Você está na página 1de 18

TAXA DE ILUMINAÇÃO PÚBLICA

Autores: Aline Gonçalves Garcia Oliveira


Diogo Faria Signoretti
Flávio Rosendo dos Santos
Juliana Fabrinni
Leandro Waldir de Paula
Maira Lise Brito Lemos

1 Introdução; 2 O tributo e suas espécies; 2.1 Conceito ou definição;


2.2 Norma jurídico-tributária; 2.3 Natureza jurídica; 2.4 Espécies de
tributo(Imposto, Taxa, Contribuição de Melhoria, Empréstimo
Compulsório e Contribuições Sociais); 2.5 Classificações; 2.6
Contribuições Sociais; 3 O sistema de custeio da Iluminação Pública
anterior à EC n. 39/02; 4 A Emenda Constitucional nº 39 de 2002; 5
Conclusão; 6 Bibliografia.

1 Introdução

Por muitos anos os municípios brasileiros cobraram uma taxa para custear o

serviço de iluminação pública prestado à população, porém faltavam alguns

requisitos constitucionais para a instituição e a cobrança desta espécie tributária e,

portanto, deixou-se de exigir tal taxa.

Como conseqüência desta eliminação de cobrança, ocorreu uma perda de

arrecadação e um subseqüente endividamento dos municípios em relação às

concessionárias de energia elétrica, que continuavam com a cobrança da mesma.

Para socorrer a esta lacuna, a E.C. nº 39 imprimiu o art. 149-A da CF:

Art. 149 A – “Os municípios e o Distrito Federal poderão instituir


contribuição, na forma das respectivas leis, para custeio do serviço de
Iluminação Pública, observado o disposto no art. 150, I e III.
Parágrafo único. É facultada a cobrança da contribuição a que se refere o
caput, na fatura de energia elétrica.”

O presente trabalho se propõe a analisar esta nova espécie tributária.


2 O tributo e suas espécies

2.1 Conceito ou definição

A idéia de tributo, em torno da qual se desenvolve o Direito Tributário, possui,

enquanto instituto jurídico, definição legal.

Diz o art. 3º do Código Tributário Nacional: “Tributo é toda prestação

pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não

constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade

administrativa plenamente vinculada”.

Nestes termos, podemos decompor a definição em seis traços ou

características inafastáveis:

a) Prestação pecuniária: O tributo é pago em unidades de moeda. Não há

tributo in natura (pago em espécie ou em bens) ou in labore (pago em trabalho ou

prestação de serviços);

b) Compulsória: É obrigatória. Independe da vontade do contribuinte;

c) Em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir: Pode ser expresso em

moeda (Exemplo: reais) ou através de indexadores (Exemplos: ORTN, OTN, BTN,

UFIR);

d) Que não constitua sanção de ato ilícito: As penalidades pecuniárias ou

multas não se incluem no conceito de tributo. Significa dizer que o pagamento do

tributo não decorre da infração de determinada lei. Pelo contrário, se algo é pago por

descumprimento da lei não se trata de tributo. Exemplo desta afirmação é o

pagamento de multa pela não utilização de cinto de segurança;


Entretanto, o fato gerador de um tributo pode ocorrer em circunstâncias

ilícitas, embora ele em si não seja um ilícito. Exemplos: quando uma pessoa aufere

rendimentos da exploração da prostituição ou do tráfico de entorpecentes o tributo é

devido. Não será realizada uma pesquisa da forma, ou do caminho utilizado, para

percepção dos rendimentos, apenas que existe a disponibilidade econômica, ou

seja, o fato gerador do imposto.

e) Instituída em lei: Só existe a obrigação de pagar o tributo se uma norma

jurídica com força de lei estabelecer esta obrigação. São exemplos de normas

jurídicas com força de lei: lei complementar, lei ordinária e medida provisória. Assim,

um decreto (expedido pelo Presidente da República) ou uma portaria (expedida pelo

Ministro da Fazenda ou pelo Secretário da Receita Federal) não podem criar ou

instituir tributo e

f) Cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada: Neste

tipo de atividade, a autoridade não goza de liberdade para apreciar a conveniência

ou oportunidade de agir. A lei já estabelece minudentemente os caminhos a serem

seguidos. Portanto, a autoridade fiscal age segundo previsão legal expressa.

