp 778.307-SP, DJ 1º/12/2005;
REsp 40.436-RJ, DJ 1º/8/1994, e REsp 660.479-MS, DJ 8/4/2005. AgRg no Ag 982.233-PR,
Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, julgado em 17/6/2008.

O STJ vinha mantendo o entendimento de que, quando se tratasse de exoneração,


os seus efeitos somente seriam surtidos a partir do trânsito em julgado da decisão da
exoneração (Informativo 351). Todavia, já há entendimentos recentes do STJ também
admitindo a retroatividade da decisão de exoneração à data da citação.
Informativo nº 0351
Período: 7 a 11 de abril de 2008.
PENSÃO ALIMENTÍCIA. INCIDÊNCIA. TRÂNSITO EM JULGADO.

44
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

Este Superior Tribunal já se manifestou no sentido de que os efeitos da exoneração da


pensão alimentícia não retroagem à data da citação, mas apenas têm incidência a partir
do trânsito em julgado da decisão. No caso, não há notícia de qualquer provimento
liminar ou de antecipação de tutela nos autos da ação de exoneração que liberasse o
recorrido do dever de prestar alimentos. Precedentes citados: REsp 7.696-SP, DJ
11/12/1985; REsp 172.526-RS, DJ 15/3/1999, e REsp 513.645-SP, DJ 20/10/2003. REsp
886.537-MG, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 8/4/2008.

Historicamente, não havia essa retroatividade para a exoneração, porque o nosso


ordenamento jurídico é constituído sobre o princípio da vulnerabilidade do alimentando.
Então, retirar uma pensão alimentícia, é uma medida grave, já que retira de alguém o seu
sustento. Por isso, para proteger esse alimentando, a exoneração teria efeito ex nunc e a
partir do trânsito em julgado.
O STJ, por outro lado, em pronunciamentos recentes, parece que já está pensando
de maneira diferente, porque se há uma decisão dizendo que aquela pessoa não deve
mais, alguém está recebendo alimentos indevidamente. Assim, uma pessoa que não
precisa, não tem necessidade e provê seu próprio sustento, recebe injustamente o
pagamento de uma pensão sobre onerando alguém injustamente e, por isso, deve haver o
efeito retroativo, mas vamos ficar atentos como o STJ vai se manter em relação a isso.
O caráter retroativo do STJ quanto à revisão tem sua fonte na própria lei dos
alimentos. A lei nº 5478/68, em seu art. 4º estabelece que o juiz, ao determinar a citação
do réu, já deve fixar os alimentos provisórios. Em seu art. 13, § 2º, está previsto que a
sentença retroage à citação.
Art. 4º As despachar o pedido, o juiz fixará desde logo alimentos provisórios a serem
pagos pelo devedor, salvo se o credor expressamente declarar que deles não necessita.

Parágrafo único. Se se tratar de alimentos provisórios pedidos pelo cônjuge, casado pelo
regime da comunhão universal de bens, o juiz determinará igualmente que seja entregue
ao credor, mensalmente, parte da renda líquida dos bens comuns, administrados pelo
devedor.
Art. 13 O disposto nesta lei aplica-se igualmente, no que couber, às ações ordinárias de
desquite, nulidade e anulação de casamento, à revisão de sentenças proferidas em
pedidos de alimentos e respectivas execuções.
§ 1º. Os alimentos provisórios fixados na inicial poderão ser revistos a qualquer tempo,
se houver modificação na situação financeira das partes, mas o pedido será sempre
processado em apartado.
§ 2º. Em qualquer caso, os alimentos fixados retroagem à data da citação.
§ 3º. Os alimentos provisórios serão devidos até a decisão final, inclusive o julgamento
do recurso extraordinário.

Quando a sentença fixa a pensão alimentícia num patamar maior do que o dos
alimentos provisórios, o devedor terá que pagar a diferença, retroativamente, entre o que
45
Direito Civil V - Família e Sucessões
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

a sentença fixou a maior em relação aos provisórios.


Dessa forma, suponhamos que os alimentos provisórios foram fixados em dois mil e
quinhentos e a sentença em três mil, o devedor terá que pagar quinhentos reais
retroativos, mês a mês, até a data da citação.
Se a sentença fixou menor do que os provisórios, o que já foi pago a título de
provisórios não são devolvidos, porque os alimentos são irrepetíveis.
Sendo assim, como já existe essa previsão na ação de alimentos do efeito retroativo
dos alimentos, fixados em sentença, à data da citação, o STJ acabou consolidando esse
mesmo entendimento para a ação revisional de alimentos. O que se fixar em sentença
retroage à data da citação da ação revisional de alimentos.

46

Você também pode gostar