Você está na página 1de 6

TEORIA ANALÍTICA I

Profª Me. Glória S. A. Siqueira


Psicologia 5º semestre
Guilherme Henrique Dadalto

INTRODUÇÃO

A terapia analítica é um processo que exige esforços do analista e analisado: “formam uma
unidade dinâmica”. Interação do inconsciente do analista com o do analisado.

 Histórico Pessoal - Carl Gustav Jung (1875-1961) Jung foi considerado por Freud por
algum tempo um filho adotivo e herdeiro do movimento psicanalítico. Depois de a amizade
com Freud desintegrar-se em 1914, Jung iniciou o que denominou psicologia analítica –
que estava em total desacordo com a teoria freudiana.
 Por volta de 1915 inicia seus estudos sobre Gnose, Alquimia e Psicologia Oriental, donde
retira elementos que doravante estarão sempre presentes na sua Psicologia Analítica.
 De 1918 a 1919 serve na Primeira Guerra Mundial como Comandante Médico do campo
de internação de soldados ingleses.
 Em 1923 termina a construção da “Torre de Bollingen” (uma construção, em moldes suíços
antigos, perto do Lago de Zurique, onde “vivia seu verdadeiro eu”). Ainda nesse ano inicia
amizade com Richard Wilhelm (autor do “I Ching – o livro das mutações”, prefaciado por
Jung), filólogo e grande conhecedor da cultura chinesa. Jung receberá deste homem um
amplo conhecimento sobre o budismo e o taoísmo.
 De 1925 a 1926 faz uma expedição à Uganda e ao Quênia (África). Conhece as nascentes
do Rio Nilo. Visita tribos dos aborígenes Elgonys no Monte Elgon, onde aprende sobre a
filosofia, psicologia e religião desses nativos... ...viaja ao Egito e à Palestina... à Índia, onde
conhece sobre a cultura e religião destes lugares.
 Após o término da Segunda Guerra Mundial (1945) escreve sobre as origens psicológicas
do nazismo. Em 1948 é inaugurado o Instituto Carl Gustav Jung, em Zurique.
 Morre em 1961, aos 86 anos, em sua casa à beira do lago, em Zurique, Suíça. Deixou um
vasto legado para a Medicina, a Psicologia, a Antropologia e as demais ciências humanas
condensado numa obra científica de 18 volumes, além de outros importantes escritos
(incluindo sua autobiografia).
PSICOLOGIA ANALÍTICA

Jung diz que, quando criança, sentia possuir duas personalidades: um “eu” público, exterior,
envolvido com seu mundo familiar, e um “eu” secreto, que tinha uma proximidade especial com a
natureza e com “Deus”. O sentimento de necessidade da integração entre esses dois “eu” (um
voltado para o mundo exterior e outro para o mundo interior) incitou seu empenho pela busca do
conhecimento de “si mesmo”, daí seu interesse pela Psiquiatria e pela Psicologia.

Jung procurou na sua vida e obra apresentar a possibilidade de uma relação dialética (de “troca”,
interação) entre esses dois saberes (antagônicos, para muitas pessoas) Assim, ele se interessou
por mitos, sonhos, alquimia e a psicologia da religião (ocidental e oriental): religiões pré-cristãs,
cristianismo (catolicismo, protestantismo e gnosticismo), islamismo, budismo, hinduísmo, taoísmo,
xamanismo, entre outras religiões.

PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE A PSICANÁLISE (FREUD) E A PSICOLOGIA ANALÍTICA


(JUNG)

 Um ponto fundamental de diferença entre Jung e Freud vincula-se com a natureza da


libido. Jung considerava a energia vital generalizada de que o sexo era apenas uma parte:
Se exprime no crescimento e na reprodução e também em outras atividades – depende do
momento.
 Jung, por exemplo, entre três e os cinco anos de vida (fase présexual), a energia libidinal
serviria às funções de nutrição e de crescimento.
 Jung também rejeitava o complexo de Édipo freudiano e explicava o apego da criança à
mãe em termos de uma necessidade de dependência, com todas as satisfações e
rivalidades associadas com a função materna de fornecer alimento.
 Conforme a criança amadurece e desenvolve o funcionalismo sexual – as funções de
nutrição combinam-se com sentimentos sexuais. Para Jung, a energia libidinal só assume
forma heterossexual depois da puberdade.

Não há negação a existência de fatores sexuais, mas redução do papel do sexo ao de um dos
impulsos que compõem a libido.