2.2 Norma jurídico-tributária

A exigência de instituição (ou criação) do tributo por lei, como destaca a

definição presente no art. 3º do CTN, implica em que os elementos componentes do

instituto devem estar presentes na norma em questão. Tradicionalmente, são

identificados como elementos indispensáveis a criação do tributo: o fato gerador, a

base de cálculo, a alíquota e o sujeito passivo (contribuinte latu sensu). Neste

sentido, inclusive, o art. 97, incisos III e IV do CTN. Por fato gerador (abstrato) ou

hipótese de incidência entende-se a situação necessária e suficiente à ocorrência da


obrigação. A base de cálculo consiste na grandeza contida no critério quantitativo

utilizada para mensurar ou medir o fato gerador. Já alíquota é uma porcentagem ou

fator a ser aplicado sobre a base de cálculo para determinar precisamente o valor da

prestação tributária. Sujeito passivo (ou contribuinte latu sensu) é a pessoa obrigada

ao pagamento do tributo. Se existe o obrigado ao pagamento como sujeito passivo,

existe, também, aquele beneficiário do adimplemento chamado de sujeito ativo.

Os elementos componentes do tributo quando organizados abstrata e

logicamente dão lugar a norma jurídico-tributária ou regra-matriz de incidência. A

norma tributária, assim como as normas jurídicas, de uma forma geral, apresenta

uma hipótese (previsão de um fato) e uma conseqüência (previsão de relação

jurídica, a obrigação tributária) que vai se instalar, onde e quando acontecer o

evento cogitado na hipótese.

Exemplo (IPTU): Se alguém for (verbo) proprietário de bem imóvel

(complemento) no perímetro urbano (critério espacial) no 1º dia do ano (critério

temporal) então o proprietário (sujeito passivo) deve pagar ao Município (sujeito

ativo) uma determinada quantia composta pela multiplicação do valor venal do

imóvel (base de cálculo) por 1% (alíquota).

2.3 Natureza jurídica

A natureza jurídica ou característica fundamental do tributo, numa de suas

acepções mais comuns, é ser o objeto da relação jurídica obrigacional de dar

decorrente de lei (ou ex lege). Ao contrário das obrigações privadas (civis e

comerciais), onde predomina a manifestação de vontade e o acordo entre as partes,

a obrigação tributária, a partir do próprio conceito de tributo, nasce ou surge de uma

situação estabelecida em lei onde a vontade é irrelevante.


2.4 Espécies de tributo (Imposto, Taxa, Contribuição de Melhoria, Empréstimo

Compulsório e Contribuições Sociais)

O art. 5º do Código Tributário Nacional e o art. 145 da Constituição Federal

elencam 3 (três) espécies de tributos. No entanto, a própria Constituição disciplina,

no Título XI – “Da Tributação”, outras duas modalidades, tipos ou espécies

tributárias. Assim, vem se generalizando o entendimento, já consagrado pelo

Supremo Tribunal Federal, de que existem 5 (cinco) modalidades ou espécies de

tributos, a saber: impostos, taxas, contribuições de melhoria, empréstimos

compulsórios e contribuições sociais (especiais ou parafiscais).

O Código Tributário Nacional, assim como fez com a idéia de tributo,

consagra definições legais para as primeiras três espécies do gênero tributo. Nestes

termos, encontram-se nos artigos 16, 77 e 81 da Lei de normas gerais do sistema

tributário brasileiro as seguintes definições, respectivamente:

Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação

independente de qualquer atividade estatal específica.

As taxas cobradas pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos

Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, têm como fato gerador o

exercício regular do poder de polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço

público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição.

A contribuição de melhoria cobrada pela União, pelos Estados, pelo Distrito

Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, é instituída

para fazer face ao custo de obras públicas de que decorra valorização imobiliária,
tendo como limite total a despesa realizada e como limite individual o acréscimo de

valor que da obra resultar para cada imóvel beneficiado.

Vale registrar não ter o legislador constituinte, ou mesmo o da Lei de normas

gerais do Sistema Tributário Nacional, fixado de forma expressa definições ou

conceitos para as duas últimas espécies de tributos (empréstimos compulsórios e

contribuições sociais).

Quanto a estes últimos, podemos distingui-los a partir dos seguintes traços

caracterizadores: o empréstimo compulsório é tributo restituível e a contribuição

social apresenta destinação constitucional específica (para a seguridade social -

INSS, SESI ...), para intervenção no domínio econômico (IAA,IBC...) e de interesse

das categorias profissionais (OAB, CFM,CFA...).

