Você está na página 1de 168

Manual de Curso de Licenciatura em Ensino de História

HO169-HISTÓRIA DAS
INSTITUIÇÕES
POLITICAS II
Instituições Políticas Africanas

Universidade Católica de Moçambique


Centro de Ensino à Distância - CED
Direitos de autor (copyright)
Este manual é propriedade da Universidade Católica de Moçambique, Centro de Ensino à
Distância (CED) e contém reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou
reprodução deste manual, no seu todo ou em partes, sob quaisquer formas ou por
quaisquer meios (electrónicos, mecânico, gravação, fotocópia ou outros), sem permissão
expressa de entidade editora (Universidade Católica de Moçambique - Centro de Ensino à
Distância). O não cumprimento desta advertência é passível a processos judiciais.

Elaborado Pelos drs. Nazir Gani e Romeu Pinheiro Uanicela,

Licenciados em ensino de História pela UP- Beira,

Colaboradores do Curso de Licenciatura em ensino de História no Centro de


Ensino à Distância (CED) da Universidade Católica de Moçambique – UCM.

Universidade Católica de Moçambique


Centro de Ensino à Distância - CED
Rua Correira de Brito No 613-Ponta-Gêa·
Moçambique-Beira
Telefone: 23 32 64 05
Cel: 82 50 18 44 0

Fax: 23 32 64 06
E-mail: ced@ucm.ac.mz
Website: www.ucm.ac.mz
Agradecimentos
A Universidade Católica de Moçambique - Centro de Ensino à Distância e o autor do
presente manual, dr. Idelson Rui Aberto e Lurdes Jama Passura da Silva , gostaria de
agradecer a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste
manual:

Concepção e produção drs. Idelson Rui Alberto e Lurdes Jama


Passura da Silva

Pela Coordenação e edição dra Georgina Nicolau

Pela Revisão dr. James Gabinete


Índice

Visão geral 13
Bem-vindo a História das Instituições Políticas II Instituições Políticas Africanas ................ 13

Objectivos da cadeira 13

Quem deve estudar este módulo? 14

Como está estruturado este módulo 14

Tarefas de avaliação e/ou Auto-avaliação 15

Comentários e sugestões 15

Ícones de actividade 15

Acerca dos ícones 15

Habilidades de estudo 15
Precisa de apoio? ................................................................................................................. 16

Tarefas (avaliação e auto-avaliação) 16

Avaliação 16

Unidade I 18

Introdução ao Estudo das Instituições Politicas Africanas 18

Introdução 18

1.1. Origem das Instituições Políticas Africanas 18

1.2. Características das Instituições Políticas Africanas 21

Sumário 26

Exercícios 26
Unidade II 27

O Reino dos Zulo na África do Sul Erro! Marcador não definido.

Introdução 27

2.1. Períodos da História Zulu 27

2.2. O rei zulu e o Estado 28

2.3. Status e Poder Político 31

2.4. As Tribos dentro da Nação 32

2.5. Sanções sobre a autoridade e a estabilidade do Estado 34

2.6. O Povo e os seus chefes 35

2.7. O Período da Administração Europeia 36

Sumário 37

Exercícios 37

Unidade III Erro! Marcador não definido.

A Organização Política dos Ngwato Erro! Marcador não definido.

Introdução 39

3.1. A Composição Étnica e Territorial dos Ngwato 39

3.2. O Sistema Administrativo 41

3.3. Poderes e Autoridade do Chefe 44

3.4. Direitos e Responsabilidades da Chefatura 47

Sumário 50
Exercícios 50

Unidade IV Erro! Marcador não definido.

O Sistema Político da Tribo Bemba Erro! Marcador não definido.

Introdução 51

4.1. Origem da Tribo Bemba 51

4.2. Bases de Autoridade 56

4.3. O Aparelho do Governo 57

4.4. Integração da Tribo 59

4.5. Mudanças Pós - Europeias 59

4.6. Efeitos dos Decretos de 1929 61

Sumário 63

Exercícios 63

Unidade V Erro! Marcador não definido.

O Reino dos Ankole Erro! Marcador não definido.

Introdução 64

5.1. A Formação e Implantação do Reino Ankole e suas Tribos 64

5.2. Status Político 66

5.3. O Rei e o Kraal Real 68

5.4. Tributo 69

5.5. Sucessão 70
Sumário 71

Exercícios 72

Unidade VI Erro! Marcador não definido.

O Estado Kede Erro! Marcador não definido.

Introdução 73

6.1. Origem e Fixação do Estado Kede 73

6.2. Organização Política 74

6.3. Estratificação Social 77

Sumário 78

Exercícios 78

Unidade VII Erro! Marcador não definido.

Os Bandos do Kavirondo Erro! Marcador não definido.

Introdução 79

7.1. Localização dos Bandos Kavirondo 79

7.2. Estrutura Política Interna 81

7.3. Estrutura Política Externa 84

7.4. Natureza da Autoridade Política 85

Sumário 87

Exercícios 87

Unidade 8 Erro! Marcador não definido.


Positivismo Erro! Marcador não definido.

Introdução 88

8.1.Sociocracia de Augusto Comte 88

8.2. Do tradicionalismo ao positivismo 89

8.3. Espírito positivo 91

8.4. Influência política de Comte 92

Sumário 94

Exercício 94

Unidade 9 Erro! Marcador não definido.

O Nacionalismo totalitário: Mussolini Erro! Marcador não definido.

Introdução 97

9.1. Estado nacional 97

9.2. Estado totalitário 99

9.3. Estado corporativo 100

Sumário 101

Exercício Erro! Marcador não definido.

Unidade X Erro! Marcador não definido.

O Nacionalismo totalitário: Hitler Erro! Marcador não definido.

Introdução 102

10.1. Estado nacional 102


10.2. Estado totalitário 104

10.3. Racismo hitleriano 105

Sumário Erro! Marcador não definido.

Exercício Erro! Marcador não definido.

Unidade XI Erro! Marcador não definido.

O Nacionalismo personalizado: Charles de Gaule Erro! Marcador não definido.

Introdução 107

11.1. Nacionalismo combatidos 107

11.2. Nacionalismos continuados 108

11.3. O poder personalizado 109

11.4. O Parlamento limitado e eliminado 110

Sumário 111

Exercício 111

Unidade XII Erro! Marcador não definido.

Socialismo Erro! Marcador não definido.

Introdução 112

12.1. Uma palavra nova 112

12.2. Uma ideia política nova 113

12.3. Uma definição difícil 114

Sumário Erro! Marcador não definido.


Exercício 114

Unidade XIII 114

Socialismo sem Estado Erro! Marcador não definido.

Introdução 116

13.1. Pensamento politico de Saint Simon 116

14.2. Pensamento Político de Charles Fourier 118

Sumário 119

Exercício 119

Unidade XIV Erro! Marcador não definido.

Socialismo contra o Estado Erro! Marcador não definido.

Introdução 120

14.1. Federalismo anarquista de Proudhon 120

14.2. Anarquismo libertário 121

14.3. Sindicalista anarquista 124

14.4. Marxismo 126

Exercício 127

Unidade XV Erro! Marcador não definido.

Socialismo no estado Erro! Marcador não definido.

Introdução 128

15.1. O malogro de 1848 128


15.2. O pensamento de Ferdinand Lassale 131

15.3. O desmembramento do marxismo 133

15.4. Lenine e o marxismo 134

15.5. Staline e o marxismo 136

Sumário 136

Exercício 137

Unidade XVI Erro! Marcador não definido.

Crise do Socialismo Erro! Marcador não definido.

Introdução 138

16.1. O espírito de Revolta 138

16.2. O comunismo utópico 140

16.3. A diversificação do comunismo 141

16.3.1 Socialismo chinês 142

16.3.2 Socialismo cubano 143

Sumário 143

Exercício 144

Unidade XVII Erro! Marcador não definido.

Democracia Liberal Erro! Marcador não definido.

Introdução 145

17.1. Deficiência do liberalismo político 145


17.2. A democracia constitucional 146

17.3. O princípio maioritário 148

17.4. Relativismo democrático 149

Sumário 150

Exercício 150

Unidade XVIII Erro! Marcador não definido.

Democracia Socialista Erro! Marcador não definido.

Introdução 152

18.1. Pensamento político de: Jean Jaurés 152

19.2 Léon Blum 153

Sumário 155

Exercício 155

Unidade XIX Erro! Marcador não definido.

Democracia Radical Erro! Marcador não definido.

Introdução 157

19.1. Pensamento político de: Charles Renouvier 157

19.2. Alfred Fouillé 159

Exercício 160

Unidade XX Erro! Marcador não definido.

Democracia cristã Erro! Marcador não definido.


Introdução 161
20.1.Programa político da democracia cristã 161

20.2. A despolitização da democracia cristã 163

20.3. Democracia de inspiração cristã 163

Sumário 165

Exercício 165

Referências Bibliográficas 166


Visão geral
Bem-vindo a História das
Instituições Políticas II

Instituições Políticas
Africanas
Este módulo apresenta aspectos ligados aos modos de organização socio-económico
e politico das sociedades africanas, tocando especificamente na origem dos estados
africanos (primitivos e estatais) e caracteriza as semelhanças comuns, bem como a
actuação dos chefes das tribos face `a penetração europeia, assim como o poder do rei
durante a administração europeia nesses estados.

Objectivos da cadeira
Findo o estudo da História das Instituições Políticas II - As Instituições Políticas
Africanas; o estudante será capaz de:

 Definir a origem dos estados Africanos;


 Caracterizar a estrutura de parentesco destes estados;
 Caracterizar as mudanças introduzidas com o advento da administração Britânica;
 Descrever o período da administração europeia;
Objectivos
 Classificar o sistema económico e organização política das tribos Africanas;
 Descrever a História da formação dos reinos e suas tribos;
 Caracterizar o poder do rei e dos que o rodeiam, e avaliar ainda as regras de sucessão.
 Analisar o positivismo de Comte;
 Descrever a influência do positivismo de Comte na arena Política.
 Descrever o totalitarismo no estado fascista;
 Analisar o corporativismo durante o fascismo
 Descrever o totalitarismo no estado nazista;
 Analisar a política racial durante o nazismo.
 Analisar o nacionalismo combatido de Charles de Gaule;
 Analisar os ideais do Parlamento limitado e eliminado Charles de Gaule;
 Descrever a revolução de 1848 na Europa;
 Analisar os ideais de Fernand Lessale sobre o socialismo no estado;
 Explicar o desmembramento do socialismo na concepção marxista;
 Comentar sobre o socialismo de Lenine e Staline na concepção marxista
 Conhecer os diversos socialismos.
 Analisar o princípio maioritário como aspecto fundamental da democracia liberal;
 Explicar o princípio do estado constitucional no seio do relativismo democrático
 Explicar o pensamento de Charles Renouvier em relação a liberdade do homem;
 Identificar os elementos fundamentais de Léon Bourgeois no meio social humano
 Conhecer o programa da democracia cristã;
 Diferenciar a primeira democracia cristã da segunda democracia cristã;
 Explicar a despolitização da democracia cristã;
 Descrever a democracia de inspiração cristã.

Quem deve estudar este módulo?


Este Módulo foi concebido para todos estudantes que queiram ser professores da
disciplina de História, que estão a frequentar o curso de Licenciatura em Ensino de
História, do Centro de Ensino a Distancia. Estendese a todos que queiram consolidar
os seus conhecimentos sobre as Instituições Políticas Africanas.

Como está estruturado este módulo


Todos os módulos dos cursos produzidos pela Universidade Católica de Moçambique
- Centro de Ensino a Distância encontram-se estruturados da seguinte maneira:

Páginas introdutórias

Um índice completo.

Uma visão geral detalhada do curso / módulo, resumindo os aspectos-chave que


você precisa conhecer para completar o estudo. Recomendamos vivamente que leia
esta secção com atenção antes de começar o seu estudo.

Conteúdo do curso / módulo

O curso está estruturado em unidades. Cada unidade incluirá uma introdução,


objectivos da unidade, conteúdo da unidade incluindo actividades de
aprendizagem, um summary da unidade e uma ou mais actividades para auto-
avaliação.
Outros recursos

Para quem esteja interessado em aprender mais, apresentamos uma lista de recursos
adicionais para explorar. Estes recursos podem incluir livros, artigos ou sites na
Internet.

Tarefas de avaliação e/ou Auto-avaliação


Tarefas de avaliação para este módulo encontram-se no final de cada unidade.
Sempre que necessário, dão-se folhas individuais para desenvolver as tarefas, assim
como instruções para as completar. Estes elementos encontram-se no final do
módulo.

Comentários e sugestões
Esta é a sua oportunidade para nos dar sugestões e fazer comentários sobre a
estrutura e o conteúdo do curso / módulo. Os seus comentários serão úteis para nos
ajudar a avaliar e melhorar este curso / módulo.

Ícones de actividade
Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das folhas.
Estes ícones servem para identificar diferentes partes do processo de aprendizagem.
Podem indicar uma parcela específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma
mudança de actividade, etc.

Acerca dos ícones


Pode ver o conjunto completo de ícones deste manual já a seguir, cada um com uma
descrição do seu significado e da forma como nós interpretámos esse significado para
representar as várias actividades ao longo deste curso / módulo.

Habilidades de estudo
Caro estudante, procure reservar no mínimo 2 (duas) horas de estudo por dia e use ao
máximo o tempo disponível nos finais de semana. Lembre-te que é necessário
elaborar um plano de estudo individual, que inclui, a data, o dia, a hora, o que estudar,
como estudar e com quem estudar (sozinho, com colegas, outros).

Lembre-te que o teu sucesso depende da tua entrega, tu és o responsável pela tua
própria aprendizagem e cabe a ti planificar, organizar, gerir, controlar e avaliar o teu
próprio progresso.
Evite plágio.

Precisa de apoio?

Caro estudante:

Os tutores têm por obrigação monitorar a sua aprendizagem, dai o estudante ter a
oportunidade de interagir objectivamente com o tutor, usando para o efeito os
mecanismos apresentados acima.

Todos os tutores têm por obrigação facilitar a inteiração. Em caso de problemas


específicos, ele deve ser o primeiro a ser contactado, numa fase posterior contacte o
coordenador do curso e se o problema for da natureza geral, contacte a direcção do
CED, pelo número 825018440.

Os contactos só se podem efectuar nos dias úteis e nas horas normais de expediente.

Tarefas (avaliação e auto-avaliação)


O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e auto-avaliação),
contudo nem todas deverão ser entregues, mas é importante que sejam realizadas. As
tarefas devem ser entregues antes do período presencial.

Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não cumprimento dos
prazos de entrega, implica a não classificação do estudante

Os trabalhos devem ser entregues ao CED e os mesmos devem ser dirigidos ao


tutor/docentes.

Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo os mesmos


devem ser devidamente referenciados, respeitando os direitos do autor

Avaliação
Tu serás avaliado durante o estudo independente (80% do curso) e o período
presencial (20%). A avaliação do estudante é regulamentada com base no chamado
regulamento de avaliação.

Os trabalhos de campo por ti desenvolvidos, durante o estudo individual, concorrem


para os 25% do cálculo da média de frequência da cadeira.

Os testes são realizados durante as sessões presenciais e concorrem para os 75% do


cálculo da média de frequência da cadeira.
Os exames são realizados no final da cadeira e durante as sessões presenciais, eles
representam 60%, o que adicionado aos 40% da média de frequência, determinam a
nota final com a qual o estudante conclui a cadeira.

A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira.

Nesta cadeira o estudante deverá realizar: realizar realizar 3 (três) trabalhos, 2 (dois)
teste e 1 (um) exame.

Algumas actividades praticas, relatórios e reflexões serão utilizadas como ferramentas


de avaliação formativa. Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter
em consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de cientificidade, a forma
de conclusão dos assuntos, as recomendações, a identificação das referencias
utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros. Os objectivos e critérios de
avaliação estão indicados no manual. consulteos.
Unidade I
Introdução ao Estudo
das Instituições Politicas
Africanas

Introdução
Dois tipos ou mais, de sociedades podem assemelhar-se num aspecto do sistema social
total e diferir noutro. Por isso é importante comparar sociedades com referência a algum
aspecto particular ou parte de todo sistema social, com referências ao sistema
económico, político ou de parentesco. Isto é, a imensa diversidade de formas da
sociedade humana deve ser primeiro reduzida a uma ordem comum de classificação.

Ao completar esta unidade / lição, tu serás capaz de:

 Definir a origem dos Estados Africanos (primitivos e

 Descrever as características comuns dos Estados


Objectivos
Africanos;

 Caracterizar a estrutura de parentesco dos Estados


Africanos.

1.1. Origem das Instituições Políticas Africanas


Ao se classificar as sociedades humanas, encontramos dificuldades que não se registam
em ciências como a Física ou Química. Dois tipos de sociedade podem assemelhar-se
num aspecto do sistema social total e diferenciar-se noutro. Dai, torna-se necessário
comparar as sociedades com referência a algum aspecto em particular ou parte de todo
sistema social, com referência, por exemplo, ao sistema político, económico, de
parentesco, etc. E como a disciplina em questão é história política, o presente texto fará
uma abordagem da organização política de algumas sociedades africanas, sem perder de
vista que em qualquer sistema social total todas instituições estão intimamente ligadas e
são interdependentes.
Ao estudarmos a organização política, lidaremos com a manutenção ou estabelecimento
da ordem social num quadro territorial, pelo exercício organizado de autoridade
coerciva através da possibilidade de utilização de força física.

A ordem social é mantida pela punição dos que violarem as leis e pela supressão armada
da revolta. Externamente o Estado esta preparado para usar a força armada contra outros
Estados.

Ao se tratar da organização política, está-se assim a tratar do Direito e da guerra.


Considerando o Direito e dentro deste campo o aparelho da justiça repressiva, numa
determinada comunidade, um indivíduo pode cometer um certo acto ou adoptar certo
tipo de comportamento que constitui ataque ou ofensa contra comunidade. Este ofensor
pode se sentenciado à morte, banido da comunidade ou sujeito a certa forma de
expiação. E acções colectivas do tipo em que a comunidade julga e condena e infringe o
castigo, podemos ver nessas acções a forma embrionária do direito criminal.

Dentro de pequenas comunidades haverá pouca ou nenhuma necessidade de sanções


penais. O bom comportamento pode resultar do hábito e condicionamento do indivíduo
à educação que foi submetido. Ao procurar definir a estrutura política duma sociedade
simples, temos que procurar uma comunidade territorial que esteja unida pelo primado
do direito, por isso entende-se uma comunidade na qual o sentimento público se
empenha ou na aplicação de sanções penais directas ou indirectas a qualquer dos seus
próprios membros que ofendam por certas formas, ou na resolução das disputas e
provisão de satisfação por injúrias dentro da própria comunidade.

Outro aspecto é que há muito poucas sociedades humanas conhecidas em que não existe
uma forma de guerra, e pelo menos uma boa parte da história do desenvolvimento
político são de uma ou outra maneira história de guerras. Entre várias espécies de
guerra, podemos identificar aquela que chamamos guerra de conquista e tem sido
importante em África.

E quando esta guerra é coroada de êxito, transforma o povo conquistador em dominador


doutro, ficando ambos incorporados numa sociedade política mais ampla. Mas a
instituição da guerra pode tomar uma forma diferente, de forma que a guerra entre
comunidades é sempre uma possibilidade e acontece de vez em quando, embora
nenhuma procure conquistar ou absorver outra a fim de aumentar sua comunidade
política.
Alguns politologos afirmam, que há uma tendência para concentrar demasiada atenção
sobre o que se designa por “Estado Soberano”. Mas os Estados são meramente grupos
territoriais dentro de um sistema político mais largo no qual as relações se definem pela
guerra ou a possibilidade desta.

Um outro aspecto é que a estrutura social de qualquer sociedade inclui uma certa
diferenciação do papel social entre pessoas e entre classes de pessoas, isto é, o papel de
um indivíduo e a parte que ele representa na vida social total.

Nas sociedades mais simples, pouco mais há do que a diferenciação muito importante
na base de sexo e idade e do reconhecimento não institucionalizado da chefia no ritual,
na caça pesca, guerra, etc. A medida que a organização política se desenvolve verifica-
se uma diferenciação crescente reactivamente a certas pessoas (chefes, reis, juízes,
comandantes militares, etc) que desempenham papeis especiais na vida social. Cada
uma destas pessoas desempenha ou ocupa um cargo (administrativo, judicial,
legislativo, etc) e o detentor está revestido de autoridade e ao lugar estão ligados certos
deveres, direitos e privilégios.

Em África é muitas vezes difícil separar o lugar político da função ritual ou religiosa.
Assim, nalgumas sociedades africanas pode dizer-se que o rei é o chefe executivo,
legislador, juiz supremo, comandante do exército, sacerdote-chefe, etc. Mas, é erróneo
pensar que ele combina um número de cargos distintos e separados. Há um único cargo,
o do rei, que com os seus vários deveres e actividades, e os seus direitos, prerrogativas e
privilégios fazem um todo unificado.

Além do desenvolvimento do cargo político, temos que ter em conta as várias formas de
desigualdade política. Um exemplo disso é a diferenciação com base no sexo e na idade:
os homens geralmente participam muito mais do que as mulheres, não só na guerra, mas
também na manutenção da ordem interna, e os homens mais velhos, em regra, tem mais
autoridade do que os mais novos.

Na literatura sobre as instituições políticas, existe ainda uma discussão acesa sobre a
natureza e origem do Estado, que é geralmente representado como sendo uma entidade
acima dos indivíduos que formam uma sociedade, tendo como um dos atributos a
soberania, e que algumas vezes se tem por uma vontade ou como poder de emitir
ordens.
Não existe um Estado no sentido clássico do termo. O que existe é uma organização,
isto é, um grupo de seres humanos ligados por um sistema complexo de relações.
Dentro desta organização, diferentes indivíduos desempenham diferentes papéis, e
alguns detêm um poder especial ou autoridade, como chefes ou anciãos capazes de dar
ordens que serão obedecidas, como legisladores ou juízes e assim por diante. O poder
do Estado é coisa que não existe. Existe na realidade, poderes de indivíduos (reis,
magistrados, generais, chefes de partidos, etc).

No entanto, neste texto, serão apresentados um conjunto de organizações políticas que


podemos considerar como representativas de tipos comuns de sistemas políticos
africanos. A maioria das formas que serão descritas é variante de um padrão de
organização política encontrado entre sociedades vizinhas. Dai que uma análise aos
sistemas aqui apresentados pode conduzir a generalizações válidas para os sistemas
políticos que aqui não foram apresentados.

1.2. Características das Instituições Políticas Africanas


Os sistemas políticos aqui descritos podem ser organizados em duas categorias: um
grupo que consiste naquelas sociedades que têm autoridade centralizada, aparelho
administrativo e instituições judiciais ─ em suma, que tem um governo ─ nas quais as
distinções de riqueza, privilégio e status correspondem a distribuição de poder e
autoridade.

Este grupo compreende os Zulos, Ngwato, Bemba, Banyankole e Kede; outro grupo que
consiste nas sociedades em que esta patente a falta de autoridade centralizada, aparelho
administrativo e instituições judiciais construídas, em suma, que não tem um governo ─
e nas quais não existem divisões agudas de categoria, status ou riqueza. Este grupo
compreende os Logoli, Tallensi e Nuer.

Os que consideram que um Estado deve definir-se pela presença de instituições


governamentais, consideram o primeiro grupo como Estados primitivos. Estes
ocupam-se com a descrição organizativa governamental relatando por isso o status e
classe do rei, papel dos funcionários administrativos, privilégios de determinadas
categorias, diferenças da riqueza e poder, regulamentação dos impostos, divisão
territorial, direito dos súbditos, etc. Os que consideram que o Estado define-se pela
ausência de instituições governamentais consideram os Estados como estatais.
Uma das diferenças relevantes entre os dois grupos (Estados primitivos e estatais) é o
papel desempenhado pelo sistema de linhagem na estrutura política. Há que distinguir
entre a série de relações ligando o indivíduo a outras pessoas e a unidades sociais
particulares através da família bilateral e transitória, que se chama sistema de
parentesco; e o sistema segmentário de grupos de descendência unilinear e permanente
que se chama sistema de linhagem.

Em ambos grupos de sociedade, o parentesco e os laços domésticos desempenham um


papel importante na vida dos indivíduos mas a sua relação com o sistema político é de
ordem secundária. Nos Estados primitivos é a organização administrativa, nos estatais é
o sistema de linhagem segmentária que primariamente regula as relações políticas entre
os segmentos territoriais.

De notar ainda que, a unidade política nas sociedades com organização estatal é
numericamente maior do que as que não têm organização estatal. Mas o volume da
população não deve confundir-se com a densidade da população, pode até haver uma
certa relação entre o grau de desenvolvimento político e o volume de população, mas
seria incorrecto supor que as instituições governamentais se encontrem naquelas
sociedades com maior densidade.

A densidade e a distribuição da população estão claramente relacionadas com condições


ecológicas que também afectam todo modo de vida, determinam os valores dominantes
dos povos e influenciam fortemente as suas organizações sociais incluindo seus
sistemas políticos. Os privilégios económicos, tais como direitos de exigir impostos,
tributo e trabalho, são a principal recompensa do poder político e um meio essencial de
mantê-lo nos sistemas políticos primitivos. Mas não devemos esquecer que aqueles que
tiram maior benefício económico do cargo político têm as maiores responsabilidades
administrativas judiciais e religiosas.

Nas sociedades acima descritas, o sistema político se apresenta dentro duma moldura
territorial, mas com funções diferentes nos dois tipos de organização política. Esta
diferença se deve à predominância de um aparelho administrativo e judicial num tipo de
sistema e sua ausência noutro. No Estado primitivo a unidade administrativa é uma
unidade territorial, os direitos e as obrigações políticas são territorialmente delimitadas.

Um chefe é a cabeça administrativa e judicial de uma dada divisão territorial, investido


muitas vezes de controle definitivo económico e legal sobre toda a terra dentro dos seus
limites e todos que vivem dentro dele são seus súbditos.
Já no estatal não existem unidades territoriais definidas por um sistema administrativo,
mas as unidades territoriais são comunidades locais cuja extensão corresponde à
fronteira de uma particular teia de laços de linhagem e de elos de cooperação directa. O
cargo político não acarreta consigo direitos sobre uma faixa de território definida e os
seus habitantes. A categoria de membro da comunidade local e os direitos e deveres que
acompanham adquire-se em regra por meio de laços genealógicos reais ou fictícios. O
princípio de linhagem toma o lugar de subordinação política e as interrelações dos
segmentos territoriais estão directamente correlacionados com as interrelações dos
segmentos de linhagem.

As distinções que estão sendo apontadas entre as duas formas de organização tornam-se
muito evidentes quanto ao seu ajustamento às normas dos governos coloniais.

A maioria das sociedades africanas foi conquistada ou submeteu-se à lei europeia. Nos
Estados primitivos, o chefe principal é proibido, por pressão do governo colonial, de
usar de força organizada comandada por ele e debaixo da sua responsabilidade. Isto
resultou por toda a parte na diminuição da sua autoridade e aumentou o poder e
independência dos seus subordinados. Ele não governa mais por direito próprio mas
como agente do governo colonial.

A estrutura piramidal do Estado é mantida colocando-se o chefe no seu topo. Perde


apoio do seu povo porque o padrão de direitos e deveres recíprocos que o ligavam a ele
está destruído. Alternativamente pode ser capaz de salvaguardar o seu status anterior,
em certa medida, dirigindo abertamente ou a coberto, a oposição que a sua gente
inevitavelmente sente em face do mando estrangeiro. Muitas vezes fica na posição de
ter que conciliar os seus papéis contraditórios como representantes do seu povo contra o
governo colónia mas também contra seu povo.

Já nas estatais a administração europeia tem tido efeito oposto. O governo colonial não
pode administrar através de agregados de indivíduos compostos por segmentos
políticos, mas tem que recrutar agentes administrativos. Para este fim, faz o uso de
quaisquer pessoas que possam ser assimiladas à noção estereotipada de um chefe
africano. Estes agentes têm agora pela primeira vez o apoio da força por detrás da sua
autoridade. Existe pela primeira vez uma autoridade principal exigindo obediência em
virtude da força superior que lhe possibilita estabelecer tribunais de justiça em
substituição de auto defesa.
Em ambos tipos de organização política os governos coloniais podiam impor sua
autoridade mas em nenhuma eram capazes de estabelecer laços morais com o povo
sujeito. No sistema original indígena a força é utilizada por um chefe com o consenso
dos seus súbditos para prosseguir o bem comum. Um governante africano não é para o
seu povo apenas uma pessoa que pode exercer a sua vontade sobre eles. Ele é o eixo das
suas relações políticas, o símbolo da sua unidade e exclusividade e a encarnação dos
seus valores essenciais. Em suma, é mais do que um simples governante.

Os membros de uma sociedade africana sentem a sua unidade e apercebem-se dos seus
interesses comuns através de símbolos, e é a sua adesão a estes símbolos que mais do
que qualquer outra coisa dá à sua sociedade coesão e continuidade.

Na forma de mitos, ficções, dogmas, rituais, estes símbolos representam a unidade e


exclusividade dos grupos que os respeitam. São considerados não como meros símbolos
mas como valores finais em si. Além disso, estes símbolos sagrados que reflectem o
sistema social, rodeiam-no de valores místicos que evocam a aceitação da ordem social
que vai para além da obediência exarada pela sanção da força.

Os sistemas políticos da maioria destes povos apresentam semelhanças impressionantes,


particularmente na África Meridional e Central. A primeira vista, em cada caso,
deparamo-nos com uma organização tribal que é uma derivação de um grupo de
linhagem mais pequeno, através duma separação da sua raiz em busca de independência
e de um novo território, ou porque se viu disperso devido ao combate de um inimigo.

A maioria dos grupos étnicos (tribos) tem uma história curta de ocupação do seu habitat
actual. Por isso a estrutura de parentesco do povo emigrante pode reconhecer-se como a
moldura do seu sistema político. A autoridade baseia-se quase invariavelmente na
descendência, seja dentro da família, da aldeia, do distrito ou da nação e o chefe da tribo
concentra as funções executivas, rituais e judiciais de acordo com o modelo de chefia de
cada unidade de parentesco.

A hierarquia da sociedade bantu permite apenas um tipo de autoridade, uma base de


poder, e uma série de atributos nos seus chefes na maioria das tribos que já foram
descritas.

Além desta relação pessoal estabelecida pela tradição entre o súbdito bantu e o seu
chefe, existe outro aspecto da organização política dependente de factos de parentesco,
emocionais, jurídicos ou rituais. O poder político e suas prerrogativas tendem a
concentrar-se nas mãos dos descendentes da linhagem do grupo original de que o chefe
é um representante vivo, e é muitas áreas a coesão tribal parece depender muito
amplamente da predominância desta linha governante, quer seja referente ao primeiro
povo bantu a ocupar um território em particular, quer tivesse conquistado os primeiros
habitantes e subsequentemente construído um novo Estado.

Encontramos ainda tribos designadas segundo o nome do chefe original da comunidade


dominante, e outros chamados segundo o seu clã. Os descendentes do clã do primeiro
chefe, podem formar uma casta dominante, e o número total de clãs na tribo pode
ordenar-se por ordem de precedência baseada na tradição da emigração original para a
área ou qualquer outro grau de relação com o grupo descendente do chefe.

O parente próximo do chefe pode desempenhar um papel definitivo na organização


política, pode reivindicar direitos a chefiados territoriais ou aldeias de membro de
conselhos tribais ou corpos conselheiros menores.

Estes são os aspectos comuns da organização política bantu. A posição do chefe como
cabeça de uma comunidade coesa por laços reais ou fictícios, de parentesco e como
sacerdote de um culto ancestral, de uma estrutura política baseada no domínio de uma
linha de família dirigente ou clã. A examinar um caso particular, há um número de
factores condicionantes diferentes que parece responder pelas variações que possam
existir na estrutura política:

a) O período de tempo que a tribo habitou no presente território;

b) O tipo de emigração, se por penetração pacífica, expulsão de outras unidades ou a sua


amalgamação;

c) A importância colocada nos princípios diferentes de agrupamento social como


descendência, idade, sexo ou laços locais pelos quais a tribo pode ser integrada e a
incidência de determinada autoridade;

d) As bases económicas das actividades do povo que afectam o seu grau de dispersão, a
forma de chefia requerida e os valores económicos associados com as prerrogativas
políticas;

e) O tipo de administração estrangeira a que a tribo está sujeita e os elementos europeus


que afectam o seu desenvolvimento político, isto é, variações na política so sistema
administrativo, e as tentativas feitas para criar novas instituições políticas para os nativos.
Sumário
Ao procurar definir a estrutura política duma sociedade simples, temos que procurar
uma comunidade territorial que esteja unida pelo primado do direito, por isso entende-se
uma comunidade na qual o sentimento público se empenha ou na aplicação de sanções
penais directas ou indirectas a qualquer dos seus próprios membros que ofendam por
certas formas. Estados são meramente grupos territoriais dentro de um sistema político
mais largo no qual as reacções se definem pela guerra ou a possibilidade desta.

Exercícios
Tendo em conta o módulo responda:

1. No respeitante a estrutura social, que diferenças podemos identificar entre


sociedade simples e organização política complexa?

2. Os sistemas políticos podem ser organizados em duas categorias. Descreva-


as.

3. Diferentemente dos aspectos de semelhanças nas instituições políticas


africanas, existem variáveis de diferenciação. Identifique e explique dois.

4. Caracterize as instituições políticas africanas.

Resolva os exercícios indicados.

Auto-avaliação Faça uma breve síntese da unidade em estudo.


Unidade II
O Reino dos Zulus na África do
Sul
Introdução
A nação zulo pode ser definida como um grupo de pessoas (membros de algumas centenas de clã)
devendo obediência e lealdade a um chefe comum (rei) e ocupando um território definido. Devido
ao seu carácter e estratégia militar, Shaka saiu vitorioso das várias lutas tribais, tornando-se em 10
anos senhor da terra zulo e organizando uma nação com organização política específica.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Descrever o status e o poder político do rei zulo perante o Estado;


 Estabelecer o ponto de situação do povo, seus chefes e das tribos
face a nação;

Objectivos  Descrever o período da administração europeia na terra zulo;

2.1. Períodos da História Zulu


A organização política dos zulus divide-se em dois períodos da história zulu: sob o domínio do rei
Mpande e sob a administração europeia.

A família Nguni, do povo de expressão bantu que mais tarde formou a nação zulu, emigrou para o
sudoeste de África por volta de meados do séc. XV. Eram pastores e praticavam culturas rotativas.
Viviam em casais dispersos ocupados por agnates masculinos e suas famílias.

Eles estavam unidos sob o domínio de um chefe, o herdeiro da sua linha sénior, de uma tribo.
Uma tribo estava dividida em secções, sob a direcção dos irmãos do chefe e em consequência de
uma disputa, uma secção podia emigrar e estabelecer-se como um clã e tribo independente. As
incursões por causa do gado eram frequentes, mas não havia guerras de conquista. Por volta de
1775, mudaram os móbeis da guerra e certas tribos passaram a conquistar seus vizinhos surgindo
pequenos reinos em conflito.

Chaka, cabeça da tribo zulu, saiu vitorioso dessa guerra devido ao seu carácter e estratégia militar,
tornando-se em 10 anos senhor do que é hoje a terra dos Zulu e Natal, andando as suas tropas em
campanha muito para além das suas fronteiras. De todas tribos que sujeitou, organizou uma nação.
O seu principal interesse estava no exército e em todo tempo fazia dos seus homens guerreiros.
Desenvolveu a ideia de regimentos formados por homens da mesma idade e aquartelava-os, a
maior parte do tempo, em grandes quartéis construídos em diferentes partes do país onde se
treinavam para a guerra, pastoreavam o gado do rei e trabalhavam nos campos. Os homens
estavam proibidos de se casarem até obterem autorização do rei para os mancebos de um
regimento se unirem com raparigas de um certo regimento de idade.

O governo de Chaka era tirano e todos os anos fazia uma campanha; por isso quando em 1828 foi
assassinado pelo seu irmão Dingane, o povo aceitou este com júbilo.

No tempo de Shaka, os comerciantes ingleses fixaram-se em Porto Natal em termos de amizade


com os Zulu. Quando os Boers entram em Natal, derrotam os Zulu em 1838 e confinam seu
território para o norte do rio Tugela. O governo de Dingane também foi tirano e o povo volta-se
para seu irmão Mpande. Dingane conspirou para matar Mpande, que fugiu com os seus bens para
junto dos Boers no Natal. Daí lançou o ataque, destronou Dingane e tornou-se rei.

Os Zulus entraram num período de relativa paz, pois Mpande apenas esporadicamente fazia
incursões contra os Swazi e Thonga. Entretanto, durante seu reinado dois dos seus filhos lutaram
pela sucessão saindo vencedor Cetshwayo que se tornou rei em 1872 quando Mpande morreu.

Em 1880, os ingleses derrotaram os Zulo, depuseram Cetshwayo e dividiram a nação em treze


regulados. Três anos mais tarde tentaram repor Cetshwayo, mas por razões várias rebentaram a
guerra civil entre os Usuthu (a secção real da nação e das tribos governadas sob o rei, pela casa
zulu Mandlakazi que estava unida à casa real do avô de Mpande). O rei morreu mas o seu filho,
Dinuzulu, com ajuda boer derrotou os rebeldes que fugiram para os ingleses.

Em 1887 os britânicos estabeleceram uma magistratura na terra zulu e repuseram os Mandlakazi


nas suas terras. Dinuzulu resistiu mas foi derrotado e exilado. Os Zulu estavam divididos em
muitas tribos e a administração branca foi solidamente instituida. Dinuzulu foi mais tarde
nomeado chefe de uma pequena tribo, os usuthu, e depois da rebelião dos Bambada em 1906
enviado para o exílio. Lá morreu e sucedeu-lhe seu irmão Germano, como regente. O governo
passou de Inglaterra para Natal em 1910 para a União da África do Sul.

2.2. O rei zulu e o Estado


Certos grupos de parentesco persistiram apesar de guerras devastadoras e da grande mudança na
organização política nos reinos de Shaka e Dingane. Os clãs desapareceram como unidades e os
membros de um único clã podiam estar largamente dispersos pela terra Zulu.
Os grupos de parentesco importantes, que eram a base da organização social, ainda eram
constituídos pelos habitantes de lugares separados. A cabeça de um casal era um homem sénior de
um grupo de descendência. Próximo podiam encontrar-se casais de homens do mesmo clã, todos
eles reconhecendo no herdeiro da sua linha sénior como seu chefe. Os estrangeiros podiam juntar-
se a um homem importante, como seus servidores ou dependentes e eram absorvidos com os seus
parentes no seu grupo de parentesco como “quase-parentes”. Conservavam seu nome clânico, mas
não podiam casar dentro da linhagem do seu chefe, embora pudessem casar no seu clã.

Como referimos acima, os homens serviam nos quartéis militares do rei que os mantinha fora de
casa quase o ano todo. Nos casais, os homens mais velhos e os rapazes pastoreavam o gado e as
mulheres trabalhavam nos campos. Estes campos estavam ao longo das cordilheiras e das margens
dos rios. Os vales baixos, desabitados por causa das febres constituíam as pastagens de Inverno e
os lugares de caça.

A comunicação entre as diferentes partes da terra dos Zulu era bastante fácil. Os homens vinham
de todas partes para os quartéis do rei e o casamento entre os membros de casais bastante
afastados era vulgar.

A nação Zulu era constituída por membros de algumas centenas de clãs, unidos pela sua lealdade
ao rei. As pessoas pertenciam ao rei e ele por isso pagava a multa em caso de assalto ou assassino.
A nação Zulu pode, portanto, ser definida como um grupo de pessoas devendo obediência a um
chefe comum (o rei) e ocupando um território definido. Eles uniram-se ao rei para atacarem ou se
defenderem de grupos estrangeiros. O rei exercia ainda autoridade judicial, administrativa e
legislativa sobre seu povo, com poder para fazer cumprir as suas decisões. Realizava ainda
cerimónias religiosas e actos mágicos em nome da nação.

O rei era saudado com cumprimentos cerimoniosos e título de respeito que aumentavam seu
prestígio. Ele simbolizava a nação e como tal era tratado. Mas cerimónias dos primeiros frutos e
nos ritos de guerra o rei era fortalecido e limpo em nome da nação. Possuía certos objectos
herdados dos seus antepassados, e o bem-estar do país considerava-se estar dependente destes.

Esta posição cerimonial do rei era apoiada pelos seus espíritos ancestrais. Eram tidos como
protectores de toda terra Zulu, e no interesse da nação eram a eles que o rei fazia apelo, aquando
da seca, guerras, plantações ou colheitas. Em suma, o rei tinha a seu cargo a responsabilidade de
toda magia nacional.

