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Manual de Curso de Licenciatura em Ensino de História

HO170 - HISTÓRIA DAS


SOCIEDADES II
O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial

Universidade Católica de Moçambique


Centro de Ensino à Distância
CED
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Este manual é propriedade da Universidade Católica de Moçambique, Centro de Ensino à Distância
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seu todo ou em partes, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico,
gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Universidade Católica de
Moçambique  Centro de Ensino à Distância). O não cumprimento desta advertência é passível a
processos judiciais.

Elaborado Por: dr. Jacinto Jacinto Música

Licenciado em Ensino de História, pela UP

Colaborador do Curso de Licenciatura em ensino de História no Centro de Ensino à Distância (CED)


da Universidade Católica de Moçambique – UCM.

Universidade Católica de Moçambique


Centro de Ensino à Distância-CED
Rua Correira de Brito No 613-Ponta-Gêa·
Moçambique-Beira
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Agradecimentos
A Universidade Católica de Moçambique - Centro de Ensino à Distância e o autor do presente manual,
dr. Jacinto Jacinto Música, gostaria de agradecer a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições
na elaboração deste manual:

Pela Coordenação, maquetização e edição dra. Georgina Nicolau

Pela Revisão dr. Jacinto Jacinto Música


HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial i

Índice
Visão geral 1
Bem-vindo a HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II. O Renascimento Cultural e a
Revolução Industrial...................................................................................................... 1
Objectivos da cadeira .................................................................................................... 1
Quem deveria estudar este módulo ................................................................................ 2
Como está estruturado este módulo................................................................................ 3
Ícones de actividade ...................................................................................................... 3
Acerca dos ícones ........................................................................................ 4
Habilidades de estudo .................................................................................................... 4
Precisa de apoio? ........................................................................................................... 5
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) .............................................................................. 6
Avaliação ...................................................................................................................... 7

Unidade I 8
Historiografia do século XV – XVI: A Origem e o Conceito do Renascimento .............. 8
Introdução ..................................................................................................................... 8
1.2. Conceito do renascimento ............................................................................ 12
1.3. Do Latim ao Vern Áculo.............................................................................. 13
Sumário ....................................................................................................................... 14
Exercícios.................................................................................................................... 14

Unidade II 15
A Exaltação de uma Nova Época ................................................................................. 15
Introdução .......................................................................................................... 15
2.1. Contexto do Surgimento do Renascimento ................................................... 15
2.2. Factores do Renascimento ........................................................................... 16
2.2. As Fases do Renascimento ........................................................................... 17
Sumário ....................................................................................................................... 17
Exercícios.................................................................................................................... 18

Unidade III 19
As características do renascimento .............................................................................. 19
Introdução .......................................................................................................... 19
3.1. Conceito de Humanismo .............................................................................. 19
3.2. A Divulgação do Humanismo ...................................................................... 20
3.2.1. Colégios e Universidades .......................................................................... 20
3.2.2. Os Novos Caminhos da Ciência ................................................................ 21
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial ii

Sumário ....................................................................................................................... 22
Exercícios.................................................................................................................... 22

Unidade IV 23
As Origens da Modernidade e a Epistemologia sobre a Sociedade: (o século XVII)
Sistema Cultural Africano Pré-Colonial ....................................................................... 23
Introdução .......................................................................................................... 23
4.1. O Sistema Cultural Africano no Período Pré-colonial .................................. 23
Sumário ....................................................................................................................... 28
Exercícios.................................................................................................................... 29

Unidade V 31
As Origens da modernidade e a epistemologia sobre a sociedade: O Iluminismo como
Base Científico-Cultural: A Viragem das Mentalidades ............................................... 31
Introdução .......................................................................................................... 31
5.1. O Iluminismo .............................................................................................. 31
5.2. O Uso da Razão ........................................................................................... 32
5.3. O Racionalismo e o Mecanismo como fundamento da nova Interpretação do
Mundo................................................................................................................ 32
Sumário ....................................................................................................................... 34
Exercícios.................................................................................................................... 35

Unidade VI 37
Visão Historiográfica do século XIX – XX: A História Social da Colonização Europeia37
Introdução ................................................................................................................... 37
6.1. História Social da Colonização ................................................................. 37
6.1.1. Condicionalismo e motivação da expansão ............................................... 39
6.1.2. A descoberta do caminho marítimo para a Índia ........................................ 40
6.2. Impacto sócio - cultural da colonização europeia ......................................... 41
6.3. As Revoluções Burguesas ............................................................................ 41
6.3.1. Principais causas ....................................................................................... 42
6.3.2. Caso da França e da Inglaterra .................................................................. 43
Caso da Inglaterra............................................................................................... 44
6.4. O desenvolvimento do proletariado e o surgimento da questão social........... 45
Sumário ....................................................................................................................... 47
Exercícios.................................................................................................................... 48

Unidade VII 50
A colonização europeia e o encontro de padrões civilizacionais: As sociedades
colonizadas da América. .............................................................................................. 50
Introdução .......................................................................................................... 50
7.1. América pré - colonial ................................................................................. 50
7.1.1. A Organização social ................................................................................ 51
7.1.2. As Características comuns nas três regiões:............................................... 52
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial iii

Sumário ....................................................................................................................... 53
Exercícios.................................................................................................................... 53

Unidade VIII 55
Processo de conquista nas Sociedades da América (Colonização e condicionantes
ideológicos) ................................................................................................................. 55
Introdução .......................................................................................................... 55
8.1. A América Espanhola ................................................................................. 55
8.1.1. Organização Social Colonial ..................................................................... 55
8.2. A América Inglesa ...................................................................................... 56
8.3. A América Holandesa ................................................................................. 56
8.4. A América Francesa ................................................................................... 56
8.5. A América Portuguesa ................................................................................ 57

Unidade IX 59
A colonização europeia e o encontro de padrões civilizacionais: Sociedades Colonizadas
em África .................................................................................................................... 59
Introdução .......................................................................................................... 59
9.1. Condições ideológicas da colonização ......................................................... 59
9.2. Processo de conquista (colonização) ............................................................ 60
9.3. O sistema sócio - cultural da África pré - colonial ........................................ 62
Sumário ....................................................................................................................... 64
Exercícios.................................................................................................................... 64

Unidade X 66
Os métodos utilizados para a recomposição da história de África................................. 66
Introdução ................................................................................................................... 66
10.1. Os métodos utilizados para a recomposição da história de África ............... 66
10.2. Organização social africana ....................................................................... 68
10.3. Cultura....................................................................................................... 69
Sumário ....................................................................................................................... 69
Exercícios.................................................................................................................... 70

Unidade XI 71
O problema racial e a hierarquização da sociedade e a Estrutura social depois da
Colonização................................................................................................................. 71
Introdução .......................................................................................................... 71
12.1. A Estrutura Social depois da Colonização .................................................. 71
12.1.1. Caso de Moçambique.............................................................................. 71
12.1.2. Descriminação racial na estrutura colonial .............................................. 72
12.1.3. Movimento associativo e literário ........................................................... 74
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial iv

Sumário ....................................................................................................................... 74
Exercícios.................................................................................................................... 75

Unidade XIII 76
As antigas sociedades moçambicanas (Reinos, Estados e Impérios) Colonização e a
formação da sociedade prazeira no vale do Zambeze. .................................................. 76
Introdução .......................................................................................................... 76
13.1. Origem do sistema de prazo ....................................................................... 76
13.1.1. Origem dos Prazos no Contexto Moçambicano ....................................... 77
13.1.2. Dificuldades que o sistema enfrentou desde o início ................................ 78
13.1.3. Estratégias adoptadas do ponto de vista sócio - cultural........................... 79
13.1.4. A extinção dos prazos ............................................................................. 80
Sumário ....................................................................................................................... 81
Exercícios.................................................................................................................... 81

Unidade XIV 82
A transformação dos prazos em estados militares do vale do Zambeze ........................ 82
Introdução .......................................................................................................... 82
14.1. Estados militares do vale do Zambeze........................................................ 82
14.2. Consequências da extinção dos estados militares do vale do Zambeze ....... 84
Sumário ....................................................................................................................... 84
Exercícios.................................................................................................................... 85

Unidade XV 86
Estados Marave e o processo de colonização ............................................................... 86
Introdução ................................................................................................................... 86
15.1. A Sociedade Marave .................................................................................. 86
15.2. Origem dos Estados Marave ...................................................................... 87
15.4. A coexistência pacífica entre os Phiris e os Bandas .................................... 88
15.5. A Classe dominante ................................................................................... 88
15.6. Aparelho de estado .................................................................................... 89
Sumário ....................................................................................................................... 90
Exercícios.................................................................................................................... 90

Unidade XV 92
Estado dos Mwenemutapas e o processo de colonização .............................................. 92
Introdução .......................................................................................................... 92
16.1. Surgimento do Estado dos Mwenemutapas ................................................ 92
16.2. A estrutura administrativa era constituída da seguinte maneira:.................. 93
16.3. A articulação classe dominante - comunidade aldeã ................................... 94
16.4. Decadência do império dos mwenemutapas ............................................... 95
16.5. Consequências da decadência do império dos Monomotapas ..................... 97
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial v

Sumário ....................................................................................................................... 98
Exercícios.................................................................................................................... 99

Unidade XVII 100


A Sociedade do império de Gaza e o processo de colonização. .................................. 100
Introdução ........................................................................................................ 100
17.1.1. Antecedentes da formação do estado de Gaza. ...................................... 100
17.2. A formação do estado de Gaza................................................................. 101
17.3. Actividades Económicas no Estado de Gaza ............................................ 103
17.4. Estratificação social e a decadência do estado de Gaza............................. 103
17.5. Decadência do estado de Gaza ................................................................. 105
17.5.1. Resistência de Gaza: ............................................................................. 106
17.5.2. O ataque a Gaza .................................................................................... 106
Sumário ..................................................................................................................... 107
Exercícios.................................................................................................................. 107

Unidade XVIII 109


Os Reinos Afro - Islâmicos da Costa ......................................................................... 109
Introdução ........................................................................................................ 109
18.1. Os Reinos Afro-Islâmicos ........................................................................ 109
18.2. Sultanato de Angoche .............................................................................. 110
Sumário ..................................................................................................................... 113
Exercícios.................................................................................................................. 113
Referências Bibliográficas ......................................................................................... 115

Referências Bibliográficas ................................................................................... 11520


HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 1

Visão geral
Bem-vindo a HISTÓRIA DAS
SOCIEDADES II. O Renascimento
Cultural e a Revolução Industrial

Objectivos da cadeira
Quando terminar o estudo de História das sociedades II – A colocação do
homem no centro da atenção e o renascimento cultural; o cursante será
capaz de:

 Explicar a origem e o conceito do renascimento;

 Explicar as Origens da Modernidade e a Epistemologia sobre a


Objectivos Sociedade;

 Compreender o Iluminismo como Base Científico-Cultural;

 Explicar a História Social da Colonização Europeia;

 Explicar a descoberta do caminho marítimo para a Índia;

 Caracterizar as sociedades colonizadas na América;

 Explicar a emergência das sociedades crioulas;

 Caracterizar as Sociedades colonizadas em África;

 Descrever os métodos utilizados para a recomposição da história de


África;

 Descrever o problema racial e a hierarquização da sociedade;

 Explicar a estrutura social depois da colonização;

 Descrever a Colonização e a formação da sociedade prazeira no vale


HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 2

do Zambeze;

 Explicar a transformação dos prazos em estados militares do vale do


Zambeze;

 Descrever o Estado dos Mwenemutapas;

 Descrever o Estados Marave;

 Explicar a Formação do estado de Gaza;

 Caracterizar os Reinos Afro - Islâmicos da Costa;

 Caracterizar o desenvolvimento urbano em Moçambique; e

 Descrever o processo de formação dos novos padrões sócio cultural


em Africa a partir do sec. XIX.

Quem deveria estudar este


módulo
Este Módulo foi concebido para todos aqueles estudantes que queiram ser
professores da disciplina de História, que estão a frequentar o curso de
Licenciatura em Ensino de História, do Centro de Ensino a Distancia.
Estendese a todos que queiram consolidar os seus conhecimentos sobre
a História das sociedades.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 3

Como está estruturado este


módulo
Todos os módulos dos cursos produzidos por Universidade Católica de
Moçambique - Centro de Ensino a Distância encontram-se estruturados
da seguinte maneira:

Páginas introdutórias
 Um índice completo.
 Uma visão geral detalhada do curso / módulo, resumindo os
aspectos-chave que você precisa conhecer para completar o estudo.
Recomendamos vivamente que leia esta secção com atenção antes de
começar o seu estudo.

Conteúdo do curso / módulo


O curso está estruturado em unidades. Cada unidade incluirá uma
introdução, objectivos da unidade, conteúdo da unidade incluindo
actividades de aprendizagem, um summary da unidade e uma ou
mais actividades para auto-avaliação.

Outros recursos
Para quem esteja interessado em aprender mais, apresentamos uma lista
de recursos adicionais para você explorar. Estes recursos podem incluir
livros, artigos ou sites na internet.

Tarefas de avaliação e/ou Auto-avaliação


Tarefas de avaliação para este módulo encontram-se no final de cada
unidade. Sempre que necessário, dão-se folhas individuais para
desenvolver as tarefas, assim como instruções para as completar. Estes
elementos encontram-se no final do modulo.

Comentários e sugestões
Esta é a sua oportunidade para nos dar sugestões e fazer comentários
sobre a estrutura e o conteúdo do curso / módulo. Os seus comentários
serão úteis para nos ajudar a avaliar e melhorar este curso / modulo.

Ícones de actividade
Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das
folhas. Estes icones servem para identificar diferentes partes do processo
de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de texto, uma
nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 4

Acerca dos ícones


Os ícones usados neste manual são símbolos africanos, conhecidos por
adrinka. Estes símbolos têm origem no povo Ashante de África
Ocidental, datam do século 17 e ainda se usam hoje em dia.

Habilidades de estudo
Durante a formação, para facilitar a aprendizagem e alcançar melhores
resultados, implicará empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os
bons resultados apenas se conseguem com estratégias eficazes e por isso é
importante saber como estudar. Apresento algumas sugestões para que
possa maximizar o tempo dedicado aos estudos:

Antes de organizar os seus momentos de estudo reflicta sobre o ambiente


de estudo que seria ideal para si: Estudo melhor em
casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à noite/de manhã/de
tarde/fins-de-semana/ao longo da semana? Estudo melhor com
música/num sítio sossegado/num sítio barulhento? Preciso de um intervalo
de 30 em 30 minutos/de hora a hora/de duas em duas horas/sem
interrupção?

É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado
durante um determinado período de tempo; Deve estudar cada ponto da
matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando achar que já
domina bem o anterior. É preferível saber bem algumas partes da matéria
do que saber pouco sobre muitas partes.

Deve evitar-se estudar muitas horas seguidas antes das avaliações, porque,
devido à falta de tempo e consequentes ansiedade e insegurança, começa a
ter-se dificuldades de concentração e de memorização para organizar toda
a informação estudada. Para isso torna-se necessário que: Organize na sua
agenda um horário onde define a que horas e que matérias deve estudar
durante a semana; Face ao tempo livre que resta, deve decidir como o
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 5

utilizar produtivamente, decidindo quanto tempo será dedicado ao estudo e


a outras actividades.

É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será uma


necessidade para o estudo das diversas matérias que compõem o curso: A
colocação de notas nas margens pode ajudar a estruturar a matéria de
modo que seja mais fácil identificar as partes que está a estudar e Pode
escrever conclusões, exemplos, vantagens, definições, datas, nomes, pode
também utilizar a margem para colocar comentários seus relacionados
com o que está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a
seguir à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura;
Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado
desconhece;

Precisa de apoio?
Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra situação, o
material impresso, lhe pode suscitar alguma dúvida (falta de clareza,
alguns erros de natureza frásica, prováveis erros ortográficos, falta de
clareza conteudística, etc). Nestes casos, contacte o tutor, via telefone,
escreva uma carta participando a situação e se estiver próximo do tutor,
contacte-o pessoalmente.

Os tutores tem por obrigação, monitorar a sua aprendizagem, dai o


estudante ter a oportunidade de interagir objectivamente com o tutor,
usando para o efeito os mecanismos apresentados acima.

Todos os tutores tem por obrigação facilitar a interacção, em caso de


problemas específicos ele deve ser o primeiro a ser contactado, numa fase
posterior contacte o coordenador do curso e se o problema for de natureza
geral. Contacte a direcção do CED, pelo número 825018440. Os contactos
só se podem efectuar, nos dias úteis e nas horas normais de expediente.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 6

As sessões presenciais são um momento em que você caro estudante, tem


a oportunidade de interagir com todo o staff do CED, neste período pode
apresentar duvidas, tratar questões administrativas, entre outras.

O estudo em grupo, com os colegas é uma forma a ter em conta, busque


apoio com os colegas, discutam juntos, apoiemse mutuamente, reflictam
sobre estratégias de superação, mas produza de forma independente o seu
próprio saber e desenvolva suas competências.

Tarefas (avaliação e auto-


avaliação)
O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e
autoavaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é
importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues antes do
período presencial.

Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não


cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do
estudante. Os trabalhos devem ser entregues ao CED e os mesmos devem
ser dirigidos ao tutor\docentes. Podem ser utilizadas diferentes fontes e
materiais de pesquisa, contudo os mesmos devem ser devidamente
referenciados, respeitando os direitos do autor.

O plagiarismo deve ser evitado, a transcrição fiel de mais de 8 (oito)


palavras de um autor, sem o citar é considerado plágio. A honestidade,
humildade científica e o respeito pelos direitos autoriais devem marcar a
realização dos trabalhos.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 7

Avaliação
Você será avaliado durante o estudo independente (80% do curso) e o
período presencial (20%). A avaliação do estudante é regulamentada com
base no chamado regulamento de avaliação. Os trabalhos de campo por ti
desenvolvidos, durante o estudo individual, concorrem para os 25% do
cálculo da média de frequência da cadeira.

Os exames são realizados no final da cadeira e durante as sessões


presenciais, eles representam 60%, o que adicionado aos 40% da média de
frequência, determinam a nota final com a qual o estudante conclui a
cadeira. A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da
cadeira. Nesta cadeira o estudante deverá realizar 3 (três) trabalhos, 2
(dois) teste e 1 (um) exame.

Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizadas como


ferramentas de avaliação formativa. Durante a realização das avaliações,
os estudantes devem ter em consideração a apresentação, a coerência
textual, o grau de cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as
recomendações, a identificação das referências utilizadas, o respeito pelos
direitos do autor, entre outros. Os objectivos e critérios de avaliação estão
indicados no manual. Consulteos.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 8

Unidade I
Historiografia do século XV – XVI:
A Origem e o Conceito do
Renascimento

Introdução
Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam dar o contexo
historico do século XV – XVI, a visão teocentrica e antropologica da
História, o conceito do renascimento, identificar as principais causas que
permitiram o surgimento do renascimento assim como os principais
renascentistas.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Definir o que é o renascimento;

 Identificar o contexto socio – cultural do renascimento;


Objectivos  Identificar os principais renascentistas.

1.1. Historiografia do século XV - XVI


A evolução dos séculos XV XVI favoreceu o surgimento de um
pensamento humanista que defende o livre arbítrio, o valor da experiência
e desejo de glória individual, que conduziu a história humanista, que
coloca no centro do seu estudo o homem, reduzindo o papel de deus. O
homem vai se sentindo cada vez mais o construtor e responsável do
processo histórico. A Historia evolui inspirando-se na consciência
humanista e na limitação da antiguidade clássica. É assim que entre os
humanistas alia-se uma nova consciência do mundo e da vida a
idealização da antiguidade com tentativas de secularização da história.

Nesta altura já não são os teólogos e monges mais sim os poetas, literatos,
diplomatas, estadistas que escrevem historias falando criticamente do
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 9

passado nacional ou urbano. Há portanto um alargamento da temática


histórica, muito embora prevaleçam os aspectos políticos.

Para além do objecto, os humanistas alteram também a forma medieval


de exposição, a crónica. Passam então a predominar os anais, numa
história orientada para a política que tem na biografia a principal forma
de exposição histórica.

1.1.1. Contexto sócio - cultural


O renascimento constituiu num florescimento cultural, numa onda de
entusiasmo pelo mundo antigo, especialmente por Roma, que poderia
apelidar-se de loucura passageira se não tivesse durado mais de dois
séculos. O que os homens de letras da Itália dos séculos XIV, XV, e de
outros paises quiseram essencialmente expressar, foi a idéia de um
renascimento.

Considerava-se que a literatura, a escultura e a arquitetura tinham tido o


seu apogeu na Roma antiga e que tinham declinado na época dos
bárbaros ou dos Godos “daí o termo gótico, para designar a arquitetura
medieval”, tendo finalmente renascido em Itália no tempo do poeta
Petrarca (1304-1374).

Emergindo da idade das trevas escritores e artistas começaram a


desenvolver uma sensibilidade cada vez mais apurada do passado.
Começavam entendê-lo como dois períodos distintos: por um lado uma
antiguidade gloriosa e, por outro, uma época bárbara a que viriam a
chamar pela primeira vez “ de idade das trevas ou idade média “.

Um dos sinais deste entusiasmo pela antiguidade encontra-se no desejo


de descobrir, colecionar e preservar os seus vestígios. Petrarca ficou
encantado ao descobrir cópias manuscritas do escritor latino Cícero. O
arquiteto Florentino Filipe Brunelleschi (1377-1446) e o seu amigo, o
escultor Donatelllo (1386-1466), estudaram, mediram e fizeram o esboço
das ruínas da Roma antiga.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 10

Um outro sinal deste entusiasmo foi a tentativa de imitar obras-primas


clássicas, na convicção de que a cultura floresceria de novo se se
regressasse ao estilo da época em que ela realmente florescera. Petrarca
escreveu um longo poema épico chamado África, à maneira de Virgílio.
Os arquiteto seguiram os modelos dos edifícios romanos, tais como o
coliseu e o panteão.

