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A temática desse Colóquio perseguiu uma dúvida: Quais são os fundamentos á , pela e
para a interdisciplinaridade na formação de Educadores?
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poderá ser melhor compreendido quando forem analisadas as condições culturais onde
forem gestadas as proposições para sua efetivação.
Fala-nos de uma produção francesa onde existe uma preocupação maior com algo por
ele denominado de saber-saber. Seus estudos são precedidos por uma cuidadosa revisão
histórico crítica dos trabalhos publicados pelos participantes do Colóquio ao longo de
suas vidas. Com referência aos francófonos Lenoir conclui ser motivo de preocupação
maior , questões referentes á como definir, conceituar e organizar , além da
rigorosidade nas revisões histórico críticas.
Lenoir detém-se brilhantemente na exposição de motivos que alicerçam sua forma
francófona de enfrentamento das questões interdisciplinares. Diz também que essa
forma de conceber está tão arraigada ás tradições francófonas que é necessário respeita-
la em sua especificidade e valor.
A seguir discorre sobre a cultura anglófona onde o como e o para que agir
interdisciplinarmente precisam ser igualmente contemplados. Denomina esse
movimento de saber fazer. Os procedimentos rigorosos . as etapas e os objetivos
necessitam estar devidamente arquitetados para que os projetos cheguem a bom termo..
Conhecedor da produção brasileira de alguns de seus pesquisadores principalmente
algumas das quase cem pesquisas por mim orientadas ensaia uma classificação que
estaria entre as duas anteriores, mas que ousadamente pelas próprias condições
culturais do educador brasileiro seriam convergentes á proposição de um saber ser .
Lenoir respeita a contribuição fenomenológica, os princípios dialógicos que tal
concepção contempla.
Na discussão que sucedeu a apresentação dos trabalhos brasileiros várias questões
foram colocadas,que em síntese apontam para o sentido de uma melhor explicitação
quanto á forma como utilizamos de recursos da memória e de metáforas em nossas
pesquisas.Essa foi uma importante contribuição crítica que ainda nos empenhamos em
responder...
Evidentemente que no calor da discussão Lenoir explicita que o respeito ás culturas é
algo primordial nas questões interdisciplinares e que a marca própria de cada cultura
apesar de predominante nunca pode ser admitida como exclusiva.
Julie Klein presente á discussão recoloca a questão alertando sobre quanto ainda
precisaremos avançar principalmente metodologicamente para alcançarmos a dimensão
de um saber ser.
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Afirma que essa forma demandaria uma nova epistemologia onde o desapego e o
respeito pudessem ser devidamente legitimados.
Recupera . também o fato de se tratar de um sonho antigo de Gusdorf descrito há mais
de quarenta anos.
Lenoir coloca em relevo o valor desse posicionamento que destaca a questão da
importância da intencionalidade, a necessidade do auto-conhecimento, da
intersubjetividade e do diálogo como centro de um saber ser compreendido como a
descoberta de si ,pressuposto ao estudo dos objetos inteligíveis e forma de atualização
das atitudes reflexivas sobre as diferentes ações.
Gerard Fourez como bom francófono trata cuidadosamente em seus estudos dos
fundamentos epistemológicos da Interdisciplinaridade.
Recupera os primeiros estudos da década de 70 do CERI/ OCDE- onde as definições de
disciplina, multidisciplina e pluridisciplina e mesmo interdisciplina aparecem de uma
forma padronizada. Atenta para o início do uso da palavra transdisciplinaridade ainda
indefinida naquele momento.Alerta-nos sobre os inconvenientes que surgem na
indefinição dos conceitos. A questão conceitual é tão relevante que determina a s
formas de intervenção Á seguir inicia uma argumentação em prol de uma cientificidade
nas práticas interdisciplinares,que sob sua ótica gerariam conhecimentos
representativos.
Para Fourez um conhecimento torna-se representativo quando proporcionar a
possibilidade de construir um produto concreto seja uma imagem, um discurso oral ou
escrito, uma maquete ou outra forma,que outorgue sentido á determinada discussão
projetada.
