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* Essa classificação é adotada por Petchevsky17 (1981), base de grande parte da presente análise.
nas, apesar de que estas sejam muito mais ca-
ras e perigosas (Population Reports 14 ,
1978).
E isto é verdade não somente para o nú-
mero crescente de mulheres chefes de famí-
lia — mas também para as mulheres casadas
que trabalham fora, e que constituem o
grupo que mais aumentou sua participação
na força de trabalho na última década.
Essas mulheres acumulam uma dupla jornada
de trabalho, labutando longas horas fora de
casa ao mesmo tempo em que permanecem
as principais responsáveis pelo cuidado do
lar e dos filhos. Não é de surpreender que
uma proporção muito alta de mulheres se
concentre em empregos de tempo parcial e
nos incertos bicos da chamada economia
informal.
Na última década, o aumento das oportu-
nidades de emprego para mulheres, especial-
mente nas funções de serviços mais mal pa-
gos (Barroso e col.3, 1982), foi experimen-
tado por cada uma, no contexto de uma in-
flação crescente e de uma incapacidade das
famílias de manter o seu padrão de vida com
o salário de apenas um dos cônjuges. Esta
situação inevitavelmente viria afetar as deci-
sões sobre o crescimento da prole, mas as
escolhas das mulheres ficam ainda mais res-
tritas por uma série de fatores: por exemplo,
a generalizada carência de creches de boa
qualidade, a violência dentro da família
atingindo mulheres e crianças entre outros.
As condições econômicas afetam as mu-
lheres diferentemente, dependendo de sua
classe, raça, idade, situação conjugal e ocupa-
ção. A grande maioria das mulheres não
estão, como as trabalhadoras da indústria
química americana, em condições de esco-
lher entre a fertilidade e empregos melhor
remunerados. As mulheres não contam com
nenhum apoio da sociedade para a reprodu-
ção das novas gerações, seja como bóias-
frias nos canaviais paulistas, como quebra-
deiras de castanha em Belém do Pará, como
trabalhadoras a domicílio nas indústrias
de confecções do Rio de Janeiro. Como em-
pregadas domésticas à margem da legislação
trabalhista, como operárias que têm de se
submeter a humilhantes provas de não-
gravidez, como clientes das extorsivas clí- pode ser muito diferente do mito da liber-
nicas de aborto clandestino, diferentes gru- dade sexual projetado na retórica de merca-
pos de mulheres experimentam diferentes do da esterilização. Parece que muitas das
formas de opressão reprodutiva. Mas para mulheres que recorrem à esterilização estão
a maioria das mulheres, a crise econômica e entre as mais influenciadas pelas ideologias
a impossibilidade de a família servir como e relações sexuais tradicionais. A esteriliza-
refúgio seguro são determinantes estrutu- ção é o método de controle da fecundidade
rais da decisão de se submeter a uma cirur- mais afastado do ato sexual e, portanto,
gia irreversível para controlar a fecundidade. não tem nenhuma ligação direta com o exer-
Em face das conseqüências da materni- cício da sexualidade. Enquanto a prática do
dade, sem apoio de equipamentos sociais e aborto implica que um ato sexual foi pratica-
instituições públicas, sob condições de vida do, e o uso de métodos anticoncepcionais
extremamente difíceis, muitas mulheres estão articulados com o planejamento se-
sem dúvida escolhem — racionalmente, sem xual, o que significa consciência e volição,
coerção — a solução que oferece mais garan- uma mulher pode ser esterilizada e "esque-
tias contra a concepção. No entanto, o dese- cer do problema da procriação", evitando
jo de um método eficaz, que está na raiz do assumir-se como ser sexual ativo, que tem
crescimento das esterilizações, não pode ser desejos e é dona de seu corpo.
reduzido apenas a condições econômicas. Para as mulheres educadas para ignorar o
O controle da fecundidade também envolve próprio corpo, e se ater a normas sexuais
as questões relacionadas à autonomia e à de recato e passividade, com o medo de se-
autodeterminação da mulher. rem estigmatizadas como "imorais", a este-
rilização não apresenta os problemas de as-
sumir a responsabilidade pela atividade se-
CULTURA PATRIARCAL xual, e especialmente pela sua separação da
E SEXUALIDADE procriação.