Shaka expulsou todos manda-chuvas do reino, dizendo que só ele podia controlar os céus. O rei
possuía importantes medicamentos terapêuticos com os quais tratava todas suas pessoas que
estivessem doentes. Todos curandeiros habilidosos tinham que ensinar ao rei a sua cura. Quando a
pessoa morria e um indivíduo era acusado de a ter morto por feitiçaria, nenhuma sentença podia
ser executada sem que os médicos feiticeiros do rei confirmassem o veredicto.

Estes deveres religiosos e mágicos do rei, ao celebrar aquilo que era assistido por mágicos
hereditários especiais, estava investido na realeza. Embora um rei pudesse ser assassinado, o seu
sucessor reassumia estes deveres, e os espíritos de tiranos tornavam-se numa fonte de bem-estar
para o povo que os tinha morto.

As cerimónias eram principalmente celebradas com o fim de fortalecer os zulus reactivamente a


outros povos, que era simbolicamente atacado por eles. Foi esta orientação militar da cultura zulu
sob a hegemonia do rei que largamente unificou seu povo. Os valores dominantes da vida zulo
eram os do guerreiro, e eram satisfeitos pelo serviço prestado nos quartéis do rei e nas suas
guerras. Os regimentos pertenciam só ao rei. Viviam em aquartelamentos que se concentravam em
torno da capital e os chefes não tinham autoridade sobre os regimentos e juntavam as suas
próprias gente em divisões territoriais e não de idade.

A nação também estava dividida para fins militares da mesma maneira que estava uma tribo,
porque o rei ligava certos grupos de tribos a certos casais reais. A maioria dos casais que eram
“cabeças” ficava na área do rei. Algumas eram também quartéis onde estavam instalados
regimentos particulares. A divisão em “cabeças” não era puramente territorial, pois, assim que um
homem se agregava a uma “cabeça” não podia mudar esta ligação mesmo que mudasse para uma
área tribal ligada a outra “cabeça” diferente. Os seus filhos herdavam a sua ligação e quando
chegava a altura de se alistarem como soldados, dirigiam-se a “cabeça” a que seu pai pertencia.

Esta centralização dos regimentos na área do rei, dava-lhe uma posição na vida zulo inteiramente
diferente de qualquer dos seus chefes. Mas embora isto trouxesse os regimentos sob o seu
controle, tirava-lhes os seus adeptos pessoais, visto que todos homens estavam ligados a um chefe.

O rei era também o tribunal supremo da nação sendo chamado para resolver os casos difíceis.
Havia sempre na sua residência alguns indunas que ouviam os casos e davam o veredicto em
nome do rei. A maioria destes indunas eram chefes governantes de áreas próprias, outros eram
filhos, irmãos ou tios do rei, e havia ainda plebeus elevados pelo rei pelo seu saber e
conhecimento da lei.

Dois destes indunas eram mais importantes do que os outros: um era o comandante do exército e
era um chefe ou príncipe; outro era o “primeiro ministro” (grande induna) e tinha a voz mais
decisiva na discussão dos negócios do Estado. Ao rei competia fazer respeitar o direito
costumeiro. Os Zulu acreditavam que a prosperidade do país dependia do facto do reiter
conselheiros fortes e sabedores prontos a criticar o seu próprio rei. O rei devia apresentar os
problemas para serem discutidos no conselho devia falar apenas no fim para que ninguém tivesse
receio de expressar seu ponto de vista. Encerrava o debate, e se era prudente adoptava a opinião
da maioria.

Do ponto de vista dos súbditos, pode dizer-se que a principal obrigação que eles tinham para com
o rei era o serviço militar, incluindo a prestação de trabalho. Era ainda costume o rei dar-lhes
presentes de cereal, cerveja, gado e algumas raparigas. Como também recebia a maior parte do
gado e das mulheres capturadas na guerra e indemnização por certas ofensas, tornando-se
facilmente o homem mais rico da nação. Em troca alimentava e ajudava sua gente. Tinha a seu
cargo os regimentos e devia dar-lhes escudos.

Em tempo de fome tinha obrigação de ajudar seu povo e em qualquer altura à todos que se
encontrassem em dificuldade. Proporcionava-lhes um clima de justiça, protegia os seus interesses
e era através dele que os súbditos confiavam satisfazer as suas ambições no campo de batalha e no
fórum.

2.3. Status e Poder Político


Todos os membros da família de Shaka gozavam de um status mais elevado em consequência das
suas vitórias. Nem Shaka nem Dingane tinham quaisquer filhos e foram os descendentes de
Mpande que vieram a formar a família real.

Qualquer filho dessas linhas e os filhos das suas filhas e mulheres adoptadas eram referidos por
abantwana (filhos, mas equivalente a príncipes e princesas).

Formavam uma casta superior ficando em status mesmo acima dos chefes. Alguns governavam
como chefes de tribos. Qualquer membro da família real Zulu tinha que ser saudado
cerimoniosamente pelos plebeus, incluindo os chefes. Qualquer príncipe podia também adquirir
alguns títulos honoríficos do rei na ausência deste.

Este status, trouxe a alguns príncipes poder político. Os irmãos de Shaka tornaram-se reis nas
áreas onde se fixaram. Mas o rei era sempre a cabeça por descendência da poderosa linhagem
aristocrática Zulu, que era respeitada por todos Zulu, e a sua posição na organização nacional
fortalecida pelos seus parentes próximos que governavam nas tribos dispersas pelas terras zulu.

O casamento entre a família real e as famílias dos chefes estabeleciam laços idênticos. O rei
costumava casar uma irmã, uma filha, ou qualquer rapariga que lhe pertencesse, com um chefe e o
filho desta devia ser o herdeiro. Os príncipes deviam chamar a si sequazes para além dos que lhes
eram dados pelo rei. Os príncipes dentro da nação eram uma ameaça para o rei, especialmente se
esta não era bom governante. Eles estavam prontos para tecer intrigas contra ele e tirar vantagens
da insatisfação do povo. Assim, se por um lado o rei governa com o apoio dos seus irmãos e tios,
por outro odeias os mesmos irmãos e tios com aspirações ao trono.

2.4. As Tribos dentro da Nação


A terra dos zulus estava dividida num grande número de tribos de tamanhos variados. Segundo a
teoria zulu, os chefes de todas tribos eram elevados por um ou por outro dos reis. Isto é, o poder
estava sujeito ao rei e que no tempo em que a nação zulu foi criada e consolidada, Shaka ou os
irmãos que lhes sucederam transformaram os seus antepassados em chefes, ou autorizaram-nos a
continuar seu mandato numa área particular. Os reis por vezes também recompensavam os seus
guarda-costas, os soldados valentes e conselheiros eminentes, colocando-os a frente de distritos.

Desde os primeiros tempos que os funcionários políticos passavam os postos aos filhos, e com os
reis manteve-se essa regra. Um induna ou chefe tinha a sua posição por lhe ter sido confiada pelo
rei; mas com a morte do induna, era o seu herdeiro, a não ser que fosse irremediavelmente
incompetente, que devia suceder-lhe. E na falta de herdeiro, o rei devia nomear um parente
próximo.

Os chefes tinham certos poderes delegados neles pelo rei. Os seus deveres mais importantes eram
judiciais e administrativos. Embora em teoria todas as multas por injúrias corporais fossem para o
rei, eram efectivamente os chefes a guardá-las. Porém, periodicamente enviavam largos rebanhos
de gado de presente ao rei. Eles levavam ao rei os casos difíceis ou que envolvessem importantes
patrimónios. Nas suas decisões eram coagidos a seguir as leis feitas pelo rei e por meio delas
faziam apelos junto do seu tribunal. Tinham poder para fazer executar as sentenças, mas nenhum
poder sobre a vida ou morte.

O rei comunicava com seus chefes por meio de mensageiros. Fingir ser mensageiro de um rei era
punível com a morte. Em caso de necessidade, os chefes passavam suas ordens para os seus
indunas à frente de bairros e estes informavam as cabeças dos grupos de parentesco e depois dos
funcionários políticos imediatos.

Os chefes, como o rei, recebiam presentes de cereais e gado, mas não recebiam um tributo regular.
Podiam chamar seus súbditos para trabalhar no campo, construírem seus casais, prender
malfeitores, caçar, etc. Por sua vez, esperava-se que estes trabalhadores fossem recompensados
com alimentos e os seus que estivessem em más condições fossem ajudados. O rei devia ainda
escutar um conselho dado pelos seus homens importantes.
A autoridade do rei exercia-se através dos chefes, seus representantes em vários distritos.
Governavam através dos seus irmãos e indunas de distritos mais pequenos. A organização política
zulu pode ser vista como uma autoridade delegada em grupos cada vez mais pequenos e com
poder executivo decrescente.

Em teoria a vontade do rei era quase absoluta. No fim estavam as cabeças de grupos de parentesco
que podiam emitir ordens e arbitrar nas disputas dentro dos seus grupos, mas que não podiam
obrigar a execução das suas decisões, excepto no tocante a mulheres e menores.

A medida que os grupos se tornavam menores, os laços da comunidade e do parentesco eram


fortalecidos, e como a força diminuía com uma sanção, outras sanções sociais aumentavam de
importância. A dependência dos homens nos seus parentes seniores em matéria religiosa e
económica, bem como em casos de necessidade ou aflição, era forte. Mesmo nos quartéis eles
compartilhavam as tendas dos seus parentes e esperavam deles alimentos e apoio nas disputas.

Além dos traços de sentimento, casal e linhagem, as cabeças exerciam autoridade por causa do seu
status de parentesco e da sua importância na vida económica e social dos seus inferiores.

A nação era uma federação de tribos cujas identidades separadas eram simbolizadas pelos seus
chefes. As tribos eram autónomas dentro da organização nacional, pois em certas ocasiões, os
homens da tribo apoiavam os seus chefes nas disputas com o rei.

As tribos eram divididas em secções ligadas aos casais do chefe, seus irmãos e seus tios. Os
aderentes de cada um destes casais eram muito ciosos do prestígio do seu príncipe e estavam
imbuídos de uma lealdade local para com ele e sentiam-se de igual forma contra os aderentes de
outro príncipe. Antes e depois da morte de um chefe, estes grupos lutavam entre si afim de o seu
príncipe ser nomeado herdeiro. Os grupos opostos dentro da nação estavam unidos pelo serviço
comum dos seus chefes prestado no conselho do grupo maior de que eles são parte.

A administração corria em linhas separadas do rei para um chefe particular, um induna. Todas
estas linhagens se entrelaçavam com o sistema do conselho.

Embora as cabeças do grupo fossem a parte principal do que havia de burocracia na simples
organização social zulu, as suas funções como burocratas e como cabeças de grupo não eram
inteiramente idênticas. Como administradores, eles velavam pelos interesses do seu povo e
governavam-no segundo as ordens dos seus superiores, usando também do apoio da gente nas
suas lutas pelo poder administrativo. Tanto eles como os funcionários de um tribunal eram o elo
entre um governante e os seus súbditos, mas frequentemente tendiam a tornar-se uma barreira,
entre estes pois tinham inveja dos seus direitos, ressentiam-se da acumulação dos seus privilégios
e algumas vezes agiam com independência do governante.

2.5. Sanções sobre a autoridade e a estabilidade do Estado


O rei era obrigados a seguir os costumes e obedecer ao seu conselho. O monarca zulu raras vezes
convocava reuniões plenárias da nação para discutir. Consultava os seus desejos através dos
chefes. O povo não podia criticar o rei porque partia-se do princípio que o rei era justo e generoso,
os príncipes e os chefes eram educados e tinham a consciência disso na tradição da boa
administração. Era necessário um longo período de sofrimento antes que o povo se voltasse contra
os seus governantes. Dizia-se que o rei e chefes tinham muitos espiões e era difícil organizar uma
resistência armada contra o rei.

O povo dependia dos oficiais políticos mais próximos para dirigir um movimento de oposição
contra um governante opressor.

Os Zulu não tinham outra ideia de organização política que não fosse a chefatura hereditária e o
seu estádio de desenvolvimento social não conduzia ao estabelecimento de novos tipos de regime.
A sua única reacção a um mau governo era a deposição do tirano e colocação de outrem no seu
lugar com poderes idênticos, embora os indivíduos pudessem fugir da terra zulu para a protecção
de outras nações.

Por conseguinte, a política do rei era seguir qualquer um que ameaçasse ser capaz de lhe tirar o
lugar. Ele defrontava-se com rivais e não com revolucionários. Os reis matavam todos irmãos cuja
rivalidade temesse. O rei tinha assim que tratar todos irmãos com cuidado de modo a não criarem
sentimentos de desafecto em relação a ele.

Dentro das tribos os chefes detinham o poder em condições similares. Podiam usar a força armada
contra súbditos desobedientes ou rebeldes embora tivessem de informar ao rei do seu
procedimento. Mas os súbditos também podiam queixar-se ao rei se estivessem sendo mal
governados e o chefe podia ser trazido ao tribunal do rei.

A má administração por parte de um chefe fortalecia os poderes dos seus irmãos dentro da tribo e
ao menos que o rei interviesse, podiam tomar o poder.

Os Zulu consideram que um chefe deve ser liberal e generoso como seu povo e escutar as suas
atribulações, pois é ele que o suporta na guerra.

Os zulus tinham lealdade para com os seus políticos. Enquanto essa lealdade não entrasse em
conflito, se o rei, chefe ou induna abusassem do seu poder, o seu povo daria suporte a uma das
suas outras cabeças políticas contra ele, e nas suas intrigas pelo poder as cabeças políticas estavam
prontas a tirar partido da situação. Assim, o conflito potencial desta lealdade era um teste
poderoso para a má administração e dava ao povo um certo poder de controlar os seus dirigentes.

2.6. O Povo e os seus chefes


A acção destas forças dependia do facto da liderança política ser pessoal. Em teoria, qualquer um
podia contactar com seus superiores através dos seus cortesãos embora pudesse levar dias. Um
chefe, e mesmo o rei, devia tratar com seu povo directamente e não delegar tal dever a alguém. Os
chefes e os indunas conheciam a maioria dos seus súbditos. Se chegasse a capital um estrangeiro,
fazia-se sobre ele todas perguntas. O chefe assistia aos casamentos do seu povo e enviava suas
condolências ou visitava-os se morresse um parente. Esta intimidade entre o chefe e o seu povo
tornava-se possível porque o chefe era tratado como o pai do seu povo.

Embora os cortesãos tivessem um conhecimento maior dos negócios do que os provinciais, todos
zulus tinham a mesma educação e viviam da mesma maneira. Qualquer deles podiam participar no
conselho do chefe ou assistir ao julgamento de um caso.

A riqueza aproximava mais um chefe do seu povo e nunca devia servir para o afastar porque sob o
condicionalismo da vida zulu, a riqueza não dava a um homem oportunidade de viver num nível
superior ao dos seus súbditos. O chefe podia ter mais mulheres e casais maiores, mas não podia
rodear-se de luxo. A riqueza sob a forma de celeiros e grandes rebanhos de gado, dava a um
homem poder apenas para aumentar o número dos seus dependentes e para dominar muitos
inferiores.

O chefe tinha assim que ser rico de forma a poder sustentar seus dependentes. Por outro lado, a
riqueza de um plebeu atraía dependentes e dava ao homem rico um status político. Contudo, as
maneiras de um plebeu adquirir fortuna não eram muitas: podia enriquecer praticando artes
mágicas, ou ser recompensado pelo rei ou pelo chefe por algum feito, ou ainda pelo saque na
guerra.

Um aspecto notável a organização política zulo através da história zulo, é a criação de novos
grupos à medida que as pessoas se moviam, fixavam e aumentavam, e as cabeças de todos estes
grupos eram funcionários políticos menores que podiam com o tempo ganhar predominância.

Uma vez que a liderança era pessoal, estes grupos não eram meramente absorvidos pelos grupos
locais existentes. Os seus chefes tornavam-se chefes dentro da organização. Havia assim, uma
criação constante de novos funcionários, que com o levantamento da categoria dos guerreiros
valorosos e homens sabedores, permitiam um grau elevado de mobilidade social. Qualquer
homem, independentemente da sua categoria pelo nascimento, podia tornar-se politicamente
importante se tivesse habilidade para isso.

2.7. O Período da Administração Europeia


Entre 1887 e 1888, o governo britânico tomou finalmente conta do governo da terra Zulu, pese
embora a oposição armada de Dinuzulu. E consolidou-se dentro de um curto espaço de tempo
fazendo mudar radicalmente a vida zulu com o desenvolvimento de novas actividades e
necessidades como missões, escolas, armazéns, administração governamental britânica, etc.

A organização militar foi quebrada e a paz estabelecida. A adopção da charrua colocou o trabalho
agrícola nas mãos dos homens, e eles deixaram suas terras para ir trabalhar com os europeus em
Durban, Johanesburgo ou qualquer outra parte. O dinheiro passa a ser um padrão comum de
valores. O culto ancestral e muitas das antigas cerimónias caem em desuso.

A terra zulu foi dividida num número magistral de distritos que por sua vez se dividem em tribos
sob a direcção de chefes aos quais se garante uma autoridade judicial limitada e que são chamados
a colaborar com o governo nos assuntos administrativos.

Dentro do distrito, o magistrado torna-se o funcionário político e judicial superior e é o


representante do governo. O seu tribunal aplica a lei europeia e é um tribunal de primeira instância
e de apelo dos chefes em casos decididos entre os nativos segundo o direito zulu. Ele coopera com
outros departamentos do governo e com os chefes e os seus indunas. As pessoas passam recorrer
ao magistrado para as suas questões e problemas. A magistratura acaba assim por representar
muitos dos novos valores e crenças que passam a actuar sobre o comportamento zulo.

Porém, os zulos têm uma atitude para com o governo de desconfiança e hostilidade, atribuindo-
lhes a origem dos novos conflitos da comunidade; apontam leis que consideram opressivas;
encaram as medidas que o governo toma em função dos seus interesses como tendo a intenção de
desapossar da terra e do gado, e incitam como argumento a presença dos brancos nas terras zulu
no passado e o que eles consideram como uma série de promessas que lhes foram feitas por
aqueles e jamais cumpridas.

Além disso, muitas dessas medidas colidem com seus prazeres, crenças e modos de vida. Assim,
enquanto o governo exige que os chefes apoiem suas medidas, o povo espera que seus chefes se
oponham a elas, e normalmente fazem.

A imposição da administração britânica e o desenvolvimento de novas actividades diminuiu


radicalmente o poder dos chefes e ele passa a estar subordinado ao governo.
Já não pode compelir, embora lance impostos e recrute tropas. Perdeu a sua enorme riqueza e
muitas vezes usa o que tem em seu proveito e não no interesse dos seus súbditos. Acabou sendo
suplantado pelos novos conhecimentos por muito dos seus súbditos. Os homens agora têm menos
tempo para se dedicar aos interesses do seu chefe e se este tentar explorar ou oprimir um homem,
este último pode recorrer a magistrado que lhe protegerá.

Contudo, o chefe ainda ocupa uma posição vital na vida do povo. Não só os conduz na sua
oposição ao governo, como também tem para eles um valor que o magistrado não pode ter. Os
chefes e especialmente o rei simbolizam os valores zulus. O chefe está ligado a muitos por laços
de parentesco e qualquer homem pode tornar-se seu parente por casamento. Enfim, a barreira
social entre brancos e negros não pode ser ultrapassada.

Sumário
A organização política zulu teve vários momentos, mas a velha organização conservou sempre
seus valores apesar das mudanças. A circulação da riqueza dos governantes era necessária de
molde a permitir-lhes manter seu relacionamento com o povo. Com a penetração britânica, a
organização política passou a ser composta por funcionários brancos e negros com posições
diferentes na vida do povo. A oposição entre os dois grupos não está equilibrada, uma vez que há
um domínio do governo europeu, contra o qual a única reacção dos zulus é aceitação ou
desobediência passiva.

Exercícios
1. Em que consistia o papel do rei como tribunal supremo?

2. Descreva de forma resumida a organização administrativa das tribos dentro da nação.

3. Com a implantação da administração britânica na terra zulu, a actividade do chefe foi


redefinida. Identifique algumas das novas actividades do chefe zulu.
Resolva os exercícios indicados.

Auto-avaliação Faça uma breve síntese da unidade em estudo.


Unidade III
A Organização Politica dos
Ngwato

Introdução
Os habitantes do protectorado da Bechuanalândia encontram-se politicamente divididos em várias
tribos, sendo os Ngwato a maioria e dominantes sobre outras tribos do protectorado. Para fins
administrativos encontravam-se distribuídos em aldeias com base na conveniência geográfica e
por razões étnicas.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Analisar as instituições politica dos Ngwato;

 Comparar o sistema administrativo antes e após a ocupação


europeia;
Objectivos
 Identificar os direitos, responsabilidades e autoridade das
chefatura.

3.1. A Composição Étnica e Territorial dos Ngwato


A maioria dos habitantes de Bechuanalândia pertence ao grupo dos Tswana (povo de expressão
banto) e estavam politicamente divididos em oito tribos separadas, cada uma com nome próprio
ocupando um espaço e sujeitos a administração britânica. Destas tribos, os Ngwato são a mais
conhecida. O seu chefe, Kgama III (1837-1923), alcançou proeminência mundial como converso
ao cristianismo. Foi um fanático defensor de ingerência de bebidas alcoólicas e um forte suporte
do imperialismo britânico no centro da África do Sul. Promoveu de várias formas o progresso
económico do seu povo e encorajou a difusão do ensino. As inovações não se confinaram a esta
aceitação parcial da civilização ocidental, mas incluíram várias modificações no sistema jurídico e
administrativo da tribo. Como resultado disto, os Ngwato afastara-se do seu sistema tradicional de
governo.
Os habitantes de uma aldeia pequena pertencem geralmente à mesma comunidade tribal. Para fins
administrativos considera-se como constituindo um único bairro, sob a chefia e autoridade de um
chefe hereditário. O bairro é um corpo patrilinear, pertencendo a maioria dos seus membros ao
grupo familiar do chefe mas incluindo normalmente várias outras famílias ou grupos familiares
que lhe estão agregados como dependentes. Os aldeamentos maiores contêm todo um número de
bairros, não necessariamente da mesma comunidade.

A aldeia nestes casos deve ser encarada não como uma unidade local dividida segundo a
conveniência em segmentos menores, mas como aglomerado de grupos sociais contidos em si
habitando um centro.

Nos tempos em que se praticava a poligamia, o chefe agrupava os filhos da mesma mulher num
único corpo, sob a autoridade do mais velho, e ligava a estes alguns povos que tivesse origem
comum como criados. Cada chefe, confiava seu gado a vários plebeus fiéis para tomarem conta
dele.

Dentro dum bairro cada grupo de família trata dos seus assuntos, sob a chefia do mais velho, e
resolve por arbitragem as disputas que envolvam a qualquer da sua gente. Todos membros do
bairro estão sob controle do seu chefe. Este cede-lhes terra para habitação, cultivo e pastagem,
pode livremente requerer seus serviços para fins públicos.

Quando um bairro se subdivide, o cabeça do grupo dos pais constitui o primeiro tribunal de
recurso dos veredictos dos demais. Nos centros maiores, o ancião do bairro é também o chefe de
toda aldeia. Nesta qualidade ele pode recorrer dos veredictos dos seus colegas, tem uma
autoridade suprema em todos outros assuntos como a distribuição da terra e organização de
empreendimentos colectivos. É também o meio através de quem o chefe comunica com os
habitantes da aldeia.

Para as comunidades que viviam fora das sedes tribais, ficavam sob protecção do motihanka
(chefe comum), residente na cidade do chefe. Este homem, cuja responsabilidade era hereditária,
devia permanecer em contacto com o povo e seus problemas, visitá-los periodicamente para
recolher o tributo para o chefe, e julga os casos que lhe fossem apresentados. Também os
informava sobre os acontecimentos das sedes.

Com a expansão das tribos ao longo do tempo, muitas comunidades passaram a viver afastadas da
sede e este método de supervisão tornou-se pouco eficaz.

Assim, foi desenvolvido um sistema de administração mais directo, agrupando as comunidades


mais remotas nos distritos já conhecidos e colocando em cada distrito um administrador residente,
geralmente um membro da sua própria família e outras vezes um vulgar regedor proeminente e de
confiança.

O administrador é acompanhado pelos familiares imediatos que o assistem e aconselham. Seus


deveres principais consistem em comunicar as ordens e mensagens do chefe à gente debaixo do
seu governo, resolver disputas entre comunidades diferentes, organizar e dirigir empreendimentos
públicos locais, supervisionar a recolha do imposto habitacional e as colectas tribais, aconselhar o
chefe sobre condições económicas e políticas locais. Em caso de abuso do poder, ou prova de
incompetência, pode ser chamado ao chefe e ser substituído.

Todos os bairros na tribo, tanto Ngwato como estrangeiros se encontravam agrupados em quatro
secções paralelas, designados respectivamente segundo o bairro chefiado de cada, Ditimamodimo,
Basimane, Maalosô e Maalosô-a-Ngwana.

A origem deste agrupamento não se conhece devidamente, mas parece derivar da prática de dar ao
herdeiro do chefe um grande posto de gado e da criação de um novo bairro de plebeus a fim de
olharem por ele. O herdeiro ao vir para a chefatura, contava consideravelmente com a colaboração
e apoio dos partidários assim ligados a ele e como regra colocava sob a sua supervisão todos
bairros formados dentro do seu reino.

Cada secção tem o seu bairro na cidade, dentro do qual se localizam os bairros que o compõem.

Como cabeças das secções, usufruem igualmente de uma influência maior na tribo do que os
outros chefes de bairro. O chefe consulta-os frequentemente sobre questões de política tribal, pode
delegar neles assuntos seus de grande importância administrativa. Eles falam pelo povo em
encontros tribais onde as opiniões de cada secção se entrecruzam com a independência e podem
também organizar os seus próprios encontros para discussão de assuntos de interesses para a
secção ou para a tribo.

A secção a que o próprio chefe pertence, é geralmente encarada durante o seu reinado como a
secção governante da tribo. Ele confia muito nos chefes mais velhos para elaboração da política
tribal, utiliza-os particularmente para apoio de todos seus planos e empreendimentos.

3.2. O Sistema Administrativo


O sistema administrativo acima descrito e a organização social em que directamente se baseia,
divide os membros da tribo em grupos distintos uns dos outros pelos poderes locais e lealdades.

Sob certos aspectos, cada secção, distrito, comunidade, aldeia, bairro e grupo familiar, é
independente do resto, tratando dos seus próprios problemas sob direcção de uma entidade
reconhecida, cuja autoridade se estende a quase toda esfera da vida pública. As muitas
comunidades de que a tribo se compõe diferem também frequentemente umas das outras pela
língua, costumes e tradições e, assim nunca chegam a ter um fundo cultural comum.

Como então estes grupos se mantêm unidos, solidários e coesos, permitindo que a tribo no seu
todo se apresente como uma frente unida em relação ao mundo exterior na defesa, agressão e
prosseguindo nas suas vastas realizações colectivas?

Um dos mecanismos por meio dos quais isto se obtém é a hierarquia administrativa por que se
distribuem as várias formas de autoridade local.

Normalmente, o mais velho do grupo de família fica directamente subordinado ao seu chefe de
bairro. O chefe de bairro por sua vez é subordinado, directamente ou através do chefe de bairro
donde o seu próprio proveio, o chefe do bairro da mesma secção. O chefe da secção finalmente é
subordinado do chefe. Nos distritos periféricos, o chefe de bairro é subordinado directamente ou
através do chefe de sua aldeia, do chefiado hereditário da sua comunidade tribal. Este último por
sua vez, é subordinado do governador do distrito que finalmente fica subordinado ao chefe.

O sistema judicial é fundamentalmente o mesmo para todos os tribunais. A vítima de um mal


civil, tal como quebra de contrato, sedução, adultério, dano de propriedade, roubo ou difamação,
pode desculpá-lo ou, através do membro mais velho do grupo de família tentar chegar a um
acordo com o ofensor. Se estas negociações falharem e leva o caso para o tribunal do chefe de
bairro do ofendido.

Crimes como ofensas às autoridades políticas em exercício das suas funções, quebra das leis
decretadas pelo chefe, violação, assalto, homicídio e bruxaria nunca podem ser resolvidos por
meio de acordos particulares, devendo sempre haver um julgamento.

Todos julgamentos são ouvidos em público, qualquer membro da tribo tem o direito de assistir a
eles e de participar nas cerimónias. O pronunciamento e veredicto são feitos com base nos
depoimentos das partes directamente envolvidas e das testemunhas. Se uma parte ficar
descontente com o veredicto, pode recorrer. O caso é então ouvido desde o princípio no tribunal
superior.

A organização social e territorial é usada para delegar os assuntos de preocupação puramente local
às autoridades subordinadas. O chefe é a figura central, a volta da qual se ordenam e organizam
todas actividades da tribo. Ele é simultaneamente o governador, juiz, legislador, guardião das leis,
orientador da vida económica, comandante de guerra, sacerdote. E é por meio de vassalagem para
com ele que os membros da tribo demonstram sua unidade.
Como as autoridades que lhe estão subordinadas, ele é ajudado no seu trabalho pelos parentes
paternos próximos e outros conselheiros pessoais. As vezes consulta apenas os chefes da aldeia,
mas frequentemente convoca toda tribo para uma reunião onde se discutem os assuntos públicos,
podendo ainda através da organização regimental trazer todos para um trabalho conjunto.

Este sistema de administração central prevaleceu até ao estabelecimento do protectorado pela


administração europeia, limitando assim os poderes do chefe e das outras autoridades tribais,
alterando a estrutura dos tribunais e introduzindo instituições governamentais novas.

A administração retirou aos chefes o direito de decretar a guerra ou entrar em acordos políticos
independentes. Canalizou os casos de homicídio assim como todos que envolvessem europeus,
para a jurisdição de tribunais europeus.

Definiu os limites dos territórios tribais. Impôs uma taxa anual regular a todos nativos adultos do
sexo masculino. Para manter a lei e ordem e cumprir todos outros deveres a nova administração é
assistida por um pequeno corpo de polícias e alguns subordinados, funcionários europeus e
nativos.

Em 1934, os poderes dos chefes foram claramente definidos e o estatuto e poderes dos tribunais
regulados. São especificados os direitos, poderes e deveres do chefe e de outras autoridades
tribais.

É estabelecida a sucessão e pertença do chefado sujeito à aprovação da administração, que fica


com o poder de a passar para outro herdeiro em caso de incompetência do anterior ou de
suspender a chefatura, quer por razões de incompetência ou de o chefe não satisfazer fornece uma
estrutura pela qual a tribo pode depor um chefe, torna a conspiração contra o chefe uma ofensa
estatal e estabelece um conselho formal tribal para ajudar o cumprimento dos deveres.

Os tribunais nativos afastam da jurisdição dos tribunais tribais todos casos em que o acusado é
culpado de traição, sedução, assassínio ou tentativa de assassínio, culpado de homicídio, violação
ou tentativa de violação, assalto ou tentativa de infligir ofensas corporais, conspiração contra o
chefe, e uma variedade de ofensas estatutárias.

Todos os outros casos, tanto civis como criminais, em que apenas os nativos estejam envolvidos,
eram julgados pelos tribunais tribais segundo a lei e costume Tswana.

Mas em lugar de muitas categorias de tribunal no sistema tribal, a proclamação da administração


britânica reconhece apenas três, cujas decisões são legalmente equivalentes. Estas são
representadas pelos tribunais nativos de novos e de velhos e o tribunal do chefe, respectivamente.
Do último há ainda apelo para o tribunal do comissário de distrito e daí, só certas condições, para
o tribunal especial do protectorado. A proclamação define ainda a constituição de cada tribunal,
precisando que deve ter um número limitado de membros nomeados por autoridades tribais
específicas.

Estas proclamações, delineadas primeiro em 1930, tinham sido frequentemente e amplamente


discutidas pela administração com os chefes e suas tribos. A necessidade destas foi-se tornando
cada vez mais evidente.

A medida que os antigos chefes morriam, eram substituídos por homens novos que na maior parte
dos casos eram educados em escolas fora do protectorado e por isso separados da experiência em
primeira mão adequada ao governo e jurisdição tribal.

Múltiplos casos de embriaguez e irresponsabilidade, negligência de deveres, apropriação indevida


de imposto habitacional e de outros dinheiros da tribo, de sérias contendas internas, exigia um
controle administrativo mais forte, enquanto o desenvolvimento nos sectores de educação
veterinária e agrícola tornava mais desejável numa definição clara das relações entre a
administração e as tribos.

3.3. Poderes e Autoridade do Chefe


A consequência prática destas medidas é que embora o chefe e seus conselheiros ainda
administrem os assuntos da tribo, a autoridade jurídica e política suprema é a administração
europeia que actua através do comissário distrital.

Mas o chefe como cabeça da tribo continua sendo tratado pelos seus súbditos com grande
respeito. A sua posse e casamento são ocasião para grande festividade pública, e a sua morte
sugere luto universal.

Ainda recebe várias formas de tributo do seu povo. Tem direito a primeira escolha de terra para
sua casa, campos e reservas de gado. Só o chefe tinha o direito de convocar assembleias tribais
plenas, criar novos regimentos, organizar cerimónias tribais e (nos velhos tempos), impor
penalidades extremas de morte e expulsão. O não cumprimento de suas ordens constitui ofensa
penal.

Todas outras ofensas contra ele são mais severamente punidas do que as cometidas contra
qualquer membro ordinário da tribo.

Apesar das restrições dos seus poderes e direitos tradicionais, o chefe ainda continua
desempenhando um papel importante no governo da tribo. Ele determina e organiza a realização
de trabalhos públicos; vigia a conduta das autoridades que lhe estão subordinadas e em caso de
extrema incompetência ou abuso de função pode substituir o seu governador de distrito ou depor a
cabeça hereditária do bairro ou comunidade cujos deveres recaem no homem seguinte na linha de
sucessão.

A maior parte do seu tempo diário é passado na sua Kgota (lugar de conselho), onde ouve os
novos, as petições e queixas de todos da tribo e dá ordens para que se tome a acção necessária. Ele
deve proteger os direitos dos seus súbditos, prover de justiça aos ofendidos e oprimidos, punir os
malfeitores.

Antes do estabelecimento do protectorado, o chefe era o juiz supremo da tribo. Esta função foi
tomada pela administração, mas o seu tribunal é ainda o tribunal nativo mais alto, ao qual assiste
um direito de apelo dos veredictos dos outros.

Antes da administração europeia, as ofensas graves como a traição, homicídio, assalto, violação e
bruxaria podiam ser puníveis unicamente por ele e seu tribunal. Com a entrada da administração
europeia, foram canalizadas para jurisdição europeia, mas ele ainda prepondera em todos outros
casos de quebra da lei tribal e tem poderes punitivos maiores do que os juízes dos tribunais
menores. Controla a distribuição e uso da terra tribal, organiza grandes caçadas colectivas, regula
as relações comerciais com estrangeiros e o tempo das sementeiras e colheitas.

Com a extensão do controle europeu, os deveres administrativos do chefe aumentaram bastante. É


responsável perante a administração pela manutenção do direito e da ordem na tribo, evitando o
crime e recolhendo o imposto habitacional e outros tipos de impostos. Cumpre todas ordens e
instruções que lhe são transmitidas e presta toda assistência que lhe é concedida por funcionários
responsáveis do governo. Deve colaborar com o comissário distrital e outros membros da
administração em toda a espécie de esquemas políticos e de natureza económica, social e
educacional. Deve ainda tratar com os comerciantes, missionários, possíveis concessionários e
outros europeus que vivam na sua reserva ou lhe visitam.

Antigamente o chefe era também a cabeça do exército tribal, organizando e muitas vezes
acompanhando expedições militares, realizava a magia da guerra, dispunha dos prisioneiros e dos
despojos. Com a abolição da guerra inter tribal sob o governo europeu, tudo isto desapareceu.

Antes, também organizava as grandes cerimónias tribais de que dependia o bem-estar do povo.
Mas a partir do momento em que se converteu, lutou contra estas práticas “pagãs”, e depois de se
tornar chefe, parou de as observar. Uma vez que estas não podiam ser celebradas sem a sua
autoridade e participação, foram morrendo e com elas as suas funções de feiticeiro e sacerdote
tribal.

Em todas questões de política tribal, o chefe aconselhava-se com os seus parentes paternos
imediatos. Quando se levantava um assunto importante, convocava uma assembleia geral de
chefes e deste modo, antes de actuar obtinha parecer de todos homens importantes da tribo.

Com a implantação da administração europeia, a manutenção do lugar de conselheiro passa a


depender da discrição do comissário residente e não do chefe. O chefe passa assim a apoiar-se de
conselheiros europeus (funcionários do governo). Consulta muitas vezes os missionários locais
sobre muitos aspectos da vida tribal, procura conselho entre os comerciantes nos assuntos de
finanças e frequentemente utiliza os serviços especiais de advogados.

A política tribal deixa assim de ser meramente determinada pelo chefe e seus conselheiros tribais.
É de certo modo moldada com ajuda de várias personalidades europeias.

Todos assuntos da política tribal são tratados perante uma assembleia geral de homens adultos no
kgotla (lugar de conselho) do chefe. Tais assembleias realizam-se com muita frequência por vezes
quase que semanalmente.

Em regra, apenas os homens presentes aconselham, sendo as decisões tomadas, comunicadas aos
de outras partes do território através dos governadores de distritos e outras autoridades locais. Em
ocasiões importantes, o povo do distrito também é convocada e a questão em debate é discutida
por toda tribo. Entre os tópicos discutidos desta maneira, estão as disputas tribais, contendas entre
o chefe e seus familiares, imposição de novas alterações, realização de novos trabalhos públicos,
promulgação de novos decretos, etc.

Nas suas capacidades jurídicas e administrativas, o chefe confia basicamente nos seus
conselheiros pessoais. Eles ajudam-no a ouvir e a julgar os casos no seu tribunal; eles também
desempenham o papel de mensageiros do estado em ocasiões importantes; selecciona os seus
governadores de distrito, pode delegar neles o julgamento de casos em seu nome, vigiar a
execução dos veredictos e cumprir outros deveres do mesmo género.

Período mais tarde, o chefe começou também a empregar secretários pagos e outros assistentes
para tratar da sua correspondência, recolher impostos, passar passaporte e recibos e ajudar em
outros trabalhos de rotina. O secretário principal do chefe, devido ao seu acesso a todos
documentos confidenciais e a íntima associação em que ele trabalha com o chefe, tornou-se um
dos homens estratégicos na administração da tribo.
Os empreendimentos maiores, organizam-se através do sistema de regimentos por idades
(mephato) em que toda a tribo esta dividida. O regimento era constituído por pessoas do mesmo
sexo e aproximadamente da mesma idade e cada adulto da tribo devia pertencer a um deles.

Os regimentos formam-se com intervalos de vários anos, quando todos rapazes ou raparigas
elegíveis se agrupam num único corpo. Cada regimento de homens é comandado por um membro
da família do chefe; por outro lado, cada grupo de homens dentro dele pertencente à mesma
secção, distrito, comunidade, aldeia ou bairro, é chefiado por um parente chegado do respectivo
chefe. O herdeiro ao chefado comanda o seu próprio regimento em vida do pai, mas ao suceder-
lhe deixa este cargo, que passa a ser desempenhado pela família real que lhe segue em categoria.
Os regimentos das mulheres organizam-se segundo mesmas linhas.

Os regimentos dos homens, originalmente constituíam o exército da tribo em caso de guerra e


eram usados noutras altura como força de trabalho. A tarefa na guerra desapareceu mas
intensificou-se o seu uso como força de trabalho.

Podem assim ser chamados sempre que o rei quiser, para tarefas como o fabrico de açudes, juntar
gado disperso, construção de escolas e igrejas, caçadas, derrubar florestas nos campos do chefe,
construir cabanas e currais, fazer estradas e aeródromos, abrir caminhos, etc.

Os regimentos de mulheres são igualmente usados para o levantamento de paredes e na cobertura


dos telhados das cabanas do chefe, ir buscar água para qualquer trabalho real ou da tribo,
transportar lenha para o trabalho do chefe, limpar a aldeia, etc.

Só o chefe pode mobilizar um regimento para trabalhar, mas os governadores de distritos e outros
chefes podem convocar os seus homens pelos regimentos para a realização de tarefas de natureza
semelhante puramente locais.

O trabalho do regimento é obrigatório e não remunerado e o facto de não se responder a uma


convocação de trabalho é punível com multa ou açoitamento.