Os escultores, incluindo Miguel Ângelo (1475-1564), inspiraram-se nas


estátuas clássicas descobertas em Roma e noutros lugares. Sobre uma
delas, o chamado Torso de Belverde, Miguel Ângelo diria: “Esta é a obra
de um homem que era mais sábio que a própria natureza“.

Pintores como Rafael (1483-1520) também estudaram estátuas antigas.


Os compositores por sua vez tentaram reconstituir as formas da música
grega antiga. Nas escolas e universidades, mestres encorajavam os alunos
a preparar dramas latinas, ao mesmo tempo em que no campo educativo
recuperaram o modelo latino baseado no estudo da gramática, retórica,
poesia, história e ética. Estas disciplinas, segundo eles, permitia aos
alunos tornarem-se mais profundamente humanos – daí que estes
professores viessem a ser designado como humanistas.

Não obstante, a veneração pela antiguidade, os artistas e escritores deste


período tinham uma grande confiança nas suas próprias capacidades.
Homens como Cellini não iriam imitar os clássicos cegamente. Tentaram
adaptar os modelos antigos ás condições concretas da sua época. O
filósofo Florentino Marsílio Ficino (1433-1499), escreveu o que chamaria
de “teologia platônica,“ uma tentativa de combinar as idéias do filósofo
grego Platão com a tradição cristã.

Nicolau Maquiavel (1469-1527), afirmava que os governantes deveriam


seguir o exemplo dos antigos, tendo mesmo escrito um comentário sobre
os primeiros tempos da história de Roma para Os orientar. Maquiavel
declarava-se cheio de espanto e mágoa perante a falta de interesse pela
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 11

prática política dos romanos em contraste com o lugar de honra que se


atribuía à antiguidade e... O facto de qualquer fragmento de uma estátua
antiga poder atingir preços tão elevados.

No entanto o seu príncipe, que dá conselhos aos governantes sobre


melhores maneiras de conservar o poder, acabaria por ser um livro
inovador, não baseado nos modelos clássicos.

1.1.2. Visão Teocêntrica da História


Após a queda do império Romano do ocidente, os Barbaros foram-se
convertendo ao catolicismo. A religião católica pode dizer que era uma
religião de toda Europa. A península Ibérica, é certo, havia sido
conquistado pelos árabes. No entanto, para combater o maometismo,
organizaram-se as cruzadas do ocidente. O homem da idade média era
natural e profundamente religioso. Foi a Igreja que por um lado,
moriginou os costumes bárbaros; que ensinou; que contribuiu para a
expansão literária e artística e que reprimiu as guerras privadas dos
senhores feudais.

Por outro, a igreja representava quase tudo para o homem medieval. As


cercanias dos templos constituíam o fulcro da vida artística e cientifica da
época. Realizavam-se representações teatrais, feiras e Mercado. Era aí a
escola, praticava-se a pintura de painéis e vitrais, a cultura de imagem,
sem esquecer dos magníficos trabalhos de arquitecturas em catedrais e
abadias.

1.1.3. Visão antropológica da História


Os homens europeus dos meados do século XVI, tinham consciência de
que uma nova idade tinha começado na História, compreendiam que eram
os agentes de uma grande transformação histórica. Viam um grande
contraste entre o seu tempo e Idade Média. Consideravam que só a
Antiguidade e o Renascimento das artes e das letras greco-latinas eram
dignas e que a Idade Média fora um milénio de obscurantismo e de
trevas, uma longa noite que era preciso recuar e desprezar. A
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 12

característica que melhor distingue o Renascimento da Idade Média, é


sem dúvida a mudança do conceito de vida.

Para o homem medieval a vida terrena era apenas um caminho para a


verdadeira vida: a felicidade eterna que se situa depois da morte.

Com o Renascimento o homem quer viver intensamente a vida terrena,


quer a fama, a glória, o triunfo, a eternidade neste mundo. Para isso, não
deixa de ser religioso, libertar-se da influência negativa que a religião
exercia sobre os homens medievalista.

O individualismo, característica fundamental do homem renascentista,


molda-se, pois, nesta nova mentalidade: a mentalidade antropocêntrica,
que se opõe ao teocentrismo.

Com o Renascimento triunfa a ideia do homem e da sua liberdade, a


afirmação da personalidade, que pensa conseguir por meio de uma
formação intelectual e física que o distinga dos demais.

A semelhança dos antigos, o homem do renascimento, tem a preocupação


de encontrar um modelo de homem ideal.

1.2. Conceito do renascimento


O Renascimento, é o movimento de renovação cultural que surgiu na
Europa (Itália), cujos objetivos era reativar a imitação da antiguidade
greco-romano nas suas obras literárias e artísticas; imprimir uma
mudança em relação aos dogmas religiosos; valorizar o homem e suas
obras considerando-o centro da reflexão do mundo, analtecer os valores
terrenos: “ a fama, a glória, o triunfo, a riqueza e se libertar dos dogmas
religiosos que advocavam a abstinência aos bens materiais; libertação
individual e defender a existência dum homem novo armado do saber e
da vida terrena”.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 13

As principais causas do surgimento do renascimento estão ligadas às


viagens de descobrimentos e o mecenato, preparados pelo
desenvolvimento económico da baixa idade média, pela ascensão da
mercantil e urbana; pela afirmação do poder real ( éra palaciana ); pelo
crescimento das cidades e pelo alargamento do espaço geográfico,
constituiu-se numa época de renovação cultural marcado pelo desejo de
mudanças.

1.3. Do Latim ao Vern Áculo


Tal como Petrarca, os poetas escreveram não só em latim clássico, mas
também em vernáculo. Petrarca, por exemplo, escrevia no dialeto da
Toscana que veio a ser adaptado também noutras partes da Itália, e que
viria a constituir o italiano moderno. De modo semelhante, os arquitetos
da época adaptaram os modelos de templos pagãos na construção de
igrejas, reavivando não só o que era antigo, mas esforçando-se por criar
algo de novo.

Era com grande entusiasmo que, noutros paises os intelectuais e os


artistas tomavam conhecimento desta renovação cultural italiana tendo-se
mesmo alguns deslocando a Itália para ver com os seus próprios olhos. O
artista alemão Albrecht Durer (1471-1528) visitaria Veneza para aprender
novas técnicas, enquanto o inglês John Colet, amigo de Thomas More iria
para Florença discutir Platão com Ficino. Um outro amigo de More, o
holandês Erasmo (1469-1536), não apreciava tanto a Itália, apesar disso
apercebeu-se de que estava à beira de uma idade de ouro, uma vez que a
literatura e os conhecimentos que se encontravam extintos, estavam a
renascer por toda a Europa.

Traduziam-se muitas obras eruditas do italiano e do latim para o francês,


espanhol, inglês, e outras línguas européias, tornando-se amplamente
acessível com a invenção da imprensa em 1455. Alguns artistas italianos
foram mesmo convidados a trabalhar no estrangeiro. Leonardo da Vinci
(1452-1519), foi para França a convite de Francisco I, enquanto que,
numa briga havia partido o nariz de Miguel Ângelo, decidiu emigrar e foi
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 14

viver para a Inglaterra, onde trabalhou no túmulo de Henrique VII, na


abadia de Vestminster.

Sumário
A evolução dos séculos XV XVI favoreceu o surgimento de um
pensamento humanista que defende o livre arbítrio, o valor da experiência
e desejo de glória individual, que conduziu a história humanista, que
coloca no centro do seu estudo o homem, reduzindo o papel de deus

O Renascimento, é o movimento de renovação cultural que surgiu na


Europa (Itália), cujos objetivos era reativar a imitação da antiguidade
greco-romano nas suas obras literárias e artísticas; imprimir uma
mudança em relação aos dogmas religiosos; valorizar o homem e suas
obras considerando-o centro da reflexão do mundo, analtecer os valores
terrenos.

Exercícios
1. Qual foi a consepção da História no século XV - XVI
2. Explique porque é que o seculo XV e XVI foi marcado por uma nova
era a nivelde pensamentohumano?
3. O que entende por renascimento?
4. Qual é o significado atribuído ao renascimento?
5. Mencione os grandes renascentistas que conheces.
6. Porquê é que Maquiavel recomendava aos estadistas a seguirem o
exemplo dos antigos?
7. O que entende por obras eruditas?

Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação.


Entregar os exercícios: 1, 2, 4,6 e 7.
Auto-avaliação
Em quatro páginas faça um breve resumo da unidade em estudo.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 15

Unidade II
A Exaltação de uma Nova Época

Introdução
Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam identificar e explicar
todos os factores que possibilitaram o surgimento do renascimento.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Identificar os factores do surgimento do renascimento;

 Explicar de que forma os descobrimentos contribuíram no


Objectivos processo do renascimento;

 Explicar o processo e as fases do renascimento.

2.1. Contexto do Surgimento do Renascimento


Por toda a Europa os poetas imitaram os modelos italianos tanto como os
antigos. O uso do vernáculo em vez do latim em obras literárias foi
incentivado nomeadamente por Petrarca e Ludovico Ariosto (1474-1533),
cujo poema orlando furioso, foi lido e imitado de Portugal à Polônia.

Circulavam livros de gravuras com desenhos para casas no novo estilo,


para que quem quisesse construir pudesse neles selecionar entradas e
lareiras. Estátuas de governantes a cavalos, erigidas nas praças públicas,
imitavam os modelos romanos, e até as praças públicas simétricas
construídas nas cidades européias sofreram a inspiração do antigo fórum
romano.

À medida que o renascimento se desenvolvia, a idéia de uma nova era


estendia-se a outras áreas do saber tais como a exploração marítima, a
ciência e a medicina. No pensamento de um físico do século XVI Jean
Farnel (1497-1558) pode ler-se:
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 16

“A circum-navegação, a descoberta dos maiores continentes da terra,


a invenção da bússola, a disseminação do conhecimento através da
imprensa, a arte da guerra revolucionada pelo uso da pólvora, a
recuperação de manuscritos antigos e o regresso da erudição; tudo
isto testemunha o triunfo desta nova era que é a nossa...”.

Os primeiros renascentistas são italianos. Admiradores da antiguidade,


desprezavam os tempos medievais que consideravam “ tempos obscuros,
época de barbárie “. Contudo, o renascimento não é uma época de ruptura
brutal com a idade média, mas o resultado de uma lenta evolução que
mergulha as suas raízes na cultura medieval...

2.2. Factores do Renascimento


*- A expansão européia no mundo

O contacto dos europeus com outras terras e gentes levou-os a alargar os


conhecimentos e a tomar consciência da amplitude do globo.

*- O mecenato

O desenvolvimento do comércio da indústria e da banca nas principais


cidades italianas proporcionou o enriquecimento de príncipes e de
burgueses. Uns e outros desejosos de prestígio e de glória financiam
homens de letras e das artes; tornam se assim mecenas.

*- A redescoberta da antiguidade romana

No século XV, príncipes, burgueses e papas financiam e fomentam


escavações arqueológicas nas ruínas espalhadas pelo sul da Itália e na
Ásia menor. A descoberta de estátuas, bronzes e outras antiguidades, atrai
a admiração dos renascentistas, levando-os a inspirar-se nesse passado
glorioso.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 17

2.2. As Fases do Renascimento


O renascimento teve tres fases principais que são:

I – O treceto : Situado no princípio do segundo quartel do século XIV.


Esta fase é caracterizada pelas mutações nas artes plásticas e nas letras;
com destaque para o individualismo e o uso da latina.

II – O quatrocento: Esta fase deu-se no século XV e foi caracterizada


pelo regeneramento das linguas clássicas, desenvolvimento da filosofia
neoplatónica e introduz-se o óleo nas pinturas.

III – O cinquecento: Corresponde aos quinhentos, século XVI, foi


considerado pela maioria dos autores como sendo o período mais criativo,
pois, ‘e nesta fase que a escrita ganha destaque, a pintura, a arquitectura,
a escultura e as obras poéticas conhecem o seu momento mais alto.

Sumário
Por toda a Europa os poetas imitaram os modelos italianos tanto como os
antigos. O uso do vernáculo em vez do latim em obras literárias foi
incentivado.

Circulavam livros de gravuras com desenhos para casas no novo estilo,


para que quem quisesse construir pudesse neles selecionar entradas e
lareiras. Estátuas de governantes a cavalos, erigidas nas praças públicas,
imitavam os modelos romanos, e até as praças públicas simétricas
construídas nas cidades européias sofreram a inspiração do antigo fórum
romano.

À medida que o renascimento se desenvolvia, a idéia de uma nova era


estendia-se a outras áreas do saber tais como a exploração marítima, a
ciência e a medicina.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 18

Exercícios
1. Os primeiros renascentistas foram os italianos; mencione as razões.

2. Identifique os factores que contribuíram no surgimento do


renascimento e descreva como cada factor influenciou o renascimento.

3. Os primeiros renascentistas desprezavam os tempos medievais e eram


admiradores da antiguidade; porquê?

4. Identifique as fases do renascimento e caracterize a primeira fase.

5. Pode-se afirmar que o renascimento foi apenas fruto da descoberta da


antiguidade greco-romana? Justifica a tua afirmação.

Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação.


Entregar o exercício: 2, 3, 4 e 5.
Auto-avaliação
Em quatro páginas faça um breve resumo da unidade em estudo.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 19

Unidade III
As características do
renascimento
Introdução
Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam explicar as principais
características do renascimento.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Definir o humanismo, o naturalismo e o classicismo;

 Explicar o papel das universidades na divulgação do


Objectivos renascimento;

 Identificar o papel desempenhado pelos refugiados turcos à


Florença na aquisição de informações sobre a antiguidade greco-
romana.

3.1. Conceito de Humanismo


Uma nova manifestação que valoriza o homem e as suas obras baseada
no estudo e imitação da antiga cultura greco-romano (humanismo);

Um novo interesse pela natureza apoiado na observação e espírito crítico


(naturalismo).

Uma nova concepção artística inspirada na arte da antiguidade clássica


(classicismo).

Humanismo

Os humanistas eram eruditos (homens da igreja ou laicos) que protegidos


por mecenas, se devotavam ao estudo das línguas (grego latim e
herbáceo) para conhecerem melhor os textos da antiguidade.

Esses homens letrados faziam pesquisas e comentários dos antigos


manuscritos para assim poderem definir “o homem novo do renascimento
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 20

“Os precursores deste movimento intelectual foram os poetas Dante (205-


1321 ); Petrarca (1304-1374 ) e o contista Boccaccio (1313-1375 ). Mas
foi só na segunda metade do século XV que se intensificaram os estudos
graças à trabalhos de investigação dos circuitos humanistas de Florença e
de Veneza e a vinda para tália de sábios bizantinos.

Estes, fugidos de Constantinopla face ao avanço dos turcos, são acolhidos


em Florença, onde ensinam língua grega e dão a conhecer manuscritos da
antiga Grécia. Os grandes centros do humanismo italiano foram Florença
(século XV) e Roma século (XVI).

Assim os humanistas criaram, com base no estudo das grandes obras


clássicas, uma nova mentalidade que considerava o homem e não Deus
ou igreja católica como centro da vida e do mundo e uma nova pedagogia
que procurava criar um novo homem novo; culto, educado, desportivo,
amante do saber e da vida terrena...

3.2. A Divulgação do Humanismo


A divulgação do humanismo na Europa ocorreu no século XVI. Para isso
contribuíram os seguintes meios e agentes: * A imprensa – Criada em
meados do século XV na Alemanha por um grupo de impressores de que
se destacou Gutenberg. Esta nova técnica de impressão consistiu,
fundamentalmente na utilização de caracteres móveis em metal. A
imprensa foi um poderoso veículo da difusão de cultura, pois permitiu
uma rápida reprodução e divulgação de textos clássicos e renascentistas.
As oficinas de impressão constituíam também importantes centros de
reuniões e de trabalho dos humanistas.

3.2.1. Colégios e Universidades


Nos colégios e nas universidades é onde os humanistas davam lições e
publicavam os seus estudos. Desta forma, as idéias do humanismo
publicaram-se por várias regiões da Europa. No século XVI, os círculos
eruditos das universidades, colégios, cortes, abadias e das grandes
cidades mercantis constituíam uma autêntica república das letras.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 21

Entre os grandes humanistas destacaram-se Erasmo de Roterdão


(Holanda), Tomás Mora (Inglaterra), e Damião de Góis (Portugal). A
produção literária do renascimento contou também com grandes
escritores como o português Luís de Camões, o inglês Shakespeare, o
espanhol Cervantes e o italiano Maquiavel.

3.2.2. Os Novos Caminhos da Ciência


A divulgação nos séculos XV e XVI de ciências greco-romanas (como a
geometria de Euclides, a física de Arquimedes, e a medicina de
Hipócrates e Galeno) contribuiu para despertar a curiosidade e a
discussão do saber antigo. Por outro lado, o desenvolvimento do espírito
crítico e o novo saber, proporcionado pelas viagens de expansão,
conduziu a elaboração de uma nova via de conhecimento.

O saber prático com base na observação e na experiência e apoiado em


cálculos matemáticos. Os progressos científicos mais importantes deram-
se nas seguintes áreas:

Medicina - Graças à prática da disseminação aperfeiçoa-se o


conhecimento do corpo humano. O espanhol Servet descobre a pequena
circulação do sangue e o rances Pare cria novos processos de estancar
hemorragias.

Astronomia – O sábio polaco Copérnico descobre que contrariamente ao


que se pensava, a terra gira em volta do sol; (teoria heliocêntrica). A
observação da natureza e a experiência facilitada pelas viagens de
expansão permitiram aprofundar o saber cientifico ao nível da geografia e
das ciências naturais.

Com efeito, o homem do renascimento passou a ter um inventario mais


completo do mundo vivo (animais e plantas dos continentes africano,
americano e asiático) e um mais carreto conhecimento do globo (novas
terras, rios, montanhas mares...). Refletindo às transformações mentais da
época, também o conhecimento da história modifica.

Regressa-se a tradição crítica da época clássica. A investigação da


história readquire rigor. A evolução científica e tecnológica, a formação
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 22

da dúvida metódica, a exaltação do valor da experiência na construção da


ciência, a formação do método científico etc, criaram condições para um
salto qualitativo no conceito e nas metodologias da história.

Sumário
As principais características do renascimento foram:

Humanismo, baseado numa nova manifestação que valoriza o homem e


as suas obras baseada no estudo e imitação da antiga cultura greco-
romano;

Naturalismo, movido por um novo interesse pela natureza apoiado na


observação e espírito crítico;

Classicismo, baseado numa nova concepção artística inspirada na arte da


antiguidade clássica.

Exercícios
1. Define o que entende por humanismo, naturalismo e classicismo?

2. Diga em que século ocorreu a divulgação do humanismo na Europa e


qual foi o principal factor que contribuiu deveras nessa divulgação?

3. Diga, quem foi Gutenberg e era de que nacionalidade?

4. Identifique outros cientistas que contribuíram com os seus trabalhos e


descobertas no renascimento, abordando os seus feitos.

5. Um dos renascentistas foi o famoso Luís de Camões que também viveu


em Moçambique. Diga em que província?

Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação.


Entregar os exercícios: 2, 3, 4 e 5
Auto-avaliação
Em quatro páginas faça um breve resumo da unidade em estudo.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 23

Unidade IV
As Origens da Modernidade e a
Epistemologia sobre a Sociedade:
(o século XVII) Sistema Cultural
Africano Pré-Colonial

Introdução
Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam explicar o sistema
cultural africano no período pré-colonial

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Identificar o papel do ferro na civilização da humanidade;

 Explicar os principais conceitos de realeza na África pré-colonial;


Objectivos  Identificar as diferenças e semelhanças desses conceitos entre o
norte e o sul de áfrica..

4.1. O Sistema Cultural Africano no Período Pré-colonial


Antes a civilização africana, a civilização humana teve maior subsídio na
sua evolução cultural, a partir da descoberta e utilização do ferro. O uso
do ferro influenciou todos os aspectos da humanidade: o aspecto
económico, sócio-político e cultural.

Descrevendo as rotas deste metal até à África, o ferro foi difundido a


partir do oriente (há 1200 a.c.) e, mais tarde chegou ao Egípto; no século
seguinte espalhou-se pelo norte de África. Do Sudão o ferro subdividiu-se
em dois ramais: um que se dirigiu para a região dos grandes lagos e o
outro para a grande floresta equatorial. Em seguida as duas rotas
unificaram-se e tomaram o rumo sul, onde teriam dado lugar ao
surgimento de novas formações políticas e etnolinguísticas.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 24

O sistema cultural africano, particularmente o da África propriamente


dita (África negra ), inicia e se consolida a partir desta época vindo a
atingir a África sub-sariana no século III d.c. Segundo Fage 1995:48, do
ponto de vista africano, é preferível considerar o reino de Meroé como
um país onde as tradições egípcia e negra se puderam encontrar e fundir,
e onde as regiões interiores do Sudão puderam contactar com o mundo
greco-helenísticos e romanos e com comércio e a cultura do mar
vermelho e do oceano Índico.

Dois aspectos de Kush-Méroe têm sido considerados como


particularmente significativos para a história de África subsariana. Como
vimos, pensa-se que a Núbia deve ter sido uma das principais vias por
onde o conhecimento da metalurgia do ferro atingiu os povos negros. Os
enormes montes de escória ainda hoje visíveis na antiga Meroé revelam
sem dúvida alguma que aí existiu um centro importante de metalurgia do
ferro, a ponto de influenciar pelo menos os povos vizinhos do Sudão
oriental.

Em segundo lugar, e embora sujeito a maior controvérsia, supõe-se


também que foi essa a via por onde os aspectos da antiga cultura egípcia,
em especial os conceitos de realeza divina e administração hierárquica,
alcançaram os povos negros e influenciaram o seu desenvolvimento.
Afirma-se freqüentemente que as formas de organização monárquicas
desenvolvidas entre os povos negros subsarianos e que aparentemente
existiam já no primeiro milênio d.C. revelam um modelo comum. O rei
quando não era propriamente um deus, era considerado como
descendente dos deuses, e era por isso separado dos homens comuns por
uma série de rituais.

