São Paulo 2020 RESPONDER AS QUESTÕES ABAIXO, CITANDO UMA DOUTRINA E, NO CASO PRÁTICO, UMA JURISPRUDÊNCIA.
1. Como se configura o princípio da finalidade?
No princípio da finalidade, o magistrado tem o aval para atuar ativamente, de forma a instruir o trabalhador, buscando uma solução mais justa para julgar o caso.
Com isso, no campo processual, podemos ver o juiz agindo em alguns
momentos, pois independentemente de pedido do requerente, o juiz poderá adotar medidas que entenda mais benéficas, buscando auxiliar a parte. Portanto, o juiz goza de competência para diligenciar em busca da verdade real.
Como explica Carlos Henrique Bezerra Leite:
[...] pode emergir um direito original e legítimo, mais à questão da
justiça do que aos problemas da legalidade, cabe a uma magistratura com um conhecimento multidisciplinar e poderes decisórios ampliados a responsabilidade de reformular a partir das próprias contradições sociais os conceitos fechados e tipificantes dos sistemas legais vigentes.”
2. Qual o significado do princípio da convalidação?
Detectado um ato processual que tenha violado uma norma de interesse da parte, existe a possibilidade de saneamento deste ato nulo, dando continuidade no processo, sem prejuízo aos atos em conformidade com a legislação. Este princípio é pertinente em casos como a preclusão, quando o ato atinge sua finalidade normativa.
O princípio da convalidação, previsto no art. 795 da CLT, é aplicado às
nulidade relativas, aquelas que devem ser apresentadas pelas partes em momentos oportunos, sob pena de não poder mencioná-las no processo em outras oportunidades. 3. Quando ocorre nulidade? Ocorre nulidade quando a inobservância da forma torna o ato processual ineficaz, tornando-o nulo.
Por ser o ato processual apenas um meio para se chegar ao direito
material pretendido, alguns atos que atinjam a finalidade cogitada, mesmo que agindo fora dos padrões da forma exigida, não serão considerados nulos.
Conforme o art. 794 da CLT, ocorrerá nulidade quando o ato ilegal
prejudicar as partes litigantes. Cabe as partes declarar a nulidade e argui-las na primeira vez em que tiverem audiências, ou nos autos do processo.
A nulidade fundada em incompetência de foro deve ser declarada ex
officio, portanto, os atos nulos serão considerados atos decisórios.
As nulidades podem ser absolutas e relativas: As nulidades
absolutas são as que tem normas processuais de interesse público violadas, normas indispensáveis que não podem ser afastadas por requerimento das partes, como questões de competência relativa ao processo em questão.
Por lidarem com matéria de ordem pública, as nulidades absolutas
podem ser conhecidas de ofício, não havendo preclusão.
Nas nulidades relativas, há a violação de normas processuais de
interesse privado, como a competência em razão do local da ação. A declaração de nulidade apenas ocorrerá diante de requerimento da parte prejudicada, na primeira oportunidade dentro do processo, sob pena de preclusão. 4. Qual a diferença entre preclusão e perempção? Preclusão é perda de direito de exercer algum ato processual, a preclusão pode ser temporal, lógica ou consumativa e não atinge o direito de executar a punição. A perempção, por sua vez, é uma sanção processual aplicada ao querelante que atuou com inercia ou negligencia.
Como Neves explica:
“A única exigência para que se verifique a perempção é o abandono
do processo por três vezes, não importando o motivo de tal abandono no caso concreto. Assim, a identidade exigida diz respeito apenas ao fundamento da extinção, mas não leva em conta as peculiaridades do caso concreto. Motivos diferentes levam à extinção pelo mesmo fundamento, gerando o fenômeno da perempção.”
Em suma, a diferença se dá, pois, a preclusão trata da perda do direito
de manifestação por decorrência do prazo a se manifestar sobre um direito especifico. A perempção, por sua vez, trata da perda do direito de ação pelo abandono de causa por 3 vezes ou pela inércia do autor. CASO PRÁTICO: Numa audiência trabalhista, em que o autor requer o pagamento de horas suplementares e verbas rescisórias, o juiz indefere a oitiva de uma testemunha do autor. Este protesta na audiência. Na sentença, o juiz reconhece o horário de trabalho noticiado na inicial. O autor recorre dizendo que foi cerceado (reduzido) o seu direito à prova. Há nulidade? Por quê?
R: O cerceio do direito de defesa está diretamente ligado a impasses na
produção da prova, sua necessidade e utilidade diante do processo.
As partes têm o direito assegurado de produzir as provas necessárias
para a resolução da lide. Por outro lado, o juiz tem prerrogativa de indeferir as provas que examine inúteis ou protelatórias no processo
Entretanto, em que pese ser competência do magistrado a avaliação da
prova em plena liberdade, deve ser assegurado às partes a possibilidade de fazer prova dos fatos que entendam necessário, sendo esta uma garantia constitucional, previsto no art. 5º, LV, da CF/88.
Neste sentido, decide a 2ª turma do Tribunal Regional do Trabalhoda5ª
região:
INDEFERIMENTO DA OITIVA DA PARTE. PREJUÍZO
PROCESSUAL DEMONSTRADO. NULIDADE. Demonstrado o prejuízo processual provocado pelo indeferimento da oitiva da parte e da produção de prova testemunhal, é imperiosa a decretação de nulidade da sentença por cerceamento do devido processo legal, devendo a instrução do feito ser reaberta no juízo de origem para tal finalidade. É o caso dos autos.(TRT-5 , Relator: RENATO MÁRIO BORGES SIMÕES, 2ª. TURMA)
Diante do caso exposto, é possível reconhecer nulidade relativa, pois,
mesmo apesentando vícios em sua formação, como o indeferimento da oitiva da testemunha, o ato mostra-se capaz de produzir efeitos processuais em questão. Contudo, a parte lesada pode requer a invalidação ato.
As nulidades infringem norma jurídica obrigatória e coercitiva, de
interesse das partes, podendo o juiz decretá-la, como citado acima, ex offício, assim como a parte afetada, estando sujeita à preclusão, nos termos do art. 245 caput, do CPC. O interessado, não alegando a nulidade em momento oportuno, sana tacitamente o vício.
Em suma, uma vez que os litigantes possuem o direito de produzir
prova de seus direitos, amplamente e com meios e recursos inerentes, constitui-se cerceamento do direito de produzir prova o mero indeferimento do pedido de oitiva das partes.
Por fim, mesmo sendo prerrogativa do juízo poder indeferir a oitiva de
testemunha das partes, só se pode considerar desnecessária a prova quando presente nos autos outra que comprove de forma irrefutável o objeto da confrontação, sob pena de caracterizar cerceamento do direito de defesa da parte, ou seja, ameaça a um direito constitucional. BIBLIOGRAFIA
1. LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do
Trabalho. 6ª ed., São Paulo: LTr, 2008. 2. NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual. Salvador: JusPodivm, 2016. 3. THEODORO,Humberto Jr.; Curso de Direito Processual Civil: Forense, 2007.