3.4. Direitos e Responsabilidades da Chefatura


A autoridade do chefe derivava em primeiro lugar do seu direito de berço. A chefatura era
hereditária, passando normalmente de pai para filho, e nos casos em que se praticava a poligamia
o herdeiro legítimo era sempre o filho mais velho da primeira mulher do chefe. Não havendo um
filho na casa dela, o filho mais velho da mulher a seguir era a que herdava, e assim
sucessivamente.
As vezes, um príncipe ambicioso revoltava-se contra um governante impopular e tentava-lhe
usurpar o poder. Sempre, o pretendente ao trono devia ser de sangue real, isto é, nenhum homem
que não fosse um membro sénior da família real podia aspirar a ser reconhecido como chefe. Uma
vez que, todo sistema social da tribo assenta o princípio de categoria hereditária e cada autoridade
local deve sua posição ao facto de ele ser herdeiro legitimo do seu predecessor, o status do chefe
como cabeça da família governante na tribo é em si suficiente para assegurar o respeito e
obediência do seu povo.

Com a administração europeia, prevaleceu a sucessão hereditária ao chefado, mas com


modificações. Dantes estava estabelecido que nenhum chefe podia exercer jurisdição sobre a sua
tribo, a não ser que fosse reconhecido pelo Alto Comissário e confirmado pela Secretaria de
Estado.

Mas isto não alterava a sucessão uma vez que o herdeiro legítimo era sempre aceite pela
administração como chefe. Mas com introdução de mais modificações, a administração assumiu o
direito de recusar o reconhecimento ou confirmação do herdeiro como chefe, se após um inquérito
público se provasse que ele “não era uma pessoa apta e própria para exercer as funções de chefe”.

Em virtude da sua descendência, o chefe era o elo entre o seu povo e os espíritos governantes do
seu bem-estar. Os seus antepassados mortos eram tidos por prodigalizarem protecção sobrenatural
e assistência ao povo que outrora haviam dirigido, e em todas ocasiões importantes ele costumava
sacrificar-se e rezar por eles em nome da tribo.

Porém, a adesão ao cristianismo, destituiu o chefe de quase todo o seu significado ritual e assim
de uma poderosa sanção para a sua autoridade. Nem toda tribo estava convictamente ligada ao
cristianismo e muitas das velhas práticas ainda se celebram mais ou menos sub-reptiamente,
especialmente entre as comunidades sujeitas. Mas as pessoas já não olham para o chefe por causa
de benefícios espirituais, e já não lhe atribuem o mesmo respeito na qualidade de mágico e
sacerdote da tribo.

O poder do chefe sobre o seu povo era antigamente fortalecido pelo casamento. As suas mulheres
provinham na maioria dos casos das famílias de seus parentes próximos de outros chefes
influentes e de chefes de tribos vizinhas. Como pelo sistema social Tsewana, os parentes maternos
de um homem devem em princípio estar entre os partidários mais fortes, o chefe desta forma
assegurava-se de que os seus filhos, particularmente o herdeiro, tinham um suporte poderoso.

O poder do chefe ainda depende do uso que ele faz da riqueza. Como cabeça da tribo, recebia
tributo dos seus súbditos em cereal, gado, peles de animais selvagens marfim e penas de avestruz,
guardava todo gado que não fosse reclamado e parte das multas impostas pelo tribunal. Ele podia
ainda confiscar qualquer propriedade dos homens da tribo que conspirassem contra ele ou fossem
banidos por qualquer outra ofensa grave.

Em suma, ele podia através do sistema regimental, comandar os serviços do seu povo para fins
pessoais bem como para fins tribais. Devido a riqueza que assim acumulava, o chefe era sempre o
homem mais rico da tribo. Era responsável por usar sua propriedade não apenas para seu próprio
benefício mas também em proveito da tribo no seu todo.

O poder do chefe, era ainda limitado pela lei tribal. Se ele cometia uma ofensa contra alguns dos
súbditos, a vítima podia conseguir a intervenção de alguns homens proeminentes que exigiam que
o rei remediasse o mal feito. Mas era apenas debaixo de uma provocação extrema que se tomava
essa acção drástica.

Normalmente as pessoas costumavam suportar da parte dele o que jamais seria tolerado por parte
de alguém de categoria inferior a sua; muitas vezes, na prática, a vítima não tinha outro remédio
senão deixar a tribo e transferir sua vassalagem para qualquer outro chefe. Se o chefe governava a
tribo visivelmente mal, ou provocava hostilidade do povo, os principais chefes retiravam-lhe
apoio e atacavam-no publicamente em reuniões tribais. Se houvesse razão suficiente, o povo podia
mesmo conspirar contra ele, na esperança de o derrubar e que um dos parentes mais popular o
substituísse. Em último caso, fazia-se uma tentativa de o matar.

A imposição do governo europeu tirou ao povo os principais meios que antigamente possuía
contra o abuso e opressão.

A administração interveio cada vez mais nas disputas locais, tentou aplanar pacificamente
conflitos que antigamente costumavam culminar com derramamento de sangue. Mas uma vez que
a política oficial era governar tanto quanto possível através do chefe, a administração tendia na
maior parte dos casos manter a sua autoridade sem interferir demasiado nas razões do conflito.
Assim, livre do medo das sanções, o chefe tornou-se mais arbitrário na acção e intolerante a
qualquer desafio à sua autoridade.

A proclamação da administração nativa pelo governo europeu, proporcionou uma forma mais
eficaz de controlar o chefe e proteger a tribo contra a opressão e a má administração.

Assim, se o chefe não souber cumprir os deveres que lhe cabem ele podia ser julgado pelo
comissário do distrito e se for considerado culpado, pode ser multado ou preso. Ou por outra, se
em qualquer altura negligenciar ou falhar no cumprimento adequado dos seus deveres de chefe, ou
se tornar fisicamente incapaz para o desempenho destes, abusar da sua autoridade e oprimir o
povo, provar de outra maneira ser um mau chefe, ele pode depois de lhe ser dada oportunidade de
se defender, ser suspenso do exercício de suas funções de chefe.

Até ao momento da suspensão, outra pessoa nomeada pela tribo ou pela administração agirá por
ele. De a tribo o desejar, mas só neste caso, o chefe pode ainda ser deposto para sempre. Se
necessário, ele pode também ser obrigado após a suspensão ou deposição, abandonar o território
da tribo e não entrar mais nela sem que lhe seja dada permissão para tal.

Sumário
Como instituição, apesar da ocupação europeia, o chefado é honorificado e respeitado. As pessoas
olham o chefe como seu governante e guia. Mas a perda de suas funções rituais e económicas, a
presença dos missionários, o avanço da educação, e acima de tudo, a sua sujeição a administração,
têm roubado a autoridade do chefe, tornando o povo mais aberto na crítica a sua conduta, não
respondendo prontamente às várias exigências de prestação de serviço.

Exercícios
1. Apesar da ocupação europeia ter sido alterada a responsabilidade dos chefes e
redefinida sua autoridade e poder, o chefe continua desempenhando um papel
importante no território dos Ngwato. Quais este papel?

2. Descreva de forma sucinta as actividades poderes e autoridades ainda desempenhadas


pelo chefe.

Resolva os exercícios indicados.

Auto-avaliação Faça uma breve síntese da unidade em estudo.


Unidade IV
O Sistema Politico da Tribo
MBemba

Introdução
Os Mbemba são um grupo homogéneo formando uma unidade distinta das outras tribos vizinhas
com tradições semelhantes. Os seus hábitos guerreiros empurraram as tribos vizinhas alargando
seu território. Onde não desalojaram os ocupantes vizinhos, nomearam membros da família real
para controlarem o território. O seu domínio e autoridade cai com a chegada dos europeus.

Ao completar esta unidade / lição, tu será capaz de:

 Identificar as características tribais/grupo local, de parentesco,


categoria dos membros, e estrutura económica dos Mbemba;
Objectivos
 Identificar as funções, prerrogativas e posições de chefia na
sociedade Mbemba;

 Classificar as actividades de governo e as diferentes formas de


ritual de que depende o poder do chefe;

 Caracterizar as mudanças introduzidas com o advento da


administração britânica.

4.1. Origem da Tribo Mbemba


Os Mbemba remontam a sua origem à área do agora conhecido por Congo e foram
originariamente uma ramificação do povo Luba e o primeiro antepassado é conhecido por Citi
Muluba.

Os Mbemba são um povo homogéneo, formando uma unidade política distinta das tribos vizinhas
(Bisa, Lala e Lunda). Os hábitos guerreiros desta tribo desenvolveram-se quando eles se
espalharam pelos distritos das redondezas, empurrando seus vizinhos para trás.
O domínio dos chefes Mbembas se fortaleceu no séc. XIX com a importação de espingardas
árabes. Onde não desalojaram os ocupantes do país vizinho, os chefes nomearam membros da
família real os súbditos fiéis para controlarem por eles o distrito e recolherem tributo de dentes de
marfim, grão, trabalhos de ferro, sal e outras mercadorias. Com a chegada dos europeus nos finais
do séc. XIX a autoridade Mbemba sobre as tribos da vizinhança caiu.

As marcas distintas dos membros da tribo são:

 O nome comum Mbabemba, usado para assinalar referências à exploração das tribos
vizinhas que eram desprezivelmente designados por bashya (escravos);

 Uma língua comum (cibemba) que forma um dialecto distinto aos olhos dos nativos,
embora não difira muito de alguns vizinhos;

 A marca tribal, que era um corte feito sobre cada têmporas, cerca de uma polegada atrás
dos olhos;

 As tradições históricas comuns do povo. Mesmo os jovens falavam com orgulho da


chegada de seus pais, descrevem os feitos militares dos seus antepassados e descrevem a
ferocidade dos velhos chefes;

 Sua vassalagem a um chefe supremo comum, o Citi Mukulu.

Em relação ao parentesco, os Mbemba são uma tribo matrilinear que praticam o casamento
matrilocal. A descendência é traçada pela linha materna e um homem são legitimamente
identificados com um grupo de parentes composto da sua avó materna irmãos e irmãs desta, a sua
mãe e seus respectivos irmãos e irmãs, e os seus próprios irmãos e irmãs.

A sua qualidade de membro do grupo determina a sua sucessão para diferentes postos e seu status
dentro da comunidade, embora numa sociedade matrilocal isso apenas determina sua residência.
Ele pertence ainda a um grupo de descendência mais amplo, o clã umukoa 1 que também é traçado
segundo a linha da mulher. Os clãs são, exogâmicos, pois que um homem não pode casar com
uma mulher a quem chame mãe, irmã ou filha, e estes termos estendem-se ilimitadamente na parte
materna do clã de que é membro.

Alguns clãs tem um status mais elevado do que outros, conforme os seus antepassados originais
chegaram ao país como parte do séquito do primeiro Citi mukulu, ou se dividiram mais tarde

1
Cada umukoa distingue-se pelo nome de um animal, planta ou fenómeno natural como a chuva.
Tem uma lenda de origem que geralmente descreve a separação dos antepassados do clã do
grupo de linhagem original, e um título honorífico ou forma de saudação.
como um grupo de descendência separado. Dentro do clã, reconhecem-se grupos de linhagem
menores.

Estes não têm nome distinto, embora muitas vezes os Mbemba se refiram a eles como amaianda
“casas” do mesmo clã. Uma tal “casa” é constituída pelos descendentes directos de um
antepassado particular estabelecido três ou quatro gerações atrás. Dentro deste grupo de
descendência menor, a sucessão para postos é geralmente limitada e os chefados tendem a tornar-
se hereditários em três ou quatro gerações nestas linhas.

A substituição social de um homem por outro, quer como herdeiro oficiante numa cerimónia
religiosa, no cumprimento de um contrato de casamento, quer para a compensação do feudo de
sangue nos velhos dias, tendia a ter lugar dentro da casa e não do clã embora os umukoa se
substituam uns aos outros se não houver ninguém mais chegado dentro do inanda para o fazer.

É o grupo de descendência menor que é importante ao considerar a influência dos espíritos


ancestrais sobre os vivos, seja afectando o bem estar dos seus descendentes em geral ou entrando
nos ventres das mulheres grávidas desse grupo de descendência como espíritos guardiães das
crianças ao nascerem.

Á parte o grupo de descendência que determina o seu status, há o corpo de parentes com o qual
um Mbemba coopera activamente na vida diária. Estas são as pessoas que pode escolher para
viver, e que se reúnem em função de qualquer acontecimento importante na vida dele, tal como o
casamento, nascimento de um filho, doença ou morte. Este grupo é conhecido por um termo
distinto, ulupwa. Tem uma base bilateral, uma vez que se compõe dos parentes próximos de
ambos lados da família e também de parentes por afinidade.

Os poderes dos parentes do lado materno e paterno têm, quer um quer outro, o mesmo peso na
sociedade Mbemba, a despeito da importância legal que se dá ao lado matrilinear, e os laços que
unem os membros do ulupwa são muito fortes.

Embora seja mais corrente viver com os parentes do lado matrilinear, o avô ou irmãos da mãe, um
homem pode escolher viver com a gente do seu pai de preferência e estes desempenham um papel
importante em todas ocasiões solenes da sua vida. A força do ulupwa bilateral é m dos aspectos
distintivos do sistema de parentesco Mbemba ao ser comparado com as sociedades fortemente
patrilineares da África do Sul.

Ele influencia o sistema político de duas maneiras. Primeiro, permite uma variedade muito maior
na composição da aldeia e mais possibilidades de mudança na sua qualidade de membro; segundo,
vemos que no caso dos parentes do chefe que o ulupwa de um governante é uma unidade
importante em todo o aparelho político.

A unidade local da sociedade Mbemba é umushi (aldeia), que continha em média entre trinta a
cinquenta cabanas, e é acima e tudo uma unidade de parentesco. A aldeia nasce quando um
homem idoso ou de meia idade adquire um número suficientemente grande de parentes decididos
a acompanhá-lo de modo a justificar o pedido dele ao chefe de autorização para estabelecimento
de uma comunidade.

A despeito das normas sobre a sucessão das chefaturas, a aldeia Mbemba é uma comunidade
instável sob muitos pontos de vista. Podia mudar de cinco em cinco anos, harmonizando-se com a
prática do cultivo itinerante, e é sujeita a dissolução por morte de um membro importante ou perda
de popularidade do chefe.

A oferta abundante de terra e as possibilidades alternantes do grupo de parentesco,


proporcionaram grandes oportunidades de um homem mudar de uma aldeia para outra se lhe
apetecer, mas em qualquer caso é quase que obrigado a viver numa série de comunidades durante
o seu tempo de vida (aldeia do seu nascimento, aquela para onde muda quando casa ou qualquer
outra para onde possa obter a chefia por meio de sucessão).

Um Mbemba é um membro de um ulupwo, e podia viver onde lhe agradar com quaisquer dos
parentes que o compõem, é o súbdito de um chefe e pode obter permissão para viver em qualquer
parte do território do último, mas os seus laços para com uma dada localidade não são
necessariamente fortes.

Os habitantes da capital são compostos pelos parentes do chefe, pelos seus acompanhantes e por
um número de famílias que para ai foram originariamente para ganhar um favor real e se
acostumaram à vida da corte. Uma vez que a reputação de um chefe depende largamente do
tamanho da sua capital, os seus conselheiros, cortesãos e funcionários administrativos eram
recrutados sobretudo dos seus aldeãos.

Todo o território Mbemba esta dividido em distritos (icalo), que é uma unidade geográfica com
um limite fixo e um nome que data de tempos históricos. Estes distritos são territórios
originalmente concedidos a membros da família real, mas tão divididos que nunca foram
subdivididos para entregar chefaturas menores a uma nova geração de príncipes, como aconteceu
em algumas partes da África do Sul.

Mas o icalo é também uma unidade política. É o distrito governado por um chefe com um título
fixo ─ o nome do primeiro chefe a ser nomeado para cada faixa de terra é sempre parente próximo
de um dos primeiros citimukulus. Há vários tipos de chefe, o supremo, que tem o seu próprio
icalo, assim como o domínio de todo território Mbemba.

Os chefes territoriais, cinco ou mais, têm abaixo de si os subchefes que administram áreas muito
pequenas ou mesmo algumas aldeias.

Cada um destes chefes é designado pelo mesmo título mfumu e cada icalo é uma unidade contida
em si, numa réplica da estrutura social da outra. Cada capital tem a sua própria corte, embora
pequena.

Cada chefe tem direitos sobre o trabalho das suas próprias aldeias. Os aldeãos trabalham só para
ele e não para o chefe supremo como acontece entre os Zulo ou Swazi. O icalo é ainda uma
unidade ritual, onde em cada capital estão as relíquias sagradas dos primeiros detentores do
principal título e os seus espíritos ancestrais actuam segundo se pensa como divindades tutelares
do distrito e são venerados na aldeia dos túmulos, e lugares de antigas cabanas através do país,
mas também actuam como espíritos guardiãos das crianças nascidas dentro do icalo.

A organização política e ritual da capital do chefe supremo é mais elaborada do que a dos seus
subordinados, mas apesar disso, até o modesto subchefe mantém a sua mini corte e tenta copiar o
modo dos que lhe estão acima, enquanto que os chefes territoriais mais poderosos por vezes
rivalizavam o poder de citimukulu.

Quanto a categoria, é tida como um aspecto marcante na sociedade Mbemba e baseia-se no


parentesco real ou fictício com o chefe. Todos os membros do clã real merecem um respeito
especial, precedência nas cerimónias rituais e sociais, e algumas vezes exigem direitos e serviços
por parte do povo.

Os herdeiros presumíveis de um chefe dentro do seu próprio ramo de família são tratados com
particular deferência. As mulheres da linha real são tratadas com deferência idêntica à dos homens
de família. A mãe do chefe supremo é altamente venerada, herda um título fixo, toma parte dos
conselhos da tribo e tem várias aldeias suas. As irmãs do chefe são pessoas privilegiadas,
protegidas e apoiadas pelos seus irmãos reais, e usualmente é-lhes concedida uma ou mais aldeias
para administrar. Elas estão em cima da lei em matéria de moralidade de sexo e a princesa
permite-se que tenha tantos amantes quantos lhe agradar desde que ela tenha muitos filhos,
herdeiros potenciais do trono.

Entre os Mbemba, a idade não é um princípio de grupo social. A precedência é estabelecida com
base na idoneidade como na maioria das sociedades Bantos e há termos especiais que se usam
para descrever as diferentes fases da vida ─ de amamentação, de infância, criança, adolescente,
solteiro, casado, velho, etc.

Quanto a estrutura económica, os Mbemba são um povo essencialmente agrícola como a maior
parte dos Bantus do grupo central a que eles pertencem. Não pastoreiam gado porque a mosca tsé-
tsé não permite.

Assim, não têm meios para acumulação de riqueza como têm os Bantus do sul. Os seus contratos
de casamentos são cumpridos por meio de prestação de serviços e não pela entrega de gado.

4.2. Bases de Autoridade


Quanto as bases de autoridade, as posições de chefia consistiam nos seguintes postos:

a) Administradores territoriais (chefes e chefes de aldeias);

b) Funcionários administrativos e conselheiros;

c) Sacerdotes, guardiões de túmulos sagrados, especialistas mágicos com funções


económicas;

d) Comandantes de exército.

Em quase todos estes casos a sucessão baseia-se na descendência. As chefaturas eram limitadas
para um clã e alguns dos conselhos estão confinados a alguns dos clãs mais antigos, as chefias de
aldeias. Sem excepção, todas funções sacerdotais são hereditárias. Em cada caso, os poderes
sobrenaturais são conferidos por meio de um rito de grande complexidade.

Em relação ao dogma da descendência2 , entre os Mbemba, crê-se que uma criança se faz do
sangue que a mulher transmite aos seus filhos e filhas. Um homem pode possuir este sangue nas
suas veias mas não pode passá-lo aos ses filhos visto pertencerem a um clã diferente. Os filhos
podem até ser descritos como parecidos com os pais e devem a estes respeito e afeição, mas
dentro do sistema matrilinear não tem nenhuma obrigação para com os pais. É a continuidade
física da linha de antepassados da mãe que constitui a fase de identificação legal com o grupo de
sua descendência.

Estas teorias de procriação são válidas não só para a descendência matrilinear dos Mbembas, em
que se baseia a sucessão à chefatura, mas também para a categoria atribuída às princesas reais na

2
Teorias de procriação que expressam as crenças de um povo em relação a contribuição física do
pai e da mãe para a formação da criança, e donde a concepção tradicional de continuidade física
entre uma geração e as seguintes. E ainda segundo suas crenças em relação a influência dos
membros mortos de cada grupo social sobre os vivos.
sua qualidade de mãe de chefes, de chefes de aldeias e outras posições de autoridade que lhe são
conferidas.

O dogma Mbemba relativo a influência dos mortos sobre os vivos é também uma base importante
para a autoridade política. Crê-se que o espírito de um homem morto, sobrevive como presença
guardiã associada a terra ou lugar de aldeia que antigamente habitou e como protector espiritual
de indivíduos diferentes nascidos, no mesmo grupo de linhagem e chamados pelos mesmos nome.

A crença Mbemba de identificação social entre o homem morto e o sucessor nomeado deste
parece ser mais completa. É a base da crença na influência sobrenatural exercida pelo chefe na sua
própria pessoa distinta do seu contacto directo com os espíritos pela oração. Quando um homem
ou mulher morre, a personalidade social dele ou dela, deve ser imediatamente perpetuada por um
sucessor que passa através de um ritual especial adquirindo assim os nomes, os símbolos de
sucessão e o espírito do homem morto.

Desta forma, um chefe, logo que herda o nome, o espírito e as relíquias sagradas do seu
predecessor, tem influência mágica sobre a capacidade produtiva de todo seu território.

Assim, de acordo com este fundo de crenças na continuidade entre uma geração e outra, a
natureza de descendência e sucessão é definida com precisão por normas jurídicas. Um chefe
Mbemba, ou homem comum, é sucedido pelos seus irmãos por ordem de idade, a seguir pelos
filhos da irmã, e na falta destes pelos netos maternos. Surgem dificuldades quando há que escolher
entre um irmão classificado como mais velho, filho da irmã de uma mãe ou um irmão mais
distante, e um jovem, um sobrinho materno que é filho da própria irmã do morto, com quem seus
laços são muito chegados.

Em suma, há regras definidas de sucessão de acordo com o parentesco Mbemba, mas o tipo de
sucessão matrilinear fornece geralmente dois ou três herdeiros, e no caso das chefaturas maiores
existe um número de factores diferentes, tais como controle do chefe supremo sobre o ifyalo mais
importante, a ordem tradicional de sucessão aos diferentes postos, o sentimento local no caso das
subchefaturas e por fim, as qualidades pessoais do próprio candidato.

4.3. O Aparelho do Governo


Quanto a administração, dentro de cada distrito, encontramos uma série de funcionários que
desempenham actividades do governo e as diferentes formas de ritual de que depende o poder do
chefe. Alguns foram promovidos pela sua particular lealdade, enquanto outros são funcionários
hereditários mais independentes das mercês do seu dirigente. Todos estes diferentes signatários
podem ser classificados tendo em conta as funções que desempenham:
Administrativa: inclui os funcionários encarregados dos negócios e os responsáveis pelo
desempenho das ordens do chefe. Na capital os mais importantes são os chefes de divisões que
são nomeados dentre os amigos pessoais do chefe. Estes têm a seu cargo a manutenção da paz na
aldeia, a organização do trabalho, imposto de capital, distribuição da terra para cultivo, criação de
condições de hospitalidade para com os visitantes.

Reactivamente ao país na sua totalidade, a principal dificuldade era manter o contacto com as
aldeias disseminadas. E para que as ordens do chefe cheguem a todas aldeias, os mensageiros
andam de cá para lá. Assim, um conjunto de rapazes muito novos (muitas vezes membros do clã
real) era enviado para a corte a fim de serem educados para actuarem como mensageiros.

Militar: nesta tribo não havia organização militar, mas em cada tribo estavam um ou dois grandes
capitães. Alguns destes eram hereditários, com funções rituais dada a magia da guerra, e outros
nomeados por vontade do chefe.

Judicial: não há composição fixa para um tribunal. Os processos são condicionados pelos
costumes. Os casos vão para o apelo do subchefe para o chefe, do chefe para o chefe supremo e,
se um caso se apresentar de extrema dificuldade, o citimukulu pode convocar, das suas aldeias,
alguns dos seus sacerdotes ou conselheiros hereditários. As testemunhas são trazidas por cada
parte para um caso são interrogadas pelos chefes de divisões. Os conselheiros são chamados a fala
sobre os precedentes ou lei que influenciam a decisão final do chefe.

Consultiva: não há conselho o assembleia de todos homens adultos da tribo para ocasiões
especiais. Os subchefes têm um papel de anciãos e parentes da aldeia para os aconselhar, enquanto
os chefes territoriais maiores têm funcionários hereditários que combinam funções rituais,
políticas e judiciais.

No caso do chefe supremo, estes funcionários contam-se entre trinta e cinco a quarenta e formam
um conselho consultivo sobre assuntos especiais de Estado. Estes funcionários estão isentos de
impostos, não podem ausentar-se por muito tempo da parte central do território e em caso de sua
morte são enterrados no distrito real segundo ritos especiais, e guardam tabus de sexo semelhantes
aos dos chefes. A importância do conselho destes funcionários esta no controle que representa
sobre o poder do chefe-supremo. São funcionários hereditários e não podem ser removidos
segundo a vontade, por isso são imunes a cólera do chefe. Outros funcionários consultivos
consistem nos parentes próximos do chefe. Estes não assistem às discussões de sucessão às
chefaturas, mas são informados dos progressos em curso.
4.4. Integração da Tribo
A integração da tribo depende principalmente do sentimento de coesão tribal e lealdade para com
o chefe-supremo e dos meios pelos quais as actividades dos diferentes distritos são trazidos a um
único controle neste grupo largamente disperso. Os dogmas de parentesco têm-se revelado cada
vez mais à base do sentimento tribal e da vassalagem prestada aos chefes-supremos e territoriais.

Enquanto que em outras tribos os grandes conselhos tribais da maioria dos povos africanos
descritos como sendo a participação de cada um e tratando-se na realidade de largas assembleias
actuam também como ocasiões em que se patenteia a lealdade da tribo, entre os Mbemba quase
todo o ritual tribal é secreto, e o conselho consultivo composto daquilo a que se poderá chamar de
uma casta aristocrática. Os chefes Mbemba eram considerados quase divinos e a crença nos seus
poderes sobrenaturais eram importantes para integração da tribo.

A sacralidade da cerimónia real depende da sua confidencialidade e do facto de apenas as pessoas


de determinada descendência poderem tomar parte no ritual. As pessoas ordinárias não assistem às
cerimónias exceptuando o caso de alguns habitantes da capital. Os conselheiros e sacerdotes têm
também suas próprias funções rituais e algumas delas secretas dos seus próprios colegas, e
insistindo cada um que a sua parte é essencial para o bem estar da tribo, o que aumenta a força de
todo sistema cerimonial.

4.5. Mudanças Pós - Europeias


O advento da administração britânica na Rodésia do Norte por volta de 1900 transformou
imediatamente a posição do chefe e Mbmba e a sua máquina política, e assim continua a fazê-lo
numa crescente variedade de formas.

Algumas destas mudanças são devidas à introdução de novas autoridades na tribo, funcionários do
governo, missionários, etc; que substituíram os antigos funcionários Mbemba, dividindo as esferas
de autoridade com eles ou introduzindo inteiramente novas concepções das funções do governo.
Outras transformações parecem resultar da transformação das condições económicas,
particularmente a introdução do dinheiro, a instituição do trabalho assalariado, a provisão de
oportunidades de fazer dinheiro em empreendimentos industriais fora do território.

Tais modificações alteraram a concepção de autoridade do povo, destruíram toda a base do


trabalho de que dependiam os poderes do chefe, e a antiga correlação entre a autoridade política, o
privilégio económico e a força militar.
Paulatinamente as funções dos velhos chefes foram apanhadas pelas novas autoridades.
Introduziram-se novos tribunais e, embora algum direito costumeiro nativo fosse aplicado pelos
funcionários brancos, porém, os costumes considerados repugnantes à justiça natural e moralidade
foram proibidos, sendo estes tão numerosos que aos nativos isto deve ter-se assemelhado à
introdução de um novo código.

As penalidades para as ofensas legais também mudaram muito. A mutilação pelas mãos dos
chefes, a escravização e a compensação paga à parte injuriada foram substituídas por prisão, pelo
bater, por multas pagas ao governo e sentença de morte. Fizeram-se também novas exigências em
relação às posses e os serviços dos nativos, tais como o imposto habitacional, o alistamento de
nativos como carregadores, construtores de estradas, etc., pagos pelo governo.

A administração europeia reconheceu os chefes Mbemba e em 1916 definiu a sua autoridade com
mais precisão, mas foram principalmente utilizados como funcionários executivos e defraudados
da maior parte da sua autoridade e privilégios, tal como a posse de escravos, de armas, o direito de
mutilação o poder de aplicar o teste do veneno e a recolha de dentes de marfim.

As sanções para o poder da nova administração eram aos olhos dos nativos a força militar e o
facto de terem conseguido vencer os poderosos chefes Mbembas e mais tarde pela aquisição de
novos valores económicos, a sua riqueza aparentemente sem fim.

Através das missões passaram a dominar vários distritos e principalmente tendo aldeias nas suas
propriedades, possuindo e cultivando a terra, introduzindo seu próprio código de leis que muitas
vezes diferia das leis do governo e das dos chefes, proibindo a poligamia, o divórcio, beber
cerveja, cerimónias religiosas de diferentes espécies. Mas além dos seus aldeões, as sociedades
missionárias exercem autoridade sobre os cristãos espalhados por quase todo território.

As sanções para a autoridade dos missionários são muitas. Por um lado, o ensino e a sua maneira
de viver prestam-se a uma nova obediência e uma nova oportunidade a progredir e as suas
personalidades insiram muitas das vezes admiração, afecto e lealdade pessoal. Por outro lado, há a
introdução de uma sanção nova sobrenatural quase tão poderosa como as que sustentavam a
autoridade do chefe e a ameaça de êxodo dos membros cristãos de uma comunidade em que a lei
cristã seja escarnecida por um chefe de aldeia ou membro proeminente.

Não existem outros núcleos organizados de europeus nesta área (exemplo grandes grupos de
fazendeiros ou colonos), mas pode-se dizer que todos europeus estão, em certa medida, numa
posição de autoridade. Todos têm a força da riqueza e o poder de empregar um grupo de sequazes.
Todos têm um status social elevado que lhes permite falar com um chefe como de igual para igual,
ou as mais das vezes como a um inferior, e os nativos os julgam sempre apoiados pelos
funcionários administrativos.

Os administradores Mbemba nunca foram ricos comparados com um número de potentados


africanos. O seu país é pobre. Não possuem gado que possa ser convertível em dinheiro dentro das
modernas condições, o marfim do seu país já não lhes pertence, nem os direitos sobre os minérios.
A terra não tem valor financeiro, os salários pagos aos chefes foram sempre baixos comparados
com o rendimento do chefe-supremo.

A juntar a isto, o serviço prestado pelos homens da tribo aos chefes e de que estes dependiam está
reduzido a metade ou menos com ausência dos homens nas minas, e o que resta é prestado as mais
das vezes de má vontade.

Mas apesar destes factos como conseguiu sobreviver parte do poder dos chefes locais? Em parte
foi devido a sua estrutura de parentesco estreitamente entrelaçado, e devido a força das crenças
sobrenaturais em que a sua autoridade se achava largamente baseada.

Mas estas foram naturalmente enfraquecidas com a introdução do cristianismo e a proibição ou


desencorajamento de muitos ritos tribais. Os tribunais dos chefes continuaram funcionando ao
lado dos tribunais do comissário do distrito apesar de não serem reconhecidos durante cerca de 30
anos. Os nativos levavam para ai os casos que achavam que os magistrados europeus não
entendiam, isto é, assuntos rituais com as suas raízes na história do passado. Assim, ainda haviam
algumas funções que o povo acreditava poderem ser desempenhadas melhor pelo chefe Mbemba
do que por qualquer autoridade branca nova.

4.6. Efeitos dos Decretos de 1929


Em 1929 foi introduzida na Rodésia do Norte uma forma de administração indirecta, sendo o
poder das autoridades então instituídas ampliado ou mais precisamente definido por uma
ordenação subsequente de 1936.

Foi concedido aos chefes locais jurisdição sobre territórios definidos, encorajados a emitir ordens
em assuntos de higiene, queimar mato, movimento de nativos, constituição das aldeias, etc. Os
tribunais nativos também foram reconhecidos e foi-lhes dada jurisdição para todos casos excepto
para feitiçaria, assassinos ou casos em que estejam envolvidos europeus.

Esta nova política fez muito no sentido de restaurar o prestígio pessoal dos chefes. A perda de
uma autoridade largamente baseada no ritual foi compensada nalguma medida pelo apoio evidente
do governo. Mas a maior parte dos Mbemba viam nos seus chefes como meros servos da
administração.

No campo legislativo, os funcionários de distrito fizeram determinados esforços para restaurar a


autoconfiança das autoridades nativas e para encorajá-las, não só para readquirirem funções de
governo que tinham perdido mas também para desempenharem novas tarefas, tais como emissão
de ordens relativas a higiene, etc.

Todo o equilíbrio de autoridade se alterou, pela mudança da posição económica do chefe e por
falta de reconhecimento do governo. Os funcionários executivos e judiciais em que o chefe se
apoiava eram mantidos juntos na esperança de recompensas e de alimentos e, em virtude das suas
funções religiosas.

Posteriormente os chefes passaram a ter menos possibilidades de sustentar os seus conselheiros,


principalmente devido a decaída do sistema de trabalho por tributo. Ele deixa de se considerar
obrigado a distribuir dinheiro da mesma maneira que comida e, em qualquer caso, não tem o
suficiente que lhe permita recompensar adequadamente a sua gente.

Mas além do descalabro económico dos tribunais do chefe que acaba de ser referido, a maior parte
da insatisfação deve-se ao facto de não ser possível qualquer mecanismo de investigação judicial,
executiva ou consultiva em primeira instância por parte do governo.

Os chefes foram considerados como autoridades sem qualquer estudo sobre o modo como as suas
decisões deveriam ser executadas. Embora os chefes da aldeia e o conselho fossem mencionados
como elegíveis para fazerem parte destes tribunais, a presença dos últimos não era aparentemente
obrigatória. As importantes funções consultivas dos bakabilo3 como conselho tribal e o eventual
conselho de regência não foram reconhecidos. E o resultado foi que o chefe sentiu-se livre para
agir sem o controle anterior do seu poder. Por outro lado, os conselheiros desanimaram por
considerar que o governo olha apenas para os chefes.

Abandonar o conselho dos bakabilo é prescindir de um corpo de homens com fortes tradições de
governo e um sentido de bem público. Confiar neles sem ao mesmo tempo os treinar nas novas
funções e aliar a estes outros elementos, especialmente para os membros mais educados da tribo, é
construir sobre uma fundação que não pode durar e negar ao homem comum a experiência de
administração que ele requererá no futuro.

3
Funcionários hereditários do chefe supremo
Sumário
Apesar dos decretos introduzidos pela administração europeia para controlar a autoridade local, o
aparelho jurídico-administrativo Mbemba nunca desapareceu na totalidade. Mas os chefes são
considerados funcionários ao serviço da administração europeia exercendo funções de pouca
importância. Mas o sistema de autoridade política continuou sendo baseado no privilégio ritual
hereditário. A coordenação das actividades de cada unidade política baseia-se na relação íntima
entre cada chefe governante e o ritual que os une.

Exercícios
1. Identifique as características tribais/grupo local, de parentesco, categoria
dos membros, e estrutura económica dos Mbemba.

2. Mencione as funções, prerrogativas e posições de chefia na sociedade


Mbemba e a respectiva sucessão baseada na descendência.

3. Classifique as actividades de governo e as diferentes formas de ritual de


que depende o poder do chefe.

4. Caracterize as mudanças introduzidas com o advento da administração


britânica.

Resolva os exercícios indicados.

Auto-avaliação Faça uma breve síntese da unidade em estudo.


Unidade V
O Reino dos Ankole

Introdução
Os Ankole formam um reino (Banyankole) entre uma série de pequenos outros. A sua localização
forma um corredor que conduz das amplas pastagens do Nilo Superior aos planaltos do Ruanda
Belga e de Tanganhica. Este corredor, tornou-se, no palco em que os Bahima (pastores) e os Bairu
(agricultores) durante séculos desempenharam o seu drama político.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Descrever a história da formação do reino Ankole e suas tribos;

 Caracterizar status político das tribos dentro do reino Ankole;

Objectivos  Caracterizar o sistema político administrativo.

5.1. A Formação e Implantação do Reino Ankole e suas Tribos


Os Ankole formam um reino de entre uma série de pequenos outros reinos nativos que se
estendem de norte para o sul pelas fronteiras ocidentais do protectorado do Uganda.

Limitado a este pela grande barreira do Lago Mictória e a oeste pela montanha do maciço de
Ruwenzori, e uma cadeia de lagos que vai do Lago Alberto ao Lago Tanganhica, forma um
corredor que conduz das amplas pastagens do Nilo Superior aos planaltos do Ruanda Belga e de
Tanganhica. Este corredor constituiu um caminho pelo qual vagas de povo com gado, emigraram
para sul, e onde quer que estes pastores se instalassem em território já ocupado pelos agricultores
bantos, eles faziam um ajustamento uniforme, conquistando os agricultores e estabelecendo-se
como classe governante. Os pastores chamavam-se Bahima ou Bahuma e os agricultores bairu ou
Bahera.

Este corredor tornou-se, no palco em que os Bahima e os Bairu durante séculos desempenharam o
seu drama político. E através de um vasto corpo de mitos e lendas (sobre pilhagens, batalhas,
fome, doenças, feitiçaria, etc) que podemos encontrar a origem do reino dos Ankole.

Os Bahima viviam no Ankole oriental com o seu gado enquanto que os Bairu cultivavam a terra
no ocidente. Naquela época, os Bahimas não tinham reis nem chefes, mas os homens importantes
nos clãs resolviam as querelas. Entre os homens ricos ainda são lembrados os seguintes: Nyawera
viveu em Kashari e pertencia ao clã Abaitera; Rwzigami viveu em rugondo e pertencia ao clã
Abasite; Ishemurindwa do clã Abaishekatwa viveu em Masha; Karara do Abakoboza viveu em
ruanda; Rwanyakizha do Abarami viveu em Nshara e, enquanto Mariza do clã Abararira viveu em
Bukanga.

Havia também outros clãs, demasiado numerosos para aqui os mencionar. Estes Bahima são hoje
apontados como sendo os primeiros Bahima de Ankole. Não existem histórias de como eles
chegaram lá. Outros clãs vieram para Ankole mais tarde oriundos dos países vizinhos.

Os Bahiru viviam em Rwanpara, Shema, Bhwezhu e Igara. Não se sabe se tinham clãs ou se
estavam organizados sob chefes. Não havia guerra entre os Bahima e os Bairu naquela época,
cada um vivia na sua secção do país trocando cerveja e milho por leite e manteiga.

No entanto, inesperadamente, apareceu um povo estranho Abachwezi, que do ciclo das canções e
lendas parecem ser aquelas mesmas figuras que desempenharam no passado dos Banyoro,
Baganda, Batoro, Abakaragwe, e pelo menos certos grupos entre os Banyanruanda, um papel tão
importante. Enquanto que as opiniões referentes à sua origem e desaparecimento diferem, há, no
fundo, uma concordância fundamental quanto ao seu carácter, feitos e direcção dos seus
movimentos.

Os Abachwezi viviam em Ankole, governavam o país, pastoreavam seu gado e realizavam


prodígios, mas não permaneceram ali por muito tempo.

Embora a técnica agrícola dos Bairu não fosse proveitosa e não produzisse grande excedente,
produziam milho e cevada suficiente para que os Bahima tornassem a dominação proveitosa.

A produção agrícola não era suficiente que pudesse suprir por completo as necessidades dos
Bahima. Estes precisavam recorrer ao seu gado, forçando seus servos a dar-lhes tanta cevada,
milho e trabalho quanto pudessem sem destruir a fonte de produção.

Mesmo sem um desenvolvimento maior da organização política, os Bahima tinham a vantagem da


experiência guerreira e da cooperação. Depois dos Bahima de Ankole terem conquistado os Bairu
e imposto a sua vontade através de estado de organização, viram-se em face de uma nova situação,
tinham de defender o seu país, o seu gado e os súbditos Bairu dos ataques externos. Mas as forças
de defesa não eram uma garantia de segurança. O método mais satisfatório de impedir a agressão
estava na permanente subjugação dos invasores.

