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COMENTÁRIOS AO ART.

56 DO CPC1
José Roberto Dos Santos Bedaque

Art. 56 - Quem pretender, no todo ou em parte, a coisa ou o


direito sobre que controvertem autor e réu, poderá, até ser
proferida a sentença, oferecer oposição contra ambos

Oposição é demanda mediante a qual terceiro deduz, em processo pendente,


fundamentos pelos quais a coisa ou o direito discutido entre autor e réu lhe pertence.
É ação movida ao autor e ao réu, por quem não é parte, visando ao reconhecimento
de direito real ou pessoal sobre o mesmo bem da vida objeto do processo em curso.
 
O opoente formula pretensão dirigida às partes originárias do processo, por considerar-
se titular do domínio ou de outro direito real sobre a coisa, incompatível com aquele
pretendido pelas partes.
 
Em demanda reivindicatória, terceiro pode, alegando qualquer dos meios de aquisição
da propriedade, apresentar pedido de reconhecimento desse direito, em detrimento
das razões sustentadas pelas partes.
 
Também admissível a oposição, se o terceiro pretender o reconhecimento da
titularidade sobre o direito pessoal controvertido no processo. O crédito, cuja
satisfação é pretendida pelo autor e negada pelo réu, pode ser pleiteado pelo opoente,
sob o fundamento de que é cessionário, por exemplo.
 
A oposição não se confunde com os embargos de terceiro. Por esse processo
incidental, o terceiro pretende apenas seja desconstituída a constrição judicial. O
pedido é mais restrito do que o deduzido pelo opoente, que pretende o
reconhecimento do direito sobre o bem.
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Assim, em demanda possessória, deferida a liminar, cabíveis embargos de terceiro ou
oposição, dependendo da causa petendi e do pedido formulados pelo terceiro. Se
afirmar que a medida judicial atingiu imóvel seu, estranho ao objeto do processo,
razão por que entende incabível a constrição, adequados os embargos. Caso pretenda
opor-se à pretensão do autor, por considerar-se titular do mesmo direito deduzido na
inicial, deverá valer-se da oposição: a pretensão dos apelantes está fundada em
suposta posse exercida sobre imóvel, objeto de disputa em demanda possessória entre
o apelado e terceiro. Afirmam que a liminar deferida naqueles autos abrange a área
por eles possuída.
 
Verifica-se, pois, que o bem indicado pelos apelantes constitui objeto de outro
processo. Nessa medida, a constrição judicial não recaiu sobre imóvel estranho ao
litígio entre o apelado e terceiro.
 
Os apelantes, na verdade, deduzem pretensão sobre bem objeto de processo em
curso. Todos se dizem possuidores do imóvel, inclusive eles.
 
Configura-se hipótese típica de oposição parcial, pois o pedido dos apelantes refere-se
a parte da área disputada em demanda possessória (cfr. Celso Agrícola Barbi,
Comentários ao Código de Processo Civil, vol. I, tomo II, Forense, 1.977, pp. 312 e
315).
 
Não pretendem eles apenas livrar o imóvel da constrição judicial, mas obter o
reconhecimento de seu suposto direito sobre o bem, a respeito do qual autor e réu
disputam a posse em outro processo. A pretensão se opõe à de ambas as partes de
processo anterior, o que torna adequada a oposição (JTA-Lex 104/105; Theotonio
Negrão, Código de Processo Civil e legislação processual em vigor, 27ª ed., p. 118,
nota n. 4 ao art. 56).
 

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Aliás, ao que parece, os apelantes adquiriram coisa litigiosa (cfr. fls. 345/349), mais
uma razão para considerá-los carecedores dos embargos (cfr. STJ, REsp n. 9.365-SP,
Rel. Waldemar Zveiter, j. 04.06.91). (Apel. n. 696.124-8, Ibiúna, 1º TACSP, 12ª Câm.,
por mim relatada, j. 5.12.96, m.v.)
 
A oposição pode ser oferecida até a sentença. É incidente típico do processo de
conhecimento: a oposição configura modalidade de intervenção de terceiros típica de
processo cognitivo. Sua finalidade é possibilitar a quem não integra a relação
processual deduzir pretensão fundada em direito real, sobre o qual controvertem autor
e réu (CPC, art. 56). Isso para que a sentença defina o real titular do interesse
protegido.
 
Verifica-se, pois, que duas razões impedem seja a oposição admitida em processo
executivo. Primeiro, porque não se discute a respeito de posse ou propriedade de bem.
Além disso, inexiste sentença reconhecendo direito a qualquer das partes.
 
