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A IMPORTANCIA DO LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Elizenda Sobreira Carvalho de SOUSA


elizendas@yahoo.com.br
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

Rafael Ferreira de Souza HONORATO


rafaelhono@gmail.com
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA/NIPAM/GEPPC/CE

RESUMO
Este trabalho advém de investigações teóricas durante as aulas de Organização e Prática Pedagógica da
Educação Infantil e das observações feitas durante o Estágio Superisionado na Educação Infantil I, no curso de
Pedagógica Presencial da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). O objetivo desse texto é apresentar as
articulações entre as concepções de infância e a prática do lúdico no processo de ensino-aprendizagem. Nosso
percurso teórico se dá através da pesquisa bibliográfica e documental partindo da perspectiva teórica histórico-
cultural e de outros estudos que se relacionam com a infância, compreendemos que existem múltiplos conceitos
de criança e de infância, o que nos leva a desempenhar um papel mais lúdico no desenvolvimento das atividades
no que compreende a Educação Infantil. Assim, entende-se que superando os conceitos restritivos nos resta uma
criança como sujeito ativo e protagonista das atividades propostas. Logo, os ideais propostos a Educação Infantil
envolve a manutenção dos direitos da criança, entre eles, o direito da brincadeira.

PALAVRAS-CHAVE: Infância - Lúdico - Ensino-aprendizagem.

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INTRODUÇÃO
Brincar com crianças não é perder tempo, é ganhá-lo: se é triste ver
meninos sem escola, mais triste ainda é vê-los, sentados enfileirados, em
salas ser ar, com exercícios estéreis, sem valor para a formação do homem.
Carlos Drummond de Andrade

Este texto apresenta uma reflexão sobre os conceitos de criança e de infância,


avaliando, de modo particular, como as possibilidades apresentadas aos pequenos, no
ambiente escolar ou não estão atreladas aos sentidos de criança e infância que passaram e/ou
passam por uma construção histórica, social, econômica e cultural. O estudo aqui desenvolvido
também tem o interesse de o que diferentes autores pensa e apontam sobre a importância da
ludicidade nos dias atuais. Em meio a uma realidade onde existe uma correria para atingir
metas, cumprir horários, ou seja, uma obrigação constante que nos tornou autoatizados, surge
Garcia (2002, p. 61) e especifica que

[...] a importância do jogo e do brincar, não só como experiência de


elaboração das vivências da realidade, mas especialmente como espaço
próprio de constituição do sentimento de si e de construção, no próprio ato
de jogar, de novas dimensões subjetivas, que gerarão novas posições diante
do mundo.

Estudos como os de Lima (2005) sobre o conceito de infância aponta que, na sociedade
contemporânea temos pelo menos dois sentidos antagônicos de infância. O primeiro que
entende a criança a partir do ponto de vista dos adultos, ou seja, a criança pensada em
comparação ao adulto, o que caracteriza a fragilidade, incapacidade e incompetências infantis,
e condiciona uma atitude de superproteção em relação a ela, de tal forma que a mesma não
pode se arriscar a agir de modo cada vez mais independente. Por outro, numa visão da criança
como sujeito que precisa ser desafiado a conhecer o mundo, defende-se a garantia dos
direitos da infância e a atenção às suas necessidades e interesses desde que nasce.
São esses paradoxos que nos fazem refletir sobre: Como o significado de infância e do
que é ser criança vem sendo pensados em nossa sociedade? Na infância, as crianças têm
direito à brincadeira, às atividades lúdicas?
Mas, percebemos que a os conceitos de criança e de infância tem sua concretização
ligados a outros processos, como afirma Sarmento (2004, p. 1)

Os tempos contemporâneos incluem, nas diferentes mudanças sociais que


os caracterizam, a reinstitucionalização da infância. As ideias e
representações sociais sobre a crianças, bem como as suas condições de
existência, estão a sofrer transformações significativas em homologia com
as mudanças que ocorrem na estruturação do espaço-tempo das vidas
cotidianas, na estrutura familiar, na escola, nos mass-media, e no espaço
público [...]