As funções do Estado dos Bahima consistiam em:


 Dominação dos Bairu expressa por um status legal inferior e pela obrigação de pagamento
de tributo. E juntamente com o status legal inferior vinha o status social inferior baseado
na diferença de castas;

 Defender o território e o povo de Ankole dos conquistadores e dos salteadores externos;

 Um programa de conquistas que era limitado por incursões semelhantes da parte dos
reinos vizinhos.

5.2. Status Político


Os Bahima passaram a ser membros de um grupo político. Mas este laço político tinha de ser
criado e de ser conscientemente sentido. Envolvia liderança, cooperação e submissão à autoridade.
Deu lugar à realeza e ao princípio dinástico, a organização de forças militares e à chefatura.
Converteu assim os Bahima num Estado ─ o reino de Banyankole.

Esta nova relação política estabeleceu-se através de relação de clientelismo. Os deveres tributários
estavam ao serviço militar. Cada Muhima (proprietário de gado), mesmo se não fosse membro de
um bando militar, tinha de ir para a guerra quando chamado.

Em troca do serviço militar e do pagamento do tributo, o cliente recebia protecção. Primeiro, o


Mugabe protegia o gado do seu cliente dos incursores de gado e quando era vítima de incursões
ajudava-o na retaliação. Se um homem perdia todo seu gado em virtude de doença ou incursão, o
Mugabe era obrigado a ajudar o homem a formar um novo rebanho.

Segundo, o Mugabe mantinha a paz entre os clientes. A nenhum cliente se permitia fazer
incursões ou roubar o gado de um outro cliente ou fazer mal à sua pessoa ou dependentes.

Finalmente, o Mugabe era o instrumento que permitia aos seus clientes o alargamento dos
rebanhos e pastagens por meio de incursões e conquista.

Para os Bahima, a palavra Bairu significava servidão, um estado legal inferior ao existente entre
eles. A diferença de status exprimia-se melhor por uma enumeração das limitações dos direitos
Bairu.

Os Bairu não tinham o direito de possuir vacas produtivas. Por serviços prestados aos Bahima,
recebiam as vezes vacas estéreis e vitelos. Os Bairu guardavam este gado para pagamentos de
casamento ou matavam-no para alimento.

A distinção social entre os Bahima e os Bairu era mantida por uma estrita proibição de casamento.
Nenhum Bairu podia casar com uma mulher Muhima. Os homens Bahima não casavam com
mulheres Bairu porque não era legal dar gado aos Bairu e só o gado legitimava o casamento e a
prole.

Mas por outro lado, os homens Bahima arranjavam concubinas dentre as raparigas Bairu. Estas
mulheres não tinham status de mulheres casadas e eram geralmente descritas como criadas.

A característica mais saliente da servidão Bairu era a regra de que, sob nenhuma circunstância, um
Bairu podia matar um Muhima.

O direito de vingança de sangue se exercia nas famílias extensas dos Bairu entre si, mas não
podia estender-se aos Bahima. Se um Bahima matava um Bairu, a família do homem assassinado
não podia exigir vingança de sangue, embora algumas vezes fosse capaz de obter compensação
através da interveniência do Mugabe. Os Bahima, por outro lado, podiam vingar a morte de um
parente se este fosse assassinado por um Bairu sem consultar o Mugabe. Os Bairu não tinham
status político.

Uma outra classe que formava uma parte do reino Banyankole era constituida por Bahima
conquistados os Abatoro, que tinham antigamente formado chefados ou parte de outros reinos.

Para estes, o Mugabe costumava nomear um senhor que os forçava a pagar tributo em gado e que
deitava por terra qualquer tentativa de rebelião. Este povo era da mesma raça e o status económico
sendo o mesmo levava com o tempo ao amolgamento com os Bahima de Ankole.

Os Abahuku (escravos), eram uma outra classe, sujeita no reino Banyankole. Os escravos eram
propriedade do Mugabe, dos chefes dirigentes e dos proprietários de gado mais ricos, eram
inteiramente constituídos por Bairu capturados nas incursões feitas nos reinos vizinhos. Tinham
orelhas cortadas para que se fugissem pudessem ser reconhecidos e apanhados.

Eram usados como cortadores de madeira, carregadores e água e carniceiros. Sendo um


prisioneiro de guerra, não tinha status legal na comunidade e era propriedade privada da pessoa
que o possuía e que tinha o direito de proceder para com ele como lhe conviesse.

Embora a autoridade suprema política e jurídica se investisse no Mugabe como o representante


dos Bahima politicamente organizados, certa margem de poder político e jurídico era deixado às
famílias extensas tanto Bahima como Bairu.

A função do Mugabe e dos seus chefes repousa mais em julgar do que em executar as punições.
Além disso não havia polícia organizada para guardar a vida e a propriedade.
Em suma, sob o ponto de vista do status político e legal, os membros do reino Banyankole não
formavam uma massa homogénea, mas distinguiam-se por uma larga gama de direitos e
proibições resultando numa estratificação da sociedade em classes.

No topo estava o Estado Bahima com o seu núcleo governativo centrado em torno do Mugabe.
Em baixo estavam as classes sujeitas dos Bairu, os Abatoro e os Abahuku. A natureza de casta
desta estratificação era pronunciada, residindo por último nas diferenças raciais e económicas.

5.3. O Rei e o Kraal Real


O Rei ou Mugabe formava o centro de um sistema de relações políticas estritamente definidas. A
volta do rei criou-se um sistema de governo constituído pelos detentores dos cargos, os bandos
militares e a hoste de servos e especialistas para sustentar a dignidade e autoridade do rei e para
executar as suas ordens na qualidade de chefe da casta dirigente Bahima politicamente organizada.

O status elevado do rei era sancionado em primeiro lugar, pela sua descendência de Ruhinda, o
originário da dinastia Abaninda, e em segundo lugar, pela sua posse dos símbolos de realeza.

A palavra Mugabe deriva do verbo okugaba (dar), que parecia implicar que o Mugabe era um
dador. O seu poder estendia-se sobre os pastores livres, possuidores de gado de Ankole que
estavam vinculados a ele por mútuos laços de defesa e agressão, sobre os pastores conquistados
que lhes pagavam tributo, sobre alguns camponeses Bairu que viviam no território tribal.

Os poderes religiosos, mágicos e físicos estavam investidos na pessoa do rei. Nas canções e nos
chamamentos era tratado por “leão” (o mais feroz e corajoso dos animais incursores de gado); era
chamado o “touro condutor” (porque o gado aumentava através dele por incursão e dádiva); era
chamado o “território de Ankole” porque tinha comido as terras de pastoreio e defendia-se contra
agressão); era chamado “o tambor” (porque como tambor mantinha a unidade dos homens sobre o
seu poder); era chamado “lua” (porque através da lua tinha poderes para afastar o mal e trazer a
fortuna para a tribo).

Quando a doença ou a idade traziam o enfraquecimento, o Mugabe tomava veneno preparado para
ele pelos seus mágicos, e morria, deixando caminho para um rei novo e viril que pudesse manter a
unidade do reino e travar guerras com sucesso contra inimigos externos.

O status jurídico de Mugabe, dava-lhe a mais alta autoridade política. As nomeações oficiais
estavam nas suas mãos assim como estava a decisão de guerra ou paz. Dentre seus parentes, o
Mugabe nomeava os chefes dos seus bandos militares e o seu chefe favorito ─ engazi.
Também o Mugabe detinha a posição de autoridade judicial suprema. Tinha o direito de punir as
pessoas com morte, exílio, pancadas, tortura e maldição. Podia ainda passar por cima das decisões
judiciais dos grupos de parentesco.

Embora os poderes políticos e jurídicos do Mugabe fossem grandes, eram em última análise
poderes circunscritos. Como todos indivíduo do seu reino, com excepção dos escravos, o Mugabe
estava vinculado aos costumes.

Era seu dever defender o gado e a vida dos seus súbditos, para celebrar certos ritos religiosos e
mágicos, oferecer ajuda económica às pessoas necessitadas, e pagar como qualquer outro, o lobolo
ao pai de qualquer mulher com quem ele desejasse casar.

O Mugabe era a cabeça inquestionável do Estado mas nunca estava só, pois tinha o apoio nos seus
deveres reais de um grande número de indivíduos, que juntamente com o rei formavam um
governo efectivo. Entre estes indivíduos, a irmã e a mãe do rei eram os mais importantes.

A seguir em categorias vinham os Enganzi, ou o chefe favorito, que vivia com o Mugabe e
actuava como seu conselheiro. Este é escolhido pelo Mugabe com o conselho e consentimento da
sua mãe e irmã.

Depois havia um grande número de indivíduos conhecidos por abagaragwa (parentes do rei) que
tinham uma série de deveres a realizar no kraal do rei. Finalmente, havia os abakungu (chefes
executivos) compreendendo chefes guerreiros e colectores de tributo.

Embora o Enganzi fosse um homem rico e poderoso, era sempre escolhido de um clã diferente do
Abahinda e, portanto, não podia chamar para si o próprio Mugabeship. Era o principal conselheiro
militar e com o seu conselho cada novo Mugabe escolhia o chefe dos seus bandos militares.

5.4. Tributo
Além dos escravos (de quem já se falou anteriormente), o Mugabe tinha os seus artífices
especializados.

Os primeiros dentre estes eram os abahesi (ferreiros do rei) que faziam lanças, facas, machados e
pulseiras de ferro para os braços e para os tornozelos. Eram importantes também os entalhadores
que faziam vasos de leite, tambores, colheres de madeira e decorações na madeira, marfim e
ossos. Assim, o trabalho requerido pelo Mugabe dividia-se em duas classes: trabalho escravo (que
eram propriedade do Mugabe e não se lhes pagava nada) e trabalho obrigatório (eram
recompensados por uma forma de pagamento conhecida por engabirano ─ vacas estéreis,
carneiros e cabras).
Além de trabalho, o Mugabe exigia grandes quantidades de cerveja e comida, não apenas para
manutenção do kraal real, mas também para festejar os seus chefes e visitas e ainda para ajudar os
sequazes e súbditos que estivessem necessitados.

A obrigação de recolher tributo para a casa real recaía sobre o Enganzi que designava recebedores
Bairu. Como a recolha do tributo era exercida pelos chefes, o país estava dividido em áreas. Cada
chefe Muhima tinha, em relação a uma dada localidade o direito de recolher tributo mas parte da
sua recolha devia ser enviada ao Mugabe.

Além do tributo enviado pelos chefes, o Mugabe levantava directamente tributo dos camponeses.
A falta de pagamento do tributo da parte dos camponeses implicava a destruição da sua
propriedade e tratamento com pancadas.

O okutoizha (pagamento de homenagem pelo vassalo ao Mugabe) era uma fonte considerável de
rendimento. E do ponto de vista puramente económico, constituía um fundo excedente a que os
pastores em apuros podiam recorrer.

Por fim, há uma outra forma de pagamento conhecida por ekyitoro (gado proveniente dos
Abatoro, pastores conquistados). Os recebedores do gado iam periodicamente aos rebanhos dos
Abatoro e levavam tanto gado quanto o rei precisasse. Muitas vezes tirava-se um rebanho inteiro.
Os Bahima consideravam o pagamento de ekyitoro como um acontecimento terrível uma vez que
muitas vezes dava azo às piores fases de abuso da recolha de tributo.

5.5. Sucessão
Como já referimos anteriormente, não se permitia que nenhum Mugabe morresse por doença ou
velhice, ministrando-lhe um veneno assim que percebessem indícios de fraqueza.

Após da morte do rei deve-se escolher um sucessor, e duas normas regulavam a escolha: primeiro,
o novo Mugabe devia estar na linha real. Segundo, devia ser o mais forte dos filhos do último rei.
A descendência patrilinear satisfazia o primeiro requisito.

A segunda repousava num método pelo qual a força e a coragem dos filhos do Mugabe podiam
ser postas a prova. Os Bahima exigiam que o mais forte entre os filhos do rei fosse o seu chefe e
que o teste fosse de guerra. Os irmãos deviam lutar entre si até que só um deles ficasse vivo em
Akole para reclamar o tambor e a função de Mugabe.

Mas, os Ankole não podiam estar sem um rei. Após as cerimónias fúnebres, tinha lugar no kraal
real uma simulação da luta entre os pastores plebeus e o vencedor era escolhido como falso rei.
Ele mantinha uma presença de ordem ate terminar a guerra de acessão.
Durante a guerra de sucessão que podia durar vários meses, o país estava em estado caótico. Cada
homem procurava protecção junto dos seus parentes. Muito gado era roubado e as pessoas
aproveitavam-se do caos para se vingarem dos seus inimigos. Os grandes chefes que guardavam
as fronteiras de Ankole não tomavam parte da guerra de sucessão. Eles procuravam o mais
possível manter a ordem interna e guardar o país de invasores estrangeiros.

Quando terminasse a guerra, o novo rei voltava para o kraal real com o tambor, sua mãe e irmã, e
os Enganzi matavam o ekyibumbe sendo finalmente proclamado e aceite como o novo Mugabe.

Dias mais tarde realizava-se uma cerimónia de sucessão depois da qual o rei empreendia uma
longa viagem de purificação através do país. Acompanhavam alguns mágicos especiais, um
pequeno rebanho de gado e um grupo de caçadores peritos.

Depois do seu regresso à residência real, fazia grandes alterações entre os oficiais que o
rodeavam. Havia geralmente homens que tinham lutado por ele na guerra de sucessão. O velho
Enganzi actuava como conselheiro juntamente com a irmã e mãe do rei. E após as primeiras
nomeações o velho enganzi retirava-se e era premiado com muito gado pelo seu longo serviço.
Então, o rei escolhia um novo Enganzi dentre os seus novos sequazes e o aparelho governamental
ficava outra vez completo.

A sucessão no reino Banyankole era regulada por um corpo particular de crenças em práticas, cuja
função geral era manter a continuidade da realeza como parte essencial de cooperação política e
eliminar, tanto quanto possível, a competição e dissenção como elementos permanentes de
liderança política. A guerra de sucessão que a princípio aparece como caos e anarquia, serve a
longo prazo para erradicar possíveis rivais.

Sumário
O reino dos Banyankole está dentro da classe de estruturas políticas conhecidas por Estados de
Conquista, em que grupos etnicamente diferentes entram em contacto resultando numa sociedade
estratificada.

As relações políticas de clientela, servidão e escravatura podem classificar-se como contratuais e


compulsivas, diferindo nisto das relações baseadas no parentesco que antigamente eram
predominantes. Quanto a natureza da sua constituição, a clientela era uma relação equilibrada com
origem na necessidade de cooperação política. Servidão e escravatura por outro lado, eram
relações desequilibradas de natureza puramente exploratória.
Exercícios
1 Quais são as principais funções do Estado no reino dos Banyankole?

2 No que diz respeito ao status no interior do reino dos Banyankole, quais as diferenças
entre os Bahima e os Bairu?

3 Como se processa a recolha do tributo no reino dos Banyankole?

Resolva os exercícios indicados.

Auto-avaliação Faça uma breve síntese da unidade em estudo.


Unidade VI
O Estado Kede

Introdução
Os Kede, são uma secção da grande tribo da Nigéria do norte com muitos traços culturais em
comum com a sua tribo-mãe; seu sistema de parentesco é o mesmo; adoptando também a religião
do reino Nupa ─ islamismo.

Seus empreendimentos económicos e a vida social no geral centram-se a volta do rio, na margem
do qual vivem e de onde resulta o seu modo de vida. A sua organização política, contém certos
traços distintos e invulgares.

Os Kede são representados ainda como emigrantes estrangeiros que vieram do exterior para o seu
actual habitat e se fixaram entre a população aborígene. São principalmente agricultores que
cultivavam as áreas férteis do vale do rio. São além disso pescadores em pequena escala e
canoeiros e sua fama é conhecida por todo rio Niger monopolizando o tráfico do rio.

Ao completar esta unidade / lição, tu será capaz de:

 Descrever a evolução do Estado Kede;

 Classificar do sistema político;

Objectivos  Identificar a estratificação social.

6.1. Origem e Fixação do Estado Kede


A sua organização política, contém certos traços distintos e invulgares ─ que serão analisados
mais adiante. A divisão aguda, cultural e tribal, entre os Kede e outros grupos esta patente no uso
linguístico.

São principalmente agricultores que cultivavam as áreas férteis do vale do rio. São além disso
pescadores em pequena escala e canoeiros e sua fama é conhecida por todo rio Níger
monopolizando o tráfico do rio.
No comércio fluvial, o canoeiro Kede assume duas funções: ou contratador que aluga sua canoa e
tripulação (constituída por ele e membros da sua família) a um comerciante para uma determinada
viagem; ou comerciante transportando seus próprios artigos na sua embarcação. São transportados
pessoas, produtos e animais para outro lado do rio mediante um pequeno pagamento. Estas
viagens representam prolongada ausência de casa, muitas vezes de muitos meses, não só por causa
da distância que fica o destino, mas também devido às muitas paragens e longas esperas. Assim o
canoeiro poderá ter que esperar num certo lugar até que o rio se torne de novo navegável ou que
encham suas canoas de mercadoria, isto é, que os contratem para uma viagem proveitosa de
regresso.

Quanto ao processo de fixação, a história Kede vai até à era da exploração da Nigéria e da
ocupação britânica. Segundo a tradição Kede, a sua casa tribal ficava perto da confluência do
Niger e Kaduna, junto de Muregi, que algum tempo depois se tornou na sua capital política.

Dai dizem terem estendido os seus aldeamentos e ao mesmo tempo governo, gradualmente sobre
as margens do rio para norte e sul até que as suas aldeias cobriram o vale do Níger. Na maior parte
dos casos, a fixação Kede ocupa a própria margem do rio, e a aldeia nativa a faixa de terra que
fica imediatamente por detrás; nalguns casos, encontramos os aldeamentos Kede numa ilha da
margem ocupada pela aldeia nativa ou sobre a margem oposta do rio.

6.2. Organização Política


O sistema político corresponde em todos pontos importantes o conceito de Estado. Na sua
pequena escala preenche as condições essenciais de organização de Estado. O seu domínio é
territorial e não tribal; sua administração centralizada, isto, o lar tradicional da tribo é ao mesmo
tempo o centro político do país; aparelho do governo monopolizado por um órgão especial
nomeado ou escolhido que é separado do resto da população por certos privilégios económicos e
sociais.

A posição do chefe: a chefia ou kuta reside em Muregi. Nas suas mãos pesa a última decisão para
todos os assuntos relativos ao país e à tribo como um todo, principalmente no que toca a guerra e a
fundação de novas colónias. O kuta era também a cabeça judicial do seu país. A maior parte dos
impostos taxas e outras receitas revertiam para o seu tesouro particular. Era ainda o representante
do seu país perante os Emires de Nupa.

A autoridade do chefe kede repousa essencialmente em três aspectos: primeiro, uma sansão moral
da chefia kede está na sua natureza hereditária derivando o facto, em linha directa, de um mito
sobre o kuta que fora investido no mando sobre os Kede pelo próprio Tsoede, o rei ansestral e
héroi da cultura Nupa.
Um outro sustentáculo da chefia Kede e de ordem mais prática reside na esmagadora forte posição
económica do chefe. Os seus rendimentos permitem-lhe a aquisição de uma grande frota de
canoas, que não só constitui o principal meio de vida, como também a base de toda acção militar e
ligar a sua casa a uma hoste de sequazes e criados.

Finalmente a sua posição esta assegurada pelo facto de a maioria dos mais importantes lugares
políticos do Estado Kede se encontrarem nas mãos de pessoas do seu sangue.

Os cargos de Estado entre os Kede recaem em duas categorias: uma que compreende um
pequeno número de detentores de cargos ticizi (designados), que residem na capital e representam
os conselheiros do chefe kede; outra que compreende emissários oficiais designados do kuta,
egbazi (delegados) que têm a seu cargo várias comunidades e colónias Kede. A estes dois grupos
de autênticos funcionários públicos temos a acrescentar um terceiro que os Nupa apelidam de
posições privadas ou domésticas que o chefe institui pelos seus leais e capazes sequazes. A
maioria destes vive com o kuta em Muregi, actuando como mensageiros, conselheiros de segunda
ordem.

Os conselheiros do kuta apresentam cinco categorias, três das quais correspondem a lugares de
maior ou menor especialização. A administração da cidade de Muregi, a guarda das relíquias
sagradas de Tsoede e a chefia de expedições militares. As posições dos conselheiros do chefe são
hereditárias e pertencem às várias famílias que detêm suas posições desde tempos remotos.
Porém, a sucessão a um lugar vago não é automática visto que para cada vaga deve haver vários
candidatos de aproximadamente idêntica senioridade e de idêntico direito. Na nomeação de um
novo detentor de posição pelo chefe e seus conselheiros, é dado o devido apreço à reputação do
candidato, a sua experiência, inteligência e sucesso económico.

A lista das posições dos delegados é maior e mais flexível do que a dos conselheiros. É
frequentemente alterada, aumentada ou diminuída, segundo as exigências da administração. Os
membros desta ordem de posições são todos recrutados da família dos kuta. As suas posições são
graduadas e seguem um sistema estrito de precedência e promoção. Cada promoção significa uma
medida maior de poder e influência. Um membro novo ainda não designado da família do chefe
será em regra nomeado para uma das posições inferiores. As promoções mais elevadas e os
lugares de maior responsabilidade só podem ser alcançados por promoção gradual. A promoção e
a primeira nomeação são também decididas pelo chefe em consulta com outros homens
importantes da tribo.

Sucessão à chefatura: a última promoção aberta aos membros da família do chefe e a mais
elevada das promoções é a promoção à chefatura. A posição seguinte é a do egba (vice),
considerada como a posição de presumível herdeiro e são em regra assumidas pelo mais velho
dentre os parentes designados do chefe, seu irmão mais novo, ou filho do irmão mais velho.

Os homens importantes da tribo exercem influência indirecta, pois em cada uma das repetidas
decisões de rotina sobre a promoção de um delegado, já eles decidem em certa medida das suas
futuras possibilidades como candidato a chefatura. E o chefe governante, sendo ele próprio um
dos eleitores pode modificar a decisão em favor do candidato que apoia. O facto dos delegados
permanecerem dependentes do favor do chefe para a sua promoção e carreira política e geral,
torna esse laço num baluarte do poder do chefe.

Com conselheiros e delegados, tanto uns como outros dependentes da sua boa vontade, o chefe
Kede exercia uma autoridade quase absoluta. As promoções repetidas e as transferências, todas
decididas na capital, prendiam os delegados a Muregi e impedia-os de atingir uma posição
demasiado independente nos seus domínios temporários. O poder absoluto apareceu como um
elemento necessário para o controle deste sistema político móvel, com os seus postos externos
dispersos e colónias, e tão dependentes de cooperação e acção concertada. A fraqueza do sistema
esta no facto de não permitir uma fiscalização legítima do poder do chefe.

Administração das colónias: o domínio do delegado varia em extensão e composição. O seu


distrito pode compreender ambos grupos tribais ─ Kede e não-kede; ou o limite do seu domínio
pode cingir-se em torno da comunidade Kede, enquanto a aldeia nativa pertence à terra e ao
distrito político interno. Em qualquer dos casos, o domínio do delegado Kede estende-se rio
abaixo e rio acima.

Os aldeões nativos vivem sob o seu próprio chefe e anciãos, e no fundo são deixados a si próprios,
excepto no tocante às obrigações políticas para com os dirigentes Kede. No desempenho destas
obrigações, o chefe de aldeia e os anciãos não passam de meros subordinados do governo. As
famílias Kede, por outro lado, que vivem no distrito do delegado são seus súbditos num sentido
diferente.

Os deveres oficiais do delegado estão relacionados com as três principais preocupações da


administração Kede. Ele tem a seu cargo o recebimento de impostos em nome do chefe Kede, a
manutenção da ordem nos distritos e, finalmente, actua como o agente do chefe em todos os
assuntos que requerem uma acção conjunta da tribo no seu todo.
Imposto: o sistema de impostos em vigor com a ocupação britânica baseia-se numa receita de
taxas numa escala móvel, estabelecida entre os Kede com base no número de canoas de que se é
proprietário.

O imposto é recebido no local pelo chefe de aldeia oficial, e então entregue pelo chefe de distrito
ao tesouro da administração Nativa em Bida. No distrito Kede existem delegados que são chefes
de aldeia, e kuta chefes de distrito. Isto não era assim nos tempos pré-britânicos. As aldeias
pagavam um certo imposto anula em dinheiro, estabelecido por aldeia, que era recebido pelo kuta
e pelos seus delegados em nome do rei de Nupa.

O imposto que os Kede pagavam eram de duas espécies: primeiro havia propriamente o imposto,
pago localmente na aldeia a que se pertencia. Era um imposto sobre o rendimento no sentido
moderno, consistindo numa percentagem das receitas em dinheiro de cada proprietário de canoa;
segundo, havia um tributo voluntário apenas no nome, que os canoeiros pagavam aos delegados
dos lugares onde eles tivessem parado e feito negócio.

O tributo era variável no seu quantitativo. O não pagamento significava perda do direito de visitar
e fazer comércio no distrito. O delegado entregava ao kuta metade da receita do imposto
propriamente dito. O kuta por sua vez, entregava cerca de um quinto do seu rendimento total de
impostos.

Jurisdição: o sistema moderno apresenta um juiz maometano profissional (alkali), que esta a
frente do tribunal em Muregi e a quem todos casos judiciais do distrito devem ser submetidos. A
polícia da administração nativa ajuda-o na parte executiva. Os tribunais na capital são superiores e
de recurso tanto para os Kede como para ouros distritos do Emirato. Sob o novo sistema, o chefe e
o delegado não têm autoridade judicial mas apenas uma autoridade executiva limitada.

6.3. Estratificação Social


A divisão de direitos e deveres políticos no país Kede e, implicita nela, a de igual vantagem
económica que a população das diferentes secções usufrui, constitui a base de uma estratificação
social. As diferenças culturais e étnicas acentuam isto ao coincidirem e serem interpretadas no
sentido da distinção que implicam gradação social.

No topo da estrutura social, temos a classe hereditária dirigente formada pelo grupo da família do
chefe, e abaixo dela o segundo estrato, que compreende os Kede de status comum. Embora estes
não exerçam influência directa sobre a política do Estado, podem sob certos aspectos enfileirar ao
lado da classe dirigente. Se os membros da classe dirigente decidem do destino do país e tiram os
principais benefícios de todas empresas políticas, guerra ou conquista pacífica de território, os
populares tomam parte activa em todas actividades à escala tribal, mesmo sofrendo o embate na
actividade mais importante, colonização e beneficiando de forma considerável dos sucessos
políticos dos seus dirigentes.

No que diz respeito a integração, podemos distinguir três tipos de agentes que exercem forte
influência, contribuindo ainda para unificação política:

a) Integração através da cooperação real entre as secções da população. Ex:cooperação


económica e vida comunitária;

b) Integração na esfera espiritual, ou por outra, através de ideologias que ensinam ou postulam
unidade. Ex: tradição e mitologia;

c) Integração baseada em ambas. Ex: prática religiosa.

Sumário
A cooperação económica e a vida comunitária acentuam as divisões tribais e políticas da
sociedade Kede. Como forças integrativas capazes de criar uma solidariedade e de aguentar o
sistema político em geral, elas são inoperantes. Somente as influências ideológicas, o mito e a
religião triunfam. Amarram a unidade política externa a interesses e sentimentos profundamente
enraizados.

Exercícios
1. Identifique e explique em que repousa a autoridade do chefe Kede.

2. Como se encontra estratificado o Estado Kede?

Resolva os exercícios indicados.

Auto-avaliação Faça uma breve síntese da unidade em estudo.


Unidade VII
Os Bandos do Kavirondo

Introdução
A organização política de duas tribos que habitam no extremo ocidental do Quénia: os Logoli e os
Vugusu, que em conjunto com certo número de outro são geralmente denominados os “bandos do
Kavirondo”.

As tribos agrupadas sob este nome são politicamente independentes, embora cultural e
linguisticamente estejam muito ligadas. Ocupam as planícies abertas pelo vale do Quénia do
Monte Elgon no norte, até a fronteira Quénia-Tanganhica ao sul. Como defesa contra as incursões
dos seus vizinhos, os Vugusu viviam em aldeias muradas, cuja construção e manutenção requeria
a cooperação de um grande número de pessoas, enquanto os Logoli, como a maioria das outras
tribos, em casas isoladas espalhadas por todo país. Como todos bandos Kavirondo, estas também
são tribos agro-pastoricias.

Ao completar esta unidade / lição, tu serás capaz de:

 Definir a unidade e estrutura política interna e externa;

Objectivos  Definir a natureza da autoridade política.

7.1. Localização dos Bandos Kavirondo


Os relatos de migração e diferenças mínimas na linguagem e o costume possibilitam o
reconhecimento de várias divisões maiores entre os “bandos do Kavirondo”, cada uma
compreendendo um número de grupos tribais. A norma entre as tribos que pertenciam às
diferentes divisões deste tipo era um estado mais ou menos permanente de guerra, interrompido
por períodos de tréguas.
Nas sociedades tribais nas quais a integração política alcançou o nível onde uma autoridade
central (chefe, conselho tribal, etc) é reconhecida, o grupo tribal é uma unidade política
nitidamente definida: em que a autoridade central ou governo regula todas as relações com grupos
estrangeiros, e internamente em que ela constitui a autoridade suprema com vista à manutenção
interna do grupo como um corpo político. Mesmo onde esta autoridade é delegada nos grupos
mais pequenos, a sociedade tribal ainda constitui a única unidade política enquanto estes grupos
menores lhes estiverem subordinados, isto é, a sua autoridade deriva do governo central.

As tribos Logoli como os Vuguso, são os clãs patrilineares exogâmicos ou grupos clãnicos,
consistindo de um clã maior e de vários clãs menores, mas não de toda sociedade tribal. A unidade
tribal é marcada pela crença na descendência comum de todos os clãs de um remoto antepassado
tribal.

Contudo, parece mais adequado alargar a definição de unidade política por meio de um número de
considerações de molde àquela compreender a unidade tribal mais do que o clã. Em primeiro
lugar, o facto de os clãs serem exogâmicos e de o casamento ser regulado de tal modo que todos
clãs do grupo tribal casam entre si, estabelece uma estreita conexão entre os clãs.

Os laços de parentesco, mantidos entre cada membro do clã e o seu parentesco materno, bem
como as suas relações afim são tão numerosos e tão fortes que estabelecem laços entre os clãs que
são de muitas maneiras tão unificantes como se existisse uma autoridade central transcendendo a
dos clãs.

Além disso, o culto do antepassado tribal comum, a quem os Logoli sacrificam numa escala tribal
com intervalos regulares, e a realização dos ritos da circuncisão numa escala tribal, criam um
sentimento de unidade que serve como sanção para a estreita cooperação em todos os assuntos que
afectam o grupo tribal.

O conceito de estrutura política requer uma definição mais ampla do que é costume para se aplicar
à sociedade Kavirondo. Não há estrutura política distinta da estrutura do parentesco e da estrutura
social. Ou por outra, não existe sistema de instituição que sirva explicitamente e exclusivamente o
propósito de manter a unidade tribal como um todo. Para tornar possível o entendimento da
organização tribal, a ênfase deve deslocar-se do conceito da instituição política para o de função
política.

A suposição de que cada função numa cultura deve ter a sua instituição correspondente (religiosa,
económica, política, etc) derrubaria um entendimento da maneira pela qual as culturas se integram
num corpo político, instituições que não se encontram ainda claramente diferenciadas de acordo
com os diferentes aspectos mas que servem muitas funções ao mesmo tempo.

O termo político, será usado em referência a qualquer forma de comportamento socialmente


sancionado, que directa ou indirectamente, fortaleça a unidade do grupo tribal quer seja esse o seu
objectivo tribal ou não. Uma instituição assim tem significado político se desempenha uma função
política, independentemente das outras funções que para além desta qualidade igualmente exercer.

A estrutura política, neste sentido, é a soma total de todas as formas de comportamento


sancionado que servem, directa ou indirectamente, intencionalmente ou não para integrar a
unidade política.

7.2. Estrutura Política Interna


Para o propósito de uma análise das funções políticas, deve estabelecer-se uma distinção entre as
funções governamentais externas e internas da unidade tribal. A manutenção interna da sociedade
tribal envolve três funções políticas ou governamentais maiores:

a) Feitura das leis;

b) Manutenção dos usos e costumes, envolvendo tanto a sua perpetuação nos períodos
em que estes são inoperantes como a sua transmissão às gerações vindouras;

c) Restauração das quebras e reintegração do direito violado.

O conjunto das leis: o corpo geral das normas tribais é tão velho quanto a própria tribo. Crê-se que
os usos e costumes foram transmitidos desde tempos imemoriais de antepassado para antepassado,
e parece ser o peso acumulado da autoridade tribal que constitui a sanção mais generalizada para a
observância de normas tradicionais.

A ideia de pôr em causa a validade das normas tribais é rejeitada por motivos de medo e de
superstição. O desvio das normas pode trazer punição dos espíritos dos antepassados. E esta
punição não se limita à acção dos antepassados imediatos, mas consiste num desagrado do mundo
dos espíritos que pode ter consequências desastrosas de qualquer espécie.

Não há autoridade reconhecida que proteja os poderes legislativos. A lei é, imutável e o grau pelo
qual uma acção, uma pretensão ou uma obrigação estão em linha com a tradição é apenas critério
do seu mérito.
A parte as normas observadas no grupo tribal, existem numerosas normas clânicas que diferem de
clã para clã, mas que dentro de cada clã ganham validade através do mesmo tipo de sanções como
acontece com a lei tribal. As mais importantes destas normas clânicas são certos tabus de comida
ou regras de abstenção relativamente a certas formas de comportamento.

Um poder mais amplo para a feitura das leis e induzir as pessoas a tomar uma atitude sem
precedentes parece ter emanado dos sonhos de profetas e certos anciãos que tendo ganho
reputação como guerreiro e juízes brilhantes de disputas ascenderam a um plano de chefia entre os
seus companheiros de idade.

A continuidade de usos e costumes: não é meramente uma invenção de normas de conduta, mas
um sistema coerente de relações entre indivíduos e grupos. Estas relações não implicam
observância de certas acções e a abstenção de outras, mas ideologias e valores bem como atitudes
mentais e emocionais.

Assim, o direito de família no sentido pleno da palavra, compreende a totalidade de relações,


expressa em acções e atitudes, que entrelaçam os membros da família numa unidade social,
enquanto as normas formuladas (como a regulação da boda paternal, os direitos e deveres de
marido e mulher, heranças, etc) demarcam as principais linhas e limites apenas em extensão e
dentro dos quais estas relações funcionam. Manutenção dos usos e costumes equivale assim à
manutenção de relações efectivas.

A continuidade no tempo ou a perpetuação destas relações tende a ser interrompida por dois
factores inerentes às condições de vida social. Um destes é que a maior parte das relações e das
instituições das quais são parte operam, não continuamente, mas apenas em certas ocasiões.

A solidariedade do clã, por exemplo, entra em acção só quando desafiada pelo assassinato de um
membro do clã ou por alguma circunstância semelhante, mas o tipo específico de relação entre os
membros do clã nos quais se baseia esta solidariedade tem de ser permanentemente mantida, de
modo que a lei de solidariedade possa entrar em acção sempre que surja necessidade daquela se
realizar.

Reintegração do direito violado: antes de se discutir o papel da autoridade judicial da vida tribal e
a maneira como ele funciona, é importante examinar os diferentes tipos de violação ou não-
conformidade com a lei. Por evidência linguística, as ofensas se classificam em vários grupos:

Uma pessoa comete eligovi quando se recusa a pagar uma dívida ou a cumprir uma obrigação
costumeira, como aquela que pode ser imposta por normas de parentesco ou que possa resultar
duma sociedade de gado ou de qualquer outra propriedade
O termo eligoso designa uma gama de ofensas que no ocidente classificariam de civil e criminal,
tal como adultério, roubo, assalto, fogo-posto, etc.

Amatava são ofensas contra a propriedade ou vida cometidas acidentalmente ou pelo menos sem
intenção plena, tal como danos físicos infligidos pelo manuseio descuidado de armas, ou
destruição acidental da casa do vizinho pelo fogo, ou das suas colheitas pelo gado.

Emiligu são violações de tabus importantes ou normas de conduta formal, de regras como a
proibição de incesto e a abstenção da sogra ou a dessacralização de objectos usados no culto do
antepassado.

Mas o que significa a distinção destes quatro tipos de violações da lei do ponto de vista da
reintegração?

No caso de amagovi, não se cometeu um delito que precise desfazer-se. O facto de uma pretensão
se tornar exigível não envolve a noção de o credor ter o direito a compensação pela demora
sofrida na materialização da sua pretensão. A disputa tem simplesmente de decidir-se a favor de
uma das partes em disputa; quando se cometeram amagoso ou amatava, a ofensa tem de ser
desfeita, induzindo ou forçando a pessoa acusada a compensar o dano que causou ao acusador; se
a ofensa tiver sido sem intenção (elitava) ele tem simplesmente de repor o prejuízo ou pagar gado
equivalente em valor, enquanto que no caso de uma ofensa deliberada (eligoso) tem de se repor o
dobro da quantia ou uma multa em gado e é imposta de modo a poder considerar-se ampla
compensação; as quebras de tabu (emiligu), são restabelecidas pela celebração do sacrifício
apropriado ou cerimónia da purificação, depois da qual as relações sociais com o ofensor são
reassumidas pelos seus companheiros que o evitavam.

Parece concluir-se desta breve descrição dos tipos de quebras reconhecidos e dos métodos
empregados ao tratar com eles, que, o estabelecimento de lei e ordem aspira mais à solução dos
conflitos e reparação dos prejuízos do que a punição do ofensor. Este facto tem duas
consequências importantes:

1. A jurisdição tem lugar só quando solicitada pela vitima da ofensa, pois que todas ofensas se
concebem como sendo prejudiciais aos interesses de uma pessoa particular ou grupo de
pessoas, mas não a sociedade tribal como um todo. Uma implicação lógica disto tudo é que
não só todo objecto material, mas também cada ser humano tem o seu proprietário ou
proprietários.

2. Esta precede directamente da primeira. Não há autoridade judicial tribal, mas é a justiça
administrativa por e entre aqueles grupos de pessoas afectadas pela ofensa em questão. Uma
vez que as quebras da lei podem ser repostas pelo pagamento de objectos materiais, segue-se
que a compensação será pedida e dada por todas pessoas que têm um interesse conjunto do
bem-estar material do indivíduo afectado por uma ofensa.

Assim, onde se determina que não seja tomada acção judicial (imposição de compensação) devido
a indivisibilidade dos interesses comuns do grupo, realiza-se simplesmente um sacrifício para
propiciar os espíritos e uma cerimónia de purificação que liberta o ofensor da sua impureza ritual
e o coloca de novo em condições de os vizinhos e parentes reatarem com ele as relações sociais.

7.3. Estrutura Política Externa


As relações comerciais entre as tribos estavam pouco desenvolvidas, devido ao facto de às fontes
naturais estarem igualmente distribuídas dor todo Kavirondo e o conhecimento e a arte técnica
serem de grande semelhança em todas tribos bantos de modo que não havia incentivo para uma
permuta regular e organizada de produtos.

A ocasional troca de cereal por gado e produtos de certa espécie (cerámica, ferro, etc) era
bastante variável para levar ao estabelecimento de relações políticas permanentes entre as tribos
numa base económica.

O casamento entre tribos geralmente hostis era limitado ao casamento de mulheres cativas da
guerra, que eram levadas com uma idade entre seis a dez anos e adoptadas pela família do
guerreiro que as capturava. Quando crescidas casavam-se da mesma maneira como se de filhas se
tratassem. A captura de uma mulher adulta não se praticava a não ser excepcionalmente pois
desconfiava-se que elas agiriam como espias ou tentariam voltar para sua gente na primeira
oportunidade de fuga que lhes aparecesse.

A atitude para com qualquer tribo vizinha considerada no seu todo caracterizava-se sobretudo por
um sentimento de desconfiança ao qual se acrescentavam o medo ou desprezo. O medo de outras
tribos é coisa nunca publicamente admitida, quer em conversas pessoais ou em relatos de
emigração ou em textos sobre guerra. Já o desprezo e escárnio, são atitudes de longe mais comuns
para outras tribos e encontra expressão em numerosos dizeres e provérbios.

Com relações e atitudes prevalecentes entre os diferentes grupos tribais, quais eram os motivos
para a guerra?

