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– J. F. Herbert (1890)
Hoje, após quatro décadas, muitos educadores concordam que a Matemática Nova
trouxe mais prejuízos que benefícios. Nossos estudantes podem ter aprendido a
linguagem e os símbolos da teoria dos conjuntos, mas tropeçam frente aos mais simples
cálculos – com ou sem calculadora. Conseqüentemente, muitos estudantes do Ensino
Médio carecem de conhecimentos básicos em álgebra e, sem nenhuma surpresa, cerca de
50% deles são reprovados nos cursos de cálculo nos primeiros semestres do ensino
superior. Colégios e universidades estão gastando muitos recursos em programas de
aceleração (mais fáceis de engolir quando são denominados com eufemismos como
“programa de desenvolvimento” ou “laboratório de matemática”), cujas taxas de sucesso
são, no máximo, moderadas.
sen x x x x
= cos ⋅ cos ⋅ cos ⋅ ...
x 2 4 8
Esta fórmula foi descoberta por Euler. Substituindo x = π/2, utilizando o fato de que
cos π/4 = 2 / 2 e aplicando repetidamente a fórmula do cosseno do arco-metade,
chegamos à bela fórmula
2 2 2+ 2 2+ 2+ 2
= ⋅ ⋅ ⋅ ...
π 2 2 2
α β γ
sen α + sen β + sen γ = 4 cos cos cos ,
2 2 2
3α 3β 3γ
sen 3α + sen 3β + sen 3γ = −4 cos cos cos ,
2 2 2
“Alguns alunos”, disse Edna Kramer em The Nature and Growth of Modern
Mathematics (A natureza e o crescimento da matemática moderna), consideram a
trigonometria “uma geometria glorificada com a imposição de uma tortura
computacional”. Este livro é uma tentativa de mudar essa visão. Adotei uma abordagem
histórica, em parte porque acredito existe um longo caminho a percorrer para reavivar nos
estudantes o gosto pela matemática – e ciências em geral. Entretanto, evitei uma
apresentação estritamente cronológica dos tópicos, tendo-os selecionado pelo seu aspecto
estético ou por sua relevância para outras ciências. Naturalmente essas escolhas revelam
minhas próprias preferências; vários outros tópicos poderiam ter sido selecionados.
Skokie, Illinois
20 de fevereiro de 1997
Nota: neste livro são feitas referências freqüentes ao Dictionary of Scientific Biography (“Dicionário
Científico de Biografias”. 16 vols.; Charles Coulston Gillispie, ed.; New York: Charles Scribner’s Sons,
1970-80). Para evitar repetições, será usada a abreviatura DSB para referenciar a obra supracitada.
1“Word problems” são aqueles problemas em que há um enunciado que mostra uma situação em que há
um problema a resolver. Remetem aos nossos problemas que envolvem “contextualização”. (N.T.)
PRÓLOGO
Este livro foi copiado no ano 33, no quarto mês da estação das cheias, sob Sua
Majestade o Rei do Alto e Baixo Egito, ‘A-user-Re’, à semelhança de outro feito nos
tempos do Rei do Alto e Baixo Egito, Ne-ma’et-Re. O escriba A’h-mose é quem copia
esse texto.5
O texto inicia com uma visão abrangente daquilo que o autor pretende oferecer:
uma “regra para se chegar ao conhecimento de todas as coisas obscuras, de todos os
segredos que as coisas contêm.”7 Embora essa promessa não tenha sido realmente
cumprida, o texto do papiro nos dá uma visão de valor incalculável sobre a matemática
egípcia antiga. Seus 84 problemas tratam de aritmética, enunciados de álgebra (encontrar
um valor desconhecido), medições (cálculo de áreas e volumes), e até mesmo progressões
aritméticas e geométricas. Para aqueles acostumados à estrutura formal da matemática
grega – definições, axiomas, teoremas e provas – o conteúdo do papiro Rhind pode ser
desapontador: não existem regras gerais que se aplicam a uma classe de problemas nem
os resultados derivam de forma lógica de fatos previamente estabelecidos. Na verdade,
são problemas com exemplos específicos, com o uso de alguns números em particular. A
maioria deles é de grandes enunciados (estórias) que tratam apenas de assuntos materiais,
do cotidiano, como encontrar a área de um campo ou o volume de um celeiro, ou como
dividir um determinado número de pães entre vários homens. Aparentemente a intenção
era fazer uma coletânea de exercícios para usar em uma escola de escribas, pois existia
AHMES, O ESCRIBA 3
uma classe de escribas reais, para a qual eram designadas todas as tarefas literárias –
leitura, escrita e aritmética. O papiro contém também um problema de recreação
matemática sem nenhuma aplicação prática aparente, obviamente com o intuito de prover
entretenimento para o leitor (veja página 9).
O trabalho começa com duas tabelas: uma tábua de divisão de 2 por todos os
inteiros ímpares de 3 a 101, e uma tábua de divisão dos inteiros de 1 a 9 por 10. As
respostas são dadas em frações unitárias – frações cujo numerador é 1. Por alguma razão,
esse era o único modo conhecido pelos egípcios para lidar com frações; a única exceção
era 2/3, que era reconhecida como uma fração por si só. Muito esforço e ingenuidade
foram gastos no esforço de decompor frações em somas de frações unitárias. Por
exemplo, o resultado da divisão de 6 por 10 é dado como 1/2 + 1/10, e a divisão de 7 por
10 era dada como 2/3 + 1/30.8 Os egípcios, claro, não utilizavam nossa notação moderna
para frações; eles indicavam o recíproco de um inteiro colocando um ponto (ou um
hieróglifo oval) sobre o símbolo do inteiro. Não existia símbolo para adição; as frações
unitárias eram simplesmente colocadas uma ao lado da outra, estando implícita a soma.9
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4 PRÓLOGO
◊ ◊ ◊
De particular interesse para nós são os problemas 56 a 60. Tratam dos mais
famosos monumentos egípcios. As pirâmides, e todos usam a palavra sekht (veja fig. 1).12
O que esta palavra significa, veremos mais tarde.
O problema 56 diz: “Se uma pirâmide tem 250 côvados de altura e o lado de sua
base mede 360 côvados, quanto vale o sekht ?” Segue a solução de Ahmes:
Pegue a metade de 360; isto dá 180. Multiplique 250 até chegar a 180; isto dá
1/2 1/5 1/50 de um côvado. Multiplique 7 por 1/2 1/5 1/50:
1 7
1/2 3 1/2
1 1 13
O sekht é igual a 5 palmos [isto é, (3 + 1/2) + (1 + 1/3 + 1/15) + (1/10 + 1/25)=5 ]
25 25
Duas questões surgem imediatamente: primeiro, por que ele não usou o inverso
dessa razão, ou a taxa de inclinação, como nós fazemos hoje? A resposta é que quando
construindo uma estrutura vertical, é comum medir o desvio horizontal de uma linha
vertical, para cada unidade que cresce em sua altura, isto é, o gradiente de inclinação.
Esta prática é comum em arquitetura, em que se mede a inclinação de um muro ou
parede, que se supõe ser vertical.
Segundo, por que Ahmes multiplicou o resultado por 7? Por alguma razão, os
construtores das pirâmides mediram as distâncias horizontais em “palmos” ou “mãos” e
distâncias verticais em “côvados”. Um côvado equivale a 7 palmos. Então o sekht
encontrado, 5 1 , dá o gradiente em palmos por côvados. É claro que, hoje em dia,
25
pensamos nessas taxas como números puros.
Por que seria a taxa de inclinação tão importante a ponto de merecer um nome
especial e ter dedicados quatro problemas a ela nos papiros? A razão é que era crucial
para os construtores das pirâmides manter uma inclinação constante das faces laterais em
relação ao plano horizontal. Isso parece fácil no papel, mas uma vez que a construção
tenha começado, deve-se checar constantemente o progresso da construção, a fim de
assegurar que a inclinação prevista está sendo mantida. Isto é, o sekht tem que ser o
mesmo em cada uma das faces.
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6 PRÓLOGO
1
problemas 58 e 589, quando convertido para unidade adimensional, é (5 ) : 7 ou 3/3,
4
correspondendo ao ângulo de 53º 8’. É interessante comparar esses valores aos ângulos
atuais de algumas das pirâmides de Gizé:15
As figuras são bastante factíveis. Quanto à coluna no problema 60, seu ângulo é
muito maior do que esperávamos para uma pirâmide: φ = cot -1 (1/4) = 75º 58’.
NOTAS E FONTES
1 O Egito Antigo era dividido em dois reinos, o Alto Egito e o Baixo Egito. Embora as denominações
“Alto” e “Baixo” sejam contra-intuitivas, com o “Alto Egito” no sul e o “Baixo Egito” no norte, essa
terminologia deriva do curso do rio Nilo, das terras altas da África Oriental para o Mar Mediterrâneo.
(N.T.)
2O papiro também contém três fragmentos de texto não relacionados à matemática, e que alguns autores
numeraram como problemas 85, 86 e 87. Estão descritos em Arnold Chase, The Rhind Mathematical
Papyrus: Free Translation and Commentary with Selected Photographs, Transcriptions, Transliterations
and Literal translations – “O Papiro Matemático Rhind: Tradução Livre e Comentários com Fotografias,
Transcrições, Transliterações e Traduções Literais”. (Reston, VA: National Council of Teachers of
Mathematics, 1979), pp. 61-62.
3 The Rhind Mathematical Papyrus, British Museum 10057 and 10058: Introduction, Transcription,
Translation and Commentary – “O Papiro Matemático Rhind, peças nº 10057 e 10058 do Museu Britânico:
Introdução, Transcrição, Tradução e Comentários”. (London, 1923).
AHMES, O ESCRIBA 7
4Chase, Rhind Mathematical Papyrus – “Papiro Matemático Rhind”. Esta obra extensa é uma reimpressão,
com pequenas mudanças, daquela publicada pelo Mathematical Association of America em dois volumes,
em 1927 e 1929. Contém comentários detalhados e bibliografia extensa, assim como inúmeras ilustrações
coloridas. Para um esboço da biografia de Chase, veja o artigo “Arnold Buffum Chase” no American
Mathematical Monthly, vol. 40 (março de 1933), pp. 139-142. Outras boas fontes sobre a matemática
egípcia são Richard J. Gillings, Mathematics in the Time of the Pharaohs – “Matemática no Tempo dos
Faraós” (1972; rpt. New York: Dover, 1982); George Gheverghese Joseph, The Crest of the Peacock: Non-
European Roots of Mathematics – “A Crista do Pavão – Raízes da Matemática Fora da Europa”
(Harmondsworth, U.K.: Penguin Books, 1991), chap. 3; Otto Neugebauer, The Exact Sciences in Antiquity
– “As Ciências Exatas na Antigüidade” (1957; rpt. New York: Dover, 1969), chap. 4; and Baertel L. van
der Waerden, Science Awakening – “O Despertar da Ciência”, trans. Arnold Dresden (New York: John
Wiley, 1963), chap. 1.
5 Chase, Rhind Mathematical Papyrus, p.27. O título de nobreza “Re” é pronunciado “rei”.
7Citado em Garbi, Gilberto Geraldo, A Rainha das Ciências: um passeio histórico pelo maravilhoso mundo
da Matemática. São Paulo: Editora Livraria da Física, 2006. Difere ligeiramente do texto original deste
autor. (N.T.)
8 Note que a decomposição não é única. 7/10 também pode ser escrito como 1/5 + 1/2.
9 Para uma discussão mais detalhada do uso de frações unitárias pelos egípcios, veja Boyer, History of
Mathematics, pp. 15-17; Chase, Rhind Mathematical Papyrus, pp. 9-17; Gillings, Mathematics, pp. 20-23; e
van der Waerden, Science Awakening, pp. 19-26.
10 Chase, Rhind Mathematical Papyrus, p. 46. Para uma discussão sobre as medições egípcias, veja também
ibid., pp. 18-20; Gillings, Mathematics, pp. 206-213.
11 O valor egípcio pode ser escrito convenientemente como (4/3)4. Gillings (Mathematics, pp. 139-153)
mostra uma teoria convincente sobre como Ahmes teria chegado à fórmula A = [(8/9)d]2 e atribui a Ahmes
o crédito de ser o primeiro a tentar efetivamente a quadratura do círculo na história.
12 Pronuncia-se “seiket”.
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Matemática Recreativa no Egito Antigo
Inventário casas 7
1 2801 gatos a 49
hekat c 16.807
Qual o significado por trás desses versos obscuros? Evidentemente temos diante
de nós uma progressão geométrica cujo termo inicial é 7 e a razão também é 7, e o escriba
nos mostra como encontrar sua soma. Mas como um bom professor que quer quebrar a
monotonia de uma aula rotineira de matemática, Ahmes embeleza o exercício com uma
pequena estória, que poderia ser lida assim: “Havia uma aldeia com sete casas; cada casa
tinha sete gatos; cada gato comia sete ratos; cada rato comia sete espigas de trigo; cada
espiga de trigo produzia sete hekat de grãos de trigo. Quanto somava isto tudo?”
a A palavra egípcia para “gato” é myw; quando as vogais ausentes são inseridas, a palavra se torna
meey’a uw.
17 x 1 = 17 *
x 2 = 34
x 4 = 68 *
x 8 = 136 *
geométrica que tem o mesmo valor numérico para o primeiro termo e para a razão é igual
à razão multiplicada por um mais os primeiros (n - 1) termos; em notação moderna,
a + a2 + a3 + ... + an = a(1 + a + a2 + ... + an-1). Este tipo de “fórmula recursiva” permitiu
aos escriba egípcio reduzir a soma de uma progressão geométrica em uma outra com
menos (e menores) termos. Para encontrar a soma 7 + 49 + 343 + 2.401 + 16.807, Ahmes
pensou nela como 7 x (1 + 7 + 49 + 343 + 2.401); uma vez que a soma dos termos dentro
dos parênteses é igual a 2.801, tudo o que ele tinha a fazer era multiplicar esse número
por 7, pensando em 7 como 1 + 2 + 4. Isto é o que a coluna da esquerda nos apresenta.
Repare que esta coluna apresenta apenas três passos, comparando com os cinco passos da
solução “óbvia” apresentada na coluna da direita; obviamente o escriba incluiu este
exercício como um exemplo de pensamento criativo.
Alguém poderia perguntar: por que Ahmes escolheu 7 como razão? Em seu
excelente livro, Mathematics in the Times of the Pharaohs (“Matemática no Tempo dos
Faraós”), Richard J. Gillings responde assim a essa questão: “O número 7 é muito comum
nas multiplicações egípcias porque, nas duplicações regulares, os três primeiros
multiplicadores serão sempre 1, 2, 4, cuja soma é igual a 7.”2 Esta explicação, entretanto,
não parece ser tão convincente, pois poderia ser igualmente atribuída ao número
3 (= 1 + 2), ao número 15 (= 1 + 2 + 4 + 8), e de fato para qualquer número inteiro da
forma 2n - 1. Uma explicação mais plausível poderia ser a de que um número grande
poderia tornar o cálculo muito longo, enquanto um número pequeno poderia não ilustrar
adequadamente o rápido crescimento da progressão: se Ahmes tivesse usado 3, a
resposta (363) não seria “sensacional” o suficiente para impressionar o leitor.
O problema 79 de Ahmes tem grande semelhança com uma antiga rima infantil:
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12 MATEMÁTICA RECREATIVA
NOTAS E FONTES
1 Arnold Buffum Chase, The Rhind Mathematical Papyrus: Free Translation and Commentary with
Selected Photographs, Transcriptions, Transliterations and Literal translations – “O Papiro Matemático
Rhind: Tradução Livre e Comentários com Fotografias, Transcrições, Transliterações e Traduções Literais”.
(Reston, VA: National Council of Teachers of Mathematics, 1979), p. 136. Utilizei a tradução literal de
Chase (em vez de uma tradução livre) a fim de preservar o charme contido na declaração original. Isto
obviamente inclui o erro de Ahmes na quarta linha da coluna da direita. Para a tradução livre de Chase, veja
a página 59 de seu livro.
2 Richard J. Gillings, Mathematics in the Time of the Pharaohs – “Matemática no Tempo dos Faraós”.
Acredita-se que a unidade mais comum para medir ângulos, o “grau”, tenha sua
origem com os babilônios. Geralmente é aceito que sua divisão do círculo em 360 graus
tenha alguma relação com a duração de um ano, 365 dias. Outra razão pode ser o fato de
que um círculo se divide naturalmente em seis partes iguais, cada uma subentendendo
uma corda igual ao raio (fig.4). No entanto, não existe nenhuma evidência conclusiva que
sustente essas hipóteses, e a exata origem dos 360 graus deverá permanecer
desconhecida.2 De qualquer forma, o sistema se ajusta bem ao sistema de numeração
sexagesimal (base 60) dos babilônios, que mais tarde foi adotado pelos gregos e usado
por Ptolomeu em sua tábua de cordas (veja capítulo 2).
Essa prática está tão enraizada em nosso cotidiano, que nem mesmo o predomínio
do sistema métrico decimal conseguiu dissipá-la, e a frase de Florian Cajori em A History
of Mathematics (“Uma História da Matemática”, 1893) continua atual: “Não existe hoje
uma ameaça de se adotar uma divisão decimal de ângulos, nem mesmo na França [onde o
sistema métrico decimal se originou].”3 Apesar disso, muitas calculadoras portáteis
possuem a opção grad, em que um ângulo reto é dividido em 100 “grados”, e as partes
fracionárias de um grado são contadas de forma decimal.
Ainda mais importante, o fato de que um ângulo pequeno e seu seno têm seu valor
numérico aproximadamente igual – quanto menor o ângulo, melhor a aproximação –
permanece verdadeiro apenas se o ângulo for medido em radianos. Por exemplo, usando
uma calculadora, vemos que o seno de um grau (sen 1º) é 0,0174524; mas se 1º é
convertido para radianos, teremos 1º = 2π/360º ≈ 0,0174533, e o ângulo e seu seno são
iguais até a casa dos milésimos. Para um ângulo de 0,5º (novamente expresso em
radianos), a concordância vai até os milionésimos, e assim por diante. É este fato,
expresso como limθ →0 ( sen θ ) / θ = 1 que faz com que a medição de ângulos em radianos
seja tão importante.
