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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA ____ª VARA DA

SEÇÃO JUDICIÁRIA DO DISTRITO FEDERAL

O PARTIDO SOCIALISTA BRASILEIRO-DIRETÓRIO


REGIONAL DO DISTRITO FEDERAL – PSB-DF, inscrito no
CNPJ sob o nº 03.475.971/0001-86, com sede no SIG QD 01,
LOTE 985, SALA 224, Centro Empresarial Parque Brasília,
Brasília-DF, CEP: 70610-410, neste ato representado por seu
Presidente Regional, RODRIGO OLIVEIRA DE CASTRO DIAS,
brasileiro, solteiro, servidor público federal, inscrito no CPF sob o
nº 036.205.351-08; o PARTIDO DOS TRABALHADORES-
DIRETÓRIO REGIONAL DO DISTRITO FEDERAL – PT-
DF, inscrito no CNPJ sob o nº 01.633.890/0001-31, com sede no
SCS - QUADRA 01, BLOCO I, ED. CENTRAL, 6º ANDAR, ASA
SUL, CEP: 70.304-900, BRASÍLIA/DF neste ato representado por
seu Presidente, JACY AFONSO DE MELO, brasileiro, casado,
bancário, inscrito no CPF sob o nº 226.980.431-72; o PARTIDO
SOCIALISMO E LIBERDADE-DIRETÓRIO REGIONAL DO
DISTRITO FEDERAL – PSOL-DF ,inscrito no CNPJ sob o nº
08.678.505/0001-11, com sede no SCS, Quadra 2, bloco C, Nº 252,
5º andar, Ed. Jamel Cecílio, Brasília-DF, CEP: 70302905, neste ato
representado por seu Presidente em exercício, FÁBIO FELIX
SILVEIRA , brasileiro, solteiro, servidor público distrital, inscrito
no CPF sob o nº 010.806.391-79; o PARTIDO COMUNISTA DO
BRASIL- DIRETÓRIO REGIONAL DO DISTRITO
FEDERAL – PCdoB-DF, inscrito no CNPJ sob o nº
03.604.170/0001-73, com sede no SHN - Setor Hoteleiro Norte,
Quadra 02, Ed. Executive Office Tower, Bloco F, Sala 1226, Asa
Norte – Brasília/DF, CEP 70702-906 neste ato representado por seu

1
Presidente AUGUSTO CÉSAR MARTINS MADEIRA, brasileiro,
união estável, inscrito no CPF sob o nº 501.563.904-00,; a REDE
Sustentabilidade-DISTRITO FEDERAL, inscrita no CNPJ sob o
nº 25.044.303-0001-37, com sede no SDS-CONIC, Ed. Boulevard
Center, salas 107/109, Bloco A, Asa Sul, Brasília/DF, CEP 70.391-
900, neste ato representada por sua Presidente em exercício,
ADILA ROCHA LOPES, brasileira, solteira, publicitária, inscrita
no CPF sob o nº 928.246.331-15; o PARTIDO UNIDADE
POPULAR, inscrito no CNPJ sob o nº 26.235.522/0001-66, com
sede no SQN 316, BLOCO K, 330, Brasília-DF, CEP: 70.775-110
neste ato representado por seu Presidente em exercício,
LEONARDO PÉRICLES VIEIRA ROQUE, brasileiro, vive sob
união estável, auxiliar administrativo, residente e domiciliado na
Avenida Perimetral, 154 – Comunidade Eliana Silva – Vila Santa
Rita, Belo Horizonte/MG, inscrito sob o CPF 012.415.466-22
todos pessoas jurídicas de direito privado, devidamente registrados
no TSE, por seus procuradores que esta subscrevem, devidamente
habilitados na forma dos instrumentos de mandato em anexo, com
escritório no SIG QD 01, LOTE 985, SALA 224, Centro
Empresarial Parque Brasília, Brasília-DF, CEP: 70610-410 onde
receberão intimações, e endereço virtual no e-mail
luciodias@msn.com, vêm, respeitosamente, com fulcro nos artigos
1º e 5º da Lei no 7.347/85, à presença de Vossa Excelência, propor
a presente1

AÇÃO CIVIL PÚBLICA


com pedido liminar

em desfavor do Sr. JAIR MESSIAS BOLSONARO, brasileiro,


casado, capitão reformado, no exercício do cargo de Presidente
da República, com endereço no Palácio da Alvorada, Setor Palácio
Presidencial, Zona Cívico-Administrativa, Brasília/DF, CEP
70150-903; UNIÃO FEDERAL, pessoa jurídica de direito público,
representada pela Advocacia-Geral da União, pelos fatos e
fundamentos a seguir expostos:

1
STF/AO 859 QO / AP - Julgamento em 11/10/2001: A competência para julgar ação popular contra ato
de qualquer autoridade, até mesmo do Presidente da República, é, via de regra, do juízo competente de
primeiro grau

2
I – DOS FATOS
01. O Sr. JAIR MESSIAS BOLSONARO, na qualidade de Presidente da
República, visitou, no dia 29/3/2020, domingo pela manhã, o comércio em duas
cidades satélites de Brasília, Taguatinga e Ceilândia, ocasião em que voltou a
defender que um número maior de pessoas volte a trabalhar em meio à pandemia
do coronavírus2, o que reiterou em vídeos posteriormente publicados sobre a
visita.