Se os apelantes pretendem seja-lhes assegurada a posse ou propriedade de imóvel
submetido à constrição judicial em processo de execução, devem valer-se da via
processual adequada. A oposição seguramente não se presta a esse objetivo.
 
São eles, portanto, carecedores da ação, visto que pleitearam tutela jurisdicional
inadequada para a situação fática descrita na inicial. Não têm interesse processual.
 
Ainda que por fundamento diverso, mas análogo, deve ser integralmente mantida a r.
sentença. (Apel. n. 728.587-4, São José dos Campos, 1º TACSP, 12ª Câm., por mim
relatada, j. 3.4.97, v.u.).
 
Em princípio, a admissibilidade da intervenção está restrita ao procedimento ordinário,
tendo em vista a restrição estabelecida no art. 280 e a incompatibilidade com os
procedimentos especiais, salvo aqueles que, após determinado ato, seguem o

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ordinário. Observa a doutrina ser possível a oposição autônoma (v. comentários ao art.
60) em qualquer procedimento, exatamente por não caracterizar intervenção de
terceiro.
 
Ocuparão o pólo passivo, em litisconsórcio necessário e unitário, as partes originárias,
cujas pretensões são incompatíveis com a formulada pelo opoente. Daí afirmar-se a
natureza bifronte da demanda por ele deduzida, pois resulta da cumulação de dois
pedidos. Autor e réu serão obrigatoriamente réus e o resultado do julgamento, no
plano jurídico material, deve ser compatível, coerente para ambos
 
A oposição, interventiva ou autônoma, é resultado do exercício do direito de ação. Se
não proposta, o resultado do processo, ainda que eficaz perante terceiros, não
impedirá o reexame da matéria em outra sede, por iniciativa daquele que poderia ter
sido opoente. Ele não está sujeito à imutabilidade da sentença, visto que não
participou do processo (art. 472). Mas, para evitar possíveis efeitos danosos do
julgamento em sua esfera jurídica, pode deduzir sua pretensão no processo em curso,
pela via da oposição, que encontra fundamento também no princípio da economia
processual.
 
Como o processo tem início com a propositura da ação, a partir de então, a oposição
torna-se admissível. Desnecessário aguardar a citação, mesmo porque o terceiro já
pode estar sofrendo algum efeito danoso em razão da demanda inicial, como a
concessão de tutela antecipada, por exemplo.

COMENTÁRIOS AO ART. 58 DO CPC2


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“Art. 58 - Se um dos opostos reconhecer a procedência do pedido,


contra o outro prosseguirá o opoente.”

Qualquer dos opostos, autor ou réu da demanda originária, poderá


reconhecer o pedido formulado pelo opoente.

Nesse caso, mediante decisão interlocutória de mérito (arts. 162, §


2o e 269, II), o juiz excluirá a parte do processo, que prosseguirá
apenas entre o opoente e o oposto remanescente, em relação a quem
foi deduzida pretensão diversa. Trata-se de solução idêntica à
adotada em qualquer processo de que participem vários sujeitos no
pólo passivo. Se apenas um dos litisconsortes reconhecer o pedido,
somente ele deixará de ser parte e o processo não será extinto.

Uma peculiaridade no litisconsórcio entre opostos deve ser destacado.


Não obstante unitário, eventual reconhecimento do pedido feito na
oposição por apenas um deles é eficaz, pois vai atingir apenas sua
esfera jurídica, sem interferir na do outro, que poderá continuar na
defesa do respectivo interesse. Unitariedade aqui significa resultado
homogêneo para os opostos (procedência ou improcedência da
oposição). Mas a eficácia desse julgamento na esfera jurídica de cada
um deles é diversa, tornando possível que apenas um pratique atos
de disposição de vontade, sem que o outro seja atingido.

Assim, por exemplo, eventual reconhecimento feito pelo autor implica


extinção da demanda originária por renúncia, pois se o direito é do
opoente não pode pertencer-lhe, bem como da oposição a ele
dirigida. Mas o processo, originário ou incidental, o que depende da
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modalidade de oposição, continuará com o outro oposto no pólo


passivo.

O ato pelo qual o juiz homologa o reconhecimento, exclui o oposto do


processo e determina o prosseguimento contra o outro configura
decisão interlocutória, passível de agravo (art. 522).