Ele era raramente visto em público, geralmente dava audiências atrás de


uma espécie de cortina, comunicava essencialmente através de porta-
vozes e não podia ser visto a realizar simples actos mundanos como
comer e beber...
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 25

Ele era o representante dos deuses para o controlo do uso da terra de que
o povo dependia, determinava as épocas das sementeiras e colheita,
ocupando o papel central nas grandes cerimónias apropriadas a cada
época.

Pensava-se que a fertilidade do solo, a queda regular de chuvas, e,


portanto, todo o bem estar da comunidade, estavam dependentes dele e da
sua contínua prosperidade; a sua falta de saúde era um desastre que ou
tinha de ser dissimulado ou por vezes terminava com o seu assassínio
ritual.

Quando morria era enterrado com grande pompa juntamente com as


mulheres e comitiva. Na sua corte havia geralmente um lugar importante
para uma grande rainha ou rainha-mãe, que era a mulher principal da
família real e não a esposa. Abaixo do rei havia uma hierarquia de
grandes funcionários que se ocupavam da corte e que impunham a ordem
e os tributos aos súbditos das comunidades clânicas e aldeãs.

As mercadorias mais importantes do comércio a longa distância, como


ouro, marfim, cobre e sal eram em regra monopólios reais, e o palácio
real era o centro principal dos maiores artesãos do país, tais como
ourives, cinzeladores de metais raros, tecelões e músicos.

Este modelo tem sido identificado por etnógrafos e historiadores através


da África negra:

por exemplo, nos reinos lacustres da África oriental, nos estados de


Zimbábue e de Monomotapa na região austral e na África ocidental, em
monarquias como as de Kanem e Benin; há evidentemente alguma
afinidade com a monarquia divina do antigo Egípto, embora não se saiba
exatamente até que ponto, visto que à situação do antigo Egípto foi dada
por vezes uma interpretação conhecida por analogia com outras partes de
África segundo a moderna pesquisa etnográfica.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 26

Contudo, tem-se argumentado que o modelo egípcio foi difundido no


resto do continente através de Kush, o seu posto avançado a sul, uma vez
que a primeira monarquia divina conhecida em África é do antigo Egípto.
Isto levanta naturalmente a questão de saber se as origens da monarquia
em Kush eram de inspiração egípcia desde o início, ou se ela resultou de
uma evolução interna que mais tarde sofreu a influência egípcia.

Mas se os principais conceitos de realeza e governo foram a partir do vale


do Nilo, é razoável supor que a difusão se deu a partir de Kush em vez do
Egípto, pois existem poucos vestígios da difusão da influência do antigo
Egípto a partir do deserto a oeste e este do Nilo, com a única grande
excepção da propagação do culto de Amon-Rã para oeste ao longo das
rotas caravaneiras que atravessavam os oásis, como Siwa, até ao noroeste
de África.

Há poucos vestígios da extensão da influência meroíta acima do Nilo


branco, onde os povos Nilo-sarianos nada sabiam da civilização urbana e
pouco de comércio a longa distância. São necessárias outras explicações
para as duas principais manifestações de governo monárquico, com reis
sagrados, que foi registado entre esses povos nilóticos.

Um deles é o reino Shilluk, cujo poder atingiu a norte o que se supõe


serem os limites meridionais da autoridade de Meroé. Mas o reino de
Shilluk desenvolveu-se apenas por volta do século XVI, o que significa
cerca de doze séculos depois da destruição de Meroé, e deu-se ao que
parece, à invasão e conquista por parte de um ramo dos Luos, um grupo
nilótico vindo do sul.

Porém, a maioria dos Luos – como em geral em todos os povos nilóticos,


permaneceram sem pátria; o outro exemplo antigo de realeza divina num
contexto nilótico resultou da conquista, mais ou menos no mesmo
período, de agricultores de língua banto pelos Luos, mais a sul na região
que hoje é Uganda.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 27

Aí, no reino bunioro, torna-se bastante evidente que um reino meridional


dos Luos se apropriou de um sistema monárquico que já estava
implantado no país, em vez de introduzir a realeza divina entre os bantos.

Se se quiser considerar a hipótese da difusão a partir de Meroé, é mais


plausível que esse tipo de monarquia se difundiu atrvés do Nilo azul,
influenciando os sidamas, povo de língua cushítica habitante da região
sudoeste do planalto etíope, cujos reinos Kaffa e Enarea, ou seus
precursores, devem ter sido por sua vez influenciados pela África banto.

Este facto pode ter ocorrido através de um substrato cushítico dominado


por imigrantes bantos. Só uma explicação deste tipo pode esclarecer
como um conjunto de crenças e práticas originárias do vale do Nilo
podiam ter chegado a tempo de influenciarem, por volta do século XII ou
ainda anteriormente, os reinos bantos do Zimbabwe-Monomotapa.

Mas isto é uma simples conjuntura. Realmente wexstem provas


consistentes de contactos meroíticos com o mundo exterior, além do
Egípto, somente para leste onde, como se viu, a influência meroítica
acabou por ser apagada pela potência rival de Axum. Há alguns vestígios
muito tênues da propagação da influência Núbia para ocidente através do
Sudão até cerca do lago Chade e daí até Kanem. Mas, segundo as
possibilidades de datação este facto não parece relacionar-se com a antiga
Meroé, mas com os reinos cristãos que se constituíram em seu lugar a
partir do século VI d.C.

Não há, portanto, nada que sugira uma forte influência de Meroé sobre os
reinos do Sudão ocidental, o primeiro dos quais, o antigo Gana, se
encontrava no extremo ocidental e decerto existia já no século VIII; todos
eles tinham importantes relações exteriores não com o leste mas com o
norte , através do sara, por intermédio dos Berberes nómados do deserto.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 28

Com efeito, parece mais razoável pensar que, por toda a África e
particularmente nos vales dos rios, a realeza divina possa ter resultado de
uma evolução mais ou menos natural a partir do desenvolvimento da
agricultura. À medida que uma comunidade aumentava e se tornava e
cada vez mais dependente das colheitas que os seus campos produziam e
da água que os alimentava, deve ter havido maior necessidade de um
controlo unificado das suas vidas.

Desde que surgiu a crença universal na necessidade de prestar culto aos


espíritos da terra e da água, tornou-se mais importante a mediação dos
antepassados no mundo dos espíritos. O dirigente de cada sociedade, o
descendente directo do antepassado fundador do grupo, o homem que
primeiro os guiara no desbravamento da terra e discutira a sua utilização
com os espíritos, tornou-se o primeiro intermediário com o outro mundo,
e deste modo foi investido de qualidades sobrenaturais. Se estes factos
aconteceram e se repetiram, a realeza faraônica deve ser encarada como
uma evolução ocorrida no antigo Egípto que pode ter sido difundida daí
para o resto de África, como um exemplo mais sofisticado do
desenvolvimento geral africano, resultante das condições específicas do
baixo Nilo e do delta.

Deste modo, pode ter sido um modelo muitíssimo influente,


especialmente via Meroé, a tal ponto que outras monarquias divinas,
podem ter sido levadas a adoptar ou adaptar algumas das suas
características, por vários meios indirectos...

Sumário
Antes a civilização africana, a civilização humana teve maior subsídio na
sua evolução cultural, a partir da descoberta e utilização do ferro. O uso
do ferro influenciou todos os aspectos da humanidade: o aspecto
económico, sócio-político e cultural.

O sistema cultural africano, particularmente o da África propriamente


dita (África negra ), inicia e se consolida a partir desta época vindo a
atingir a África sub-sariana no século III d.c. Segundo Fage 1995:48, do
ponto de vista africano, é preferível considerar o reino de Meroé como
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 29

um país onde as tradições egípcia e negra se puderam encontrar e fundir,


e onde as regiões interiores do Sudão puderam contactar com o mundo
greco-helenísticos e romanos e com comércio e a cultura do mar
vermelho e do oceano Índico.

Exercícios
1. O uso do ferro influenciou todos os aspectos da humanidade. Diga de
que aspectos aqui se refere?

a) explica de que forma o ferro influenciou a cada aspecto que acabaste


de mencionar?

2 - O sistema cultural africano, particularmente o da África propriamente


dita, inicia e se consolida a partir da época em que o ferro chega na região
das grandes florestas e a dos grandes lagos, vindo a atingir a África sub-
sariana no século III d.c. - Sustenta esta afirmação a partir do teu
conhecimento sobre a história dos bantu.

3 – o que entende por África propriamente dita?

a) – Em que historiografia se usa essa expressão e com que objectivo?

4 - tem-se argumentado que o modelo de realeza egípcio foi difundido no


resto do continente através de Kush, o seu posto avançado a sul, uma vez
que a primeira monarquia divina conhecida em África é do antigo Egípto.

a) concordas que todo o tipo de realeza africana seja a cópia da realeza


egípcia?

b) justifica a tua afirmação.

5 - Desde que surgiu a crença universal na necessidade de prestar culto


aos espíritos da terra e da água, tornou-se mais importante a mediação
dos antepassados no mundo dos espíritos. Concorda?

a) O que te sugere a frase no que respeita a religiosidade africana?


HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 30

Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação.


Entregar os exercícios: 2, 3, 4 e 5.
Auto-avaliação
Em quatro páginas faça um breve resumo da unidade em estudo.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 31

Unidade V
As Origens da modernidade e a
epistemologia sobre a sociedade:
O Iluminismo como Base
Científico-Cultural: A Viragem das
Mentalidades

Introdução
Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam explicar a origem do
iluminismo e como o iluminismo contribuiu na evolução científico-
cultural.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Definir o que é o Iluminismo;

Objectivos  Identificar os principais iluministas e seu contributo.

 Conceber o racionalismo como fundamento da nova interpretação


do mundo.

5.1. O Iluminismo
O Iluminismo foi um movimento intelectual inspirado no ressurgimento
das ciências na Europa do século XVII. Procurou aplicar os métodos das
ciências naturais às questões sociais e políticas. Nenhuma nação européia
ou esfera de cultura escapou a sua influência. As suas doutrinas principais
consistiam em que o homem é por natureza um ser racional e pode
alcançar a perfeição atrvés do uso e educação da sua razão; que os
homens (e na perspectiva de alguns pensadores, as mulheres são iguais e
deve-lhes ser dada igualdade perante a lei e liberdade individual e que as
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 32

crenças devem ser aceites não com base na autoridade ou na tradição,


mas apenas se passar o teste da razão).

Esta ênfase na razão favorece o ateísmo ou o deísmo, a crença de que a


existência de Deus pode ser estabelecida pela razão. O período do
iluminismo ou o período da razão começou em Inglaterra no século XVII,
com o advogado político e pensador Francis Bacon e os filósofos
políticos Thomas Hobbes, John Locke, David Hume e Adam Smith.

Na França do século XVIII tornou-ser num movimento organizado


consciente de si mesmo, que influenciou a revolução francesa em 1789. A
publicação, entre 1751 e 1780, da enciclopédia editada por Jean Lê Rond
d’Almbert e Denis Diderot, com a contribuição de Voltaire, Jean-Jacques
Rosseu e outros, providenciou uma plataforma para os defensores do
iluminismo. Foi publicitada como um << dicionário >> sistemático das
ciências, das artes e dos ofícios e era marcado por anticlericaeismo e pelo
radicalismo político.

5.2. O Uso da Razão


Na Alemanha o iluminismo alcançou a sua mais significativa expressão
filosófica nos textos de Moses Mendelssohn, Gotthold Lessing, Imanuel
Kant e Johann Fichte.Kant descreveu o iluminismo como a emergência
do homem da sua auto- imposta infância; o seu lema era: ter a coragem
de usar a própria razão >>.

5.3. O Racionalismo e o Mecanismo como fundamento da nova


Interpretação do Mundo
Afirma-se que o racionalismo cartesiano, segundo o qual o mundo, tal
como Deus o fez, se compõe de dois elementos: A matéria e o espírito ou
alma. A principal qualidade da matéria é a extensão regida por leis. Estas
leis, estabelecidas por Deus, são imutáveis e inelutáveis; o próprio Deus
quando age, age segundo as leis que estabeleceu para a matéria. É uma
espécie de monarca constitucional.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 33

O essencial do espírito é a razão universal, igual em todos os homens. O


sentimento, a imaginação enquanto guiados pelas sensações, dependem
da matéria e não podem atingir o conhecimento. A sua acção só é
admissível quando este sentimento, esta imaginação, se apóia nas idéias
que a razão e a inteligência descobriram.

A razão, dada ao homem por Deus, é um reflexo da sabedoria divina;


pode, assim descobrir as leis da natureza que Deus instituiu. Ao descobrir
essas leis, cria a ciência que dá ao homem o domínio do mundo.

A ciência divide-se naturalmente em grande número de cessões, mas


estas cessões constituem uma autêntica unidade na medida em que todas
elas podem traduzir o que descobrem em termos matemáticos. A física
pode exprimir o que descobre em formulas matemáticas, a química, em
fenômenos físicos, a matéria viva, em fenômenos químicos, e assim
sucessivamente. A ciência é, portanto só uma, e deve traduzir-se em
termos matemáticos; o ideal do homem é por o universo em equação.

A segunda forma do racionalismo nasceu em Inglaterra (o racionalismo


experimental); cujo maior precursor foi Francis Bacon.

Os ingleses consideravam que sem dúvida a razão cria a ciência, mas não
pode criá-la por sua própria e única iniciativa; é necessário que a razão se
aplique aos factos aprendidos pelos sentidos, e que se dirija a experiência
dos sentidos segundo certas regras que se denominam experimentais, de
forma a realizar experiências e observações e a raciocinar seguidamente
sobre os factos devidamente constatados.

Este racionalismo inglês recebeu um impulso incomparável dos trabalhos


de Isaac Newton (1642- 1727) que, por volta de 1683, formulou a lei da
gravitação. Não podeis imaginar o entusiasmo que esta lei suscitou em
todo o mundo. Newton demonstrou precisamente a unidade das ciências.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 34

A gravitação regia os movimentos dos astros; ao mesmo tempo sobre a


terra, explicava queda dos corpos. O método experimental e a física de
Newton foram divulgados em França por Voltaire. Mas em Inglaterra, já
no tempo de Voltaire, o método experimental tinha pretendido
generalizar o seu império ao próprio homem, que sendo matéria ao lado
do corpo, pode tornar-se objecto de observações experimentais; mas a
questão que colocava era: como ‘e que se explica o pensamento do
homem, o conteúdo essencial do seu espírito?

Descarte partia das idéias inactas, quer dizer, de um certo número de


idéias fundamentais que Deus tinha colocado no espírito do homem. Os
ingleses rejeitaram esta explicação, e lançaram a sua crítica sobre um
ponto essencial no seguinte: “ É evidente que há alma, mas esta é algo de
vazio; tudo o que lá se encontra é dado pela experiência, por intermédio
dos sentidos’’. É por esta razão que se designa esta filosofia por
sensualismo – Nada existe no espírito que não esteja primeiro nos
sentidos, segundo John Locke...

5.3. O Empirismo
O termo «empirismo» é uma doutrina segundo a qual, todas as ideias são
fornecidas pela experiência, opondo-se assim ao racionalismo. É uma
doutrina que pretende fundamentar-se apena na experiência, opondo-se
deste modo ao metodo científico ou ao racionalismo.

Se a experiencia é a fonte do conhecimento, este não se reduz a ela. A


experiência concreta prolongada pela experimentação ‘e necessaria ao
fundamento da ciência, mas não suficiente. O representante mais
caracteristico do empirismo é John Locke (1632 – 1704), para quem
todas as nossas ideias provem da experiência interna ou externa.

Sumário
O Iluminismo foi um movimento intelectual inspirado no ressurgimento
das ciências na Europa do século XVII. Procurou aplicar os métodos das
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 35

ciências naturais às questões sociais e políticas. Nenhuma nação européia


ou esfera de cultura escapou a sua influência.

As suas doutrinas principais consistiam em que o homem é por natureza


um ser racional e pode alcançar a perfeição atrvés do uso e educação da
sua razão; que os homens (e na perspectiva de alguns pensadores, as
mulheres são iguais e deve-lhes ser dada igualdade perante a lei e
liberdade individual e que as crenças devem ser aceites não com base na
autoridade ou na tradição, mas apenas se passar o teste da razão).

Esta ênfase na razão favorece o ateísmo ou o deísmo, a crença de que a


existência de Deus pode ser estabelecida pela razão. O período do
iluminismo ou o período da razão começou em Inglaterra no século XVII,
com o advogado político e pensador Francis Bacon e os filósofos
políticos Thomas Hobbes, John Locke, David Hume e Adam Smith.

Exercícios
1. o que entende por iluminismo?

2. Qual é o conceito do racionalismo?

3. Em que consistiam as principais doutrinas do iluminismo?

4. Os ingleses consideravam que sem dúvida a razão cria a ciência, mas


não pode criá-la por sua própria e única iniciativa. Diga o que era
necessário?

5. A ciência divide-se naturalmente em grande número de cessões, mas


estas cessões constituem uma autêntica unidade. Porquê?

Fazer actividades constantes na auto-avaliação


Entregar os exercícios: 2, 3, 4 e 5.
Auto-avaliação
Em quatro páginas faça um breve resumo da unidade em estudo.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 37

Unidade VI
Visão Historiográfica do século
XIX – XX: A História Social da
Colonização Europeia

Introdução
Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam explicar as principais
causas que levaram a Europa a optar por uma expansão para fora da
Europa a partir do século XV; explicar o modo de vida da idade
medieval; interpretar as motivações que levaram aos portugueses a
invadirem o norte de África e o impacto sócio - cultural da colonização.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Identificar as principais causas que levaram aos europeus a


Objectivos optarem pela expansão para fora da Europa;

 Mencionar as causa que levaram a um período de deflação da


economia europeia;

 Identificar as consequências da deflação económica na Europa do


século XV.

6.1. História Social da Colonização


Primeiro devemos analisar a conjuntura sócio - cultural em que a Europa
se encontrava na sua expansão; porquê é que a Europa vai optar por esta
expansão; e qual será o impacto que veio causar esta expansão.

A expansão europeia acontece entre os séculos (XV-XVI), e está ligada


com a crise que se observa a partir do século XIV, que afectou toda a
Europa do ocidente.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 38

Nesse período, a Europa já experimentava o desenvolvimento de


indústrias manufactureiras, o que era geral em toda a Europa ocidental, e
isto traz consigo dois fenómenos:

O aumento da produção e o agravamento do desenprego onde vamos


encontrar o desequilíbrio entre a produção (excessiva) e o consumo
(insignificante ou desastrante). A Europa entra num período de deflação
(um nível baixo de preços, incapacidade de poder de compra); não há por
parte da população fundos monetários para ter acesso aos produtos
alimentares.

Na Europa nesse período encontramos uma série de dificuldades:

* - decrescimo populacional - que vai aumentar devido a taxa de


mortalidade.

* - Recessão económica - afrouxamento, devido a uma queda da


economia por haver muita produção e o mercado europeu ficou saturado
ou abarrotado e os produtos não tinham saída, havendo por outra,
escassez de matéria prima porque todos os países europeus produzem os
mesmos produtos e é preciso encontrar espaço para drenar ou escoar os
produtos e, com o decréscimo populacional, há uma escassez de mão-de-
obra quer na agricultura, quer nas indústrias manufactureiras.

* - O aumento de tensões sociais – greves, manifestações, indiferenças,


a partilha etc. Para além dos problemas internos, também existiam outros
problemas conjunturais nos inícios do século XV; um dos obstáculos que
a Europa enfrentou foi:

* - A oposição dos muçulmanos com relação aos mercadores cristãos


nos portos do mediterrâneo ocidental, que era o ponto de escoamento de
mercadorias que eram as especiarias vindas do oriente

* - O bloquio do extreito de Gibraltar pela pirataria móura, o que vai


dificultar o acesso dos poucos europeus às mercadorias do oriente na
Europa e o ouro do Sudão que entrava a partir da África do norte.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 39

* - Escassez de meios de pagamento dos direitos aduanéiros e


alfandegários por parte dos comerciantes europeus, porque o ouro que
vinha da África do norte era confeccionado, e a burguesia comercial
estava incapacitada do comércio e isto tudo é acompanhado com as
convulsões internas e o governo estava sob pressão.

Assim, os problemas sócio - económicos do ocidente e os obstáculos de


tráfico cristão no mediterrâneo, impulsionaram aos europeus a partir do
século XV a procura de novas rotas comerciais no Atlântico e norte de
África, que eram as vias possíveis para a obtenção das riquezas orientais
e ao alcance das fontes produtoras do ouro em África que rareava na
Europa.

6.1.1. Condicionalismo e motivação da expansão


* - Conjuntura socio-económica

- Carência de ouro e prata que constituíam matéria-prima que era a


sobrevivência das indústrias;

- Carência da mão-de-obra, o movimento renascentista entra na mente


dos europeus e há um processo de constatação em que o homem europeu
não se oferece como um instrumento de trabalho;

- A desvalorização drástica dos rendimentos da nobreza (sequelas do


feudalismo);

- Os entraves e dificuldades nos negócios da burguesia; os muçulmanos


controlam todos os portos.

* - O saber técnico - náutico

- Capacidade tecnológica, (já sabiam trabalhar com a bússola, quadrante,


vela triangular, astrolábio, leme fixo e portulanos). Esses são os
conhecimentos técnicos indisponíveis para a navegação.

- Conhecimentos geográficos que a Europa dispunha nesta altura,


dominava toda a bacia do mediterrâneo;

- Espírito religioso, a luta contra os muçulmanos para a expansão da fé


cristã... De facto a Europa tinha razões técnicas e científicas para poder
efectuar essa aventura; (expansão).
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 40

6.1.2. A descoberta do caminho marítimo para a Índia


Em meados do século XIII, os cristãos ibéricos possuíam já mais de
quatro séculos de experiência em guerras contra potentados muçulmanos.
Até 1492, Portugal tinha se libertado dos mouros no Algarve a sul. Para
desenvolver esta província devastada e despovoada, Portugal teve que
continuar com as cruzadas no norte de África contra os mouros,
incentivando assim a procura de recursos naquela região. Pois, no século
XIV, as competições comerciais verificadas nas rotas do mediterrâneo até
ao oriente e costa este de África, quantidades exíguas de produtos e a
preços elevadíssimos, levou a que um grupo de especializados italianos,
venezianos, o apoderasse.