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16 CAPÍTULO UM
NOTAS E FONTES
1 No entanto, a definição de “ângulo” como conceito sempre foi problemática; veja Euclides, Elementos,
disponível em http://www.dominiopublico.gov.br
2 Sobre o assunto, veja David Eugene Smith, History of Mathematics – “História da Matemática”, (1925;
rpt. New York: Dover, 1953), vol. 2, pp. 229-232, e Florian Cajori, A History of Mathematics – “História da
Matemática”, (1893, 2nd ed, New York: McMillian, 1919,) pp. 5-6. Alguns estudiosos creditam a divisão
em 360 graus aos egípcios; veja, como exemplo, Elisabeth Achels, On Time and Calendar – “Sobre Tempo
e Calendários” (New York: Hermitage House, 1955), p. 40.
5 Em inglês o radiano é chamado de radian, ou ainda de circular measure, que optei por não traduzir.
(N.T.)
6 Por exemplo, em Morris Kline, Mathematics: A Cultural Approach – “Matemática: Uma Abordagem
Cultural” (Reading, Mass: Addison-Wesley, 1962), p. 500, encontramos a seguinte afirmação: “A vantagem
do uso de radianos no lugar de graus é simplesmente por questão de conveniência. Como um ângulo de 90º
tem a mesma medida que um ângulo de 1,57 radianos, é muito melhor trabalhar com apenas 1,57 do que
com 90 unidades.” Realmente é uma surpresa esta afirmação vir de um matemático tão eminente quanto
Kline.
Se h é a altura da haste e s é o comprimento de sua sombra quando o sol está a uma altura
de α graus acima do horizonte (veja fig. 9), então s = h cot α, de forma que s é
proporcional a cot α. Evidentemente os antigos não estavam interessados na função
cotangente em si, mas usar o dispositivo como um contador de horas; de fato, medindo a
variação diária do comprimento da sombra ao meio-dia, o gnômon poderia também ser
usado para determinar o dia do ano.
Ainda que ele [o rei do Egito] já lhe tenha profundo respeito, ele lhe tem admiração em
particular pelo invento com o qual, com pouco esforço e sem o auxílio de nenhum
instrumento matemático, você encontrou com tanta precisão a altura das pirâmides.
Erguendo sua estaca e fixando-a na extremidade da sombra projetada pela pirâmide,
dois triângulos são formados pelos raios tangentes do sol, e com isso você mostrou que a
razão entre [o comprimento de] uma sombra e de outra é igual à razão entre [a altura
de] da pirâmide e da estaca.3
CORDAS 19
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20 CAPÍTULO DOIS
Fig. 9. Gnômon.
Para ser capaz de fazer seis cálculos, Hiparco precisava de um tabela de razões
trigonométricas, mas não tinha como fugir: como não existia tal tabela, teve que construir
uma ele próprio. Ele considerava todos os triângulos – planos ou esféricos – como
inscritos em um círculo, de modo que cada lada passava a ser uma corda do círculo. Para
calcular as várias partes do triângulo, é preciso colocar o comprimento de da corda como
uma função do ângulo central, e este se tornou o principal desafio da trigonometria pelos
séculos seguintes. Como astrônomo, Hiparco estava interessado principalmente em
triângulos esféricos, mas ele deveria conhecer muitas das fórmulas da trigonometria
plana, entre elas as identidades (em notação moderna) sen2 α + cos2 α = 1,
sen2 α/2 = (1 - cos α)/2, e sen (α ± β) = sen α cos β ± cos α sen β. Estas fórmulas, é claro,
foram derivadas com significado puramente geométrico e expressas como teoremas sobre
ângulos e cordas em um círculo (a primeira fórmula, por exemplo, é o equivalente
trigonométrico do teorema de Pitágoras); voltaremos a algumas dessas fórmulas no
capítulo 6. Hiparco escreveu doze livros sobre o cálculo de cordas no círculo, mas todos
foram perdidos.
Em contraste com a maioria dos matemáticos gregos, que consideravam suas disciplinas
como uma ciência pura e abstrata, Ptolomeu foi um pioneiro na matemática aplicada.
Escreveu sobre astronomia, geografia, música e possivelmente sobre óptica. Ele compilou
um catálogo estelar baseado no trabalho de Hiparco, em que lista e nomeia quarenta e oito
constelações; esses nomes são utilizados ainda hoje. Em seu trabalho Geografia,
Ptolomeu usou sistematicamente a técnica de projeção de mapas (um sistema de
mapeamento da esfera terrestre em uma folha plana), que Hiparco já havia apresentado;
seu mapa do mundo conhecido, com as linhas de latitude e longitude, era o mapa padrão
utilizado até a Idade Média (fig. 10). Entretanto, Ptolomeu subestimou gravemente o
tamanho da Terra, rejeitando a estimativa correta de Eratóstenes de que era muito maior
(veja capítulo 5). Esse mapa acabou se tornando uma bênção, para um empolgado
Colombo tentar uma viagem marítima para o oeste, da Europa para a Ásia, uma
empreitada que culminou com a descoberta do Novo Mundo.
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22 CAPÍTULO DOIS
◊ ◊ ◊
α
d = 2r sen (1)
2
Para calcular sua tabela (tábua), Ptolomeu usou o sistema sexagesimal dos
babilônios, o único sistema adequado em seu tempo para trabalhar com frações (o sistema
decimal ainda estava a mil anos no futuro). Mas ele o usou em conjunto com o sistema
grego, em que a cada letra do alfabeto é atribuído um valor numérico: α = 1, β = 2, e
assim por diante. Isso torna a leitura da tábua um tanto enfadonha, mas com um pouco de
prática uma pessoa pode se tornar bastante hábil nessa tarefa (fig. 12). Por exemplo, para
um ângulo de 7º (expresso pela letra grega ζ), a tábua de Ptolomeu fornece uma corda
com comprimento de 7;19,33 (escrito como ζ ιθ λγ, as letras ι, θ, λ, e γ representando 10,
9, 30 e 3, respectivamente), que é a notação moderna para o número sexagesimal
7 + 19/60 + 33/3.600 (o ponto-e-vírgula é usado para separar a parte inteira do número de
sua parte fracionária, e a vírgula é usada para separar as partes sexagesimais). Quando
escrito em nosso sistema decimal, o número é aproximadamente igual a 7,32853; o
comprimento real da corda, arredondado na quinta casa decimal, é 7,32852. Um feito
extraordinário!
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24 CAPÍTULO DOIS
Agora Ptolomeu mostra como a tábua pode ser usada para resolver qualquer
triângulo plano, em que pelo menos um lado é conhecido. Conforme Hiparco, ele
considerou um triângulo inscrito em uma circunferência. Mostraremos aqui o caso mais
simples, o do triângulo retângulo.8
Seja o triângulo retângulo ABC (fig. 13), reto em C. Sabemos que, pela geometria
elementar, a hipotenusa c = AB é o diâmetro da circunferência que passa por A, B e C.
Denotando por O o centro da circunferência (isto é, o ponto médio de AB), um conhecido
teorema diz que ∠BOC = 2∠BAC = 2α . Suponha que a e c são dados. Primeiro
calculamos 2 α e usamos a tábua para encontrar a corda correspondente; uma vez que a
tábua assume que c = 120, temos que multiplicar o comprimento pela razão c/120. Isto
nos dá o lado a = BC. O lado remanescente, b = AC pode agora ser encontrado usando o
teorema de Pitágoras, e o ângulo β = ∠ABC pela equação β = 90 o − α . Paralelamente, se
dois lados são conhecidos, digamos a e c, calculamos a razão a/c, multiplicamos por 120,
e então usamos a tábua de modo inverso para encontrar 2 α e então encontrar α .
c
a= corda 2α (2)
120
em que corda 2 α é o comprimento da corda cujo ângulo central é 2 α . Isto nos leva a
uma interessante observação: no sistema sexagesimal (base 60), multiplicar ou dividir por
120 é equivalente a multiplicar ou dividir por 20 no sistema decimal: simplesmente
CORDAS 25
multiplicamos ou dividimos por 2 e deslocamos a vírgula uma casa para direita ou para a
esquerda, respectivamente. A equação (2) exige que nós dupliquemos o ângulo,
procuremos a corda correspondente, e façamos a divisão por 2. Fazer isso repetidas vezes
torna-se um trabalho enfadonho, de forma que seria uma questão de tempo até que
alguém reduzisse esse trabalho tabulando metade da corda como uma função do dobro do
ângulo, em outras palavras nossa moderna função seno.9 Este trabalho coube aos hindus.
NOTAS E FONTES
1 Como prova de que as relações entre ângulos e segmentos de reta estão longe de ser simples, considere o
seguinte teorema: “Se duas bissetrizes em um triângulo têm o mesmo comprimento, o triângulo é
isósceles.” Parecendo enganosamente simples, esta prova pode iludir até mesmo matemáticos experientes..
Veja H.S.M. Coxeter, Introduction to Geometry – “Introdução a Geometria” (New York: John Wiley,
1969), pp. 9 e 420.
2 Para um bom resumo da astronomia babilônia, veja Otto Neugebauer, The Exact Sciences in Antiquity –
“As Ciências Exatas na Antigüidade” (1957; 2nd ed., New York: Dover, 1969), capítulo 5.
3Como citado em David Eugene Smith, History of Mathematics – “História da Matemática” (1925; rpt.
New York: Dover, 1958), vol. II, pp. 602-603.
4 Asger Aaboe, em Episodes from the Early History of Mathematics – “Episódios da História Antiga da
Matemática” (1964, New York: Random House, 1964) coloca seu nome como Klaudios Ptolemaios, mais
próxima da pronúncia grega. Usei a grafia latina Ptolemaeus, mais comum.
5 Smith (History of Mathematics, vol. 1, p. 131) comenta que, como o prefixo “al” significa “o” ou “a”
(artigos), falar ‘o Almagesto’ é como falar ‘o o-maior’. Todavia, esse deslize é tão comum que resolvi
deixá-lo aqui.
6 Esta coluna é parecida com a coluna de “partes proporcionais” encontrada em tábuas de logaritmos.
7 Para uma completa discussão sobre como Ptolomeu construiu sua tábua, veja Aaboe, Episodes, pp.
112-126.
8 Os outros casos podem ser obtidos dividindo-se o triângulo em triângulos retângulos; veja ibid, pp.
107-11.
9 Torna-se claro no triângulo retângulo ABC (fig. 13), em que a = c sen α . Comparando com a equação
(2), temos sen α = (corda 2 α )/120.
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Plimpton 322: A Mais Antiga Tábua Trigonométrica?
Estima-se que 500.000 tabletes tenham chegado aos museus ao redor do mundo, e
entre eles há cerca de 300 que tratam de assuntos matemáticos. Esses são de dois tipos:
“textos-tabela” e “textos-problema”, os últimos tratando de uma variedade de problemas
algébricos e geométricos. Os “textos-tabela” incluem tábuas de multiplicação e tábuas de
recíprocos, juros compostos, e várias seqüências numéricas; eles provam que os
babilônios possuíam considerável grau de conhecimento computacional (de cálculo).
Um dos tabletes mais intrigantes a chegar até nós é conhecido como Plimpton 322,
que tem esse nome por ser a peça de número 322 da Coleção G. A. Plimpton da
Universidade de Columbia, em Nova Iorque (fig. 14). Ele data do antigo período
babilônio da dinastia de Hamurabi, por volta de 1800-1600 a.C. Uma análise cuidadosa
do texto revela que ele aborda os ternos pitagóricos – inteiros a, b, c tais que c2 = a2 + b2;
exemplos desses ternos são (3, 4, 5), (5, 12, 13) e (16, 63, 65). Por causa do teorema de
Pitágoras – ou mais precisamente, de seu inverso – tais ternos podem ser usados para
formar triângulos retângulos de lados inteiros.
TABELA 1
São quatro colunas, sendo aquela mais à direita fornece simplesmente a seqüência
numérica das colunas de 1 a 15. A segunda e a terceira colunas (contando da direita para a
esquerda) são intituladas “resolvendo o número da diagonal” e “resolvendo o número do
comprimento”, respectivamente; isto é, elas fornecem o comprimento da diagonal e o
lado menor de um retângulo, ou ainda, os comprimentos da hipotenusa e de um dos lados
PLIMPTON 322 29
Muitas questões surgem: a ordem das entradas na tábua é aleatória ou segue algum
padrão oculto? Como os babilônios encontraram esses números em particular que formam
ternos pitagóricos? E por que eles estavam interessados nesses números –
especificamente, na razão (c/a)2 – em primeiro lugar? A primeira questão é relativamente
fácil de responder: se comparados os valores de (c/a)2 linha por linha, descobrir-se-á que
eles decrescem de 1,983 até 1,387, ao que parece bastante razoável que a ordem das
entradas seja determinada por essa seqüência. Além disso, se computarmos a raiz
quadrada de cada entrada na coluna 4 – isto é, a razão c/a = cossec α – e então
encontrarmos o correspondente ângulo α, descobriremos que α cresce constantemente de
45º a 58º. Então parece que o autor de nosso texto não estava interessado somente em
encontrar ternos pitagóricos, mas também em determinar a razão c/a nos triângulos
retângulos correspondentes. A hipótese poderá um dia ser confirmada se o fragmento
perdido do tablete surgir, e contiver as colunas perdidas de a e c/a.
Para saber como os ternos pitagóricos foram encontrados, existe uma única
explicação plausível: os babilônios deviam conhecer o algoritmo para gerar esses ternos.
Sejam u e v dois inteiros positivos tais que u > v; então os três números
a = 2uv b = u2 – v2 c = u2 + v2 (1)
formam um terno pitagórico. (se além disso, exigirmos que u e v tenham paridade ímpar –
um par e outro ímpar – e que não tenham nenhum fator em comum, então (a, b, c) é um
terno pitagórico primitivo. É fácil confirmar que os números a, b e c dados pela equação
(1) satisfazem a equação c2 = a2 + b2; o inverso desta afirmativa – de que todos ternos
pitagóricos podem ser encontrados desta maneira – é provado em um curso comum de
Teoria dos Números. Plimpton 322 então nos mostra que os babilônios não eram apenas
familiarizados com o teorema de Pitágoras mil anos antes de Pitágoras, mas também
sabiam rudimentos de Teoria dos Números e tinham os recursos para colocar a teoria na
prática.3
NOTAS E FONTES
(O material usado nesta seção é baseado em Otto Neugebauer, The Exact Sciences in
Antiquity – “As Ciências Exatas na Antigüidade” (1957; rpt. New York: Dover, 1969),
chap. 2; veja também Howard Eves, An Introduction to the History of Mathematics –
“Introdução a História da Matemática” (Fort Worth: Sauders College Publishing, 1992),
pp. 44-47.).
1 Este, contudo, não é um terno pitagórico primitivo, pois pode ser reduzido ao terno (28, 45, 53), mais
simples; os dois ternos representam triângulos semelhantes.
2 Um quarto erro ocorre na linha 2, onde o número 3,12,1 deveria ser 1,20,25 produzindo o terno (3367,
3456, 4825). Este erro permanece inexplicado.
3 Para saber como os babilônios utilizavam esses recursos, veja Neugebauer, Exact Sciences, pp. 39-42.
3
Seis Funções Adultas
Aqui começa uma interessante evolução etimológica que leva à nossa palavra
moderna “seno”. Quando os árabes traduziram a Aryabhatiya para seu próprio idioma,
eles mantiveram a palavra jiva no original, sem tradução de seu significado. Em árabe –
assim como em hebraico – as palavras geralmente são compostas apenas de consoantes, e
a pronúncia das vogais ocultas fica conhecida pelo uso comum. Então jiva poderia
também ser pronunciada como jiba ou jaib, e jaib em árabe significa seio, dobra ou baía.
Quando a versão árabe foi traduzida para o latim, jaib foi traduzida como sinus, que
significa seio, dobra ou curva (em mapas lunares, regiões que lembram uma baía ainda
são descrita como sinus). Encontramos a palavra sinus nos escritos de Gerardo de
Cremona (circa 1114-1187), que traduziu muitos dos antigos trabalhos gregos, incluindo
o Almagesto, do árabe para o latim. Outros escritores continuaram, e logo a palavra sinus
– ou seno na versão em português – tornou-se comum nos textos matemáticos através da
Europa. A abreviação sin foi usada pela primeira vez por Edmund Gunter (1581-1626),
um ministro inglês que se tornou professor de astronomia no Gresham College em
Londres. Em 1624 ele inventou um dispositivo mecânico, a “escala Gunther”, para
cálculos com logaritmos – um precursor da conhecida régua de cálculo – e a notação sin
(bem como tan) apareceu pela primeira vez em um desenho descrevendo seu trabalho.3
32 CAPÍTULO TRÊS
sen2 φ é odioso para mim, ainda que Laplace tenha feito uso disso; deveria haver o receio
de que sen2 φ possa se tornar ambíguo, o que não deveria ocorrer nunca... escrevamos
então (sen φ)2, mas não sen2 φ, que por analogia poderia significar sen (sen φ).4
Não obstante a objeção de Gauss, a notação sen2 φ sobreviveu, mas sua preocupação com
a confusão com sen (sen φ) não era sem razão: hoje as aplicações repetidas de uma função
para diferentes valores iniciais são objeto de pesquisa ativa, e expressões como
sen (sen ... (sen φ) ... )) aparecem rotineiramente na literatura matemática.
As outras cinco funções trigonométricas têm uma história mais recente. A função
cosseno, à qual hoje dedicamos a mesma importância que à função seno, surgiu
primeiramente da necessidade de se calcular o seno de ângulos complementares.
SEIS FUNÇÕES ADULTAS 33
h sen(90º −ϕ )
s=
sen ϕ
é equivalente à fórmula s = cot φ. Observe que nessa expressão ele utilizou somente a
expressão seno, as outras funções não eram conhecidas por um nome. (Foi por meio do
trabalho de al-Battani que a função de meia-corda dos hindus – nosso seno moderno – e
tornou conhecida na Europa.) Baseado nessa regra, ele construiu uma “tábua de sombras”
– essencialmente uma tábua de cotangentes – para cada grau de 1º a 90º.
O nome moderno “tangente” não havia feito sua estréia até 1583, quando Thomas
Fincke (1561-1646), um matemático holandês, o utilizou em seu Geometria Rotundi; até
então os escritores europeus usavam os termos tirados da projeção da sombra:
umbra recta (“sombra reta”) para a sombra horizontal projetada por um gnômon vertical,
e umbra versa (“sombra reversa”) para a sombra horizontal projetada por um gnômon
preso a uma parede. A palavra “cotangens” (sic) foi primeiro usada por Edmund Gunter
em 1620. Várias abreviações foram sugeridas para essas funções, entre as quais t e t co
por William Oughtred (1657) e T e t por John Wallis (1693). Mas o primeiro a usar
consistentemente tais abreviaturas foi Richard Norwood (1590-1665), um matemático e
pesquisador inglês; em um trabalho de trigonometria publicado em Londres em 1631 ele
escreveu: “Nesses exemplos s será usado para seno: t para tangente: sc para complemento
do seno [isto é, o cosseno]: tc para complemento da tangente: sec para secante.