Nossa análise é essencial para (re) conhecermos as significações sobre a infância e a


criança articulando esses significados com a prática pedagógica que contempla o lúdico como
alternativa. Essas significações são reveladas através das práticas da professora e os outros

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que se relacionam com a criança de 0 a 5 anos, condicionando-a a possibilidades de
aprendizagem dentre elas a de experimentarem experiências lúdicas.

1. A CONSTRUÇÃO DOS SENTIDOS DE CRIANÇA E DA INFÂNCIA


A aceitação da criança como seres históricos, de direitos, produtores de culturas e
constituídos por elas foi um processo bem demorado. Faz-se importante lembrar que na
consolidação de um significado de infância existem vários e diferentes processos influenciados
pela cultura e pela sociedade a qual os sujeitos estão inseridos.
Uma primeira concepção de infância surgiu durante o século XVII quando os adultos
observaram os movimentos de dependência das crianças pequenas e passaram a se preocupar
com esses pequenos sujeitos como seres dependentes e fracos. Assim, Sarmento (2004, p. 3)
nos lembra que “A infância é uma ideia moderna. Remetidas para o limbo das existências
meramente potenciais, durante grande parte da idade da Idade Média, as crianças foram
consideradas como meros seres biológicos, sem estatuto social nem autonomia de
existência”.
Só a partir dos estudos Rousseau (1995) que surge uma proposta de infância diferente
da que existia até então, era a possibilidade de uma educação infantil sem juizes livre dos
exercícios e das prisões.
Sarmento(2004) retrata que

Estes factores - a criação da escola, o recentramento do núcleo familiar no


cuidado dos filhos, a produção de disciplinas e saberes periciais, a promoção
da administração simbólica da infância - radicalizaram-se no final do século
XX, a ponto de potenciarem criticamente todos os seus efeitos. Assim, a
escola expandiu-se e universalizou-se, as famílias reordenaram os seus
dispositivos de apoio e controlo infantil, os saberes disciplinares sobre a
criança adquiriram autonomia e desenvolvem-se exponencialmente, e a
administração simbólica adquiriu novos instrumentos reguladores com a
Convensão dos Direitos da Criança e com normas de agências internacionais
(como a UNICEF, a OIT, a OMS) configuradoras da infância global no plano
narrrativo. (p. 5-6)

Esses fatores retratados por Sarmento (2004) foram um dos responsáveis por mudar a
visão da sociedade no que diz respeito a o bem-estar e a educação das crianças. Assim, surge a
necessidade de respeitar os elementos primordiais do ser criança tal como nós percebemos
hoje.
A construção social da infância passou por seus altos e baixos principalmente no
surgimento de muitas dificuldades no século XIX. Nesse século a educação e a infância eram
vistas de forma distintas, porém essas dificuldades não foram estímulo à pesquisa social que
contemplassem a infância e a escola como essenciais uma a outra.
Logo, observa-se que a aprendizagem não acontece apenas dentro do espaço escolar
assim entende-se que a educação é uma das formas de transmissão de cultura. Adimiti-se a
partir dessa nova visão que a educação está em todo lugar, Brandão (1986, p. 26) ressalta que
“[...] (a teoria da educação) cria situações próprias para o seu exercício, produz métodos,
estabelece suas regras e tempos, e constitui executores especializados ”.

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Isso posto o que presenciamos é uma ação do reconhecimento da infância e o
surgimento de instituições protetoras para zelar pela integridade e formação da criança e isso
também requer uma ação constituidora de uma pedagoga voltada para essa modalidade,
fundando assim uma visão social da criança como um cidadão de diretos.
Com a mudança da concepção da criança, reconheceu-se aquilo que é específico da
infância, nas palavras de Kramer (2006, p.15):

[...] seu poder de imaginação, a fantasia, a criação, a brincadeira entendida


como experiência de cultura. Crianças são cidadãs, pessoas detentoras de
direitos, que produzem cultura e são nela produzidas. Esse modo de ver as
crianças favorece entendê-las e também ver o mundo a partir do seu ponto
de vista. A infância, mais que estágio, é categoria da história: existe uma
história humana porque o homem tem infância. As crianças brincam, isso é
o que as caracteriza (2006, p.15).