02. Importante registrar que as duas postagens, realizadas no perfil oficial do


atual Chefe do Poder Executivo do país, no Twitter que divulgaram estes
atos foram excluídas pela própria rede social, uma vez que o incentivo do
descumprimento da recomendação apresentada pela Organização Mundial de
Saúde (OMS) de isolamento neste momento de risco de propagação do
coronavírus (COVID-19) violou a política de uso, segundo diversas notícias
divulgadas na internet3.

03. Este comportamento e pronunciamentos contrariam diametralmente


orientações do próprio Ministério da Saúde de seu governo e da Organização
Mundial de Saúde – OMS para o combate eficaz à pandemia do coronavírus
Covid-19, que assola todo o mundo e que já se instalou e grassa fortemente em
todos os Estados brasileiros, como é notório, com isto incentivando atitudes e
práticas contrárias àquelas orientações e ao conhecimento científico, e colocando
em risco a vida de centenas de milhares de pessoas.

04. Com efeito, a equipe de especialistas epidemiológicos do respeitado Imperial


College of London apresentou uma previsão de como se desenrolaria a
disseminação do COVID-19 em diferentes cenários de contenção para o Reino
Unido e para os Estados Unidos. Para elaborar essa previsão, utilizaram dados de
contágio, estatísticas de hospitalização e óbitos vistos em outros países,
estudaram como o vírus se dissemina em diferentes ambientes etc.

05. Como um breve resumo: se circular livremente, o vírus tem a capacidade de


infectar cerca de 80% da população geral em um período muito curto. Das
pessoas infectadas, cerca de 20% precisam de hospitalização, 5% dos casos são
críticos e precisam de UTI e suporte respiratório, e cerca de metade dos casos
críticos vêm a óbito.

06. No entanto, o súbito aumento de casos ultrapassa a capacidade do sistema de


saúde, gerando colapso, e disso resulta um número muito maior de mortes —
2
https://valorinveste.globo.com/mercados/brasil-e-politica/noticia/2020/03/29/bolsonaro-visita-
comercio-e-defende-que-pessoas-voltem-ao-trabalho.ghtml

3
https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/03/29/twitter-apaga-publicacoes-de-jair-bolsonaro-por-
violarem-regras-da-rede.ghtml ; https://oglobo.globo.com/brasil/twitter-exclui-dois-posts-do-perfil-de-
bolsonaro-por-violar-as-regras-da-rede-social-2-24337300

3
tanto de vítimas do Covid-19, assim como de outras causas — simplesmente
porque não haveria capacidade hospitalar para tratar todas as pessoas que
precisam.

07. Segundo a previsão, se não houver restrições nos contatos, no mundo


inteiro seriam 7 bilhões de pessoas infectadas com covid-19 e 40 milhões de
mortes neste ano.

08. Os números previstos por esses estudos fizeram com que governos
desistissem das posturas mais relaxadas e tomassem as medidas mais restritivas
para evitar o colapso do sistema de saúde e um número muito maior de mortes.

09. No dia 26/03/2020, o Imperial College of London soltou números previstos


para os desfechos da pandemia em todos os países, nos cenários sem intervenção,
com mitigação, e com supressão.4 Mitigação envolve proteger os idosos (reduzir
60% dos contatos) e restringir apenas 40% dos contatos do restante da população.
Supressão envolve testar e isolar os casos positivos, e estabelecer distanciamento
social para toda a população, e suas previsões neste caso envolvem dois
diferentes momentos de sua aplicação: Supressão precoce – implementada em
uma fase em que há 0,2 mortes por 100.000 habitantes por semana e mantida, e
Supressão tardia – implementada quando já há 1,6 mortes por 100.000
habitantes por semana e mantida.5

4
https://www.imperial.ac.uk/mrc-global-infectious-disease-analysis/news--wuhan-coronavirus/?
fbclid=IwAR0GeexFNu6ezOVclPBVW5x3Z3yOn5N1X6siDO5P7ezUOm_UwOUu31RBoAY:
“We considered the likely scale of four potential scenarios:
A) An unmitigated epidemic – a scenario in which no action is taken.
B) Mitigation including population-level social distancing – we assessed the maximum reduction in the
final scale of the epidemic that can be achieved through a uniform reduction in the rate at which
individuals contact one another, short of complete suppression.
C) Mitigation including enhanced social distancing of the elderly – as (B) but with individuals aged 70
years old and above reducing their social contact rates by 60%.
26 March 2020 Imperial College COVID-19 Response Team
DOI: Page 7 of 19
D) Suppression –we explore different epidemiological triggers (deaths per 100,000 population) for the
implementation of wide-scale intensive social distancing (modelled as a 75% reduction in interpersonal
contact rates) with the aim to rapidly suppress transmission and minimise near-term cases and deaths.
For these scenarios we do not produce final size estimates but illustrate their impact in representative
settings.”