Observamos que mesmo hoje não existe conformidade em relação a notações, e textos
europeus freqüentemente usam “tg” para tangente e “ctg” para cotangente.
A palavra “tangente” vem do latim tangere, tocar; sua associação com a função
tangente pode ter sua origem na seguinte observação: em uma circunferência com centro
em O e raio r (fig. 16), seja AB a corda subentendida pelo ângulo central 2α, e OQ a
bissetriz deste ângulo. Trace uma linha paralela a AB e que seja tangente à circunferência
em Q, e prolongue OA e OB até intersectar esta linha em C e D, respectivamente. Temos
AB = 2r sen α , CD = 2r tan α ,
mostrando que a função tangente é relacionada à linha tangente assim como a função seno
é relacionada com a corda. De fato, essa construção forma a base das seis funções
trigonométricas no círculo unitário.
◊ ◊ ◊
Por meio das traduções árabes dos clássicos gregos e hindus, o conhecimento de
álgebra e trigonometria se difundiu gradualmente pela Europa. No século 8, a Europa foi
apresentada aos numerais hindus – nosso sistema decimal moderno – através dos escritos
de Mohammed ibn Musa a-Khowarizni (circa. 780-840). O título de seu grande trabalho
’ilm al-jabr wa’l muqabalah (“a ciência da redução e do cancelamento”) foi transliterado
em nossa palavra moderna “álgebra” e seu nome acabou se desenvolvendo nas palavras
“algarismo” e “algoritmo”. O sistema indo-arábico não foi aceito de imediato pelo
público, que preferiu aderir aos antigos numerais romanos. Os estudiosos, entretanto,
falavam das vantagens do novo sistema e o defendiam com entusiasmo, e as disputas
entre os “abacistas”, que calculavam com o bom e velho ábaco, e os “algoristas”, que
faziam o mesmo simbolicamente com papel e caneta, tornou-se um lugar-comum na
Europa Medieval.
NOTAS E FONTES
1 The Aryabhatiya of Aryabhata: An Ancient Indian Work on Mathematics and Astronomy, traduzido para o
inglês por Walter Eugene Clark (Chicago: University of Chicago Press, 1930). Neste trabalho (p. 28) o
valor de π é dado como 3,1416; ele está expresso de forma verbal como uma série de instruções
matemáticas, uma característica comum da matemática hindu. Veja também David Eugene Smith, History
of Mathematics – “História da Matemática”, (1925; rpt. New York: Dover, 1953), vol. 1, pp. 153-156, e
George Gheverghese Joseph, The Crest of the Peacock: Non-European Roots of Mathematics – “A Crista
do Pavão – Raízes da Matemática Fora da Europa” (Harmondsworth, U.K.: Penguin Books, 1991), pp. 265-
266.
3 Para uma história detalhada da notação trigonométrica, veja Florian Cajori, A History of Mathematical
Notations – “História das Notações Matemáticas”, (1929; rpt. Chicago: Open Court, 1952) vol. 2, pp. 142-
179; veja também Smith, History of Mathematics, vol. 2, pp. 618-619 e 621-623. Uma lista dos símbolos
trigonométricos, com seus autores e datas, pode ser encontrada em Vera Sanford, A Short History of
Mathematics – “Breve História da Matemática” (1930; rpt. Cambridge, Mass. Houghton Mifflin, 1958),
p. 298.
4 Correspondência entre Gauss e Schumacher, como citado em Robert Edouard Moritz, On Mathematics
and Mathematicians (Memorabilia Mathematica) – “Sobre Matemática e Matemáticos”, (1914; rpt. New
York: Dover, 1942), p. 318
5 Smith, History of Mathematics, vol. 2, pp. 620; Cajori, entretanto, credita a al-Battani a construção da
primeira tábua de cotangentes (A History of Mathematics – “História da Matemática”, (1893, 2nd ed., New
York: McMillian, 1919, p. 105).
6Tradução para o inglês com introdução e notas de Barnabas Hughes (Madison: University of Wisconsin
Press, 1967).
Johann Müller, codinome Regiomontanus
Regiomontanus passou seus primeiros anos estudando em casa. Com doze anos,
seus pais o mandaram para Leipzig para iniciar sua educação formal, e após a formatura
se mudou para Viena, recebendo o grau de bacharel desta Universidade aos quinze anos.
Lá conheceu o matemático e astrônomo Georg von Peurbach (1423-1461), com quem
estabeleceu estreita amizade. Peuerbach estudou com o cardeal Nicolas de Cusa (1401-
1464), mas rejeitava a idéia corrente de que a Terra deveria girar ao redor do sol. Ele era
um admirador de Ptolomeu e planejava publicar uma versão correta do Almagesto,
baseado nas traduções latinas existentes. Ele também tomou para si a responsabilidade de
preparar uma nova e mais precisa tábua de senos, usando os recém-adotados numerais
indo-arábicos. O jovem Regiomontanus logo se viu sob a influência de Peuerbach, e a
ligação entre eles praticamente passou a ser de pai para filho. Mas então Peuerbach
morreu repentinamente, antes de completar 38 anos. Sua morte prematura deixou seus
trabalhos incompletos e seu discípulo em estado de choque.
Suas várias viagens o levaram à Grécia e à Itália, onde ele visitou Pádua, Veneza e
Roma. Foi em Veneza, em 1464, que ele terminou o trabalho pelo qual é mais comumente
lembrado, Sobre Triângulo de Todo Tipo (veja adiante). Além de todas essas atividades,
Regiomontanus era também um astrólogo praticante, não vendo nenhuma contradição
entre esta atividade e seu trabalho científico (o grande astrônomo Johann Kepler faria o
mesmo dois séculos mais tarde). Por volta de 1467 ele foi convidado pelo rei Matias
Hunyadi Corvino da Hungria para trabalhar como bibliotecário na recém fundada
biblioteca real de Budapeste; o rei, que acabava de retornar vitorioso de uma guerra com
os turcos e trazia consigo alguns livros raros como espólio de guerra, encontrou em
Regiomontanus o homem ideal para se encarregar desses tesouros. Logo após a chegada
de Regiomontanus, o rei caiu doente, e seus conselheiros previam sua iminente morte.
Regiomontanus, entretanto, usou suas habilidades astrológicas para “diagnosticar” a
doença como uma mera fraqueza do coração causada por um recente eclipse! Surpreso e
agradecido, o rei recuperou-se e concedeu muitas recompensas a Regiomontanus.
JOHANN MÜLLER 39
◊ ◊ ◊
A função seno é introduzida de acordo com a definição hindu: “Quando o arco e sua
corda são bipartidos, chamamos a meia corda de seno direto do meio-arco.” Logo depois
vem uma lista de axiomas, seguido por cinqüenta e seis teoremas que tratam de solução
geométricas para triângulos planos. Muito deste material trata mais de geometria do que
de trigonometria, mas o teorema 20 apresenta o uso da função seno para resolver um
triângulo retângulo.
Trigonometria propriamente dita começa no Livro II, com o enunciado da lei dos
senos; assim como todas as outras regras, ela é definida de forma literal, sem uso de
símbolos, mas a formulação é tão clara como a de qualquer livro-texto que encontramos
hoje. A lei dos senos é usada para resolver os casos ALA (um lado e dois ângulos) e LAL
(dois lados e um ângulo) de um triângulo oblíquo. Aqui aparece pela primeira vez, mas de
forma implícita, a fórmula da área de um triângulo em termos de dois lados e do ângulo
que eles formam: “Se a área de um triângulo for dada, juntamente com o produto escalar
de dois lados, então ou o ângulo oposto à base se tornará conhecido, ou [aquele ângulo]
juntamente [com seu] ângulo [exterior] será igual a dois ângulos retos.”7 Em formulação
moderna isso quer dizer que da fórmula A = (bc sen α)/2 pode-se encontrar tanto α quanto
(180º - α) se a área A e o produto de dois lados b e c forem dados. Estranhamente,
Regiomontanus nunca usou a função tangente, embora lhe fosse familiar a tábua de
tangentes de Peuerbach de 1467 e, claro, o uso desta pelos árabes, em conjunto com a
projeção de sombras.8
JOHANN MÜLLER 41
Você, que pretende estudar assuntos grandiosos e maravilhosos, que tem curiosidade
sobre o movimento das estrelas, necessita ler estes teoremas sobre triângulos... Pois
ninguém pode ignorar a ciência dos triângulos e alcançar um conhecimento satisfatório
das estrelas... O aluno iniciante não deve se assustar, nem se desesperar... E se algum
teorema vier a apresentar alguma dificuldade, poderá sempre consultar os exemplos
numéricos como auxílio.9
◊ ◊ ◊
Na figura 19 seja a estaca representada pelo segmento de reta vertical AB. Seja
OA = a, OB = b e OP = x, em que P é o ponto no solo no qual o ângulo θ = ∠BPA é
máximo. Seja α = ∠OPA , β = ∠OPB . Temos
cot α cot β + 1
cot θ = cot(α − β ) =
cot β − cot α
( x / a )( x / b) + 1
=
x/b − x/a
x ab
= +
a − b (a − b) x
cot θ = u + v ≥ 2 uv
x ab 2 ab
=2 ⋅ =
a − b ( a − b) x a − b
em que a igualdade ocorre se, e somente se, x/(a-b) = ab/(a-b)x, isto é, quando x = ab .
O ponto pedido está localizado a uma distância igual à média geométrica entre as alturas
do ponto inicial e do ponto final da estaca, medidas verticalmente a partir do solo.
JOHANN MÜLLER 43
NOTAS E FONTES
1Veja Regiomontanus on Triangles – “Sobre Triângulos, de Regiomontanus”, traduzido para o inglês por
Barnabas Hughes com introdução e notas (Madison: University of Wisconsin Press, 1967), pp. 11-17, de
onde sua curta biografia foi adaptada. Veja também David Eugene Smith, History of Mathematics –
“História da Matemática”, (1925; rpt. New York: Dover, 1953), vol. 1, pp. 259-260. A única biografia
moderna de Regiomontanus está em alemão, Leben und Wirken des Johannes Muller von Königsberg
genant Regiomontanus – “Vida e Obra de Johann Muller de Königsberg, conhecido como Regiomontanus”
(Munich: C. H. Beck, 1939).
3 Ibid., p.14.
4Antigo instrumento de astronomia que representa o conjunto da esfera celeste e o movimento dos astros.
O globo central representa a terra e os vários anéis concêntricos (armilas) os corpos celestes. Há uma seta
que aponta para o pólo. (N.T.)
5A história de sua morte por envenenamento é contada por Gassendi, na biografia de Regiomontanus, de
1654, e evoca ecos do alegado envenenamento cometido por Antonio Salieri a seu arqui-rival, Mozart.
7 Ibid., p.133.
8 Ibid., pp.4-7.
10 Ibid., p.9.
JOHANN MÜLLER 45
11 Heinrich Dörrie, 100 Great Problems os Elementary Mathematics: Their History and Solution – “100
Maiores Problemas de Matemática Elementar: Suas Histórias e Soluções”, traduzido para o inglês por
David Antin (1958; rpt. New York: Dover, 1965), pp. 369-370. Mudei ligeiramente o enunciado para tornar
a leitura mais fácil.
12 Este teorema vem do fato de que o quadrado de um número real nunca será negativo; então
0 ≤ ( u − v ) 2 = u − 2 uv + v . Movendo o termo − 2 uv para o lado esquerdo e dividindo por 2, obtemos
o resultado desejado. A igualdade ocorre se, e somente se, u − v = 0 , isto é, u = v.
13 Não fui capaz de descobrir se Regiomontanus realmente forneceu uma solução para seu problema. De
acordo com Florian Cajori, A History of Mathematical Notations – “História das Notações Matemáticas”,
(1929; rpt. La Salle Ill: Open Court, 1951, vol. 1, p. 95), as correspondências entre Regiomontanus e
cientistas amigos, durante o período 1463-1471, estão preservadas na Biblioteca Pública de Nuremberg.
- François Viète
Com o grande matemático francês François Viète (também conhecido pelo seu
nome em latim, Franciscus Vieta, 1540-1603), a trigonometria começou a assumir sua
característica analítica moderna. Dois desenvolvimentos tornaram esse processo possível:
o advento da álgebra simbólica – para a qual Viète foi quem mais contribuiu – e a
invenção da Geometria Analítica por Fermat e Descartes na primeira metade do
século 17. A gradual substituição da incômoda álgebra verbal da matemática medieval
por expressões simbólicas concisas – uma álgebra literal – facilitou muito a escrita e a
leitura de textos matemáticos. Ainda mais importante, capacitou os matemáticos a aplicar
métodos algébricos a problemas que, até então, tinham sido abordados de modo
puramente geométrico.
2 2 2+ 2 2+ 2+ 2
= ⋅ ⋅ ⋅ ...
π 2 2 2
(Viète usou a abreviação etc no lugar das reticências). Foi a primeira vez que um processo
infinito foi escrito explicitamente como uma fórmula matemática, o que marcou o início
da Análise moderna.1 (Mostraremos a prova do produto de Viète no capítulo 11.)
(Contrastando com seu longo título, o trabalho em si contém, além das tábuas, apenas
trinta e seis páginas de texto.) E o trabalho de John Wallis (1616-1703) sobre séries
infinitas foi um precursor imediato das descobertas de Newton na mesma área. Wallis,
mais que qualquer outro em seu tempo, percebeu que métodos sintéticos em matemática
poderiam abrir caminho para métodos analíticos: ele foi o primeiro a tratar as seções
cônicas como equações quadráticas, no lugar de objetos geométricos, como os gregos
haviam feito. (Wallis foi também o primeiro matemático de renome a escrever sobre
história da matemática, e ainda introduziu o símbolo ∞ para o infinito.) Sua fórmula mais
famosa é o produto infinito
π 2 2 4 4 6 6
= ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ...
2 1 3 3 5 5 7
que juntamente com o produto de Viète figura entre as mais belas fórmulas na
matemática. Wallis chegou a esse resultado com uma corajosa intuição e complexos
processos de interpolação que poderiam levar a paciência de um leitor moderno ao
limite;4 no capítulo 12 chegaremos a seu produto por um caminho mais curto e elegante.
◊ ◊ ◊
Existe ainda outra razão para o surgimento da Geometria Analítica na primeira metade do
século 17: o contínuo surgimento de leis matemáticas para descrever o mundo físico ao
nosso redor. Enquanto os inventores da trigonometria clássica estavam interessados
principalmente em aplicá-la aos céus (e, por conseguinte, com predominância inicial da
trigonometria esférica sobre a plana), a nova era tinha seus pés plantados firmemente no
mundo mecânico da vida diária. A descoberta de Galileu de que todo movimento pode ser
dividido em duas componentes perpendiculares – e que essas componentes poderiam ser
tratadas de forma independente uma da outra – imediatamente fez da trigonometria algo
indispensável para o estudo do movimento. A ciência da artilharia – e no século 17 ela
era considerada uma ciência – estava preocupada principalmente em encontrar o alcance
de um projétil disparado por um canhão. Essa distância, na ausência de resistência do ar, é
dada pela fórmula R = (v02 sen 2α)/g, onde v0 é a velocidade do projétil ao sair do canhão,
α é o ângulo do disparo em relação à horizontal, e g a aceleração da gravidade (cerca de
9,81 m/s2). Essa fórmula mostra que para uma velocidade qualquer, o alcance depende
somente de α: ele encontra seu valor máximo quando α = 45º e diminui simetricamente
acima e abaixo de 45º. Esses fatos, é claro, eram sabidos de forma empírica há muito
tempo, mas suas bases teóricas eram novas nos tempos de Galileu.
cada vez mais apuradas, o que por sua vez dependia da disponibilidade de relógios com
precisão cada vez maior. Isto levou cientistas a estudar a oscilação de pêndulos e molas
de vários tipos. Alguns dos maiores nomes da época estavam envolvidos nesses estudos,
entre os quais Chistiaan Huygens (1629-1695) e Robert Hooke (1635-1703). Huygens
descobriu o pêndulo cicloidal, cujo período de oscilação independe da amplitude,
enquanto o trabalho de Hooke sobre molas elásticas formou a base para os modernos
relógios de corda. Em outro nível, as crescentes habilidade e sofisticação na construção
de instrumentos musicais – da madeira e de metais para órgãos e instrumentos de teclas –
motivaram cientistas a estudar a vibração de corpos que emitem sons, tais como cordas,
membranas, sinos e tubos de ar. Tudo isso enfatizou a função da trigonometria de
descrever fenômenos periódicos e resultou numa transferência da ênfase em trigonometria
computacional (a compilação de tábuas) para as relações entre funções trigonométricas –
a essência da trigonometria analítica.
◊ ◊ ◊
φ i = log(cosφ + i senφ )
em que i = √-1 e “log” significa o logaritmo natural (logaritmo na base e = 2,718…). Esta
fórmula, é claro, é equivalente à famosa fórmula de Euler eiϕ = cos ϕ + i sen ϕ,
publicada em 1748 em seu grande trabalho, Introductio in analysin infinitorum. Também
em 1722 Abraham De Moivre (1667-1754) produziu – ainda que de forma implícita – a
fórmula
que é a base para se encontrar a enésima raiz de um número, real ou complexo. Ela
carrega, de qualquer forma, a autoridade de Euler e seu Introductio para incorporar
completamente os números complexos à trigonometria: com ele, a trigonometria se
tornou verdadeiramente analítica. (Voltaremos à função dos números complexos na
trigonometria no capítulo 14.)
◊ ◊ ◊
O esforço para resolver essa famosa equação, conhecida como equação da onda
unidimensional, envolveu as melhores mentes matemáticas daquele tempo, entre as quais
a família Bernoulli, Euler, D’Alembert e Lagrange. Euler e D’Alembert expressaram suas
soluções em termos de funções arbitrárias representando duas ondas, uma se movendo
pela corda para a direita e outra para a esquerda, com velocidade igual à constante c.
