De acordo com O Livro dos Espíritos, na questão 150, a alma apenas leva deste
mundo "Nada mais do que a lembrança e o desejo de ir para um mundo melhor. Essa
lembrança é cheia de doçura ou de amargura, segundo o emprego que fez da vida.
Quantos mais pura, mais compreende a futilidade do que deixa sobre a Terra."
Também em O Livro dos Espíritos, questão 155, temos: "(...) a alma se liberta
gradualmente e não escapa como um pássaro cativo que ganha subitamente a
liberdade. (...) o Espírito se liberta pouco a pouco de seus laços: os laços se desatam,
não se quebram."
Em nota para a questão acima, Kardec explica: "A observação prova que no instante
da morte o desligamento do perispírito não se completa subitamente, mas
gradualmente e com uma lentidão que varia muito segundo os indivíduos. Para alguns,
esse desligamento é muito rápido, podendo ocorrer no momento da morte ou algumas
horas após. Para outros, em especial os que suas vidas foram voltadas para o
material, o desligamento é muito menos rápido e dura, algumas vezes, dias, semanas
e mesmo meses, o que não implica existir no corpo a menor vitalidade(...)".
Quanto mais nos apegamos e nos identificamos com a matéria, maior será nosso
sofrimento ao nos separarmos dela. Pior ainda: em alguns casos, a afinidade entre o
espírito e seu corpo carnal é tanta que ele pode experimentar toda a sensação da
decomposição!
A expectativa da morte também pode fazer com que a pessoa perca a consciência
antes do suplício. Frequentemente a alma sente se desatarem os laços que a ligam ao
corpo. Antes mesmo do desligamento, muitas pessoas entram numa fase de transição.
Por exemplo: quantos doentes terminais que, ainda no leito hospitalar, relatam a
aparição de parentes que já morreram, dizem que estes vieram buscá-los e que não
sentem mais temor da morte. Isso acontece geralmente porque os laços energéticos
que o ligam ao corpo já começam a se desatar.
Em O Livro dos Espíritos, questão 160, vemos que, conforme a afeição entre a
pessoa que desencarna e seus parentes desencarnados, "(...) eles o vêm receber em
sua volta ao mundo dos Espíritos e ajudam a libertá-la das faixas da matéria;
reencontra, também, a muitos que havia perdido de vista em sua permanência sobre a
Terra. Vê aqueles que estão na erraticidade, aqueles que estão encarnados, e os vai
visitar".
Mas nem todos encontram direto com seus parentes falecidos. Há casos em que,
devido à perturbação espiritual, não há possibilidade do encontro.
É preciso ficar claro que, geralmente, o instante da morte ocorre de forma simultânea
ao da separação da alma. O que ocorre de forma gradativa é o desatamento dos laços
energéticos que ligam a alma ao corpo, tanto nos casos de morte abrupta, quando ela
não resulta da extinção gradual das forças vitais, assim como nos de Espíritos muito
apegados à matéria.
Perturbação Espiritual
A maioria das pessoas, após a morte, passa por um estado de perturbação durante
algum tempo. Devido a essa perturbação pós-morte, muitas não conseguem entender
o que está acontecendo; outras não entendem por ignorância ou por simplesmente
não aceitarem. A compreensão da realidade do mundo espiritual exerce influência
sobre a duração da nossa perturbação após a morte, porém, os espíritos afirmam a
Kardec que a prática do bem e a pureza da consciência são os que exercem maior
influência.
Em O Livro dos Espíritos, questão 165, Kardec nos esclarece: "No momento da morte
tudo, à princípio, é confuso. A alma necessita de algum tempo para se reconhecer. Ela
se acha como aturdida e no estado de um homem que despertando de um sono
profundo procura orientar-se sobre sua situação. A lucidez das ideias e a memória do
passado lhe voltam, à medida que se apaga a influência da matéria da qual se libertou
e se dissipe a espécie de neblina que obscurece seus pensamentos."
Esta perturbação pode durar desde horas, dias... até muitos anos. Existem espíritos
que julgam ainda viver como encarnados e não aceitam que "morreram". Outros
observam o corpo físico ao lado, mas não entendem como podem estar separados
dele. Tentam se comunicar com as pessoas, sem obter resposta, o que aumenta cada
vez mais seu estado de perturbação. Muitos Espíritos que, enquanto encarnados,
acreditavam que a morte era sinônimo de extinção da vida, não entendem como
podem estar " mortos" se ainda falam, ouvem, veem. Nunca ouviram falar de
perispírito e acham que o corpo que possuem ainda é o corpo carnal, que muitas
vezes nem existe mais, já se decompôs.
E o que acontece com os espíritos que desencarnam em situação de mortes
coletivas? Depende. Cada caso é um caso. A regra geral do desenlace energético
continua valendo em casos de morte coletiva e cada espírito reage de acordo com
seus interesses ou evolução.
Viver e desencarnar...
http://www.febnet.org.br/blog/geral/morrer-ou-desencarnar/
O Livro dos Espíritos, Allan Kardec
O Céu e o Inferno, Allan Kardec (Segunda Parte – Capítulo I)