5
“We estimate that in the absence of interventions, COVID-19 would have resulted in 7.0 billion
infections and 40 million deaths globally this year. Mitigation strategies focussing on shielding the
elderly (60% reduction in social contacts) and slowing but not interrupting transmission (40% reduction
in social contacts for wider population) could reduce this burden by half, saving 20 million lives, but we
predict that even in this scenario, health systems in all countries will be quickly overwhelmed. This effect
is likely to be most severe in lower income settings where capacity is lowest: our mitigated scenarios lead
to peak demand for critical care beds in a typical low-income setting outstripping supply by a factor of
25, in contrast to a typical high-income setting where this factor is 7. As a result, we anticipate that the
true burden in low income settings pursuing mitigation strategies could be substantially higher than
reflected in these estimates.

4
10. No Brasil os cenários previstos são os seguintes6:

Cenário 1- Sem medidas de mitigação:


- População total: 212.559.409
- População infectada: 187.799.806
- Mortes: 1.152.283
- Indivíduos necessitando hospitalização: 6.206.514
- Indivíduos necessitando UTI: 1.527.536

Cenário 2 - Com distanciamento social de toda a população:


- População infectada: 122.025.818
- Mortes: 627.047
- Indivíduos necessitando hospitalização: 3.496.359
- Indivíduos necessitando UTI: 831.381

Cenário 3 - Com distanciamento social E REFORÇO do distanciamento dos


idosos:
- População infectada: 120.836.850
- Mortes: 529.779
- Indivíduos necessitando hospitalização: 3.222.096
- Indivíduos necessitando UTI: 702.497

Cenário 4 – Com supressão tardia


- População infectada: 49.599.016
- Mortes: 206.087
- Indivíduos necessitando hospitalização: 1.182.457
- Indivíduos necessitando UTI: 460.361
- Demanda por hospitalização no pico da pandemia: 460.361
- Demanda por leitos de UTI no pico da pandemia: 97.044

Cenário 5 – Com supressão precoce


- População infectada: 11.457.197
- Mortes: 44.212
- Indivíduos necessitando hospitalização: 250.182
- Indivíduos necessitando UTI: 57.423
- Demanda por hospitalização no pico da pandemia: 72.398
- Demanda por leitos de UTI no pico da pandemia: 15.432

Our analysis therefore suggests that healthcare demand can only be kept within manageable levels
through the rapid adoption of public health measures (including testing and isolation of cases and wider
social distancing measures) to suppress transmission, similar to those being adopted in many countries
at the current time. If a suppression strategy is implemented early (at 0.2 deaths per 100,000 population
per week) and sustained, then 38.7 million lives could be saved whilst if it is initiated when death
numbers are higher (1.6 deaths per 100,000 population per week) then 30.7 million lives could be saved.
Delays in implementing strategies to suppress transmission will lead to worse outcomes and fewer lives
saved.”

6
https://www.facebook.com/AssociacaoBrasileiraDeAgroecologia/posts/2890860197646005

5
11. Algumas observações adicionais se fazem necessárias:

12. Os próprios autores do estudo comentam que modelaram essas curvas com
base nos padrões de dispersão dos países ricos e que nos países pobres os
resultados da pandemia podem ser piores do que o previsto. Esses números
previstos não levam em conta a existência de favelas, comunidades sem
abastecimento de água e/ou saneamento, entre outros complicadores que temos
no Brasil.

13. É preciso comentar que os números reais da pandemia no Brasil, seus casos e
óbitos, estarão amplamente subnotificados devido à falta de testes e demora nos
resultados. As estatísticas oficiais publicadas pelo Ministério da Saúde mostrarão
apenas a ponta do iceberg.

14. Mesmo nos melhores cenários, tornando mais lenta a transmissão e


aumentando os recursos do sistema de saúde, deve faltar UTI e respirador para
parte dos doentes.

15. Em resumo, a diferença entre ficarmos todos em casa (supressão) ou adotar


uma estratégia mais branda de mitigação e proteção apenas dos grupos de risco
pode ser da ordem de MEIO MILHÃO de vidas!7

16. Os diversos relatórios estão disponíveis no site do Imperial College of


London, já citados acima, no link que disponibilizamos na nota de rodapé.

17. O trabalho “The Global Impact of COVID-19 and Strategies for Mitigation
and Suppression” também se encontra disponível na Internet.8

18. As tabelas com os números oferecidos constam no apêndice deste trabalho. 9

19. A questão central, portanto, é a tomada de medidas efetivas para reduzir o


ritmo de transmissão do vírus entre a população, para garantir que a necessidade
de atendimento hospitalar dos casos mais críticos se mantenha dentro da
capacidade do sistema de saúde do país, salvando, em decorrência, centenas de
milhares de vidas. Graficamente, assim se expressaria este “achatamento da
curva de transmissão no tempo”10:

7
https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/03/sem-restricao-de-contagio-mortes-por-
coronavirus-podem-chegar-a-115-milhao-no-brasil.shtml

8
https://www.imperial.ac.uk/media/imperial-college/medicine/sph/ide/gida-fellowships/Imperial-
College-COVID19-Global-Impact-26-03-2020.pdf