Daniel Bernoulli, por outro lado, encontrou uma solução envolvendo uma série infinita de
funções trigonométricas. Como essas duas soluções para o mesmo problema pareceram
tão diferentes, a pergunta que surgiu é se elas podiam ser conciliadas, e se não, qual delas
era mais geral. Esta questão foi respondida pelo matemático francês Jean Baptiste Joseph
Fourier (1768-1830). Em seu trabalho mais importante, Théori analytique de la chaleur
(Teoria analítica do calor, 1822), Fourier mostrou que quase toda a função, quando feita
periódica em um dado intervalo, pode ser representada por uma série trigonométrica da
forma
O teorema de Fourier marca um dos grandes feitos da Análise no século 19. Ele
mostra que as funções seno e cosseno são essenciais para o estudo de todos os fenômenos
periódicos, simples ou complexos; elas são de fato os blocos que constroem todos esses
fenômenos, da mesma forma que os números primos são os blocos que constroem todos
os inteiros. O teorema de Fourier foi mais tarde generalizado para funções não-periódicas
(nesse caso a série infinita se torna uma integral), e também para séries envolvendo
funções não-trigonométricas. Esses desenvolvimentos provaram ser de importância
crucial para diversos ramos da ciência, da Óptica e Acústica à Teoria da Informação e
Mecânica Quântica.
NOTAS E FONTES
1 Achados recentes indicam que os hindus poderiam conhecer vários processos infinitos envolvendo π,
antes de Viète; veja George Gheverghese Joseph, The Crest of the Peacock: Non-European Roots of
Mathematics (Harmondsworth, U.K.: Penguin Books, 1991), pp., 286-294.
2 Veja meu livro, e: The Story of a Number (Princeton, N.J.: Princeton University Press, 1994) [edição
brasileira e: a Estória de um Número, editora Record, 2003], caps. 1 e 2.
3 No entanto, veja na página 33 o pioneirismo do uso desses símbolos. Veja ainda Florian Cajori, William
Oughtred: A Great Seventeenth-Century Teacher of Mathematics (Chicago: Open Court, 1916), pp; 35-39.
Cajori observa que as tábuas no livro de Oughtred usa uma divisão centesimal do grau (ou seja, em cem
partes), uma prática que foi renovada em nosso tempo com o advento das calculadoras portáteis.
4 Veja A Source Book in Mathematics, 1200-1800 ed. D. J. Struik (Cambridge, Mass: Harvard University
Press, 1969), pp. 244-253.
5 David Eugene Smith, History of Mathematics (1925; rpt. New York: Dover, 1953), vol. 2, p. 613.
Kästner foi o primeiro matemático a escrever um trabalho inteiramente voltado para a história da
matemática (em 4 volumes; Göttingen, 1796-1800).
Durante sua vida, Viète praticou a matemática apenas em seu tempo livre, mais
como uma recreação intelectual que uma profissão. Ele não estava sozinho nesse
costume: Pierre Fermat, Blaise Pascal e René Descartes fizeram todos grandes
contribuições à matemática em seu tempo ocioso, enquanto oficialmente ocupavam uma
variedade de posições políticas, diplomáticas e, no caso de Descartes, militares. Viète
iniciou sua carreira científica como tutor de Catherine de Parthenay, filha de uma
proeminente figura militar, para quem escreveu diversos livros. Como sua reputação
cresceu, ele foi convocado a servir o monarca Henrique IV em sua guerra contra a
Espanha. Viète mostrou-se um expert em decifrar códigos do inimigo: uma mensagem
secreta ao monarca espanhol Filipe II, por seu posto avançado, foi interceptada pela
França e entregue a Viète, que conseguiu decifrá-la. Os espanhóis, espantados por ver seu
código quebrado, acusaram a França de usar feitiçaria, “contrária às práticas da fé
cristã.”1
◊ ◊ ◊
yn = xyn-1 – yn-2 ,
FRANÇOIS VIÈTE 55
Agora é possível expressar cos (n-1)α e cos (n-2)α em termos de cossenos de múltiplos
cada vez menores de α; continuando o processo, chegar-se-á a uma fórmula expressando
cos nα em termos de cos α e sen α. Viète era capaz de fazer isso para todos inteiros n até
10. Ele era tão orgulhoso desse feito que exclamou: “A análise de seções angulares
envolve segredos aritméticos e geométricos que até o presente momento não foram
desvendados por ninguém.”2 Para avaliar sua façanha, devemos dizer que as fórmulas
gerais expressando cos nα e sen nα em termos de cos α e sen α foram descobertas por
Jacob Bernoulli em 1702, mais de cem anos após o trabalho de Viéte.3
+ 95.634 x 5 − 3.795 x 3 + 45 x = c ,
Viète, que já havia feito investigações similares, percebeu imediatamente que aquele
“terrível” problema era simplesmente a equação pela qual c = 2 sen θ era expressada
em termos de x = 2 sen (θ /45); como 45 = 3 · 3 · 5, seria necessário apenas dividir um
ângulo em cinco partes iguais, e depois dividi-lo duas vezes em três partes – uma divisão
que poderia ser efetivada por equações correspondentes do quinto e do terceiro graus.5
x 3 − 3x + 1 = 0 .
1
= 3y − 4 y3 .
2
Se tivermos olhos bem aguçados, poderemos reconhecer a similaridade entre esta equação
e a identidade
De fato, podemos fazer com que as duas equações coincidam se escrevermos 1/2 = sen 3α
e y = sen α; nesta nova forma, o problema passa ser o de encontrar sen α, dado que
sen 3α = 1/2, e então 3α = 30º + 360ºk, em que k = 0, ±1, ±2,… , e α = 10º + 120ºk.
Assim, y = sen (10º + 120ºk), e finalmente x = 2y = 2 sen (10º + 120ºk). Entretanto, como
a função seno tem um período de 360º, é suficiente considerar apenas os valores k = 0, 1,
2. Nossas três soluções são
Com uma calculadora podemos checar facilmente que são realmente as três soluções.
Dessa forma uma identidade trigonométrica nos ajudou a resolver uma equação
puramente algébrica.
Agora, uma coisa é resolver uma equação cúbica usando trigonometria, outra bem
diferente é resolver outra de grau 45. Como então Viète encontrou suas soluções ? Em um
trabalho intitulado Responsum (1595) ele descreveu seu método, que iremos sumarizar
aqui em notação moderna: seja
Nossa tarefa é encontrar x = 2sen θ, dado c = 2sen 45θ. Faremos isso em três estágios.
Novamente começaremos com a identidade sen 3α = 3sen α – 4sen3α. Substituindo
α = 15θ e multiplicando por 2, temos
c = 3y – y3 (1)
y = 3z – z3 (2)
FRANÇOIS VIÈTE 57
5 5 1
sen5α = sen α − sen 3α + sen 5α .6
8 16 16
Se agora fizermos a substituição inversa, ou seja, a equação (3) na equação (2) e depois a
(2) na equação (1) e expandirmos, teremos exatamente a equação de Van Roomen!
Viète então dividiu o problema original em outros três mais simples. Mas por que
ele encontrou apenas vinte e três soluções, quando sabemos que a equação original deve
ter quarenta e cinco soluções (todas reais, como sugerido pela interpretação geométrica
do problema: dividir um ângulo qualquer em quarenta e cinco partes iguais)? A razão é
que, no tempo de Viète, ainda era comum a prática de se tratar com o comprimento da
corda de um ângulo, em vez de seu seno, como as básicas funções trigonométricas (veja
capítulo 2); e como não existem comprimentos negativos, ele teve que rejeitar todas as
soluções negativas como soluções sem sentido. O conjunto completo de soluções é dado
por
(assumindo que 45θ ≤ 180º, pois de outra forma sen 45θ por si só já seria negativo) e
desses, apenas os vinte e três primeiros são positivos, correspondendo aos ângulos do
primeiro e segundo quadrantes.
◊ ◊ ◊
Durante seus últimos anos, Viète estava envolvido em uma áspera discussão com
o matemático alemão Christopher Clavius (1537-1612), sobre a reforma do calendário
que havia sido ordenada pelo papa Gregório XIII, em 1582. Os duros ataques de Viète a
Clavius, que era o conselheiro do papa nessa matéria, fizeram-lhe vários inimigos e
resultou na rejeição de sua nova álgebra por parte de seus adversários. Vale a pena
também dizer que Viète se opôs sistematicamente ao sistema de Copérnico, tentando
aprimorar o velho sistema geocêntrico de Ptolomeu. Vemos aqui o conflito interior de um
homem que foi um inovador de primeira grandeza, e um conservador profundamente
enraizado no passado. Viète morreu em Paris em 13 de dezembro de 1603 aos 63 anos.
Com ele, a álgebra e a trigonometria começaram a tomar a forma que conhecemos hoje.8
NOTAS E FONTES
1 W.W. Rouse Ball, A Short Account of The History of Mathematics (1908; rpt. New York: Dover, 1960),
p. 230.
2 Florian Cajori, A History of Mathematics (1893, 2nd ed., New York: McMillian, 1919,) p. 138 [edição
brasileira – Uma História da Matemática, Editora Ciência Moderna, 2007].
n(n − 1)
cos nα = cos n α − cos n −2 α ⋅ sen 2α + ...
2!
n n(n − 1)(n − 2)
sen nα = cos n −1 α ⋅ senα − cos n −3 α ⋅ sen 3α + ...
1! 3!
4 Nesse trabalho o valor de π é fornecido com dezessete casas decimais, algo notável para a época.
6 Esta identidade pode ser obtida da fórmula sen 5α = 5sen α – 20 sen3α + 16sen5α substituindo sen3α por
(3sen α – sen 3α)/4 e resolvenso para sen5α.
7 A família van Schooten produziu três gerações de matemáticos, sendo que todos nasceram e viveram em
Leyden: Frans sênior (1581-1646), Frans junior, mencionado acima, e seu meio-irmão Petrus (1634-1679).
Dos três, o mais proeminente foi Frans junior, que editou a edição latina de La Géométrie, de Descartes; ele
ainda escreveu sobre perspectiva e defendeu o uso de coordenadas tridimensionais no espaço. Ele foi
professor do grande cientista holandês Christiaan Huygens.
8 Não existe biografia de Viète em inglês. Fragmentos de sua vida e de seu trabalho podem ser encontrados
em Ball, Short Account, pp. 229-234; Cajori, History of Mathematics, pp. 137-139; Joseph Ehenfried
Hofmann, The History of Mathematics (New York: Philodophical Library, 1957), pp. 92-101; e no DSB.
5
Medindo o Céu e a Terra
Desde seus primeiros dias, a geometria tem sido aplicada a problemas práticos de
medição – encontrar a altura de uma pirâmide, ou a área de um campo, ou o tamanho da
Terra. De fato, a própria palavra “geometria” vem do grego geo (terra) e metron (medir).
Mas a ambição dos primeiros cientistas gregos ia mais longe: utilizando a geometria
simples, e mais tarde a trigonometria, eles tentaram estimar o tamanho do universo.
Seu método, conhecido como “dicotomia da lua” (do grego dichotomos, dividir
em duas partes), é baseado no fato de que no exato momento em que metade do disco
lunar aparece iluminada pelo sol, o que acontece duas vezes durante o ciclo lunar, as
linhas imaginárias que partem da Terra para a lua, e da lua para o sol, formam um ângulo
reto (fig. 22). Segue que, se conhecemos o ângulo LTS, podemos, em princípio, encontrar
as razões entre os lados do triângulo TLS, e em particular a razão TS/TL. Aristarco diz que
o ângulo LTS é “menor que um quadrante por um trigésimo de quadrante”, ou seja,
∠LTS = 90º – 3º = 87º. Pela trigonometria moderna, segue que TS/TL = sec 87º = 19,1.
60 CAPÍTULO 5
Aristarco, é claro, não tinha tábuas trigonométricas à sua disposição, e então ele tinha que
contar com um teorema que, em notação moderna, diz: Se α e β são dois ângulos agudos e
α > β, então (sen α)/(sen β) < α/β < (tan α)/(tan β).2 Daí ele concluiu que TS/TL é maior
que 18:1 mas menor que 20:1.
Essa estimativa da razão TS/TL é muito menor que o valor correto, por volta de
390. O motivo para essa distorção é que o método de Aristarco, que parece legítimo em
princípio, lamentavelmente não era prático de se implementar. Em primeiro lugar, é
extremamente difícil determinar exatamente o momento da dicotomia, mesmo com
telescópios modernos; e segundo, é particularmente difícil medir o ângulo LTS – deve-se
olhar diretamente para o sol, que pode já ter se posto no momento da dicotomia. Além
disso, como ∠LTS é muito próximo de 90º, um pequeno erro em sua determinação pode
levar a um grande erro na razão TS/TL. Por exemplo, se ∠LTS fosse 88º em vez de 87º,
TS/TL seria 28,7, enquanto para 86º seria 14,3. De qualquer forma, o método de
Aristarco marca a primeira tentativa de se estimar as dimensões de nosso sistema
planetário baseada na medição real de quantidades observáveis.
Agora, uma coisa é estimar a razão entre as distâncias de dois objetos distantes, e
outra bem diferente é estimar suas distâncias e dimensões reais. Aqui o fenômeno da
paralaxe tem função crucial. É uma experiência comum quando um objeto aparente
mudar sua posição – visto contra um pano de fundo distante – quando o observador muda
sua própria posição, ou quando visto simultaneamente por dois observadores em lugares
diferentes. Se a distância entre os dois observadores é conhecida (o comprimento da linha
de referência) então, medindo-se o deslocamento angular aparente da posição do objeto (o
ângulo de paralaxe), pode-se encontrar a distância para o objeto, usando trigonometria
simples. O método da paralaxe é a base para a topografia, mas quando aplicado às
MEDINDO O CÉU E A TERRA 61
enormes distâncias entre corpos celestiais, sua precisão fica limitada: quanto mais distante
o objeto, menor o ângulo de paralaxe e maior a incerteza na estimativa de sua distância.
O primeiro a usar a paralaxe lunar para estimar a distância para a lua foi Hiparco e
Nicéia, de quem já falamos no capítulo 2. Hiparco estudou cuidadosamente os antigos
registros babilônicos de eclipses desde os século 8 a.C., e com isso adquiriu um
conhecimento completo sobre o movimento do sol e da lua. Por uma feliz coincidência,
um eclipse solar ocorreu não muito longe de sua terra natal apenas alguns anos antes de
seu nascimento; este eclipse, recentemente identificado como sendo o de 14 de março de
189 a.C., foi total perto de Helesponto (o estreito de Dardanelos, na atual Turquia),
enquanto em Alexandria apenas 4/5 do disco solar foram cobertos pela lua. Como o sol e
a lua subentendem um ângulo de aproximadamente meio grau de arco da esfera celeste, o
deslocamento aparente da posição da lua deveria ser de 1/5 disso, ou por volta de
6 minutos de arco. Combinando essas informações com a latitude e a longitude das duas
localidades e a elevação do sol e da lua no momento do eclipse, Hiparco foi capaz de
calcular a menor e a maior distância para a lua como sendo 71 e 83 vezes o raio da Terra,
respectivamente. Ainda que essas estimativas sejam maiores que os valores corretos
56 e 64, elas estão na ordem de grandeza correta, e podem ser consideradas um feito
notável para sua época.5
◊ ◊ ◊
observação de uma evidência (por exemplo, do fato de que durante um eclipse lunar
parcial, a Terra sempre projeta uma sombra circular na lua) ou, como era mais comum, a
partir de princípios estéticos e filosóficos (pois a esfera é a mais perfeita de todas as
formas), não se sabe. Mas uma vez que se estabeleceu a idéia de que a Terra é esférica,
esforços foram despendidos a fim de determinar seu tamanho. O crédito pela execução
dessa façanha vai para o brilhante matemático e geógrafo do século segundo a.C.,
Eratóstenes de Cirene (circa 275-194 a.C.).
No ano de 240 a.C., Eratóstenes realizou a façanha pela qual é mais comumente
lembrado: o cálculo do tamanho da Terra. Era sabido que ao meio-dia do solstício de
verão (o dia mais longo do ano)a, os raios solares iluminavam diretamente o fundo de um
poço profundo na cidade de Siena (hoje Assuã) no Alto Egito; ou seja, naquele dia o sol
estava exatamente a pino ao meio-dia. Mas em Alexandria, mais ou menos ao norte de
Siena, naquele momento o sol estava a um qüinquagésimo de um círculo (ou seja, 7,2º)
do zêniteb, medido pela sombra de uma estaca vertical (fig. 23). Eratóstenes assumiu que
o sol está tão distante da Terra que seus raios nos chegam praticamente paralelos; então a
diferença entre a elevação do sol em dois locais diferentes pode ser devido à esfericidade
da Terra. Como a distância entre Alexandria e Siena era de 5.000 estádios (medida pelo
tempo que um mensageiro do rei levava para ir de uma cidade à outra), a circunferência
da Terra deveria ser de 50 vezes essa distância, ou 250.000 estádios.
b Ponto superior da esfera celeste, segundo a perspectiva de um observador na superfície da Terra (isto é, o
exato ponto acima de sua cabeça). O ponto diametralmente oposto chama-se nadir. (N.T.)
MEDINDO O CÉU E A TERRA 63
◊ ◊ ◊
Após a morte de Picard em 1682, o trabalho continuou por mais um século, pelas
mãos de quatro gerações de uma notável família de astrônomos, os Cassini. Giovanni
Domonico Cassini (1625-1712) nasceu na Itália e lecionou na Universidade de Bolonha,
mas em 1668, como resultado dos insistentes esforços de Picard, ele deixou seu posto e se
tornou chefe do recém fundado Observatório de Paris. Alterando seu nome para Jean
Dominique, ele fez contribuições significantes para a astronomia: a determinação dos
períodos de rotação de Marte e Júpiter, o primeiro estudo da luz zodiacal (um brilho
difuso que aparece perto do sol nascente ou poente), a descoberta de quatro satélites de
Saturno e uma lacuna escura nos anéis de saturno (conhecida como Divisão Cassini), e a
medição da paralaxe de Marte em 1672, com a qual ele foi capaz de calcular – usando as
leis de Kepler para o movimento planetário – a distância da Terra para o sol em 140
milhões de quilômetros, a primeira determinação dessa distância a chegar perto dos
corretos 150 milhões de quilômetros. Incrivelmente, ele foi também um dos últimos
astrônomos profissionais a se opor ao sistema heliocêntrico de Copérnico, e ele
MEDINDO O CÉU E A TERRA 65
Na porção final de sua vida Cassini se dedicou cada vez mais à geodésia e à
cartografia, utilizando sua experiência com astronomia. Em 1679 ele concebeu um novo
mapa-múndi, o planisphère terrestre, usando uma projeção na qual todas as direções e
distâncias a partir do Pólo Norte eram mostradas corretamente; ela é conhecida como
projeção azimutal eqüidistante (veja capítulo 10). O gigantesco mapa de Cassini, com
pouco mais de 7 metros de diâmetro, foi desenhado no terceiro andar do Observatório de
Paris; ele se tornou um modelo para os futuros cartógrafos e foi reproduzido e publicado
em 1696.