Por outro lado, é também verdade que o
contexto material e sexual no qual uma mu-
A tendência à esterilização é reforçada pe- lher se encontra pode fazer com que a esteri-
los meios de comunicação de massa, aos lização seja o método que maximiza seu
quais têm comparecido diversos profissionais controle sobre sua própria vida. Se os com-
de saúde que apresentam a esterilização panheiros são hostis aos métodos anticon-
como um meio normal de controle da fe- cepcionais ou não querem assumir nenhuma
cundidade. Por vezes, a promoção da es- responsabilidade, as mulheres podem preferir
terilização é acompanhada da promessa de o método que é o menos conspícuo, o mais
um bonus especial de "uma vida sexual sem garantido e o menos dependente da coopera-
preocupação"8. Os advogados da esteriliza- ção masculina.
ção apreendem a ideologia dominante da
"liberação sexual", recuperada dos movi-
POLÍTICA DE SAÚDE
mentos feminista e homossexual, e transmi-
tem a noção de que a esterilização poderia
dar uma solução tecnológica rápida não só Atualmente a contracepção é uma indús-
para a chamada explosão populacional mas tria controlada por interesses econômicos
também para os problemas sexuais do in- altamente concentrados — as companhias
divíduo. farmacêuticas multinacionais,* a rede hos-
Para muitas mulheres, no entanto, o sexo pitalar privada, a medicina de grupo e as ins-
* * Estima-se que mais de1 bilhão de dólares sejam gastos anualmente no planejamento familiar nos paí-
ses subdesenvolvidos. A maior parte destes recursos (cerca de 450 milhões de dólares) provêm dos go-
vernos de países desenvolvidos e de instituições privadas. (Population Reports 21 ,1983).
co assume um papel decisivo na definição 1979), e as pesquisas mostram que grande
das escolhas da mulher. número de mulheres não recebem assistência
Evidentemente, porém, os produtores pré-natal, e em certas regiões do interior
e fornecedores das mercadorias de contra- menos da metade das mulheres fazem seu
cepção não impõem seus métodos preferi- parto em hospitais.
dos sem ter de se acomodar às necessidades Por sistemáticas que tenham sido as cam-
percebidas pelas mulheres. A política da re- panhas dos neomalthusianos para promover
produção segue um processo sutil de nego- a idéia de que a redução da natalidade seria
ciação e luta. A prevalência de um método, importante para a solução de todos os pro-
num determinado momento, tem tanto a blemas sociais que nos assolam, desde a po-
ver com estratégias para manutenção do con- luição, a dívida externa, até o desemprego,
trole, legitimidade política e ausência de não foram suficientes para dar a todas as
resistência organizada quanto com a lucrati- mulheres interessadas o acesso a meios anti-
vidade ou eficácia demográfica. Isto explica, concepcionais ideias, ou seja, seguros, inó-
por exemplo, porque o uso do DIU ainda cuos, reversíveis, de baixo custo e de fácil
não é mais disseminado no país. uso. (Aliás, nem é de interesse dos controlis-
tas promover o acesso amplo a métodos re-
POLÍTICA DEMOGRÁFICA versíveis pois dependem da motivação indi-
A política do governo brasileiro ao lon- vidual e, portanto, não são os mais eficazes
go dos últimos 20 anos tem sido marcada do ponto de vista da redução da natalidade).
por contradições e ambigüidades, tanto a ní- Mulheres que querem evitar a gravidez en-
vel da retórica oficial quanto a nível das me- frentam dificuldades que vão desde a falta de
didas concretas.* As contradições de interes- acesso às informações necessárias até a ex-
ses antagônicos entre facções internas dos posição ao risco de efeitos danosos à saúde
diferentes grupos que detêm o poder, resul- causados pela ingestão de pílulas sem o devi-
taram numa política de acomodação onde do acompanhamento médico. Não é de sur-
coexistem a omissão de um programa glo- preender que a esterilização definitiva lhes
bal e o apoio, ao nível dos governos esta- pareça uma alternativa tentadora.