9
https://www.imperial.ac.uk/media/imperial-college/medicine/sph/ide/gida-fellowships/Imperial-
College-COVID19-Global-unmitigated-mitigated-suppression-scenarios.xlsx

6
20. Anote-se, por oportuno, que não foi esta visita ao comércio de Taguatinga e
Ceilândia a primeira infração cometida pelo Presidente Jair Bolsonaro contra as
medidas preconizadas pela OMS e pelo Ministério da Saúde de seu próprio
governo:

 No dia 15/3/2020, após voltar de uma viagem a Miami, nos Estados


Unidos da América – EUA, onde se encontrara com o Presidente Trump,
viagem em que pelo menos 23 membros da comitiva que o acompanhara
voltaram infectados pelo Covid-19, e ele próprio estava sob suspeita de ter
contraído a doença, o Presidente Jair Bolsonaro quebrou as
recomendações médicas de sua própria equipe, que indicavam que ele
deveria ficar em isolamento para não se tornar um vetor de transmissão
(mesmo assintomático) e desceu a rampa do Palácio do Planalto para
confraternizar com um grupo de manifestantes, seus apoiadores,
cumprimentando-os com apertos de mãos e palavras entusiásticas de
incentivo.

 No dia 25/3/2020, o Presidente criticou as medidas de isolamento e


quarentena tomadas por governos estaduais no combate ao coronavírus,
em discurso transmitido em rede nacional de televisão, mais uma vez
contrariando as recomendações da OMS e do Ministério da Fazenda, e
defendendo abertamente a desobediência popular a elas, alegadamente
“para proteger a economia”.

10
A linha mediana tracejada representa, neste caso, a capacidade de atendimento do sistema de Saúde
nacional. A curva em vermelho representa a distribuição temporal dos casos sem as medidas protetivas,
e a curva em azul a distribuição temporal dos casos com as medidas protetivas, no tempo decorrido
desde o primeiro caso de contaminação pelo Covid-19 no país.

7
21. Ao contrariar sistematicamente o acervo de conhecimentos científicos dos
epidemiologistas, que embasaram as recomendações da OMS, e as
recomendações do próprio Ministério da Saúde de seu governo, o Presidente
JAIR MESSIAS BOLSONARO coloca em risco, portanto, a vida e a
integridade da saúde de centenas de milhares de brasileiros, podendo ser
responsabilizado pela morte de meio milhão de pessoas A MAIS, que seria
possível evitar se tais recomendações fossem seguidas estritamente.

II – DO DIREITO

A) DA RESPONSABILIDADE DO PRESIDENTE JAIR BOLSONARO

Ao incentivar as aglomerações, por meio de atos públicos, como vem agindo, o


Presidente JAIR BOLSONARO não pode alegar desconhecimento, ou
ignorância, pois tais fatos e propostas foram discutidas longamente no Executivo
e com ele e seus auxiliares, sob sua direção.

Ao fazê-lo, e provocar tais mortes, pode ser responsabilizado por comportamento


doloso, de quem sabia as consequências de seus atos e os desejava ou ao menos
não se importava com elas, ou culposo, de quem, mesmo não desejando
ativamente, agiu com imperícia, negligência e imprudência excepcionais, ainda
mais em se tratando do risco de provocar morticínio em massa.

O que não se pode negar é a sua responsabilidade!

Os reiterados descumprimentos das orientações da OMS, do Ministério da Saúde


(Portaria 454/2020, Portaria 356/202011) e até mesmo dos Decretos do Governo
do Distrito Federal (Decreto nº 40.53912, Decreto nº 40.529, Decreto 40.528 e
Decreto nº 40.520), com a realização de atos extraoficiais (atividade sem
natureza essencial para o exercício do cargo eletivo) que geram uma chance
real de propagação do novo coronavírus (COVID 19) com as aglomerações de
pessoas. É fato público e notório que o ora requerido é idoso, com 65 anos de
idade13, e integra o grupo de risco limitado pelo Ministério da Saúde na Portaria
454, senão vejamos:

11
http://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-356-de-11-de-marco-de-2020-247538346
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/portaria/prt454-20-ms.htm

12
https://agenciabrasilia.df.gov.br/wp-conteudo/uploads/2020/03/Decreto-40539_19.03.pdf
http://www.buriti.df.gov.br/ftp/diariooficial/2020/03_Mar%C3%A7o/DODF%20036%2023-03-
2020%20EDICAO%20EXTRA/DODF%20036%2023-03-2020%20EDICAO%20EXTRA.pdf

13
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jair_Bolsonaro

8
Art. 4º As pessoas com mais de 60 (sessenta) anos de idade devem
observar o distanciamento social, restringindo seus deslocamentos para
realização de ATIVIDADES ESTRITAMENTE NECESSÁRIAS,
evitando transporte de utilização coletiva, viagens e eventos esportivos,
artísticos, culturais, científicos, comerciais e religiosos e outros com
concentração próxima de pessoas.