Mas Cassini não descansou sobre seus louros. Com 70 anos ele retomou a
triangulação da França com vigor renovado, auxiliado por seu filho Jacques (1677-1756).
Seu objetivo: estender a triangulação até os Pireneus e, quem sabe, cobrir toda a Europa
com uma rede de triângulos. Como objetivo secundário, eles esperavam descobrir se a
Terra era oblata ou prolata.
O velho Cassini morreu em 1712 com 87 anos. Seu filho percebeu que o problema
somente seria resolvido pela comparação do comprimento de um grau em latitudes bem
distantes uma da outra, e ele sugeriu que fossem enviadas expedições para a região
equatorial e para o Ártico, a fim de resolver a questão de uma vez por todas. Não era
apenas um interesse teórico sobre a forma da Terra que estava sendo discutido, mas todo
o prestígio da França estava em jogo. Newton havia antecipado que a Terra seria achatada
nos pólos, baseando seus argumentos na interação entre a força gravitacional da Terra
sobre si mesma e a força centrífuga ocasionada pela rotação em seu próprio eixo. Na
França, todavia, as idéias de Newton sobre gravitação – especialmente sua noção de
“ação à distância” – foram rejeitadas em favor da teoria dos vórtices de Descartes, que
sustentava que a atração gravitacional era ocasionada por gigantescos vórtices que
giravam como redemoinhos em volta de um fluido que permearia todo o espaço. “A
forma da Terra se tornou cause célèbre, o assunto científico mais debatido naqueles dias,
com o orgulho nacional francês e britânico em disputa.”12
A primeira expedição foi chefiada por Pierre Louis Moreau de Maupertuis (1698-
1759), que iniciou sua carreira no exército francês e mais tarde se tornou matemático e
físico (ele foi o primeiro a formular o Princípio da Mínima Ação, que depois ele usou
para “provar” a existência de Deus). Como admirador de Newton e o único a apoiá-lo no
continente, ele estava ansioso para se juntar à empreitada que, ele esperava, poderia
provar que seu mestre estava certo. Indo com ele estava outro matemático francês, Alexis
Claude Clairaut (1713-1765), um jovem prodígio que havia estudado Cálculo com 10
anos e publicou seu primeiro trabalho aos 18 (a equação diferencial xy’ – y = f(y’), em
que f é uma função dada de derivada f’, foi nomeada em sua homenagem). A expedição
para o Peru foi chefiada por um geógrafo, Charles Marie de La Condamine (1701-1774),
e também incluiu um matemático, Pierre Bouger (1698-1758). A participação de tantos
matemáticos do primeiro escalão, em expedições de campo a países remotos, estava em
consonância com a longa tradição francesa de produzir eminentes cientistas que também
serviram seu país no serviço militar e civil. Encontraremos mais alguns deles no
capítulo 15.
◊ ◊ ◊
MEDINDO O CÉU E A TERRA 67
Fig. 24. Medindo um grau de longitude. O mapa mostra parte da rede de triangulação feita pela
expedição Maupertuis à Lapônia. De uma gravura de 1798 (da coleção do autor).
O exemplo geodésico francês estava agora sendo seguido pelo restante da Europa,
e em meados do século 19, a maior parte do continente estava perfeitamente triangulada e
mapeada. A tarefa então cruzou o oceano e foi para a Índia, a jóia da coroa do Império
Britânico, onde um grande projeto de triangulação, conhecido como a Grande Análise
Trigonométrica, foi posto em prática de 1800 a 1913. Patrocinado pela Companhia das
Índias Orientais, a grande empresa comercial que administrava o país de seus escritórios
em Londres, o trabalho começou próximo a Madras, na costa sudoeste da baía de Bengala
e finalmente chegou ao Himalaia no extremo norte.
O capitão William Lambton, que chefiou os trabalhos de 1802 até sua morte,
estava determinado a atingir seu objetivo com precisão inédita. Seu enorme teodolito,
pesando meia tonelada, foi construído em Londres de acordo com suas instruções e
despachado para a Índia, sendo interceptado na rota por uma fragata francesa. Numa
ocasião, esse monstruoso instrumento foi suspenso até o topo do Grande Templo de
Tanjore, para que desse aos analistas uma visão mais clara do terreno. Num momento um
cabo se rompeu e o instrumento foi ao chão e quebrou-se. Incansável, Lambton isolou-se
em seu acampamento e nas seis semanas seguintes consertou ele mesmo o equipamento.
Durante sua jornada, Everest fez uma descoberta que é debatida ainda hoje: ele
concluiu que a grande massa das montanhas do Himalaia desviava a direção do fio de
prumo. Essa anomalia gravitacional foi a primeira indicação do que hoje se chama
“mascon” (do inglês mass concentration – concentração de massa – sendo que o termo foi
aplicado primeiramente à lua), cuja exata natureza e distribuição está hoje sendo mapeada
por satélites.
MEDINDO O CÉU E A TERRA 69
◊ ◊ ◊
d Netuno foi descoberto em 1846. Plutão foi descoberto em 1930 e “rebaixado” para planeta-anão em 2007.
(N.T.)
MEDINDO O CÉU E A TERRA 71
r
d= .
sen α
d = 10,1 anos-luz.
Em 1844 Bessel fez uma segunda descoberta épica: ele apontou seu telescópio
para Sirius, a estrela mais brilhante no céu, e descobriu que seu movimento próprio exibia
um padrão levemente ondulatório. Ele atribuiu corretamente a influência gravitacional a
uma companhia invisível que girava ao redor de Sirius. Essa companhia, Sirius B, foi
descoberta em 1862 pelo fabricante de telescópios Alvar Graham Clark (1832-1897).
Já próximo do fim de sua vida, Bessel voltou-se novamente para o problema das
perturbações gravitacionais. Um dos mais intrigantes mistérios astronômicos da época
eram as anomalias no movimento do planeta Urano: todas as tentativas de explicar essas
anomalias como sendo causada por planetas conhecidos – em particular Júpiter e Saturno
– haviam falhado. Bessel corretamente atribuiu à existência de um desconhecido planeta
“transuraniano”, mas ele morreu alguns meses antes que esse planeta, Netuno, fosse
descoberto.
NOTAS E FONTES
1 Veja Sir Thomas L. Heath, Aristarchus of Samos: The Ancient Copernicus (1932; rpt. New York: Dover,
1981), e Greek Astronomy (1932; rpt. New York: Dover, 1991).
2 Isto vem do fato que para 0º < x < 90º, o gráfico para (sen x)/x é decrescente, enquanto o de (tan x)/x é
crescente; ou seja, (sen α)/α < (sen β)/ β e (tan α)/α > (tan β)/ β.
3Em 1995 me juntei a um grupo de astrônomos em uma expedição para a Índia para observar o eclipse total
de 24 de outubro. Do momento em que olhamos diretamente a linha central da sombra da lua, a totalidade
durou meros 41 segundos.
4 Citado por Bryan Brewer, Eclipse (Seattle: Earth View, 1978), p.31.
5 Veja Albert van Helden, Measuring the Universe: Cosmic Dimensions from Aristarchus to Halley
(Chicago: University of Chicago Press, 1985), p.11. Veja também o artigo de Toomer sobre Hiparco no
DSB.
6 Muito se debateu sobre o tamanho de um estádio. Algumas fontes dizem ser igual a 1/15 de milha, ou
161 metros, o que levaria a circunferência da Terra a 40.200 km. Parece, entretanto, que esse comprimento
do estádio foi “acertado” para que o valor da circunferência fique mais próximo do valor moderno. Citando
B. L. van der Waerden em Science Awakening (New York: John Wiley, 1963), p. 230: “Como não sabemos
realmente o comprimento exato de um estádio, podemos dizer mais corretamente que a ordem de grandeza
[da circunferência da Terra] está aproximadamente correta”. Veja também David Eugene Smith, History of
Mathematics (1925; rpt. New York: Dover, 1958), vol. 2, p. 641.
7A narrativa que segue é baseada nas seguintes fontes: Lloyd A. Brown, The Story of Maps (1949; rpt. New
York: Dover, 1979); John Noble Wilford, The Mapmakers (New York: Alfred A. Knopf, 1981); e Simon
Berthon e Andrew Robinson, The Shape of the World (Chicago: Rand McNally, 1991).
8 Seu verdadeiro nome era Gemma Regnier, mas ele ficou conhecido como Gemma Frisius por causa do
local de seu nascimento, Friesland. Em 1541 ele se tornou professor de medicina na Universidade de
Louvaine. Seu livro de aritmética (Antuérpia, 1540) foi muito popular e chegou a não menos que sessenta
edições. Ele também escreveu sobre geografia e astronomia e sugeriu o método para determinar a longitude
pela diferença da hora local entre dois lugares. Seu filho Cornelius Gemma Frisius (1535-1577) continuou o
trabalho de seu pai e trabalhou como professor de medicina na mesma Universidade.
9 Ele foi professor de matemática em Leyden onde sucedeu seu pai. Ele trabalhou astronomia, física e
trigonometria esférica e é mais conhecido pela sua lei de refração em óptica.
10 Somente em 1913 a França reconheceria o meridiano de Greenwich como sendo o principal (zero), em
troca do “reconhecimento” pela Inglaterra do sistema métrico.
11A sonda espacial Cassini, lançada pela NASA em outubro de 1987 para uma viagem de sete anos até
Saturno, foi batizada em sua homenagem.
13Surpreendentemente, em sua autobiografia, Nothing Venture, Nothing Win (New York: Coward, NcCann
& Geoghegan, 1975), Sir Edmund Hillary, que juntamente com o sherpa Tenzing Norgay, foi o primeiro a
escalar o Monte Everest em 1953, ainda contava a altitude da montanha como 29.002 pés – mais de vinte
anos após ela ter sido oficialmente modificada. Em 1994, uma equipe topográfica chinesa, auxiliada por um
satélite GPS, marcaram a altitude como 29.023 pés (8.846 m).
15Atualmente, Alfa Centauro é um sistema estelar tríplice, cuja componente de brilho mais débil, Próxima
Centauro (descoberta em 1915), está atualmente a 4,2 anos-luz de distância. Cisne-61 hoje é a 90ª estrela
em ordem crescente de distância do sol. Veja o artigo “Our Nearest Celestial Neighbors,” de Joshua Roth e
Roger W. Sinnot, Sky & Telescope, outubro de 1996, pp. 32-34.
16Para n = 0 e 1 as funções de Bessel – denotadas por J0(x) e J1(x) – exibem certas similaridades com cos x
e sen x, respectivamente; por exemplo, J0(0) = 1 e J1(0) = 0, e ambas as funções possuem um gráfico
oscilante. Entretanto, suas amplitudes diminuem quando x cresce, e suas raízes não estão igualmente
espaçadas ao longo do eixo x, o que explica porque o som de um tambor é diferente do de um violino (veja
capítulo 15). Para detalhes, veja qualquer livro sobre equações diferenciais ordinárias.
Abraham De Moivre
Em 1692 ele conheceu Edmond Halley (o que deu nome ao famoso cometa), que
ficou tão impressionado com sua habilidade matemática, que levou à Real Sociedade o
primeiro trabalho de De Moivre, sobre o “método das fluxões” de Newton (isto é, Cálculo
Diferencial). Por meio de Halley, De Moivre tornou-se membro do círculo de amizades
de Newton, que também incluía John Wallis e Roger Cotes. Em 1697 foi eleito para a
Real Sociedade, e em 1712 foi apontado como membro da comissão que iria resolver a
amarga disputa entre Newton e Leibniz sobre a propriedade da invenção do Cálculo. Ele
foi também eleito para as academias de Paris e Berlim.
Apesar desses sucessos, De Moivre não foi capaz de assegurar uma cadeira em
uma Universidade – sua origem francesa foi uma das razões – e mesmo as tentativas de
Leibniz em sua defesa não tiveram sucesso. Levou uma vida miserável como tutor de
matemática, e pelo resto de sua vida lamentaria ter que perder seu tempo atendendo seua
alunos de casa em casa. Passava seu tempo livre em cafés e tavernas em St. Martin’s
Lane, Londres, onde respondia todo tipo de questões matemáticas enviadas por clientes
ricos, especialmente sobre suas chances de ganhar em jogos de azar.
Oughtred, que morreu em 1660 aos 86, John Wallis (m. 1703 aos 87), Isaac Newton
(m. 1727 aos 85), Edmond Halley (m. 1742 aos 86), e em nossa época, Alfred North
Whitehead (m. 1947 aos 86) e Bertrand Russel, que morreu em 1970 aos 98. O poeta
Alexander Pope prestou-lhe um tributo em An Essay on Man:
◊ ◊ ◊
Em que c é uma constante e e a base dos logaritmos naturais.2 Entretanto, ele não foi
capaz de determinar o valor numérico dessa constante; esta tarefa coube a James Stirling
Scot (1692-1770), que encontrou c = 2π . A fórmula de Sirling, como é conhecida hoje,
também tem muita participação de De Moivre; é usualmente escrita na forma
n! ≈ 2πn n n e − n .
Por exemplo, para n = 20, a fórmula fornece 2,422786847 × 1018, comparado com o valor
correto (arredondado) 2,432902008 × 1018.
O terceiro grande trabalho de De Moivre, Miscellanea Analytica (London, 1730),
trata, além de probabilidade, de álgebra e trigonometria analítica. Um grande problema
daquela época era o de fatorar um polinômio como x2n + pxn + 1 em fatores quadráticos.
Este problema surgiu em conexão com o trabalho de Cote sobre decomposição de
expressões racionais em frações parciais (conhecidas então como “séries recorrentes”).
De Moivre completou o trabalho de Cote, deixado incompleto pela morte repentina deste
(veja página XXX). Entre seus vários resultados, encontramos a seguinte fórmula,
conhecida também como “propriedade de Cote para o círculo”:
x2n + 1 = [x2 – 2x cos π/2n + 1] [x2 – 2x cos 3π/2n + 1]
◊ ◊ ◊
foi sugerido por ele em 1722, mas nunca foi declarado explicitamente em seu trabalho;
que ele o conhecia, entretanto, está claro devido à fórmula correlata
1 1
cosφ = (cos nφ + i sen nφ )1 / n + (cos nφ − i sen nφ )1 / n ,
2 2
que ele já havia encontrado em 1707 (De Moivre a derivou dos valores positivos de n;
Euler a demonstrou em 1749 para qualquer n real).3 Ele a usava freqüentemente na
Miscellanea Analytica e em inúmeros artigos que publicou no Philosophical
Transactions, o jornal oficial da Real Sociedade. Por exemplo, em um artigo publicado
em 1739 ele mostrou como extrair as raízes de qualquer binômio da forma a + b ou
a + − b (ele chamava o último de “binômio impossível”). Como um exemplo
específico, ele mostra como encontrar as três raízes cúbicas de 81 + − 2700 (em notação
moderna, 81+ (30 3 )i ). A discussão é mais verbal que simbólica, mas é precisamente o
método que encontramos hoje em qualquer livro-texto de trigonometria: escreva
81+ (30 3 )i na forma polar como r (cosθ + i senθ ) , em que r = 812 + (30 3 ) 2 =
9261 = 21 21 e θ = tan −1 (30 3 ) / 81 = tan −1 (10 3 ) / 27 = 32,68º . Então calcule a
3
expressão r [cos(θ + 360º k ) / 3 + i sen (θ + 360º k ) / 3] para k = 0, 1 e 2. Temos
3 (21( 21) = (213 / 2 )1 / 3 = 211 / 2 = 21 e θ/3 = 10,89º, e então as raízes são
21 cis (10,89º + 120ºk), em que “cis” significa cos + i sen. Usando uma tabela ou uma
calculadora para calcular senos e cossenos, chegamos às três raízes pedidas:
(9 + ( 3 )i ) / 2 , − 3 + (2 3 )i , e (−3 − (5 3 )i ) / 2 . De Moivre comenta:
Existem muitos autores, e entre eles o eminente Wallis, que haviam pensado que as
equações cúbicas referentes ao círculo, poderiam ser solucionadas pela extração da raiz
cúbica de uma quantidade imaginária, como 81 + − 2700 , sem observar uma tábua de
senos, mas isso é pura ficção, e uma fuga da questão. Dessa forma, o resultado sempre
irá retornar à mesma questão que foi originalmente proposta. E a coisa não pode ser
feita de modo direto, sem o auxílio de uma tábua de senos, especialmente se as raízes
forem irracionais, como tem sido observado por muitos outros.4
De Moivre certamente deve ter ficado surpreso porque as três raízes resultaram em
números complexos irracionais “simples”, mesmo não sendo θ nenhum ângulo “especial”
como 15º, 30º ou 45º. Ele dizia que era “ficção” (isto é, impossível) encontrar a raiz
cúbica de um número complexo sem uma tábua de senos; e para evitar qualquer
mal-entendido, ele repete a declaração novamente no final: “E a coisa não pode ser feita
de modo direto, sem o auxílio de uma tábua de senos, especialmente se as raízes forem
irracionais.” Naturalmente, ele estava certo para o caso geral: para encontrar as três raízes
cúbicas de um número complexo z = x + iy, temos que expressá-lo em sua forma polar,
z = r cis θ, em que r = x 2 + y 2 e θ = tan-1 y/x; em seguida, calculamos 3 r e θ/3, então
– usando uma tábua de senos – encontramos cos θ/3 e sen θ/3, e finalmente
3
r cis (θ / 3) + 120º k , para k = 0, 1 e 2. Ironicamente, entretanto, o exato exemplo que
De Moivre usou para ilustrar o procedimento pode ser resolvido sem o auxílio de uma
tábua ! Vejamos como.
ABRAHAM DE MOIVRE 79
(9 21) / 49 = 4 x 3 − 3x , (1)
ou
Esta nova equação não possui radicais, mas seu primeiro coeficiente parece demasiado
grande. Isto só acontece, entretanto, porque 157 é divisível por 21 3 333.396 é divisível
por 213. Escrevendo z = 21y, a equação se torna
36 z 3 − 7 z − 1 = 0 , (4)
uma equação bem mais simples, cujas três raízes são 1/2, -1/3 e -1/6 – todos números
racionais ! Substituindo de volta, temos y = z/21 = 1/42, -1/63 e -1/126, e finalmente
x = cos θ/3 = (9 21) y = (3 21) / 14 , − ( 21) / 7 , e − ( 21) / 14 . Para cada um desses
valores encontramos o valor de sen θ/3 pela identidade sen θ / 3 = ± 1 − cos 2 θ / 3 ;
teremos sen θ / 3 = ( 7 ) / 14 , (2 7 ) / 7 , e − (5 7 ) / 14 (o último é negativo porque o
ponto correspondente está no 3º quadrante do plano complexo). Ainda temos
3
r = (21 21)1 / 3 = 21 . As três raízes procuradas então serão
[
21 3 21 / 14 + ( ) ] 12 (9 +
7 / 14 i = )
3i ,
[ ( )]
21 − 21 / 7 + 2 7 / 7 i = −3 + 3 i ,
[ (
21 − 21 / 14 − 5 7 / 14 i = ) ] 12 (− 3 − 5 3i );
elas são mostradas na figura 27.