Os dois motivos imediatos em atacar outros grupos tribais eram:

a) A captura do gado: motivo claramente económico, não requerendo outra interpretação visto que
o significado do gado na organização económica já é conhecido.
b) Infligir perda de vidas no grupo atacado: consequência necessária da apreensão do gado, visto
que os proprietários tentarão defender seu gado resultando em violência.

Entre os Logoli, a conquista de novas terras para cultivo era um dos motivos para guerra. Mas o
resultado imediato de uma incursão militar era mais de enfraquecer e intimidar a tribo vizinha e
induzir os seus membros gradualmente a recuar de modo a alargar a zona desabitada para que as
pastagens e cultivo pudessem fazer-se com segurança.

Esta necessidade de expansão, deriva de uma série de causas onde se destacam:

1. Aumento da população;

2. Aumento da riqueza em gado requerendo maiores áreas de pastagens;

3. Deterioração do solo por várias razões.

7.4. Natureza da Autoridade Política


Embora não existissem indivíduos ou grupos que detivessem concretamente autoridade política
definida vinculados a direitos e deveres, a dissertação prévia dos vários aspectos de organização
política indicou um número de maneira em que os indivíduos podiam ganhar proeminência em
relação aos homens da sua tribo ou do seu clã e serem reconhecidos por certos grupos dentro da
unidade tribal e com vista a certas actividades. Estas diferentes maneiras de adquirir proeminência
e a natureza da liderança política podem ser:

(i) privilégios da primogenitura: como a primogenitura traz consigo um número de privilégios, há


uma tendência em cada família para que o filho mais velho seja reconhecido como a pessoa a
seguir ao pai em importância. A sua autoridade baseia-se em três factores:

a) Estar em posição privilegiada para adquirir riqueza em gado e reivindicar a terra do pai;

b) Através da administração da terra e gado do legado do seu pai, o filho mais velho exerce
autoridade sobre os irmãos mais novos, que dependem da sua amizade e boa-vontade para
realização da sua parte da propriedade do pai que lhes é devida,

c) A tradição familiar e o conhecimento da lei e do costume e, em particular, de reivindicações


desusadas da propriedade passam sempre do pai para o filho mais velho, de modo que no grupo de
linhagem a linha sénior se torna a principal guardiã da tradição e os seus membros os executantes
dos ritos e sacrifícios de toda a linhagem.
(ii) Riqueza: a pessoa rica, quer tenha acumulado seus bens por meio de herança ou esforço
pessoal, tem possibilidades de ganhar prestígio e influência tanto dentro como fora do seu clã.
Pode oferecer diariamente hospitalidade sob a forma de cerveja tornando a sua casa num ponto de
reunião dos anciãos das redondezas, pode emprestar aos indivíduos particularmente uma cabra,
carneiro, vitelo ou cestos de cereais para diversos fins; quando um homem rico dá uma festa à
escala do clã pode ganhar popularidade no seu meio; finalmente, quando anciãos de outros clãs
são convidados para estas festas, as pessoas ricas tornam-se em certa medida, os representantes do
seu clã.

(iii) A qualidade de ser um Omugasa: entre os Vugusu, os anciãos dirigentes de um clã chamam-
se avagasa (homens que falam mansa e sabiamente e que podem fazer-se escutar pela gente e
volta-la à razão quando ela quer discutir ou lutar). A posse destas qualidades é geralmente
considerada a condição mais importante de chefia.

(iv) Reputação de guerreiro: o sucesso na guerra era um meio de obter fortuna mas também trazia
em si prestígio. Tanto entre os Vugusu e os Logoli os nomes dos chefes de clã do passado que se
lembram vêm associados com relatos dos seus feitos como guerreiros, sendo seu sucesso medido
em termos de número de inimigos que mataram e a quantidade de cabeças de gado por ele
apreendida ou debaixo de sua direção. É difícil determinar se a escolha de um guerreiro famoso
para chefe das expedições de incursão se ligava à crença de que ele possuía poderes mágicos
superiores. Os anciãos diziam que ele fora escolhido pela sua coragem e habilidade para
convencer os outros a segui-lo num ataque.

(v) Posse de virtudes mágicas - religiosas: embora as pessoas mais comummente a serem
chamadas para oferecerem sacrifícios privados aos antepassados sejam os membros da linha
sénior de uma linhagem, este dever pode também ser desempenhado por um pai classificatório ou
irmão mais velho, se as suas qualidade de carácter fizerem dele uma pessoa capaz. Deve ser uma
pessoa sem quaisquer faltas ou manchas na história de sua vida presente e passada para que o seu
sacrifício seja favoravelmente aceite pelos espíritos. Dai, podemos afirmar que o cargo não é
hereditário, mas dependente das suas qualidades pessoais.

(vi) Idade: a idade avançada era a condição mais geral para a chefia política e socialmente
marcada através da instituição de circuncisão de séries de idade. O reconhecimento de
primogenitura para a regulação da herança e sucessão transmite à senioridade um status superior
em todas relações de parentesco. Falando de uma maneira geral, a opinião do membro mais velho
de um grupo de parentes é sempre a que pesa mais nos assuntos que dizem respeito ao grupo. Os
filhos adultos mostram mais obediência e respeito ao irmão mais velho do seu pai do que ao seu
próprio pai e, depois da morte do pai, a autoridade deste não se transmite imediatamente ao filho
mais velho, mas primeiro ao irmão mais velho próximo que estiver ainda vivo.

Sumário
As tribos do Kavirondo, não podem definir unidade política com base na soberania interna e
externa. Com vista a submissão ao governo político, os grupos maiores, tanto entre os Logoli
como entre os Vuguso, são os clãs patrilineares exogâmicos ou grupos clãnicos, consistindo de um
clã maior e de vários clãs menores, mas não de toda sociedade tribal. A unidade tribal é marcada
pela crença na descendência comum de todos os clãs de um remoto antepassado tribal. Para tornar
possível o entendimento da organização tribal, a ênfase deve deslocar-se do conceito da instituição
política para o de função política.

Exercícios
1. Como é que eram transmistidos os usos e costumes às gerações vindouras nos bando
do kavirondo?

2. Quais as diferentes maneiras de adquirir proeminência política entre os Logoli e


Vugusu?

3. Diferencia a estrutura politica interna da externa dos bandos do kavirondo?

Resolva os exercícios indicados.

Auto-avaliação Faça uma breve síntese da unidade em estudo.


Unidade VIII
Positivismo

Introdução
A sociocracia de origem comtiana, permitiu estabelecer as bases para a coesão social, garantindo a
participação do indivíduo na decisão do grupo ou individual; no concernente ao positivismo lei
dos três estados que a humanidade percorre sucessivamente. Ainda dá o seu contributo positivo no
campo político.

Ao completar esta unidade / lição, tu serás capaz de:

 Conhecer a Sociocracia de Comte;


 Analisar o positivismo de Comte;
 Descrever a influência do positivismo de Comte na arena Política
Objectivos

8.1.Sociocracia de Augusto Comte

Augusto Comte4 inventor que definiu a Sociocracia como um sistema de governo que se baseia
em decisões tomadas com o consentimento de indivíduos iguais e numa estrutura organizacional
que se assemelha a um organismo vivo. É fundamental na sociocracia o princípio de auto-
organização, assentado nas teorias sistémicas de inteligência colectiva.

Comte detestava o laissez-faire do liberalismo, estimulador, segundo ele, do egoísmo e da


instabilidade, rejeitava também a anarquia natural dos democratas pelo clima de desordem que
provocava. Idealizou para o devir uma sociocracia gerências por um Estado-maior de sábios e
tecnocratas, aliados aos industriais, que tratariam à política o espaço das paixões humanas com as
frias leis das ciências naturais.

4
Autor mais conhecido por suas elaborações filosóficas na área da ciência, nascido Isidoro
Augusto Maria Francisco Xavier Comte, em 1798 – pesquisou extensamente em Sociologia,
inclusive no que actualmente denominamos Ciência Política.
Comte fora coerente ao repudiar os estadistas. Quem tentasse regredir ao passado, resgatando uma
religião ou uma instituição ultrapassada, atrasava a chegada da era científica.

A sociologia ocuparia no futuro o lugar mais importante na hierarquia do conhecimento porque


tratava do que era Humano.
Essa ciência se dedicaria a estudar o comportamento e o relacionamento social, analisando seus
factores estáticos e dinâmicos, conceitos que ele extraiu da Mecânica, afim de que possam ser
inteligíveis e antevistos. A sociologia para Comte seria tão precisa aos governantes futuros um
alto grau de previsão nas decisões a serem tomadas ou consideradas.

Comte viu nesses factores estáticos e dinâmicos uma oposição e uma complementaridade, a
estática era o desejo intrínseco de ordem que toda sociedade civilizada deseja, a dinâmica era o
progresso, o destino que ela deve cumprir rumo às etapas superiores de organização e produção.
Harmonizou-os no lema: ordem e progresso.

Uma reorganização colectiva sem Deus e sem Rei, sob a preponderância exclusiva do sentimento
social, assistido pela razão positiva e da acção. Se a transformação social deve-se à acção política
consciente, o movimento positivista tem como tarefa fundamental esclarecer as mentes ilustradas
para com sua obrigação de fazer emergir o mais rápido possível a Era Científica.

Daí Comte reservar a cada seu seguidor a função de apóstolo, de divulgador das suas ideias, todos
eles dedicados ao sacerdócio da humanidade. Formou-se ao seu redor, a partir de então, uma
pequena seita de excêntricos discípulos que passaram a cultuá-lo como uma espécie de messias
dos tempos científicos: um Cristo da era da ciência.

8.2. Do tradicionalismo ao positivismo


O tradicionalismo conduz, no plano político, ao corporativismo, no plano intelectual, leva ao
sociologismo. Esta doutrina entende que a moral é o conjunto de regras impostas pela sociedade,
em determinada época, e que, portanto, varia no tempo. O que é moralmente válido, para esta
doutrina, é o que diz ou o que faz a maioria.

Ora, este pensamento afronta a moral cristã porque sabemos que, apesar da sociedade humana
sofrer mudanças no decorrer da história, os valores cristãos jamais deixam de ser válidos,
verdadeiros para todos os homens, de todos os tempos e de todas as culturas.
O estudo de Comte poderia ser a continuação de Saint-Simon, porque apesar de terem cortado
relações o pensamento do autor do catecismo dos industriais exerceu considerável influência sobre
o do autor do catecismo positivista.

Mas no plano político, seria negligenciar o essencial da concepção positivista, pois as duas escolas
se desenvolveram historicamente fora da universidade e em oposição ao partido liberal, como
também adoptam, quanto ao problema de fundo, idêntica atitude de negação. São contra
revolucionário no sentido filosófico e rejeitando na ordem civil, económica e política.

Comte funda todo o seu sistema sobre a lei dos três estados que a humanidade percorre
sucessivamente. Ao estado teológico e guerreiro segue-se o estado metafísico e jurídico, e depois o
estado positivo e científico.

A primeira é o ponto de partida necessário da inteligência humana; a terceira, seu estado fixo e
definitivo; a segunda, unicamente destinada a servir de transição.

No estado teológico, o espírito humano, dirigindo essencialmente suas investigações para a


natureza íntima dos seres, as causas primeiras e finais de todos os efeitos que o tocam, numa
palavra, para os conhecimentos absolutos, apresenta os fenómenos corno produzidos pela acção
directa e contínua de agentes sobrenaturais mais ou menos numerosos, cuja intervenção arbitrária
explica todas as anomalias aparentes do universo.

No estado, metafísico, que no fundo nada mais é do que si modo geral do primeiro, os agentes
sobrenaturais são substituídos por forças abstractos, verdadeiras entidades (‘abstracções
personificadas) inerentes aos diversos seres do mundo, e concebidas como capazes de engendrar
por elas próprias todos os fenómenos observados, cuja explicação consiste, então, em determinar
para cada um uma entidade correspondente.

Enfim, no estado positivo, o espírito humano, reconhecendo a impossibilidade de obter noções


absolutas, renuncia a procurar a origem e o destino do universo, a conhecer as causas íntimas dos
fenómenos, para preocupar-se unicamente em descobrir, graças ao uso bem combinado do
raciocínio e da observação, suas leis efectivas, a saber, as relações invariáveis de sucessão e de
similitude. A explicação dos fatos, reduzidas então a seus lermos reais, se resume de agora em
diante na ligação estabelecida entre os diversos fenómenos particulares e alguns factos gerais, cujo
número o progresso da ciência tende cada vez mais a diminuir.

O sistema teológico chegou à mais alta perfeição de que é susceptível quando substituiu, pela
acção providencial de um ser único, o jogo variado de numerosas divindades independentes, que
primitivamente tinham sido imaginadas. Do mesmo modo, o último termo do sistema metafísico
consiste em conceber, em lugar de diferentes entidades particulares, uma única grande entidade
geral, a natureza, considerada como fonte exclusiva de todos os fenómenos.

Essas estruturas são consideradas definitivas e básicas em qualquer estágio do desenvolvimento


social, só ocorrendo, na passagem de um momento a outro, aperfeiçoamentos em cada uma delas.
Assim, mais uma vez, Comte subordina a dinâmica a uma estática, subordina o progresso à
ordem; o progresso é um mero deslocamento, um mero aperfeiçoamento de estruturas que são
perenes e imutáveis.

O século XIX já atingiu este estádio e Comte não é bastantes para essa doutrina retrógrada que,
na proposta ver altamente ridícula, preconiza hoje, como solução possível para anarquia
intelectual, a quimérica reinstalação social dos mesmos são princípios cuja inevitável de cretude
levou a esta anarquia”. O espírito positivo que em dois séculos cresce mais do que ao longo de
todo o seu percurso anterior, já não permite outra unidade mental além da que resultaria do seu
ascendente universal.

8.3. Espírito positivo


O espírito positivo cuja aplicação sistemática e constante dá origem à doutrina denominada
positivismo que tem um sentido duplo: primeiro sentido, na ordem lógica e cronológica, é também
o mais simples, o positivismo opõe-se ao negativo e traduz-se assim a reacção contra o espírito
destrutivo do século XVIII. Assinala a predilecção de Comte pela acção construtiva. É nesta
acepção que deve-se entender a expressão política construtiva; segundo sentido o positivismo
opõe-se ao conjectural e a hipotético, consider-se-á positivo o que se baseia em factos verificados
e nas suas relações reconhecidas como constantes.

As duas acepções encontram-se e aliam-se na afirmação fundamental do positivismo, que é a da


soberania da sociedade, considerada na sua unidade humana. Comte não se detém nos elementos
parciais que constituem o povo e a nação. Vai até a humanidade na qual não vê apenas uma
simples nação, mas a realidade concreta por excelência. A humanidade torna-se génio supremo, o
vivo em si, o grande ser, pois o homem explica-se pela humanidade e não a humanidade pelo
homem.

Comte faz, também, uma distinção entre o indivíduo e o colectivo. Caracteriza o homem como ser
inteligente e dotado de sociabilidade (o que o diferencia dos animais) e reivindica para o
colectivo, para o grupo social, uma superioridade perante o indivíduo. E dessa concepção que
decorre sua noção de que os homens, enquanto indivíduos numa sociedade, existem como
substitutos efémeros de outros indivíduos e que, como tal, têm importância, apenas, como
perpetuadores da espécie.

Esta hipótese da sociedade humana origina em Comte uma ciência da sociedade, a sociologia5 ,
uma teoria política da dominação da sociedade, a sociocracia, e uma religião da sociedade, a
sociolatria. O autor do catecismo positivista limita-se a transpor os elementos da idade teocrática
onde, a teologia como dogma, correspondiam a teocracia como regime e a teolatria como culto.

8.4. Influência política de Comte


No estado, o poder temporal, equivalente material da ordem espiritual positivista, seria exercido
pelos industriais. Porque, para Comte, era natural que os ricos detivessem a autoridade econômica
e social indispensável para o conjunto da coletividade, uma vez que constituíam o topo na
hierarquia das capacidades.

Segundo a perspectiva comtiana, a propriedade, que tinha raízes na constituição biológica do


homem, era inevitável, e, além disso, socialmente indispensável. Pois, foi devido à sua virtude de
concentração de capitais que a civilização material se desenvolveu. Ou seja, foi porque os homens
foram e são capazes de gerar e acumular riquezas maiores do que as consumidas pela coletividade
e de as legarem à geração posterior, que a civilização progrediu materialmente. Contudo, essa
riqueza concentrada sob a forma de propriedade privada de alguns foi construída por todos em
conjunto, tendo origem social e devendo, portanto, ser esta a sua destinação .

A autoridade e a concentração de riqueza por parte dos industriais na ordem temporal tornavam-se
ainda mais aceitáveis quando se compreende que, na sociedade moderna positivista, existia uma
outra ordem de realidade mundana, que era a dos méritos morais. Esta contrabalançava o poder
temporal, regulando-o e moderando-o, fazendo com que a existência dos indivíduos não fosse
definida apenas pela posição econômica e social, mas, sobretudo, como queria Comte, pela sua
posição na ordem espiritual.

De acordo com Comte: O objetivo supremo de todos deve ser alcançar o primeiro lugar, não na
ordem do poder, mas na ordem dos méritos.

A questão social, levantada pelo embate entre as classes advinha do desordenado movimento
progressivo da sociedade industrial, que precisava agora, uma vez estabelecido o positivismo e a

5
A sociologia caracteriza-se, então, pela preocupação em descobrir que leis governam a
sociedade e não pela preocupação com a sua transformação.
física social orientadora da política positiva, ser superado pela incorporação do proletariado à
ordem científico-industrial.

Isso seria possível, segundo Comte, à medida que o conjunto social, orientado pelo poder
espiritual positivista formasse um forte movimento de opinião pública no sentido de mostrar aos
detentores do capital a sua origem e o seu objetivo social, não permitindo que a riqueza social
fosse gestada em prejuízo da massa proletária, cabendo a esta última limitar suas pretensões às
possibilidades econômicas de cada período.

Assim considerando, a incorporação do proletariado à ordem social dependia de uma mudança


profunda na concepção política e econômica que envolvia o cerne da sociedade industrial, ou seja,
a propriedade, a gestão do capital e o trabalho. Essa modificação só poderia ser efetuada por uma
doutrina que buscasse, primeiro, atingir as representações sociais sobre o mundo e sua
organização para depois agir sobre suas instituições.

A sociedade pensada pelo positivismo teria então uma outra visão sobre o mundo do trabalho.
Pois, procurava torná-lo parte organicamente harmoniosa de uma ordem na qual o poder e a
riqueza se concentravam nos detentores do capital, na classe contraditória à do trabalho.

Portanto, na interpretação dele a ordem supõe o amor e a síntese não pode se realizar a não ser
pela simpatia; a unidade teórica e a unidade prática são, pois, impossíveis sem unidade moral.
Esse amor, necessário à ordem social, nascia na família, na qual o homem é iniciado na educação
moral e aprendia o devotamento aos seus. Pois, era necessária a ligação entre a existência pessoal
e a social, tendo em vista que o verdadeiro caráter da educação moral dependia da submissão do
indivíduo à sociedade. Era com o amor deste que a Humanidade renovaria a conduta moral, e
portanto, era através da moralidade, do sentimento, contido no positivismo, que Comte pretendia
regenerar a sociedade humana.

O Estado era fruto da própria sociedade em desenvolvimento que engendrava a necessidade de


uma função coordenadora totalizante que submetesse a si todas as demais atividades. Sua
autoridade nascia dessa mesma necessidade, o que lhe permitia promover a direção universal do
conjunto de atividades das partes, pelas quais as malhas do social se distribuíam. Sendo assim, a
subordinação das partes à direção política totalizante do Estado era tão natural quanto à
dependência entre as funções sociais.

Ele se subordinava, assim como todo o corpo social, ao estado actual de desenvolvimento
intelectual e moral, ou, por outras palavras, ao estado cultural da humanidade. Pois, como vimos,
o que determinava a unidade social era o conjunto de idéias, de representações e crenças que
formavam a cultura da sociedade, criada pelo homem vivendo em conjunto, mas determinado por
leis. Era sobre essa cultura que a ordem social se formava e se desenvolvia com o progresso da
natureza humana. E, portanto, “o estado de cultura é que determina o restante do corpo social, e
não o contrário”. O que leva a concluir que cada estágio de desenvolvimento determinava um tipo
diferente de Estado.

Na ordem industrial-científica, na qual o positivismo estabeleceu os princípios fundamentais da


unidade consensual, o Estado somente podia agir de acordo com os ensinamentos deste, através da
física social, que agora atingia o objetivo prático de seus conhecimentos sobre as leis que regem a
vida em sociedade, qual seja, orientar positivamente a prática política.

Tratava-se, portanto, de um Estado intensamente intervencionista no sentido de manter a ordem e


conduzir, por meio da orientação que recebia, a sociedade ao seu pleno desenvolvimento,
realizando historicamente a natureza humana. A posição central que ocupava no corpo social
advinha-lhe da necessidade originária de sua função reguladora dos movimentos de cada órgão, de
modo que nenhum se sobrepusesse aos demais. Assim, cabia-lhe ordenar a sociedade em todo o
seu aspecto material, o que punha em relevo a economia, de forma que esta se desenvolvesse com
base em um equilíbrio harmônico de forças sociais.

O Estado intervinha como sábio ordenador, determinando sua ação pela necessidade do conjunto
social, colocando-se, portanto, em uma posição supraclassista, uma vez que os interesses que
defendia são os do organismo como um todo e não os de partes determinadas. Ao impulsionar o
progresso industrial da sociedade, agia sobre o conjunto, provendo o interesse de todos no
desenvolvimento da riqueza.

Sumário
Comte idealizou para o devir uma sociocracia gerências por um Estado-maior de sábios e
tecnocratas, aliados aos industriais, que tratariam à política o espaço das paixões humanas com as
frias leis das ciências naturais. A sociologia ocuparia no futuro o lugar mais importante na
hierarquia do conhecimento. Comte faz, também, uma distinção entre o indivíduo e o colectivo.
Caracteriza o homem como ser inteligente e dotado de sociabilidade (o que o diferencia dos
animais) e reivindica para o colectivo, para o grupo social, uma superioridade perante o indivíduo.

Exercício
1. Explique positivismo de Comte referenciando a lei dos três estados que a
humanidade percorre sucessivamente.

2. Faça uma análise do espírito positivo de Comte.

3. Descreva o contributo do positivismo de Comte para a política


Resolva os exercícios indicados.

Auto-avaliação Faça uma breve síntese da unidade em estudo.


Unidade IX
O Nacionalismo Totalitário:
Mussolini
Introdução
Mediante os problemas económico, as guerras e a ameaça comunista, a classe burguesa e
proletária exauste destes males vai apoiar o fascismo, que procurou reorganizar a economia e
restabelecer o nacionalismo italiano. Mussolini chegando ao poder tornou-se ditador e na sua
direcção a Itália atingiu certo desenvolvimento.

Ao completar esta unidade / lição, tu serás capaz de:

 Caracterizar o estado nacional fascista;


 Descrever o totalitarismo no estado fascista;
 Analisar o corporativismo durante o fascismo.
Objectivos

9.1. Estado nacional


Os problemas económicos, os partidos de esquerda, comunistas e socialistas, bem como os
anarquistas, ganhavam cada vez mais adeptos entre os italianos, o que preocupava a elite
capitalista; o tratado de Versalhes, a crise socioeconómica; todos estes acontecimentos fizeram
com que surgisse o movimento fascista.

A Marcha sobre Roma foi uma vasta manifestação fascista, com característica de golpe de
estado, ocorrida em 28 de Outubro de 1922 na capital da Itália, com o afluxo na cidade de
dezenas de milhares de militantes fascistas que reivindicavam o poder político no reino. Este
evento representou a ascensão ao poder do Partido Nacional Fascista (PNF) e o fim da
democracia liberal, pela nomeação de Benito Mussolini como chefe de governo pelo Rei Vítor
Emanuel III.

Em 1928 proibiram-se todos os partidos, excepto o PNF, funda-se as milícias das camisas
negras criando um clima de Terror.
O fascismo se apropriou do símbolo de poder dos magistrados da Roma Antiga, o feixe de varas,
que representava a união do povo em torno da justiça do Estado. O objectivo era evidente: retomar
a história do povo italiano, sugerindo que a Itália poderia voltar a ser o Império Romano da
Antiguidade.

Esse movimento, fundado em Milão, em Março de 1919, não tinha ainda o perfil político-
ideológico que iria assumir anos depois. Nas palavras do próprio Mussolini: "Não temos uma
doutrina pronta; nossa doutrina é a acção.

Em Junho de 1919 foi publicado o programa oficial do movimento, e algumas de suas


reivindicações eram: jornada de trabalho de 8 horas; sufrágio universal extensivo às mulheres;
representação proporcional no Parlamento; abolição do Senado do Reino; formação de uma
milícia que actuasse paralelamente ao Estado; e maior actuação da Itália no cenário internacional.

Desse programa inicial, somente as duas últimas propostas seriam levadas a cabo durante o
período em que os fascistas controlaram a Itália, pois o Fascismo de Combate era, na realidade,
um grupo de pessoas que tinham formações políticas e opiniões diferentes sobre o futuro da Itália,
mas que se uniram no calor da hora, em função da grande crise do pós-guerra.

O fascismo perpétua-se com uma Nação submissa, sem espíritos críticos, sem vontades
individuais, mas com “uma alma colectiva”. Os ideais fascistas, eram inculcados, primeiramente,
nos jovens, pois considera-se que as crianças, antes de pertencerem às famílias, pertenciam ao
Estado.

Na Itália, a partir dos 4 anos, as crianças ingressavam nos “Filhos da Loba” e usavam já uniforme;
dos 8 aos 14 faziam parte dos “balillas”, aos 14 eram vanguardistas e aos 18 entravam nas
Juventudes Fascistas. As raparigas eram inseridas em organizações específicas, como a das
“Jovens Italianas”

A educação fascista era, obviamente, complementada pela escola, através de professores


profundamente subservientes ao regime, ao qual prestavam juramento, e de manuais escolares
impregnados dos princípios totalitários fascistas. Uma vez adultos, continuava a regimentação de
Italianos, dos quais se procurava obter a total adesão.
As bases de apoio social do fascismo foram, com efeito, heterogéneas e nelas podemos encontrar:

 As classes médias dos pequenos comerciantes e industriais, arruinados pela


concentração capitalista, e dos funcionários e detentores de rendimentos fixos,
proletarizados pela inflação;
 Os quadros dirigentes da economia, grandes agrários e grandes industriais (do
Ruhr e da Lombardia) aos quais o fascismo se alia desde que chega ao poder,
do exército, da Igreja e da cultura, que aceitam o regime em troca da sua
estabilização conservadora e da garantia dos seus privilégios de classe;
 As próprias classes laboriosas, cujo bem-estar e dignidade se procurava
promoverem, através da absorção do desemprego e da integração em
associações de tempos livres.

 Grandes programas de obras públicas e de militarização foram então,


responsáveis pela diminuição do desemprego na Itália.

9.2. Estado totalitário

O estado totalitário fascista vai se apresentar estruturada d seguinte maneira:

 A filiação no partido único (Nacional Fascista). Todos os funcionários, oficiais


e professores eram recrutados no Partido, pelo que se fala da classe média como
de uma nova elite fascista;

 A inscrição obrigatória dos trabalhadores na Frente do Trabalho Nacional-


Socialista e nos sindicatos fascistas e corporações mistas, após a extinção dos
sindicatos livres;

 O Partido Fascista (único) cria a sua própria formação paramilitar: a Milícia


Voluntária para a Segurança Nacional, Outro órgão de repressão contra os anti-
fascistas, era a Polícia política apelidada de Organização de Vigilância e
Repressão do Antifascismo (O.V.R.A.). A censura foi ampliada: a educação, as
artes, os desportos, as rádios, o cinema e, até mesmo, o lazer da população
seguiam as orientações fascistas. Foi criado o Tribunal Especial de Defesa do
Estado, responsável pelo julgamento de "crimes" políticos;

 Centralização do estado: A economia passou a ser firmemente controlada pelo


Estado, com o apoio dos capitalistas italianos. O povo é o corpo do Estado, e o
Estado é o espírito do povo. Na doutrina fascista, o povo é o Estado e o Estado
é o povo: Tudo no Estado, nada contra o Estado, nada fosse do Estado

 O culto do Chefe6 ; encenação e propaganda - Mussolini, dizia que a força do


Estado fascista exigia aos italianos: “Acreditar, obedecer, combater”.
Consagrador de dogmas, avesso à crítica e à contestação, o totalitarismo fascista
repudiava o legado racionalista da cultura ocidental. Pelo contrário, exaltava o
fanatismo e o sentimento excessivo. Não só para com o Estado e a Nação, que
idolatrava, mas também para com o Chefe (duce), símbolo do Estado
omnipotente, encarnação da Nação e guia dos seus destinos, é o homem
excepcional, o super-homem, a quem se deve prestar uma obediência cega e
seguir sem hesitações, tornando-se o duce com poder absoluto eis o lema do
nacional-socialismo: “Um Povo, um Império, um Chefe”,

 Expansionismo e militarismo: Uma das primeiras atitudes expansionistas do


Estado italiano foi incentivar a fundação de Fascismos em países onde
imigrantes italianos tinham se instalado, propagando o ideal do partido pelo
mundo. Além disso, o serviço secreto italiano auxiliava grupos simpáticos ao
fascismo em várias partes da Europa.

9.3. Estado corporativo


O fascismo italiano desenvolveu, em especial, a teoria do regime corporativo, ou corporativismo.

Corporativismo era uma doutrina que vinha de século anteriores, mas que no final do século XIX
tinha sido recuperada pela doutrina social da igreja. Mussolini vai lançar mão dessa doutrina,
depurada de alguns dos elementos acentuados pelo pensamento católico, e faz dela a doutrina
oficial do Estado italiano.

6
Tratado de Latrão (1929) As relações políticas entre a Igreja Romana e o Estado Italiano não
foram fáceis desde o processo de unificação da Itália no século 19, principalmente por que o
papado não aceitava perder o poder político sobre os antigos Estados Pontifícios.
Na perspectiva de resolver tal dilema e, ao mesmo tempo, ganhar o apoio dos católicos,
Mussolini assinou com o papa Pio 11 três acordos, que ficaram conhecidos como Tratado de
Latrão: A Santa Sé teria sua soberania política dentro do Estado do Vaticano, ao mesmo tempo
que reconheceria o Estado Italiano; A Itália indemnizaria o Vaticano pelos danos causados
durante as guerras de unificação; A religião católica seria a religião oficial do Estado Italiano,
sendo ensinada obrigatoriamente em todas as escolas.
De acordo com estas doutrinas, todas as forças económicas e sociais devem ser organizadas
oficialmente em associações. Assim o faz, agrupando-os em 22 corporações, cada uma dirigida
por um conselho formado por patrões e trabalhadores.

Em 1929, Mussolini discreta a abolição da câmara dos reptados e põe nos seu lugar a Câmara dos
Fascistas e das corporações: era a abolida o sufrágio individual, muito criticado por ser o sufrágio
típico da democracia parlamentar, e que agora ficava substituído pelo sufrágio corporativo ou
institucional.

Mas, ao contrário da tradição medieval e da doutrina da igreja, o corporativismo do estado fascista


não é um corporativismo de associação, é um corporativismo de Estado. Não representa a auto –
direcção da economia, mas sim o controlo total da economia pelo poder político.

Sumario
Fascismo como uma ideologia política social tinha como objectivo, livrar a Itália dos problemas
que se vivia naquela comunidade, nisto, os grupos sócias apoiaram o partido fascista, este chegado
ao poder tornou-se totalitário, eliminando todos os partidos, sob a direcção de único partido criou
um estado nacional fascista. Criou bases de apoio para garantir a execução do programa do
partido. Um dos aspectos particulares fora o corporativismo, que eliminou os sindicatos.

Exercícios

1. Explique em que contexto emerge o regime fascista na Itália?


2. Qual era a base de apoio do regime fascista? Justifique a sua resposta.
3. Descreva o nacionalismo fascista.
4. Apresente os principais traços do totalitarismo fascista.
5. Em que consistia o corporativismo no estado fascista

Resolva os exercícios indicados.

Auto-avaliação Faça uma breve síntese da unidade em estudo.


Unidade X
O Nacionalismo Totalitário: Hitler

Introdução
Foi no contexto das crises económica, tratado de Versalhes, medo ao comunismo que o nazismo
teve campo na Alemanha, na direcção de Adolfo Hitler. Este chegado ao poder introduziu o
partido único, a política totalitária, racista e expansionista. Na direcção dos nazis os problemas
económico foram remediados, permitindo a afirmação da Alemanha como uma potência
económica e militar no século XX.

Ao completar esta unidade / lição, tu serás capaz de:

 Caracterizar o estado nacional nazista;


 Descrever o totalitarismo no estado nazista;
Objectivos
 Analisar a política racial durante o nazismo.

10.1. Estado nacional


Factores como o início da Grande Depressão (1929), desemprego maciço, as humilhações do
Tratado de Versalhes (1919), o descontentamento social com o regime democrático ineficaz, o
apoio do povo alemão aos partidos socialistas e o temor de uma revolução socialista, levou a alta
burguesia alemã, empresários e o clero a apoiaram a extrema-direita do aspecto político, optando
por extremistas de partidos como o Partido Nazista.

As eleições de Julho de 1932, os nazistas tornaram-se o maior partido no Reichstag, com 230
lugares. Porém o Partido Nazista não conseguiu uma maioria parlamentar até a nomeação de
Hitler como chanceler.

Assim em 30 de Janeiro de 1933 Adolf Hitler foi nomeado chanceler da Alemanha por
Hindenburg o gabinete ministerial em seguida dissolvido por Hitler.

Porém, para triunfar, o nazismo precisava combater seu principal concorrente ideológico, o
socialismo revolucionário ou comunismo, com o qual teria de disputar a adesão popular.
Igualmente totalitário, o comunismo também se arvorava a construir uma sociedade perfeita, não
só na Alemanha, mas no mundo. Durante o mesmo ano de 1933, o Partido Nazista eliminara toda
a oposição.

Inúmeros ministérios deixaram de se reunir no regime nazista — embora continuassem existindo


na teoria — como o Conselho Secreto do Gabinete e o Conselho de Defesa do Reich, cujas
funções passaram a ser executadas por Hitler.

A Alemanha, por fim, transformou-se em um estado nacionalista, onde não-arianos e oponentes


do nazismo eram excluídos da administração, e o sistema judiciário tornou-se subserviente ao
nazismo. Campos de concentração foram criados para receber prisioneiros políticos, judeus,
ciganos e eslavos. A Bandeira da República de Weimar foi substituída pela bandeira da suástica
do partido nazista no dia 15 de Setembro de 1935.

Em 22 de Setembro de 1933 foi criada a Câmara de Cultura do Reich, com a intenção de


“nazificar” a cultura: A fim de levar a cabo uma política de cultura alemã, é preciso unir os
artistas de todas as esferas numa organização coesa sob a direcção do Reich. O Reich deve não
somente determinar as linhas do progresso mental e espiritual, mas também orientar e organizar as
profissões.

As subcâmaras foram criadas para orientar e controlar toda a cultura: imprensa, belas-artes,
literatura, música, cinema e rádio. Todos os profissionais dessas áreas foram obrigados a associar-
se às câmaras, que podiam expulsar ou recusar pessoas por “falta de confiança política.

Toda a juventude alemã do Reich está organizada nos quadros da Juventude Hitlerista. A
juventude alemã, além de ser educada na família e nas escolas, será forjada física, intelectual e
moralmente no espírito do nacional-socialismo por intermédio da Juventude Hitlerista. Aos 14
anos o rapaz entrava na Juventude Hitlerista propriamente dita, ficando nela até os 18 anos,
quando era transferido para a Cooperação pelo Trabalho e o exército. Na Juventude Hitlerista os
rapazes recebiam treinamento em doutrinas nazistas, artes militares. O principal papel das
mulheres era gerarem filhos sadios, propagando a "raça ariana". Aos 18 anos as moças prestavam
um ano de serviço nas fazendas, equivalente à Cooperação do Trabalho dos rapazes.

Na Alemanha nazista foram extintos os sindicatos, contratos colectivos e o direito de greve. Os


sindicatos foram substituídos pela Frente Alemã do Trabalho, chefiada, que admitia assalariados e
empregados e também patrões e membros de profissões liberais, tornando-se a maior organização
partidária. Grandes programas de obras públicas e de militarização foram então, responsáveis pela
diminuição do desemprego na Alemanha.
10.2. Estado totalitário
O estado totalitário organizar-se da seguinte maneira:

 A filiação no partido único (na Alemanha, respectivamente). Cargos de


responsabilidade foram confiados aos membros do Partido, cujos efectivos
passam de 3 milhões, em 1934, para 9 milhões em 1939.
 O culto do chefe: Hitler era venerado como um Deus, para isso concentrou todo
o poder (executivo, legislativo e judicial) tornando-se o chefe absoluto da
Alemanha, era chefe do exército.
 Expansionismo e militarismo: Consagrando todos os seus esforços à
conservação dos seus melhores elementos, o nacional-socialismo teria
forçosamente que proceder à incorporação de todos os alemães numa só Pátria,
numa só Nação, num só Povo.

O Programa do Partido Nazi (1920) exigia a reunião de todos os alemães numa Grande Alemanha,
o que equivalia ao empreendimento de uma política belicista desrespeitadora de tratados e de
fronteiras por eles traçados, Hitler anunciou aos colaboradores a sua vontade de acrescentar ao
Reich as minorias alemãs da Europa central, ao que se seguiria o alargamento do espaço vital
alemão.

Em 1935, o Estado nacional-socialista restabeleceu o serviço militar obrigatório, numa clara


infracção ao Tratado de Versalhes, e iniciou o programa de rearmamento no país.

Em 1938, procedeu-se à anexação da Áustria; um ano depois, a Checoslováquia. A 1 de Setembro


de 1939, Forças Armadas iniciava a expansão do Reich para o Leste com a invasão da Polónia.

A repressão policial a construção de um Estado policial atingiu a máxima perfeição. Quer as


Secções de Segurança do Partido (S.S.), Secções de Assalto (SA) quer a Gestapo (polícia política)
se encarregavam da vigilância da população e da opinião pública, envolvendo-as numa atmosfera
de suspeita e de delação generalizadas, e da eliminação da oposição, enviada, desde 1933, para
campos de concentração.

A propaganda que, apoiada nas então modernas técnicas audiovisuais, promovia o culto do chefe e
normalizava a cultura segundo padrões nacionalistas e até racistas.
Por sua vez, na Alemanha, o Ministério da Cultura e da Propaganda exerceu uma verdadeira
ditadura intelectual. Por um lado, suprimiu jornais, organizou autos de fé onde se queimavam as
obras dos autores proibidos (Voltaire, Marx, Freud, Proust, …), perseguiu os intelectuais judeus.

A rádio e o cinema armas indiscutíveis para o totalitarismo nazi. Em 1938, estava instalados 10
milhões de aparelhos radiofónicos, através dos quais, e com o apoio de altifalantes nas ruas, nas
escolas e nas fábricas, toda a Alemanha escutava o Fuhrer. Quanto ao cinema, competia-lhe
contribuir para o culto dos heróis nacionais, como Bismarck, e para a denúncia dos inimigos do
Reich: judeus, britânicos e bolchevistas.

O artista separou-se do povo e, desse modo, perdeu a sua fecundidade. Desde aí, sobreveio na
Alemanha uma crise mortal da cultura. A cultura é a expressão superior das forças criadoras de
um povo. O artista é o intérprete inspirado dessa cultura. Seria insensato da parte dele supor que a
sua missão divina se poderia cumprir fora do povo. Ela só existe em função do povo. Se um artista
abandona o terreno sólido que o Povo lhe oferece então encontra-se rasgada a via para os inimigos
da civilização, sob cujos golpes o artista acabará também por cair.

O Racismo: que estipulava que a raça ariana é a superior - Um Povo, um Império, uma Guia.

10.3. Racismo hitleriano


Na Alemanha acentua-se, sobretudo, o racismo, que se concretiza de um modo particularmente
violento contra os judeus, dando origem a um anti-semitismo militante.

O racismo assenta, como se sabe, na ideia de uma profunda desigualdade entre as raças, julgando
que há uma raça superior a todas as outras, a raça ariana, cujo missão e estabelecer a sua
superioridade e o seu domínio por todo o mundo. Dai que o estado deva ser posto ao serviço desta
concepção: o Estado deve, pois, velar pela pureza da raça e pela sua expansão em todo o Mundo.

É dentro desta ideia que Hitler escreve o seu livro Mein Kampf, que surpreendentemente constitui
um grande sucesso de livraria na Alemanha, chegando a ter uma tiragem de 6 milhões de
exemplares.