2.5 Classificações

Existem inúmeras classificações para os tributos segundo os mais variados

critérios. Destacamos, a seguir, aquelas mais relevantes.

a) Vinculados - a cobrança do tributo depende de uma atuação ou atividade

do Estado em relação ao contribuinte. São as taxas e as contribuições de melhoria.

Não-vinculados - a cobrança do tributo independe de uma atuação estatal em

relação ao contribuinte. São os impostos.

A teoria dos tributos (ou fatos geradores) vinculados e não-vinculados

constitui a viga-mestra da construção do Sistema Tributário Nacional. Por meio dela

temos a competência tributária privativa no campo dos impostos (cada ente da

Federação possui um rol de impostos que pode instituir) e a competência tributária

comum no campo das taxas e contribuições de melhoria (desde que realize o


serviço, obra ou exercite o poder de polícia qualquer dos entes estatais pode criar e

cobrar taxas ou contribuições de melhoria).

b) Diretos - são aqueles em que o contribuinte não tem possibilidade de

transferir o ônus econômico da carga fiscal. Exemplo: imposto de renda pessoa

física. Indiretos - são aqueles em que o contribuinte de direito transfere para outros

(contribuintes de fato) o ônus econômico da carga tributária. Exemplos: imposto

sobre produtos industrializados e imposto sobre circulação de mercadorias e

serviços.

c) Fiscais - são aqueles cujo principal objetivo é a arrecadação e recursos.

Exemplo: imposto de renda. Extrafiscais - são aqueles cujo principal objetivo é a

interferência no domínio econômico. Exemplo: imposto de importação. Parafiscais -

são aqueles cujo objetivo é a arrecadação de recursos para custeio de atividades

específicas realizadas paralelamente às funções próprias do Estado, como a

fiscalização do exercício de profissões, a Seguridade Social, etc. Exemplo:

contribuições para a Seguridade Social.

2.6 Contribuições sociais

Cada uma das espécies tributárias acima mencionadas possuem

características próprias que as diferenciam.

É certo que as contribuições ainda não foram perfeitamente delineadas no

ordenamento jurídico pátrio, relevando que doutrinadores nacionais ainda tentam

construir a sua identidade, identificando a sua natureza jurídica.

A regra matriz de qualquer contribuição é o art. 149 da Constituição Federal e

podem ser instituídas como instrumento de atuação da União no interesse das


categorias profissionais ou econômicas, de intervenção no domínio econômico, na

área social e para o financiamento da seguridade social.

Sendo que as contribuições sociais incluídas nesse dispositivo magno têm

exatamente a ampla acepção de serem destinadas ao custeio das metas fixadas na

Ordem Social, Título VIII e dos direitos sociais.

O aspecto material (que faz surgir a obrigação tributária) das contribuições é

duplo, necessitando de uma ação do estado e um fato da esfera do contribuinte.

Logo a hipótese de incidência de uma contribuição está condicionado a uma

determinada atividade estatal intimamente ligada com determinado fato do

contribuinte, pelo que inexistindo tal requisito, restará impossível a criação de uma

contribuição.

Insta ressaltar que, tal qual ocorre com a contribuição de melhoria, é preciso

ter em mente que o valor arrecadado com uma contribuição não pode ser superior à

ao financiamento à que se destina, pois no caso estaríamos desvirtuando a figura

da contribuição e transformando-a num autêntico imposto.

Feita essa breve explanação sobre as contribuições é possível tecer algumas

considerações com relação às disposições constantes do artigo 149-A da

Constituição Federal, com a redação que lhe foi dada pela Emenda Constitucional

n.º 39 de 19 de dezembro de 2002.

3 O sistema de custeio da Iluminação Pública anterior à EC n. 39/02

Fruto de Emenda Constitucional nº 39, de 19.12.2002, o art. 149-A, da

Constituição Federal, instituiu a Contribuição para Custeio do Serviço de Iluminação


Pública – CIP, espécie de tributo que incidirá sobre a prestação do serviço de

iluminação pública, efetuada pelo Município, no âmbito do seu território. Esta

Emenda entrou em vigor na data de sua publicação, em 20.12.02 e, rapidamente,

muitos Municípios, no Brasil, estavam instituindo a CIP (Contribuição para Custeio

de Serviço de Iluminação pública), através de Lei Complementar Municipal, que

deveria ser publicada ainda no exercício de 2002, para que respeitasse o disposto

no art. 150, incisos I e III, que tratam, respectivamente, dos princípios constitucionais

da Legalidade Tributária (art. 150, I), que exige lei, no caso lei complementar (art.