duais, à atuação de entidades privadas finan- Pelo mesmo motivo que não interessa
ciadas por organismos estrangeiros sobre os aos controlistas a plena disseminação de mé-
quais não têm controle. todos que dependam da persistência da von-
Como não poderia deixar de ser, os efei- tade de não ter filhos, também não lhes in-
tos dessa política sobre o exercício da liber- teressa tornar o aborto mais seguro e acessí-
dade reprodutiva são também contraditórios, vel, através de sua descriminalização. Per-
embora sempre restritivos — numa direção manecendo ilegal, o aborto apresenta um sé-
ou noutra. rio risco para as mulheres que decidem inter-
Por fortes que tenham sido as profissões romper uma gravidez que não conseguiram
de fé natalistas não foram suficientes para evitar. Pagando exorbitâncias incompatíveis
promover um sistema de saúde que desse à com seus minguados salários e entregando
gestação, ao parto e ao puerpério, uma aten- seus corpos a mãos sobre cuja qualificação
ção adequada tanto do ponto de vista quan- não há nenhum controle social, muitas des-
titativo quanto qualitativo. Não é de sur- sas mulheres são levadas a optar "livre e ra-
preender que mulheres procurem limitar a cionalmente" pela solução definitiva da es-
prole para preservar sua saúde pois a taxa terilização.
de mortalidade materna por complicações Em relação à esterilização, a política ofi-
do parto é nove vezes maior no Brasil cial apresenta uma forma curiosa de acomo-
do que nos países desenvolvidos (Alcântara1, dação. Ao mesmo tempo em que, como vi-
* Há várias análises sobre o assunto. Veja-se, por exemplo: Camargo e col.7 (1978) e Barroso e col.2
(1980).
mos, a esterilização vem sendo praticada vezes a informação, quando não totalmente
em larga escala no país, inclusive pelo sonegada, é apresentada de forma distorcida.
INAMPS; o Ministério da Saúde e o Conse- Este problema se refere especialmente à re-
lho Federal de Medicina não adotaram a pro- versibilidade e aos possíveis efeitos secundá-
posta que lhes foi encaminhada em 1981 rios.
pelo congresso de ginecologistas brasileiros Uma Cartilha Pró-família 8 , programa en-
no sentido de alterar a legislação para per- saiado pelo governo de São Paulo, em 1981
mitir a laqueadura por indicação médica e dizia simplesmente que a reversibilidade da
vontade da paciente. Dessa forma, esta cirur- ligadura de trompas é possível em 70% dos
gia, que se torna cada dia mais comum, man- casos. Os meios de comunicação brasileiros
tém um caráter de semiclandestinidade, o têm reproduzido declarações de ginecologis-
que impede sua regulamentação e fiscaliza- tas afirmando altos índices de reversibilida-
ção. de. Embora seja auspicioso o desenvolvimen-
Com isto, abrem-se as portas a abusos to da microcirurgia que possibilita alguma
muito sérios, que restringem ainda mais os esperança às mulheres e aos homens que mu-
limites ao exercício da liberdade reprodu- daram de idéia depois de esterilizados, é
tiva. altamente temerário alardear uma reversi-
Oficialmente, as próprias agências interna- bilidade que depende de inúmeros fatores,
cionais, oficiais e privadas que financiam o tais como o tipo de método de oclusão tu-
planejamento familiar não dão seu apoio a bária, a técnica de reversão empregada, o
práticas de esterilização compulsória. Docu- período de tempo decorrido desde a esteri-
mentos da USAID e da IPPF ("International lização, a alta perícia do cirurgião entre ou-
Planned Parenthood Federation") incluem tros, e que, devido a seus altos custos, é
entre os requisitos para a esterilização a docu- praticamente inacessível à maioria da popu-
mentação do consentimento consciente lação.
("com o pleno conhecimento dos riscos e Seria mais prudente e honesto enfatizar
benefícios à saúde e ao bem-estar associados que a esterilização só deve ser utilizada
à esterilização"), o acesso imediato a ou- por pessoas absolutamente seguras de que
tros métodos anticoncepcionais, a manuten- não desejam ter mais filhos, sob quaisquer
ção de serviços de alta qualidade e a proibi- circunstâncias: mudança de parceiro, mudan-
ção do incentivo financeiro de clientes em ça de situação de vida, morte eventual de
potencial (Population Reports14, 1978). um filho entre outras. Mesmo porque, uma
Na prática, porém, não tem havido gran- fonte respeitável como o Population Re-
des esforços para garantir essas condições in- ports10 (1980) indica um índice de apenas
dispensáveis ao exercício consciente de uma 10 a 50% de reversibilidade, tanto para a la-
opção de tão amplas repercussões para o parotomia abdominal clássica como para as
indivíduo e para a sociedade. técnicas mais modernas de esterilização femi-
Ainda que no Brasil não seja usada a coer- nina.