É claro que o modo “natural” de se manipular o problema seria o de se resolver a
equação (1) diretamente, usando a fórmula que leva o nome do italiano Girolamo
Cardano (1501-1576), mas que na verdade foi desenvolvida de forma independente por
dois outros italianos, Scipione del Ferro (circa 1465-1526) e Nicolo Tartaglia (circa 1506-
1557).5
( )
dos números complexos − 63 21 ± 70 7 i , e para tanto iremos expressá-la na forma
a No Brasil a fórmula para resolução da equação do 2º grau é conhecida como “fórmula de Bhaskara”. Na
verdade, Bhaskara a copiou de outro matemático hindu, chamado Sridhara. Na literatura estrangeira não
existe referência a Bhaskara, como no original deste livro (N.T.).
ABRAHAM DE MOIVRE 81
NOTAS E FONTES
1 Florian Cajori, A History of Mathematics (1893, 2nd ed, New York: McMillian, 1919) p. 230 [edição
brasileira – Uma História da Matemática, Editora Ciência Moderna, 2007].
2Este papel também traz a primeira declaração da fórmula para a distribuição normal. Veja David Eugene
Smith, A Source Book in Mathematics (1929; rpt. New York: Dover, 1959), pp. 566-568.
1 1
i senφ = (cos nφ + i sen nφ )1 / n − (cos nφ − i sen nφ )1 / n ,
2 2
temos, após adições, cos φ + i senφ = (cos nφ + i sen nφ )1 / n , e daí o teorema de De Moivre segue
imediatamente. Para a prova de Euler de que a fórmula é válida para qualquer n real, veja Smith, pp. 452-
454.
4 Ibid., pp. 447-450. Duas das raízes que aparecem aqui, − 3 / 2 + (5 3 )i e − 3 + ( 3 )i / 2 , estão claramente
erradas, provavelmente por um erro de impressão.
5 A história da equação cúbica é longa e repleta de controvérsias e intrigas. Veja David Eugene Smith,
History of Mathematics (1925; rpt. New York: Dover, 1953), vol. 2, pp. 454-466; Victor J. Katz, A History
of Mathematics: An Introduction (New York: HarperCollins, 1993), pp. 328-337; e David M. Burton,
History of Mathematics: An Introduction (Dubuque, Iowa: Wm. C. Brown, 1995), pp. 288-299.
6 Roanld W. Clark, Einstein: The Life and Times (1971; rpt. New York: Avon Books, 1972), p.70.
Em todo círculo o ângulo que é feito no centro é o dobro do ângulo que está na
circunferência, tendo cada um destes ângulos por base a mesma porção da
circunferência.1
a b c
= = = 2r . (1)
sen α sen β sen γ
Esta prova não é apenas um modelo de simplicidade, ela também fornece a lei dos senos
em sua forma completa; a prova mais comum, baseada na divisão de um triângulo em
dois triângulos retângulos, ignora completamente a expressão 2r.
84 CAPÍTULO 6
Nós podemos retirar ainda mais informações desse teorema. A figura 33 mostra o
círculo unitário e um ponto P sobre ele. Seja 2θ o ângulo entre OP e semi-eixo x positivo.
Então ∠ORP = θ , em que R é o ponto com coordenadas (–1,0). Aplicando a lei dos senos
ao triângulo ORP, teremos RP/sen (180º – 2θ) = OP/sen θ. Mas sen (180º – 2θ) = sen 2θ e
OP = 1, e RP/sen 2θ = 1/sen θ, de onde teremos
cos 2θ = OQ = RQ – RO = RP cos θ – 1
Retornemos por um momento para a nossa prova da lei dos senos. Como três
pontos não colineares determinam uma única circunferência, toso triângulo pode ser
inscrito em exatamente uma circunferência. Então, podemos tratar os ângulos do
triângulo como ângulos inscritos e os lados como cordas da circunferência. Assim a lei
dos senos é realmente um teorema sobre circunferências. Se atribuirmos o valor 1 ao
diâmetro da circunferência circunscrita e a chamarmos “círculo unitário”, então a lei dos
senos pode ser expressa simplesmente como
Como vimos no capítulo 2, esta foi a interpretação que Ptolomeu usou em sua tábua de
cordas.
◊ ◊ ◊
AC · BD = AB · CD + BC · DA (5)
Como esse teorema não é tão conhecido como outros da geometria elementar,
vamos mostrar a demonstração de Ptolomeu: Usando um dos lados, digamos AB, como o
lado inicial, construímos o ângulo ABE igual ao ângulo DBC. Agora os ângulos CAB e
CDB também são iguais, com corda BC em comum.
Então os triângulos ABE e DBC são congruentes, tendo dois pares de ângulos iguais.
Assim AE/AB = DC/DB, e temos
AE · BD = AB · DC. (6)
Se agora adicionarmos o ângulo EBD aos dois lados da equação ∠ABE = ∠DBC ,
teremos ∠ABD = ∠EBC . Mas os ângulos BDA e BCE também são iguais, tendo a corda
AB em comum. Então, os triângulos ABD e EBC são congruentes, e AD/DB = EC/CB e
então
EC · DB = AD · CB. (7)
Finalmente, somando as equações (6) e (7), teremos (AE + AC)·DB = AB ·DC + AD · CB;
substituindo AE + EC por AC, teremos o resultado desejado (note que os lados não são
segmentos orientados, ou seja, BD = DB, etc.).
Se fizermos com que o quadrilátero ABCD seja um retângulo (fig. 36), então todos
os quatro vértices formam ângulos retos e, conseqüentemente, AB = CD, BC=DA, e
AC = BD. A equação (5) então diz que
1 = cos2 α + sen2 α,
Então ∠ABC e ∠ADC são ângulos retos. Seja ∠BAC = α , ∠CAD = β . Temos então
BC = sen α, AB = cos α, CD = sen β, AD = cos β, e BD = sen (α + β), e então pelo teorema
de Ptolomeu,
NOTAS E FONTES
1 Euclid, The Elements, traduzido para o inglês com introdução e comentários por Sir Thomas Heath
(Annapolis: St. John’s College Press, 1947), vol.2, pp.46-49 [edição em português na internet: Elementos de
Euclides, Portal Domínio Público: www.dominiopublico.gov.br].
2Tobias Dantzig, em seu livro The Bequest of the Greeks (New York: Charles Scribner’s Sons, 1955), p.
173, sugere que o teorema pode ter sido descoberto por Apolônio, que viveu três séculos antes de Ptolomeu.
4 Loomis, The Pythagorean Proposition (1940; rpt. Washington, D.C.: The National Council of Teachers of
Mathematics, 1968), p. 66. Nenhuma das 256 demonstrações é baseada em trigonometria: “Não existem
provas trigonométricas [do teorema de Pitágoras], porque todas as fórmulas da trigonometria são elas
próprias baseadas na verdade do teorema de Pitágoras... A trigonometria é porque o teorema de Pitágoras é”
(p. 244). Entre as provas, existe uma (número 231) proposta por James A. Garfield em 1876, cinco anos
antes de ele se tornar presidente dos estados Unidos.
7
Epiciclóides e Hipociclóides
Para alguns valores de R/r a curva resultante poderá nos surpreender. Por
exemplo, quando R/r = 2, as equações (2) se tornam
O fato de que sempre tenhamos y = 0 significa que P se move ao longo do eixo x apenas,
traçando o diâmetro interno do anel para trás e para a frente. Então podemos usar duas
circunferências de razão 2:1 para traçar uma linha reta. No século 19, o problema de se
converter movimento circular para retilíneo e vice-versa era crucial para a construção de
máquinas a vapor: o movimento de vai-e-vem do pistão tinha que ser convertido para a
rotação das rodas. A hipociclóide 2:1 foi uma das numerosas soluções propostas.
Ainda mais interessante é o caso R/r = 4, para o qual as equações (2) se tornam
x = 3r cos θ + r cos 3θ ,
(4)
y = 3r sen θ – r sen 3θ.
Assim, a região ocupada por uma escada apoiada em uma parede, podendo ocupar todas
as posições possíveis, tem o formato de uma astróide. Surpreendentemente, a astróide é
também o envelope da família de elipses x2/a2 + y2/(R – a2) = 1, sendo R a soma dos
semi-eixos maior e menor da elipse (fig. 42).2
◊ ◊ ◊
A fim de provar esse teorema, vamos aproveitar uma simetria peculiar nas equações (1).
Substituindo r’ = R – r nessas equações, teremos
As equações (6), exceto pelo fato de que r’ substitui r, são muito similares às
equações (2). De fato, podemos fazer com que sejam idênticas, apenas alterando a ordem
dos termos em cada equação:
A primeira dessas equações é exatamente idêntica à primeira das equações (2), com r’
substituindo r e θ e φ trocados.4 Mas a segunda equação ainda traz uma incômoda troca
de sinais: queríamos o primeiro termo positivo e o segundo negativo. Aqui novamente um
par de identidades trigonométricas vêm nos ajudar, as identidades cos (– φ) = cos φ e
sen (– φ) = – sen φ. Vamos então mudar nosso parâmetro mais uma vez, substituindo φ
por ψ = – φ; isto não afeta os termos da primeira equação, mas troca os sinais dos termos
da segunda equação:
Como conseqüência deste teorema temos, por exemplo, [4r, r] = [4r, 3r] – ou,
equivalente, [R, R/4] = [R, 3R/4] – mostrando que a astróide descrita pela equação (5)
também pode ser gerada por um círculo de raio 3R/4 rolando na parte interna de um
círculo fixo de raio R.
◊ ◊ ◊
Mais um caso deve ser considerado: um círculo de raio r rolando na parte externa
de um círculo de raio R tocando-o internamente (fig. 45). 7 Este caso é similar ao da
hipociclóide, exceto pelos rolamentos dos círculos fixo e móvel que estão invertidos. As
equações paramétricas neste caso são
(note que agora r > R) em que θ e φ são relacionados pela equação (r – R)θ = rφ.
Expressando θ em termos de φ e fazendo a substituição r’ = r – R, essas equações se
tornam
As equações (9) são idênticas às equações (8), exceto que r é substituído por r’ e θ por φ.
◊ ◊ ◊
O estudo das epiciclóides remonta aos gregos, que os utilizaram para explicar um
intrincado quebra-cabeça celestial: o casual movimento retrógrado dos planetas, quando
vistos da Terra. Na maior parte do tempo, o movimento dos planetas no Zodíaco ocorre
de oeste para leste; mas ocasionalmente os planetas parecem suspender seu movimento,
inverter o sentido do movimento para leste-oeste, parar novamente, e finalmente retomar
seu curso normal. Para a mente estética dos gregos, a única curva imaginável pela qual os
corpos celestes poderiam se mover era a circunferência – o símbolo da perfeição. Mas um
círculo não admite um movimento retrógrado, e os gregos assumiram então que os
planetas se moviam na verdade segundo um pequeno círculo, o epiciclo, cujo centro, por
sua vez, se move ao longo de um círculo principal, o deferente (fig. 46). Quando nem
mesmo este modelo podia descrever adequadamente o movimento aparente dos planetas,
eles adicionavam mais e mais epiciclos, até que o sistema ficou tão abarrotado de
epiciclos que se tornava inviável.
EPICICLÓIDES E HIPOCICLÓIDES 99
Ainda assim, o sistema realmente descrevia os fatos observáveis com boa aproximação, e
foi a primeira tentativa realmente matemática de explicar o movimento dos corpos
celestes.
Foi somente quando Copérnico publicou sua teoria heliocêntrica, em 1543, que a
necessidade dos epiciclos desapareceu: com a Terra orbitando o sol, o movimento
retrógrado foi imediatamente explicado como sendo conseqüência do movimento relativo
do planeta, visto de uma Terra móvel. E então quando o astrônomo dinamarquês Olaus
Roemer (1644-1710), famoso por ter sido o primeiro a determinar a velocidade da luz,
resolveu estudar as curvas cicloidais em 1674, não havia nenhum interesse em corpos
celestes, mas um problema bem mundano – o funcionamento de engrenagens mecânicas.
NOTAS E FONTES
1 Essas identidades são obtidas pela solução das fórmulas de ângulo-triplo cos 3θ = 4 cos3 θ – 3 cos θ e
sen 3θ = 3 sen θ – 4 sen3 θ para cos3 θ e sen3 θ, respectivamente.
2 Para provar isso, considere um ponto fixo P(x, y) em um segmento de reta de comprimento R, cujas
extremidades estão livres para se mover ao longo dos eixos x e y (fig. 49). Se P divide o segmento de reta
em duas partes de comprimentos a e b, temos cos θ = x/a, sen θ = y/b. Elevando ao quadrado e somando,
teremos x2/a2 + y2/b2 = 1, a equação de uma elipse com semi-eixo maior a e semi-eixo menor R – a. Então,
quando se permite que o segmento de reta assuma todas as posições possíveis, o ponto P irá traçar a elipse
(este é o princípio do dispositivo que traça elipses, mostrado na fig. 47). Para diferentes posições de P ao
longo do segmento de reta (isto é, quando a razão a/b assume diferentes valores, enquanto o valor de a + b é
mantido constante) diferentes elipses serão traçadas, cujo envelope comum será a astróide x2/3 + y2/3 = R2/3.
3Para outras propriedades da astróide, veja Robert C. Yates, Curves and Their Properties (1952; rpt.
Reston, Virginia: National Council of Teachers of Mathematics, 1974), pp. 1-3.
4 Observe que estamos livres para substituir um parâmetro pelo outro, cuidando para que o novo parâmetro
faça com que x e y cubram a mesma gama de valores que o parâmetro antigo. Neste caso, especificamente,
isto é assegurado pela periodicidade das funções seno e cosseno.
5 O teorema da geração dupla pode também ser provado geometricamente; veja Yates, Curves, pp. 81-82.
6 A familiar forma polar da equação da cardióide, ρ = r (1 – cos θ), quando a extremidade da cardióide se
encontra na origem (aqui θ denota o ângulo polar entre o semi-eixo x positivo e o segmento OP; este não
deve ser confundido com o ângulo θ que aparece nas equações (8)). Para propriedades adicionais da
cardióide, veja Yates, Curves, pp. 4-7.
7Eu estou em débito com Robert Langer da Universidade de Wisconsin – Eau Claire por ter chamado
minha atenção para este caso.
8 Veja H. Martyn Cundy e A. P. Rollett, Mathematical Models (London: Oxford University Press, 1961),
capítulos 2 e 5.
Ainda hoje, as mulheres constituem apenas cerca de dez por cento do número total
de matemáticos nos Estados Unidos;1 este número é ainda menor ao redor do mundo. Nas
gerações passadas, o preconceito social tornava praticamente impossível a uma mulher
seguir carreira científica, e o número total de mulheres matemáticas até o século XX pode
ser contado nos dedos das mãos. Três nomes vêm à tona: Sofia Kovalevskaya
[Sonya Kovalevsky] (1850-1891) da Rússia, Emmy Noether (1882-1935), nascida na
Alemanha, tendo emigrado para os Estados Unidos, e Maria Agnesi da Itália.2
◊ ◊ ◊
É irônico que o nome de Agnesi seja hoje lembrado principalmente por uma curva
que ela investigou, mas não foi a primeira a estudar: a bruxa de Agnesi (ou feiticeira de
Agnesi). Seja um círculo de raio a e centro em (0, a) (fig. 50).
Fig. 50. A Bruxa de Agnesi.
a
A cátedra de professor lucasiano da Universidade de Cambridge foi criada por Henry Lucas em 1663. Já
foi ocupada, entre outros, por Isaac Newton, Charles Babbage, George Stokes, Paul Dirac e, atualmente
(2008) é ocupada pelo físico Stephen Hawking. (N.T.)
MARIA AGNESI E SUA “BRUXA” 105
Uma reta que passa por (0, 0) corta o círculo no ponto A e se estende até cortar a
reta horizontal y = 2a no ponto B. Trace uma linha horizontal por A e uma vertical por B,
de modo que essas retas se encontrem em P. A bruxa é o lugar geométrico dos pontos P
quando a reta OA assume todas as posições possíveis.
8a 3
y= (2)
x 2 + 4a 2
Conforme já foi mencionado, a “bruxa” não se originou com Agnesi; ela já era
conhecida por Pierre Fermat (1601-1665), e Luigi Guido Grandi (1671-1742), professor
de matemática na Universidade de Pisa, que deu à curva o nome versiera (do latim
vertere, verter, girar). Aconteceu, entretanto, que uma palavra italiana quase homófona,
avversiera, significa “mulher do demônio”, ou “demônia”. De acordo com D. J. Struik,
“Algum esperto na Inglaterra traduziu a palavra como ‘bruxa’ (witch), e o trocadilho bobo
ficou amavelmente preservado na maioria dos livros em inglês”.6 Então a versiera de
Grandi tornou-se a bruxa de Agnesi. De qualquer maneira, permanece um mistério por
que essa curva em particular, que raramente aparece em alguma aplicação, tenha
interessado aos matemáticos por tanto tempo.7 O estranho nome da curva pode ter alguma
relação com o fato, ou talvez tenha sido o modo encontrado por Agnesi para tornar a
curva conhecida.
Eli Maor Tradução livre: rossiunb@gmail.com
106 MARIA AGNESI E SUA “BRUXA”
NOTAS E FONTES
1
Este número é baseado no Anuário AMS-IMS-MAA, notícias do American Mathematical Society, 1993.
2
Uma boa fonte sobre mulheres cientistas é Marylin Bailey Ogilvie, Women in Science – Antiquity through
the Nineteenth Century: A Biographical Dictionary with Anotated Bibliography (Cambridge, Mass.: MIT
Press, 1988). Veja também Lynn M. Osen, Women in Mathematics (1974; rpt. Cambridge, Mass: MIT
Press, 1988), e Women of Mathematics: A Bibliographical Sourcebook, ed. Louise S.Grinstein e Paul J.
Campbell (New York: Greenwood Press, 1987).
3
Os detalhes biográficos neste capítulo foram adaptados do DSB, vol.1, pp. 75-77. Veja também Ogilvie,
Women in Science, pp. 26-28.