2. A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO


O presente trabalho trata de reflexão acerca da importância do lúdico na construção
do conhecimento e no desenvolvimento da criança. Na educação, o lúdico é uma ferramenta
que pode dar mais vida e prazer ao processo de ensino-aprendizagem. Sabemos que é por
meio do brincar livre e exploratório que as crianças aprendem algo nas diversas situações do
cotidiano, brincam com o seu imaginário, fantasiam, interagem, criam novas possibilidades,
aprendem a lidar com as emoções, criam as condições de aprendizagem e sociabilidade,
equilibram o seu mundo cultural construindo sua identidade, personalidade e marca pessoal.
Piaget esclarece que o brincar, implica uma dimensão evolutiva com as crianças de diferentes
idades, apresentando características especificas e formas diferentes de brincar.
Nesse sentido, Sarmento (2004), enfatiza que a natureza interativa do brincar constitui
um dos elementos básicos das culturas da infância, e dessa forma, o brincar é uma ação
humana que diz respeito tanto às crianças quanto aos adultos e trata-se de uma de suas ações
sociais mais significativas, pois as crianças fazem de suas brincadeiras sua ação mais séria, o
autor ainda ressalta a importância de resgatar as brincadeiras infantis uma vez que, a mídia e o
mercado de produtos culturais para a infância estão evidentemente tomando conta do espaço
da cultura lúdica da criança, ao substituir os brinquedos tradicionais por brinquedos industriais
e tecnológicos.
Nesse sentido é de suma importância para o processo educativo e pedagógico levar
em consideração o resgate dos processos lúdicos do passado, e vivenciar a cultura do
presente, para que as crianças hoje, possam ter um conhecimento de como foi a infância e
modo de brincar dos seus pais, tios, avós, bisavós, poder conhecer suas tradições e criar e
recriar suas culturas. Assim, a cultura da infância consiste na capacidade das crianças em
construírem de forma sistematizada seus modos de significação do mundo distintos dos
modos adultos, são compreendidas como modo de ver, viver, compreender o mundo
diferentes dos adultos, uma vez que existem as formas culturais produzidas e dirigidas pelos
adultos para as crianças e existem as culturas construídas nas interações entre as crianças e

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seu mundo cultural, uma vez que, as crianças se relacionam com seus pares, brinquedos,
valores morais distintas e nas relações de comunicação.
Nesse sentido, a atividade lúdica se constitui como um dos principais componentes das
culturas da infância e um dos fatores fundamentais na recriação do mundo e na produção das
fantasias infantis, é o espaço e o direito de toda criança para o exercício da sua relação afetiva
com o mundo, com as pessoas e com os objetos, a criança se expressa, assimila conhecimento
e constrói a sua realidade quanto está praticando alguma atividade lúdica. O brincar é
condição de aprendizagem e de sociabilidade, e dessa forma acompanha a criança nas suas
relações sociais, na construção e reconstrução do seu mundo imaginário, "mundo do faz de
conta".
Por meio da imaginação que a criança atribui significado às coisas, ampliando a sua
compreensão e visão de mundo, é o mundo de faz de conta da criança onde se confundem o
verdadeiro e o imaginário, onde ressignifica papéis, e as crianças desenvolvem sua imaginação
observando, ouvindo, interrogando, interpretando. Para o autor é uma forma de
inteligibilidade da criança uma maneira de contato com o outro, o mundo e a cultura, pois
brincando as crianças aprendem sobre si mesmas e sobre o mundo em que vivem.
Dessa forma, o brincar é condição da aprendizagem e, desde logo, da aprendizagem da
sociabilidade. É fato que o brinquedo e o brincar são fatores fundamentais na recriação do
mundo e na produção das fantasias infantis (SARMENTO, 2004)
Dessa forma, ao brincar, a criança está em constante interação e reiteração, com
diferentes modos de comportamentos, nas mais diversas situações explorando as atividades
lúdicas que podem ser criadas e recriadas sem medida, podendo ser reiniciadas a qualquer
momento pois não existe necessariamente uma linearidade, e seu pensamento frui e evolui a
partir de suas ações, razão pelas quais as atividades lúdicas são tão importantes para a
educação e desenvolvimento em todas as fases da infância. Para Vygotsky (1984) o que define
o brincar é a situação imaginaria criada pela criança. Ainda de acordo com o autor, é
brincando, jogando que a criança revela seu estado cognitivo, visual, auditivo, tátil, motor, seu
modo de aprender e de entrar em uma relação cognitiva com o mundo de eventos, pessoas,
coisas e símbolos. Vale ressaltar que, o ato de brincar leva em consideração alguns fatores que
mudam de acordo com o desenvolvimento e a idade da criança, como exemplo, um brinquedo
que interessa a um bebê deixa de interessar a uma criança mais velha e assim sucessivamente.
Nesse contexto é de fundamental importância uma reflexão acerca das práticas
pedagógicas na escola de educação infantil, e da importância das atividades lúdicas e
brincadeira que contemplem o jogar e brincar, atividades que, bem orientadas certamente,
contribuirão no desenvolvimento educativo da criança, com essência nas práticas educativas
da educação infantil, para melhor compreender a importância e contribuição das brincadeiras
no processo de aprendizagem na educação infantil, elaborar situações didáticas relacionadas
as brincadeiras na educação infantil, e chegar a uma síntese representativa sobre a
importância e contribuição da brincadeira para um melhor desempenho da criança na
educação infantil.
Sabemos que a criança ao participar das atividades lúdicas, ela adquire novos
conhecimentos, desenvolve suas habilidades e potencialidades naturalmente e de forma