A revelia de apenas um dos opostos não implica incidência dos efeitos


inerentes a esse comportamento (art. 319 e 334, III), pois a
contestação do outro litosconsorte torna os fatos controvertidos.
Além do mais, o juiz deve levar em conta as alegações feitas na
demanda originária, inclusive pelo oposto contumaz, pois em
princípio haverá incompatibilidade entre elas e as afirmações do
opoente. Também não se deve extrair da revelia na oposição
conseqüências para a ação principal. Ainda que um dos opostos não
se defenda, não significa devam ser desconsiderados os fundamentos
por ele deduzidos anteriormente.

Assim, a falta de contestação do autor-oposto não impede a


improcedência da oposição e a procedência do pedido por ele
formulado na ação. Também a não apresentação de defesa pelo réu-
oposto não obsta a improcedência de ambas as demandas.

COMENTÁRIOS AO ART. 59 DO CPC3


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“Art. 59 - A oposição, oferecida antes da audiência, será apensada


aos autos principais e correrá simultaneamente com a ação, sendo
ambas julgadas pela mesma sentença. “

A oposição deduzida antes da audiência de instrução e julgamento é


demanda incidental, ou seja, não dá origem a nova relação
processual. Tanto quanto a declaratória incidental e a reconvenção,
configura ação movida no processo em curso. Ambas as ações,
principal e oposição, desenvolver-se-ão na mesma relação jurídica e
devem ser decididas simultaneamente, isto é, na mesma sentença. É
denominada oposição interventiva.

Muito embora, no mesmo ato, o juiz julgue ação e oposição, ou seja,


resolva a pretensão inicial e a incidental, nem se pense na existência
de decisão interlocutória embutida na sentença, apenas porque
decidido o incidente de oposição.

A observação nem seria necessária, pois evidentemente o ato é um


só, ainda que nele sejam decididas questões incidentais. Se, não
importando o conteúdo, o processo foi extinto, o juiz proferiu
sentença.

Ocorre que vem ganhando força a orientação, segundo a qual a


concessão de tutela antecipada na sentença configura decisão
interlocutória, passível de agravo. Tal conclusão é injustificável, pois
não atende ao conceito de sentença, estabelecido no art. 162, § 1o.

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Por isso, vale insistir na afirmação de que o julgamento conjunto da


ação principal e da incidental, representada pela oposição, configura
sentença e é passível de apelação.

Somente se algum acontecimento impede o prosseguimento da


oposição, como rejeição liminar da inicial, porque não atendidos os
requisitos legais (art. 57), proferirá o juiz decisão interlocutória, com
o que porá fim apenas ao incidente processual instaurado com a
oposição, não ao processo.

Apenas neste caso, cabível o recurso de agravo (arts. 162, § 2o e


522). Mas, como existe divergência a respeito da natureza do ato,
admite-se a incidência do princípio da fungibilidade, como se verifica
no julgamento da Apel. n. 570.309-9, SP., 1º TACSP, 12ª Câm., j.
30.11.95, v.u., por mim relatada: inicialmente, cumpre assinalar que
o pronunciamento judicial que indefere inicial de oposição é decisão
interlocutória, pois não coloca fim ao processo. A oposição
interventiva, demanda movida pelo opoente aos opostos no mesmo
processo, configura mero incidente processual. Sua rejeição liminar
não implica extinção da relação anteriormente instaurada (cfr.
Cândido R. Dinamarco, Litisconsórcio, Malheiros Editores, 3ª ed., p.
37; Arruda Alvim, Código de Processo Civil comentado, vol. III, RT,
1.976, p. 150).

Há quem sustente, todavia, tratar-se de sentença (cfr. Vicente Greco


Filho, Intervenção de terceiros, Saraiva, 2ª ed., p. 79; Theotonio

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Negrão, Código de Processo Civil anotado, Saraiva, 26ª ed., p. 121,


art. 59, nota 1a).

Diante dessa divergência, incide o princípio da fungibilidade dos


recursos, pois a existência da dúvida objetiva a respeito da natureza
da decisão torna escusável o erro do recorrente e possibilita o
conhecimento do recurso.

Irrelevante o fato de a apelação ter sido interposta após o prazo de


cinco dias previsto para o agravo, pois, se o erro é justificável, não se
pode exigir do recorrente que utilize prazo previsto para recurso
diverso daquele interposto (assim, Tereza Arruda Alvim Pinto,
"Dúvida" objetiva: único requisito para a aplicação do princípio da
fungibilidade, in REPRO n. 65, jan/mar de 1992, pp. 56/74; cfr. Apel.
n. 549.831-3, Santa Izabel, 1º TACSP, 12ª Câm., j. 27.04.95).