Escreve ele nesse livro a dada altura: Os povos que renunciam a manter a pureza da raça
renunciam, ao mesmo tempo, à unidade da sua alma. A perda da pureza do sangue destrói a
felicidade interior, abaixa o homem para sempre, e as respectivas consequências, corporais e
morais. Daqui retirava Hitler a consequência de que os homens de um mesmo sangue devem
pertencer ao mesmo Reich. E acrescentava: a minha missão e fazer triunfar, contra todas as leis
falsas e artificias, uma lei natural e sagrada: a da comunidade do sangue.

Desta tese decorriam dois corolários:


 Os não arianos que vivem na Alemanha, particularmente os judeus, devem ser
controlados, condicionados e em último termo, exterminados;
 Os arianos que vivem fora da Alemanha devem poder passar a pertencer a
grande Nação alemã, para o que os países onde eles existem devem ser anexos
pela Alemanha.

O primeiro corolário levou, como se sabe, as câmaras de gás e ao Holocausto; o segundo levou a
II Guerra Mundial. Um e outro custaram a Europa, pelo menos 60 milhões de mortos

Sumário
Hitler perseguiu todos seus opositores através da polícia política, desenvolveu a indústria de
armamento, que empregou muita gente, implantou uma educação ao jovem no molde ideológico
nazi, considerou a raça mais pura seria a do ariano que deveria impor-se sobre as restantes.
Nota-se que a exaltação do nacionalismo alemão.

Exercício
1. Explique em que contexto emerge o regime nazista na Alemanha?
2. Descreva o nacionalismo nazi.
3. Apresente os principais traços do totalitarismo nazi.
4. Em que consistia o racismo no estado nazista

Resolva os exercícios indicados.

Auto-avaliação Faça uma breve síntese da unidade em estudo.


Unidade XI
O Nacionalismo personalizado:
Charles de Gaule
Introdução
Charles Gaule projecta um nacionalismo personalizado, onde procurou consolidar o nacionalismo
francês, uma vez sido do poder o seu nacionalismo continuou a ser seguido na França, após a sua
morte. Estabeleceu que o parlamento devia ser limitado e eliminado.

Ao completar esta unidade / lição, tu serás capaz de:

 Analisar o nacionalismo combatido de Charles de Gaule;

 Comentar o nacionalismo continuado de Charles de Gaule;

Objectivos  Caracterizar o poder personalizado proferido por Charles de Gaul

 Analisar os ideais do Parlamento limitado e eliminado Charles de

11.1. Nacionalismo combatidos


Ao nacionalismo totalitário de Hitler e de Mussolini, ao nacionalismo contra-revolucionário de
Charles Gaulle opõe uma recusa directa que se traduz, de facto, por uma luta armada contra os
primeiros e por uma repressão penal que atingi as realizações do segundo.

Eleito novamente presidente, em 1959, de Gaulle iniciou um governo forte, nacionalista e


conservador, promulgou uma Constituição que reforçava os poderes presidenciais. Ele sabia da
importância de um governo forte, nacionalista e conservador para reconquistar o prestígio e o
poder da França no exterior.

Em 1966, Gaulle anunciou sua decisão de retirar as forças francesas da Organização do Tratado
do Atlântico Norte (OTAN) e de remover do país os quartéis-generais da OTAN. Da mesma
forma De Gaulle recusara a integração política da França numa Europa construída sob um modelo
supranacional. Para ele esse modelo significaria o desaparecimento do nacionalismo de cada
Estado e, consequentemente, o da França. Isso beneficiário a hegemonia americana, a qual De
Gaulle combatia, por querer levar a França a um nível de potência mundial.
Em se tratando da OTAN e da força de dissuasão, o que De Gaulle fez foi tentar neutralizar os
efeitos nefastos de Yalta. A construção da Europa seria também um meio de estabelecer a
grandeza da França, seu poder e seu papel de liderança. E quanto ao Mercado Comum Europeu,
De Gaulle resistia a entrada da Inglaterra, por ver nela uma espécie de Cavalo de Tróia da
América.

As decisões de De Gaulle referentes à política internacional, à OTAN e à sua oposição à


Inglaterra, tinham como principal objectivo o restabelecimento da França a uma situação
preponderante na Europa, defendendo ao mesmo tempo sua independência nacional,
exageradamente subordinada, em sua maneira de pensar, à hegemonia americana. De Gaulle
procura se aproximar da União Soviética, mas esta relação se mantém fria. Entre os anos de 1965
e 1969 De Gaulle demonstra uma política mais inclinada para a União Soviética, sendo que
durante esses anos se opôs ao conflito no Vietnã.

As revoltas de Maio de 68 (lideradas por Daniel Cohn-Bendit), no entanto, prejudicaram


profundamente seu governo. Embora o movimento estudantil tenha sido vencido pela polícia de
Gaulle e um milhão de pessoas tenham cantado a "Marselhesa" em apoio ao presidente, ele teve
que ceder muito às reivindicações do proletariado e do sistema de ensino, advindas do movimento.
Seu conservadorismo não se adaptava mais ao novo panorama francês de sindicatos e greves. A
economia enfrentava problemas de inflação e circulação, mas Gaulle conservava o apoio popular.
Porém, em Abril de 1969, suas propostas de mudanças constitucionais foram derrotadas num
plebiscito e ele renunciou, deixando uma França em transição, mas que voltara à supremacia
europeia.

11.2. Nacionalismos continuados


Charles De Gaulle tornou-se um símbolo da França para os franceses e para os povos de outras
partes do mundo. Charles de Gaulle continua a ser o herói preferido dos franceses, cerca de 30
anos depois do seu desaparecimento. Há, efectivamente, um consenso muito favorável em relação
ao militar que se revoltou porque não quis ser vencido em 1940. Também se lhe gabam os méritos
de ter fundado a V República em 1958 e que ainda vigora. Foi um homem muito lúcido e algo
contraditório que conseguiu imprimir uma política bastante hábil, contra ventos e marés.

Mas, como é evidente, não morreram as ideias gaullistas que continuam a inspirar os políticos
mais à direita e até mesmo certos sectores da esquerda. O ministro do Interior, Jean Pierre
Chevnement, não esconde uma certa veneração pelo general, em termos de independência
nacional e de "sentido do estado". Também o antigo esquerdista Régis Debray, filósofo, se tem
fartado de louvar De Gaulle. Diziam que este era um monarca, mas o certo é que mandou instalar,
nos seus aposentos do Eliseu, contadores de água e de electricidade, porque entendia que essas
despesas não deviam ser pagas pelo erário público.

Trinta anos depois de ter morrido, Charles de Gaulle é "o personagem mais célebre da História da
França", seguido por Napoleão e por Luís XIV.

O pluralismo gaullista repousa na aceitação das diversidades das famílias espirituais e no


reconhecimento das suas originalidades. Por outro lado, ressaltam numerosa coincidência entre a
imagem da república plebiscitária. De Gaulle é o chefe de guerra, estende a mão para os filhos que
lutam para a libertar e embala-os no seu coração dilacerado.

11.3. O poder personalizado


Cabe esta direcção a um chefe de estado que não é a emanação de forças localizadas
ideologicamente. O povo reunido necessariamente ao poder personalizado, o exercício da
autoridade implica uma presença e uma vontade. Estas devem ser, em primeiro lugar, uma
evidência física. Chefe do governo, chefe do estado.

A aclamação popular corresponde, juridicamente a designação popular. Depois de ter aceitado que
esta se exerce-se indirectamente, de Gaulle na sequência de atentado do Petite- Clamart, pensa que
ela devia tomar a forma de eleição por sufrágio universal.

No que toca a este assunto, a concepção gaullista esta mais próxima da doutrina socialista do que
da concepção revolucionaria. A designação pelo conjunto do corpo eleitoral tem carácter
instrumental. Para ser valida deve corresponder ao bem comum do povo. Há portanto uma
legitimidade anterior à eleição e superior a esta, porque legalidade e legitimidade podem estar
sociologicamente dissociada.

Em Junho de 1940, o governo de Vichy é legal, mas como é desprovido de liberdade, é ilegítimo.
Charles de Gaulle assumi a legitimidade a falta de sucessores, até que o povo se possa exprimir e
rectificar ou não auto-entronização.

Reunidas nem por isso legitimidade e legalidade se confundem. Sem a legitimidade a legalidade
prevalece, mas não é valida. Sem a legalidade a legitimidade será inútil. Mas aqui tudo se torna
mais subtil, incluindo o mal entendido entre os Charles Gaulle e eleitores. Ao ser considerado
inútil, a legitimidade não deixa por isso de continuar a ser o valor supremo. Legalidade deixa-lhe
o caminho livre, mas não a institui, porque a legitimidade, donde provém, precede na ordem ritual
do estado.
Depois de 1962, tendo sido introduzida a eleição por sufrágio universal, o general de Gaulle
declara que o espírito das novas constituições consiste, mantendo-se um parlamento legislativo,
em fazer com que o poder deixe de ser uma questão partidária e provenha directamente do povo.
O parlamento é assim designado como um lugar de expressão dos partidos: a sua intervenção é
legítima, mas partidária, e também parcial, uma vez que o presidente eleito directamente pelo
conjunto do povo é detentor global e a fonte do poder.

Princípio e fonte podem agir discricionariamente. Não há nenhuma autoridade, nem ministerial,
nem civil, nem militar, nem judicial que não sejam conferidas e mantidas por ele.

11.4. O Parlamento limitado e eliminado


Não há pois, comparação possível entre o poder nacional do presidente e autoridade localizada
dos eleitos. As eleições são simples competições locais. Também não há medidas comum entre o
domínio supremo que lhe é próprio, e o domínio secundário cuja gestão delega noutro.

No entanto, Charles de Gaulle parecia encarar só uma limitação e ao uma eliminação do


parlamento. Em 1946 invoca a separação dos poderes e o bicameralismo.

No discurso de Bayeu, expôs perfeitamente o seu pensamento de então: todos os princípios e todas
as experiências exigem que os poderes públicos – legislativo, executivo e judiciários sejam
claramente separados e fortemente equilibrados. A sua separação implica que o poder executivo
não possa provir do parlamento, sob pena de se chegar a uma confusão de poderes em que, em
pouco tempo o governo acabaria por não ser mais do que um conjunto de delegações.

Em contra partida é certo e sábio que o voto definitivo das leis e dos orçamentos deve regressar a
uma assembleia eleita por sufrágio universal e directo. É preciso também atribuir a uma segunda
assembleia, e com uma composição diferente, a função de examinar publicamente o que a
primeira apreciou, formular emendas, propor projectos. Tudo aponta para instituições de uma
segunda câmara, cujos membros serão, no essencial eleito pelos conselhos gerais e municipais, ao
mesmo tempo que a base será alargada pela introdução de representantes das organizações
económicas, familiares, e intelectuais, para que se faça ouvir, dentro do próprio estado, a voz da
grande actividade do país.

Em 1969 o projecto referendário, sob a capa de uma dupla reforma regional e senatorial, reduz
praticamente o parlamento a câmara, ela própria ameaçada nas suas atribuições. o autor do texto ,
Jean-Marcel, numa interpretação imprevista do artigo 3 em que declara ver nele uma síntese do
regime representativo e da democracia directa, anuncia a reforma de um sistema onde passariam a
coexistir dois modos paralelo de legislar, que o chefe de estado usaria ad libitum (vontade).
Contraria ao direito positivo não há duvida que esta exegese anunciava uma inversão da dados,
tornando-se o processo referendário a regra para os assuntos importantes, e só conservando o
poder legislativo uma actividade residual.

De Gaulle tinha pedido a cada cidadão para participar na acção política, exprimindo directamente
a sua vontade, antes de lhe reconhecer vocação para eleger o chefe de estado, o que era perante o
poder dos notáveis – que são apenas representantes do povo, um elemento da democracia directa,
a única verdadeira, a única pura.

Assim se satisfaria a que parece ter sido a última aspiração de Charles de Gaulle: antes de mais
nada, é como o próprio povo que o seu mandatário e guia devem manter-se em contacto directo. É
assim com efeito, que a nação pode conhecer em pessoas o homem que exacta em sua frente,
discernir os laços que a unem a ele, estar a par das suas ideias, dos seus actos, dos seus projectos,
das suas preocupações e esperança.

Sumário
As decisões de De Gaulle referentes à política internacional, à OTAN e à sua oposição à
Inglaterra, tinham como principal objectivo o restabelecimento da França a uma situação
preponderante na Europa, defendendo ao mesmo tempo sua independência nacional,
exageradamente subordinada, em sua maneira de pensar, à hegemonia americana.

Exercício
1. Descreva o nacionalismo combatido de Charles de Gaule.

2. Caracterizar o poder personalizado proferido por Charles de Gaule.

3. Qual é a percepção de Charles de Gaule Parlamento limitado e eliminado?

Resolva os exercícios indicados.

Auto-avaliação Faça uma breve síntese da unidade em estudo.


Unidade XII
Socialismo

Introdução
O socialismo teve maior proeminência mais precisamente no século XIX, mediante a oposição ao
sistema capitalista, que havia degradado as relações humanas no sentido de ver os males da
sociedade remediadas, surgem neste contextos ideias difundidas pelos grandes pensadores como
Marx e Engels.

Ao completar esta unidade / lição, tu serás capaz de:

 Conhecer o embrionário do socialismo;


 Explicar as ideias explícitas no socialismo;
Objectivos
 Analisar a conceitualização do socialismo.

12.1. Uma palavra nova


A palavra socialismo surge pela primeira vez em Inglaterra, em 1822, e logo a seguir, em França,
em 1831, vários filósofos ingleses e franceses, com a intenção de coibir a continuidade da política
exploradora capitalista, passaram a ser chamados de socialistas.

Esse termo designava anarquistas, comunistas, anarco-sindicalista; mesmo havendo ideias bens
diferentes dentre esses grupos. Isso porque tinha uma crença em comum: a existência de uma
economia que não beneficiasse somente algumas classes, mas sim todas as pessoas.

Quando falamos aqui em socialismo estamos a pensar, sobretudo, naquilo a que melhor se
chamaria o socialismo europeu do século XIX, bem diferente, sob muitos aspectos, chamados
socialismo do terceiro Mundo do século XX. Ambos são formas de socialismo – como diferença
de que a primeira surgiu como tentativa de resolver a questão social decorrente da
industrialização, ao passo que a segunda surgiu como tentativa de resolver a questão nacional
decorrente da descolonização.

A primeira visou um fim de justiça social; a segunda visou um objectivo de desenvolvimento


económico. A primeira foi causada pela miséria operária em sociedades industriais; a segunda,
pela miséria camponesa em sociedades agrárias. A primeira procura corrigir, ou combater, o
capitalismo; a segunda procurou suprir a sua falta.

12.2. Uma ideia política nova


Foi no século XIX que surgiram as primeiras ideias socialistas dos tempos modernos, embora não
possamos esquecer que houve, muito antes, importantes precursores do socialismo moderno, tais
como Platão ou Thomas Morus. Mas o socialismo moderno nasce na Europa do século XIX,
sobretudo, como reacção a um conjunto de realidades económica e sociais muito negativas: as
crises económicas frequentem; as perturbações sociais consequentes do progresso técnico, da
industrialização e do capitalismo; a situação miserável do operariado; etc.

O país onde se verificaram em maior número diversas causas que determinaram como reacção o
aparecimento das ideias socialistas foi a Inglaterra, designadamente por forças do estado da
indústria mineiras na Inglaterra e no país de Gales. Mas, curiosamente, os principais pensadores
socialistas do século XIX foram alemães.

Devemos igualmente ter presente que a eclosão das ideias socialistas não foi apenas determinada
por conjunto de factos e situações da vida real: também se inseriu, logicamente, na evolução do
movimento de ideias que caracterizou a Europa primeira metade do século XIX. Este movimento
foi marcado pela transição do racionalismo para o romantismo, do culto da natureza para o culto
da ciência, do iluminismo para o positivismo; do fixismo tradicional para o evolucionismo
darwinista, do racionalismo intelectual para o socialismo científico do catolicismo conservador ou
liberal para o catolicismo social. O socialismo inscreve-se, naturalmente, neste clima intelectual
de mudança.

Alias, como acentua Andre Piettre, não deve esquecer – se que uma grande parte dos temas do
socialismo europeu do século XIX já se encontravam nas ideias e nos actos da revolução
Francesa: esta, embora burguesa em grandes medidas, endeusaria a razão e o progresso,
considerara as leis como instrumento da felicidade humana, combater as classes privilegiada e
proclamara-las além da liberdade – os valores de igualdade e da fraternidade.

O socialismo francês, e mesmo o socialismo de Marx, foram beber em grande parte nas fontes de
Rousseau, Robespierre e Sant- Just.

Engels viria a classificar duas modalidades de socialismo entre elas socialismo científico e
socialismo utópico, querendo com isso significar que só o marxismo era científico e que todas
outras formas de socialismo não passavam de meras utopias.
Entretanto, aqueles não eram os únicos tipos de socialismo, há que distinguir cinco modalidades
socialismo: utópico, idealista, associacionista, anarquistas e marxista.

12.3. Uma definição difícil


Para alguns, socialismo é o mesmo que liberdade e falam em ”socialismo liberal”, o que é uma
contradição que não faz qualquer sentido.

Para outros, socialismo é sinónimo de democracia e afirmam que não há democracia sem
socialismo, nem socialismo sem democracia – o que constitui uma mistura pouco rigorosa de
noções bem distintas, além de não ser histórica e actualmente correcto (os EUA são uma
democracia não socialista; Cubas e um pais socialista não democrático)

Para outros ainda, o socialismo identifica-se com justiça social - o que não passa de uma
aproximação grosseira, porque o socialismo e apenas uma das formas possíveis de procura atingir
a justiça social, havendo outras igualmente legítimas (por ex., a social-democracia, a democracia
cristã, o neoliberalismo, etc.).

Para outros, enfim, socialismo é toda a doutrina intervencionista que afirma a necessidade da
acção do Estados na economia para promover o desenvolvimento, o bem-estar, a igualdade entre
os homens – o que revela grande confusão de conceito, pois intervencionismo económico dos
poderes públicos surgiu, precisamente, como forma de superar as deficiências do liberalismo sem
cair no campo do socialismo.

Sumário
Socialismo termo novo do século XIX, que apareceu para opor ao capitalismo, usado neste século
pelos filósofos ingleses, franceses entre outros, criticando veementemente o sistema capitalista.
Ao longo o seu surgimento várias definições apareceram para identifica-lo, tendo sido definido
como sendo a intervenção o estado na economia com objectivo de garantir a justiça social e
igualdade.

Exercício
1. Explique o contexto da origem do socialismo.
2. Explique a contextualização das ideias socialista.
3. Defina o socialismo.
Resolva os exercícios indicados.

Auto-avaliação Faça uma breve síntese da unidade em estudo.


Unidade XIII
Socialismo sem Estado

Introdução
Saint Simon e Charles Fourier são apologista dum socialismo sem estado, que desenvolva em
direcção da felicidade colectiva humana, pois são utópicos, estabelecendo um socialismo em que
o estado não existiu. Enquanto Simon aborda a sociedade constituída por varias fábricas, estando
na direcção, os directores e trabalhadores os que executam o projecto, Fourier e prevê uma
sociedade constituída por falanstério.

Ao completar esta unidade / lição, tu serás capaz de:

 Explicar o pensamento político de Saint Simon em relação ao


socialismo sem estado;
 Descrever os ideais de Charles Fourier sobre a sociedade
Objectivos capitalista sem estado.

13.1. Pensamento politico de Saint Simon


Para o Saint-Simon, o avanço da ciência determinava a mudança político-social, além da moral e
da religião. É considerado o precursor do Socialismo, pois, no futuro, a sociedade seria
basicamente formada por cientistas e industriais.

Em um dos seus primeiros livros, cartas de um residente em Genebra e seus contemporâneos,


publicado em 1803, ele propõe que os cientistas tomem o lugar dos padres para conduzir a era
Moderna. A violência da guerra napoleónica leva-o a se abrigar no Cristianismo, e de uma base
Cristã construir as bases para uma sociedade socialista. Previu a industrialização da Europa e
sugere uma união entre as nações para acabar com as guerras.

Quando Saint-Simon falou sobre a nova sociedade, imaginou uma imensa fábrica, na qual
substituiria a exploração do homem pelo homem para uma administração colectiva. Assim, a
propriedade privada não caberia mais nesse novo sistema industrial. Vale notar que existiria uma
pequena desigualdade e a sociedade seria perfeita depois de reformar o Cristianismo. Ainda disse
que o homem não é apenas algo passivo na História, pois sempre procura alterar o meio social no
qual esta inserido. Essas alterações são importantes para que a sociedade seja desmembrada,
quando esta sociedade funciona dentro das normas que a ela correspondam, pois não é possível
colocar uma regra de uma sociedade em outra.

A regra deve combinar com a estrutura para que a sociedade industrial se desenvolva. Saint-
Simon ainda mantém a ideia de uma sociedade hierarquizada, por isso a desigualdade, pois no
topo estariam os directores da indústria e de produção, engenheiros, artistas e os cientistas; na
parte de baixo estariam os trabalhadores responsáveis pela execução dos projectos feitos pelos
inventores e directores. Com isso, acaba prevendo o grau máximo da capacidade de produção.
Este foi o primeiro a perceber que o conflito de classes estava relacionado com a economia e que
seria nas mãos dos trabalhadores que o futuro seria construído, mas guiados por alguém.

Pode-se perceber que Saint-Simon estava adquirindo uma concepção anti-igualitária e


antidemocrática, em se tratando do seu aspecto religioso, pois falava que todos os homens
deveriam ter os mesmos princípios. Por isso, o novo Cristianismo substituiria o "cristianismo
degenerado", e teria como imperativo a justiça social, pois o núcleo deveria se consolidar no que
seria a fraternidade do homem, resultando num mundo de homens livres.

Saint-Simon é considerado um dos fundadores da Sociologia, que estaria sendo sustentada por
duas forças opostas: orgânicas (estáveis) e críticas (mudam a história). Só a sociedade industrial
poderia acabar com a crise que a França passava. Este autor ainda marca a ruptura com o Antigo
Regime. Para Saint-Simon, a Política era agora a ciência da produção, porém a Política vê seu fim
com a justiça social.

A obra principal de Saint-Simon é New Christianity (1825), nele declara que a Religião tendia a
melhorar a condição de vida dos mais necessitados. Em três anos seus seguidores tinham
desenvolvido o que podemos chamar de um culto quase religioso baseado na interpretação das
suas ideias, e difundiram as suas ideias através da Europa e América do Norte, influenciando
socialistas e outros românticos do início do século XIX, como Sainte-Beuve, Victor Hugo e

George Sand .
14.2. Pensamento Político de Charles Fourier
Fourier, crítica aquilo que ele mesmo denominou como sendo a civilização, etapa da vida humana
representada pelo modo de produção capitalista, no qual, segundo Fourier, estavam expostas as
maiores repressões contra a liberdade dos indivíduos e das comunidades.

O carácter essencial e explícito da civilização capitalista era sua artificialidade, seu visível desvio
em relação a tudo que fora promessa nos desdobramentos que desencadearam e firmaram
historicamente a Revolução Francesa. No lugar da liberdade, da fraternidade e da igualdade tão
propaladas, o que de fato se fixou foram maciças formas de opressão aos desejos e sentimentos
humanos, os quais, para Fourier, eram a própria substância da vida, aquilo a que chamou paixões.

O total desencanto de Fourier pela Revolução Francesa e pela constituição das estruturas sociais
da chamada civilização, levaram-no a acreditar que a revolução não se daria pela força nem pela
tomada do poder. O que levaria a uma consubstancial transformação da sociedade, um modelo de
vida comunitária que incentivasse as paixões e permitisse aos homens criar um modelo original e
fraterno de sociedade, designado como organização societária, era o exemplo, a boa conduta, o
bom combate. Uma organização societária em que homens e mulheres pudessem, pois,
desenvolver formas de vida mais justas e racionais, deveria partir do combate às moralidades
burguesas e aos princípios modernos extremamente equivocados de progresso, tudo isso estaria
levando a sociedade a auto-enganos e a desvios que poderiam ser incorrigíveis para a verdadeira
felicidade, na qual os protagonistas deveriam ser os desejos, o ímpeto sexual liberto e a
solidariedade em todas as suas possíveis e impossíveis dimensões.

O grande exemplo elaborado por Fourier para que servisse de semente para o ingresso da
humanidade numa Nova Era, suplantando de vez a civilização artificial e opressora do modo de
produção capitalista, foi o falanstério7 . Essa comunidade ideal seria composta de um número
bastante restrito de pessoas, equilibrando-se entre o número de habitantes dos géneros masculino e
feminino, idosos e crianças, com tarefas distribuídas de modo equitativo e com uma estrutura de
tomada de decisões e reservas de apelo moral que não inibisse de modo algum as paixões
humanas. O sucesso dos falanstérios – seriam milhares espalhados mundo afora – acabaria sendo
exemplo para que toda a humanidade os adoptassem como forma de organização societária mais
elevada.

Fourier – em um de seus claros exercícios de devaneio e excentricidade – chegou a delimitar o

7
Falanstério era a denominação das comunidades intencionais idealizadas pelo filósofo francês
Charles Fourier. Consistiam em grandes construções comunais que reflectiriam uma organização
harmónica e descentralizada onde cada um trabalharia nos conformes de suas paixões e vocações
número real de habitantes que deveria ter cada falanstério: 1620, totalizados por 415 homens
adultos, 395 mulheres adultas, 810 crianças. A distribuição da riqueza socialmente produzida, para
Fourier, também deveria obedecer a alguns critérios estabelecidos previamente: o capital investido
(4/12), as tarefas práticas realizadas (5/12) e o talento e os conhecimentos demonstrados e
comprovados pelo grupo (3/12). Já o dinheiro, este circularia livremente ensinando o bom
desenvolvimento de toda essa estrutura económica e de divisão social do trabalho.

Sumário
Para Simon só a sociedade industrial poderia acabar com a crise que a sociedade passava. Este
autor ainda marca a ruptura com o Antigo Regime. Para Saint-Simon, a Política era agora a
ciência da produção, porém a Política vê seu fim com a justiça social.

Fourier adopta falanstério, comunidade ideal composta de um número bastante restrito de pessoas,
equilibrando-se entre o número de habitantes dos géneros masculino e feminino, idosos e crianças,
com tarefas distribuídas de modo equitativo e com uma estrutura de tomada de decisões e reservas
de apelo moral que não inibisse de modo algum as paixões humanas.

Exercício
1. Quais são os ideais do socialismo sem estado de Saint Simon?

2. Descreva o pensamento político de Fourier sobre o socialismo sem estado.

Resolva os exercícios indicados.

Auto-avaliação Faça uma breve síntese da unidade em estudo.


Unidade XIV
Socialismo contra o Estado
Introdução
O socialismo utópico luta contra todas as formas de estado, no entanto constrói uma sociedade
onde não exista classes sociais, onde todos participam na vida colectiva de forma livre, fazem
parte deste pensamento político o Proudhon, anarquista libertário, sindicalista anarquista, Mas é
com Marx que o socialismo vai passar da transição do utópico para científico, pois Marx
estabelece as bases da sociedade na fase comunista.

Ao completar esta unidade / lição, tu serás capaz de:

 Caracterizar o federalismo anarquista de Proudhon;


 Descrever os ideais do anarquismo libertário;
Objectivos
 Analisar a concepção ideológica do Sindicalista anarquista;
 Explicar o socialismo marxista sobre abolição do estado.

14.1. Federalismo anarquista de Proudhon


Prodhon pronuncia-se por uma condenação geral dos governos, porque reprova a existência do
Estado em si. Enquanto sistema de ordem do poder, o estado vai buscar a família o seu princípio
de autoridade. De um dado necessário, quando no lugar devido, faz um sistema artificial, variável
segundo os séculos e os climas, considerados de ordem natural e necessário a humanidade.

O sistema estatal é intrinsecamente mau e não pode ser corrigido. Que procura combater os seus
abusos, agrava-os ainda mais.

Proudhon é especialmente crítico com os democratas, porque escondem esta realidade profunda: o
erro ou a astúcia dos nossos países foi fazer o povo soberano a imagem do homem. E pensar que a
entre nós democratas que acham que o governo tem algo de bom. Socialista que, em nome da
liberdade, da igualdade e da fraternidade, defendem esta ignominia. Proletários que apresentam a
sua candidatura a presidente da republica; Não há meias medidas, com efeito, e o sistema
democrático não deve escapar ao processo instaurado contra a autoridade porque, directa ou
indirectamente, o governo do povo será sempre o escamoteamento do povo, a fórmula
revolucionária é: mais governo.
Da crítica da democracia decorre a do sufrágio universal, «instituição excelente para levar o povo
a dizer, não o que pensa, mas o que querem deles». O seu balanço histórico é rapidamente traçado
da maneira como tem procedido todas as constituições posteriores, o sufrágio universal é o
estrangulamento da consciência pública, o suicídio da soberania do povo, a apostasia da
Revolução». Visto que é incapaz de reproduzir uma ideia, deve concluir-se que o meio seguro
deve levar um povo a mentir é a instituição do sufrágio universal.

O sufrágio universal é uma espécie de teoria atomística em virtude da qual o legislador, incapaz,
de fazer falar o povo na unidade da sua essência, convida os cidadãos a exprimir a opinião por
cabeça, viritim, exactamente como o filósofo epicuriano explica o pensamento, a vontade e a
inteligência por combinação de átomos. Como se da soma de uma qualquer quantidade de
sufrágios pudesse alguma vez resultar a ideia do povo.

Proudhon vê claramente o vazio causado pela sua condenação: «o que! Não querem a
constituição? querem abolir o governo? Então quem é que manterá a ordem na sociedade?

A sociedade é o movimento perpétuo, não precisa que a fortifiquem, nem que lhe marquem o
compasso. Contém em si a sua mola, sempre tensa, e o seu pêndulo.

Quanto ao Estado, não tem que intervir. Não aparece em lado nenhum. Numa sociedade bem
organizada, deve limitar-se, pouco a pouco, a só se representar a si próprio, a nada.

Criadas estas condições, o princípio de autoridade tende a desaparecer. O Estado, a coisa pública,
república, assenta na base para sempre inabalável do direito e das liberdades locais corporativas e
individuais, cujos mecanismos resulta a liberdade nacional. O governo, para dizer a verdade, já
não existe.

No entanto, proudhon prevê uma assembleia nacional de deputados das unidades federais e admite
a existência, no intervalo das reuniões, de uma comissão executiva central, escolhidas pelos
deputados, mas não distinta deles, nem superior a eles. Os interesses gerais resultam entre uns e
outros, da sua mútua transacção.

14.2. Anarquismo libertário


Movimento político que defende uma organização social baseada em consensos e na cooperação
de indivíduos livres e autónomos, mas onde à partida sejam abolidas entre eles todas as formas de
poder. A Anarquia seria assim uma sociedade sem poder, dado que os indivíduos de uma dada
sociedade, se auto-organizariam de tal forma que garantiriam que todos teriam em todas as
circunstâncias a mesma capacidade de decisão. Esta sociedade, objecto de inúmeras
configurações, apresenta-se como uma "Utopia" (algo sem tempo ou espaço determinado). É um
ideal a atingir.
As origens do anarquismo, entroncam directamente na concepção individualista dos direitos
naturais defendida por John Locke. A sociedade para este filósofo inglês era o resultado de um
contrato voluntário acordado entre individuos iguais em direito e em deveres. No entanto foi só a
partir do final do século XVIII que o anarquismo se veio a estruturar como uma corrente política
autónoma, com seguidores em toda a parte do mundo. Entre os seus teóricos contam-se
pensadores tão diversos como William Godwin (1773-1836), P.J.Proudhon (1809-1865),
Bakunine (1814-1870), Kropotkin (1842-1921) ou o português Silva Mendes.

A principal ideia que rege o anarquismo é de que o governo formal é totalmente desnecessário,
violento e nocivo, tendo em vista que toda a população pode, voluntariamente, se organizar e
sobreviver em paz e harmonia (anarquismo político).

A proposta dos anarquistas é contraditória ao sistema capitalista, mas não deve ser confundida
com o individualismo, pois está fundamentada na cooperação e aceitação da realidade por parte da
comunidade. De acordo com os maiores pensadores anarquistas, o homem é um ser que por
natureza é capaz de viver em paz com seus semelhantes, mas órgãos governamentais acabam
inibindo esta tendência humana de cooperar com o resto da sociedade. A organização na
sociedade anarquista não é descontrolada, ela depende da autodisciplina e cooperação voluntária,
está baseada no instinto natural do homem; não é uma decisão hierárquica como acontece nas
sociedades convencionais.

A intervenção política dos anarquistas, pouco inclinados à constituição de grandes organizações,


embora muito dispersa tem historicamente se centrado a sua luta na defesa de seis ideias:

1. Direitos Fundamentais dos Indivíduos - Os anarquistas, como os liberais


foram os primeiros retirar das ideias de John Locke profundas implicações políticas. Em primeiro
lugar a ideia da primazia do indivíduo face à sociedade. Em segundo, a ideia de que todo o
indivíduo é único e possui um conjunto de direitos naturais que não podem ser posto em causa por
nenhum tipo de sociedade que exista ou venha a ser criada;

2. Acção Directa - Recusando por princípio o sistema de representação, os


anarquistas afirmam o valor da acção directa do indivíduo na realidade social. Este conceito foi
interpretado no final do século XIX princípios do século XX, por alguns anarquistas, como uma
forma de actuação política, cometendo assassinatos de figuras políticas que diziam simbolizarem
tudo aquilo que reprovavam;
3. Crítica dos Preconceitos Ideológicos e Morais - Uma das suas facetas mais
conhecidas pela sua crítica irreverente à sociedade. Com a sua crítica demolidora dos preconceitos
sociais pretendem destruir todas as condicionantes mentais que possam impedir o indivíduo de ser
livre e de se assumir como tal;

4. Educação Libertária - Os anarquistas viram na educação um processo de


emancipação dos indivíduos, acreditando que por esta via podiam lançar as bases de uma nova
sociedade;

5. Auto-organização - Embora recusem qualquer forma de poder, a maioria dos


anarquistas não recusa a constituição de organizações. Estas devem contudo ser o resultado de
uma acção consciente e voluntária dos seus membros, mantendo entre eles uma total igualdade de
forma a impedir a formação de relações de poder (dirigentes/dirigidos,
representantes/representados, etc.).

É por esta razão que tendem desconfiar ou combater, as grandes organizações porque nelas a
maioria dos indivíduos tendem a ser afastados dos processos de decisão. Os anarquistas estão
desde o século XIX ligados à criação de sociedades mutualistas, cooperativas, associações de
trabalhadores (sindicatos e confederações, etc.), ateneus, colónias e experiências auto-gestionárias.
Em todas estas formas de organização procuram em pequena ou grande escala ensaiar a sociedade
que preconizam;

6. Sociedade Global - Um dos seus grandes ideais foi sempre a constituição de


uma sociedade planetária que permitisse a livre circulação de pessoas ou o fim das guerras entre
países. É neste sentido que alguns anarquistas, como P. Kropotkin, viram no desenvolvimento das
tecnologias de comunicação e informação um meio que poderia conduzir ao advento da Anarquia.

A defesa destas ideias tem caracterizado o movimento anarquista internacional, ao longo dos seus
duzentos anos de existência.

Os anarquistas pretendem abolir o Estado e todo o seu aparelho orgânico da natureza


administrativa e policial, com vista à construção de uma sociedade de onde tenha desaparecido
toda a espécie de coacção e autoridade. Por definição, os anarquistas são avessos à própria ideia
de autoridade, seja ela no seio da família, no Estado ou em qualquer outra instituição.
Naturalmente, tratando-se de uma doutrina socialista, preconiza também a abolição da
propriedade privada, que deverá ser substituída pela comunhão integral dos bens, tanto de
produção como de consumo.

Nessa sociedade de onde tenha desaparecido a propriedade privada, a Igreja, o Estado, o Direito e
toda e qualquer noção de autoridade -, os homens poderão, finalmente, viver em paz e liberdades
totais, no âmbito daquilo que os anarquistas vagamente descrevem como uma federação
espontânea de associações e municípios livres. A entrada ou saída de cada cidadão destas
organizações dependerá, obviamente, apenas da sua vontade. Trata-se, como se vê, de um certo
socialismo utópico.

Porém, o facto de os anarquistas visarem, como meta, uma sociedade beatifica de paz e liberdade
completa não os impede beatifica de paz e liberdade completas não os impede de e mostrarem
partidários do uso da violência como forma de destruição de ordem social existente. Os
anarquistas são apóstolos da destruição universal. E não são apenas adeptos da ideia de violência:
praticam-na de facto na vida real.

14.3. Sindicalista anarquista

O anarquismo é sindicalista desde o berço. O pensamento de Bakunin, Varlin, Lorenzo e seus


seguidores sobre o papel e o futuro das associações de resistência, quanto mais anarquista, mais
sindicalista.

Na arena Internacional e das associações internacionais Bakunin foi o principal inspirador,


fundindo e vivificando as ideias marxistas com o pensamento de Proudhon e dos socialistas
franceses.

Para fazer a revolução não se deve esperar que todos os operários estejam organizados. Isso seria
impossível, dadas às condições do proletariado; e felizmente não é necessário. Mas é preciso que
ao menos haja os núcleos, em torno dos quais possam rapidamente agrupar-se as massas, apenas
se libertem do peso que as oprime.

Que, se é utopia querer fazer a revolução quando todos estiverem de acordo, e prontos, maior
utopia é querer fazê-la com coisa nenhuma e com ninguém. Há uma medida em tudo. Entretanto,
trabalhemos para que cresçam o mais possível às forças conscientes e organizadas do proletariado.
O resto virá por si.

O sindicalismo operário, encontra no meio dos anarquistas seu primeiro pessoal dirigente, o
fundador Fernand Pelloutier. Quer por inspiração directa, como fundador das bolsas do trabalho,
Pelloutier quer por influência difusas, no caso de outros, todos insistem na ideia proudhoniana de
organização autónomo e federal da economia, independentemente da política que devera
substituir, com a associação dos produtores a de estado, fazer as vezes de oficina em vê de
governo.

O anarquismo sindicalista é um movimento autêntico da classe operária em luta contra a miséria.


A hostilidade ao estado não se preocupa com o regime político, a democracia é considerado um
processo, mais recente e mais hipócrita, utilizado pela burguesia para conservar os seus
privilégios, procura seduzir a classe operária, fazendo do inimigo de classe um amigo eleitoral. O
sindicato não aceita a democracia, tal como não aceita apoiar nenhum partido político. Mesmo que
estivesse animado das melhores intenções, os governos não poderiam conter ou evitar iniquidade
social.

O sindicalismo repousa inteiramente na crença na acção do grupo sindical como elemento


renovador da vida, não só social e económico, mas também político. O sindicato é ao mesmo
tempo o instrumento e objectivo dessas transformações. Prepara o aparecimento de uma sociedade
que já não será um estado, no sentido das soberanias territoriais existentes, mas uma federação
mais ou menos flexível e, mais ou menos de grupos sociais. Entretanto o sindicato é um grupo de
luta integral que tem por função estilhaçar a legalidade que nos sufoca para gerar o direito novo
que queremos ver sair dos nossos combates. Com esse objectivo organiza a acção directa.

A instituição operaria graças ao seu serviços de recrutamento, de propaganda, de educação, de


mutualidade e de resistência, permite ao trabalhador a paragem concertada do trabalho nas
empresas, nas profissões, e finalmente na nação, através da greve geral.

Objectivo da transformação, o sindicato é, desde já, a célula - base da sociedade futura, estando
cada profissão organizada em sindicato, cada sindicato nomeara o seu conselho; os sindicatos
serão por sua vez, federados por ramo, nacional e internacional. A rede paralela de bolsas de
trabalho estabelecera a estatística das necessidades e dos produtos e manter-se-ão ligações
constantes com os sindicatos. Assim se fundara uma sociedade sem estado nem autoridade.

Como diz A. Keufer, os sindicalistas antiparlamentarismo estão decididos a suprimir o estado


como organismo social e a fazer desaparecer qualquer governo de pessoas, para confiar aos
sindicatos, as federações e as bolsas de trabalho o governo das coisas a produção, a distribuição e
a troca.
14.4. Marxismo
O contraste explosivo provocado pelo confronto entre a burguesia, cada vez mais rica e reduzida,
e o proletariado, cada vez mais pobre e mais numeroso, irá explodir por força da luta de classe,
quando suar aquilo a que Marx chama a hora da liquidação social: é a tese catastrófica que prevê e
preconiza a fatalidade histórica da destruição do capitalismo.