Desse modo os genovenses e outros comerciantes da Europa ocidental


foram obrigados a procurarem obter tais produtos de forma menos
dispendiosa, procurando alcançar as fontes da sua produção. Deste modo
surgem ideias de circum-navegação em volta de África; pois o maior
horizonte geográfico até então alcançado através de viagens feitas na
altura para o extremo oriente de onde se destaca a família veneziana
Marco Pólo, suscitava essa possibilidade.

Em 1415, Portugal conquistou Ceuta no norte de África. Esta conquista


deu evidentemente aos portugueses mais oportunidades de conhecer
melhor do que antes o comércio trans-saariano e o território do Sahara, e
ainda possivelmente, com mais facilidades do que outros europeus.

Entre os que participaram deste conhecimento destaca-se o Infante D.


Henrique fundador da escola náutica de Sagres e seu irmão, o Infante D.
Pedro, filhos de D. João I, então rei de Portugal.

A partir da conquista de Ceuta, estava iniciada a grande aventura de


descoberta e conquista em África e em outros continentes pelos europeus.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 41

Dessas viagens, em 1498, Vasco da Gama chega á Índia passando por


Moçambique, tendo baptizado o nosso território de terra de boa gente.

6.2. Impacto sócio - cultural da colonização europeia


A expansão dos séculos (XV-XVII), pós a Europa em contacto com os
povos de diferentes níveis civilizacionais. Este embate das civilizações
provocou permutas culturais entre os colonizadores e os colonizados,
dando origem a aculturação de povos; a Europa ganhou com os povos
colonizados, e os povos colonizados também levaram a cultura da Europa
e essa aculturação consistiu em:

Difusão das plantas, animais e técnicas de produção; a Europa veio a


enriquecer a sua cultura e Por outro lado, as sociedades colonizadas
aprende3ram com os europeus em relação às plantas e animais, as
técnicas de produção.

- Formação de comunidades europeias e mestiças no mundo ultramarino;

- Evangelização e divulgação da cultura europeia.

6.3. As Revoluções Burguesas


A Revolução Burguesa foi um movimento de carácter socio-político que
ocorreu na Europa, concretamente na Inglaterra e na França, entre os
séculos XVII-XVIII e nas treze colónias inglesas da América.

Estes movimentos caracterizaram-se pelo:

- Derrube do absolutismo e implantação do liberalismo;

- Introdução do constitucionalismo

- Separação dos poderes;

- Defesa dos direitos básicos dos cidadãos;

- Ascensão da burguesia como nova elite política que substitui a nobreza.


HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 42

6.3.1. Principais causas


- Factores políticos

- Factores sociais

- Factores económico-financeiros

- Factores ideológicos.

Factores políticos

Durante o período medieval, reuniu-se o sistema feudal seguido do


sistema absolutista. A medida que a burguesia crescia economicamente,
ela questionou as prometidas monarquias; obrigam o estado a respeitar as
leis; a Burguesia contestava a não convocação das assembleias
representativas; na França os estados gerais não funcionavam; na
Inglaterra o parlamento não era convocado, os assuntos eram tratados
pelos monarcas sem consulta. Burguesia contestava as prisões arbitrárias;
contestava a ausência de gozo pleno de direitos e liberdades individuais.

Factores sociais

As péssimas condições do terceiro estado, causam reivindicações por


parte da burguesia.

Factores económicos

Os cofres do estado estavam vazios; toda a economia estava orientada


pela guerra; gastavam as economias pelos gastos suspeitos; aumentavam
os impostos para responder as necessidades económicas.

Factores ideológicos

Neste período surge o iluminismo também conhecido como o século das


luzes que emanava princípios de novas ideias; crença na possibilidade de
esclarecimento; os fenómenos deveriam ser expelidos; o iluminismo
encontrou o suporte da ciência, é na ciência que se encontraria a
felicidade.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 43

Racionalismo

Foi visto como o único meio válido para o conhecimento da realidade;


visava essencialmente lutar contra o dogmatismo e a fé católica que
justificava os fenómenos ocorridos com base na bíblia e defendia a
tolerância religiosa. Os iluministas defendiam as liberdades individuais,
liberdade de expressão, liberdade, liberdade ao culto ou associativismo.

O racionalismo devia lutar para o seu progresso, para o seu


desenvolvimento para atingir a sua felicidade. Estas ideias serviam de
catalizador para a contestação por parte da burguesia.

6.3.2. Caso da França e da Inglaterra


O prodigioso desenvolvimento da força económica da Europa leva-nos a
ter de falar outra vez no crescimento da burguesia. Ela é a responsável
pelo progresso realizado e que com ele mais se beneficiou. Realizado
esse progresso, enriqueceu como consequência dele.

A sua importância no estado foi crescente constantemente a ponto de se


lhe tornar indispensável.Todavia, mantém-se quase em toda a parte, numa
situação jurídica inferior, pois o mundo continua a ser comandado, tal
como na idade média, pela aristocracia, o nobre guerreiro, o clero, o
padre.

São estas duas classes privilegiadas que governam, comandam, fornecem


os verdadeiros senhores do estado. Ora a experiência histórica mostra
que, quando uma classe sobe, quando o seu poder e capacidade
aumentam, e essa classe não tem um lugar correspondente ao seu lugar,
correspondente à sua importância no estado, as coisas tornam
insustentáveis; a classe ascendente acaba sempre por conseguir o lugar
desejado.

Na França, a nobreza e o clero não aceitaram sem reticência a ascensão


da burguesia, e resistiram-lhe. Apesar disso, tal como na Inglaterra,
também em França uma parte da burguesia foi, a pouco e pouco tendo
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 44

acesso a nobreza que nas vésperas da revolução era composta por muitos
burgueses enobrecidos há mais ou menos tempo.

Colbert teve descendência nobre; arranjaram-lhe uma genealogia e armas


próprias; casou as suas filhas com o duque de Chevreuse e o duque de
Beuvillier.

Se este tipo de enobrecimento tivesse sido mais frequente, ter-se-ia


conseguido absorver toda a força da burguesia, e os acontecimentos
teriam tido um curso análogo ao que tiveram em Inglaterra mas isso não
aconteceu; o enobrecimento não se realizou com a rapidez necessária; por
outro lado, no século XVIII, a nobreza reagiu contra a intrusão da
burguesia.

Nos outros países da Europa à medida que nos afastamos em direcção ao


leste, para Alemanha, para a Polónia, para a Rússia, as coisas tornam-se
ainda mais piores; foi por isso que o racionalismo do século XVIII teve
dois matrizes como poderemos ver posteriormente entre o contexto do
racionalismo francês e o da Inglaterra.

Em França, e de certo modo noutros países do continente Europeu, o


racionalismo teve um carácter de reivindicação política e social, com
vista a conseguir para a burguesia o seu legítimo lugar.

Esta reclamava igualmente de direitos, a abolição de privilégios, a


participação da nação na vida política, na realidade, o seu acesso à
autoridade política e ao governo, em nome daquilo que se denominou de
“soberania do povo”.

Caso da Inglaterra
A Inglaterra organizou um governo em que participavam além da nobreza
e do clero, a alta burguesia, com quem se associaram para governar o
país. O resultado não foi mau. Esta oligarquia conjunta da aristocracia e
da burguesia, criou o império britânico e apoiou o grande William Pitt.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 45

O racionalismo da Inglaterra teve apenas características filosóficas e não


sociais e políticas, porque a burguesia inglesa estava relativamente
satisfeita já que obtivera o essencial do que pretendia: qualquer burguês
podia tornar-se lord e alcançar um lugar no governo; (William Pitt era
um burguês).

6.4. O desenvolvimento do proletariado e o surgimento da questão


social
O desenvolvimento do proletariado, está intimamente ligado com a
emergência do sistema capitalista que conscide com a revolução
industrial, que se tornou um sistema económico predominante em alguns
países da Europa ocidental começando pela Inglaterra, seguindo-se a
Bélgica e a França. A industrialização vai origem a um desenvolvimento
de uma classe operária muito numerosa e miserável que constitui o
proletariado.

O desenvolvimento da grande indústria na Inglaterra deve-se


principalmente às minas, à abertura das vias de comunicação e o emprego
da maquinaria como factores determinantes. Nisto, começa-se a verificar
uma avalanche de camponeses sem terras que abandonam o meio rural
para a cidade na esperança de um emprego e melhores condições de vida
(movimento migratório atraído pelas indústrias emergentes).

É preciso notar que a revolução industrial, desenvolve-se sem intervenção


do estado, sem qualquer programa metódico senão regida por lei da livre
concorrência e da prioridade privada

O fluxo de camponeses pobres às fábricas, produz-se numa total ausência


de regulamentação. Os sectores industriais vêem rapidamente à sua
população a triplicar ou mesmo a quadruplicar sem nada previsto para o
alojamento de novos habitantes.

Alimentavam-se muito mal, devido a frequência das crises económicas,


falta de iluminação, sem direitos a férias e nem feriados. A doença
provocada pela miséria e sub - alimentação, o alcoolismo era muita das
vezes o refúgio na esperança de vida.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 46

A partir de 1830, na Inglaterra realizam-se profundas reformas sociais


que beneficiam os operários, os pobres e os camponeses. U ma lei sobre
as indústrias que limita a dez horas o serviço diário para os adultos e nove
horas para os menores. Em 1807, o parlamento vota a abolição da
escravatura com Áfrican institut para velar a execução dessa decisão
principalmente em África.

As potências reunidas no Viena comprometeram-se a unir os seus


esforços contra o tráfico de escravos e assim e em 1834 a Inglaterra
aboliu definitivamente o tráfego de escravos, em1848, a Espanha, em
1848 a Cuba, Porto rico e a França; em1867 os E.U.A. e em 1888 o
Brasil.

A Inglaterra tornou-se o país mais próspero e mais populoso do mundo, a


população aglomerava-se nos grandes centros industriais e nos portos.
Começava-se a notar um contraste profundo entre os ricos e os pobres,
entre o capital e o trabalho e isso vai provocar a emergência do
surgimento de ideias socialistas e a formação de agrupamentos de estudos
como: a sociedade fabiana; a liga para a restituição da terra e a federação
social democrática.

Os operários iniciam com suas reivindicações sociais, entre as quais


reivindicam redução da jornada do trabalho para oito horas. Todos esses
pedidos foram muito mal recebidos pelo patronato; seguem-se as greves,
violência e tiveram como consequência:

- o encerramento de numerosas fábricas até que o operariado vai


conseguir uma boa parte das suas reivindicações, e criou-se o tred union,
um organismo que vai ser uma operação operária com personalidade civil
e vai facilitar empréstimos e fazer-se representar na justiça.

- Estabeleceu-se igualdade entre os patrões e os operários perante a lei e


criaram inspectores de trabalho;

- Formularam-se algumas regras de trabalho;


HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 47

- Regulamentou-se o trabalho de menores e de mulheres nas fábricas;

- Instituiu-se a obrigatoriedade de indemnização por motivos de acidente;

- O desenvolvimento da indústria, provocou a formação de uma classe de


operário bastante numerosa e, como consequência disso, formaram-se
dois grandes partidos; o partido liberal e conservador, que permitiu a
realização de reformas políticas muito profundas e o aparecimento de
teorias socialistas.

Sumário
A expansão europeia acontece entre os séculos (XV-XVI), e está ligada
com a crise que se observa a partir do século XIV, que afectou toda a
Europa do ocidente.

Nesse período, a Europa já experimentava o desenvolvimento de


indústrias manufactureiras, o que era geral em toda a Europa ocidental, e
isto traz consigo dois fenómenos: O aumento da produção e o
agravamento do desemprego.

Na Europa nesse período encontramos uma série de dificuldades:

- Decréscimo populacional

- Recessão económica

- O aumento de tensões sociais

- A oposição dos muçulmanos

- O bloqueio do estreito de Gibraltar

- Escassez de meios de pagamento dos direitos aduaneiros e


alfandegários.

Assim, os problemas sócio - económicos do ocidente e os obstáculos de


tráfico cristão no mediterrâneo, impulsionaram aos europeus a partir do
século XV a procura de novas rotas comerciais no Atlântico e norte de
África, que eram as vias possíveis para a obtenção das riquezas orientais
e ao alcance das fontes produtoras do ouro em África que rareava na
Europa.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 48

A expansão dos séculos (XV-XVII), pós a Europa em contacto com os


povos de diferentes níveis civilizacionais. Este embate das civilizações
provocou permutas culturais entre os colonizadores e os colonizados,
dando origem a aculturação de povos; a Europa ganhou com os povos
colonizados, e os povos colonizados também levaram a cultura da Europa
e essa aculturação consistiu em:

- Difusão das plantas, animais e técnicas de produção;

- A Europa veio a enriquecer a sua cultura e Por outro lado, as sociedades


colonizadas aprenderam com os europeus em relação às plantas e
animais, as técnicas de produção;

- Formação de comunidades europeias e mestiças no mundo ultramarino;

- Evangelização e divulgação da cultura europeia.

Na França, a nobreza e o clero não aceitaram sem reticência a ascensão


da burguesia, e resistiram-lhe. Apesar disso, tal como na Inglaterra,
também em França uma parte da burguesia foi, a pouco e pouco tendo
acesso a nobreza que nas vésperas da revolução era composta por muitos
burgueses enobrecidos há mais ou menos tempo.

Nos outros países da Europa à medida que nos afastamos em direcção ao


leste, para Alemanha, para a Polónia, para a Rússia, as coisas tornam-se
ainda mais piores; foi por isso que o racionalismo do século XVIII teve
dois matrizes como poderemos ver posteriormente entre o contexto do
racionalismo francês e o da Inglaterra.

Exercícios
1 - a expansão europeia realiza-se a partir dos séculos XV-XVI.
Explica as condições que concorreram para a realização dessa
expansão.

2 - Concordas que os árabes constituíram um dos motivos da deflação


na Europa? 3 -3 - Justifica a tua afirmação.

3 - Identifique três conjunturas socio-económicas que motivaram a


expansão europeia.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 49

4 - Qual foi o significado da tomada de Céuta pelos portugueses?

5- Qual foi o significado das cruzadas?

6- Portugal foi um país pioneiro na viagem dos descobrimentos.


Indica as condições socio-económicas que contribuíram na realização
destas viagens.

7- A revolução burguesa foi um movimento de carácter socio-político


que ocorreu na Europa. Indica os três principais factores que
contribuíram na eclosão desses movimentos.

8- Os factores ideológicos estão ligados a denominação desse período


como o século das luzes porquê?

9- Identificar as características do racionalismo.

10 – Em França, e de certo modo noutros países do continente Europeu,


o racionalismo teve um carácter de reivindicação política e social. Diga
com que intenções?

11– Indica algumas conquistas que os operários conseguiram a partir das


suas reivindicações contra a situação de trabalho a estavam expostos.

12– O desenvolvimento do proletariado está ligado ao surgimento da


questão social. Explica por tuas palavras a afirmação dada acima, tendo
em conta a emergência do capitalismo e a abolição da escravatura

13– A Inglaterra foi a primeira na concretização da teoria de eliminação


da escravatura mas não a timoneira da ideia. Diga qual foi o país que pela
primeira vez tomou essa iniciativa?

Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação.

Auto-avaliação Entregar os exercícios: 2, 3, 4, 5, 6 e 8.

Em quatro páginas faça um breve resumo da unidade em estudo.


HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 50

Unidade VII
A colonização europeia e o
encontro de padrões
civilizacionais: As sociedades
colonizadas da América.

Introdução
Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam explicar e as
características e o modo de vida levado pelas sociedades ameríndias antes
da colonização europeia.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Identificar as características da vida sócio - económica das

Objectivos civilizações ameríndias;

 Identificar os grupos etnolinguísticos que habitaram as Américas


antes dos colonos europeus, e explicar as características comuns
das três regiões das Américas.

7.1. América pré - colonial


Antes do processo da colonização na América, há evidências de que já
existiam civilizações avançadas, quer do ponto de vista tecnológico, quer
do ponto de vista de organização socio-cult5ural. Por exemplo os
espanhóis encontraram na América três grandes civilizações
nomeadamente:

- Astecas ( méxico Iucatão);

- Maias (América central);

- Incas (Bolívia, Perú, Equador).


HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 51

Astecas (México Iucatão)

Formavam um extenso território nos moldes dos grandes impérios da


antiguidade; possuíam uma escrita complicada, praticavam uma
agricultura desenvolvida, construíam obras de irrigação muito
sofisticadas casos de (aqueduto, canais); conheciam a matemática e
astronomia e fabricavam objectos de metal. Construíam monumentos que
até maravilharam os europeus.

Maias (América central)

Os maias já viviam em cidades autónomas. Cultivavam o milho, batata,


culturas que até eram desconhecidas na Europa. Fabricavam belos tecidos
de algodão e curiosas peças de cerâmica. Os sacerdotes tinham
organizado um sistema complexo de enumeração e calendário muito
rigoroso.

Incas (Bolívia, Peru e Equador)

Formavam um império com uma poderosa organização estatal, a


sociedade estava dividida em classes muito marcadas, as indústrias de
cerâmica e de tecelagem eram mais desenvolvidas que as dos maias.

A religião desses três povos comportavam práticas estranhas e sacrifícios


humanos, quando morresse o rei tinha que ser acompanhado por um vivo,
normalmente era a sua mulher mais próxima. Dispunham de palácios e
templos com paredes cobertos de ouro.

7.1.1. A Organização social


Existia uma organização social com uma hierarquia bastante estruturada
que se estratificava da seguinte maneira:

IMPERADOR: Monarca absoluto e era conhecido por Sapa inca (únici


inca) ou Intip cori (filho do sol). Adoravam-no como um Deus, não só
em vida, mesmo depois da morte para controlar com maior eficácia sobre
os súbditos; exercia uma autoridade despótica (tirana opressora).
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 52

Sacerdotes/sacerdotisas: Se ocipavam pela religião e eram conhecidas


por (Vírgens do sol).

Grupos aristocráticos de guerreiros: Eram os que prestavam serviços


militares e religiosa, intelectuais e burocráticos.

Classe dominada:

A classe dominada era composta por camponeses, artesãos e pastores;,


cuja sua principal missão era de alimentar, sustentar a classe dominante.
O poder estatal estava centralizado nas mãos dos monarcas a partir de
Curzco que era a capital do império inca por meio de pessoas da sua
confiança que colocava nas diferentes regiões do império.

7.1.2. As Características comuns nas três regiões:


- As suas economias eram essencialmente agrícolas, onde se constatava o
predomínio de do cultivo de milho, feijão, praticavam a tecelagem,
cerâmica, e ourivesaria.

- Eram sociedades dominadas por uma casta de sacerdotes e uma


aristocracia. De guerreiros, e todos esses eram sustentados pelos
camponeses e escravos domésticos.

- Cultos consagrados aos deuses da natureza, a quem ofereciam muitas


vezes sacrifícios humanos.

- Ciência bastante desenvolvida com maior desaque da astronomi

a e a matemática (maias), cirurgia (astecase incas)muito antes da


colonização.

- Trabalhos de engenharia, que se traduziam na construção de grandiosas


pirámides, templos pal’acios; construção de etradas, pontes canais de
irrigação..-

-Equipamento técnco rudimentar, (artesanato) baseados a utensílios de


pedra e cobre.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 53

Sumário
Antes do processo da colonização na América, há evidências de que já
existiam civilizações avançadas, quer do ponto de vista tecnológico, quer
do ponto de vista de organização sócio - cultural. Por exemplo os
espanhóis encontraram na América três grandes civilizações
nomeadamente:

- Astecas ( méxico Iucatão);

- Maias (América central);

- Incas (Bolívia, Perú, Equador).

Eram sociedades dominadas por uma casta de sacerdotes e uma


aristocracia. De guerreiros, e todos esses eram sustentados pelos
camponeses e escravos domésticos.

Cultos consagrados aos deuses da natureza, a quem ofereciam muitas


vezes sacrifícios humanos.

E Ciência bastante desenvolvida com maior destaque era astronomia e a


matemática (maias), cirurgia (astecas e incas) muito antes da colonização.

Exercícios
1 – Antes da colonização europeia, há evidências da existência de
civilizações altamente desenvolvidas nas Américas. Identifique essas
civilizações.

2 – os ingleses estabeleceram na América do norte onde fundaram treze


colónias . Diga quais são essas colónias?

3 – Indica as potências europeias que colonizaram as Américas, não se


esquecendo de mencionar as regiões de influência de cada potência.

4 – Qual era o principal objectivo da cristianização das comunidades


locais/
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 54

Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação.

Auto-avaliação Entregar os exercícios: 2, 3 e 4.

Em quatro páginas faça um breve resumo da unidade em estudo.


HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 55

Unidade VIII
Processo de conquista nas
Sociedades da América
(Colonização e condicionantes
ideológicos)

Introdução
Nesta unidade pretende-se que nos estudantes saibam explicar o processo
de conquista nas sociedades colonização da América.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Interpretar o processo de conquista da América;

Objectivos  Identificar as principais causas que aceleraram o processo da


colonização da América;

 Explicar o sistema sócio - cultural da América pré - colonial;


8.1. A América Espanhola


No primeiro quartel do século XVI, os espanhóis iniciaram a conquista;
assim, Fernando Cortês no ano de 1519, ocupou o México (astecas).
Francisco Pizarro, em 1531, conquistou Peru (incas)

Os colonizadores em vez de se adaptarem às civilizações encontradas,


optaram em destruir todos os seus feitos. É assim que os maravilhosos
monumentos como templos e palácios foram saqueados e destruídos.

