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15/03/2020 Morfina | Artigo | Drauzio Varella - Drauzio Varella

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DRAUZIO

Mor na | Artigo

Drauzio Varella
Publicado em: 27 de abril de 2011
Revisado em: 13 de fevereiro de 2020

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Quando se trata de dores intensas, só a mor na consegue fazê-las desaparecer.


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Dor fraca qualquer analgésico espanta. Dores de intensidade intermediária,
Gemei neste vale de lágrimas |
daquelas que melhoram com anti-in amatórios, impõem limitações, tiram a Artigo
alegria, mas permitem que a vida siga em frente. Não é dessas dores que trato
neste artigo, vou falar da dor forte, a mais trágica sensação transmitida pelo A Medicina existe para aliviar o
corpo. sofrimento humano. E, para isso,
Pesquisar precisamos melhorar a forma como 
As dores fortes podem vir em cólica ou como pontadas que não passam. A lidamos com a dor. Leia mais no
cólica ataca no abdômen, retorce, afrouxa e aperta de novo uma porção de artigo do dr. Drauzio.
vezes. Quando é muito forte, dá vontade de rolar no chão; a pessoa sente que
vai se rasgar por dentro. Quem já teve cólica renal ou de vesícula sabe o que é
isso.

Veja também: Leia uma entrevista sobre a história da anestesia Dores crônicas | Artigo
A pontada que não passa é mais insidiosa: começa, aperta até atingir um platô Cerca de um terço da população
e ca. Parece que enterraram uma faca na carne da gente. Depois de algumas apresentará dores crônicas em algum
horas com ela, a vida se transforma num vale de lágrimas. Às vezes, é pior do momento da vida. Leia artigo do dr.
Drauzio sobre o assunto.
https://drauziovarella.uol.com.br/drauzio/artigos/morfina-artigo/ 1/4
15/03/2020 Morfina | Artigo | Drauzio Varella - Drauzio Varella
Drauzio sobre o assunto.
que a morte.

Como cancerologista, convivo com essas dores intensas, persistentes, há 30 A genética da dor | Artigo
anos. Nesse tempo, aprendi que elas só desaparecem com mor na.
Estudos das chamadas dores em
Os demais analgésicos reduzem a intensidade, mas di cilmente acabam com membros fantasmas apontam para a
dores muito fortes. A pessoa ca aliviada com eles, é lógico: doía 100, tomou o compreensão sobre "genes da dor".
remédio, agora dói 30! Melhorou, mas a dor não foi embora; cou lá, no fundo, Entenda no artigo do dr. Drauzio.
como um alicate frouxo, pronto para apertar assim que diminuir o efeito
analgésico. A mor na é a única droga que reduz esse tipo de dor a zero.

Tanta tecnologia na medicina e ainda não inventaram analgésico melhor. A


mor na foi obtida a partir do ópio há 200 anos, na Alemanha. O ópio é retirado
do leite da papoula e tem sido usado como remédio há mais de 2.000 anos. Os
médicos do Império Romano já o receitavam. Na Idade Média, fez parte de
elixires e tônicos usados como panaceia para muitas doenças. Alguns deles,
como o elixir paregórico, resistiram até recentemente nas farmácias
brasileiras.

Hoje, o tratamento com mor na geralmente se restringe a dois grupos de


doentes: aqueles que precisam da droga por um período curto, no hospital,
para enfrentar dor de cirurgia, osso quebrado ou ferimento; e os que fazem uso
crônico dela, como as pessoas queimadas e os portadores de câncer.


As faculdades de medicina precisam
ensinar aos estudantes que, ao lado da
cura, aliviar a dor de quem sofre é a


função mais nobre do médico.
No hospital, é fácil receitar mor na. Para o doente que está em casa,
entretanto, a obtenção da droga é um drama para a família. Ou para ele mesmo
se não tiver quem o ajude.

O médico é obrigado a fazer a receita num formulário amarelo, numerado. Para


obtê-lo precisa se cadastrar numa repartição pública no centro da cidade,
pessoalmente, de preferência. De posse da prescrição, começa a via sacra dos
familiares atrás de uma farmácia que venda mor na. Mesmo nos grandes
centros urbanos é muito difícil encontrá-la; nos bairros pobres e nas pequenas
cidades, então, impossível.

Isso acontece porque as farmácias que vendem mor na obedecem a uma


legislação que impõe scalização rígida. De fato, esses estabelecimentos são os
mais scalizados. Se você fosse dono de farmácia, ia preferir vender mor na,
que custa barato, e trazer o scal para dentro da sua casa ou os medicamentos
que a indústria põe à venda a preços pirotécnicos sem qualquer scalização?

As di culdades nessa área são de tal ordem, que o Sindicato dos Médicos do
Rio Grande do Sul entrou com uma ação na Justiça contra a Vigilância
Sanitária por cercear o exercício da Medicina.

Embora seja a pior, a burocracia não é a única barreira para impedir que a
mor na chegue às mãos dos que precisam dela. Tradicionalmente, a ênfase do
ensino nas faculdades é colocada na cura das doenças, e não no alívio da dor.
Como consequência, a maioria dos médicos conhece mal a farmacologia da
mor na e se esquiva de prescrevê-la.

https://drauziovarella.uol.com.br/drauzio/artigos/morfina-artigo/ 2/4

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