4
Isso segue da fórmula
∞
2 ∫ y dx = 8a 2 tan −1 ( x / 2a ) |0∞ = 4πa 2 ,
0
em que tan-1 é a função inversa da tangente (ou arcotangente); usamos o fato de que a bruxa é simétrica em
relação ao eixo y.
5
Propriedades adicionais da bruxa podem ser encontradas em Robert C, Yates, Curves and their Properties
(Reston, Va.: National Council of Teachers of Mathematics, 1974), pp. 237-238.
6
A Source Book in Mathematics: 1200-1800 (Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 1969), pp.
178-180. De acordo com esta fonte, o primeiro a usar a palavra “bruxa” com esse sentido pode ter sido B.
Williamson em seu Integral Calculus (1875). Yates (em Curves, p. 237) tem uma versão diferente para a
evolução do nome “bruxa”: “Parece que Agnesi confundiu a palavra italiana antiga ‘versorio’ (o nome dado
à curva por Grandi), que significa ‘livre para se mover em qualquer direção’, com ‘versiera’, que significa
‘duende’, ‘mulher do demônio’, ‘bicho-papão’, etc.”
7
A curva tem aplicação na teoria das probabilidades como a distribuição de Cauchy f (x) = 1 / π(1 + x2),
cuja equação, à exceção das constantes, é idêntica à da bruxa.
8
Variações Sobre um Tema, por Gauss
Esta é uma história sobre o grande matemático alemão Carl Friedrich Gauss
(1777-1855), que ainda um garoto, teve delegada pelo seu professor a tarefa de somar os
números de 1 a 100, e que quase imediatamente forneceu a resposta correta, 5.050. Para o
surpreso professor Gauss explicou que simplesmente notou que escrevendo os números
duas vezes, de 1 até 100 e depois de 100 até 1, e somando os números verticalmente, cada
par era igual a 101. Como há uma centena desses pares, temos 100 × 101 = 10.100, e
como cada par foi somado duas vezes, a resposta é a metade dessa soma, qual seja 5.050.
Como muitas das histórias sobre pessoas famosas, esta pode ou não ter acontecido
de verdade; todavia, o que realmente importa é a lição que podemos tirar dela – a
importância de procurar padrões. O padrão nesse caso é o de escada, em que o que se
soma em uma ponta, subtrai-se na outra ponta:
S = 1+ 2 + 3 + ··· + n
S = n + (n – 1) + (n – 2) + ··· + 1
2S = (n + 1) + (n + 1) + (n + 1) + ··· + (n + 1) = n(n – 1)
n termos
S = n(n +1)/2 (1)
Não tendo nenhuma pista de como provar essa fórmula, comecei a procurar um
padrão. O que me intrigava era a similaridade bem formal entre as equações (1) e (2);
realmente, multiplicando os dois lados da equação (1) por α teremos Sα = n(n +1)α/2;
ou seja,
“Multiplicando” esta última equação por “sen” e procedendo como se “sen” fosse uma
quantidade algébrica ordinária, temos
Seja
Para nos livrarmos dos incômodos termos 1/2, 3/2, … que aparecem nos termos em
cosseno, vamos multiplicar a última equação por sen α/2 e utilizar a fórmula do produto
para soma sen α · cos β = (1/2)[sen (α – β) + sen (α + β)]; teremos
+ sen nα/2].
Mas sen (–1 + n/2)α = –sen (1 – n/2)α, o que é similar para os outros termos; a expressão
entre colchetes é portanto uma “soma telescópica”, em que todos os termos, exceto o
primeiro e o último (que são iguais), se cancelam. Temos então
ou
Mas este não é o final da estória. Seguindo o raciocínio de que toda fórmula
trigonométrica é derivada da geometria, observemos a fig. 51. Partindo de origem (que
aqui chamamos de P0), traçamos o segmento P0P1 de comprimento unitário, formando o
ângulo α com o semi-eixo positivo x. Em P1 traçamos um segundo segmento de
comprimento unitário formando um ângulo α com o primeiro segmento e,
conseqüentemente um ângulo igual a 2α com o eixo x. Continuando dessa maneira n
vezes, chegaremos ao ponto Pn, cujas coordenadas iremos chamar de X e Y.
Evidentemente, X é a soma das projeções horizontais dos n segmentos, e Y é a soma das
projeções verticais, de forma que temos
Eli Maor Tradução livre: rossiunb@gmail.com
110 CAPÍTULO OITO
Fig. 51. Construção geométrica da
soma S = sen α + sen 2α + ∙∙∙ +
sen nα +.
d = 2r sen nα/2,
1 = 2r sen nα/2.
sen nα / 2
d= .
sen α / 2
e (6)
Nós podemos utilizar o “método de Gauss” das somas para provar outras fórmulas
trigonométricas de soma. Alguns exemplos:
sen 2 nα
sen α + sen 3α + sen 5α + ⋅ ⋅ ⋅ + sen (2n − 1)α + = (7)
sen α
sen 2nα
cos α + cos 3α + cos 5α + ⋅ ⋅ ⋅ + cos (2n − 1)α + = (8)
2 sen α
1 (11)
+ cos (2n − 1)π /( 2n + 1) =
2
As duas últimas são casos especiais das equações (3) e (8), respectivamente; elas são
notáveis porque o resultado de suas somas independe de n.
NOTAS E FONTES
1
Summation of Series, selecionado por L. B. W. Jolley (1925; rpt. New York: Dover, 1961), série nº 417.
2
Ambas as fórmulas podem ser demonstradas tomando-se as partes real e imaginária da soma da
progressão geométrica eiα + e2iα + ··· + eniα, em que i = √-1; veja Richard Courant, Differential and Integral
Calculus (1934; rpt. London: Blackie & Son, 1956), vol. 1, p.436 [edição brasileira – Cálculo Diferencial e
Integral, editora Globo, 1966].
Eli Maor Tradução livre: rossiunb@gmail.com
9
Se Ao Menos Zenão Soubesse !
O filósofo grego Zenão de Eléia, que viveu no século 5 a.C., resumiu essas
questões em quatro paradoxos – ele os chamava de “argumentos” – cujo propósito era
demonstrar as dificuldades fundamentais inerentes à noção de continuidade. Num deses
paradoxos, conhecido como o paradoxo da “dicotomia”, ele propôs mostrar que o
movimento era impossível: para que um homem correndo possa ir do ponto A até o
ponto B, ele precisa cobrir primeiro a metade da distância entre A e B, e então metade da
distância remanescente, e metade desta, e daí por diante, ad infinitum (fig. 52). Como isso
envolve um número infinito de passos, Zenão argumentou, o corredor nunca chegará a
seu destino.1
Esta soma é uma progressão geométrica infinita, ou série, com razão igual a 1/2.
Quanto mais termos adicionarmos, mais o valor da soma cresce e se aproxima de 1. Esse
valor nunca será igual a 1, nem tampouco exceder 1; mas podemos fazer com que a soma
fique tão próximo de 1 quanto quisermos, simplesmente adicionando mais e mais termos.
Em linguagem moderna, a soma se aproxima do limite 1, quando o número de termos
tende a infinito. Dessa forma, a distância total percorrida é exatamente 1; e uma vez que
os intervalos de tempo que o corredor leva para cobrir as distâncias parciais (assumindo
que ele mantém velocidade constante) também seguem a mesma progressão, ele
percorrerá a distância total em um tempo finito. Isso define o “paradoxo”.
114 CAPÍTULO DEZ
Os gregos, entretanto, não concordavam com esse tipo de raciocínio. Eles não
podiam aceitar o fato – que hoje é tão óbvio para nós – que a soma de infinitos números
pode ter um valor finito. Eles não tinham dificuldade em somar cada vez mais termos à
progressão até se atingir a precisão necessária, mas pensar em estender esse processo até
o infinito lhes causava grande angústia intelectual. Isso por sua vez os levou a seu
horror infiniti – seu medo do infinito. Incapazes de lidar com isso, os gregos barraram o
infinito de seu sistema matemático. Ainda que eles tivessem uma compreensão intuitiva
do conceito de limite – evidenciado pela quadratura da parábola por Arquimedes – eles se
recusavam a levar seu pensamento para o infinito.2 Como resultado disso, os paradoxos
de Zenão permaneceram como fonte de irritação e embaraço para geração de estudantes.
Frustrados por sua falha em resolver satisfatoriamente os paradoxos, eles se voltaram para
razões filosóficas e mesmo metafísicas, e deste modo tornando a questão ainda mais
confusa.3
◊ ◊ ◊
Aritmética, na forma de dízimas periódicas, que nada mais são do que progressões
geométricas disfarçadas; por exemplo, a dízima periódica 0,1212... é apenas uma
abreviação da série infinita 12/100 + 12/1002 + 12/1003 + ··· . Progressões geométricas
estão no coração da matemática financeira, resultado do fato de que o dinheiro investido a
um certa taxa cresce geometricamente com o tempo. Em Cálculo, somos apresentados às
séries de potências, e a mais simples delas é a progressão geométrica infinita
1 + x + x2 + ···, freqüentemente usada para testar a convergência de outras séries.
Arquimedes de Siracusa (ca. 287 – 212 a.C.) engenhosamente utilizou uma progressão
geométrica para encontrar a área de um segmento parabólico – uma das primeiras
quadraturas de um segmento curvo.4 E os modernos fractais, aquelas intrigantes curvas
auto-replicantes que serpenteiam indo e voltando, nada mais são que uma aplicação do
princípio da auto-similaridade, do qual a progressão geométrica é o caso mais simples
(fig. 53). O artista holandês Maurits C. Escher (1898-1972), cujos desenhos matemáticos
intrigaram uma geração inteira de cientistas, usou progressões geométricas na maioria de
seus quadros; mostramos aqui um deles, intitulado Menor e Menor (fig. 54).
Fig. 53. Construção da curva do floco de neve: comece com um triângulo eqüilátero,
construa um triângulo eqüilátero menor sobre o terço médio de cada lado, retirando o terço
médio original a fim de obter uma Estrela de Davi – como na figura. Repita o processo com a
nova figura para obter uma nova com 48 lados. Continuando dessa maneira teremos uma
figura que, no limite, se aproxima de uma estranha curva conhecida como curva do floco de
neve (também conhecida como curva de Koch, em homenagem a seu descobridor, o
matemático sueco Helge von Koch [1870-1924]). O perímetro e a área dessa figura crescem
em progressões geométricas de razões 4/3 e 4/9, respectivamente. Como essas razões são,
respectivamente, maior e menor que 1, o perímetro tende para infinito, enquanto a área
tende para 8/5 da área do triângulo original. A curva do floco de neve é a primeira “curva
patológica” conhecida; essa curva não é contínua em nenhum ponto, e, por conseguinte,
não possui derivada em nenhum ponto. Atualmente essas curvas auto-replicantes são
chamadas de fractais.
◊ ◊ ◊
Traduzido para linguagem moderna, se os termos de uma progressão são a, ar, ar2, ..., arn
e a soma de “todos antes desse” é igual a S, então (ar – a) : a = (arn - a) : S ;
simplificando o produto do meio pelo produto dos extremos, chegamos à conhecida
fórmula para a soma dos n primeiros termos de uma progressão geométrica,
a (r n − 1) 5
S= , (1)
r −1
SE AO MENOS ZENÃO SOUBESSE ! 117
Euclides utilizou então esse resultado par provar (proposição 36 do livro IX), uma
elegante propriedade dos números: se a soma da progressão 1 + 2 + 22 + ... + 2n – 1 é um
número primo, então o produto entre este primo e 2n – 1 é um número perfeito. Um inteiro
positivo N é perfeito quando é a soma de todos seus divisores inteiros menores que N; os
primeiros números perfeitos são 6 = 1 + 2 + 3 e 28 = 1 + 2 + 4 + 7 + 14. Uma vez que a
soma da progressão 1 + 2 + 22 + ... + 2n – 1 é 2n – 1, a proposição diz que 2n – 1 · (2n – 1) é
perfeito sempre que 2n – 1 for primo. Assim, 6 é perfeito porque 6 = 2 · 3 = 22 – 1 · (22 – 1)
e 28 é perfeito porque 28 = 4 · 7 = 23 – 1 · (23 – 1). Os dois próximos números perfeitos são
496 = 16 · 31 = 25 – 1 · (25 – 1) e 8128 = 64 · 127 = 27 – 1 · (27 – 1). Estes quatro eram os
únicos números perfeitos conhecidos pelos gregos. 6
E aqui foi onde mais longe os gregos foram. Eles fizeram uso efetivo da
equação (1) em seu desenvolvimento da Geometria e da Teoria dos Números, fazendo n
crescer arbitrariamente (“tantos números quantos se queira”); mas eles não deram o passo
crucial para fazer n realmente crescer além de todas as fronteiras – deixá-lo tender ao
infinito. Não tivessem se limitado por este tabu auto-imposto, poderiam ter antecipado a
descoberta do Cálculo em dois mil anos.7
a
S= , (2)
1− r
que é a conhecida fórmula da soma de uma progressão geométrica infinita.8 Então a série
do paradoxo de Zenão, 1/2 + 1/4 + 1/8 + 1/16 + ···, tem somo (1/2)/(1 – 1/2) = 1, e a
dízima periódica 0,1212··· = 12/100 + 12/10.000 + ··· tem soma (12/100)/(1 – 1/100) =
12/99 = 4/33. Podemos utilizar a equação (2) para provar que toda dízima periódica é
igual a uma fração, isto é, um número racional.
◊ ◊ ◊
a Lembrar que se trata de uma régua não graduada, que em inglês é chamada de “straightedge”, em
contraste com a régua graduada, chamada de “ruler” (N.T.).
um ângulo entre 0º e 180º; por exemplo, 0,5 é o cosseno de 60º, e –0,707 (mais
precisamente, – √2/2) é o cosseno de 135º. (Observe que a função seno não tem o mesmo
comportamento: existem dois ângulos, 30º e (180º – 30º) = 150º, cujo seno é 0,5 , e
nenhum ângulo entre 30º e 180º cujo seno seja –0,707). Vamos então escrever r = cos α,
ou o seu recíproco, α = cos –1 r, e manter o ângulo α como dado.
S S −1
= .
sec α 1
SE AO MENOS ZENÃO SOUBESSE ! 119
Essa construção não provê apenas uma interpretação geométrica de uma série
geométrica, ela também permite que observemos o que acontece quando variamos a
razão r. As figuras 56 e 57 mostram a construção para α = 60º e 45º, para os quais r = 1/2
e √2/2, respectivamente; as somas correspondentes são 1/(1 – 1/2) = 2 e 1/(1 – √2/2) =
2 + √2 ≈ 3,414. Variando r, e com ele α, os pontos P0 e P1 permanecem fixos, mas todos
os outros pontos irão se mover ao longo de suas respectivas retas. Para α = 90º (isto é,
r = 0), Q1 estará exatamente acima de P1, de forma que traçando uma perpendicular a
partir dele até o eixo x, nos trará de volta a P1: a série não irá progredir mais, e sua soma
será S = P0P1 = 1. Diminuindo o valor de α de 90º a 0º, a reta m se torna cada vez menos
inclinada; ao mesmo tempo, os pontos P2, P3, ··· movem-se para a direita, bem como P∞: a
soma da série se torna maior. Se α → 0º, a reta m se torna horizontal, e seu ponto de
intersecção com o eixo x avança para o infinito: a série diverge.
Segue que, como antes, os pontos Q1, Q2, ··· estão em uma mesma reta m, cujos
pontos de intersecção com o eixo x nos dão uma a soma de uma série completa.
Chamando este ponto de P∞, observamos que esse ponto está à direita dos pontos P2n e à
esquerda dos pontos P2n+1: a série aproxima sua soma alternadamente por cima e por
baixo, dependendo se tivermos somado um número par ou ímpar de termos. As figuras 59
e 60 na página seguinte mostram a construção para α = 120º e 150º (isto é, r = – 1/2 e
–√3/2, respectivamente), para os quais a série converge para 1/(1 + 1/2) = 2/3 ≈ 0,666 e
1/(1 + √3/2) ≈ 0,536.
SE AO MENOS ZENÃO SOUBESSE ! 121
Agora vamos variar novamente o ângulo α, desta vez aumentando de 90º a 180º. A
reta m fica cada vez menos inclinada, entretanto com inclinação negativa. Ao mesmo
tempo os pontos P2n irão se mover para a esquerda em direção a P0, enquanto os pontos
P2n+1 irão se mover para a direita em direção a P1. Com α → 180º (isto é, com r → – 1),
os pontos Q2n+1 irão se agrupar acima de P0 e os pontos Q2n se agruparão abixo de P1, de
forma que a reta m irá assumir aproximadamente uma posição simétrica em relação ao
segmento P0P1, intersectando-o logo à direita do ponto x = 1/2. E este é, de fato, o valor
para o qual a fórmula S = 1/(1 – r) tende quando r → – 1. Ao mesmo tempo, entretanto,
os pontos P2n irão se agrupar próximo a P0 (isto é, próximos a x = 0), enquanto os pontos
P2n+1 irão se agrupar próximos a P1 (x = 1), mostrando que a série tende a oscilar entre
0 e 1.
Abordando essa série, Leibniz – que era um filósofo por princípio – deve ter pensado
como Zenão, seu predecessor em dois mil anos. Fosse Zenão conhecedor de nossa construção, é
possível que lhe tivesse sido mais fácil aceitar o fato de que uma soma infinita de números pode
ser finita. E as conseqüências seriam profundas, não tivessem sido os gregos tão teimosos em
barrar o infinito em seu mundo, o curso da matemática poderia ter sido alterado para sempre.
SE AO MENOS ZENÃO SOUBESSE ! 123
NOTAS E FONTES
1
Uma variação do paradoxo diz que para que o corredor vá do ponto A para o ponto B, ele precisa antes
atingir o ponto médio C entre A e B; mas para atingir C, ele precisa primeiro atingir o ponto médio D entre
A e C, e daí por diante.
2Para entender as causas desse medo, veja meu livro, e: The Story of a Number (Princeton, N.J.: Princeton
University Press, 1994) [edição brasileira e: a Estória de um Número, editora Record, 2003], pp. 43-47.
3 Ainda hoje alguns pensadores se negam a considerar os paradoxos de Zenão como propostos; veja os
artigos “Resolving Zeno´s Paradoxes” de William I. McLaughlin, Scientific American, April 1995. Veja
também Adolf Grünbaum, Modern Science and Zeno´s Paradoxes (Middletown, Conn: Wesleyan
University Press, 1967).
4Veja o capítulo “Quadrature of the Parabola” em Thomas L. Heath, The Works of Archimedes (1897; rpt.