Ressalte-se que a Justiça Federal, da seção judiciária do RJ, concedeu neste


sábado, 28, liminar para que a União se abstenha de veicular, por qualquer
veículo de comunicação, físico ou digital, peças publicitárias da campanha “O
Brasil não pode parar”, nos autos do Processo: 5019484-43.2020.4.02.510114.

O presente caso não tem conexão ou continência com o referido processo, uma
vez que a causa de pedir e os pedidos apresentados nesta peça vestibular não
possuem qualquer similitude com os propostos perante a Seção Judiciária do Rio
de Janeiro.

De qualquer forma, a referida decisão liminar consigna que a “dita campanha


não há menção à possibilidade de que o mero distanciamento social possa levar
a um maior número de casos da Covid-19, quando comparado à medida de
isolamento, e que a adoção da medida mais branda teria como consequência
um provável colapso dos sistemas público e particular de saúde. A repercussão
que tal campanha alcançaria se promovida amplamente pela União, sem a
devida informação sobre os riscos e potenciais consequências para a saúde
individual e coletiva, poderia trazer danos irreparáveis à população”.

Com efeito, a razão de decidir da magistrada considerou a repercussão lesiva à


saúde pública de campanha publicitária do Governo Federal que induzia os
cidadãos brasileiros a desrespeitarem às recomendações de isolamento social.

No presente caso, há maior gravidade, pois o próprio Presidente da República


descumpre as medidas da OMS e do Ministério da Saúde, gerando um dano
iminente à saúde e à vida dos brasileiros.

Ademais, os atos reiterados pelo Presidente JAIR BOLSONARO poderiam se


enquadrar, também, em crime contra a saúde pública, em especial naquele
tipificado no art. 268 do Código Penal pátrio:

Infração de medida sanitária preventiva


Art. 268 - Infringir determinação do poder público, destinada a
impedir introdução ou propagação de doença contagiosa:
Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se o agente é
funcionário da saúde pública ou exerce a profissão de médico,
farmacêutico, dentista ou enfermeiro.
14
https://www.migalhas.com.br/arquivos/2020/3/96148FB70E4CCF_decisaobolsonaro.pdf

9
Para os efeitos desta ação, interessa-nos mais diretamente a necessidade de
resguardar o direito coletivo, difuso, de todo o povo brasileiro à saúde e à
vida, estabelecidos no art. 106 e no art. 5º, caput, da Constituição Federal:

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido


mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do
risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e
igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

Para salvaguardar estes direitos, torna-se imprescindível impedir que o Presidente


Jair Bolsonaro continue a realizar atos extraoficiais e oficiais com aglomerações
de pessoas, tendo em vista que expõe os cidadãos brasileiros ao perigo de
contaminação generalizada do novo coronavírus.

Mais do que isso, esse Juízo deve vedar a desobediência às recomendações da


OMS e do Ministério da Saúde, bem como impedir a divulgação de teses
esdrúxulas como a de “isolamento vertical”, o isolamento parcial, apenas dos
idosos e dos cidadãos em situação de risco de letalidade se expostos ao
coronavírus, tese sem nenhuma fundamentação científica e que, se adotada
levaria a um índice de mortalidade ampliado em cerca de 500 mil vítimas no
Brasil.

E não se diga que o ora requerido age a coberto de seu direito à Liberdade de
Expressão, que constitui um princípio fundador do Estado Democrático de
Direito, que todos defendemos, embora o Presidente só pareça se reportar a tal
direito quando se trata dele próprio e de suas próprias manifestações.

Com efeito, é consabido na doutrina e na jurisprudência que não há direitos


absolutos, mesmo os fundamentais devem ser comparados e sopesados entre si
nas situações concretas.

Aqui, o princípio fundamental que deve ser levado em conta e preponderar é o


Direito à Vida e à Saúde, os mais fundamentais de todos eles, mesmo porque,
em sua ausência, nenhum outro direito se sustenta. Mortos, não temos como
exercer qualquer outro direito.

10
Trata-se, repetimos e insistimos, de meio milhão de mortes que correm o risco de
serem adicionadas àquelas que já serão ceifadas inexoravelmente pela pandemia
de Covid-19 no Brasil, a julgar pelas previsões mais bem embasada pela ciência.

Caso esse Poder Judiciário não vede a contínua e habitual violação das normas da
OMS e do próprio Ministério da Saúde por parte do requerido, certamente haverá
um efeito cascata de incentivo ao descumprimento destas regras por todos
cidadãos, o que gerará evidente colapso da Saúde do país.

B) DO CABIMENTO DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA

A ação civil pública é o instrumento processual, previsto na Constituição Federal


brasileira e em normas infraconstitucionais, de que podem se valer o Ministério
Público e outras entidades legitimadas para a defesa de interesses difusos,
coletivos e individuais homogêneos.

É, portanto, o meio adequado para provocar o Poder Judiciário a preservar o


direito constitucional e legal de todos os brasileiros à saúde e a medidas
adequadas, por parte do Poder Público, que reduzam o risco de doenças e
desenlaces fatais dessas doenças, em especial em momentos de epidemias
generalizadas (mais ainda, de pandemias).