Diz-nos também do caráter provisório das representações e do cuidado para não as
fecharmos em algo absoluto.- elas constituem-se em reflexos da realidade em toda sua
complexidade.Melhor dizendo-em toda representação existe uma intencionalidade real
a ser especificada, cujo princípio funda-se no humano, sem ~ele torna-se impossível
inovar.Assim sendo disciplinas científicas para Fourez são formas de organizar nosso
mundo para que melhor possamos compreender sua dimensão histórica.Ressalta o
valor da invenção do conhecimento em disciplinas como algo extremamente importante
e significativo seja para o avanço intelectual seja para a divisão do trabalho.Agrega
ainda valor ás mesmas como formas de facilitação da aprendizagem.
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das novas descobertas, a renovação das fontes de inspiração, possam traduzir-se num
projeto de uma humanidade mais feliz.
Como as diferentes culturas enfrentam o dilema proposto nesse colóquio e que Lenoir
nos diria: saber saber, saber fazer e saber ser?
Compreendemos que o conhecimento surge no vértice dessa tríplice aliança. Como
construí-lo quando nossas universidades estimulam-nos a competitividade desenfreada,
onde nos cegamos pelo desejo de saber a qualquer custo, onde tememos por não saber e
onde nos angustiamos por algum dia nada termos de novo para oferecer?
Como exercitar a parceria, quando somos impelidos a acumular coisas, à defesa de
nossos particulares territórios, a um micro saber, a um micro poder, a um reinado sem
súditos?
Todos os trabalhos lá apresentados pretenderam discutir formas alternativas de eliminar
o vazio em torno de nós mesmos, nossa solidão.
Todos incitaram-nos ao ingresso na aventura de um saber conhecer.
Alguns tocaram no segredo maior do encontro de um ponto comum que possa resultar
em ilhas de racionalidade banhadas pela Paz.
Outros trataram de como passar de um saber mesquinho a um saber compartilhado.
Todos concordaram que à interdisciplinaridade cabe partilhar, não replicar.
Todos incitaram-nos a retirar das raízes da inteligência as qualidades do coração, onde
o entusiasmo e o maravilhamento estão ancorados.
Como Paul Ricoeur recuperado no Cahiers de L´Herne por Jacques Derrida, René
Remond e Julia Kristeva, o grupo neste colóquio caminhou em busca do sentido do
Reconhecimento, onde a cegueira dos especialistas será substituída pela compreensão
das situações complexas. Alguns trabalhos trataram do enfrentamento do supérfluo, ao
pesquisarem sua beleza, ao afinarem o espírito, retirando do intelecto, Arte.
Todos nossos trabalhos tiveram por comum o estímulo à liberdade do pensamento,
reafirmando que ao não pedirmos demissão da reflexão, nos aproximaremos do saber
do conhecimento.
A Interdisciplinaridade concebida nesse Colóquio pretendeu um diálogo entre pares,
capazes de compreender a mensagem das diferentes línguas nas suas entrelinhas.
A Interdisciplinaridade aqui arquitetada buscou a troca de idéias locais e sua
universalização, nesse sentido, pretendeu não confundir as coisas da lógica com a
lógica das coisas.
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Estivemos naquele tempo a nós reservado- quatro dias- protegidos do medo e da recusa
a que a estagnação do sistema educativo nos coloca. Tivemos condição de compreender
porque lá nos juntamos, pudemos discutir o porque o novo que pregamos incomoda em
qualquer cultura, por que desacomoda o instituído, o aceito.
A intenção foi pensar na confluência de nossos projetos individuais, na cooperação de
nossos saberes, a possibilidade de traçar metas comuns e articula-las.
Concluímos por vivenciar algo que a teoria sempre nos induz acreditar: no poder de
negociação a que a Interdisciplinaridade nos congrega.