 Freud: O inconsciente surge a posteriori ao nascimento a partir da “primeira mamada”,


sendo um depositário de recalques, de desejos sexuais (pulsões).
 Jung: Distinção entre inconsciente pessoal e inconsciente coletivo. O inconsciente pessoal
surge a posteriori ao nascimento como resultado das experiências de vida do indivíduo. É
herdado de forma psicológica e biológica, nasce com a criança. É, portanto, um material
inato da psique.

 Freud o inconsciente interfere no comportamento no sentido da busca da satisfação das


pulsões (desejos sexuais) advindas do id, bem como na “censura” dessa satisfação.
 Jung o inconsciente (pessoal e coletivo) interfere no comportamento, não apenas no
empenho da satisfação do prazer sexual ...mecanismos de sobrevivência, de procura de
satisfação afetiva e social, de desenvolvimento pessoal, de busca do conhecimento de si
mesmo.

A origem da doença psíquica


 Freud: - a doença psíquica tem sua origem em traumas sexuais sofridos na infância.
 Jung: - a doença psíquica tem sua origem numa exacerbada dissociação entre elementos
do consciente e do inconsciente (contradições internas experienciadas pelo sujeito) que
impede a vivência da totalidade psíquica.
Em relação ao método psicoterápico...
 Freud: uso da associação livre, interpretação de sonhos, valorização da relação
transferencial e do diálogo através da utilização do divã.
 Jung: uso da associação livre e da imaginação ativa, interpretação de sonhos, produção de
desenhos, valorização da relação transferencial e do diálogo face a face.
EPISTEMOLOGIA E MÉTODO NA PSICOLOGIA ANALÍTICA

Carl Gustav Jung


 psiquiatria do início do século XX
 psiquiatria dinâmica teve influência em Pierre Janet, Eugene Bleuler e Carl Jung
 se dedicou no estabelecimento de uma Psicologia de cunho científico e de caráter
unificado: Tentou reunir ideias e pressupostos de teóricos relevantes da época.

O primórdio do mundo moderno caracteriza-se por uma mudança na consciência coletiva  Jung
foi pioneiro em trazer esse aporte: Ele faz uma avaliação crítica da condição humana, aliadas à
uma atitude científica rigorosa e filosófica romântica. Volta ao irracional e a exploração do
desconhecido em seus diversos fenômenos psíquicos.

Jung buscou recuperar para a consciência moderna a sensibilidade simbólica  possível saída
para o niilismo ético (Barreto, 2008). Sua pretensão original era criar uma psicologia geral, não
fundar uma escola  nomenclatura proposta originalmente “Psicologia Complexa”.

Ciência e Psicologia: Individual e Coletivo


Trabalhou firme na diferenciação do individual e o geral  visto que o geral é requisito de toda
ciência. A psicologia se manteria sempre individual (particularidades heterogêneas da
consciência) na prática e geral (homogêneo universal) na teoria científica.

Jung procura compreender algumas características que unissem individualidade e modos de


pensamentos comuns as pessoas. Entretanto, critica o fato de que agrupar pessoas com certas
tendências de funções psicológicas e atitudes geram teorias específicas  aceitação de grupos, e
assim, não teria validade universal.

Jung propõe a necessidade de um equilíbrio entre compreensão e conhecimento  o valor de uma


teoria se fundamenta em sua aplicabilidade e na possibilidade de estabelecer algumas predições.

Posto que todo conhecimento é sujeito à constelação psicológica subjetiva do investigador, Jung
traz o conceito de “equação pessoal”, ou seja, existe subjetividade inerente a todo ponto de vista.
Originado do campo da astronomia, este termo se referia aos erros de mensuração entre
observadores que analisavam os mesmos fenômenos.

Jung retoma esse conceito, afirmando que vemos aquilo que melhor podemos ver a partir de
nossa própria constituição  portanto, reconhecer os efeitos da equação pessoal seria o primeiro
passo para uma avaliação científica dos outros indivíduos (autoconhecimento elevado do
pesquisador)

“Tipos Psicológicos” aponta para o caráter inato de uma multiplicidade dessa equação: é preciso
reconhecer a existência de uma multiplicidade de indivíduos. Desse modo, desenvolveu um
esquema com 8 tipos principais, reunidos em dois grandes grupos: os introvertidos e os
extrovertidos (função dominante) subdivididos em 4 subgrupos cada um.

Jung sinaliza um aspecto muito importante sobre sua visão: a suposição de que não há um saber
único e ideal sobre o objeto, tal como preconizado pelas ciências naturais. Teorias passam pelo
exercício de construção, desconstrução e reconstrução, assim, não podem ser verdades
absolutas.

