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TEORIA, PRÁTICA,

TEORIA DA PRÁTICA*

A teoria fotográfica se aprende em uma hora;


as primeiras noções de prática em um dia.

Nadar

Velho e vão (mas como escapar dele?) debate, duelo, dualismo, é esse que opõe teoria e prática, o conceitual e
o realizado, o puro e o comprometido. Gostaria simplesmente de recordar que a palavra teoria, supostamente oposta à
prática, vem de uma palavra grega que significa observar, contemplar: Mesmo que a etimologia não diga toda a verdade,
é claro que na origem está a experimentação – que evidentemente não parte de um “nada” conceitual: a fotografia
também é “cosa mentale” – e que a teoria vem em segundo lugar. É preciso, portanto, partir da prática, e da observação
da prática, para poder esperar construir uma teoria, ou, mais modestamente, fragmentos de teoria, a indução seguindo a
observação: uma teoria da prática parece hoje, mais do que nunca, necessária.
Não nos esquecemos, no entanto, que isto é ainda uma teoria, e que não podemos fugir do dilema a não ser
pela utopia de um incessante vai-e-vem entre teoria e prática, de um movimento pendular sem origem e sem hierarquia,
mas que tem necessidade desses dois momentos para vir a ser objeto de uma reflexão mais apurada.
O ensinamento da fotografia, a qualquer nível que se situe, é infelizmente quase sempre cindido entre um
ensinamento prático sem questionamento e um ensinamento teórico sem aplicação.

TIPOLOGIA

Entre o dizer e o fazer, existe um mar.

(provérbio italiano)

Já dissemos de início: acreditamos que todo discurso sobre a fotografia seja aceitável e de direito, m as sob a
dupla condição de que possua sua coerência interna e que se saiba parcial. Não podemos evitar ressaltar que
numerosos fotógrafos e críticos que parecem sofrer do mesmo mal castrador, uns recusando o discurso em nome do
agir, os outros julgando dispensável apoiar seu discurso sobre a experiência fotográfica, ainda que sumária. E esta dupla
recusa pode ser docemente irônica ou agressiva.
[...] Tudo investir, ou na prática, ou na teoria, eis o conforto. Querer ser um “fotógrafo pensante” torna-se, ao
mesmo tempo, um luxo e uma inquietude.

* Michel Bouvard, Foto-Legendas, trechos extraídos dos Capítulos 4 e 2, respectivamente


Tradução: Simone Rodrigues

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