Naquele Colóquio pudemos igualmente testemunhar a potencialidade da circulação de
conceitos e esquemas cognitivos, a emergência de novos esquemas e hipóteses, a
constituição da organização de novas concepções de educação.
Pudemos também aferir que essa força advém de uma parceria,diuturnamente
construída.
Outra conclusão a que chegamos analisando o produto de nossos estudos e pesquisas
foi que a atitude interdisciplinar quando cuidada em seus princípios epistemológicos e
praxeológicos poderá criar novos perfis de cientistas, desenvolver novas inteligências,
abrir a Razão para outras formas de conhecimento.
Outra constatação a que fomos conduzidos tratou da força mitológica de um novo
tempo, onde todos nós nos disporíamos a um processo de realfabetização, não apenas
do substantivo, mas do verbo, não mais do predicado, mas do sujeito, não mais do
modelo, mas da hipótese, não mais da resposta, mas da pergunta.
Quando da preparação desse Colóquio fomos surpreendidos por um texto/ presente de
Hilton Japiassú sobre o sonho interdisciplinar.Durante a gestação no ano que precedeu
sua realização o texto de Japiassú foi nosso fiel companheiro.
Japiassú arquiteta argumentos de um sonho de imaginar um mundo melhor cujo
utópico objetivo é a unidade do saber onde o desafio é a contradição entre os problemas
gerais, globais, interdisciplinares e os saberes fragmentados, parcelados.
Seu texto alimenta-nos com o gosto do risco, da inquietude latente do desapego das
falsas seguranças, da renovação das fontes de inspiração, da força incontrolável do
tempo, do crescimento arborescente dos saberes, do esfacelamento dos saberes
emudecidos.
Aponta as controvérsias da política educacional que recusa-se às exigências
interdisciplinares , a mesquinha sub-divisão da universidade em Departamentos, as
estratégias de fragmentação das disciplinas, o abandono das boas tradições, a recusa ao
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Nossa interlocução mais direta como dissemos foi com esses dois pesquisadores.
Uma síntese do que apresentamos como inquietações nossas sequenciam nossas
argumentações
Estudos de intervenção educativa apresentados por Lenoir em seu grupo de pesquisa
apontam para as dificuldades intrínsecas á própria natureza da construção das ciências
humanas impeditivas de interdisciplinarmente adentrar na dupla entrada do universo
humano de compreensão da realidade: social e ao mesmo tempo natural. Ao
desenvolvermos nossos estudos buscando acrescentar dados à construção de uma teoria
interdisciplinar de Educação passamos trinta anos investigando o cotidiano de
professores do ensino fundamental, médio e superior. Desenvolvemos muitas pesquisas
e orientamos um grande número de pesquisadores.
Verificamos nessa trajetória que a teoria que vem sendo construída, somente se
legitima na ação, então fomos experimentando formas diferenciadas de observação e
registro das ações cotidianas de professores. .
Nossa busca revelou professores muitas vezes perdidos na função de professar,
impedidos de revelarem seus talentos ocultos; anulados no desejo da pergunta,
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Que tipos de ação poderiam ser escolhidas para serem pesquisadas? Essa é uma
indagação freqüente. À resposta temos nos reservado o direito de nova pergunta: qual o
grau de compromisso que o pesquisador demonstra com a ação a ser pesquisada? Na
resposta a essa interrogação estão contidos princípios fundamentais à execução de uma
investigação interdisciplinar tais como o comprometimento, o envolvimento e o
engajamento. Perceber o grau de envolvimento do pesquisador com o objeto de
pesquisa envolve um trabalho paralelo de investigação sobre a intencionalidade e
origem das pesquisas. Gaston Pineau em seus mais recentes estudos categoriza este
trabalho numa tríplice dimensão: direção, significação e intenção. Vários dos trabalhos
por nós orientados nestes três últimos anos dialogaram recriando o esquema tripartite
de Pineau. Esse esquema foi particularmente interessante na medida em que auxiliou
nossos pesquisadores na compreensão e organização de suas práticas.
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