Um dos componentes da subjetivação refere-se a linguagem: Jung dará ênfase a linguagem


irracional (pensamento não dirigido, permeado pela livre fantasia, contrário a linguagem racional –
pensamento dirigido, objetivo) Atitudes se baseiam inconscientemente em sentenças linguísticas,
nas quais afetos se associam a conceitos. Ou seja, a complexidade da linguagem resulta maior
dificuldade em unificar postulados científicos (diversidade de nomenclaturas e restrição de
compreensão) Independente do que se refere (e se existe) conceitos, eles transformam a
experiência subjetiva e criam nova forma de sensibilidade.

PRINCÍPIOS EPISTEMOLÓGICOS

Refere-se no método empregado para investigação. Inicialmente, Jung embasou seu método
científico e terapêutico na teoria do pragmatismo e do pluralismo de William James. Depois
“abandonou” o pragmatismo, mas manteve os princípios da sabedoria prática.

Princípio filosófico “sabedoria prática” visa alcançar a realização da natureza humana, no aqui e
agora de cada situação. Além disto – sem negar os métodos de experimentação e causalidade –
Jung acreditava que eles eram insuficientes para a compreensão do fenômeno psíquico

Advogava a possibilidade de eventos acausais (sincronicidade) Dilema: subjetividade x ciência


(individual x geral) “abandonar a busca do verdadeiro ou correto para produzir a “verdadeira
expressão”, aquilo que é percebido subjetivamente.

No entanto, subjetividade tomada ao extremo, levaria a observações erradas/falhas. Assim,


evidenciava a importância de referenciais teóricos norteadores  verdade transitória, já que novos
conhecimentos eventualmente poderiam substituí-la.

Pontos focais na epistemologia:


Estrutura da Psique O pressuposto estrutural apoia-se na teoria dos arquétipos que constituem
pura abstração. Psique é um sistema energético relativamente fechado cujo potencial de energia
é constante.

Cada processo psíquico possui um valor psicológico: a intensidade da energia agregada a ele.
Ela é dividida em componentes: complexos e conteúdos arquetípicos, que funcionam como “eus
secundários”. Esses são princípios organizacionais que embasam distintas manifestações
conforme o meio históricocultural e a experiência pessoal.

Está estruturada em três elementos: consciente, inconsciente pessoal e inconsciente coletivo.


Sistema do aparelho psíquico que mantém contato com o mundo interior (processos psíquicos,
internos) e exterior (meio ambiente e social) do sujeito

Por termos cérebros anatomicamente e organizacionalmente semelhantes, teremos formas


mentais basicamente semelhantes. No entanto, nossa psique possuiria uma função teleológica
(finalismo)  sempre possui um objetivo e direciona o indivíduo para a realização de um propósito
(essência)

Finalismo - Função teleológica: entendida metodologicamente como uma finalidade construída à


medida que o conhecimento se gera. Assemelha-se ao conceito de causa final proposto por
Aristóteles: para qual fim a ação se move.

Na psicologia analítica, esse conceito associa-se ao funcionamento psíquico com a necessidade


de significados e conexões significativas (acausais) ocorridas em última instância de um objetivo
autorregulador. Assim, a finalidade em Jung, ocorre de modo processual, modulado pela
experiência, não dada a priori.

O finalismo está atrelado à concepção da psique promotora de um processo de auto sustentação


compensatória, visando ao melhor alcance possível de sua plenitude.

O irracional, a imaginação e o símbolo


Jung se distancia do pragmatismo e considera o irracional  entendido não como anti-racional,
mas como “extra racional” – o que não se pode fundamentar na razão. Ele entende que o
pragmatismo ‘secaria’ a criatividade

O que vem a ser o pragmatismo? Pragmatismo é uma doutrina filosófica cuja tese fundamental é
que a ideia que temos de um objeto qualquer nada mais é senão a soma das ideias de todos os
efeitos imaginários atribuídos por nós a esse objeto, que passou a ter um efeito prático qualquer.
Em resumo: ser prático, ser realista.

Entendia que o conflito de opostos – crises – poderia ser resolvido por um ato positivo de criação
que assimila os opostos como elementos necessários. A conjugação entre o ego (consciência) e
o desconhecido (inconsciente) constitui a essência da “função transcendente”  processo de
mediação entre as instâncias

A mediação é possibilidade pela emergência de produtos espontâneos da psique – os símbolos.


Símbolo é a produção espontânea da psique, natureza pessoal ou coletiva  quando traz a
consciência conteúdos arquetípicos, gera profundas transformações: Mergulho no
autoconhecimento!!

Por fim, Jung enfatizava a fundamentação ética do conhecimento, essa ênfase vinculava a
consciência individual à comunidade ética. “o que se faz com o que se descobre de si”
“precipitação desenfreada para o novo”

Você também pode gostar