8.1.1. Organização Social Colonial


Montaram uma nova organização social baseada na exploração
estabelecida pela metrópole e assim a sociedade americana passou a
apresentar-se da seguinte nova estrutura social:
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 56

- Chefetones- (colonos) metropolitanos que ocupavam altos postos


militares e civis como a justiça, administração, a religião que era uma
arma fundamental para a submissão da população.

CRIOLOS (CIOULLOS)

Espanhóis nascidos na América, que eram grandes proprietários e


comerciantes, participavam nas câmaras municipais.

MISTIÇOS – Eram capatazes, artesãos e administradores.

ÍNDIOS – Eram o grupo mais populoso constituído por camponeses e


artesãos que eram submetidos ao trabalho forçado.

NEGROS – Escravos vindos de África, instrumentos de trabalho sem


direitos humanos.

8.2. A América Inglesa


Os ingleses estabeleceram-se na América do norte onde foram
estruturadas treze colónias. Ao norte desenvolvia-se uma economia
autónoma, mercantil manufactureira e não dependente da metrópole. Ao
sul, uma economia agrícola que produzia exclusivamente para o mercado
externo. À esta colónia receberam o nome de colónias de exploração.
Estavam preocupados com o saque económico e não com a destruição
social.

8.3. A América Holandesa


A influência holandesa estendeu-se por todos os continentes. Foi a
companhia das índias orientais fundadas em 1621 que preparou e
efectivou a ocupação efectiva da América.

8.4. A América Francesa


A França iniciou com a sua expansão colonial no século XVII,
estabelecendo-se em várias regiões. Para este caso vertente, vão ocupar
na região de Missipi, América do norte.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 57

8.5. A América Portuguesa


Portugal integrou o Brasil ao capitalismo europeu, com base na
exploração agrícola entre os séculos XVI-XVII

IMPACTO CULTURAL (Processo de assimilação)

- Europa impôs a sua civilização cultural: “ mercadores, funcionários,


colonos, missionários; levaram culturas agrícolas, técnicas, moeda,
gostos, modos de pensar, língua e sobre tudo a religião para toda a
América.

- A irradiação do cristianismo que alterou as crenças locais


cristianizando, esta foi uma forma de europeizar, transformar o
americano em europeu.

- A alteração da cultura americana através da língua (espanhol, inglês,


francês, português), passou-se a espalhar por toda a América tornando-se
em línguas oficiais;

- As plantas das ilhas do atlântico não só enriqueceram a economia


europeia, mas também contribuíram para a modificação de hábitos
alimentares à sociedade europeia.

- Surgimento de crioula (português falado mais alternado


dialecticamente).

Resumindo-se podemos afirmar que (resultou numa mistura de valores,


fusão de sensibilidades; houve umencontro de história”aculturação”)...
não houve um processo de assimilação mas sim um processo de
aculturação.

Sumário
Antes do processo da colonização na América, há evidências de que já
existiam civilizações avançadas, quer do ponto de vista tecnológico, quer
do ponto de vista de organização socio-cultural. Por exemplo os
espanhois encontraram na América trés grandes civilizações
nomeadamente:

- Astecas ( méxico Iucatão);

- Maias (América central);


HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 58

- Incas (Bolívia, Perú, Equador).

Eram sociedades dominadas por uma casta de sacerdotes e uma


aristocracia. De guerreiros, e todos esses eram sustentados pelos
camponeses e escravos domésticos.

Cultos consagrados aos deuses da natureza, a quem ofereciam muitas


vezes sacrifícios humanos.

E Ciência bastante desenvolvida com maior desaque era astronomia e a


matemática (maias), cirurgia (astecase incas)muito antes da colonização.

Exercícios
1 – Antes da colonização europeia, há evidências da existência de
civilizações altamente desenvolvidas nas Américas. I dentifique essas
civilizações.

2 – os ingleses estabeleceram na América do norte onde fundaram treze


colónias . Diga quais são essas colónias?

3 – Indica as potências europeias que colonizaram as Américas, não se


esquecendo de mencionar as regiões de influência de cada potência.

4 – Qual era o principal objectivo da cristanização das comunidades


locais/

5 – O que entende por lingua criola?

Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação.

Auto-avaliação Entregar os exercícios: 2, 3 e 4.

Em quatro páginas faça um breve resumo da unidade em estudo.


HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 59

Unidade IX
A colonização europeia e o
encontro de padrões
civilizacionais: Sociedades
Colonizadas em África

Introdução
Nesta unidade pretende-se que nos estudantes saibam explicar o processo
histórico da colonização de África.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Interpretar o processo de conquista de África;

Objectivos  Identificar as principais causas que aceleraram o processo da


colonização de África;

 Explicar o sistema sócio - cultural da África pré - colonial;

 Identificar a corrente historiográfica que predominou no período


pré - colonial.

9.1. Condições ideológicas da colonização


O processo da colonização foi acompanhada de uma preparação
ideológica, e por isso se diz que a colonização ideológica é a mais
perigosa do que a colonização material ou económica. Quando se iniciara
as viagens de descobrimento, foram sempre acompanhadas pelos
missionários.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 60

9.2. Processo de conquista (colonização)


O processo de conquista de África, enquadra-se na política de
materialização da conferência de Berlim. A acumulação de capital, a
procura de matérias-primas e a exportação de capitais, constituíram
motivos gerais e fundamentais para o processo de colonização. Em África
o período que vai de 1886-1930, os capitais foram predominantemente
investidos no comércio e na exportação de matérias-primas para a
Europa. A partilha e a exploração do continente africano foram
precedidas de viagens de reconhecimento.

Entre 1890-1930, o colonialismo já estava implantado, recorrendo a


diplomacia, acção militar ou por meio de processo económico. O
processo não foi homogéneo, variou de caso para caso. Cada potência
instalou um sistema de administração indirecta ou directa de acordo com
as circunstâncias financeiras ou militar de dispunha.

Reconhecem-se as seguintes principais teorias sobre a partilha de África:

- Teoria de âmbito económico;

- Teoria de âmbito psicológico;

- Teoria de desenvolvimento social;

- Teoria de cristianismo evangélico;

- Teoria de atavismo social;

- Teoria de âmbito diplomático;

- Teoria de dimensão africana.

Segundo Cossa, a partilha de África pode-se assegurar dentro das suas


principais teorias em quatro grandes domínios a saber: a) económico; b)
psicológico; c) diplomático; d) dimensão africana.

a)- Económico – As teorias do domínio económico destacam o facto da


partilha de África se ter registado naquele período devido a evolução
registada no capitalismo.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 61

O capitalismo tinha evoluído da situação de livre concorrência para o


capitalismo monopolista. Uma das características desta fase é a
exportação de capitais, em oposição a situação anterior em que se
exportavam mercadorias. A ocupação efectiva de África ocorre dentro da
necessidade de garantir a segurança dos capitais que iam sendo
investidos.

b)- Psicológoco- É um conjunto de ideias que justificam a partilha de


África como a concretização de um princípio que defende a superioridade
da raça branca sobre as demais. São psicológicas porque esta
superioridade existe apenas na concepção dos que assim acham. Podemos
resumir esta concepção em três vertentes:

b.1)- Darwinismo social A obra de Charles Darwin sobre a origem das


espécies por meio de selecção natural defendia que os indivíduos mais
fortes sobreviviam em detrimento dos mais fracos. Assim os seguidores
de Darwin iam justificando a conquista das raças não evoluída pela raça
superior, evocando a teoria de selecção natural, em que o forte domina o
fraco na luta pela existência. Para eles a partilha de África punha em
destaque esse processo natural e inevitável.

b.2)- Cristianismo evangélico - Para o cristianismo evangélico, a teoria


de Darwin sob a origem das espécies era uma autêntica obra do diabo,
mas aceitou as implicações racistas da obra. Sustentava-se a necessidade
de conquista e partilha de África por razões filantrópicas e humanitárias.
Em certas partes de África, foram os missionários que prepararam o
terreno para a conquista imperialista.

b.3)– atavismo social É uma concepção sociológica segundo a qual a


tendência natural do homem é de dominar o próximo pelo simples prazer
de dominar. Assim o imperialismo seria um egoísmo nacional colectivo
isto é a disposição sem nenhum objectivo que um estado manifesta de
expandir-se ilimitadamente a força. As tendências psicológicas embora
possuam algumas verdades que ajudam a compreender a partilha de
África, não apresentam uma justificação convincente sobre porque da
partilha naquele exacto período.

c) Diplomático – Trata-se de um conjunto de teorias que apresentam


razões puramente políticas para a partilha naquele período. Podem ser
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 62

subdivididas em três a saber: c.1) prestígio nacional; c.2) equilíbrio de


forças; c.3) estratégia global.

d) – Teoria da dimensão africana - As teorias anteriores descritas,


abordam a África na perspectiva europeia que a encaram com o mero
objectivo á inteira disponibilidade do sujeito europeu. Por outras
palavras, factores eminentemente europeus são, na perspectiva das
abordagens anteriores, determinantes para a partilha sem reservar algum
espaço que aborde a atitude africana como factor contribuinte para a
partilha de África.

Apesar de a dimensão africana na partilha de África ter sido apresentada


já no período em que decorria a conquista e partilha de África, em 1893
na obra (the partion of África), de J.S.Keltie, predominou sempre a visão
eurocêntrica da conquista. Este autor defendeu que a partilha dos anos
1880 foi consequência de acções progressivas do continente. Na verdade,
a resistência constante africana aos intentos europeus precipitou a
partilha, tal como as rivalidades comerciais cada vez mais exacerbadas
das potências coloniais europeias levaram à partilha. Só na conjugação de
factores europeus e africanos se pode compreender e complementar as
teorias eurocêntricas e as de dimensão africana. Moçambique não foi uma
excepção às ambições do capitalismo europeu.

9.3. O sistema sócio - cultural da África pré - colonial


As correntes predominantes no período pré - colonial

Durante este período, prevaleceu a corrente eurocentrista que foi sendo


dominada até a independência dos países africanos e ela se baseava em
que no continente africano, particularmente na África propriamente dita,
antes da presença ou da colonização europeia, este continente não tinha
história; o que prevalecia eram os mitos que dificultavam e não
divulgavam a verdadeira história.

Apesar de muitos esforços realizados desde as primeiras décadas do


século XX, embora existir historiadores pioneiros africanos, muitos dos
historiadores não africanos (europeus), continuavam a afirmar que a
África não tinha história pois, a sua história não podia ser estudada
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 63

devido a ausência de fontes e, deste modo é impossível se fazer um


estudo científico.

Estudiosos não africanos sempre negaram a memória, segundo eles, a


tradição oral não é uma base sustentável para o conhecimento científico,
para aquilo que são os verdadeiros interesses de uma comunidade. Para se
escrever a história de África recorria-se a conhecimentos exteriores e
essas fontes não retratavam efectivamente a realidade absoluta do
continente mas sim, aquilo que os historiadores não africanos queriam
que fosse e a história era completamente adulterada.

De facto, para os historiadores não africanos havia uma recusa de que o


continente africano pudesse ser capaz de criar uma cultura; isso
prevaleceu durante anos e anos. Para os historiadores africanos
consideravam que a África não era tida como entidade histórica na razão
de os povos da África negra não conhecer a África branca. O sahara era
apresentado com frequência como um espaço impenetrável que constituía
uma barreira para as crenças, dificultando o intercâmbio de ideias,
hábitos e costumes entre a África negra e branca.

9.4. Processo de assimilação e a desconexão das sociedades colonizadas em


Africa.
Depois das independências, uma boa parte dos países de África passa a
emergir muitos historiadores onde com rigor estudam a história de África
com objectividade, utilizando as devidas precauções à história de África
originária partindo das suas fontes disponíveis (as fontes materiais e a
tradição oral).

Neste contexto aparece a história geral de África contida em VIII


volumes que são publicados pela UNESCO e tem um contributo
indispensável para o conhecimento verdadeiro da história de África.

Análise do sistema sócio - cultural pré - colonial africano

Foi graça aos historiadores africanos de vários países onde podemos ver o
resgate, o esforço de compilação de dados históricos onde permitiram o
acompanhamento do passado dos povos africanos no sistema sócio -
cultural.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 64

Sumário
O processo da colonização foi acompanhada de uma preparação
ideológica, e por isso se diz que a colonização ideológica é a mais
perigosa do que a colonização material ou económica. Quando se iniciara
as viagens de descobrimento, foram sempre acompanhadas pelos
missionários.

O processo de conquista de África, enquadra-se na política de


materialização da conferência de Berlim. A acumulação de capital, a
procura de matérias-primas e a exportação de capitais, constituíram
motivos gerais e fundamentais para o processo de colonização. Em África
o período que vai de 1886-1930, os capitais foram predominantemente
investidos no comércio e na exportação de matérias-primas para a
Europa. A partilha e a exploração do continente africano foram
precedidas de viagens de reconhecimento.

Entre 1890-1930, o colonialismo já estava implantado, recorrendo a


diplomacia, acção militar ou por meio de processo económico. O
processo não foi homogéneo, variou de caso para caso. Cada potência
instalou um sistema de administração indirecta ou directa de acordo com
as circunstâncias financeiras ou militar de dispunha.

Exercícios
1 – No que diz respeito a partilha de África, reconhecem-se várias teorias.
Identifique três delas e explica uma a tua escolha.

2 – Explica as razões ligadas ao não reconhecimento da África como


parte da história da humanidade durante séculos.

3 – Para se escrever a história de África recorria-se a fontes externas.


Quais foram as consequências dessa forma de reconstituir a nossa
história?

4 – quais são as principais dificuldades como se depara na reconstituição


da história de África?
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 65

Fazer actividades constantes na auto-avaliação

Auto-avaliação Entregar os exercícios: 1, 2 e 3.

Em quatro páginas faça um breve resumo da unidade em estudo.


HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 66

Unidade X
Os métodos utilizados para a
recomposição da história de
África

Introdução
Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam explicar os métodos
essenciais a utilizar para reconstituição da história africana tendo em
conta que África carece de fontes escritas.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Explicar os diferentes processos usados na reconstituição da


história de África. Hierarquização social das civilizações
africanas;
Objectivos
 Interpretar o significado da tradição oral na conservação histórica
da civilização africana.

10.1. Os métodos utilizados para a recomposição da história de África


A interdisciplinaridade - A utilização de muitas disciplinas, mas com
maior destaque a arqueologia que foi a que efectivamente detêm a chave
da história das culturas e das civilizações africanas, foi graças a utilização
da arqueologia que hoje há um consenso de que a África é o berço da
humanidade. Foi com a arqueologia que tomou o conhecimento de a
África foi o palco de uma das primeiras civilizações mais evoluídas, e
que foi também o palco das primeiras revoluções tecnológicas da nossa
história (período neolítico).

Foi a arqueologia que demonstrou que em África floresceu uma das mais
brilhantes civilizações do Mundo (o Egipto). Então, deste modo, o
continente africano contribuiu grandemente para a história do Mundo...
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 67

Tradição oral – Foi um instrumento indispensável para a reconstituição


da história de África; foi graça a ela que foi possível fazer o percurso dos
diferentes povos quer no espaço quer no tempo; foi com ela que pudemos
perceber qual era a vida do mundo africano, onde foi possível detectar os
traços originais, os verbos africanos que fundamentam a cultura do
continente africano.

De facto, a herança africana marcou de maior ou menor importância os


modos de pensar, de estar, de agir, de sentir de algumas noções do
ocidente. A nossa história, a nossa cultura não só prevaleceu no
continente africano como também transpôs para o ocidente; isto
aconteceu de várias maneiras, influenciando na maneira de pensar, de
agir, de sentir, de sonhar entre outros.

A história geral de África através da utilização de dados científicos


constituiu o elemento capital para o reconhecimento do património
cultural africano; somos um povo com a nossa maneira de ser, temos a
nossa cultura e interagimos com o planeta terra.

A partir dos finais do século XII até finais do século XVI, a África vai
conhecer um desenvolvimento simultâneo em todas as regiões do ponto
de vista político, económico e sócio - cultural. Estes quatro séculos
merecem ser chamados de “grande época da África negra” segundo Ki-
Zerbo, e diz-se que o homem é o animal histórico, logo, o homem
africano não escapa dessa definição.

O homem africano é ele que faz a sua própria história, onde ele deve ter
em conta sobre a sua realidade e os seus feitos sócio - culturais. No seu
quotidiano vai pondo em prática a sua capacidade criativa e,
consequentemente, já está a manifestar a sua própria cultura, e isto
manifesta-se de diversas maneiras tais como: produzir alimentos, é uma
manifestação cultural onde encontramos as diferentes formas de
confeccionar alimentos; manifesta-se também através dos direitos
consuetudinários (o direito que não está escrito, aplica-se na vida prática
no dia a dia).

Uma das formas de manifestações culturais é a organização política, a


produção artística, as celebrações religiosas, os ritos e outras cerimónias;
tudo isso faz parte da cultura do homem africano.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 68

10.2. Organização social africana


A frente estava um chefe que era rodeado por um conselho de anciãos
(velhos), com experiência de vida; esse chefe tinha poderes políticos,
económicos e religiosos, e as funções políticas nas sociedades africanas
eram exercidas pelos homens daí a inferiorização por parte das mulheres.

Existiam dois tipos de sociedades; as que adoptavam linhagem patrilinear


e as que adoptavam a linhagem matrilinear. Terra ou o solo foi sempre
um património da linhagem e nunca uma propriedade privada cabendo ao
chefe distribuir periodicamente essas terras aos membros da sua
linhagem. Em todas as sociedades africanas de uma forma geral, as
mulheres sempre constituíam uma categoria de inferiorização em relação
ao homem; a mulher africana era considerada como uma mão-de-obra.
Nas mãos de um polígamo, constituíam um bem de permuta (sexual) do
homem.

A mulher africana sempre foi vítima de mutilação corporal e isso


prevaleceu até aos dias de hoje em muitos países da África ocidental. Mas
isso não significa que a mulher não tinha privilégio, ela tinha a liberdade
de visitar a família, tinha direitos políticos, espirituais e sexuais, tinha o
direito de escolha do seu parceiro, e é por isso que encontramos em
algumas sociedades as rainhas, mas são casos raros ou excepcionais. Em
todas as sociedades africanas era notória a existência de duas classes
sociais:

1 – A dominante - (aristocracia) era constituída por indivíduos da


linhagem vencedora (em casos de guerras) ou aquela linhagem que
residia há bastante tempo no território e tinha uma supremacia política
sobre as outras e sob a liderança de um chefe com designação de
(Mambo, Fumo, ou imperador) dependendo dos casos.

2 – Dominados – Estes estavam abaixo da aristocracia, eram homens


livres e estavam constituídos por agricultores, camponeses com a função
de produzir a alimentação, a riqueza para a aristocracia, e, em algumas
sociedades, existiam escravos domésticos.

Com as migrações, as guerras e com o desenvolvimento das trocas


comerciais com o mundo árabe em particular, começou a surgir as
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 69

grandes diferenciações regionais a nível cultural, linguístico, dos


costumes etc.

10.3. Cultura
As crenças mágico - religiosas e outros aspectos ideológicos
desempenharam nas sociedades africanas um papel muito importante
constituindo uma arma fundamental no poder de coesão e a aparente
imobilidade. Nessas sociedades era impossível falar-se de greves, mas
não havia polícias, a sociedade vivia de forma harmoniosa, mas havia a
exploração e o chefe era visto como elo de ligação entre os vivos e os
mortos.

Era o chefe que fazia as cerimónias para uma boa colheita, de invocação
das chuvas, fazia nos ritos, e era tido como Deus na terra. Não
corresponde verdade afirmar-se que África não tenha história, ela tem a
sua história diferentemente da europeia, mas como qualquer sociedade, a
sua história contribui também para o desenvolvimento ou evolução como
outras sociedades.

Sumário
A interdisciplinaridade e a Tradição oral constituem métodos utilizados
para a recomposição da história de África pois na interdisciplinaridade,
a utilização de muitas disciplinas, mas com maior destaque a arqueologia
que foi a que efectivamente detêm a chave da história das culturas e das
civilizações africanas, foi graças a utilização da arqueologia que hoje há
um consenso de que a África é o berço da humanidade. Foi com a
arqueologia que tomou o conhecimento de a África foi o palco de uma
das primeiras civilizações mais evoluídas, e que foi também o palco das
primeiras revoluções tecnológicas da nossa história (período neolítico).

Foi a arqueologia que demonstrou que em África floresceu uma das mais
brilhantes civilizações do Mundo (o Egipto). Então, deste modo, o
continente africano contribuiu grandemente para a história do Mundo.

E a tradição oral, Tradição oral foi um instrumento indispensável para


a reconstituição da história de África; foi graça a ela que foi possível
fazer o percurso dos diferentes povos quer no espaço quer no tempo; foi
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 70

com ela que pudemos perceber qual era a vida do mundo africano, onde
foi possível detectar os traços originais, os verbos africanos que
fundamentam a cultura do continente africano.

Exercícios
1 - A sociedade africana estava organizada em linhagem ou famílias
alargadas. Explica por tuas palavras o significado desta frase.

2 – A arqueologia que foi a que efectivamente detêm a chave da história


das culturas e das civilizações africanas, contribuiu deveras a sua
reconstituição. Concorda? Comente.

3 – Identifique outros processos usados para a reconstituição da nossa


história.

4 – A terra ou o solo foi sempre um património da linhagem e nunca uma


propriedade privada. Diga a quem cabia a sua distribuição?

Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação.

Auto-avaliação Entregar os exercícios: 2, 3 e 4.

Em quatro páginas faça um breve resumo da unidade em estudo.


HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 71

Unidade XI
O problema racial e a
hierarquização da sociedade e a
Estrutura social depois da
Colonização.

Introdução
Nesta unidade pretende-se que o estudante saiba explicar e identificar a
estrutura hierárquica nas sociedades moçambicana depois da colonização.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Identificar as classes sociais em Moçambique no período


Objectivos colonial;

 Explicar as principais actividades e sua distribuição por classes.

