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UMA HISTÓRIA DE “DIFERENÇAS E DESIGUALDADES”

AS DOUTRINAS RACIAIS DO SÉCULO XIX


SCHWARCZ, LIM

{Duas grandes vertentes aglutinavam os diferentes autores que na época enfrentaram o desafio de
pensar a origem do homem. De um lado, a visão monogenista, dominante até meados do século XIX,
congregou a maior parte dos pensadores que, conformes ás escrituras bíblicas, acreditavam que a
humanidade era una. O homem, segundo essa versão, teria se originado de uma fonte comum, sendo os
diferentes tipos humanos apenas um produto “da maior degeneração ou perfeição do Éden”
(Quatrefage, 1857 apud Stocking, 1968). Nesse tipo de argumentação vinha embutida, por outro lado, a
noção de virtualidade, pois a origem uniforme garantiria um desenvolvimento (mais ou menos)
retardado, mas de toda forma semelhante. Pensava-se na humanidade como um gradiente – que iria do
mais perfeito (mais próximo do Éden) ao menos perfeito (mediante a degeneração) – sem pressupor,
num primeiro momento, uma noção única de evolução.}

{A versão poligenista permitiria, por outro lado, o fortalecimento de uma interpretação biológica na
análise dos comportamentos humanos, que passam a ser crescentemente encarados como resultado
imediato de leis biológicas e naturais. Esse tipo de viéis foi encorajado sobretudo pelo nascimento
simultâneo da frenologia e da antropometria, teorias que passavam a interpretar a capacidade humana
tomando em conta o tamanho e proporção do cérebro dos diferentes povos}

{De um lado, monogenistas como Quatrefage e Agassiz, satisfeitos com o suposto evolucionista da
origem una da humanidade continuaram a hierarquizar raças e povos, porém, cientistas poligenistas, ao
mesmo tempo que admitiam a existência de ancestrais comuns na pré-história, afirmavam que as
espécies humanas tinham se separado havia tempo suficiente para configurarem heranças e aptidões
diversas. A novidade estava, dessa forma, não só no fato de as duas interpretações assumirem o modelo
evolucionista como em atribuírem ao conceito de raça uma conotação bastante original, que escapa da
biologia para adentrar questões de cunho político e cultural}

{Um outro tipo de determinismo, um determinismo de cunho racial, toma força nesse contexto.
Denominado “darwinismo social”},{Ou seja, as raças constituiram fenômenos finais, resultados
imutáveis, sendo todo cruzamento, por princípio, entendido como erro},{e compreender a mestiçagem
como sinônimo de degeneração não só racial como social}

{existiria entre as raças humanas a mesma distância encontrada entre o cavalo e o asno, o que
pressupunha também uma condenação ao cruzamento racial},{divisão do mundo entre raças
corresponderia a uma divisão entre culturas},{Assim, as proibições aos casamentos inter-raciais, as
restrições que incidiam sobre “alcoólatras, epiléticos e alienados”, visavam, segundo essa ótica, a um
maior equilíbrio genético}

{Para os autores darwinistas sociais, o progresso estaria restrito ás sociedades “puras”, livres de um
processo de miscigenação, deixando a evolução de ser entendida como obrigatória}

{os homens seriam “desiguais” entre si, ou melhor, hierarquicamente desiguais, em seu
desenvolvimento global. Já para os darwinistas sociais, a humanidade estaria dividida em espécies para
sempre marcadas pela “diferença”, e em raças cujo potencial seria ontologicamente diverso}

{existiram três grandes raças – branca, negra e amarela – específicas em sua origem e desenvolvimento.
Segundo esse autor, os grupos negros, amarelos e miscigenados “seriam povos inferiores não por serem
incivilizáveis, não perfectíveis e não suscetíveis ao progresso”},{“raças não perfectíveis”}
{divulgou na mesma época sua teoria que correlacionava raças humanas com espécies raças humanas
com espécies animais: “Baseando-se em critérios anatômicos, como a cor da pela, a forma e capacidade
do crânio, é possível estabelecer-se que o gênero humano compreende muitas espécies separadas e
provavelmente de origem muito diferente}

{No entanto, ao mesmo tempo que compartilhava os pressupostos darwinistas sociais, introduzia a
noção de “degeneração da raça”, entendida como o resultado último “da mistura de espécie humanas
diferentes”. De fato, Gobineau cortava as últimas amarras com a explicação monogenista e}

{“O resultado da mistura é sempre um dano”},{“tipos puros”},{“sub-raça decadente e degenerada”?}

{podia esperar muito de certas “raças inferiores”},{no entanto, sua interpretação sobre as nações
miscigenadas. Instáveis, por oposição á imutabilidade das raças puras, do cruzamento de espécies
diferentes advinham populações “desequilibradas e decaídas”},{parece com um sacerdote do racismo}

{que os modelos deterministas raciais foram bastante populares, em especial no Brasil},{teoria original,
na medida em que a interpretação darwinista social se combinou com a perspectiva evolucionista e
monogenista},{não impedia pensar na viabilidade de uma nação mestiça. Este já é, porém, um debate
que pressupõe a reflexão sobre a excelência da cópia e a especificidade desta no pensamento nacional –
o que será feito mais adiante}

{enquanto instâncias específicas de seleção e consagração intelectual, propiciará um amplo panorama


das elites ilustradas nacionais da época, bem como a recuperação da lógica de recriação da lógica de
recriação desses modelos raciais}

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