COMENTÁRIOS AO ART. 60 DO CPC4


José Roberto Dos Santos Bedaque

“Art. 60 - Oferecida depois de iniciada a audiência, seguirá a


oposição o procedimento ordinário, sendo julgada sem prejuízo da
causa principal. Poderá o juiz, todavia, sobrestar no andamento do
processo, por prazo nunca superior a 90 (noventa) dias, a fim de
julgá-la conjuntamente com a oposição. “

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Tem-se entendido que, se oferecida a oposição após iniciada a audiência de instrução,


como o legislador determina a adoção do procedimento ordinário, instaura-se nova
relação processual, não mero incidente do processo originário.

Em razão dessa autonomia, o julgamento da oposição não necessita ser simultâneo ao


da demanda inicial. Como são processos autônomos, podem ser decididos
separadamente.

Essa independência adotada pelo legislador destina-se a evitar que a oposição,


apresentada em momento já avançado do processo inicial, acabe por retardar
indevidamente a entrega da tutela jurisdicional.

Não obstante, em decorrência da relação de prejudicialidade, conveniente o


julgamento conjunto. Por isso, autoriza-se a suspensão do processo por até 90 dias, a
fim de que o juiz profira julgamentos simultâneos.

Embora nada disponha a respeito, não há impedimento a que, finda a suspensão, os


processos sejam reunidos e decididos na mesma sentença.

A única razão para a autonomia procedimental da oposição oferecida após o início da


audiência é de ordem temporal. Entendeu-se inconveniente manter-se a intervenção
como incidente, porque o andamento do processo originário certamente ficaria
prejudicado.

Mas, determinada a suspensão e verificada a identidade quanto à fase dos respectivos


procedimentos, devem os processos ser reunidos para julgamento único, tal como se
dá com a conexão (art. 105).

A oposição autônoma não configura, portanto, forma de intervenção


de terceiros no processo. Dá origem a nova relação jurídica
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processual.

O julgamento da oposição, nesse caso, caracteriza sentença, passível


de apelação.

COMENTÁRIOS AO ART. 60 DO CPC5


José Roberto Dos Santos Bedaque

“Art. 61 - Cabendo ao juiz decidir simultaneamente a ação e a


oposição, desta conhecerá em primeiro lugar. “

Verificada a hipótese de julgamento conjunto, deve ser decidida antes a oposição, pois
a pretensão deduzida pelo opoente é prejudicial em relação à originária.
 
De fato, se procedente o pedido formulado pelo opoente, será rejeitada a demanda
inicial. Haverá exame do mérito desta última, não sendo adequadas outras fórmulas
normalmente empregadas, como prejudicada ou carência por falta de interesse.
 
O acolhimento da oposição implica reconhecer que a causa de pedir deduzida pelo
autor, na demanda inicial, é infundada.
 
Aceita essa premissa, se o tribunal der provimento a eventual recurso de um dos
litisconsortes-opostos, poderá desde logo passar ao julgamento do pedido formulado
inicialmente. A solução proposta não desatende a qualquer postulado maior do sistema
e tem a vantagem de proporcionar maior rapidez na entrega da tutela jurisdicional.
 
Daí a necessidade, nesse caso, de que ambos os opostos recorram, deduzindo todas
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as razões por que se consideram titulares de interesse passível de proteção.


 
O autor deve pleitear a modificação total da sentença, para que seja rejeitada a
oposição e acolhido o pedido inicial. Já o réu postulará somente a improcedência da
oposição e caso não apele, será intimado para responder ao recurso do autor, pois tem
interesse na manutenção parcial do julgado de 1o grau.
 
Com relação à sucumbência, à luz do princípio da causalidade, responderá o autor,
sozinho, pelas despesas e honorários relativos à ação que propôs. Quanto à oposição,
o ônus é dos litisconsortes, salvo se, por exemplo, o réu não resistiu à pretensão do
opoente.
 
As demais alternativas possíveis de resultado não apresentam especificidade, pois
serão aplicadas as regras gerais. Se rejeitada a oposição, o opoente arcará com os
ônus de sucumbência da ação secundária. No que se refere à principal, a divisão
dependerá do que ficar decidido.
 
Para efeito de despesas processuais e eventual imposição de multas à oposição, em
síntese, aplicam-se os artigos 19/35 (v. comentários ao art. 34).

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