Para Marx, a revolução socialista não se desenvolve de um só maneira, num único momento ou
uma única etapa. Para ele há duas fases distintas no processo de implantação do socialismo: a fase
inferior, a que é a da ditadura do proletariado e a fase superior, que a do comunismo propriamente
dito.

A ditadura do proletariado é a fase (provisória) em que a classe proletária se apossa, pela violência
do estado e do seu aparelho repressivo, ocupando a posição chave na administração público, na
economia e na sociedade, de modo a fazer com que estado opere a extinção da burguesia e o
desmantelamento do capitalismo, através das mais variadas formas – designadamente, a prisão dos
principais dirigentes económicos e políticos da burguesia, e a nacionalizações das principais
empresas industriais, comerciais e transportes.

Nesta fase – reconhece Marx – o estado tem de subsistir, já não para manter a exploração do
proletariado pela burguesia, mas sim para extinguir esta, para consolidar as posições tomadas pelo
proletariado, e para promover uma economia florescente e abundante sem a qual não será possível
passar a fase seguinte.

Nesta primeira fase a economia será organizada de acordo com o princípio a cada um segundo o
seu trabalho, abolindo-se os lucros e mais-valia. Quando estarem criadas todas as suas condições
políticas e económicas para isso, advirá então a sociedade comunista. A sociedade comunista será
uma sociedade profundamente igualitária e justa em que todos serão livre e iguais e em que não
haverá classes sociais, é a sociedade sem classes.

Marx desenha sociedade onde realizar-se-ão todos os anseios e aspirações humanas, de carácter
económico, social e cultural, mas que para atingir esta meta passa pela ditadura do proletariado,
nesta ‘ultima fase o estado dissolver-se-á. Não existindo classes, isto é, não havendo oposição e
lutas de classe, também não há necessidades de repressão e, logo o estado não será abolido:
extinguir-se-á, apagar-se-á.

O comunismo preconizado por Marx é comunismo total, abrangendo não apenas os bens de
produção, mas também os bens de consumo. Ninguém terá nada a que possa chamar seu: o
comunismo abolirá o egoísmo.
Sumário
Proudhon refere que o Estado, não tem que intervir. Não aparece em lado nenhum. Numa
sociedade bem organizada, deve limitar-se, pouco a pouco, a só se representar a si próprio, a nada.

A intervenção política dos anarquistas, pouco inclinados à constituição de grandes organizações,


embora muito dispersa tem historicamente se centrado a sua luta na defesa de seis ideias: Direitos
Fundamentais dos Indivíduos, acção directa, crítica dos Preconceitos Ideológicos e Morais
Educação Libertária Auto-organização.

Os sindicalistas antiparlamentarismo estão decididos a suprimir o estado como organismo social e


a fazer desaparecer qualquer governo de pessoas, para confiar aos sindicatos, as federações e as
bolsas de trabalho o governo das coisas a produção, a distribuição e a troca.

Marx desenha sociedade onde realizar-se-ão todos os anseios e aspirações humanas, não havendo
oposição e lutas de classe, também não há necessidades de repressão.

Exercício
1. Proudhon afirma que sociedade é o movimento perpétuo, não precisa que a
fortifiquem, nem que lhe marquem o compasso. Contém em si a sua mola, sempre tensa, e o seu
pêndulo.
a) Faça comentário em relação a afirmação acima.
2. Quais são as principais ideias dos anarquistas libertário?
3. Mencione o papel e o objectivo último dos sindicatos anarquista.
4. Para Marx, a revolução socialista não se desenvolve de um só jacto, num único
momento ou uma única etapa.
a) Faça comentário sobre a afirmação acima.

Resolva os exercícios indicados.

Auto-avaliação Faça uma breve síntese da unidade em estudo.


Unidade XV
Socialismo no Estado
Introdução
Após a revolução de 1848 ter falhado na Europa, permitiu a que o marxismo estivesse em peso
com o manifesto socialista. Mais tarde a teoria socialista vai ganhando maior expressão no mundo,
tendo os seguidores Fernand Lessale, Lenine e Staline que advogavam o socialismo no estado.

Ao completar esta unidade / lição, tu serás capaz de:

 Descrever a revolução de 1848 na Europa;


 Analisar os ideais de Fernand Lessale sobre o socialismo no estad
 Explicar o desmembramento do socialismo na concepção marxist
Objectivos  Comentar sobre o socialismo de Lenine e Stalin na concepção

15.1. O malogro de 1848

Dá-se o nome de Revoluções de 1848 à série de revoluções na Europa central e oriental que
eclodiram em função de regimes governamentais autocráticos, de crises económicas, de falta de
representação política das classes médias e do nacionalismo despertado nas minorias da Europa
central e oriental, que abalaram as monarquias da Europa, onde tinham fracassado as tentativas de
reformas políticas e económicas. Também chamada de Primavera dos Povos, este conjunto de
revoluções, de carácter liberal, democrático e nacionalista, foi iniciado por membros da burguesia
e da nobreza que exigiam governos constitucionais, e por trabalhadores e camponeses que se
rebelaram contra os excessos e a difusão das práticas capitalistas.

A partir de 1845, a situação política francesa foi profundamente agravada pela eclosão de uma
crise do capitalismo. Essa crise acabaria se estendendo por todo o continente e estaria na origem
das revoluções liberais que abalaram a Europa Centro -ocidental, no ano de 1848.

Os anos de 1845 e 1846 foram de péssimas colheitas, desencadeando uma crise agrícola em todo o
continente. A crise agrícola iniciou-se em Flandres e na Irlanda, com as péssimas colheitas de
batatas. Na Europa ocidental, a má colheita de trigo desencadeou em 1846 uma série de revoltas
camponesas. Essa crise desencadeou uma alta vertiginosa do custo de vida, atirou à miséria
grandes sectores da população rural e reduziu drasticamente a sua capacidade de consumo de
produtos manufacturados. A crise se agravou atingindo a indústria e as finanças.

A crise, naturalmente, não teve carácter uniforme e atingiu de forma diferente cada região. Foi
predominantemente industrial na Inglaterra e na França, mas sobretudo agrícola na Irlanda e na
Itália. De qualquer modo, atingiu duramente a massa popular, que se tornou, por isso mesmo,
extremamente sensível aos apelos revolucionários difundidos pelos socialistas, que, em 1848,
conquistaram grande nitidez no cenário europeu.

A colaboração entre Marx e Engels que se inicia está longe de ser apenas um projecto de
formulação teórica. Os dois fundadores do comunismo moderno procuram, de imediato, um
terreno prático onde materializar as concepções que estão elaborando. Com esse intuito, vinculam-
se a uma organização revolucionária alemã socialista conhecida como a Liga dos Justos, nome
que indica a influência da revolução francesa de 1789 e os movimentos revolucionários burgueses
de então, mas vinculada à nascente classe operária alemã. No primeiro congresso da Liga
realizado em Londres (Junho de 1847), Engels advogou sua transformação em Liga Comunista.

Marx e Engels, convenceram o 2º Congresso Comunista em Londres a adoptar suas posições. A


Liga adopta a divisa “Trabalhadores de todo o mundo uni-vos”, em substituição ao dístico
idealista e burguês de “todos os homens são iguais” e um programa fundado na teoria da luta de
classes.

Os dois foram indicados a elaborar uma declaração política e de princípios do comunismo, que
surgiria em 1848 como o Manifesto do Partido Comunista, cujas definições foram articuladas por
Engels no seu Princípios do Comunismo (1847), mas cuja redacção final coube fundamentalmente
a Marx, o que se o transformou em uma verdadeira obra-prima literária, de forma alguma reduz o
carácter de obra conjunta dos dois grandes revolucionários.

O Manifesto é um dos mais impressionantes, senão o mais, dos documentos políticos de toda a
história da humanidade. Em poucas páginas seus autores reduzem a pó os fundamentos idealistas
da compreensão da história da humanidade, explicando com uma clareza que o transforma em
grandiosa obra literária que “a história da humanidade até os nossos dias é a história da luta de
classes”, descrevendo em parágrafos magistrais a evolução das classes e suas lutas, passando em
seguida a uma análise até hoje não superada das características profundamente revolucionárias da
sociedade industrial criada pelo capitalismo onde “tudo o que é sólido desmancha no ar”,
evidenciando como o capitalismo transforma em cruas relações mercantis os fetiches morais,
religiosos e políticos do passado.
Após explicar a relação do comunismo e do movimento operário com extraordinária precisão e
demolir em parágrafos extremamente contundentes as variantes de socialismo idealista o
Manifesto prognóstica a futura revolução proletária como resultado das revoluções de 1848 que
estão para começar, terminando com a famosa e electrizante conclusão: “os comunistas não se
rebaixam a ocultar suas opiniões e os seus propósitos. Declaram abertamente que os seus
objectivos só podem ser alcançados pela derrubada violenta de toda a ordem social existente. Que
as classes dominantes tremam à ideia de uma revolução comunista, os proletários nada têm a
perder a não ser os seus grilhões. Têm um mundo a ganhar.

Com o fracasso da revolução de 1848 e as tentativas revolucionárias posteriores a Europa é


tomada pela reacção em todos os lugares, com os revolucionários sendo colocados na cadeia aos
milhares, por outro lado imaturidade política da classe operária, Marx e Engels dedicar-se-ão a
desenvolver a formulação teórica do socialismo científico, cujo maior resultado será justamente O
Capital.

Reuniram-se em Londres, onde reorganizaram a Liga Comunista e esboçaram directrizes tácticas


para os comunistas acreditando que outra revolução se seguiria esquematizadas na famosa
Circular do Comité Central à Liga dos Comunistas de 1850, onde pela primeira vez é utilizada a
expressão “revolução permanente.

A este período corresponde também uma intensa actividade jornalística, ditada em certa medida
por necessidades económicas, mas cujo resultado será os principais escritos políticos de ambos:
As lutas de classes em França (1872) e o Brumário de Luís Bonaparte (1852); Guerras
Camponesas na Alemanha (1850), Revolução e contra-revolução na Alemanha (1851), A questão
militar na Prússia e o Partido Operário Alemão (1865), e A questão da habitação (1873) de
Engels, além de uma infinidade de artigos menores. Durante o período em que Engels viveu em
Manchester (1851 a 1869) os dois colaboradores trocaram mais de mil cartas em uma
correspondência com importantes formulações esclarecedoras dos problemas que procuravam
resolver em comum.

Em 1864 será fundada a Associação Internacional dos Trabalhadores, conhecida posteriormente


como a I internacional. Marx e Engels participarão da criação da nova organização, onde
procurarão levar adiante um trabalho de estruturação do movimento operário internacional o qual,
a derrota da vaga revolucionária na Europa após 1848 adquire um novo impulso através da guerra
da secessão norte-americana e das lutas económicas em alguns países como a Inglaterra.

Após a morte de Marx (1883), Engels dará continuidade ao trabalho político que, juntamente com
Marx havia impulsionado. Neste período, acompanhava sete jornais diários e 22 semanários em
mais de 10 línguas. O resultado será a fundação da II Internacional em 1889, onde os marxistas
predominarão sobre os socialistas. Neste momento, Engels será a maior autoridade política do
movimento operário. No entanto, fará questão, como no próprio discurso no I Congresso da nova
internacional de se colocar apenas como um colaborador de Marx, a quem atribuiu, com enorme
modéstia, a quase totalidade do papel criador nesta admirável associação intelectual e política.

Marx e Engels foram os primeiros a demonstrar que a classe operária e suas reivindicações são um
produto necessário do regime económico actual, que, juntamente com a burguesia, cria e organiza
inevitavelmente o proletariado; demonstraram que não são as tentativas bem-intencionadas dos
homens de coração generoso que libertarão a humanidade dos males que hoje a esmagam, mas a
luta de classe do proletariado organizado.

Marx e Engels foram os primeiros a explicar, nas suas obras científicas, que o socialismo não é
uma invenção de sonhadores, mas o objectivo final e o resultado necessário do desenvolvimento
das forças produtivas da sociedade actual.

15.2. O pensamento de Ferdinand Lassale


Lassalle representou uma vertente do movimento socialista do século XIX, bastante fecunda no
seu país de origem: a Alemanha. No geral suas ideias eram claramente opostas aos princípios
defendidos por Marx e Engels. Uma das principais divergências que marcaram os conflitos entre
essas duas correntes políticas - filosóficas, girou em torno das dimensões do socialismo.

Diferentemente de Max e Engels, Lassalle argumentava a favor do socialismo restrito ao terreno


nacional. Para ele, o que realmente interessava para o proletariado da Alemanha, condizia com as
leis internas do Estado alemão. Portanto, toda sua organização deveria possuir como horizonte de
luta, apenas os marcos territoriais de seu país, contrariando, desta forma, todo o internacionalismo
proletário defendido por Marx e Engels.

Um facto importante a ser notado é que na época de Lassalle, o espaço territorial alemão ainda
não obtinha a unidade que era defendido por ele, tinha como origem filosófica as ideias do grande
pensador alemão Fichte.

Este filósofo defendia um socialismo moral, carregado de misticismo. Para Fichte, o homem era
inteiramente livre, plena e divinamente livre. No entanto, em sua opinião o homem isoladamente
não poderia concretamente ser livre, permanecendo assim escravo da natureza. A não ser que
possuísse uma certa propriedade, quer dizer, um determinado campo de acção e isso somente o
socialismo poderia criar, instaurando assim a dignidade humana.
A figura do Estado também era central nas ideias desse alemão. A função social que o poder
estatal deveria desempenhar, convergia para a centralização e o controle das relações entre os
indivíduos. Segundo dizia, o Estado deveria determinar a qualidade e o preço dos produtos, do que
se deduz que o Estado supervisiona constantemente a produção e que os cidadãos, em parte
patrões, estão igualmente em parte a serviço da administração pública.

Aqui o Estado surge como uma entidade reguladora dos conflitos e das contradições, sem,
todavia, representar nenhuma classe social. Portanto, ele assume um carácter de neutralidade
diante da sociedade, pronto a satisfazer as necessidades de todos. Um outro ponto importante, é
que, o sistema impulsionador da emancipação dos indivíduos deveria conter-se em âmbitos
nacionais, ou seja, o internacionalismo não possui maior significado em sua obra.

Todos esses aspectos, de algum modo, foram incorporados por Lassalle. Este absorveu
amplamente os pressupostos teóricos do mestre do socialismo moral. Lassalle espera que o Estado
fixe a medida do valor dos preços; Tanto um quanto o outro estavam preocupados, antes de tudo,
com a realidade alemã.

Para Lassalle (1969), uma das principais reivindicações que se colocava para o movimento
progressista da Alemanha, referia-se a implantação de uma Constituição Democrática. Durante o
período das revoluções europeias das décadas de 1830 e 40, em especial, no caso alemão, boa
parte das insurreições possuía como meta prioritária a instalação de uma Constituição que
contemplasse a maioria dos cidadãos, ou melhor dizendo, o sufrágio universal.

Em seu texto Que é uma constituição? Lassalle (1969) além de tentar explicar conceitualmente o
significado desse conjunto de leis e normas de uma determinada nação, busca também demonstrar
que ela é uma importante maneira do Estado resolver e pacificar os problemas sociais de uma
realidade nacional, revelando assim suas consequências para a vida prática dos homens. Além
disso, o autor propõe que a Constituição não se funda somente sob uma simples formulação
jurídica, pois na verdade a sua existência também emerge das relações de poder, ou como o
próprio diz, dos "factores reais de poder.

Segundo afirmava, essas relações de poder possuem como matriz a existência e, ao mesmo tempo,
o choque de diferentes classes sociais. Por isso, ele acreditava ser a Constituição um meio
fundamental para a harmonia de uma nação: a Constituição não é uma lei como as outras, é uma
lei fundamental da Nação.

A luta de classes, portanto, no pensamento desse autor não adquire uma perspectiva de fim, pois
ao que tudo indica a disputa pelo poder sempre existirá. Por isso, o Estado, a Constituição e o
sufrágio universal, são tão importantes para os trabalhadores. No entanto, o ponto decisivo da
constituição democrática na Alemanha, correspondia ao fato de que ela provocava o poder
centralizador, fundamental para a unificação dos seus Estados autónomos.

Como já frisamos anteriormente, a unificação alemã se caracterizou como sendo um dos


problemas centrais para o movimento socialista liderado por Lassalle. Mesmo possuindo uma
burguesia em certa medida desenvolvida, os andamentos da economia e da política ainda sofriam
amplos obstáculos devido aos resquícios feudais presentes no território alemão. Sob suas ideias, o
proletariado alemão acreditava na via pacífica para a conquista do Estado, quer dizer, por meio da
maioria dos votos.

Como até agora foi possível perceber, o caminho seguido pelo movimento socialista alemão de
tendência lassalleana defendia além de uma actuação política, também um socialismo, limitados
ao espaço territorial da Alemanha.

15.3. O desmembramento do marxismo


Ao por em relevo o processo de concentração capitalista, Marx mostra como a expropriações
atinge a generalidade das populações. Paralelamente a teoria da proletarização e da pauperização
crescente, a propaganda política conquistará praticamente a unanimidade da população. Ser-lhe-á
teoricamente fácil, pois basta dar aos indivíduos a consciência de classe que lhes falta.

Desde que o sufrágio estenda as grandes massas populares, a evolução apresentam carácter
matemático. Visto que a sociedade capitalista cria um número sempre crescente de proletários,
cria automaticamente um sempre crescente de eleitores socialistas. “A vossa legalidade chega-nos,
poderão dizer os líderes socialistas”.

A manutenção e o alargamento da democracia, graças a aliança com a esquerda burguesa, levam


ao triunfo inevitável do socialismo. Em consequência, este produzir-se-á primeiro nos meios
económicos muito evoluídos de alta concentração industrial, meios também politicamente
democratizados. Por isso, nada é perigoso e, no fim de contas, mais nefasto do que precipitar, por
meio políticos, um acontecimento que deve amadurecer naturalmente.

Tal é a tese social-democrática que foi considerada, no seu tempo, a mais próxima do pensamento
de Marx e do ponto de vista de Engels nos seus últimos escritos: "Nos, os revolucionários, os
agitadores, prosperamos muito melhor por meios legais do que por meios ilegais de raízes. "

Depois da morte de Marx e Engels, o teórico do partido alemão Eduard Bernstein pública, em
1899, os "postulados dos socialistas ", traduzidos de francês. O seu inventário crítico da doutrina
marxista, que pretende simplesmente rever" para fazer progredir, leva-o a refutar o materialismo
dialéctico e o materialismo histórico.

Este ultimo parece-lhe muito limitado, na medida em que considera as ideias simples reflexos e
faz dos factores materiais "os poderes omnipotentes da evolução, não se deve subestimar as
concepções da moral e dos direitos, as crenças religiosas e as teorias cientificas. Isso leva-o a
contestar a tese dita "catastrófica" da luta de classes. Por outro lado, teoria da concentração
capitalista crescente não lhe parece verificar-se nos factos, as classes medias não desapareceram, a
própria pauperização é travada pela acção operaria.

Segundo Bernstein, o socialismo impor-se-á gradualmente e sem convulsões inúteis, deve, pois,
aderir-se aos mecanismos democráticos para assegurar no seio de um Estado neutro a
representação de todas as classes. Assim se abandona, simultaneamente, a ditadura do proletariado
e o progressivo enfraquecimento do Estado.

Karl kautsky depois de condenarem as teses revisionistas, os dirigentes da social-democracia


alemã abandonam, por sua vez, a ortodoxia marxista. Depois de Bebel, aquele que tinha sido
encarregado de instruir "o processo" de Bernstein, karl kautsky 1854-1938, vai optar por uma
passagem gradual do capitalismo ao socialismo pelas vias eleitorais e parlamentares, atitude que
Philippe scheidemann justifica assim: "depois do resultado das eleições no Reichstag, era certo
que, num futuro relativamente próximo, a grande maioria do povo alemão Seria conquistado para
a social-democracia

Para Kaustky, antigo secretário de Engels, o socialismo só podia nascer depois da completa
maturação do capitalismo, nos países industriais mais avançados. Esta via "oportunista" levou o
seu defensor, logo seguido pelos "outros -marxistas", a propor, em "A revolução proletária e o seu
programa", a substituição da ditadura do proletariado por um "governo de coligação ".

Fundador, em 1917, de um "partido social-democrata independente", e adepto convicto do


ministerialismo, Kautsky leva ao extremo o que havia no marxismo de determinista e mecanicista.

15.4. Lenine e o marxismo


Lenine não se afasta substancialmente de Marx quanto a natureza, função e destino do estado.
Mas trás um contributo decisivo para a teoria do estado, não tanto pela sua obra escrita tanto
quanto pela sua acção enquanto líder do partido, principal inspirador da revolução e chefe do
primeiro governo comunista russo: ele será, de facto, o grande construtor do estado soviético.
O estado soviético é um modelo de estado que se contrapõe ao estado pluralista (ou, em
linguagem marxista, ao estado burguês) – seja na forma de monarquia parlamentar, seja na de
república presidencialista.

Com Lenine surge um tipo de estado com seguintes características:

 O estado deve ser governado, não por quem ganha eleições, mas por quem
merece governá-lo e por quem quer governá-lo. O proletariado, enquanto
representado e conduzido pela sua vanguarda que é o partido comunista, merece
e quer exercer o poder político e assumir a direcção do estado;

 O estado não reconhece a oposição e só aceita um partido – é a teoria do partido


único. Até 1917 Lenine nunca o dissera, mas a guerra civil, a defesa das
conquistas da revolução e luta para manter o poder político, vão obriga-lo a
isso;

 A sede do poder politico não é o estado, mas o partido. É o partido comunista


que dirige a política do país, e os órgãos do estado devem obedecer às
directrizes do partido. Este é guia e orientador do estado e da sociedade;

 O sufrágio para a designação dos governantes não é de base indivídual, mas de


base institucional, por comissões ou conselho, isto é, por sovietes formados
espontaneamente a partir das bases. É o estado soviético em sentido próprio;

 O estado não reconhece o princípio de separação dos poderes, antes pelo


contrário, considera que a concentração do poder, a unidade, a unicidade são
essenciais para se poder conduzir uma acção revolucionária eficaz;

 O estado não reconhece a liberdade de consciência religiosa, de criação cultural,


de opinião filosófica. Pelo contrário o estado promove o ateísmo oficial, dirige
a criação cultural, e escolhe a orientação filosófica mais adequada para o país;

 O estado assumi para si a economia: primeiro porque transfere das mãos dos
particulares para a titularidade pública a exploração das principais actividades
económicas (nacionalizações e reformas agrárias); segundo porque controla
estreitamente, o pouco que resta no sector privado (controle operário); terceiro
porque vai dirigir e planear de forma rígida e a partir do governo o conjunto de
economias (planeamento imperativo, economia de direcção central total).

Com todas estas funções, o estado cresce para proporções nunca dantes vista em nenhum país do
mundo, e em uma poderosa vasta máquina burocrática é implantada no país.
Lenine idealiza um estado aberto a livre expressão e opinião das bases, dos operários e
camponeses, dos soldados e marinheiros, dos trabalhadores, dos proletários.

15.5. Staline e o marxismo


Staline é o autor da fórmula “o socialismo em só país”, que representa, obviamente, uma alteração
do Lenine, que ainda acreditava, como vimos, na possibilidade de um revolução em todo mundo.

Escreve história do partido comunista, em 1938, considera que em matéria de filosofia a dialéctica
é mais importante do que qualquer outro aspecto, mas omite nas leis da dialéctica a lei da
negação, por razões política óbvia. É o teorizador da revolução feita de cima para baixo, apoiada
de baixo para cima.

Entende que, para atingir o comunismo, é necessário reforçar o estado e sua ditadura e sustenta,
portanto, que o estado mesmo na fase do comunismo, tem de continuar, enquanto não for
liquidado o cerco do capitalismo e não desaparecer o perigo de ataque militar do ocidente à União
Soviética.

Staline reconhece também que as classes sociais na sociedade continuam, embora já não tenham
interesses antagónicos; mas opina que por vezes ressurgem as lutas de classes e é necessário que o
proletariado saia sempre triunfante dessas lutas. Isto vai ter consequências práticas na luta do
proletariado industrial contra os camponeses, que ele encabeçará. Um outro aspecto teórico
importante é a afirmação de que a correcção das doutrinas marxista é limitada ao período em que
foram expressas. Se aparecem entre autores marxistas fórmulas diferentes, elas não são
necessariamente incorrectas, nem são necessariamente incompatíveis: cada um é verdadeiro para a
sua própria época.

Finalmente, Staline apoia uma nova concepção do direito apresentada por Vischinsky, seu
ministro dos negócios estrangeiros – segundo o qual o comunismo é a doutrina do estado soviético
e os interesses do estado soviético são superiores a quaisquer outros interesses, e mesmo em
relação aos direitos individuais de cada um.

Sumário
O fracasso da revolução de 1848, permitiu a que o manifesto marxista ganhasse campo entre a
classe operária, onde apelava que os operário de tudo mundo a unir-se, Marx e Engels começam
por construir o socialismo científico, que aborda a ditadura do proletariado na passagem do
capitalismo ao socialismo.

Com a morte de Marx, karl kautsky vai optar por uma passagem gradual do capitalismo ao
socialismo pelas vias eleitorais e parlamentares, criticando a ditadura marxista.
Lassalle argumentava a favor do socialismo restrito ao terreno nacional. Para ele, o que realmente
interessava para o proletariado da Alemanha, condizia com as leis internas do Estado alemão.

Lenine apologista do socialismo no estado, mas que defende que para a consolidação do
socialismo era necessário primeiro no mundo para depois ser dentro do seu país.

Staline é o autor da fórmula o socialismo em só país, que representa, obviamente, uma alteração
do Lenine, que ainda acreditava, como vimos, na possibilidade de um revolução em todo mundo.

Exercício
1. Descreva o decurso e a importância da revolução de 1848 na Europa.
2. Qual é a concepção de Fernand Lessalle sobre o estado no socialismo?
3. Explique a derrocada dos ideais marxista.
4. Apresente semelhanças e diferenças entre o socialismo de Lenine e Staline.

Resolva os exercícios indicados.

Auto-avaliação Faça uma breve síntese da unidade em estudo.


Unidade XVI
Crise do Socialismo

Introdução
A revolta política implica numa atitude de suspeita permanente e rejeição para com as soluções
simplistas de salvação da humanidade presentes nos discursos políticos e ideológicos de
inspiração revolucionária. O comunismo contestário é utópico, num derradeiro sentido, talvez
mais profundo, por ser marcado pelo sinal comum a todas as utopias. Contudo destacaram-se
correntes que defendem as teses utópicas. Mas, desaparecido o modelo único, passa-se
progressivamente a uma clivagem essencial, em função do nível de desenvolvimento económico.

Ao completar esta unidade / lição, tu serás capaz de:

 Analisar o fenómeno de revolta como uma reacção em


busca de uma política adequada;
 Descrever os ideais das correntes utópicas;
Objectivos
 Conhecer os diversos socialismos.

16.1. O espírito de Revolta


Do ponto de vista histórico e existencial, diante das injustiças dos homens e das tragédias do
mundo, os movimentos político-sociais se dividem entre duas atitudes de lutas: a revolta e a
revolução.

Por definição, a revolta se constitui um estado de espírito que é mais individual e subjectivo do
que colectivo. Ela é um conjunto perpétuo do homem e da sua própria obscuridade. A revolta é
uma filosofia de vida e uma exigência estética, que toma consciência do absurdo e diz não. Já a
revolução - que chegou a formar uma cultura revolucionária, especialmente a marxista-leninista-
guevarista -, se constitui numa ruptura necessariamente explosiva com vistas ao projecto de
transformação radical da organização da sociedade.

Para o revolucionário de esquerda todas as injustiças e desigualdades têm como causa única as
contradições concretas da sociedade capitalista, que precisam sofrer uma ruptura pela acção dos
homens, dentro do processo histórico.
O existencialismo de Albert Camus concebe um tipo de revoltado que entende a própria realidade
como absurda. A sua linha de pensamento primeiramente toma como fonte inspiradora Prometeu e
Sísifo, porque são exemplos clássicos de estilos arquetípicos de revolta do homem contra as
imposições de uma realidade vivida existencialmente como injusta e absurda.

Assim, no pensamento existencialista de Camus a revolta tem dois significados: o primeiro encara
tal atitude como reacção natural diante da experiência do absurdo da vida. Trata-se de uma revolta
metafísica do homem contra a sua condição e toda a criação. Esta revolta implica tanto num gesto
de repulsa contra o criador quanto num cepticismo diante das soluções demasiadamente humanas.

O segundo sentido é a revolta política ou histórica, por exemplo, do escravo que aspira sair da sua
condição precária e submetida de mera sobrevivência. A revolta política implica numa atitude de
suspeita permanente e rejeição para com as soluções simplistas de salvação da humanidade
presentes nos discursos políticos e ideológicos de inspiração revolucionária.

A revolta camusiana nasce não apenas do oprimido, enquanto indivíduo ou classe social, mas de
qualquer ser humano que vive uma condição de humilhação e de sofrimento imposto por outrem.

Enquanto que o revolucionário apenas reconhece a revolta de uma classe – proletária – o


revoltado camusiano reconhece a revolta do sujeito consciente visto como impedido de viver uma
vida digna e feliz.

Portanto, a atitude permanente de revolta proposta por Camus é a alternativa para o simplismo e
mesmo o fanatismo de algumas tendências pró revolução político - ideológica, porque “a revolta é
em última análise o protesto contra a injustiça e incompreensível condição humana, que
continuará se reproduzindo depois de uma eventual revolução redentora, que uma vez no poder
jamais se propões fazer uma nova revolução sobre si própria.

A história tem comprovado que, os revolucionários – de esquerda ou de direita –, uma vez no


governo, suspendem seu compromisso e coragem de fazer autocrítica e sufocam todos aqueles que
ousam criticar o novo sistema.

Assim como toda revolução tende a ser um acontecimento trágico onde a própria revolução
devora os próprios revolucionários, também a revolta pode ser tomada pela loucura e fanatismo.

Porém, a revolta como concebe Camus, ela se torna positiva quando o revoltado toma consciência
da profundidade da sua afirmação ao dizer ‘não. A revolta camusiana é positiva porque não nega a
vida, mas sim, clama por uma existência plena, digna e feliz.
Enquanto o revolucionário projecta sua causa num movimento social, calculando uma ruptura
drástica e explosiva, e projectando um tempo futuro de transformação radical da sociedade onde
todas as questões políticas e sociais seriam totalmente resolvidas; já o sujeito revoltado, no seu
cepticismo, entende que as pessoas não melhoram sua subjectividade e nem se tornam virtuosas
depois de uma revolução, ainda que esta consiga efectivar uma transformação radical na
sociedade.

Portanto, a tragédia das revoluções, por um lado, consiste na incapacidade de dar sentido a
existência humana e de manter vivo o espírito revoltado; também elas não conseguem evitar que
os próprios revolucionários sejam devorados pela marcha ensandecida do pós revolução.

16.2. O comunismo utópico


A obra de Herbert Marcuse, apesar da sua riqueza, representa, porém, para o comunismo
estabelecido, um novo avatar do esquerdismo.

São esquerdinos todos os que querem determinar a sua política conforme os desejos e opiniões,
segundo o grau de consciência e de preparação para a luta de um único grupo ou de u único
partido, em completo desconhecimento do conjunto de todas as forças, grupos, partidos ou
classes, das massas que actuam no país.

A utopia manifesta-se, em primeiro lugar, pela incerteza dos objectivos. Sendo as novas formas da
sociedade impostas pelas condições do momento, não há no plano das ideias um projecto
revolucionário" esquerdista.

O comunismo utópico é, assim, simultaneamente arcaico e exótico. Entretanto algumas correntes


do comunismo utópico foram:

O fourierismo - O comunismo utópico também regressa naturalmente às "utopias de Fourier,


revista por uma elaboração psicanalista a concepção de instinto e de Eros " . Procura, com efeito,
a grande lei, segundo a qual qualquer sociedade deve ser organizada para se ajustar à harmonia do
mundo, cuja descoberta deve revolucionar as concepções da política e da moral. A atracção
universal que rege o mundo planetário deve exercer a sua forca no mundo social; apresenta-se no
homem sob a forma de paixão dominante, felizmente, o legislador esforçou-se por travar o livre
desenvolvimento das paixões no homem, quando é necessário utilizá-las para permitir ao
indivíduo expandir-se numa sociedade feliz.
Os moralistas quiseram mudar o homem para o adaptar ao meio social, quando este é obra do
homem e é possível modificá-lo no sentido de o adoptar às paixões, que são todas boas. Tudo
pode servir: amor à desordem e o amor propriamente dito.

Carles Fourier, para quem "o homem é feito para a felicidade e o mundo seria incompreensível se
a felicidade do homem não devesse realizar-se um dia" , pensa que o comunismo utópico assinala
uma enorme desinibição erótica. A Sorbonne de Maio leva uma vida de falanstério. "Todos os
cidadão vivem em comum num palácio cujos edifícios se agrupam em estrelas em voltado centro
Corredores abrigados e galeria de venda são as ruas desta estranha cidade.

O proudhónismo - através das suas reacção aos sistemas sociais com pretensões cientificas, mas
cuja exactidão não é confirmada pelos factos.

16.3. A diversificação do comunismo


Ao tornar-se uma nova testemunha da crise do socialismo, o comunismo não deixou, de ser
revolucionário aos olhos do esquerdismo. Continua a sê-lo, no entanto, talvez mais por hábito e
por estratégia politica do que por verdadeira convicção, em relação as democracias
constitucionais, que não deixara, até a sua queda, de classificação de “capitalistas” e
“imperialista”. Mas perdeu a sua unidade, e os que continuam a reclama-la depois do desabamento
soviético vão esforçar-se por salvar as suas lições a partir de uma diversidade contestada desde as
origens.

Ao opor-se as posições de Kausty, Lenine tinha, com efeito, imposto a instauração do comunismo
numa economia atrasada. A partir desta base, bastante afastada do marxismo inicial, uma nova
ramificação vai a operar-se rapidamente.

A URSS começou por querer ser o modelo: impunha a disciplina e endurecia as suas teses. Mas,
por não conseguir eternizar o concretamente, o reconhecimento da pluralidade de modelo, vias e
formação de passagem ao socialismo, resulta de três factores, alias, conexões e interdependente:

 As tradições históricas nacionais, politicas e espirituais, de cada povo;

 A presente estrutura, económica e social de cada país;

 A conjunta interna e externa no momento em que se efectua a passagem.

Pode verificar-se ao mesmo tempo a “unicidade do marxismo, uma vez que o mesmo método e os
mesmos conceitos são aplicados em toda a parte, e a pluralidade marxismo, pois os países que
elaboraram as diversas práticas de edificação do socialismo, teorizam-mas em doutrina igualmente
diversificada”.
Mas, desaparecido o modelo único, passa-se progressivamente a uma clivagem essencial, em
função do nível de desenvolvimento económico.

16.3.1 Socialismo chinês


Mão tse-tung (18934-1976) teve sempre grande cuidado em não identificar a sua causa com a do
comunismo soviético.”Certamente, não lutamos pela emancipação da China para entregar país o
Moscovo”.

Este professor primário, filho, segundo a sua própria definição, “uma mistura curiosa de
liberalismo, reformismo democrático e socialismo utópico”. O comunismo chinês, descende em
linha recta do bolchevismo como discípulo de Estaline, que proclama “fiel amigo da nação
chinesa e do povo da China na sua luta pela libertação. Tal como ao seu inspirador, a ditadura não
preocupa, uma vez pode recair sobre os laços do imperialismo, ou a classe dos proprietários
agrícolas ou capital burocrático, a fim de os esmagar e só lhes permitir agir dentro de certos
limites, sem os ultrapassar por acções ou palavras.

O sistema democrático fica reservado ao povo, que beneficia da “liberdade de palavra, de reunião
e de organização. O direito de voto só e concedido ao povo e não aos reaccionários”. Pois são
“estes dois aspectos, democracia para o povo e ditadura para os reaccionários, que constituem as
ditaduras da democracia popular”.

A vida chinesa, resumida em slogans no pequeno livro vermelho, apresenta uma tripla
particularidade: ao contrário das outras revoluções comunistas, começa no campo para alcançar as
cidades; aceita com entusiasmo os maiores sacrifícios, se este apressar as mudanças desejadas;
acha que a revolução não deve parar e estabilizar, mas ser constantemente posta em causa, tanto
no que respeita aos seus dirigentes como nos seus resultados, devendo prosseguir a luta de classe,
mesmo em pleno socialismo, até se atingir a fase do comunismo.

Mas Tsé-tung acha, pelo contrário, que revolução cultural precede a revolução económica.”A
causa fundamental do desenvolvimento das coisas e do fenómeno não e externa mas interna;
encontra-se nas contradições interna das coisas e dos próprios fenómenos”.

O socialismo de Tsé-tung é um esforço de educação, que depende essencialmente do próprio


povo, ao qual se pode para agir segundo a nova moral, o que justifica a critica quotidiana de
Confúcio. A revolução segundo Mao Tsé-tung é um estado de espírito.
16.3.2 Socialismo cubano
Pelas origens e por muito dos seus traços, o catrismo liga aos movimentos agrários que sacudiram
a América hispânica, nomeadamente as revoltas mexicanas de Pancho Villa e de Zapata.

Em 1960, Jean-Paulo Sartre, durante uma viagem a Cuba, considera a revolução em curso como
uma “revolução camponesa”de tipo Chinês. Num país onde metade da população vive no campo,
o núcleo revolucionário formou-se com revoltados da classe médias (profissões liberais,
intelectuais, estudante, etc), possuidores de fé e coragem, mas de escassa formação ideológica.
Será este núcleo a cumprir, com o apoio dos camponeses, a primeira etapa revolucionária: a da
democracia contra a tirania de Baptista, que se opunha a todas as reformas.

Fidel Castro começa por afirmar não somos comunistas … acreditamos que o povo precisa de
liberdade, de garantias individuais, de liberdade de empresa, em fim, de todo os outros direitos do
homem, mas que antes de mais tem direitos a viver, a trabalhar e a comer decentemente …somos
democratas sinceros.

O verdadeiro revolucionário, escreve, não espera que a coincidência popular esteja amadurecida
para a revolução …A luta deve chegar primeiro, porque iria criar a consequência revolucionária.

A revolução cubana, segundo chefe Che Guevara, não será jamais um satélite de ninguém. Jamais
poderia autorizar; pois foi a partir da sua própria experiência e através de uma vias original que os
revolucionário sul-americano aderiram ao marxismo.

No esquema de Marx, o período de transição era concebido como o resultado da transformação


explosiva do sistema capitalista, dilacerado pelas suas condições; mais tarde, fenómeno previsto
por Lenine, deveriam destacar-se da árvore imperialista os países que constituíam os ramos
frágeis.

Os movimentos revolucionários só devem contar com ele próprio e adaptar-se as condições


particulares de cada país. É preciso, diz Fidel Castro, “pensarmos pela própria cabeça em vez nos
enganarmos com a cabeça alheia. Mas e a própria esperança que se desvanece para o castrismo,
que, depois de ter tentado em vão evitar a instauração de uma ditadura de partido único, se
resignou a sua implantação efectiva.

Sumário
Para os revolucionários de esquerda todas as injustiças e desigualdades têm como causa única as
contradições concretas da sociedade capitalista, que precisam sofrer uma ruptura pela acção dos
homens, dentro do processo histórico. Dentre as correntes utópicas fourismo Procura, com efeito,
a grande lei, segundo a qual qualquer sociedade deve ser organizada para se ajustar à harmonia do
mundo, cuja descoberta deve revolucionar as concepções da política e da moral. Enquanto
proudhonismo, a utopia comunista fórmulas: fazer desaparecer, reabsorver, reduzir a nada, usar,
incluir, excluir o estado.

Mas, desaparecido o modelo único, a China apresenta uma tripla particularidade: ao contrário das
outras revoluções comunistas, começa no campo para alcançar as cidades; em Cuba O verdadeiro
revolucionário, escreve, não espera que a coincidência popular esteja amadurecida para a
revolução …A luta deve chegar primeiro, porque iria criar a consequência revolucionária.

Exercício
1. Qual é o significado que tem a revolta no pensamento existencialista de
Camus?
2. Qual é a visão da historia em relação ao espírito de revolta?
3. Faça comentário sobre os ideais das correntes utópicas.

4. Descreva aspectos fundamentais do socialismo que aprendeste.

Resolva os exercícios indicados.

Auto-avaliação Faça uma breve síntese da unidade em estudo.


Unidade XVII
Democracia Liberal
Introdução
A democracia constituí necesariamente um despotismo, pois estabelece um poder executivo
contrário à vontade geral. Ser possível para todos decidir contra um cuja opinião possa diferir, a
vontade de todos, não é de todos, o que é contraditório e oposto à liberdade.