ção pelo oferecimento de dinheiro, como Quanto aos efeitos secundários uma fon-
acontece na Índia, dificilmente são forneci- te francamente favorável à esterilização e
das todas as informações necessárias para um que, portanto, não tem nenhum interesse
consentimento consciente. em exagerar seus riscos, (Population Re-
Muitas vezes, a linguagem usada é incom- ports 10 , 1980) diz o seguinte:
preensível para o usuário. Numa clínica de "Todo procedimento cirúrgico é poten-
São Paulo há um formulário a ser assinado cialmente perigoso e deve ser praticado
pelo paciente declarando saber tratar-se de com cuidado. Na vasectomia, embora se-
operação irreversível. Ora, esse vocábulo jam muito raras, têm ocorrido complica-
certamente não faz parte do patrimônio lin- ções graves em cerca de 1% dos casos. . .
güístico da maioria da população. Nos procedimentos femininos, a freqüên-
Pior que a linguagem rebuscada, muitas cia de complicações graves é maior do que
na vasectomia. . . Se forem usados proce- denunciou à Justiça que ela e sua irmã ha-
dimentos e padrões médicos aceitos, a viam sido esterilizadas em 1964 sem consen-
vasectomia virtualmente não implica risco timento delas ou de seus pais, quando ti-
de morte, ao passo que a ligação tubária nham 12 e 14 anos respectivamente. 17 Em
acarreta leve risco. . . Cerca de 95% dos resposta à indignação da opinião pública,
homens e pouco mais de 95% das mulhe- o governo americano em 1974 baixou nor-
res disseram que seu prazer sexual aumen- mas para a execução de esterilizações. As
tara ou não se alterara (após a cirurgia)." normas atualmente em vigor proíbem a rea-
lização de histerectomia para esterilização
e estabelecem procedimentos precisos para
(Observa-se o subterfúgio de não explicitar obtenção do consentimento bem-informado
a percentagem dos que acharam que seu de- da pessoa. Não é permitida a obtenção de au-
sejo diminuíra, embora naturalmente um lei- torização durante o parto, o aborto ou sob
tor menos distraído possa fazer facilmente a a influência de drogas. O paciente deve as-
subtração). sinar um formulário aprovado pelo governo,
Nada disso consta da Cartilha Pró-famí- no qual estão listados, numa linguagem facil-
lia8. Há, pelo contrário, uma negação pe- mente compreensível, a natureza, os riscos
remptória do risco de diminuição do desejo e as conseqüências do procedimento, assim
sexual, e se chega a acenar com o bônus ex- como dos outros métodos de contracepção.
tra da "confiança para levar uma vida sexual Além disso, o paciente deve ser informado
sem preocupação". Haverá alguém que ainda de que não perderá nenhum benefício ou
acredite que a única "preocupação" da vida serviço médico se não desejar ser esteriliza-
sexual seja o risco de uma gravidez indeseja- do, ou se mudar sua decisão entre a data de
da? assinatura do consentimento e a realização
Tudo isto representa um sério desrespeito da cirurgia, período de 30 dias exigido para
à necessidade de as pessoas terem plena par- que o paciente evite tomar decisões intem-
ticipação em decisões fundamentais para pestivas.
sua felicidade pessoal. Mas os problemas
não param aí. COMENTÁRIOS FINAIS
O mais grave de tudo é que um número
desconhecido de esterilizações tem sido rea- O problema da esterilização apresenta de
lizado sem o consentimento e até mesmo forma mais aguda e dramática as dificulda-
sem o conhecimento das pacientes. Em des que as mulheres enfrentam no controle
1980, uma mulher denunciou à delegacia de de sua vida reprodutiva, de um modo geral.