12.1. A Estrutura Social depois da Colonização


12.1.1. Caso de Moçambique
No processo da colonização de Moçambique predominavam duas classes
bem diferentes:

1) A burguesia europeia – grande burguesia;

2) O campesinato africano

Burguesia europeia – Classe dominante cujo interesse era a exploração


mais directa dos recursos moçambicanos.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 72

Campesinato – Constituía a maioria da população moçambicana, classe


dominada com a missão de fornecer o trabalho migratório nas plantações
e nas minas. A burguesia europeia e o campesinato africano eram as
principais camadas da nova estrutura colonial cujo conflito contínuo
consistia na fuga maciça e a resistência contra os trabalhos forçados.

Para além dessas camadas existiam outras camadas chamadas


secundárias. Uma delas é a burguesia comercial local; estava sedeada em
Lourenço Marques, e a sua principal função era de importar e exportar
produtos de e para o campesinato, tinha ligações fortes de interesse da
burguesia da África do sul e da Europa.

Burguesia agrícola local - Faziam parte os colonos interessados na


exploração dos camponeses das suas melhores terras e transformá-los em
trabalhadores forçados e sazonais nas plantações e machambas.

Na região sul do país registava-se conflitos entre os interesses dessa


camada com o da grande burguesia devido a insistência da burguesia
mineira em reservar a maioria dos trabalhadores para as suas minas.

Fabricadores permanentes qualificados e semi – qualificados

Constituídos por mestiços e negros eram os chamados assimilados e


filhos da burguesia.

12.1.2. Descriminação racial na estrutura colonial


A descriminação racial era parte inerente da estrutura colonial definindo a
população negra como principal fonte de riqueza a nova economia.

Nos finais do séc. XIX, os representastes do colonialismo em


Moçambique, diriam que o negro não era e nem devia ser igual ao
português, daí o seu emprego no trabalho obrigatório.

Em 1890, estabeleceu – se que os novos arrendatários dos prazos seriam


somente europeus e os indígenas seriam fornecedores do trabalho
forçado. Em 1891, nas cidades moçambicanas foram promulgados os
primeiros regulamentos de passe para evitar a escolha livre do emprego e
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 73

que todo o negro era obrigado a exibir o seu passe e em contrapartida, os


assimilados eram isentos deste documento.

As condições para se ser assimilado

Um africano que pretendesse ser assimilado e assim se tornar civilizado,


devia requerer a um tribunal local onde de4via provar a esse tribunal que
domina a língua portuguesa e da fé cristã, ter uma estabilidade financeira
e que estava disposto a abandonar os costumes nativos (isto é, não se
identificar como africano).

O colonialismo optou ou adoptou essa política de assimilação como


forma de evitar a aderência em massa a luta de libertação nacional,
porque lutar era recusar ser assimilado. Havia uma circular que proibia a
não ministrarão a mais que a 3ͣ ͣ classe elementar
. No tempo da companhia
de Moçambique, cuja capital era Beira, os passeios das ruas destinavam-
se exclusivamente a europeus e a contraversão desta ordem era punida
com palma toadas (repreensão, violência física).

Em 1907 foi promulgado um regulamento apenas para os indígenas, que


reforçava o asseguramento do fornecimento regular do trabalho forçado
desse grupo de indígenas.

Quem era o indígena – Eram considerados indígenas, os indivíduos de


raça negra ou seus descendentes que nascidos em Moçambique ou
vivendo habitualmente em Moçambique ainda não possuam a instrução e
os hábitos individuais e sociais pressupostos para a aplicação de direitos
públicos e privados dos cidadãos portugueses.

Portanto, indígenas são os não sujeitos de direitos, mas objectos de uma


política determinada sem a sua participação. Mouzinho de Albuquerque
em 1898 dizia “ o melhor que temos a fazer para educar e civilizar o
indígena é desenvolver praticamente as suas aptidões no trabalho manual,
e aproveitá-lo para a exploração da província”. Estas práticas começaram
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 74

a ser atenuadas nos anos 60, início ou emergência da libertação em


África.

12.1.3. Movimento associativo e literário


Este movimento passou a questionar os aspectos de indo - social, dentro
dos quais destacamos:

- Contra a insuficiência da educação para os não brancos;

- Melhoria de qualidade e nível de ensino para se concorrer com os


imigrantes europeus;

- Contra a intensificação das barreiras sociais no sistema educacional;

- Pela cessação total dos estrangeiros europeus, asiáticos que, ocupavam


os postos de trabalho em detrimento dos moçambicanos.

Sumário
No processo da colonização de Moçambique predominavam duas classes
bem diferentes a burguesia europeia e o campesinato africano. A
Burguesia europeia – Classe dominante cujo interesse era a exploração
mais directa dos recursos moçambicanos. E o Campesinato, constituía a
maioria do população moçambicana, classe dominada com a missão de
fornecer o trabalho migratório nas plantações e nas minas. A burguesia
europeia e o campesinato africano eram as principais camadas da nova
estrutura colonial cujo conflito contínuo consistia na fuga maciça e a
resistência contra os trabalhos forçados.

Para além dessas camadas existiam outras camadas chamadas


secundárias. Uma delas é a burguesia comercial local; estava sedeada em
Lourenço Marques, e a sua principal função era de importar e exportar
produtos de e para o campesinato, tinha ligações fortes de interesse da
burguesia da África do sul e da Europa.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 75

Exercícios
1 - Identifique as principais classes sociais que vigoraram em
Moçambique no tempo colonial.

2 – Menciona quem compunha cada uma das classes sociais que


mencionaste.

3 – Quais eram as condições exigidas para se ser assimilado?

4 – Achas que o ser assimilado de nada teria contribuído para a luta de


libertação?

5 - Em 1891, nas cidades moçambicanas foram promulgados os primeiros


regulamentos de passe. Diga com que objectivo?

Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação.

Auto-avaliação Entregar o exercício: 1, 2, 4 e 5.

Em quatro páginas faça um breve resumo da unidade em estudo.


HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 76

Unidade XIII
As antigas sociedades
moçambicanas (Reinos, Estados e
Impérios) Colonização e a
formação da sociedade prazeira
no vale do Zambeze.

Introdução
Nesta unidade pretende-se que o estudante saiba explicar o processo que
permitiu a formação das civilizações prazeiras em Moçambique.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Definir que um prazo;


Objectivos  Indicar as condições permitiram a instalação de prazos em
Moçambique;

 Descrever o tipo de estrutura socio-política e organizacional


adoptado pelos prazeiros.

13.1. Origem do sistema de prazo


Este sistema é resultante da penetração política - militar e económica do
colonialismo português no estado do Muenemutapa que dá origem aos
prazos.

Prazos, é o resultado dos mercadores, guerreiros, soldados e aventureiros


portugueses, que vão se fixar em Cuama (nome primitivo do rio
Zambeze), onde vão ocupar grandes extensões de terras. Prazo
inicialmente foi o resultado de terras conquistadas por esses homens, e
terras que os chefes locais lhes deram em troca de ajuda militar contra
outros chefes locais.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 77

O termo prazo aparece pela primeira vez no século XVII, oriundo de


Portugal ou da Índia. Neste século XVII, ter-se-ia instituído Índia a
prática de aforar ou conceder terras da coroa portuguesa obtidas por
conquistas na condição obrigatória do foréiro viver nelas e ter homens
preparados militarmente para a sua defesa.

Para a Índia chamou-se de prazo a concessão porque a terra era concedida


mediante uma renda anual e na durabilidade de duas ou três vidas (duas
ou três gerações), findo o prazo a terra voltava à coroa.

Prazo na situação moçambicana – Pequenas unidades políticas que


eram estruturadas dentro do império por mercadores de origem
portuguesa ou indiana.

13.1.1. Origem dos Prazos no Contexto Moçambicano


As terras onde foram erguidas estas pequenas unidades tiveram
essencialmente três origens:

- Terras doadas pelos chefes africanos ao governo português, essa era


uma das formas de aquisição de terras para a formação de prazos.

- Terras conquistadas aos chefes por exército de mercadores ricos;

- Terras compradas aos chefes africanos por mercadores.

Razões da obrigatoriedade da renovação das concessões de três em


três gerações e da transferência de propriedade por via feminina em
caso de morte dos titulares:

Antigamente era anormal que uma branca casasse com um negro e isso
permitia o controlo dos brancos sobre essas terras, enquanto que era fácil
um colono casar-se com uma mulher negra; e caso isso acontecesse, a
terra voltaria para as mãos dos moçambicanos.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 78

13.1.2. Dificuldades que o sistema enfrentou desde o início


A instituição prazéira enfrentou desde o início uma série de dificuldades
que vão se circunscrever pelas seguintes razões:

- A maioria dos prazéiros eram criminosos, opositores do regime e


desertores do exército que cumpriam suas penas em Moçambique. A
coroa não tinha controlo sobre essas pessoas.

- Na prática, a coroa portuguesa nunca marcou presença política nessas


terras porque quem as sustentava eram os opositores do regime.

- A inferioridade numérica e o isolamento a que os prazéiros estavam


votados, nunca conseguiram impor a cultura; eram africanizados, (no
lugar de civilizar, eles é que eram civilizados).

- A autoridade portuguesa estabelecida principalmente na costa era


praticamente impotente de obrigar aos prazéiros na obediência das leis da
coroa.

- As maiorias das terras dos prazos haviam sido obtidas sem a


concorrência do governo português.

- O poder militar crescente dos prazos reduzia a capacidade pressão do


governo sobre eles.

- A autonomia dos prazéiros em relação a autoridade portuguesa era em


muitos casos quase absoluta, não havia nenhuma subordinação entre o
prazo e a coroa portuguesa. Se ele as conseguiu sem a participação do
governo português, porquê é que ele havia de se submeter às leis
portuguesas?

O resultado prático da instituição prazeria foi ligeiramente alcançado mas


a medida que os tempos iam passando, o sistema veio a desenvolver-se
como uma instituição completamente diferente do que estava previsto.
Isto é, em vez de funcionar em função dos interesses da monarquia
portuguesa, o interesse dos prazéiros passou a ser predominantemente
egocêntrico.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 79

Do ponto de vista administrativo os prazéiros gozavam de uma


independência quase total, eram eles que ditavam os impostos a serem
pagos pela população africana residente dentro do prazo e seus arredores.
Eram frequentes os casos de condenação a morte à revelia da legislação
da coroa (ao bel prazer); tinham os seus exércitos constituídos por
escravos através de guerras de conquistas e ou de dívidas que se
entregavam ao senhor prazéiro. Não respeitava a ninguém; (nem aos
chefes africanos, nem as autoridades portuguesas); colaboravam ou
faziam guerra com uns e com os outros).

13.1.3. Estratégias adoptadas do ponto de vista sócio - cultural


Dentro do sistema prazéiro para além da classe dominante (senhores de
terras), existia a classe donde se destacam os escravos com dois grandes
grupos com funções diferentes: A - chicunda e escravos domésticos, em
número de (4 a 5000 mil homens) adquiridos a partir de trocas por panos
e missangas, ou oferecidos a partir da ajuda militar aos chefes locais, ou
ainda em períodos de fome, os camponeses locais aceitavam tornar-se
escravos para não morrer. Outros se ofereciam como escravos quando
fugiam doutras aldeias por terem praticado crimes.

A-chicunda – É um termo militar que significava vencer. Estes tinham


como função:

- Garantir a defesa dos prazos;

- Cobrar impostos;

- Captura de escravos;

- Controlavam as actividades dos fumos;

- Contribuíam para a manutenção dos prazos;

- Contribuíam para o alargamento dos prazos através de conquistas.


HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 80

Ideologia

Os prazos aproveitaram das práticas mágicas - religiosa dos nativos para


garantir a reprodução das relações de produção. Usavam muavi para
descobrir a culpabilidade de alguém acusado de feitiçaria. Na morte dum
prazéiro, realizava-se uma cerimónia tipo camente local, (o chiriro). Os
prazéiros recorriam aos adivinhos para realizar qualquer negócio ou
viagem que é uma prática meramente africana. Em fim, adquiriram
hábitos e tradições africanas, tornaram-se chefes e escravizaram as
populações dos seus territórios.

13.1.4. A extinção dos prazos


Em 1832 a coroa portuguesa promulgou um decreto no qual extinguia os
prazos da coroa. A 22 de Dezembro de 1854, um outro decreto extinguia
pela segunda vez os prazos da coroa mandando reverter para o estado
todas as terras possuídas em três gerações. Nem com isso a situação
resolveu-se; continuaram a desenvolver as suas actividades como se nada
tivesse acontecido. O governo colonial em Moçambique já recentia a
incapacidade de controlar a situação.

A decadência dos prazos têm a ver com os factores endógenos ou


internos e não com medidas tomadas através de Portugal. Foram os
próprios prazéiros responsáveis pelo seu declínio. Vários factores
conjugados contribuíram para a decadência dos prazos dos quais
podemos destacar:

- A intensificação do tráfico de escravos na segunda metade do século


XVIII, levou os senhores de terras a exportar os camponeses que
constituíam suporte para a produção de alimentos e elevação da economia
prazéira e, os posteriormente os a - chicundas que protegiam militarmente
os prazos, os quais se revoltam e atacam os mesmos prazos.

- Entre 1820/1835, a força do Bárue e Monomotapa atacam os prazos.

- A invasão Nguni (de Zwanguendaba e Nguna Masseko) nas regiões de


Sena, Manica, Báruè e Lualo, veio agravar a situação, tendo provocado o
despovoamento do vale tornando-o vulnerável.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 81

- Em 1840, 28 dos 46 prazos até então existentes foram ocupados


passando a pagar tributo ou prestar vassalagem aos Gaza-ngunis.

Sumário
Este sistema é resultante da penetração política - militar e económica do
colonialismo português no estado do Muenemutapa que dá origem aos
prazos.

Dentro do sistema prazéiro para além da classe dominante (senhores de


terras), existia a classe donde se destacam os escravos com dois grandes
grupos com funções diferentes: A-chicunda e escravos domésticos, em
número de (4 a 5000 mil homens) adquiridos a partir de trocas por panos
e missangas, ou oferecidos a partir da ajuda militar aos chefes locais, ou
ainda em períodos de fome, os camponeses locais aceitavam tornar-se
escravos para não morrer. Outros se ofereciam como escravos quando
fugiam doutras aldeias por terem praticado crimes.

Exercícios
1 - O que entende por sistema de prazos?

2 - Diga aonde Portugal teria buscado a experiência do sistema de prazos


e com que objectivos?

3 – Qual era a base de reprodução das classes prazéiras?

4 - Quem eram os a - chicundas?

5 - Os prazéiros adoptaram o sistema ideológico africano. Diga em que


consistiu?

Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação.

Auto-avaliação Entregar os exercícios: 3,4 e 5.

Em quatro páginas faça um breve resumo da unidade em estudo.


HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 82

Unidade XIV
A transformação dos prazos em
estados militares do vale do
Zambeze

Introdução
Nesta unidade pretende-se que o estudante saiba explicar o processo que
partindo da decadência dos prazos, permitiu a formação de estados
similares (os estados militares do vale do Zambeze).

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Descrever o processo da transformação dos prazos em estados


Objectivos militares;

 Identificar as principais causa que contribuíram na extinção


desses estados e introdução da economia do tipo capitalista em
Moçambique.

14.1. Estados militares do vale do Zambeze


No processo de desagregação dos prazos, incubava-se outro fenómeno.
Famílias luso-afro-portu-islamizadas, reagrupando a-chicundas
dispersos em troca de tecidos, bebidas espingardas, teceram laços de
parentesco com famílias de aristocratas locais e fundaram poderosos
estados mais extensos em todo vale do Zambeze até a foz; a destacar o
estado militar de Massangano, ( da família cruz ); Gorongosa (de Manuel
António de Sousa); Macanga (dos Caetanos); Massingir (de Vaz dos
Anjos); Maganja da Costa ( de João Bonifácio da Cilva). A oeste de Tete
até Zâmbia pertencia a José do Rosário Andrade, José dos Anjos Lobo,
Firmino Luís Germano e outros.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 83

A partir das viagens de Livingston, a presença da British South Africa


Company nos territórios Shonas, a fixação dos missionários no Chire,
Portugal compreendeu que se tratava da expansão capitalista mundial,
destacando-se os interesses da Inglaterra e Alemanha. Para assegurar a
posse da estratégica via fluvial do Zambeze, Portugal tentou aportuguesar
a nobreza escravocrata zambeziana distribuindo-lhe cargos e fechando
olhos à prática da venda de escravos embora proibida pela Inglaterra que
desde 1840 patrulhava o Índico em auxílio a Portugal contra o tráfico de
escravos.

A divisão do globo terrestre pelas grandes potências encontrara uma


primeira formulação jurídica na conferência de Bruxelas (1876) e a
segunda na conferência de Berlim (1884/5). Aqui se decidiu que o
estatuto de potência colonizadora tinha de passar necessariamente pela
ocupação efectiva. Para implementar essa decisão, Portugal tentou sem
êxito atacar Macanga de Chissaca-Muturi entre 1849/1850. Como cada
dinastia fazia usualmente guerras às outras, o vale do Zambeze era uma
espécie de área de lutas entre senhores feudais com objectivo de cada um
defender os seus interesses.

Para se manter no vale, Portugal fez alianças com várias dinastias do vale
como a de Vaz dos Anjos; de Cruz; de Manuel A. De Sousa e expulsaram
os Ngunis do vale e Sousa ficou com Báruè. Apesar disso, essas dinastias
(de muzungus), só aceitariam a soberania da coroa portuguesa caso esta
caucionasse o tráfico de escravos; mas desde 1840, a Inglaterra (maior
potência capitalista de então), pressionava Portugal no sentido de pôr
termo ao tráfico de escravos.

Essas duas pressões sobre Portugal, levou a coroa a congregar esforços


militares para a ocupação efectiva de Moçambique, principiando pelos
estados militares do vale do Zambeze. É deste modo que se afirma que as
guerras promovidas pelas antigas dinastias dos Monomomotapa, invasão
Nguni as guerras de ocupação efectiva portuguesa, a abolição da venda
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 84

de escravo que era a base de sustentação dos prazos (nessa altura estados
militares), constituíram causas principais da decadência destes estados.
Em 1886 caiu o Estado de Massangano; em 1889 foi a vez da Macanga;
em 1892 caiu Gorongosa de Manuel António de Sousa. Na ponta final do
século, 1898, foi a vez de Tete, Zumbo, Maganja da Costa entre outros.

14.2. Consequências da extinção dos estados militares do vale do


Zambeze
A decadência dos estados militares do vale do Zambeze permitiu a
penetração da coroa portuguesa e o seu enraizamento, tendo montado
uma administração com estruturas pró - portuguesas (régulo, fumos
sipaios, cabos de terras etc); montagem duma estrutura económica do
modo capitalista (companhia de Moçambique, companhia do Niassa,
companhia da Zambézia, companhia do Boror, companhia do madal,
companhia de Sena sugar Stets, entre outras instituições económicas.

No bojo das operações militares desencadeadas por Portugal, vinha


escrita uma nova história de exploração para Moçambique no caminho da
expansão imperialista na Zambézia que iria consistir em instalar
companhias de plantações e no uso de trabalho forçado; daí ter nascida a
companhia du Zambeze (mais tarde companhia de Moçambique) e outras.

Sumário
No processo de desagregação dos prazos, incubava-se outro fenómeno.
Famílias luso-afro-portu-islamizadas, reagrupando achicundas
dispersos em troca de tecidos, bebidas espingardas, teceram laços de
parentesco com famílias de aristocratas locais e fundaram poderosos
estados mais extensos em todo vale do Zambeze até a foz; a destacar o
estado militar de Massangano, (da família cruz); Gorongosa (de Manuel
António de Sousa ); Macanga (dos Caetanos); Massingir (de Vaz dos
Anjos ); Maganja da Costa (de João Bonifácio da Cilva). A oeste de Tete
até Zâmbia pertencia a José do Rosário Andrade, José dos Anjos Lobo,
Firmino Luís Germano e outros.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 85

Exercícios
1 - NO processo de desagregação dos prazos, incubava-se outro
fenómeno. Diga a que fenómeno se refere?

2 - A decadência dos estados militares do vale do Zambeze teve as suas


consequências; mencione duas.

3 – Menciona os principais estados militares do vale do Zambeze que


conheces.

4 - No bojo das operações militares desencadeadas por Portugal, vinha


escrita uma nova história de exploração para Moçambique no caminho da
expansão imperialista na Zambézia. Diga como foi implementada essa
exploração?

Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação.

Auto-avaliação Entregar os exercícios: 1 e 3.

Em quatro páginas faça um breve resumo da unidade em estudo.


HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 86

Unidade XV
Estados Marave e o processo de
colonização

Introdução
Nesta unidade pretende-se que o estudante saiba identificar e explicar os
motivos que permitiram a coexistência pacífica entre os Bandas e os
Phiris na fundação do estado dos Maraves.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Explicar o processo da formação do estado dos Maraves e


identificar as causas que permitiram a coexistência pacífica entre
os Bandas e os Phiris;
Objectivos
 Interpretar o carácter do funcionamento das classes sociais
Maraves;

 Identificar a base de reprodução da sua classe social.

15.1. A Sociedade Marave


O termo Marave designa uma formação Etno- Linguístico e sabe-se
muito pouco sobre a sua origem. Nem Nyanja nem os Cheua designavam
ou designam Marave. Pensa-se que o termo designasse ao grupo
associado ao clã Phiri.

Na medida em que a Dinastia dos Carongas passava a ter como satélite os


estados de Undi, de Lundu, Kaphwiti e Bwi tal como a sul do Zambeze, o
estado de Menemutapa tinha como satélite os estados e Senda Dussanga,
Manica e Baruè. Todos os estados Marave, onde o aparelho do estado se
confundia com a família reinante eram governados por membros oriundos
do Clã original Phiri.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 87

15.2. Origem dos Estados Marave


Originaram-se quando o povo oriundo de Luba, do Congo, chegou ao sul
da actual república do Malawi no período compreendido entre 1200-
1400. Estes povos na sua migração para a região sul do Malawi (Chire e
Luangua), foram dirigidos pelo clã phiri. Dentro do clã phiri (por volta de
1600) se destacava a linhagem Karonga (dominante). E, até 1530, altura
da chegada dos portugueses, os maraves já se encontravam estabelecidos.