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prazerosa. Toda atividade lúdica pode ser aplicada nas diversas faixas etárias, basta para isso,
estratégias de acordo com as necessidades e estilos de cada faixa etária.
Dessa forma, a importância deste trabalho para pesquisar a respeito das brincadeiras
na educação infantil, de buscar alternativas que possam ajudar os professores na criação de
metodologia e estratégias criativas e inovadoras para dessa forma minimizar as dificuldades
encontradas no planejamento dessas atividades. Nesse sentido pretendemos refletir sobre os
seguintes questionamentos para fundamentar nosso trabalho: qual o papel da atividade lúdica
no desenvolvimento da criança e como se dá aplicação das atividades lúdicas no cotidiano da
escola?
Segundo Piaget (1978), o desenvolvimento da criança acontece através do lúdico. Ela
precisa brincar para crescer, precisa do jogo como forma de equilibração com o mundo, o ato
de aprender, é um processo de investigação pessoal e as verdadeiras aprendizagens não se faz
copiando do quadro, prestando atenção ao professor.
As atividades lúdicas desenvolve na criança várias habilidades tais como, atenção,
memorização, imaginação, e possibilita estudar a relação da criança com o mundo externo,
estudar sua importância na formação do conhecimento, através da atividade lúdica e do jogo,
a criança forma conceitos, seleciona ideias, estabelece relações lógicas, integra percepções, faz
estimativas, constrói suas relações sociais, desenvolve sua criatividade, raciocínio,
coordenação, expõe seus questionamentos. Assim, o brincar é uma atividade de fundamental
importância para o desenvolvimento da criança, pois traz benefícios no âmbito físico,
intelectual e social, bem como reflete sua forma de pensar e agir; quando associado aos
conteúdos educacionais, permite a criança mais “liberdade” para errar, acertar, interagir com
os colegas e professores espontaneamente, sem receios de não realizar corretamente o que
está sendo solicitado. Nesta visão surge a importância do seguinte questionamento: Como a
ludicidade contribui para a construção do conhecimento na educação infantil? Conforme,
Negrine (1994, p.19):

[...] as contribuições das atividades lúdicas no desenvolvimento integral


indicam que elas contribuem poderosamente no desenvolvimento global da
criança e que todas as dimensões estão intrinsecamente vinculadas: a
inteligência, a afetividade, a motricidade e a sociabilidade são inseparáveis,
sendo a afetividade a que constitui a energia necessária para a progressão
psíquica, moral, intelectual e motriz da criança.