Osasco ter tido suas trompas ligadas durante A análise deste problema deixa claro que
uma cesariana, sem autorização prévia sua somente a construção de uma sociedade
ou de seu marido (Barroso2, 1980). Abusos mais justa, igualitária e livre possibilitará
semelhantes não parecem ser raros. a todos o pleno exercício do direito de de-
O que é simplesmente estarrecedor é sejar ou de não desejar ter filhos e agir de
que o poder médico está de tal forma acei- acordo com esse desejo.
to e legitimado no Brasil, que considerá- No entanto, há uma série de medidas que
veis parcelas da população e dos profissio- poderiam e deveriam ser implantadas desde
nais da medicina não questionam o direito já, a fim de que as restrições que atualmente
do médico de decidir unilateralmente ques- pesam sobre a liberdade de escolha possam
tões vitais como a cessação definitiva da ser minoradas.
capacidade de procriar de uma pessoa. No relatório preparado para o Unicef,
Em outros países as feministas desenvol- em 1982, (Barroso e col.3) foi feita série
vem amplas campanhas para combater os de recomendações, complementares e mu-
abusos de esterilização. Nos Estados Unidos, tuamente dependentes, que, no seu conjun-
a luta iniciou-se quando uma jovem negra to, focalizavam a questão específica da mu-
lher como um elemento, muito importante, Na verdade esse debate já está sendo le-
dentro de uma estratégia global para promo- vado pelo movimento feminista que, em
ver a plena participação de todos os brasi- março último, promoveu um Encontro de
leiros. Saúde, com representantes de 57 grupos de
No que se refere ao planejamento fami- todo o país, no qual aprovaram um manifes-
liar, essas recomendações incluiam o seguin- to em que reivindicam o fornecimento de
te: meios anticoncepcionais sob controle médi-
"Deve-se proporcionar às mulheres o aces- co, através de uma ampla rede de serviços,
so a meios anticoncepcionais seguros, o estabelecimento de um programa de educa-
com acompanhamento médico. Paralela- ção sexual e o direito ao aborto.9
mente, será necessário incentivar a parti- Essas reivindicações são entendidas como
cipação masculina na responsabilidade parte de um plano global de atendimento à
pela concepção e pela anticoncepção, mulher durante todas as fases da vida. Essa
e coibir os abusos na esterilização prati- mesma idéia norteou o grupo de estudos so-
cada sem pleno consentimento e conhe- bre saúde, do Conselho Estadual da Condi-
cimento da paciente, quanto à sua irrever- ção Feminina, do Governo de São Paulo.*
sibilidade. Deve-se a todo custo, evitar Além do caráter globalizante, suas propos-
imposições no sentido de constranger a tas diferem dos atuais programas de plane-
mulher a ter ou não ter filhos. Igualmente jamento familiar em dois pontos essenciais:
deve-se combater a idéia falaciosa de que o respeito à liberdade da mulher e do ho-
a pobreza é causada pelo grande número mem quanto a sexualidade e a reprodução e
de filhos. Propiciar às mulheres a informa- a ênfase na participação popular, tanto a
ção e a oportunidade de debaterem livre- nível dos métodos de ensino quanto a ní-
mente entre si os seus problemas será vel da orientação e controle do próprio pro-
fundamental para que possam optar cons- grama.
cientemente e usufruir do seu direito de
dispor de seu próprio corpo, de sua sexua-
lidade e de sua vida". (Barroso e col.3,
1982) *Informação pessoal.
BARROSO, C. [Female sterilization: free choice and oppression]. Rev. Saúde públ., S. Pau-
lo, 18: 170-80, 1984.
ABSTRACT: Female sterilization has increased extraordinarily in the last few years in
Brazil. In some Northeastern States, it is already the most common contraceptive method
used, as it is provided by state and municipal hospitals and National Institute of Medical and
Social Welfare. In spite of a large number of abuses, when women are sterilized without their
informed consent, it is likely that a large proportion of sterilizations are actively sought
by clients. However, this happens in response to a series of options which the women, as in-
dividuals, are powerless to change. These options arise from social determinative factors
such as: the disavantages of the woman's position in the family and in the labor market,
the patriarchal culture, commoditization of health and demographic policies.
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