146, III, a, da CF) para estabelecer normas gerais em matéria de legislação

tributária; da Irretroatividade (art. 150, III, a) onde é vedado cobrar tributo em relação

a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que o instituiu, e da

Anterioridade (art. 150, III, b), já que é vedado cobrar tributo no mesmo exercício

financeiro em que haja sido publicada a lei que o aumentou.

A EC n. 39 originou-se da pressão que os Deputados Federais e Senadores

sofriam, em seus respectivos Estados, dos prefeitos, os quais instituíam a taxa de

iluminação pública, mas o Poder Judiciário sempre declarava inconstitucional e,

então, tinham que embutir essa taxa na alíquota de outros tributos.

A Constituição Federal, até o advento da EC n. 39/02, ao tratar do Sistema

Tributário Nacional, permitia que a União, os Estados, o Distrito Federal e os

Municípios pudessem instituir (art. 145):

I – impostos;

II – taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva

ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte

ou postos a sua disposição;

III – contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas.


Os Municípios, então, como não poderiam inventar tributos, tendo em vista as

limitações constitucionais ao poder de tributar (art. 150 a 152 CF), ou usavam do

artifício de aumentar as alíquotas de outros tributos para cobrir as despesas, ou

instituíam a taxa de iluminação pública (TIP) e, exatamente neste caso, surgia a

inconstitucionalidade, porque a lei que instituía a taxa de iluminação pública fere o

disposto no art. 145, II, CF, e nos artigos 77 e 79 do CTN, cujo art. 77, em seu

parágrafo único, define o fato gerador da taxa bem como sua base de cálculo, sendo

que esta não poderá ser idêntica a dos impostos (§ 2º do art. 145, CF). O mesmo

CTN, em seu artigo 79, define o que vem ser aqueles serviços públicos específicos e

divisíveis, mencionados em seu art. 77, bem como no art. 145, da CF.

Assim, para que esse tributo se encaixasse na tipificação jurídica de taxa

haveria de respeitar o requisito da especificidade, já que a iluminação pública atende

a toda coletividade e não apenas a um grupo de pessoas, e não se pode optar entre

querer usar o serviço ou não, pois se trata de um serviço essencial para a vida de

todos os cidadãos, e não se podendo, dessa forma, determinar, como quer a taxa,

quem do serviço se utilizou; e o requisito da divisibilidade, que é a condição de cada

usuário poder usar deste serviço público, autonomamente.

No Supremo Tribunal Federal a impossibilidade de cobrança da iluminação

pública, através de taxa, é matéria pacífica:

“Ilegitimidade da taxa, dado que o serviço de iluminação pública é um


serviço destinado à coletividade toda, prestado uti universi e não uti singuli”
(AI 231132 AgR/RS, Acórdão da 2ª Turma do STF, voto unânime, com
julgamento em 25.05.99).

Também neste sentido:

“Tributo de exação inviável, posto ter por fato gerador serviço inespecífico,
não mensurável e indivisível, insuscetível de ser referido a determinado
contribuinte, a ser custeado por meio do produto da arrecadação dos
impostos gerais. Recurso não reconhecido, com declaração de
inconstitucionalidade dos dispositivos sob epígrafe, que instituíram a taxa
no município” (RE 233332/RJ, Acórdão do Tribunal Pleno do STF, votação
unânime, com julgamento em 10.03.99).
No ordenamento jurídico pátrio, o controle de constitucionalidade das leis é

possível de duas formas: através do controle concentrado, onde somente algumas

pessoas são legitimadas para proporem a ação direta de inconstitucionalidade

“ADIN”, tendo esta ação tem efeito “erga omnes”, isto é, seu resultado atingirá todos

os cidadãos envolvidos, indistintamente; e através do controle difuso, onde qualquer

pessoa pode mover uma ação, em se sentindo lesada pela inconstitucionalidade de

uma lei ou ato normativo, mas seu efeito é “inter partes”, ou seja, atingindo somente

a parte que invocou o Poder Judiciário.

