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AVALIAÇÃO DO PROCESSAMENTO DE COMPÓSITOS POLIMÉRICOS

UTILIZANDO MATRIZ TERMOPLÁSTICA


Filipe B. da Fonseca1
filipebr94@gmail.com
Centro integrado de manufatura e tecnologia - CIMATEC, Campus de Salvador, Salvador - BA

Resumo: No vasto universo das fibras naturais, o resíduo de madeira substitui com vantagens as cargas e reforços
tradicionalmente empregados em compostos e compósitos poliméricos. Então para a elaboração desse estudo utilizou-se
a farinha de madeira em uma matriz termoplástica de PEAD e compatibilizante Overac CA para elaborar as
formulações a fim de estudar suas características e propriedades. Foram elaboradas quatro formulações todas com um
total de 3kg distribuídas da seguinte forma: A primeira com 100% de PEAD, a segunda com 96% de PEAD e 4% de
compatibilizante, a terceira com 90% de PEAD e 10% de farinha de madeira e por ultimo 86% de PEAD, 10% de
farinha de madeira e 4% de compatibilizante. Após seu processamento, foram realizados os ensaios de esforços
mecânicos (tração e resistência ao impacto) e a análise morfológica das formulações três e quatro foram feitas através
de um microscópico eletrônico de varredura. Os resultados obtidos mostram que a formulação com compatibilizante
apresenta um valor maior de tensão máxima sob tração e uma maior adesão da farinha de madeira na matriz polimérica.

Palavras-chave: termoplástica, compatibilizante, compósito, farinha de madeira.

Introdução
O processamento de materiais poliméricos com resíduos de madeira (formando um
compósito) como carga tem sido cada vez mais comum.
O uso de resíduos de madeira pode ser uma alternativa para aditivação de materiais
poliméricos, além de confirmar a favorável influência do uso produtivo dos resíduos de madeira na
fabricação de produtos da madeira. [1]
É necessário que sejam observados diversos aspectos no processamento de termoplásticos
com farinha de madeira. A umidade e a granulometria devem ser rigidamente controladas, uma vez
que esta produz descontinuidades de processo e peças com características inaceitáveis devido à
[2]
presença de bolhas ou manchas superficiais . Então, para que se tenha um processo cujas
especificações sejam contempladas é devido que se realize ações (pré-processuais) para que o
produto final tenha sua qualidade e propriedades garantidas.

Experimental
º Materiais e equipamentos
- Matriz PEAD IA 59
- Fase dispersa: Resíduo de madeira
- Estufa
- Compatibilizante: Overac CA 167
- Balança
- Extrusora dupla rosca: Imacon
º Processamento de extrusão
Inicialmente pesou e dividiu-se os materiais em quatro composições (F1, F2, F3 e F4) cada
uma com 3Kg de peso em seu total, realizando logo após a pré mistura então, em seguida efetuando
os devidos ajustes de parâmetros, processou-se o material em uma extrusora (modelo DRC 30-40
IF, dupla rosca corrotacional, fabricada pela Imacon), cujo diâmetro de rosca é de 30mm e sua
razão L/D = 40.
Parâmetros do processamento:

Composição
F1 100%PEAD

F2 96%PEAD + 4%compatibilizante

F3 90%PEAD + 10%madeira

F4 86%PEAD + 10%madeira + 4%compatibilizante

Tabela 1 – Composição das formulações

- Velocidade do alimentador -> 6 RPM


- Rotação de rosca -> 90 RPM
- Perfil de temperatura (ºC) -> Z1 = 140; Z2 e Z3 = 170; Z4 = 165; Z5 e Z6 = 175;
Z7 = 190; Z8 = 195; Z9 = 205; Z10 = 210 e Z11 = 30.

º Processamento de injeção
Para a confecção dos corpos de prova, foi realizado o processo de injeção dos materiais por
uma injetora modelo (...), e seus parâmetros de processamento foram:
Formulações
Parâmetro
F1 F2 F3 F4
Pressão de injeção (Bar) 600 750 700 700
3
Velocidade de injeção (cm /s) 90 100 100 100-80-50-40
Temperatura do molde (ºC) 20 20 20 20
Tempo de resfriamento (s) 25 25 25 25

Tabela 2 – Parâmetros de processamento


Nas formulações que sucederam a F1 houve um aumento de pressão devido ao material está
sofrendo contração no momento da injeção e pelo aparecimento de rebarbas.
º Ensaio de impacto
O ensaio de impacto foi feito no equipamento Instron, modelo CEAST 9050, com martelo
de 2,7 J e configuração IZOD; 2 mm de entalhe, com a norma ISO 180 sendo utilizada para
obtenção dos parâmetros de ensaio. Cinco corpos de prova foram usados para cada formulação
processada.