Nesse contexto, a ludicidade, como um dos eixos fundamentais das culturas infantis,
se constitue num espaço de grande importância na formação do conhecimento e merece
atenção de toda comunidade escolar (pais, educadores, gestores, etc.,) pois é espaço e direito
de toda a criança para o exercício da sua relação afetiva com o mundo, com as pessoas e com
os objetos. Para Teixeira (1995), a ludicidade é uma atividade de valor educacional
imprescindível, utilizada como recurso pedagógico e várias razões levam os educadores a
recorrer e utilizar como recurso no processo ensino-aprendizagem. Assim, é fundamental para
os educadores compreender como o lúdico é significativo para a criança, e que através do
lúdico é que a criança pode conhecer, compreender e construir seus conhecimentos,
tornando-se cidadã deste mundo.

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3. A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO E A INTERAÇÃO
A teoria cognitiva construtivista de Piaget (1973) aponta a importância da interação
entre o sujeito e o objeto no processo de aprendizagem e comunicação mediada por
computador. Para Piaget, os conceitos de colaboração e autonomia estão diretamente
relacionados, pois para que a autonomia se desenvolva é necessário que o sujeito seja capaz
de estabelecer relações colaborativas. Neste sentido, acreditamos que o aprendizado acontece
na interação dialética sujeito/meio social e por meio de um trabalho colaborativo.
Nesse contexto, é importante para o educador/a se utilizar dos recursos pedagógicos
com atividades lúdicas mais interativos possíveis e inseri-las em seu planejamento pedagógico
para que as crianças possam desenvolver sua personalidade, e construir o raciocínio de forma
interativa, descontraída e prazerosa. Com essas atividades lúdicas, espera-se da criança o
desenvolvimento da sua coordenação motora, da expressão corporal, e a interação com os
objetos e conteúdos a sua volta desenvolvendo seu potencial criativo, fantasioso e imaginário.
Dessa forma, o ato de brincar é tão importante no processo de desenvolvimento da
criança que a legislação brasileira contempla o lúdico como direito garantido na Declaração
Universal dos Direitos da Criança, e deixa claro que criança terá direito a alimentação,
recreação e assistência médica adequadas, estabelecendo de forma igualitária que a recreação
é tão importante quanto à alimentação e a saúde para a criança.
Por outro viés, o Referencial Curricular Nacional para a Educação afirma que:

Brincar é um das atividades fundamentais para o desenvolvimento da


identidade e da autonomia da criança, desde muito cedo, pode se
comunicar por meio de gestos, sons e mais tarde ter determinado papel na
brincadeira faz com que ela desenvolva sua imaginação. A fantasia e a
imaginação são elementos fundamentais para que a criança aprenda mais
sobre a relação entre pessoas. (REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA
A EDUCAÇAO INFANTIL, vol. 2, p. 22).

E nesta visão, o direito de brincar é uma questão legal e reconhecida por lei, podemos
afirmar que o direito da criança brincar tem seu respaldo jurídico, e dessa forma deve ser
promovido pelos educadore/as no cotidiano da escola.