Dessa forma, qualquer contribuinte poderia ingressar em juízo pleiteando,

contra o Município, incidentalmente, a declaração de inconstitucionalidade de lei

local, e, como conseqüência desta, a cessação da cobrança do referido tributo bem

como a invalidação do convênio que era celebrado entre o Município e a

concessionária do fornecimento de energia elétrica, para cobrança que seria

realizada juntamente com a conta de energia elétrica e, ainda, a devolução dos

valores recebidos, devidamente corrigidos, a partir do respectivo reembolso.

Mas que para o efeito da declaração de inconstitucionalidade de uma lei local,

frente a um dispositivo da Constituição federal, possa atingir a todos os

contribuintes, seria necessário o ajuizamento de uma ação direta de

inconstitucionalidade –ADIN- sendo que, somente estão legitimados aqueles

constantes no rol dos incisos do art. 103, da CF.

O Ministério Público em todo Brasil, cumprindo um relevante papel para a

sociedade, vinha ingressando com ações civis públicas em busca do

pronunciamento de inconstitucionalidade de leis municipais, instituidoras de taxa de

iluminação pública, o que acabava por converter a ação civil pública numa

verdadeira ação direta de inconstitucionalidade.


Nesse sentido, decidiu o Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais:

“EMENTA: Ação Civil Pública. Embargos Infringentes. Interesses Coletivos.


Ministério Público. Ilegitimidade. Taxa de Iluminação Pública. 1. Descabe
legitimidade ao órgão do Ministério Público para a propositura de Ação Civil
Pública destinada à declaração de inconstitucionalidade de dispositivo de
lei municipal que autoriza a cobrança de taxa de iluminação pública. 2. A
Ação Civil Pública não pode se converter em verdadeira ação direta de
inconstitucionalidade, quando objetiva sustar o pagamento de taxas ou
tributos, com realce de que o beneficiário, na hipótese, não é mais a figura
do consumidor e sim do contribuinte, inquestionavelmente figuras diversas,
conquanto assemelhadas. 3. Embargos infringentes a que se nega
provimento” (Embargos Infringentes n. 000.140.507-5/01 – na apelação
Cível n. 140.507-5, Acórdão da 4ª Câmara Cível, com julgamento em
10.02.00)

Seguindo a mesma linha:

“EMENTA: Ação Civil Pública. Propositura pelo Ministério Público em busca


de pronunciamento de inconstitucionalidade de leis municipais instituidoras
da taxa de iluminação pública e conseqüente anulação de convênio
celebrado entre o Município e a empresa concessionário de serviço de
fornecimento de energia elétrica para recebimento do tributo. Sentença
acolhedora do pedido, reformada em reexame oficial, com a extinção do
respectivo processo ao fundamento da impossibilidade do manejo da ação
como sucedânea da direta de inconstitucionalidade. Embargos de
declaração rejeitados. Caso em que a invalidade das leis não foi não foi
argüida apenas incidentalmente, como se alega.” (Embargos de
Declaração n. 000.143.908-02/01- em Apelação. Acórdão da 2ª Câmara
Cível, com julgamento em 25.04.00.)

No entanto, hoje os Municípios da federação encontram base e

fundamentação jurídica para a instituição da Contribuição para Custeio do Serviço

de Iluminação Pública – CIP - no art. 149-A da Constituição Federal, para

desassossego dos contribuintes, ainda mais porque o dispositivo constitucional

deixou a cargo dos Municípios, a instituição da CIP, através de Lei Complementar

Municipal.

Espera-se que referidas Leis Complementares Municipais observem o

princípio da Personalização e Capacidade Contributiva (parágrafo 1º, do art. 145, da

CF), que diz: “Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão

graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à

administração tributária, especialmente, para conferir efetividade a esses objetivos,

identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os


rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte”, isto ao definir o

contribuinte, a base de cálculo da contribuição e a alíquota.

Aplicável, princípio que se traduz em: quem consome mais energia, paga

mais.

Os Municípios, por força do parágrafo único do art. 149-A, bem como pelo

que for instituído nas respectivas Leis Complementares Municipais, poderão celebrar

contrato ou convênio com a empresa concessionária local para que a cobrança seja

feita na fatura de consumo de energia elétrica.