º Ensaio de tração
Ensaio realizado em todas as formulações processadas, sendo 5 corpos de prova para cada
formulação e o ensaio foi realizado no equipamento universal de ensaios EMIC Modelo DL 2000 a
norma utilizada nos ensaios foi a ISO 527 .

Os dados obtidos nos ensaios foram organizados em tabelas para que se fizessem
posteriormente as devidas análises.

º Análise microscópica
Utilizando o microscópio eletrônico de varredura (MEV), realizaram-se análises das
formulações F3 e F4, processadas a fim de averiguar na primeira (F3) a adesão fibra/matriz e a
distribuição da fibra e na segunda, a influência do compatibilizante na adesão fibra/matriz.

Resultados e Discussão
º Características mecânicas
As propriedades mecânicas dos compósitos termoplásticos com madeira são de fundamental
importância.
A resistência ao impacto no âmbito dos compósitos termoplásticos tem relação direta com a
capacidade da matriz em dissipar energia e distribuir a carga do esforço com a fibra (no caso a
farinha de madeira).
Os resultados dos testes de impacto demonstram aspectos importantes observados com a
adição da farinha de madeira ao PEAD quando o compósito possui compatibilizante ou não. Com a
adição da farinha de madeira é possível se observar uma redução nos índices de resistência ao
impacto das F3 e F4 com relação à formulação de PEAD 100%, demonstrando que o uso do
compatibilizante, neste caso, implicou ao material uma diminuição ainda maior na resistência ao
impacto.
Índ. de resistência

Gráfico 1

Uma possível explicação para a redução da resistência ao impacto (capacidade de absorver e


dissipar internamente a energia) é que com a compatibilização das amostras pode ter causado maior
dificuldade de laminação da fibra na matriz, dificultando assim a dissipação de energia.
O aumento da tensão máxima à tração observado nas amostras com a farinha de madeira e
compatibilizante com relação às de F1 e F2, indicam uma melhor transferência de tensão da matriz
para o reforço de madeira na interface. Os módulos elásticos sofrem incrementos de pelo menos 200
Mpa com o aumento da quantidade de carga inserida nas formulações. Não foi possível
correlacionar o incremento dessa propriedade com a adição de compatibilizante por conta da faixa
do desvio padrão. Tal faixa não permite atribuir correlação.

Tensão máxima (Mpa)


Módulo elástico (Mpa)

Gráfico 2
Gráfico 3

º Análise microscópica
Através da microscopia eletrônica de varredura, feita com o MEV foi possível avaliar a
eficiência do processo de dispersão da carga de farinha de madeira na matriz termoplástica e a
eficiência do agente compatibilizante em proporcionar melhorias nas propriedades do compósito.
Figura 1 – MEV da formulação F3 Figura 2 – MEV da formulação F4

Nas imagens é possível observar um aumento na adesão interfacial da matriz com a farinha
de madeira devido à ação do compatibilizante, o que se relaciona diretamente com os resultados
obtidos nos ensaios de esforços mecânicos, contemplando um aumento nos índices de tensão
máxima a tração e diminuição na resistência ao impacto.
Conclusões
Com as análises feitas com base nos resultados experimentais e conhecimentos dispostos na
literatura, pode-se observar que o incremento da carga (farinha de madeira) na matriz de PEAD
proporcionou alterações significativas nas propriedades do material. A ação do compatibilizante
proporcionou ao material uma adesão mais efetiva, culminando em ligações melhores na interface,
demonstrando o quanto essa região influencia nas propriedades do material.

Agradecimentos
Agradecemos as estudantes do curso de Engenharia de materiais Amanda Dantas e Michele Mota
pelo enorme apoio na execução das atividades e a professora Joyce por todo conhecimento
ministrado que nos capacitou a tornar esse artigo possível.
Referências Bibliográficas
1. “Compósitos Termoplásticos com Madeira”: Carlos A. Correa, Carla N.P. Fonseca, Silmara
Neves, 2002, 1,
2. “Desenvolvimento de composto termoplástico – farinha de madeira – amido de milho para
moldagem por injeção”: M. DE O. Gondak, Universidade tecnológica federal do Paraná, 2005

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