4. O BRINCAR E A CRIATIVIDADE DA CRIANÇA


A criatividade, segundo Alencar (1995), está agregada à imaginação, à inspiração, ao
insight e à iniciativa pessoal e na opinião dessa autora, a criatividade não é um dom, tampouco
um privilégio, ela deriva do esforço da aprendizagem humana dentro de referências que
possibilitem seu desenvolvimento.
Para Zanella (2002), a capacidade de criar existe em todas as pessoas, e que a
diferença da expressão da criatividade está em fatores internos e nas condições que o meio
ambiente oferece para o desenvolvimento das capacidades criativas. Isso porque a pessoa
criativa necessita de conhecimento e flexibilidade para elaborar ideias consideradas criativas.
Nesse sentido, a estrutura organizacional educativa é de fundamental importância, pois será
ela responsável pelo desenvolvimento ou inibição da criatividade do indivíduo.
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Conforme o psicanalista, Winnicott (1975) é no brincar, talvez apenas no brincar que
tanto as crianças quantos os adultos fazem fruir seu potencial criativo, sua a liberdade de
criação, os relacionamentos grupais, a comunicação consigo mesmo e com os outros. No
entanto, a importância do brinquedo e do brincar não serve apenas como uma válvula de
escape para que a criança descarregue suas energias, para o psicanalista citado, é no brincar
que a criança, adolescente, jovem ou adulto, pode desenvolver o seu potencial criativo e
conhecer a si próprio. Sabemos que a criatividade se constitui o alicerce da evolução do
indivíduo, ao lado da inteligência, da curiosidade e da necessidade de mudança. O ser humano
moldou suas referências históricas e pessoais através da exploração da criatividade. Conforme
Alencar (1995, p. 85), a criatividade pode ser compreendida como a atividade que está
relacionada com “os processos de pensamento que se associam com a imaginação, o insight, a
invenção, a intuição, a inspiração, a iluminação e a originalidade”.
Nesta visão, convém aqui lembrar, as palavras de Alencar (1990, p. 89) ”na busca de
soluções para os problemas enfrentados no dia a dia, levam inúmeras vantagens aqueles que
fazem uso de suas habilidade criativas, buscando pela melhor solução para o problema, após
considerar varias soluções. Neste sentido, é, pois, vantajoso cultivar o hábito de brincar com as
ideias, levantando sempre muitas soluções antes de se escolher a melhor.” Acima de tudo,
criatividade, entusiasmo, mente aberta e autonomia, são as habilidades mais requeridas para
o futuro na formação de educadores para desencadear todo o processo de formação
intelectual dos nossos educando/as na atual sociedade. Nas palavras de Freire, ”O educador
democrático não pode negar-se o dever de, sua prática docente, reforçar a capacidade crítica
do educando, sua curiosidade, sua insubmissão”(FREIRE, 1996, p.26).
Todavia, para se desenvolver a capacidade criativa da criança normalmente se explora
o seu diagnóstico e a sua estimulação, leva-se em conta também questões como o nível de
inteligência, a facilidade de comunicação, o talento, ou através de provas psicológicas e
pedagógicas, e dessa forma, é importante ressaltar que muitas crianças não têm as mesmas
oportunidades para desenvolver suas habilidades.
No âmbito das instituições educativas, para que o pensamento criativo se manifeste há
a necessidade de se criar ambientes favoráveis, através de estratégias capazes de estimular o
potencial criativo e auto-estima das crianças.
Fazendo um paralelo com o brincar, se por um lado, muitas crianças brincam, por
outros viés, muitas não brincam, outras pouco brincam, outras, são privadas do seu direito de
brincar para trabalhar e ajudar a família, apesar dessas diferenças sociais, estudos comprovam
que a ausência do brinquedo não se constitui fator inibidor do ato de brincar e pois as crianças
usam e abusam do seu imaginário e fantasia os quais precisam ser explorados mais
criativamente, dando-lhes a oportunidade de desenvolver seu potencial criativo, um predicado
cada vez mais exigido no contexto da sociedade atual.

5. IMPORTÂNCIA DAS ATIVIDADES LÚDICAS NA APRENDIZAGEM


Introduzir atividades lúdicas na prática educativa significa possibilitar a relação da
criança com o seu mundo externo, possibilitar a criança formar conceitos, selecionar ideias,
estabelecer relações, interações, fazer estimativas, explorar sua capacidade criativa, socializar-