Finalmente, o “caput” do art. 149-A, determina que o objetivo da cobrança da

CIP é para “o custeio do serviço de iluminação pública...”, portanto não será

observado o princípio da não-vinculação ou da não-afetação da receita tributária

(inciso IV, do art. 167, da CF) porque a receita da CIP será vinculada àquele custeio,

sob pena dos prefeitos incidirem nas penalidades do art. 1º, incisos III e XV, do

Decreto-Lei n. 201/67 (Lei de Crimes de Responsabilidade dos Prefeitos) e

infringirem a própria Lei de Responsabilidade Fiscal (LC n. 101/00).

Adiciona-se que já estão ingressando com ações direta de

inconstitucionalidade junto ao STF, buscando a declaração da inconstitucionalidade

de leis complementares municipais, instituidoras da CIP, em diversos municípios do

país, o que provocará o Supremo tribunal Federal a pronunciar-se sobre este novo

tributo. O que não impede que o contribuinte que se sinta lesado possa, também,

ingressar no Poder Judiciário, individual ou coletivamente, para eximir-se do

pagamento da CIP, contudo, agora, esta tem fundamento no art. 149-A da CF, que

deixou a cargo dos municípios a elaboração da lei instituidora da contribuição.


4 A Emenda Constitucional nº 39 de 2002. (FLAVIO)

A Emenda Constitucional 39/02 ao acrescer o art. 149-A ao corpo da

Constituição Federal deu aos municípios poderes para instituir contribuição para o

custeio do serviço de iluminação pública, contribuição esta que possui a mesma

natureza daquelas previstas no art. 149 e 195 da Lei Maior, já analisadas neste

estudo.

Ora, já foi visto que o termo contribuição em nosso Direito Tributário pode ter

significado equívoco, devendo-se dizer mesmo controverso. Entretanto, a principal

característica dada pela Constituição a esse tributo reside na destinação, ou seja, a

renda auferida por ele deve obrigatoriamente servir para o custeio de determinado

fim anteriormente previsto.

Outro ponto importante a respeito do regime dado pela Constituição às

contribuições sociais: com exceção daquelas previstas no art. 195, não existe

qualquer menção as hipóteses de incidência e bases de cálculos que elas possam

vir a ter, ao contrário dos impostos elencados nos artigos 154, 155 e 156, taxas e

contribuições de melhoria, para os quais existe pelo menos indicação, orientação ao

legislador infraconstitucional. Tal fato como já foi dito leva a que elas possam ter

bases de cálculos e hipóteses de incidências tanto de impostos quanto de taxas,

conforme raciocínio antes construído. Além disso, como regra, apenas a União tem

poderes para instituir contribuição (excetua-se a possibilidade do § 1° do art. 149), a

Emenda em questão veio abrir uma exceção a essa regra, passando, pode-se

pensar, uma pequena parcela do poder residual de tributar pertencente a União aos

municípios, fato certamente passível de ser considerado atípico em vista do disposto

no art. 154, I que dá a União competência residual para a instituição de impostos


não previstos na CF e do art. 149 que atribui competência exclusiva à União para a

instituição de contribuições sociais.

A contribuição para custeio de iluminação pública não foge a característica

mencionada na primeira parte do parágrafo anterior, visto o art. 149-A não fazer

qualquer menção, nem mesmo remota, a hipótese de incidência ou base de cálculo

do referido tributo, de modo que na prática o município pode instituir tributo

formatado quase que a seu bel prazer, apenas este deverá se revestir da natureza

de uma das espécies tributárias previstas na Constituição e sua renda deve ser

necessariamente revertida para o custeio do serviço de iluminação pública.

As espécies tributárias, previstas na Constituição, mais adequadas aos fins e

características das contribuições são os impostos e as taxas como já foi visto. Assim

para o custeio da iluminação pública pode, a princípio, o município, instituir qualquer

“imposto” ou “taxa”.

Se desejar instituir uma “taxa” o município deverá tomar o cuidado de institui-

la sobre o exercício de poder de polícia ou utilização efetiva ou potencial de serviço

público específico e divisível (art. 145, II da CF). Essa última limitação,

curiosamente, torna impossível a instituição de “taxa” incidente sobre o serviço de

iluminação pública, visto este ser indivisível, até porque, se tal fosse feito, se estaria

diante de imposto e não de taxa.