Do mesmo modo, a Ação Civil Pública é o veículo processual idôneo para


obrigar autoridades a respeitarem recomendações científicas sobre a melhor
prevenção da disseminação de doenças, a não sabotarem, culposa ou
dolosamente, a implementação dos métodos mais eficazes do controle da
propagação e contágio das doenças.

Isso porque o sistema processual da tutela coletiva, conjugando a Lei n. 7.347/85


e o Código de Processo Civil, permite ao Juiz fixar prazo para o cumprimento de
obrigação de (não) fazer, sob pena de multa, ou até determinar a execução de
medidas adequadas à obtenção de resultado prático equivalente (art. 11 da Lei n.
7.347/8515 c/c art. 814 do CPC16), bem como as astreintes que se façam
necessárias.

C) DA LEGITIMIDADE DOS PARTIDOS POLÍTICOS


15
“Art. 11. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz
determinará o cumprimento da prestação da atividade devida ou a cessação da atividade nociva, sob
pena de execução específica, ou de cominação de multa diária, se esta for suficiente ou compatível,
independentemente de requerimento do autor.”

16
“Art. 814. Na execução de obrigação de fazer ou de não fazer fundada em título extrajudicial, ao
despachar a inicial, o juiz fixará multa por período de atraso no cumprimento da obrigação e a data a
partir da qual será devida.
Parágrafo único. Se o valor da multa estiver previsto no título e for excessivo, o juiz poderá reduzi-lo.”

11
Reza o art. 5º, inciso V, da Lei 7.347/85, que rege a Ação Civil Pública:

Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação


cautelar: (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007).
(...)
V - a associação que, concomitantemente: (Incluído pela Lei nº
11.448, de 2007).
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei
civil; (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007).
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao
patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à
ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos
raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico. (Redação dada pela Lei nº
13.004, de 2014)

Com efeito, são os partidos espécie, das mais representativas, do gênero


associações. A natureza associativa dos partidos políticos salta mesmo aos olhos
mais destreinados. É preciso o uso de malabarismos lógicos em torno de
filigranas para contrariá-la.

Até porque o Supremo Tribunal Federal já fixou que deve ser reconhecida a
legitimidade ativa ad causam do partido político com representação no
Congresso Nacional para preservar os direitos e garantias fundamentais
assegurados pela Constituição Federal, uma vez que os partidos políticos não
podem ter seu campo de atuação "restrito à defesa de direitos políticos, e sim
de todos aqueles interesses difusos e coletivos que afetam a sociedade" (STF,
RE 196.184/AM, Rel. Ministra ELLEN GRACIE, PRIMEIRA TURMA, DJU de
18/02/2005).

No referido julgamento, a Ministra ELLEN GRACIE consignou que " está


reconhecido na Constituição o dever do partido político de zelar pelos interesses
coletivos, independente de estarem relacionados a seus filiados. (...)”

Nesse mesmo sentido, a jurisprudência do c. TJSP:

Ação Civil Pública Ambiental – Legitimidade – Partido Político –


Preliminar – Possuindo o partido político natureza associativa e
preenchendo os requisitos da Lei, ele tem legitimidade para figurar no
polo ativo das ações civis públicas. Preliminar rejeitada. Recurso
provido.” (TJ-SP – AG: 7891355900 SP, Relator: Lineu Peinado, Data de
julgamento: 09/10/2008, Câmara Especial de Meio Ambiente, p. em
17/10/2008).

12
Também nesse sentido, acórdão proferido pelo TJDFT em que reconheceu
a legitimidade ativa do PSB-DF para ajuizar ação civil pública, senão vejamos:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DEFESA. MEIO AMBIENTE. ATERRO DO


LIXÃO. INTERESSE SOCIAL. LEGITIMIDADE ATIVA. PARTIDO
POLÍTICO. DISPENSA. PROVA. PRÉ-CONSTITUIÇÃO.
Detém legitimidade ativa para propositura de ação civil pública o
partido político que comprovar que se encontra regularmente
constituído há mais de um ano, registrado no Tribunal Superior Eleitoral
e com representação no Congresso Nacional, além de incluir entre suas
finalidades institucionais a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à
ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico,
estético, histórico, turístico e paisagístico, conforme as exigências
contidas no art. 5º, I e II da Lei nº 7.347/85. No entanto, em havendo
manifesto interesse social, evidenciado pela dimensão ou característica
do dano ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido, poderá o juiz
afastar o requisito da pré-constituição (art. 5º, § 4º da mesma lei). Dessa
forma, discutindo a ação civil pública danos ambientais causados pelo
"aterro do lixão", matéria de relevante interesse social, dispensa-se, em
princípio, a apresentação imediata da documentação faltosa. Maioria.
(TJDFT, 20000110386309APC, Rel. Designado Des. ROMEU
GONZAGA NEIVA, Data do Julgamento 16/02/2004).