A linhagem Karonga conheceu nesta época diversos problemas de


sucessão dinástica. Houve luta de poderes dentro da linhagem que
levaram a fragmentação, isto é, divisão da linhagem, donde apareceram
outras sub-linhagens, tendo estas sub-linhagens fixado a oeste, sul, e
sudeste da região ocupada pelos karongas. Assim, Undi (irmão de
caronga) moveu-se para oeste e estabeleceu a hegeminia da sua linhagem
sobre os povos cheuas e nsengas abrangendo o norte de Tete. Kaphwiti e
Lundo vão dominar as populações do vale do Chire. Assim foram
fundados como estados satélites dos karongas o estado de Undi, Lundo,
kaphwiti e estado de Biwi.

15.3. Sua Cultura


Entre os maraves era importante por sua vez os cultos dedicados às
entidades supremas. Os mais importantes desses cultos possuíam
oficiantes, geralmente mulheres conhecidas por (sarima, mulher espírita
que com a unificação com os locais passou a ser do culto makewana
nos lundos cuja função passou a ser unificadora). Quer dizer, para
manter tal união era obrigatório que os chefes karongas casassem as
muaris bandas e, os filhos gerados desse casamento, tornavam-se chefes.

As populações sob liderança de vários clãs como banda, praticavam em


santuários, vários cultos ligados à fertilidade das terras, à invocação da
chuva e ao controlo das cheias. Os cultos importantes no Marave eram
cultos dedicados às entidades supremas.

Os cultos possuíam oficiantes geralmente por mulheres, conhecidas por


sarimay por exemplo, no caso da mulher espírita do culto de muali ou ao
culto e Makewana integrado no estado de Undi.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 88

15.4. A coexistência pacífica entre os Phiris e os Bandas


Quando os phiris chegaram à região entre o Chire e o Luangua,
encontraram populações autótones sob lidernça de vários clãs, como é o
caso dos bandas, que praticavam em santuários alguns cultos ligados à
fertilidade de terras, à invocação das chuvas e ao controlo das cheias,
dedicados a entidades supremas como o culto de Muári ou (muáli), ou
ainda o culto cheua de chissupi, ora a veneração de espíritos naturais etc.

Se a fixação dos phiris não foi aparentemente violenta, (isto é, do tipo


militar), deveu-se no entanto a absorção gradual por estes dos cultos
nativos. Pode se concluir que o gradual domínio dos territórios através da
absorção e adaptação da ideologia local, foi acompanhado pala prática de
casamentos que por vezes, o chefe phiri casado com irmã dum chefe
local, dava a este sua irmã para esposa, como se de troca se tratasse.
Desta forma, os phiris passaram a venerar os espíritos dos Bandas e os
Bandas aos espíritos dos phiris.

15.5. A Classe dominante


A classe dominante reproduziu-se nos estados maraves através de duas
fontes fundamentais: O pagamento de tributo pelas populações e controle
do comércio a longa distância. Ao nível de todos os estados maraves, os
tributos eram de diversas formas. Podiam ser simbólicos a semelhança do
que ocorria nos estados dos muenemutapas através de entrega de penas de
pássaros, peles de certos animais considerados importantes como as de
gato-bravo, peles de leões, de leopardos etc. Outros tributos distinguiam-
se em dois grandes grupos: tributos rituais e tributos regulares. Os
tributos rituais constituíam tributos pagos pelo facto de a aristocracia
orientar cerimónias rituais ou resolver problemas. Enquanto isso, os
tributos regulares eram regularmente e constituídos por produtos de valor
como a entrega de marfim, panos, ferro, produtos alimentares, tabaco,
para alem de prestação de trabalhos nas machambas da classe dominante
e construir as suas casas.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 89

15.6. Aparelho de estado


O aparelho de estado marave era mais complexo em relação a o dos
muenemutapas. Em cada aldeia havia um chefe (mwini-mudzi); acima do
chefe da aldeia estava o chefe territorial (mwini-dzco) e, por cima desse,
o chefe provincial que controlava o território denominado (mambo).
Acima do mambo estava o rei que podia ser (Undi, Lundo, e o Karonga).
Para além de guardas presidenciais, estavam outros altos funcionários.

Os Phiris passaram a controlar o campo político-administrativo no poder


e os Bandas a base ideológica. Por isso, o controle das cheias e
cerimónias de colheitas e outras, é o clã banda que vai dirigir na pessoa
de uma mulher escolhida dentro das comunidades bandas por ser uma
sociedade matrilinear. Foi a partir desta conjugação que o clã Phiri
conseguiu dominar o clã Banda através da divisão de poderes e através de
casamentos entre as duas divisões socio-políticas.

15.7. O processo de colonização


O processo de colonização iniciou nos meados do séc. XVII, foi
intensificado pela penetração duma nova geração de mercadores no fim
do séc. XVIII. Neste séc, penetrou um dos mercadores conhecido por
Gonçalo Caetano Pereira o fundador da dinastia prazeira e do estado
Macanga chegou a casar-se com uma filha do Undi reinante e começou a
sua vida como prospector de ouro na mina de Javã, utilizando mulheres
escravas acabando de assenhorar de muitas províncias do estado dos
Undi. Ainda mais o aparecimento dos Unguni oriundos do Nfecane, um
extenso movimento e migrações encetado na Zulundia devido à lutas
violentas de inter-linhagens estes dominados por descendentes de
Zwangendaba e Ngwana Maseko, incluíram os territórios de Tete e
Niassa. Os Ngunes fizeram o seu aparecimento no estado dos Undi em
1835, tendo atravessado o Zambeze entre chicoa e Zumbo liderados por
Zwa Ngendaba Jere.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 90

Sumário
Quando os phiris chegaram à região entre o Chire e o Luangua,
encontraram populações autóctones sob liderança de vários clãs, como é
o caso dos bandas, que praticavam em santuários alguns cultos ligados à
fertilidade de terras, à invocação das chuvas e ao controlo das cheias,
dedicados a entidades supremas como o culto de Muári ou (muáli), ou
ainda o culto cheua de chissupi, ora a veneração de espíritos naturais etc.

Se a fixação dos phiris não foi aparentemente violenta, (isto é, do tipo


militar), deveu-se no entanto a absorção gradual por estes dos cultos
nativos. Pode se concluir que o gradual domínio dos territórios através da
absorção e adaptação da ideologia local, foi acompanhado pala prática de
casamentos que por vezes, o chefe phiri casado com irmã dum chefe
local, dava a este sua irmã para esposa, como se de troca se tratasse.
Desta forma, os phiris passaram a venerar os espíritos dos Bandas e os
Bandas aos espíritos dos phiris.

Exercícios
1 - A linhagem Karonga conheceu na época de 1530 diversos problemas
de sucessão dinástica. Diga quais foram as consequências dessa crise?

2 - Se a fixação dos phiris não foi aparentemente violenta, (isto é, do tipo


militar), a que se deveu?

Ao nível de todos os estados maraves, os tributos eram de diversas


formas

3 - Pode se concluir que o gradual domínio dos territórios através da


absorção e adaptação da ideologia local, foi acompanhado pala prática de
casamentos. De que forma se realizavam esses casamentos?

4 – Quais são os campos que passaram sob controlo de cada uma das
partes?
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 91

Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação.

Auto-avaliação Entregar os exercícios: 1, 3 e 4.

Em quatro páginas faça um breve resumo da unidade em estudo.


HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 92

Unidade XV
Estado dos Mwenemutapas e o
processo de colonização

Introdução
Nesta unidade pretende-se que o estudante saiba explicar o processo da
formação do estado dos mwenemutapas e a sua organização socio-
política, assim como a interpretação das causas que permitiram a
dependência deste estado a estrangeiros e, por fim, a sua expulsão do
império.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Explicar minuciosamente o processo da formação do estado dos


mwenemutapas;
Objectivos
 Identificar a personalidade que fundou este estado;

 Caracterizar a base económica do estado dos mwenemutapas.


16.1. Surgimento do Estado dos Mwenemutapas


Este estado nasce como consequência da desintegração do estado do
Zimbabwe por volta de 1450, na sequência da invasão pelo exército de
Mutota entre 1440-1450, que vai culminar com a estruturação de uma
grande unidade política com a designação de Mwenemutapa.

O estado central localizava-se entre os rios Mazoe e Luia, e era formado


por uma série de estados satélites ou estados vassalos, nomeadamente:
Quissanga, Sedanda, Quiteve, Manica, Bárwè, Maunguè e outros. Os
chefes desses estados vassalos pagavam tributos ao Mwenemutapa
reinante e eram confirmados por este quando subiam ao poder.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 93

As classes dominantes eram constituidas por parentes do Mwenemutapa


ou do chefe reinante, para garantir a vassalagem e a não traição. A
atribuição de poder não era por competência mas sim, pela confiança. A
sociedade shona estava dividida em dois níveis socio-culturais e
económico completamente diferentes que são:

1) - Comunidade aldeã rural (mushas)

2) - Aristocracia dominante.

16.2. A estrutura administrativa era constituída da seguinte maneira:


1) – Mambo – Era chefe supremo

2) – Mazarira, Inhahanda e Nambuiza; eram as três principais esposas do


rei, com funções administrativas importantes.

3) – Nove altos funcionários responsáveis pela defesa, actividade


comercial, mensagéiros do rei perante outros estados, práticas mágico-
religiosas.

4) – Fumos e N`kosses – chefes provinciais dos estados vassalos

5) – Mukuro ou Mwenemusha – eram chefes das comunidades aldeãs

6) – Linhagens – Eram as unidades produtivas básicas constituídas por


indivíduos dum antepassado comum.

As comunidades aldeãs estavam estruturadas segundo as relações de


parentesco tendo um antepassado comum que garantia a coesão das
comunidades. Estas comunidades tinham um regime de produção de
auto-suficiência, trabalhando fundamentalmente na agricultura
produzindo cereais. Praticavam também a caça, pesca, pastorícia e a
mineração como actividades secundárias. A mineração na sociedade
shona constituía uma actividade extra, realizando-se devido a
circunstâncias do comércio, na imposição da classe dominante ou dos
comerciantes estrangeiros. (não fazia parte da produção normal). A
presença portuguesa e a de comerciantes árabes, fez com que a
aristocracia dominante obrigasse as comunidades camponesas a minerar
com mais vigor.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 94

Esta obrigação deu como impacto o detrimento da agro-pecuária pois,


reduziu substancialmente o tempo dedicado a agricultura. (o ciclo
agrícola passou a não ser obedecido). Como consequência houve fome na
sociedade e enriquecimento da classe dominante

Actividades económicas

- Agricultura itinerante de subsistência cuja relação das forças produtivas


fracas se caracterizava no uso de enxada num processo de queimadas.

- Comércio – Consistia na troca simples e a longa distância com a costa.


Praticavam também a pecuária, a caça e a pesca.

16.3. A articulação classe dominante - comunidade aldeã


A articulação classe dominante-comunidade aldeã, baseava-se na
exploração.

Obrigações da comunidade aldeã

- pagamento de imposto em género;

Premissas das colheitas – que eram os primeiros produtos a serem


colhidos, e eram obrigados a pagar regularmente os produtos produzidos:
marfim, peles de animais, penas de alguns pássaros, entrega de materiais
e construção de residências e prestar serviços pelo menos sete dias por
mês à classe dominante.

Pagar um tributo simbólico como a entrega de feixe de palha, molho de


pedras, penas de pássaros, (produtos que tinham menos peso na economia
do indivíduo), fazia-se quando quisessem falar com o rei ou com a sua
mulher, e tinha como significado a subordinação, obediência. Enquanto
que a prestação de serviços nas machambas e nas minas do rei, para além
de significar subordinação constituía exploração; pois, não havia uma
contra partida deste trabalho. Os indivíduos pagavam e realizavam estes
trabalhos porque eram obrigados por normas ou por imposições morais.

O rei tinha para além de poder político-administrativo, o poder


ideológico: podia invocar a chuva, tinha poderes espirituais servindo-se
de intermediário entre a comunidade e os espíritos dos antepassados que
contactava em casos de desgraça. Os mwenemushas eram subordinados
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 95

ao nível do estado mas ao nível das mushas exerciam por sua vez o papel
político-administrativo e ideológico.

Quando um mambo morresse, toda a gente do império suplicava a sua


alma e, pelo papel que o mesmo desempenhava, significava uma grande
festa; em todo o império regozijavam-se pela sua nomeação.

Obrigações da aristocracia dominante

O estado era personificado na pessoa do soberano com designação de


Mambo. Este tinha que se desligar da sua origem terrena. Para conferir a
realeza, para ter um carácter sagrado; era uma pessoa anormal. Ele
praticava acções que lhe aproximavam a um sobrenatural. Por exemplo,
no dia da sua entronização, ele tinha que praticar o incesto com uma
parente mais próxima (sua irmã) que era para romper o relacionamento
tradicional, a quem diz-se que a principal mulher do monomotapa era sua
irmã. Quando morresse tinha que ser acompanhado por uma das sus
mulheres viva e, de preferência, a mais chegada, o que era considerado
uma honra...

O estado tinha como obrigações:

- Orientar as cerimónias de evocação de chuvas;

- Pedir aos muzimos (espíritos dos mortos), a fertilidade dos solos e


sucesso das colheitas;

- Garantir a segurança das pessoas e seus bens;

- Servir de intermédio fiel, entre os vivos e os mortos;

- Orientar as cerimónias mágico - religiosas contra as cheias, epidemias e


outras calamidades.

- Organizar as obras de beneficência (caridade com os cegos e aleijados


porque a estes chamam pobres de el-Rei, e têm renda de que comem).

16.4. Decadência do império dos mwenemutapas


As causas da decadência do império dos mwenemutapas

A preferência que os africanos tinham em relação ao comércio com os


mercadores asiáticos, é o que vai justificar o envolvimento português na
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 96

esfera ideológica do império dos mwenemutapas. A classe dominada


preferia os árabes que os portugueses; isto vai ser o pretexto para os
portugueses entrarem no império antecedido por um processo ideológico.

É assim que em 1560 foi organizada e enviada uma expedição à corte do


imperador chefiado pelo padre Gonçalo da Silveira com objectivo de
converter a classe dominante à religião católica. Para os portugueses ter o
imperador e sua família baptizados, serviria de trampolim para a
concretização dos seus planos.

Os seus planos eram de marginalizar os mercadores árabes, influenciar as


decisões políticas do imperador em seu benefício, monopolizar períodos
em que os camponeses dedicassem a produção de valores de Troca
(ouro), em detrimento de produção de valores de uso (agricultura):

- O comércio tinha que estar nas mãos dos portugueses;

- Nenhuma decisão devia ser tomada sem consultar aos portugueses.

- Passar mais tempo a trabalhar na mineração que na agricultura; para


isso todos eles tinham que converter a classe dominante para a religião
católica. O padre Gonsalo da Silveira foi morto acusado de feitiçaria.

Em 1572, em retaliação aos acontecimentos de 1560, os portugueses


enviaram uma expedição militar:

- Conquistar as zonas produtoras de ouro e punir severamente o


imperador. Devido a grande coesão da classe dominante e a
combatividade de seus guerreiros, esta expedição foi derrotada de forma
vergonhosa.

A primeira década do século do século XVII marcou o início de uma


nova era nos estados dos Mwenemutapas; Gatsi Lucere que era o
imperador em guerra com Matuziane e sentoindo-se incapaz militarmente
para debelar a revolta comandada por Matuziane, viu-se obrigado a
solicitar apoio militar militar português. Em 1607, com a ajuda dos
portugueses, ele conseguiu controlar a situação na condição de ceder as
terras férteis e ricas em ouro.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 97

O período entre 1607 a 1627 a presença portuguesa consolidou-se com o


estabelecimento de prazeiros e missionários. A Inquietação dos
portugueses foi ultrapassada em 1629 quando Mavura, aliado dos
portugueses organiza um golpe ao seu tio Capranzine e deixou-se
baptizar com o nome de Filipe, e se declara vassalo de Portugal. Em
1629, Mavura assina um tratado que garantia a livre circulação de
homens e mercadorias sem pagamento qualquer tributo. Até finais do
século XVII, Monomotapa era obrigado a consultar o capitão português
de Massapa para tomar qualquer decisão sobre a entrada dos mercadores
na corte real, sem respeitar o protocolo anteriormente observado como
(descalçar sapato e, tirar o chapéu, etc. E a autorização para a construção
de igrejas). O capitão passou a ser quem assegurava a penetração
mercantil nas feiras comerciais de Tete e Zimbabwe e passou a residir
uma guarnição de cinquenta soldados portugueses no zimbagwe do
Monomotapa. Deste modo a dependência do estado cristalizou-se.

A primeira tentativa do domínio português foi de controlar por via


ideológica; A segunda tentativa foi por via militar, tentativas que
fracassaram. A terceira tentativa foi a de implantar a política de divisão
para reinar. Esta consistiu em isolar algumas regiões para a administração
dos territórios.

Pouco antes de 1693, Changamire Dombo, soberano de Butua, mandou


seus emissários receber o tributo aos mercadores portugueses. Em
resposta, na primeira via os prtugueses chamboquearam e na segunda via
cortaram as orelhas desses emissários. Com o apoio de mambos
descontentes, Changamire dirigiu uma insurreição armada contra a
presença portuguesa em 1693 os quais se refugiaram em Tete, Sena e
Quelimane. Este levante marcou o fim do comércio de ouro e início do
comércio do marfim, e os portugueses perderam o controlo do comércio
nas terras do Monomotapa.

16.5. Consequências da decadência do império dos Monomotapas


Em termos de vantagens, a decadência do império dos Monomotapas
cedeu o surgimento de novos estados como o estado de Gaza, os estados
militares do vale do Zambeze, estado do Bárwe, e a extinção de trabalhos
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 98

forçados nas minas de ouro. Contudo, trouxe por sua vez as desvantagens
como a agudização de lutas intra e interdinastiais; possibilitou a criação
de estados sob a dominação de estrangeiros (os prazos e estados militares
do vale do Zambeze que simbolizava em parte o domínio português em
Moçambique). A civilização shona simbolizava até então uma das
maiores civilizações do mundo antigo no sul de África...

Sumário
Este estado nasce como consequência da desintegração do estado do
Zimbabwe por volta de 1450, na sequência da invasão pelo exército de
Mutota entre 1440-1450, que vai culminar com a estruturação de uma
grande unidade política com a designação de Mwenemutapa.

A articulação da classe dominante e a comunidade aldeã, baseava-se na


exploração. Assim sendo as obrigações da comunidade aldeã consistiam
no pagamento de imposto em género; Premissas das colheitas e eram
obrigados a pagar regularmente os produtos produzidos: marfim, peles de
animais, penas de alguns pássaros, entrega de materiais e construção de
residências e prestar serviços pelo menos sete dias por mês à classe
dominante.

E a obrigações da aristocracia dominante era personificado na pessoa do


soberano com designação de Mambo. Este tinha que se desligar da sua
origem terrena. Para conferir a realeza, para ter um carácter sagrado; era
uma pessoa anormal. Ele praticava acções que lhe aproximavam a um
sobrenatural.

O rei tinha para além de poder político-administrativo, o poder


ideológico, tinha poderes espirituais servindo-se de intermediário entre a
comunidade e os espíritos dos antepassados que contactava em casos de
desgraça.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 99

Exercícios
1 - O estado de Mwenemutapa nasce como consequência da
desintegração do estado do Zimbabwe por volta de 1450. Diga quem foi o
seu fundador?

2 - O envolvimento português na esfera ideológica do império dos


mwenemutapas teve as suas causas quais são?

3 - Em 1560 foi organizada e enviada uma expedição à corte do


imperador chefiado pelo padre Gonçalo da Silveira, com que objectivo?

4 - O padre Gonsalo da Silveira foi morto acusado de feitiçaria. Diga qual


foi a reacção portuguesa perante este procedimento?

5 – Identifique as consequências da decadência do estado dos


Mwenemutapas.ao

Fazer actividades constantes na auto-avaliação

Auto-avaliação Entregar os exercícios: 3, 4 e 5.

Em quatro páginas faça um breve resumo da unidade em estudo.


HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 100

Unidade XVII
A Sociedade do império de Gaza e
o processo de colonização.

Introdução
Nesta unidade pretende-se que o estudante saiba explicar até que ponto o
movimento nguni contribuiu para a formação do estado de Gaza.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Dar o conceito de n’fecane;


Objectivos  Identificar as características dos reinos ngunis particularmente o
reino de Gaza;

 Descrever a sua estrutura socio-política.

17.1. O N’fecane
17.1.1. Antecedentes da formação do estado de Gaza.
O período entre 1750 a 1800, na região compreendida entre o Limpopo e
o Incomati assiste-se profundas transformações políticas.

Surgiram neste período vários reinos de extensões variadas como: Zulo,


Nduandwe, Nkwabe, Maputo, Tembe...

Característica destes reinos – a posse do gado determinava a


importância de cada linhagem dentro da sociedade. Cultivavam juntos
dos rios ou margens, mapira, milho e outros. Praticavam o comércio a
longa distância fundamentalmente através da bacia do Maputo.- Nesses
estados havia uma estratificação de classes classe dominante e classe
dominada. No período 1795 a 1815 assiste-se a uma redução nas
transacções comerciais na bacia do Maputo que se resultou das guerras
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 101

Napoleónicas na Europa. Neste período também se assiste a uma


degradação de terras a terra se tornou infértil. Cada um dos estados
procurava monopolizar o pouco de comércio que existia na bacia do
Maputo e as poucas terras férteis. Daí resultaram conflitos entre os
estados com o fim de monopolizar o comércio e as terras férteis. Destes
conflitos resultaram as transformações da estrutura das zonas as quais
foram denominadas de N’fecane. Destas transformações resultou o
desaparecimento de pequenos estados no período entre 1818/1826,
surgindo grandes estados que incorporaram os pequenos como o
Nduandwe, dirigido por Zwide e o N’tetwa, dirigido por Dhinguizwayo.
Estes estados praticavam a política de militarização, o que significou a
formação de novos exércitos mais fortes os chamados Amabutho,
formados por jovens, subdivididos por regimentos e pelotões.