Entretanto, essa espécie tributária não parece ser a mais adequada para

agasalhar a contribuição para o custeio da iluminação pública, pois, como lembra

Roque Antonio Carrazza, “o contribuinte, nelas, retribui pecuniariamente o serviço

público ou as diligências que levam ao ato de polícia” (2002, p. 476), não se

podendo aceitar “que só porque a pessoa política realizou uma atuação estatal, esta
autorizada a cobrar uma taxa no valor que quiser e de quem quiser” (2002, p. 476,

grifo do autor), de modo que

Conquanto não seja necessária uma perfeita coincidência entre o custo da


atividade estatal e o montante exigido a título de taxa, deve haver, no
mínimo, uma correlação entre ambas. Queremos com tais palavras
destacar que, ao contrário do que acontece com os impostos, as pessoas
políticas não podem criar taxas com o fito exclusivo de carrear dinheiro
para os cofres públicos. Além disso, na medida em que o pagamento das
taxas está vinculado à prestação de um dado serviço público ou à pratica
de um determinado ato de polícia, elas devem estar voltadas para seu
custeio, e não de outros serviços ou atos de polícia que não alcançam o
contribuinte (ou que a ele não estão disponibilizados, no caso dos serviços
públicos). (2002, p. 477).

Se, por outro lado, desejar instituir contribuição com hipótese de incidência e

base de cálculo própria de imposto, deverá ter o cuidado de que ela não tenha base

de cálculo e hipótese de incidência próprias de imposto elencado no art. 153, 155 ou

156 da CF, conforme disposto no art. 154, I, certamente aplicável as contribuições

revestidas da natureza de imposto exatamente porque revestidas da natureza de

imposto, pois, se assim sendo, devem elas estar submetidas às disposições

constitucionais reguladoras dessa espécie tributária ou pretende-se argumentar

possível, por exemplo, a instituição de contribuição com efeito de confisco, teria o

legislador constitucional dado maiores poderes ao legislador infraconstitucional para

instituir contribuição do que aquele a ele dado para instituir impostos deixando

desprotegido o contribuinte em situação em tudo similar as que levaram o legislador

constitucional a limitar tão detalhadamente o poder de tributar em especial através

de impostos? Esse entendimento certamente não seria o melhor, até porque, se

aceito, resultaria em completa subversão da ordem estabelecida pela Constituição à

medida que ficaria autorizada a quebra do sistema de competência estabelecido nos

já citados artigos 153, 155 e 156, dando-se poderes ao município para instituir

“imposto” de competência da União ou dos Estados”.


Aliás, também não pode o município estabelecer contribuição com base de

cálculo e hipótese de incidência própria de imposto ou contribuição já instituído pela

União no exercício de sua competência residual sob pena de ocorrer bitributação, o

que levaria a inconstitucionalidade da contribuição para o custeio de iluminação

pública.

Além disso a referida contribuição não deverá ser cumulativa, ainda por força

do art. 154, I da CF.

5 Conclusão

Concluímos que, por não afrontar nenhuma cláusula pétrea e, justamente, por

ser matéria de Emenda Constitucional ampliar a competência tributária, não houve

inconstitucionalidade na instituição da E.C. nº 39.

Posto isto, cabe ressaltar que a CIP tem a mesma natureza jurídica das

atribuições do art. 149, da CF.

Por isto, pode revestir a feição de imposto ou de taxa (com destinação ao

custeio da iluminação pública), conforme a base de cálculo a ser eleita pelo

legislador municipal e distrital, observando-se obviamente todas as considerações

feitas no tópico anterior.

No entanto, caso seja eleita a mesma base de cálculo da extinta Taxa de

Iluminação Pública, a CIP será inconstitucional.

Do mesmo modo, será inconstitucional a lei distrital ou municipal que eleger

como fato gerador da CIP, algum dos já discriminados na Constituição competente a

outros entes federativos.


Finalmente, a lei que instituir a CIP deve respeitar todas as vigas mestras

existentes no ordenamento jurídico, sob pena de dele ser expelida.

6 Bibliografia

BALEEIRO, Aliomar. Direito tributário Brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 1997.

CARRAZZA, Roque Antônio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 17ª

edição.São Paulo: Malheiros, 2002.

LIMA, Fernando Machado da Silva. Taxa de Iluminação Pública. Disponível em:

<http: www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=1426>

ROSA, Luís Emydgio F. J. Manual de direito financeiro e direito tributário. Rio de

Janeiro: Renovar, 1995

Você também pode gostar