As histéricas do final do século XIX tiveram importante papel no surgimento da psicanálise,
foi a escuta destas mulheres que levou Freud a identificar na sexualidade a causa dos sintomas neuróticos. No entanto, quando Freud escreve sobre o desenvolvimento sexual e o complexo de Édipo o modelo é o homem e não a mulher. Diante deste paradoxo, buscamos neste estudo investigar como o feminino e a sexualidade feminina são abordadas ao longo da obra de Freud. Para tanto, realizamos uma busca com palavra-chave feminino em um site que disponibiliza as obras completas de Freud. Foram selecionados para leitura 14 textos que foram agrupados em ordem cronológica. No início de sua obra Freud retrata as mulheres a partir das histéricas. Nos textos sobre a sexualidade e o complexo de Édipo: “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” (1905), “A organização genital infantil – uma interpretação na teoria da Sexualidade” (1923), “A dissolução do Complexo de Édipo” (1924), “Algumas consequências psíquicas das diferenças anatômicas entre os sexos” (1925), Freud explica o desenvolvimento sexual e psíquico das mulheres a partir do desenvolvimento dos indivíduos do sexo masculino, tendo sempre o menino como base para qualquer explicação sobre o feminino. Somente em textos da década de 1930, Freud escreve textos que possuem no título o tema feminino, são eles “Sexualidade Feminina” (1931) e “Feminilidade” (1932). A pesquisa mostrou que Freud não faz afirmações definitivas sobre o feminino, sua obra apresenta contradições ou então fornece novos significados à afirmações feitas anteriormente, como por exemplo, dizer no início de sua obra que o feminino está relacionado a passividade e posteriormente no texto “Feminilidade” (1932), dizer que nem sempre o feminino é reduzido a passividade, pois pode-se considerar como característica da feminilidade dar preferência a fins passivos, no entanto isso não seria o mesmo que passividade. Nos textos “Sexualidade Feminina” e “Feminilidade”, Freud realizou importantes considerações, tal como, dizer que o que constitui a masculinidade ou a feminilidade é uma característica desconhecida que foge ao alcance da anatomia. Conclui-se que muitas vezes ao realizar afirmações sobre o feminino, Freud deixou não considerou ou deixou em segundo plano a influência que o social exerce no desenvolvimento sexual e psíquico da mulher, o que é de extrema importância para se compreender o feminino.