O surgimento da militarização é o resultado das lutas entre estados


provocadas por razões já focadas. Devido ao N’fecane surgiram
migrações: os Ndebeles retiraram-se para o norte dirigidos por Nzilicaze.
Os Ngwanes dirigidos por Sobuzua dirigiram-se para o este equanto que
os três grupos Nguni dirigidos por Zwanguendablu e Masseko dirigiram-
se para o norte Iassa, Tete, Malawi e Tanzania. Entre 1816/1821, foi o
período de conflitos entre N’dwandwe e o M’tetwa. Dinguizwayo é
capturado por zwidhe e morto. Zwidhe toma o território de Dinguizwayo
para o seu poder. Depois da sua morte Dhinguizwayo é vingado por um
da sua tribo Tsaka guerreiro da linhagem Zulo. Tsaka vai derrotar Zwide,
e vai impor a sua autoridade sobre os dois estados N’tetwa e Ndwandwe
formando assim o denominado Império Zulu.

17.2. A formação do estado de Gaza


O estado de Gaza surge em 1821 no território compreendido entre a bacia
do Maputo e rio Zambeze. Este estado surgiu como fruto de conquistas
dum grupo Nguni. A sua maior extensão territorial situava-se em
Moçambique. O seu primeiro rei foi Soshangane (Manicusse) 1821/58.
Administração – para uma melhor administração o estado estava
dividido por províncias governadas por filhos do Rei ou parentes mais
próximos, ou então pessoas pertencentes a linhagem Nguni.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 102

Para garantir a estabilidade política do estado, os antigos governantes


sub-jugados não perderam totalmente a sua autoridade mantiveram os
seus pontos, mas resolvendo problemas sociais. Eles é que contactavam
directamente com as populações, isto assim foi porque estes antigos
governantes são os que tinham maior aceitação com as suas populações
(população das suas linhagens). Eram eles que cobravam tributos,
contactavam o Rei de Gaza através dos governantes provinciais. Podemos
afirmar assim que facilitavam a implantação política do governo ao nível
das populações. A capital estado de Gaza até a morte do primeiro Rei
(Soshangane) foi sempre nas margens do rio Limpopo.

Quando Soshangane morreu em 1850, foi sucedido pelo seu filho mais
velho Mawewe.

Mawewe, um ambicioso, inveja a riqueza dos seus irmãos, por isso ataca-
os para apoderar-se das suas riquezas. Um dos seus irmãos “Nzila” foge
para Transval. Ao contrário da política do seu pai, Mawewe interdita a
entrada de caçadores de elefantes nos seus territórios (ingleses, e
portugueses).

Além disso Mawewe ataca os vizinhos, tinha a política de militarização e


expansionista. Hostilizou os seus vassalos. Esta política não agradou os
vizinhos nem aos caçadores de elefantes tanto como aos próprios
aristocratas do estado e povo. Por isso, uma coligação formada pela
aristocracia, população do vale de Incomate e caçadores resolveram
atacar Mawewe e destrona-lo, colocando no poder o seu irmão Muzila
que até então se encontrava no exilo. Muzila governou o país até 1884
altura da conferência de Berlim e ao mesmo tempo da sua morte sucedeu-
lhe seu filho gungunhana. Ngungunhana vai mudar a capital para
Manjacaze com intenções de fugir a influência Portuguesa e Inglesa por
outro lado pensa-se que seria devido ao esgotamento das terras em
Mossurize.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 103

17.3. Actividades Económicas no Estado de Gaza


Actividade comercial no Estado de Gaza

O estado de Gaza comercializava marfim através da baia do Maputo. Em


troca recebia produtos manufacturados, armas de fogo, especiarias etc.
Com os árabes, portugueses e ingleses (comércio a longa distância). Por
outro lado havia comércio interno realizado por comerciantes pequenos
que trabalhavam para conta própria ou para conta dos comerciantes de
marfim que comercializavam peles de gatos selvagens enxadas em troca
de produtos nacionais: celeiros, tecelões, enxadas... a pesar de
importarem enxada a produzia e servia de moeda nacional. Entre
1850/1870 foi o período de importação massiva de armas de fogo pelo já
utilizavam os dois tipos de armamento.

Essa importação massiva de armamento está ligada à ameaças


portuguesas e inglesas em invadir o território de Gaza. Temos que saber
que a bacia do Maputo era ambicionada por portugueses, ingleses e
holandeses, principalmente pelos holandeses e ingleses pelo seu bom
aspecto natural de acesso ao interior servindo-o de porto.

Agricultura

O território do estado de Gaza era constituído por zonas ecológicas


diferentes, pelo que em algumas zonas praticava-se só a pecuária e em
outras a pecuária e a agricultura. Por isso desde antes da chegada dos
Nguni nas zonas montanhosas de Mussurize criava-se bovinos enquanto
junto a foz do rio Save e sudeste de Inhambane e no vale do Limpopo
praticava-se a agricultura cultivando milho, amendoim sorgo etc. A carne
bovina e o milho constituíam a alimentação básica. Também se praticava
a caça, recolecção e pesca.

17.4. Estratificação social e a decadência do estado de Gaza


Tanto nas sociedades Satélites (chefaturas avassaladas aos seus chefes
tradicionais) como no núcleo central do estado, existia uma nítida divisão
de classes sociais: no núcleo central encontrava-se 1º no topo uma alta
aristocracia composta por elementos da linhagem do Rei (descendentes
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 104

até do seu bisavô paterno). 2º A média aristocracia era composta por


Ngunis de pequenas categorias e assimilados entre os quais antes cativos
de guerras. Estes anteriores cativos de guerra eram designados por
cabeças “Tinhloko” ou escravos. Com a sua emancipação e assimilação o
escravo deixava de pertencer a esta classe. 3º Populações Tongas estes
não integravam na estrutura dominante e mantinham os seus reinos mas
pela longa associação com o estado de Gaza passaram a ter categoria
especial de asimilado por ex.: os Khosa de Magude e os Mabulundlela
são ainda hoje conhecidos por changanas ou apenas Subtitos ou ainda
povo de Soshangana.
CULTURAL
GRUPO

Tsonga e chopi Nguni


Chona
ESTATUTO

Formações Formações
Formações
dominadas Dominantes

dominadas

Rei de Gaza

Alta aristocracia

Média aristocracia

“ASSIMILIDOS”
Chefes Tonga Mabulundlela Ndau Chefes Tonga
ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL

(origem Tonga e chopi) (origem Chona)

Tinholoko
Súbditos Tonga (cativos recentes) Súbditos Tonga
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 105

O rei partilhava o poder com os seus conselheiros da alta aristocracia


entre os quais a sua mãe que era consultada em muitos assentos
importantes. – O exército real não estava associado às cerimónias
mágico-religiosas. “Mbengululu” que era praticado na participação do rei
para dar forças aos seus homens que partiam para a guerra. Ainda em
todos os anos praticava-se o Nkwaya “incuala” ligado ao ciclo agrícola na
introdução do Rei onde na primeira fase era trono simbolicamente
saqueada e o soberano sujeitava-se aos rancores do povo “seu inimigo e
que o rejeita” mas no fim o poder saía reforçado da prova e é considerado
touro, etc.

Na 2ª fase, conduzido pelo soberano que iniciava com o consumo dos


primeiros frutos de produção. Aqui demonstrava-se ao Rei quer o amor
quer ódio e ele simula em hesitar assumir o poder para depois ceder ao
pedido dos membros do clã real e as solicitações dos seus guerreiros.
Assim o poder então restaurado e restabilizado a identidade do Rei com o
povo.

17.5. Decadência do estado de Gaza


O estado de Gaza constituía a maior ameaça ao plano de ocupação
colonial. O Rei Gungunhana várias vezes tinha desafiado os portugueses.
Planos de António Enes: Antóno Enes estava munido de planos poderes
para estabelecer a imagem portuguesa a partir de um domínio efectivo as
chefaturas que procuraram manter-se independentes. Os seus planos
estavam assentes nas seguintes acções:

1o - Fazer surgir pela força o prestígio português nos pequenos regulados

2o - Fazer alianças com chefes submetidos ou amedrontados para cercar


Gaza e dominar Gungunhana mas não romper as hostilidades até
estabelecer um dispositivo militar que permitisse agir com segurança
quer dizer o plano militar e político de António Enes consistia em vencer
os resistentes de Lourenço Marques ,fazer alianças tácticas com alguns
chefes e avançar em força depois de ganhar essa guerra para o estado de
Gaza (que era o obstáculo difícil de transpor para os colonialistas).
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 106

Para tal António Enes usou na sua táctica política a desestabilização das
populações:

1o - Agudizou os conflitos entre os chefes locais;

2o - Usou a táctica terra queimada isto é queimar colheitas e povoações


permitindo que os seus aliados ficassem com o gado e as mulheres dos
vencidos. Com esses seus aliados António Enes ataca primeiro
Marraquene, ganha a batalha, Moamba e Matola aliam-se aos portugueses
e atacam Zihlahla e Magaia que se refugiaram a Gaza.

17.5.1. Resistência de Gaza:


António Enes tinha estabelecido através dos seus emissários vários
contactos com o Rei de Gaza mas tudo como táctica de modo que este
não se preparasse militarmente:1o que não iria nunca atacar Gaza;

2o Impediu que Gungunhana não se aliasse à companhia de Moçambique


no sentido da companhia não cobrar imposto no seu território;

3o Evitou que Gungunhana estabelecesse negociações com B.S.A.C.

17.5.2. O ataque a Gaza


Derrotados Mahazule (Rei de Magaia) e Nuamantibjane (Rei de Zihlahla)
refugiam-se a Gaza. Como pretexto os portugueses exigem a entrega de
Nuamantibjane. Com a recusa de Ngungunhana os portugueses atacam
Maguel onde se encontrava o Nuamantibjana, em seguida trava-se a
batalha de Coelela perto da capital Manjacaze. Xai-Xai e Bilene é
submetido em Outubro de 1895.

A violência de ataques levaram Ngungunhana a se refugiar à Chaimite


com os seus chefes fiéis, enquanto a maior parte se aliavam aos
portugueses. Nessa altura foi criado o distrito militar de Gaza (Dezembro
de 1895) e Mouzinho de Abulquerque comandante de cavalaria nas
batalhas de Manjacaze e Coolela é nomeado em seu governo por ter se
revelado competente.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 107

Descoberto o refúgio, Gungunhana foi preso por Mouzinho e deportado


para Lisboa e daí para os Açores na Ilha 3ª onde veio a morrer. Contudo a
resistência continuou liderada por Maguiguane Cossa (1896-97) tendo
travado batalhas como a de Macotene (21 de julho de 1897) derrotado e
na tentativa de fuga Maguiguane é cercado e morre em combate.

Sumário
O estado de Gaza surge em 1821 no território compreendido entre a bacia
do Maputo e rio Zambeze. Este estado surgiu como fruto de conquistas
dum grupo Nguni. A sua maior extensão territorial situava-se em
Moçambique. O seu primeiro rei foi Soshangane (Manicusse) 1821/58.
Administração – para uma melhor administração o estado estava
dividido por províncias governadas por filhos do Rei ou parentes mais
próximos, ou então pessoas pertencentes a linhagem Nguni.

Exercícios
1 - para uma melhor administração o estado estava dividido por
províncias governadas por filhos do Rei ou parentes mais próximos

2 - Muzila governou o país até 1884 altura da conferência de Berlim e ao


mesmo tempo da sua morte sucedeu-lhe seu filho Gungunhana

3 - O estado de Gaza constituía a maior ameaça ao plano de ocupação


colonial. Que estratégias usaram os portugueses para dominar este
estado?

4 - Descoberto o refúgio, Gungunhana foi preso por Mouzinho e


deportado. Indica o local para onde Gungunhane foi passar o resto da sua
vida?
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 108

Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação.

Auto-avaliação Entregar o exercício: 2, e 4.

Em quatro páginas faça um breve resumo da unidade em estudo.


HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 109

Unidade XVIII
Os Reinos Afro - Islâmicos da
Costa

Introdução
Nesta unidade pretende-se que o estudante saiba interpretar sumariamente
como se formaram os estados afro - islâmicos da costa e em que se
baseaou a sua grande resistência contra a penetração colonial.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Explicar a base da fundação dos estados Afro - Islâmicos da


Objectivos costa;

 Identificar os vários estados Afro - Islâmicos criados ao longo da


costa do norte de Moçambique;

 Explicar a base da reprodução de classes nestes estados.


18.1. Os Reinos Afro-Islâmicos


Ao longo da costa existiam formações políticas no séc. XVIII; reinos a
que denominamos afro-islâmicos da costa. Estes Reinos constituíam o
fruto do desenvolvimento do comércio. Dentre os vários Reinos da costa
destacaram-se os seguintes: Reino de Quitangonha; Sancul; Angoche;
Sangange etc. Estes reinos tiveram como pilar fundamental da sua
produção o comércio de escravos. A partir do século XIX, mais ou menos
altura da proibição do comércio de escravos, Portugal tentou eliminar o
comércio de escravos nos Reinos afro-islâmicos da costa o que não foi
possível, tendo continuado clandestinamente. Nesta altura Portugal tinha
se fixado na Ilha de Moçambique. Os Reinos afro-islâmicos da costa
tinham uma base productiva; a aquisição de escravos era fornecida pelas
diversas formações políticas do interior (os Reinos da Macuana ou etados
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 110

Macuas do interior). Os fundadores dos Reinos afro-islâmicos da costa


foram os Árabes-Swahily.

18.2. Sultanato de Angoche


O Sultanato de Angoche foi fundado por refugiados de Quíloa, e que se
tinham instalado primeiramente em Quelimane e Ilha de Moçambique e
só mais tarde foram fundar o Sultanato de Angoche. Seus fundadores
foram: Hassanie Mussa.

Mussa era de Quelimane enquanto Hassanie era da Ilha de Moçambique.


Hassan como chefe máximo deste Sultanato, após à sua morte substituíu-
lhe o seu filho Xosa. Foi neste período em que os Mwenemutapas
fixaram a sua capital em Dande, junto ao rio Zambeze, utilizando este rio
como maior rota comercial, assim como os seus afluentes (Luenha e
Mazoe) ao mesmo tempo dividindo as suas intenções de troca comercial
para o porto de Angoche o que aumentou a importância deste porto como
centro de tráfego.

Angoche vai exportar produtos vindos de do império dos Mwenemutapas


e dos estados da Macuana. Esta importância despertou interesse
português que atacam Angoche em 1511 para apoderar-se e controlar as
tais rotas comerciais razão que leva a atacarem o Sultão.

No entanto em 1511 esta atitude portuguesa “de apoderar-se de


Angoche” não resultou porque os Afro-Islâmicos desviaram as suas rotas
para o centro comercial de Mombaça Quiloa e Mehinde. No século XIX
assistimos a um incremento de escravos nos reinos Afro-Islâmicos da
costa o que trouxe 2o período de prosperidade de Angoche. Nos meados
do século, Angoche tinha se tornado no maior escoador de escravos.
Portugal e Inglaterra tentara no sentido de impedir este comércio
atacando o Sultanato de Angoche e conseguindo algumas vitórias de
início. Em 1849 um grande negociante de escravos que tinha viajado
bastante os camarões Madagáscar Zanzibar e pelo interior de
Moçambique (Mussa Quanto) conseguiu redesalojar os portugueses e
tomar o poder.
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 111

Em 1854 João Bonifácio Alves da Silva chefe do estado de Maganja da


costa vai entrar em guerra com Mussa para controlar as rotas comerciais.
No início Bonifácio obteve vitórias por ter pedido ajuda militar aos
portugueses. Mas o que levou Mussa a refugiar-se no Madagáscar em
1861, devido a sua alta diplomácia em 1863 consegue uma ajuda militar
de comerciantes de escravos das Mascarenhas comorões e vai retomar os
territórios perdidos em 1864. Além disso vai dominar outros territórios
como Xeicado de Sancul; Sangange e Imbanela inclusive algumas regiões
de Bonifácio Silveira.

Aureolano de prestígio Mussa morreu em 1877 contudo o comércio de


escravo continuou na região até 1895 só em 1910 os portuguses
conseguiram dominar a região.

Conclusão – esta guerra foi difícil aos portugueses pois ela tinha um
carácter de Jihade “guerra santa”...(durou 15 anos).

18.3. Xeicado de Sancul

O Xeicado de Sancul formou-se no século XVI e os seus fundadores eram


oriundos da Ilha de Moçambique, onde se pressupõem terem reinado ate
serem desalojados pelos portugueses. Situava-se na costa entre o Lumbo
e o Mongicual, onde existiam numerosos braços de mar de difícil acesso,
mantinha um considerável intercambio com o exterior.

Apesar de considerado leal feudatário da coroa portuguesa, desde os


meados do século XVIII, o xeique de Sancul foi assassinado em 1753 por
um comandante da força portuguesa durante uma campanha contra os
chefes makuas da região.

A partir deste acontecimento, os sucessores do xeique assassinado


passaram a não conceder qualquer apoio as autoridades portuguesas,
apesar dos dirigentes de Sancul terem resistido sob formas subtis e
indirectas, mantiveram activas as actividades comerciais e a exportação
de escravos durante todo o século XIX.

A partir dos finais do século XIX, a soberania dos dirigentes de Sancul


começou a ser ameaçada, quando os portugueses iniciaram com o
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 112

processo de ocupação efectiva, os dirigentes de Sancul começara a lutar


pela manutenção da sua soberania. Apesar da grande resistência imposta
aos portugueses, os dirigentes foram obrigados seguir uma politica mais
moderada a partir de 1899.

18.4 Xeicado de Sangaje


O xeicado de Sangaje obteve a sua autonomia no primeiro quartel do
século XIX, depois de ter estado ao sultanato de Angoxe. Para isso, foi
necessário que os seus dirigentes estabelecessem alianças com a
administração portuguesa e ainda com dirigentes de Sancul e com os
mercadores baneanes da Ilha de Moçambique. Esta ultima aliança
provocou uma reacção por parte do sultão de Angoxe. A linha de
sucessória dos xeiques de Sangaje era definida por via matrilinear, pelo
que se estabeleceram fortes laços económicos e de sangue entre um
numero reduzido de famílias do xeicado.

Com o avanço da ocupação colonialno inicio do século XX, o dirigente


de Sangaje colocou-se ao lado dos portugueses cobrando impostos e
contribuindo com homens nas campanhas coloniais contra Farelai.

18.5. Xeicado de Quitangonha.


A formação do xeicado de Quitangonha verificou-se durante o século
XVI, tendo os seus fundadores partido da Ilha de Moçambique entre os
anos 1515 e 1585. Desde o inicio, os seus dirigentes do xeicado
estabeleceram uma aliança com as autoridades portuguesas ate ao século
XVIII. Este facto permitiu a manutenção por parte dos afro-islamicos, do
tráfego marítimo. Esta aliança viria ser perturbada quando os traficantes
franceses de escravos começaram a aparecer a apartir de 1755 em busca
de escravos para as plantações das ilhas do indico.

Ate os meados do século XIX, era notória a independência dos xeiques de


Quitangonha em relação as autoridades portuguesas. Com a proibição da
venda de escravos pelos decretos anti – esclavagistas de 1836 e 1842, os
dirigentes do xeicado passaram a hostilização aberta, pois viram
ameaçadas a sua principal fonte de rendimento e o seu principal esteio de
HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 113

domínio de classe. A semelhança de outros xeicados, o xeicado de


Quitangonha entrou em descalabro aquando da política portuguesa de
“ocupação efectiva”

Sumário
Ao longo da costa existiam formações políticas no séc. XVIII; reinos a
que denominamos Afro-Islâmicos da costa. Estes Reinos constituíam o
fruto do desenvolvimento do comércio. Dentre os vários Reinos da costa
destacaram-se os seguintes: Reino de Quitangonha; Sancul; Angoche;
Sangange etc. Estes reinos tiveram como pilar fundamental da sua
produção o comércio de escravos. A partir do século XIX, mais ou menos
altura da proibição do comércio de escravos, Portugal tentou eliminar o
comércio de escravos nos Reinos Afro-Islâmicos da costa o que não foi
possível, tendo continuado clandestinamente. Nesta altura Portugal tinha
se fixado na Ilha de Moçambique. Os Reinos Afro-Islâmicos da costa
tinham uma base productiva; a aquisição de escravos era fornecida pelas
diversas formações políticas do interior (os Reinos da Macuana ou Etados
Macuas do interior). Os fundadores dos Reinos Afro-Islâmicos da costa
foram os Árabes-Swahily.

Exercícios
1 – Qual foi a base de reprodução de classes nos estados afro-islâmicos
da costa?

2 – Explicao processo da fundação do Sultanato de Angoche?

3 – Quem foi Mussa quanto?

4 – Faça uma descrição sobre o processso que levou a primeira e a


segunda prosperidade de Angoche.
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Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação.

Auto-avaliação Entregar os exercícios: 4.

Em quatro páginas faça um breve resumo da unidade em estudo.


HO170 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II O Renascimento Cultural, e a Revolução Industrial 115

Referências Bibliográficas

BARATA, Óscar Soares. Introdução as Ciências Sociais. Vol 1. 10ª ed.


viseu, Bertrand Editora. 2002

BARATA, Óscar Soares. Introdução as Ciências Sociais. Vol 2. 10ª ed.


viseu, Bertrand Editora. 2002

BERNADINI, Bernardo. Introdução aos Estudos Antropológicos. Lisboa,


Edições 70, 1978

GODINHO, Neitorino Magalhães. A História Social: Problemas, Fontes e


Métodos. Lisboa, Edições cosmos, 1967

MARTINEZ, Francisco Lema. O Povo Macua e a sua Cultura. Lisboa,


IICT, 1989

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