Ao completar esta unidade / lição, tu serás capaz de:

 . Caracterizar a essência da democracia constitucional;


 Analisar o princípio maioritário como aspecto fundamental da
democracia liberal;
Objectivos
 Explicar o princípio do estado constitucional tendo em conta o
relativismo democrático.

17.1. Deficiência do liberalismo político


O Liberalismo Político ganhou força no século XVIII, embora o início da formação de suas ideias
centrais remonte à transição do feudalismo para o capitalismo. O chamado Estado Liberal começa
a se formar devido a um contínuo e progressivo desgaste do poder real e, por consequência, do
modelo político absolutista.
Entende-se por Liberalismo Político o pressuposto filosófico de que os seres humanos têm por
natureza certos direitos fundamentais, como o direito à vida, à liberdade e à felicidade. Cabe ao
Estado respeitar, e não invadir esses direitos. Ou seja, o liberalismo é uma doutrina que limita
tanto os poderes quanto as funções do Estado; os Estados teriam os poderes públicos regulados
por normas gerais e seriam subordinados às leis.

Foi uma perturbação económica que veio revelar esta crise do liberalismo, por isso ela assumiu a
princípio a aparência de um debate de especialistas que confrontam as suas ideias acerca dos
meios de remediar uma depressão económica.

Os neoliberais afirmam que os princípios do liberalismo permanecem absolutamente valido, mas


que nunca foram aplicados de maneira satisfatória. Basta pois, para vencer a crise que é acima de
tudo económico, regressar ao princípio do individualismo e da livre concorrência. Todo o mal
vem das intervenções do estado, que se mete onde não é chamado.
Defende desta forma a sociedade livre: Uma sociedade livre é aquela em que as desigualdades da
condição dos homens, das suas retribuições e das suas posições sociais se não devem a causas
extrínsecas e artificiais, a violência física, a privilégio legais, a prerrogativas particulares, a fraude,
a abusos e a exploração. Lippmann contenta-se com afirmar que existe uma lei suprema, superior
presente em todos os povos civilizados. É graças a esta nova forma de lei natural que poderá ser
criada uma associação fraternal entre homens livrem e iguais. Trata-se no fundo de saber se os
homens serão tratados como pessoas invioláveis ou como simples coisa das quais se pode dispor
“.

17.2. A democracia constitucional


A democracia constitui necessariamente um despotismo, pois estabelece um poder executivo
contrário à vontade geral. Ser possível para todos decidam contra um cuja opinião possa diferir, a
vontade de todos, não é de todos, o que é contraditório e oposto à liberdade.

O termo democracia é, aparentemente, todos os conhecidos. Etimologicamente, democracia


significa poder popular, mas do ponto de vista filosófico de que a democracia é o poder do povo, é
um sistema sócio-político e econômico de livres e iguais, não somente livres e iguais perante a lei,
mas relações sociais na vida cotidiana.

Considera-se a democracia não apenas como uma estrutura jurídica e do regime político, mas
como um modo de vida fundado na constante económica, social e cultural as pessoas ... a palavra
democracia , como é de origem grega e significa literalmente" Estado, ou a dominação do povo.

Claramente, as pessoas não podem governar a si próprio, necessita sempre de uma pessoa ou um
pequeno número de pessoas que ditam as leis e aplicá-las. O que se entende é que essa pessoa ou
pessoas que não são proprietários, mas os representantes e servidores do povo, respeitar a
liberdade ea personalidade de cada um e todos os governados e se esforçam para dar
oportunidades iguais para cumprir sua vocação e desenvolver sem obstáculos capacidades,
enquanto eles estão dentro das leis aceites por todos.

O princípio fundamental de que a soberania reside no povo. A forma como isso se traduz no
sistema político é o fato de que o povo elege seus governantes, ao invés de ser de tais impostos
sem consultar a sua vontade.

Por seu turno, a democracia liberal assenta em duas ideias fundamentais: a igualdade de direitos e
deveres, privilégios ou eliminar qualquer grupo de censura, e de absentismo ou de trabalho para a
expressão de idéias. Isso trouxe dois problemas: o desaparecimento das pequenas comunidades
para formar a nação uma comunidade, eleitorais e de formar partidos políticos, os eleitores sabem
muito pouco sobre, mas o nome do eleito, e depois votação para as partes mais que os homens; de
modo que quando um programa de jogo pode ser muito bom, não pode ser o eleito. Este
distanciamento entre o eleitorado e a decisão é ainda mais agravada pelas populações enormes dos
estados modernos.

O segundo problema é que a liberdade total de expressão permite propaganda desonesta e condice
demagogia fácil, por outro lado, inteligente e organizada de um grupo pode tomar a liberdade para
convencer os eleitores que votam, para depois estabelecer um regime não democrático, é uma
forma de ditaduras, e também aquele que abraçou o comunismo.

Os países onde o comunismo tenha sido imposta chamar-se "democracias populares". Como este é
um pouco contraditório, porque, de acordo com sua teoria, o primeiro período do comunismo é a
"ditadura do proletariado", que, por definição, não pode haver democracia. Quais são
democráticos, em termos de como é o procedimento de escolha, o princípio é muito inteligente,
como resolvido em uma parte dos problemas descritos acima: as pequenas comunidades elegem
um representante, o eleito e escolhido para transformar um eles, e assim por diante, desta forma,
as escolhas são feitas sucessivas entre um pequeno número de indivíduos que se conhecem uns
aos outros. Somente os candidatos pertencem a um partido aceite pela lei: a comunista. Em última
análise, aqueles que dirigem o país são os líderes do partido, e que o povo elege os indivíduos que
são considerados mais capazes de executar a parte que comanda absolutamente, cercear a
liberdade de expressão ou a ação fora esse programa.

No entanto, e como tem direito a este artigo de opinião, o "Estado Democrático de Direito" é um
termo cunhado por autores como Karl Friedrich Krause e Karl Loewenstein, que usou para se
referir a essas democracias que são baseados em uma Constituição com a conteúdo específico,
substancial, isto é motivado pela razão que a palavra democracia é usada pelos setores mais
política oposta, de modo que criou certa confusão quanto ao seu significado, por isso, é necessário
clarificar o sentido e alcance.

Democracia Constitucional, tem as seguintes características ou elementos:


 A participação política;
 Os direitos fundamentais;
 O pluralismo político;
 Princípio da maioria;
 Organizacional separação de funções, e
 A representação política.
A participação política em uma democracia representativa , é expressa em sufrágio universal, a
possibilidade de ser eleito para um cargo público e de acesso aos partidos políticos. Na
democracia semi-direta é expresso nas instituições deste sistema, como o referendo, plebiscito, ou
revogação. A democracia também implica a existência de liberdades e igualdades, é necessário
reconhecer, regular e garantir um conjunto de direitos fundamentais ou essenciais e inerentes aos
seres humanos.

O pluralismo é o resultado natural da liberdade humana, sendo capaz de expressar seu pensamento
por qualquer meio e agir como lhe aprouver para a sua conclusão e pleno desenvolvimento, sem
afetar a legalidade ou o direito dos outros, o seu âmbito não é apenas individual, mas também
social. O princípio da maioria, a suposição de igualdade das vontades, que vale mais que qualquer
outro, e respeitar o que eles decidem a maioria dos votos. A separação das funções
organizacionais, tem a ver com a divisão de poderes e da representação política, é através dos
nossos representantes eleitos.

17.3. O princípio maioritário

Em um plano de utopia, poderia imaginar-se que todas as decisões tomar-se-ão por unanimidade,
se dando lugar deste modo a uma identificação da vontade estatal e dos governados. Mas de facto,
na sociedade contemporânea, e com liberdade real, a unanimidade é praticamente impossível, e
como é necessário que o debate das opiniões tenha termo, pois é preciso adoptar decisões e fazer
possível a função de governar, é imperativo ir ao que se denomina Aceitação do princípio
maioritário. Que se adopte como decisão e valha como vontade estatal, a que reúna o maior
número de sufrágios.

Este princípio parte do suposto da igualdade das vontades das pessoas, de que nenhuma tem um
valor superior a outra. E sua fundamentação racional reside em que este princípio permite reduzir
ao mínimo a quantidade de pessoas que possam discrepar da vontade estatal.

O conceito da maioria implica a existência de uma minoria. A maioria é legítima, porque é


resultado de um processo prévio de livre discussão das ideias, e no que a minoria teve todas
oportunidades para expor seus planeamentos. Para a minoria a decisão da maioria não lhe resulta,
já que a impugnou no debate, e é esse debate, essa livre discussão, que tem devido
necessariamente ter um termo pelo imperativo de governar, o que faz respeitável a decisão
maioritária.
Mas ademais se legítima o princípio maioritário pela circunstância que a democracia
constitucional assegura à minoria sua existência livre, e a segurança de que lhe debate só tem tido
uma decisão provisória. Reabrir-se-á sucessivamente depois da cada decisão, e em forma
indefinida, de modo que a minoria pode transformar-se em maioria e aceder ao governo se recebe
a confiança do eleitorado, configurando-se uma nova minoria que será oposição do novo governo.

Por tanto, o princípio maioritário não é um valor em si, senão um procedimento técnico, que se
legítima mediante os limites indicados. A maioria pode ser simples ou relativa, quando na
pluralidade de votos é aquela que tem a cifra mais alta. Atende-se só à pluralidade de votos
expressados em favor das diferentes opções, não ao total de votos emitidos.

17.4. Relativismo democrático


Graças ao mecanismo constitucional, a opinião soberana pode impor os pontos de vista acerca do
bem público. Mas não pode defini-lo apriori. Tem de partir da sua descoberta, e a sua definição,
uma vez adquirida, pode ser posta em causa.

Surge então uma das críticas mais serias à democracia: o seu formalismo. Nicolas Berdiaeff
declara-a indiferente a direcção e a essência da vontade do povo a quem, conhecendo-lhe apenas o
princípio formal, põe acima de tudo e não quer subordinar a nada.

O poder popular, é desprovido de objectivo, não este ordenado para nenhuma finalidade. A
democracia, acrescenta ainda, permanece indiferente ao bem e ao mal. É o produto céptico de um
século céptico.

O governo de opinião postula, a par da liberdade de opiniões e de igualdade na sua expressão, um


liberalismo para coma as pessoas que, no entanto, não implica um reconhecimento de igual valor a
todas as opiniões. Não põe em pé de igualdade o erro e a verdade, por incapacidade de distinguir
esta ou por gosto mórbido de a confundir com aquele.

Muito pelo contrário, verifica que se a dignidade do homem reside essencialmente na


conformidade entre os seus actos e as suas crenças, deve ser-lhe dada a possibilidade de uma
opção para a qual, na realidade, só dispõe da própria razão e da própria consciência. Escolha
deveras ilusória, se a liberdade jurídica não permitisse a rivalidade de opiniões. Logo, da
existência esta concorrência não se deve concluir que o governo democrático assenta no
relativismo filosófico8, nem que desdenha os problemas supremos e se mantém patologicamente
indiferente ao bem e ao mal. Até se pode acreditar que, elevando-se contra todo o absolutismo
doutrinal, contra todas as crenças abstractamente imposta ao indivíduo por autoridade política,
cuja tarefa e preocupação são inteiramente diferentes, o relativismo democrático acaba por servir a
busca pessoal da verdade moral e religiosa. Os antigos filósofos gregos ensinaram-nos além disso
que o bem comum é servido precisamente através da influência de pessoas dotadas de clara visão
moral e de coragem. Desta forma, a acção política purifica-se dos interesses egoístas ou das
pressões.

Sumário
O princípio fundamental de que a soberania reside no povo. A forma como isso se traduz no
sistema político é o fato de que o povo elege seus governantes, ao invés de ser de tais impostos
sem consultar a sua vontade. Graças ao mecanismo constitucional, a opinião soberana pode impor
os pontos de vista acerca do bem público; Aceitação do princípio maioritário em democracia, faz
com que se adopte como decisão e valha como vontade estatal, a que reúna o maior número de
sufrágios. Este princípio parte do suposto da igualdade das vontades das pessoas, de que nenhuma
tem um valor superior a outra.

O governo de opinião postula, a par da liberdade de opiniões e de igualdade na sua expressão,


um liberalismo para coma as pessoas que, no entanto, não implica um reconhecimento de igual
valor a todas as opiniões.

Exercício
1. Analise as dificuldades que emanam no liberalismo.

2. Caracterize a democracia constitucional.

3. A democracia liberal elimina qualquer grupo de censura, e de absentismo ou de


trabalho para a expressão de idéias. Comente a afirmação

4. Qual deve ser o fundamento do estado mediante o relativismo democrático?

8
É claro que a Filosofia não trabalha com imposições. Uma máxima muito válida na Filosofia é
a de que o filósofo só aceita “a força do argumento, e não o argumento da força”.
Resolva os exercícios indicados.

Auto-avaliação Faça uma breve síntese da unidade em estudo.


Unidade XVIII
Democracia Socialista
Introdução
Os dois pensadores da democracia numa sociedade socialista serão Jen Jaurès e Léon Blum,
manifestam que neste tipo de sociedade a democracia faz parte a classe proletária, que se unem
em função do bem comum de forma livre para atingirem metas colectivas, movendo-se todos em
direcção ao abandono paulatino do sistema capitalista através da ditadura do proletariado.

Ao completar esta unidade / lição, tu serás capaz de:

 Descrever o contributo de Jean Jaurès para democracia socialista;


 Analisar a critica de Jean Jauràs em relação ao Marx;
 Conhecer o pensamento político de Léon Blum face a democracia
Objectivos

18.1. Pensamento político de: Jean Jaurés


Tendo estreado na política no centro esquerda, para em seguida passar ao socialismo por
idealismo, Jaurés nunca foi marxista. Ele não esta de acordo com Marx sobre a necessidade e a
implacabilidade da luta de classes. Declara achar impossível que a certa altura, maiores
capitalistas, os mais colossalmente ricos… não fiquem assustados com a desproporção que a
enormidade da sua riqueza cria entre eles e os outros homens. É impossível que o paradoxo destas
fortunas desmesuradas…, ainda que não lhes incomode a consciência, por vezes lhes não
assombre a razão.

As grandes forças sociais, burguesia capitalista e proletariado, não podem propagar a sua acção
através deste meio turvo, complexo e desigual, só podem um efeito de conjunto sobre a
democracia e pela democracia se, de algum modo, se adaptarem a situação das outras forças,
opostas ou insuficientemente favoráveis. Assim, necessariamente, pela força das coisas, uma
grande acção democrática é sempre uma transacção, ainda que no ponto de origem do movimento
para verificar-se intransigências das classes antagónicas.

Entretanto, a ideia socialista do proletário age, pela sua sublimidade e pela sua compreensão de
uma democracia incerta, contra um capitalismo terrível, mas enredado em inúmeras contradições.
Graças a ela, o proletário transformado, erguido ao papel da grande classe humana, ganha direitos
sobre a democracia.

Afirma ainda que o estado, numa democracia não é exclusivamente um estado de classe a sê-lo
cada vez menos: o estado não exprime uma classe, exprime a relação entre as classes, a relação de
forças entre elas. Logo tem por função manter, proteger as garantias de ordem e de civilização
comuns a ambas as classes, tornar eficaz o primado da classe que domina através da propriedade,
da luzes e da organização, e abrir a classe ascendente vias proporcionais ao seu poder real, a força
e a amplitude do seu movimento de ascensão.

A democracia dá garantias as duas classes, ao mesmo tempo que se presta a acção do proletariado
num sentido de uma ordem nova. No grande conflito social, é uma força moderadora.

A medida que o regime de uma nação vai sendo mais democrático, tornam-se mais difícil o golpe
de mão e as revoluções imprevisíveis e ocasionais. Em primeiro lugar, o recurso a força para ser
menos desculpável a consciência comum quando todos podem exprimir livremente os seus
agravos e contribuir em pé de igualdade para o andamento dos assuntos públicos. Depois as
classes com posses estão informadas da amplitude do descontentamento do povo, e as classes
proletárias medem forças das resistências e amplitudes dos obstáculos. Assim, a burguesia é
obrigada a concessões oportunas e o proletariado é desviado de revoltas furiosas e vãs.

Por fim, convêm por tónica na organização do partido: com uma argumentação e objectivos
opostos, Jaures vai ao encontro de Lenine. Mas, para agir em democracia parlamentar, é preciso
integrar a representação socialista numa maioria democrática, o que suscita o problema do
reagrupamento das tendências dispersas.

O partido unificado é, pois, a instituição adequada, graças a qual o socialismo pode conservar-se,
concentrar-se e expandir-se até conquistar a nação inteira.

19.2 Léon Blum


Léon Blum, que em 1919 sucede a Jean Jaures na direcção do partido socialista unificado, declara
ter recebido dele tudo o que pensa e é. Mas ao mesmo tempo, perante a tribuna, confessa-se
oprimido por algo mais forte que a emoção pelo peso da admiração e da dadiva que nele era
natural.

Léon Blum não recusa a priori a ideia de ditadura do proletariado, isto é, o livre poder de um ou
vários homens tomarem todas medidas exigidas por uma situação concreta – mas pretender
decidir antecipadamente da sua forma é pura contradição.
No entanto, é possível fixar-lhe as duas características essências:

 Ditadura exercida: por um partido assente na vontade e na liberdade populares,


na vontade das massas, trata-se de uma ditadura impessoal e não de uma
ditadura exercida por um partido centralizado, onde toda a autoridade aumenta
de degrau em degrau e acaba por se concentrar nas mãos de um comité, visível
ou oculto. Ditadura de um partido, sim, ditadura de um partido, sim, ditadura de
uma classe, ditadura de alguns indivíduos, conhecidos e desconhecidos.

 Ditadura provisória: admitimos a ditadura se conquista dos poderes público,


não for levada a cabo como um fim em si, independente das circunstâncias de
toda a espécie que permitiriam, num espaço de tempo a transformação
revolucionária. Mas se pelo contrario, a conquista do poder for encarada como
um fim imediato se contrariamente a toda a concepção marxista da historia, se
entender que é único procedimento capaz de preparar essa transformação, sobre
a qual nem a evolução capitalista, nem o nosso trabalho de propaganda teria
efeito, e se por conseguinte, há necessidade de uma distancia demasiada grande
e de um lapso de tempo quase infinito entre a tomada do poder, condição, e a
transformação revolucionaria, fim, então não estamos de acordo. Moscovo
conta com a ditadura do proletariado para trazer as transformações
revolucionárias através de uma espécie de maturação forçada,
independentemente da anterior evolução económica do país. A ditadura do
proletariado já não é aquele expediente fatal a que todos os movimentos
revolucionários recorrem necessariamente a seguir a vitória. É um sistema de
governo criado de uma vez para sempre.

Tendo recusado a solução soviética, Leon Blum insiste nas duas possibilidades tradicionalmente
discutidas pelo socialismo francês: a hipótese da conquista total do poder e a táctica reformista da
participação ministerial.

A conquista do poder é a revolução política propriamente dita. Põe nas mãos da classe operária a
maquinaria do estado, com vista a transformação social. Exige para ser eficaz e duradoira, a
capacidade do proletariado e o carácter revolucionário da situação.

Pode situar-se por meios violentos, mas de preferência por meios legais. Em qualquer caso,
implica uma ruptura com a ordem anterior e uma fase da transição ditadura do proletariado no
sentido restrito que Leon Blum dá a expressão ou simplesmente férias da legalidade.
A participação no poder consiste, pelo contrário na detenção consentida e controlada pelo partido,
de uma ou várias pastas num ministério burguês. Ora em 1925-26 Leon Blum e a maioria dos
partidos consideram que não estão preenchidas as condições para a conquista e que nos tempos
mais próximos, há poucas hipóteses de que isso aconteça.

O erro do partido comunista é de acreditar na possibilidade imediata e na eficácia actual da


conquista do poder. Por outro lado, a participação tem contra si a moção de Amesterdão, e na
sequência do caso Millerand, toda a tradição socialista francesa. Caiu em descrédito por causa das
experiências ministeriais da guerra, que constituíram um dos factores mais importante da
deslocação do partido. Independentemente das dificuldades resultantes do carácter da acção
socialista, a participação no estado actual do partido e no conjunto de circunstâncias política, só
poderia lesar os interesses dos trabalhadores e do próprio socialismo, sem por outro lado facilitar
em caso algum e em medida alguma tarefa de um governo democrático.

Leon introduz uma distinção capital que se tornara clássica no partido, mas que no exterior não foi
bem compreendida. Ao lado da conquista do poder, que seria o fim do regime capitalista distingui
em exercício de poder, no qual o partido assume a direcção do governo dentro do capitalismo.

Sumário
Jaurès numa a transformação progressiva, em plena democracia e graças a democracia, do regime
capitalista em regime socialista ou seja, uma sociedade onde o trabalho será soberano, onde não
haverá opressão, nem exploração, onde os esforços de todos serão livremente harmonizados, onde
a propriedade social será a base e a garantia do desenvolvimento individual.

Léon Blum afirma que o livre poder de um ou vários homens tomarem todas medidas exigidas por
uma situação concreta, por um partido assente na vontade e na liberdade populares, na vontade
das massas, trata-se de uma ditadura impessoal e não de uma ditadura exercida por um partido
centralizado.

Exercício
1. Jaurés nunca foi marxista. Ele não estava de acordo com Marx sobre a
necessidade e a implacabilidade da luta de classes. Justifica a afirmação.
2. Léon Blum não recusa a ideia de ditadura do proletariado, mas pretender
decidir antecipadamente da sua forma é pura contradição. Comente a
afirmação
Resolva os exercícios indicados.

Auto-avaliação Faça uma breve síntese da unidade em estudo.


Unidade XIX
Democracia Radical

Introdução
A democracia radical teve como precursores Renouvier e Léon Bourgeois, que
comungam o ideal da liberdade do homem na sociedade, uma vez que a sociedade é feita
de regras e dentro da regra social a liberdade é imprescindível para a pessoa humana, pois
o homem já nasce livre, esta concepção deve ser mantida nas relações políticas sociais.

Ao completar esta unidade / lição tu serás capaz de:

 Explicar o pensamento de Charles Renouvier em relação a


liberdade do homem;
Objectivos  Identificar os elementos fundamentais de Léon Bourgeois no meio
social humano.

19.1. Pensamento político de: Charles Renouvier


Renouvier foi o primeiro francês a formular um sistema completo de idealistas, e teve uma grande
influência sobre o desenvolvimento do pensamento francês. Seu sistema é baseado em Immanuel
Kant, como seus escolhidos termo neo-criticismo indica, mas é uma transformação ao invés de
uma continuação do kantismo, lança bases a um pensamento político que deveria, a princípio,
contemplar o indivíduo como valor máximo, sem excluir, contudo, o sentido de sociedade como
valor necessitante, ou melhor, indivíduo e sociedade não são pensados como constituições
antagónicas ente si, mas que revelam nessa associação o plano social como pano de fundo de
realização do indivíduo, obviamente orientado pelo dever como um valor a ser perseguido no
combate ao atomismo individualista.

A insistência sobre a validade da experiência pessoal Renouvier leva a uma divergência ainda
mais importante a partir de Kant em seu tratamento da volição. Liberdade, diz ele, em um sentido
muito mais amplo do que Kant, é característica fundamental do homem. A liberdade humana
actua na fenomenal, não em uma esfera imaginária. A crença não é meramente intelectual, mas é
determinado por um acto de vontade, afirmando o que temos de ser moralmente bom.

A liberdade é o ponto essencial que faz do homem um ser cultural. A liberdade permite que o
homem consiga aquilo que os demais animais conseguem mediante aos instintos. Ao contrário dos
animais, o homem não nasce quase pronto para instintivamente sobreviver. Nele, isso de
desenvolve gradual e livremente. "Na liberdade confluem as melhores energias do homem, que
são o conhecimento e a vontade. O acto livre não é um acto cego, instintivo, todavia, é um acto da
vontade iluminada pela razão.

No seu ponto de vista religioso sustenta que estamos racionalmente justificados em afirmar
imortalidade humana e à existência de um Deus finito, que é para ser um governante
constitucional, mas não um déspota, sobre as almas dos homens. Ele, no entanto, refere o ateísmo
como preferível a uma crença numa divindade infinita.

Desagrado Renouvier do incognoscível também o levou a pegar em armas contra a noção de um


infinito real. Ele acreditava que uma soma infinita deve ser um nome de algo incompleto. Se
alguém começa a contar, "um, dois, três..." Nunca há um momento em que um tem o direito de
gritar "infinito"! Infinito é um projecto, nunca um fato, na opinião neocritical.

Personalismo, é um neologismo formado pelo filósofo Charles Renouvier e que é um conjunto de


doutrinas morais e políticas que fazem da pessoa o mais alto de todos os valores. São os seus
principais representantes: Max Scheler, Martin Buber, Emmanuel Mounier e Paul Ricoeur.

O personalismo, assenta sobre um certo número de postulados: A pessoa é a origem de todos os


valores; A comunidade (ou pessoa comum) é tão originária como a pessoa: a reciprocidade das
consciências é primeira em relação ao sentimento da individualidade; O respeito e a valorização
da pessoa constituem o melhor escudo contra qualquer irracionalismo mortífero e contra qualquer
tentação totalitária.

A princípio, a ideia de uma pessoa individualizada oferece certo status de superioridade, de


liberdade e de segurança. O capitalismo favorece essa ideia demonstrando que o indivíduo. Desse
modo, perde-se até mesmo o real sentido da vida. A sociedade entra em grande contradição,
principalmente quando indica os direitos humanos como sendo invioláveis, e ao mesmo tempo
desvalorizando a vida e outros valores que são fundamentais para a pessoa humana.
19.2. Alfred Fouillé
Fouillé propõe – se harmonizar as contradições entre o liberalismo e o socialismo no interior do
sue próprio partido e conciliar as duas grande forças contemporâneas, o método cientifico e a ideia
moral, subordinando a segunda as forças económica analisadas pela primeira.

Na sociedade, todo o povo tira proveito da civilização e goza do património comum. Esta
situação, obriga os participantes beneficiário a contribuir para o pagamento dos encargos
colectivos, a participar na troca de serviços, a dar o seu contributo para o progresso.

Destes simples factos, facilmente observáveis, extrai o socialismo uma obrigação jurídico -moral.
O facto social gera um crédito social. Cada membro da sociedade, tirando proveito da civilização
e gozando do património comum, é ao mesmo tempo um participante beneficiário e um associado,
obrigado ao pagamento da parte que lhes cabe nas dívidas.

Sublinhar que o estado de sociedade é involuntário. O autor mostra que nem todas obrigações são
contratuais. Algumas nascem da natureza, como diziam os romanos. Apesar disso, vinculam tanto
como se resultam de um contrato. Por isso se lhe dá o nome de quase - contracto. É esse o carácter
da relação entre o indivíduo e a totalidade dos membros reunidos em sociedade e também com
aqueles – chefes eleitos, tradicionais ou mesmo usurpadores, que tem encargo de governar.

Os governos que gerem, com ou sem mandato, a empresa social por conta da colectividade não só
tem um direito moral ao reconhecimento e ao respeito, mas possuem também um verdadeiro
crédito, exigível em nome da sociedade, por força de uma obrigação natural que faz com que
todos devam concorrer para os encargos da associação e para assegurar a sua continuidade.

A ideia de contrato social de Rousseau, hipótese racional e não verificação histórica, é substituída
pela noção de um quase contrato social, muito mais plausível, pois que existe sem convenção
prévia. É, em si, o equivalente do acordo que se teria estabelecido previamente entre os homens se
estes tivessem podido ser igual e livremente consultados. A dívida social nasce do quase contrato
de associação como de um contrato retroactivo consentido. Poderá e devera ser legitimamente
sancionado.

Deste modo, é possível conservar o pressuposto individualista de 1789 e levar muito mais longe o
liberalismo. Reconhece-se que a liberdade é tão necessária ao desenvolvimento da sociedade
como ao progresso do indivíduo, o único limite que se lhe impõe é o direito de outrem, mas
verifica-se que em virtude de só existir graças ao meio social e a civilização, o seu gozo não pode
ser gratuito. Uma obrigação natural nasce para cada um do quase – contrato de sociedade que
obriga reciprocamente os associados. O pagamento da divida quase contratual tem fundamento
jurídico, pelo que é susceptível de ser sancionado.

Sumário
Charles Renouvier afirma que a liberdade permite que o homem consiga aquilo que os demais
animais conseguem mediante aos instintos, na liberdade confluem as melhores energias do
homem, que são o conhecimento e a vontade. O acto livre não é um acto cego, instintivo, todavia,
é um acto da vontade iluminada pela razão.

Alfred Fouillé reconhece que a liberdade é tão necessária ao desenvolvimento da sociedade como
ao progresso do indivíduo, o único limite que se lhe impõe é o direito de outrem, mas verifica-se
que em virtude de só existir graças ao meio social.

Exercício
1. Caracterizar o pensamento de Charles Renouvier tendo em conta a
inserção social do homem na sociedade.

2. Debruce nos ideais de Renouvier sobre o personalismo.

3. Alfred Fouillé sublinha que o estado de sociedade é involuntário, mostra


que nem todas obrigações são contratuais. Faça comentário

Resolva os exercícios indicados.

Auto-avaliação Faça uma breve síntese da unidade em estudo.


Unidade XX
Democracia Cristã

Introdução
Durante a idade média a religião vai dominar todas as áreas cultura, política, e ate
economia, durante a idade moderna esta vai reduzir o seu domínio.

A democracia remonta desde a antiguidade grega, no que compreende a democracia


cristã, começa pouca mais se usar o temo a partir do século XVIII, existindo a primeira e
segunda democracia cristã, que preocuparam-se com a integridade da religião e a
integridade humana na sociedade.

Ao completar esta unidade / lição, tu serás capaz de:

 Conhecer o programa da democracia cristã;


 Diferenciar a primeira democracia cristã da segunda
democracia cristã;
 Explicar a despolitização da democracia cristã;
Objectivos  Descrever a democracia de inspiração cristã

20.1.Programa político da democracia cristã


No âmbito da democracia cristã, evidenciou-se duas democracias, tendo a primeira democracia
compreendido no seu programa a luta pela liberdade religiosa e pela liberdade de ensino, ou
noutros casos a luta contra o protestantismo.

Os ataques dos movimentos reformadores e as novas condições da vida política faziam


insuficientes as formas tradicionais de defesa dos interesses e da liberdade da Igreja.

A encíclica "Rerum Novarum" do Papá Leão XIII (1891), que pretendia constituir uma resposta
cristã para a questão social, fez com que se concretizasse a adesão a democracia e ao liberalismo
político, nascendo assim a segunda democracia cristã.
Na democracia cristã afirma-se que o verdadeiro regime democrático é o do governo do povo
organizado, no plano político este exige:

 Representação nacional e proporcional dos interesses profissionais;


 A descentralização com liberdade das comuns na gestão do orçamento, na
administração da escola, dos serviços de beneficência, dos hospícios e hospitais
e da assistência medica;
 A autonomia das províncias da unidade governamental;
 Representação económica: regional de agricultura, de comércio, do trabalho e
das profissões liberais;
 A organização profissional: sindicatos profissionais em todos os sectores do
trabalho, grande indústria, oficiam, agricultura, etc. Personalidade civil
completa: direito de posse imobiliária para os sindicatos. Federação local,
regional e nacional dos sindicatos.

 Os sindicatos têm por objectivo todas as questões profissionais, e em especial:

 A fixação do concreto de trabalho e a determinação de todas as condições do


contrato que digam respeito ao capital e ao trabalho (taxa salário, duração e
condições do trabalho, admissão e despedimento dos operários, aprendizagem e
instrução profissional, regulamentação da produção), criação de instituições
económicas e profissionais, caixas de reforma, de segurança e de credito mutuo
geridas pelos sindicatos, conselhos de fabricas e comissões permanentes de
arbitragem compostas por delegados dos patrões e dos operários.

 A legislação social completa a acção sindical: salário mínimo, descanso


domínio, horário máximo, supressão do trabalho nocturno, excepto nas fábricas
em elaboração contínua, proibição da presença de mães de família nas oficinas
industriais e limitações do trabalho das raparigas, seguro obrigatório, legislação
internacional do trabalho, desenvolvimento das cooperativas de consumo e de
produção, participação nos lucros, cessação da liberdade ilimitada do comércio.

No fundo, este programa realiza a conjugação das instituições da democracia constitucional com
organizações social que mais tarde caracterizara o populismo democrático.
20.2. A despolitização da democracia cristã
O leão XIII inquieta-se com o desenvolvimento que o espírito de classe começa a ter. já em 1897,
num discurso aos operários franceses, o papa tinha fixado como base para a sua aprovação, não
só a justificação de facto de epíteto cristã aposto a democracia, mas também o reconhecimento,
como justa e necessária da diversidade de classes e de situação.

Entretanto o emprego de terra “a democracia” para designar o sistema de organização política


excede as intenções do papa. Depois do catolicismo se desligar das formas monárquicas e das
concepções autoritárias, o papa, está fora da intenção do papa levá-lo a contrair novas alianças não
menos contingentes. Daí a pouco, convida os católicos a só falar da democracia cristã, para
designar obras especificamente sociais que exerçam uma acção cristã de beneficência junto do
povo. Assim a encíclica de Communi (18 de Janeiro de 1901) vai retirar a excepção política à
noção de democracia cristã, por um espaço de mais de 40 anos.

A própria expressão cai em desuso, é substituída por acção popular (subtendida como cristã), que
serve de insígnia ao centro de estudo e propaganda. Mas há quem lhe prefira a designação
catolicismo social que passa a ter aplicação mais corrente.

A expressão perde o significado revolucionário para abarcar, num vasto conjunto politico, uma
pequena fracção da direita anárquica, distinta da acção francesa,

Neste contexto o Movimento Social Cristão ou Movimento Cristão Social, teve o seu início em
meados do Século XIX, nas obras de vários doutrinários cristãos (ex: Henri de Saint Simon,
Lamennais, Albert de Mun, Frederick Denison Maurice, Charles Kingsley, Thomas Hughes,
Frederick James Furnivall, Adin Ballou e Francis Bellamy).

Estes escritores propunham um socialismo novo, baseado nos ideais do cristianismo, oposto à luta
de classes e ao ateísmo, mas preocupado com as reivindicações das classes pobres e trabalhadoras,
propondo um governo mais justo e uma sociedade mais equilibrada. Este novo socialismo,
afastado do materialismo marxista, defende as organizações sindicais, as lutas dos trabalhadores
em prol de melhores condições de trabalho e de vida e a justiça social.

20.3. Democracia de inspiração cristã


O grupo, Lacordaire Ozanam, que se dá o nome de primeira democracia cristã, expressão esta que,
alias tinha sido usada pela primeira vez logo em 1791 pelo bispo de Lyon, mas que foi consagrada
e oficialmente lançada por Ozanam.

O que caracterizava as ideais deste grupo: primeiro a não exigência da separação entre a igreja e o
estado, pelo contrário preconizavam o entendimento cordial entre o poder civil e o poder
espiritual, para a manutenção pacifica d regime do contracto; segundo a expressão sincera da
democracia e do liberalismo político; terceiro uma grande prioridade a situação dos pobres e a
melhoria do seu bem-estar e das suas melhores condições de vida.

É significativa a expressão publicada na ere nouvelle toda gente vê que a França duas forças o
povo de Jesus Cristo, se elas se dividirem estamos perdidos: se se entendem estamos salvos. Estas
forças podem entender-se se a igreja respeitar as vontades gerais da nação e se nação respeitar as
leis tradicionais da igreja, se a igreja trabalhar para o bem da nação e se a nação consentir o bem
da igreja.

No entanto a segunda democracia cristã vai albergar numerosos católicos sociais, intelectuais e
sindicalistas que até então não se haviam empenhado na vida política, mas que lamentava os
limites fatais de uma acção puramente social.

A democracia cristã, procurou adoptar o popular, pois tinha a vantagem de ligar a construção
societária da democracia constitucional à noção comunitária de um povo organizado.

Como qualquer democracia autêntica, o populismo reconhece o primado da pessoa humana, a


respeitar as suas escolhas através das numerosas encíclicas e pronunciamentos dos Papas, a
Doutrina Social da Igreja aborda vários temas fundamentais, como a pessoa humana, sua
dignidade, seus direitos e suas liberdades; a família, sua vocação e seus direitos; inserção e
participação responsável de cada homem na vida social";

O personalismo democrático afirma progressivamente a sua originalidade, transformando-se em


individualismo. O individualismo do estado liberal dirige-se a uma população encarada como um
meio social, o corpo social resulta da agregação dos indivíduos por consentimento unânime. A
base do estado popular é muito pelo contrário, a pessoa viva no seio de um povo, unidade pré-
formada, nação natural composta por famílias, associações, profissões, comunidades espirituais e
intelectuais.

Não deve o estado interferir no corpo social e na sociedade civil além do necessário. Por outro
lado deve o estado exercer actividade supletiva quando o corpo social, por si, não consegue ou não
tem meios de promover determinada actividade, como também deve o estado intervir para evitar
situações de desequilíbrio e de injustiça social.

Os Sindicatos devem ser instrumentos de solidariedade entre os trabalhadores e são um factor


construtivo da ordem social. A acção sindical deve ser voltada para o bem comum. Não se admite
o ódio de classes e luta para a eliminação de outrem. Trabalho e Capital são indispensáveis para o
processo de produção. A doutrina social não pensa que os sindicatos sejam somente o reflexo de
uma estrutura de classe da sociedade, como não pensa que eles sejam o expoente de uma luta de
classe, que inevitavelmente governe a vida social.

Exigência inseparável da dignidade da pessoa humana, sobretudo em matéria moral e religiosa.


Este direito deve ser reconhecido civilmente e protegido nos limites do bem comum e da ordem
pública. O exercício da liberdade não implica o direito de dizer e fazer tudo. É falso pretender que
o homem, sujeito da liberdade, se baste a si mesmo tendo por fim a satisfação de seu próprio
interesse no gozo dos bens terrenos.

Contudo, segunda democracia aceita a democracia no sentido escolástico, a qual constitui um tipo
de governo político classicamente reconhecido como legítimo, um regime misto é segundo Tomás
de Aquino o melhor regime político, que as condições históricas actuais reclamam.

Sumário
A primeira democracia cristã surge com o grupo Lacordaire Ozanam, que reivindicavam a não
exigência da separação entre a igreja e o estado, pelo contrário preconizavam o entendimento
cordial entre o poder civil e o poder espiritual, para a manutenção pacífica d regime do contracto;
enquanto a segunda democracia cristã esta adquiriu um carácter político preconizando mais o
aspecto da sociedade, apelando o papel do estado no apoio ao indivíduo, o sindicato como o bem
para melhorar a comunidade laboral.

Exercício
1. Explique o processo de transição da democracia cristã, no que diz respeito a
primeira e a segunda democracia cristã?
2. Explique as razões da despolitizar a democracia cristã
3. Qual é o papel da democracia de inspiração cristã na arena social e politica?

4. Faça análise da religião, olhando para a sociedade onde vives no tocante aos
aspectos ou contributo da moral.

Resolva os exercícios indicados.

Auto-avaliação Faça uma breve síntese da unidade em estudo.


Referências Bibliográficas
1. AMARAL. Diogo Freitas, História das ideias políticas, vol I, Porto: editora
Livrara Almedina, 2001.

2. AMARAL. Diogo Freitas, História das ideias políticas, vol II, Porto: editora
Livrara Almeia:, 1997.

3. BENOT, Yves. Ideologia das Independências Africanas. Vol. II, Lisboa: Sá de


Corta, 1981.

4. FREITAS, Gustavo. Vocabulário de História, 1ª edição, s/d;

5. CARPINTIER. Jean e LEBRUN. François; História da Europa, 3ª ediçao,


Lisboa: editora Estampa, 2002.

6. KI-ZERBO, Joseph. História da África Negra Vol II. 3ª ed. Publicações Europa
- América, 1972.

7. MATTOSO, José (Dir) Historia de Portugal. O Estado Novo. Editorial


Estampa. Lisboa. 1994

8. PRELOT, M.; Lescuyer G. História das Ideias Políticas. Vol.II. Lisboa:


Editorial Presença, 2001

9. READER, John. África Biografia de um Continente. Mira Sintra – Europa-


América, 1997.

10. RECAMA, Dionísio Calisto. História de Moçambique, África e Universal.


Maputo: Faculdade de direito - UEM, 2006.

11. REZENDE, António Paulo e DIDIER, Maria Thereza. Rumo da História Geral
e do Brasil. Actual Editora. Lisboa. 2001

Você também pode gostar