EMBARGOS INFRINGENTES - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - PARTIDO


POLÍTICO - LESÃO AO MEIO AMBIENTE - EXTINÇÃO DO
PROCESSO POR ILEGITIMIDADE ATIVA. CASSADA A SENTENÇA
EM GRAU DE APELO POR MAIORIA.
1.Os Partidos Políticos têm natureza associativa. Estão legitimados a
ajuizar ação civil pública desde que satisfaçam os requisitos do art. 5º da
Lei 7.343/85.
2. Recurso conhecido, provimento negado.
(TJDFT, 20000110386309EIC, 1ª Câmara Cível, Relator:
HERMENEGILDO GONÇALVES, Revisor: NÍVIO GONÇALVES,
Publicado no DJU SEÇÃO 3: 06/06/2006. Pág.: 206)

Ademais, a exclusão da legitimidade ativa dos partidos se insurgiria contra a


própria natureza da Ação Civil Pública, que existe precipuamente para a defesa
do meio-ambiente, do consumidor, de bens e direitos de valor artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico e de qualquer outro interesse difuso ou
coletivo, bem como contra as infrações da ordem econômica e urbanística, da
honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos e do patrimônio
público e social - todos estes temas e bens sociais para cuja defesa, exatamente,
se associam os cidadãos em partidos políticos, antes de em qualquer outro
agrupamento.

13
Partilham este entendimento alguns dos melhores processualistas e doutrinadores
brasileiros.

ADA PELLEGRINI GRINOVER, por exemplo, defende explicitamente que o


partido político

“(...) está legitimado a agir para a defesa de todo e qualquer


direito, seja ele de natureza eleitoral ou não. No primeiro caso, o
Partido estará defendendo seus próprios interesses institucionais,
para os quais se constituiu. Agirá, a nosso ver, investido de
legitimação ordinária. No segundo caso – quando, por exemplo,
atuar para a defesa do ambiente, do consumidor, do contribuinte
– será substituto processual, defendendo em nome próprio
interesses alheios. Mas nenhuma outra restrição deve sofrer
quanto aos interesses e direitos: além da tutela dos interesses
coletivos e individuais homogêneos, que se titularizam nas pessoas
filiadas ao partido, pode o partido buscar, pela via da segurança
coletiva, aquela inerente a interesses difusos, que transcendam aos
seus filiados.”17

No mesmo diapasão se pronuncia a jurista LUCIA DO VALLE FIGUEIREIDO:

“Tudo o que transcender ao individual, pois de reflexo para toda


coletividade, apresentar-se com caráter de liquidez e certeza e,
ainda, tiver em vista o estado democrático de direito e os
fundamentais traduzidos latu sensu, nas liberdades públicas,
poderá ser objeto de Mandado de Segurança Coletivo interposto
por Partido Político. Estão os partidos Políticos, nesta carta
constitucional, como garantes da cidadania, do Estado
Democrático de Direito, da separação de poderes, dos direitos
fundamentais, com competência para provocar a atuação do
Judiciário.”18

Comunga de tal entendimento JOSÉ CRETELLA JÚNIOR, que assevera que o


partido político “será o substituto processual, que comparecerá PERANTE O
Poder Judiciário, solicitando a cessação do ato arbitrário.”19

17
GRINOVER, Ada Pellegrini. Mandado de segurança coletiva: legitimação, objeto e coisa julgada.
Revista de processo, nº 58, São Paulo: Ed. RT, 1990, p. 78.

18
FIGUEIREIDO, Lucia do Valle. Partidos Políticos e Mandado de Segurança coletivo. Revista de Direito
Público, nº 95, São Paulo: Ed. RT, 1990, p. 40.
19
CRETELLA JR., José. Do Mandado de Segurança Coletivo, 2ª ed., Rio de Janeiro, Forense, 1991, p. 59
.

14
NELSON NERY JUNIOR também defende que o partido político atua para
proteção da legalidade objetiva, não restringindo sua atuação a seus filiados.20

CARLOS ARI SUNDFELD opina igualmente pela legitimação extensiva a toda


a coletividade e não apenas a matéria de direito eleitoral.21

CELSO AGRICOLA BARBI defende um alargamento ainda maior da


legitimação ativa dos partidos políticos, afirmando que não apenas a tutela de
direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos, afirmando que

“quando o pedido for de partido político, basta a simples


ilegalidade e a lesão de interesse daquele tipo, não sendo o caso de
estabelecer qualquer vínculo entre o interesse e os membros ou
filiados do partido.”22

III - DA MEDIDA CAUTELAR


Busca-se, em face da gravidade do risco de lesão ao direito constitucional
fundamental à vida e à saúde, um provimento jurisdicional que assegure initio
litis uma obrigação de não fazer, consistente em impedimento ao Presidente Jair
Bolsonaro de, por atos e pronunciamentos, sabotar a adoção de medidas
preventivas e profiláticas de combate à pandemia do coronavírus Covid-19 no
Brasil.

Resta evidente a verossimilhança das alegações, em face dos documentos


científicos trazidos aos autos, que demonstram a prejudicialidade de tais ações, o
risco que elas possibilitam, e a enormidade do número de pessoas em risco, a
exigir providências urgentes em defesa de sua saúde e vida.