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se, aprimorar suas habilidades, pode ser introduzida através de uma brincadeira, um jogo, ou
qualquer atividade que permita a criança interagir e desenvolver suas potencialidades. Vale
enfatizar que essas atividades podem ser aplicadas nas diversas faixas etárias conforme suas
reais necessidades para que de forma prazerosa possa gerar sobre a criança o
desenvolvimento de suas habilidades intelectivas, de autocontrole e auto-realização.
Existem várias formas de introduzir essas atividades lúdicas no contexto da sala de
aula, uma vez que, pode ser expressa em formas de jogos (são atividades físicas ou mentais
organizadas por um sistema de regras, que definem a perda ou o ganho, é uma forma de
desenvolver a imaginação e o pensamento abstrato da criança), desenho (a forma de
expressão onde verifica-se a representação de um tema real ou imaginário), brincadeiras (é o
ato de brincar de expressar livremente uma determinada situação criativa e imaginária é
desenvolver na criança a socialização, rapidez de raciocínio, a atenção, o espírito de
cooperação e eliminar inibições), danças (segundo os PCNs ( 2003), é uma forma de integração
e expressão tanto individual quanto coletiva, em que o aluno exercita a atenção, a percepção,
a colaboração e a solidariedade), modelagem (consiste na realização da operação de traçar,
delinear, reproduzir contornos e fazer modelos), leitura, passeios, softwares educativos,
dramatização (é o ato de tornar ou procurar, tornar dramático, interessante ou comovente,
como um drama), cantos (são propostas de atividades diversificadas em que as crianças
podem escolher o que vão fazer a partir das opções planejadas e oferecidas pelo professor em
vários cantos da sala), teatro de fantoches (é a expressão teatral que caracteriza as
encenações realizadas, respectivamente, coma fantoches, marionetes ou bonecos), pintura a
dedo e com pincel (é o ato de representar com os dedos ou as mãos, figuras, traços ou cores),
recorte e colagem (são atos ou efeitos de recortar e colar), jogos didáticos, música (é a arte e
a ciência de combinar os sons de modo agradável ao ouvido), recreação, construção (diz
respeito a uma ampla forma de ação e criatividade que consiste no ato, efeito, modo ou arte
de construir algo) entre outras, cada uma com seus conceitos e características próprias. Vale
ressaltar que o mais importante é a forma como essa atividade é inserida e dirigida no
contexto curricular tendo em vista uma aprendizagem significativa para a criança.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A guisa de conclusão, não se pode esquecer que a prática lúdica é fundamental para
estimular as possibilidades de fantasia, do mundo de faz de conta, desenvolver a criatividade e
a imaginação da criança e o professor/a precisa incorporar e valorizar essas atividades de
forma significativa no cotidiano da sala de aula, ampliar seus conhecimentos sobre o lúdico
para poder utilizar com mais frequência técnicas e estratégias diversificadas envolvendo jogos
e brincadeiras no seu planejamento didático-pedagógico proporcionando o desenvolvimento
integral das crianças.
Vale também ressaltar que o educador/a precisa ter em mente que tanto os jogos
quanto as brincadeiras precisam ter um foco voltado para a aprendizagem dos seus
educandos/as, e para que isto ocorra requer uma formação mais específica e envolvente entre
a teoria e a prática educativa e pedagógica. Assim, cabe ao educador/a conhecer suas

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possibilidades e limitações, ter uma visão clara e objetiva da importâncias dos jogos,
brincadeiras, atividades lúdicas para a vida, desenvolvimento e criatividade da criança.
Por isso, é importante que as brincadeiras façam parte da cultura escolar, cabendo ao
professor analisar e avaliar a potencialidade educativa das diferentes brincadeiras e o aspecto
curricular que se deseja desenvolver, dando ênfase, portanto, à formação lúdica para que
possa desenvolver junto às crianças uma aprendizagem significativa, permitindo assim um
trabalho pedagógico mais envolvente, criativo e prazeroso.
Isto requer um processo educativo voltado para uma cultura que vivencie a utilização
dos jogos, as brincadeiras e atividades lúdicas nas mais diversas temáticas no âmbito escolar,
como exercícios necessários e úteis a vida, avaliando constantemente suas potencialidades
para inserir no currículo desde a Educação Infantil até a Universidade com estratégias que
contribui para despertar e valorizar a aprendizagem. Trata-se, portanto, de uma educação
permanente e global, difícil, mas não impossível e concluímos dessa forma, afirmando que a
atividade lúdica é uma importante ferramenta estratégica de aprendizagem e facilitador
importante no desenvolvimento da criança.

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