Os fatos relatados estão a sedimentar, também, a existência de dano


irreparável, caso não sejam tomadas providências imediatas. O coronavírus
mata, e este dano é irremediável. Não se pode ressuscitar os que perderem a vida.
O coronavírus também deixa sequelas irremediáveis nos pulmões dos que forem
por ele afetados. O sistema de saúde brasileiro pode ser implodido pelo
gigantesco número de pessoas doentes, no pico da propagação doença, se a curva
da progressão de contágio não for diminuída, estendida temporalmente, se este
pico se der em período mais reduzido, com todos necessitando de atendimento ao
mesmo tempo.

20
NERY JR., Nelson. Mandado de segurança coletivo, Revista do Processo, nº 57, São Paulo, Ed. RT, p.
156.

21
SUNDFELD, Carlos Ari. Mandado de segurança coletivo na Constituição de 1988, Revista de Direito
Público, nº 89, São Paulo, Ed. RT, p. 41.

22
BARBI, Celso Agricola. Mandado de Segurança na Constituição de 1988, v. 16, Porto Alegre, Ajuris,
1989, p. 51.

15
Não só os infectados pelo coronavírus sofreriam se a curva da progressão for
demasiado aguda. Os leitos ocupados por estes pacientes fariam falta a quem
padece de outras doenças que exijam internação hospitalar, visto que as outras
doenças continuam a atuar como sempre. Aos mortos pelo coronavírus se
juntariam os mortos porque os hospitais estariam sendo demandados acima de
sua capacidade.

O periculum in mora é notório e reside no “fundado receio de dano irreparável ou


de difícil reparação” (art. 11 e 12, da Lei nº 7347/85), em decorrência da demora
na adoção de providências efetiva.

O Covid-19 se propaga de forma exponencial. Um dia de retardo pode dobrar o


número de casos, quadruplicá-lo no dia seguinte, multiplicá-lo por oito no
próximo dia, assim dobrando a cada dia até se tornar incontrolável em todos os
aspectos. O periculum in mora é evidente.

Assim, os Autores requerem a Vossa Excelência que conceda a medida liminar,


determinando ao requerido que:

a) se abstenha imediatamente de quaisquer atos e pronunciamentos


que contrariem as recomendações e diretrizes da OMS e do
Ministério da Saúde, tendentes a dificultar o isolamento social e
a quarentena que são requeridas para a eficácia no combate ao
coronavírus Covid-19, vedando a realização de atos (oficiais ou
extraoficiais) com a aglomeração de mais de 100 pessoas;

b) que, em caso de descumprimento dessa determinação judicial,


lhe seja imposto, a título de astreinte, uma multa diária de R$
50.000,00 (cinquenta mil reais), a serem cobrados de seus
vencimentos e rendimentos pessoais.

IV. DO PEDIDO FINAL


ISSO POSTO, vêm requerer:

a) seja a medida cautelar deferida imediatamente, em caráter


liminar, inaudita altera pars, tendo em vista a urgência
urgentíssima de tal providência, DETERMINANDO:

a.1) que o requerido se abstenha imediatamente de quaisquer


atos e pronunciamentos que contrariem as recomendações e
diretrizes da OMS e do Ministério da Saúde, tendentes a
dificultar o isolamento social e a quarentena que são requeridas
para a eficácia no combate ao coronavírus Covid-19, vedando a

16
realização de atos (oficiais ou extraoficiais) com a aglomeração
de mais de 100 pessoas;

a.2) que, em caso de descumprimento dessa determinação


judicial, lhe seja imposto, a título de astreinte, uma multa diária
de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), a serem cobrados de seus
vencimentos e rendimentos pessoais.

b) seja o requerido citado, para, querendo, contestar a presente


ação, no prazo legal;

c) seja intimado o Ministério Público Federal, para atuar na ação


como custos legis;

d) seja intimada a Advocacia Geral da União, para representar os


interesses da União no feito;

e) seja, ao final, declarada procedente a presente ação, para declarar


o impedimento do requerido de praticar qualquer ação ou
pronunciamento que possa contrariar as diretrizes da OMS e do
Ministério da Saúde no que tange ao combate ao coronavírus
Covid-19, constituindo-se em obrigação de não fazer, que,
descumprida, ensejaria a multa de R$ 50.000,00 (cinquenta mil
reais) diários.

Protestam e desde já requerem lhes seja permitido provar o que


alegam por todos os meios em direito permitidos, inclusive pelo
depoimento pessoal do Requerido e do Ministro da Saúde de seu
governo.

Outrossim, requerem sejam as publicações realizadas em nome dos


advogados infra-assinados.

Atribui-se à causa, para efeitos meramente fiscais, o valor de R$


1.000,00 (mil reais).

N. Termos,

Pede e Espera Deferimento.

Brasília, 30 de março de 2020,

17
LÚCIO FLÁVIO DE CASTRO DIAS RODRIGO DA SILVA PEREIRA
OAB/DF 13. 179 OAB/DF 29.627

CLAUDISMAR ZUPIROLI ALBERTO MOREIRA RODRIGUES


0AB/DF 12.250 OAB/DF12.652

MARIA ABADIA ALVES ANDREY VARGAS DO NASCIMENTO


OAB/DF 13.363 OAB/DF 16.315-E

MÁRCIO ANDRÉ ALVES DO PRADO


OAB/DF 19.266

18

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