New York: Dover, 1953)
5Uma prova moderna consiste em escrevre S = a + ar + ar2 + ... + arn-1, multiplicando essa equação por r ,
e subtraindo o resultado da equação original: todos os termos, exceto o primeiro e o último, serão
cancelados, chegando a (1 – r)S = a – arn , de onde chegamos a S = a(1 – rn)/(1 – r) = a(rn – 1)/(r – 1).
6 Observe que 2n – 1 não é primo para todo primo n; por exemplo, 211 – 1 = 2047 = 23 · 89 é composto, e
consequentemente 211 – 1 · (211 – 1) = 2.096.128 não é perfeito. Primos da forma 2n – 1 são chamados primos
de Mersenne, em homenagem a Marin Mersenne (1588-1648), o monge francês da Ordem dos Mínimos;
até 1996 apenas trinta e quatro primos de Mersenne eram conhecidos, sendo o maior deles igual a
21.257.787 – 1 , um número de 378.632 dígitos descoberto naquele ano (N.T. Em 2006 já haviam 44 primos
de Mersenne conhecidos, sendo o maior igual a 232.582.657 – 1, com 9.808.358 de dígitos. Para tanto, usa-se o
cluster de computadores chamado GIMPS - Great Internet Mersenne Prime Search). Como todo primo de
Mersenne gera um número perfeito, suas histórias estão intimamente ligadas.
7 Veja Heath, Works of Archimedes, cap. 7, “Anticipations by Archimedes of the Integral Calculus”.
8Uma prova comum (embora não muito rigorosa) da equação (2) consiste em escrever S = a + ar + ar2 +
ar3 + ··· = a + r(a + ar + ar2 + ···) = a + rS, de onde temos S(1 – r) = a ou S = a/(1 – r).
9 O material subseqüente é baseado em meu artigo “Geometric Construction of the Geometric Series” no
International Journal of Mathematics Education in Science and Technology, vol. 8, nº 1 (Janeiro, 1977),
pp. 89-96.
10 Para mostrar isso, seja a e b dois números quaisquer tais que a + b = 1. Nossa série então se torna
(a + b) – (a + b) + (a + b) – (a + b) +– ···. Vamos chamá-la de soma S. Deslocando os parênteses uma
posição para a direita, obtemos agora a série S = a + (b – a) – (b – a) + (b – a) – (b – a) +– ···. Agora
coloque b – a =c. Então S = a + c – c + c – c +– ···. Podemos somar esta última série de duas maneiras,
dependendo de como arranjamos os parênteses: S = a + (c – c) + (c – c) + (c – c) + ··· = a, ou S = a + c –
(c – c) – (c – c) – (c – c) – ··· = a + c = a + (b – a) = b. Então a ´serie pode ter tanto a quanto b como sua
soma, e assim como a escolha de 1 para a e b foi totalmente arbitrária, S pode assumir qualquer valor. Isto,
naturalmente, apenas mostra que as somas parciais não convergem para um valor fixo, e então a série
diverge (ainda que não seja para o infinito).
Estudantes de Cálculo logo se deparam com a função (sen x)/x em seus estudos,
quando é mostrado que lim x→0 (sen x)/x = 1; este resultado é então usado para definir as
fórmulas de diferenciação (sen x)’ = cos x e (cos x)’ = – sen x. Feito isso, entretanto, a
função rapidamente é esquecida, e o aluno raramente irá vê-la de novo. É uma pena, pois
essa função aparentemente simples não apenas possui propriedades notáveis, como
também surge em diversas aplicações, algumas vezes de forma inesperada.
x cos x − sen x
f ' ( x) = =0. (1)
x2
Se essa razão é igual a zero, então o próprio numerador deve então ser igual a zero, e
temos x cos x – sen x = 0, de onde temos
tan x = x . (2)
Infelizmente a equação (2) não pode ser resolvida por uma fórmula, da mesma forma que,
digamos, uma equação quadrática; ela é uma equação transcendental, cujas raízes podem
ser encontradas graficamente como sendo os pontos de intersecção dos gráficos de y = x e
y = tan (x) (fig. 62). Vemos que há um número infinito desses pontos, cujas coordenadas
em x chamaremos de xn. Quando x cresce em valor absoluto, esses pontos se aproximam
rapidamente das assintotas de tan x, isto é, (2n + 1)π/2; estes, é claro, são os pontos
extremos de sen x. Isto era esperado, uma vez que quando |x| cresce, 1/|x| decresce a uma
taxa decrescente, de forma que sua influência na variação de sen x diminui
consideravelmente. Os primeiros valores de xn são dados na tabela 2.
(sen x)/x 127
O comportamento peculiar dos pontos extremos de (sin x)/x tem forte contraste
com outro tipo de oscilação amortecida, aquela representada pela função e –x sen x. Aqui
os pontos extremos são deslocados para a esquerda por uma constante de π/4 em relação
àqueles de sen x, como o leitor pode facilmente verificar.
Tabela 2
a O termo em inglês é antiderivative. A partir desse ponto será usado o termo “primitiva”. (N.T.)
Ainda que não possamos expressar Si (x) em termos de funções elementares, podemos,
todavia, computar seus valores e plotá-los em um gráfico (fig. 63). Isto é feito escrevendo
a função seno como uma série de potências, sen x = x – x3/3! + x5/5! – + ···, dividindo
cada termo por x, e então integrando termo a termo. O resultado é
x
Fig. 63. O gráfico de Si (x) = sen t .
∫
0
t
dt
(sen x)/x 129
∞ 1 para k > 0
sen kx
(2/π) ∫ dx = 0 para k = 0 . (4)
0
x − 1
para k < 0
bNormalmente vemos a representação da função sinal como sgn (x) ou sign x , sendo que a primeira será
mantida nessa tradução. (N.T.)
◊ ◊ ◊
Das muitas ocorrências da função (sen x)/x, iremos considerar uma tirada da
Geografia. Aprendemos cedo na escola que a Terra é redonda, embora tenha levado
muitos séculos antes de que esse fato fosse universalmente aceito (os últimos crentes
numa terra plana finalmente se renderam quando imagens tiradas de naves espaciais
mostraram a Terra redonda). De fato, para os não-iniciados, não é imediatamente óbvio
que vivemos em um mundo redondo – certamente muitas de nossas experiências
cotidianas poderiam ser explicadas de forma mais natural se baseadas em uma Terra
plana. Apenas indiretamente, principalmente por meio de observações astronômicas, que
sabemos que a Terra é redonda.
Para entender a razão disso, vamos tirar vantagem do privilégio garantido a nós,
humanos, de sermos criaturas tridimensionais: nós sabemos que nosso mundo é redondo.
Vamos chamar o raio da Terra – assumindo ser uma esfera perfeita – de R. Para encontrar
a circunferência de um círculo ao redor do Pólo Norte, precisamos conhecer seu raio, e
isso depende da latitude geográfica do círculo. Se, por maior simplicidade, medirmos a
latitude não a partir do Equador, como é feito em Geografia, mas a partir do pólo Norte,
então o raio de um círculo de latitude θ é r = R sen θ (veja fig. 65), e sua circunferência é
Este resultado, é claro, é totalmente satisfatório para nós tridimensionais, mas para
nossos habitantes bidimensionais é totalmente desprovido de sentido. Eles não têm idéia
de que vivem em uma superfície curva, e se alguém lhes dissesse que seu mundo plana é
na verdade esférico, eles ficariam realmente confusos. Para eles, uma grandeza como R,
tirada da terceira dimensão, não sendo passível de uma medição direta, é tão sem sentido
Para fazer com que a fórmula tenha sentido, precisamos expressá-la em termos de
variáveis que nossos moradores possam medir. De fato, a variável mais importante, do
ponto de vista deles, é o raio do círculo, medido na superfície da Terra. Vamos denotar
esse raio pela letra grega ρ (rô). Se medirmos θ em radianos, teremos ρ = Rθ, e então
R = ρ/θ. Substituindo essa expressão na equação (5), teremos
senθ
c = 2πρ . (6)
θ
d A Estrela Polar tem esse nome porque aparenta permanecer sempre fixa no firmamento num ponto
coincidente com a projeção do eixo da terra. A atual estrela polar do norte é a Polaris da constelação de
Ursa Menor. Como essa estrela é muito brilhante, é (ou foi) bastante usada para navegação. A atual estrela
polar do sul é a Sigma Octantis, que por ser muito pálida, é preterida pela constelação do Cruzeiro do Sul
como referência. Uma curiosidade: na bandeira do Brasil a Sigma Octantis representa a capital Brasília,
pois todas as outras estrelas giram em torno dela. (N.T.)
E agora nossos habitantes estão prontos para pôr à prova o que aprenderam em
suas aulas de Geometria. Para pequenas latitudes (distância angular a partir do Pólo
Norte), eles irão observar que a razão c/ρ realmente aparenta ser constante, ou perto disso,
como mostra a tabela 3.
Tabela 3
Tabela 4
Tivessem nossos moradores estendido a tabela – isto é, para o hemisfério sul – a razão c/ρ
continuaria a decrescer, até chegar a zero em 180º (o Pólo Sul). Ainda inconscientes de
que seu mundo é redondo, eles teriam perdido qualquer fé remanescente naquilo que eles
aprenderem sobre a constância da razão circunferência-raio.2 Mas talvez algum
planolandense mais astuto pudesse interpretar essas medidas de forma diferente e concluir
que o mundo em que eles vivem é na verdade curvo. Este sagaz planolandense poderia
entrar para a história como o descobridor da terceira dimensão.
(sen x)/x 133
NOTAS E FONTES
1 A prova não é elementar; veja Richard Courant, Differential and Integral Calculus (1934; rpt. London:
Blackie & Son, 1956), vol. 1, pp. 251-253 e 444-450 [edição brasileira – Cálculo Diferencial e Integral,
editora Globo, 1966]; para uma prova alternativa utilizando integração no plano complexo, veja Erwin
Kreyszig, Advanced Engineering Mathematics (New York: John Wiley, 1979), pp. 735-736.
2 Um situação similar ocorre com a área de um “círculo” de raio ρ (na verdade, uma calota esférica). Essa
área é dada por A = 2πRh, em que h é a altura da calota (a distância de sua base até a superfície da esfera).
Então h = R(1 – cos θ) = 2R sin2(θ/2), e então A = 4πR2sen2(θ/2) = 4π(ρ/θ)2sen2(θ/2) =
πρ2{[sen (θ/2)] / (θ/2)}2. Um “fator de correção” de {[sen (θ/2)] / (θ/2)}2 é dessa maneira necessário se
quisermos encontrar a razão A/ρ2.
11
Uma Fórmula Notável
Nós não terminamos ainda com a função (sen x)/x. Folheando um dia um manual
de fórmulas matemáticas, eu me deparei com a seguinte equação:
sen x x x x
= cos ⋅ cos ⋅ cos ⋅ ⋅ ⋅ . (1)
x 2 4 8
Como eu não tinha visto essa fórmula antes, esperava que sua demonstração fosse bem
difícil. Para minha surpresa, ela se mostrou bem simples:
= ⋅⋅⋅
Após repetir esse processo n vezes, temos
Vamos multiplicar e dividir o primeiro termo deste produto por x (assumindo, é claro, que
x ≠ 0) e o reescrevemos como x · [(sen x/2n)/( x/2n)]; teremos então
sen x / 2 n
sen x = x ⋅ ⋅ cos x / 2 ⋅ cos x / 4 ⋅ ... ⋅ cos x / 2 .
n
x/2
n
Observe que nós invertemos a ordem dos termos remanescentes do produto (até agora
finito). Se agora fizermos n → ∞ enquanto mantemos x constante, então x/2n → 0 e a
expressão entre colchetes, sendo da forma (sen α)/α, tenderá a 1. Assim, teremos
136 CAPÍTULO ONZE
∞
sen x = x∏ cos x / 2 n ,
n =1
A equação (1) foi descoberta por Euler1 e representa um dos poucos exemplos de
um produto infinito em matemática elementar. Uma vez que a equação é válida para
todos os valores de x (inclusive x = 0, se definirmos (sen 0)/0 como 1), podemos
substituí-lo, por exemplo, por x = π/2:
sen π / 2
= cos π / 4 ⋅ cos π / 8 ⋅ cos π / 16 ⋅ ... . .
π /2
2 2 2+ 2 2+ 2+ 2
= ⋅ ⋅ ⋅ ... .
π 2 2 2
Esta bela fórmula foi descoberta por Viète em 1593; para estabelecê-la ele utilizou um
argumento geométrico baseado na razão entre as áreas de polígonos regulares de n e 2n
lados inscritos no mesmo círculo.2 A fórmula de Viète é um marco na História da
Matemática: foi a primeira vez que um processo infinito foi escrito explicitamente como
uma sucessão de operações algébricas. (Até então os matemáticos tinham o cuidado de
evitar qualquer referência direta a processos infinitos, preferindo dizer que se tratavam de
processos finitos que podiam ser repetidos quantas vezes se desejasse.) Adicionando as
reticências ao final de seu produto, Viète, num lance corajoso, declarou o infinito como a
alma da Matemática. Isto marcou o início da Análise Matemática, no sentido moderno da
palavra.
À parte sua beleza, a fórmula de Viète é singular porque nos permite encontrar o
número π por repetição usando quatro das operações básicas da aritmética – adição,
multiplicação, divisão e raiz quadrada – todas aplicadas ao número 2. Isto pode ser feito
até mesmo numa calculadora científica mais simples:
2 √x M ÷ 4 × 2 M+ RM √x M ÷ 2
após a nona iteração temos 3,1415914 – valor correto em cinco decimais. Uma
calculadora programável, com certeza, irá acelerar as coisas consideravelmente.
sen x x2 x4 x6
= 1− + − + − ⋅⋅⋅ , (2)
x 3! 5! 7!
Tabela 5
Série Infinita Produto Infinito
A razão para a rápida convergência do produto infinito pode ser vista na figura 68.
No círculo unitário marcamos os raios correspondentes aos ângulos θ/2, (θ/2 + θ/4), (θ/2
+ θ/4 + θ/8), e assim sucessivamente. Esses ângulos formam uma progressão geométrica
infinita cuja soma é θ/2 + θ/4 + θ/8 + ··· = θ. Agora, começando pelo eixo x, tomamos a
projeção ortogonal de cada raio no próximo raio. Os comprimentos dessas projeções são
1, cos θ/2, cos θ/2 · cos θ/4, cos θ/2 · cos θ/4 · cos θ/8, e assim por diante. Vemos que
após apenas alguns passos as projeções se distinguem muito pouco de seu valor final.
∞
Fig. 68. Convergência do produto infinito ∏ cos x / 2
n =1
n
.
∞
Fig. 69. Demonstração geométrica da fórmula ∏ cos x / 2
n =1
n
= (sen x) / x .
r0 r1
= . (3)
sen (θ / 2) sen (180º −θ )
Mas sen (180º – θ) = sen θ = 2 sen θ/2 · cos θ/2; substituindo na equação (3) e resolvendo
para r1, temos r1 = 2r0 cos θ/2.
Traçamos agora um segundo círculo, tendo P1 como centro e r1 como raio. Temos
∠OP2 P0 = θ / 4 , e a repetição dos passos recém aplicados ao triângulo P1P2P0 levará a
r2 = 2r1 cos θ/4 = 4r0 cos θ/2 · cos θ/4, em que r2 = P2P0. Repetindo este processo n vezes,
teremos um círculo com centro em Pn e raio rn = PnP0 dado por
Agora ∠OPn P0 = θ / 2 n , e a Lei dos Senos aplicada ao triângulo OPnP0 nos dará
r0/(sen θ/2n) = rn/sen (180º – θ); então
r0 sen θ
rn = . (5)
sen θ / 2 n
NOTAS E FONTES
(Este capítulo é baseado em meu artigo, “Um Notável Identidade Trigonométrica”, Mathematics Teacher,
vol. 70, nº 5 (maio 1977), pp. 452-455.)
1 E. W. Hobson, Squaring the Circle: A History of the Problem (Cambridge, England: Cambridge
University Press, 1913), p.26.
2 Veja Petr Beckmann, A History of π (Boulder, Colo: Golem Press, 1977), pp. 92-96.
3 Uma prova da equação (1) baseada em considerações físicas é dada no artigo mencionado acima.
◊ ◊ ◊
Seja cada vibração um movimento harmônico simples representado por uma onda
senoidal; sejam a e b suas amplitudes, ω1 e ω2 as freqüências angulares (em radianos por
segundo), φ1 e φ2 as fases, e t o tempo. Temos então
Com a progressão do tempo, o ponto P cujas coordenadas são (x, y) irá traçar uma curva
cuja equação pode ser encontrada eliminando-se t entre as equações (1). Uma vez que as
duas equações contêm seis parâmetros,1 a curva normalmente é um tanto complicada,
exceto em alguns casos especiais. Por exemplo, se ω1 = ω2 e φ1 = φ2, teremos
x = a sen(ω t + ϕ ), y = b sen(ω t + ϕ ) ,
Em que retiramos os índices sob os parâmetros. Para eliminar t das equações, observamos
que x/a = y/b e então y = (b/a)x, a equação de uma linha reta. Da mesma forma, para
ω1 = ω2 e uma diferença de fase igual a π chegamos à reta y = – (b/a)x. Para ω1 = ω2 e
uma diferença de fase igual a π/2 temos (fazendo φ1 igual a zero)
x2 y2
+ =1,
a2 b2
Que representa uma elipse com eixos ao longo dos eixos x e y (além disso, se a = b, a
elipse se torna um círculo). Para uma diferença de fase arbitrária, a curva será uma elipse
inclinada, cujos exemplos anteriores são casos especiais (com as retas y = ± (b/a)x sendo
elipses degeneradas). Se deixarmos as diferenças de fase variarem continuamente, a
elipse irá mudar lentamente sua orientação e formato, passando (no caso em que a = b) da
circunferência x2 + y2 = 1 para as retas y = ± x e voltar (fig. 70).
Se as freqüências não forem iguais, a curva será muito mais complexa. Por
exemplo, quando ω1 = 2ω2 (musicalmente falando, quando as duas vibrações estão
separadas por uma oitava), temos
x = a sen(ω t ), y = b sen(2ω t + ϕ ) ,
◊ ◊ ◊
O trabalho de Lissajous foi elogiado por seus contemporâneos e discutido pelos físicos
John Tyndall (1820-1893) e Lord Rayleigh (John William Strutt, 1842-1919) em seus
clássicos tratados sobre acústica. Em 1873 ele foi agraciado com o prêmio La Cazea por
seus “belos experimentos” e seu método foi exibido na Exposição Universal de Paris em
1867.
Mas aparentemente não há nada de novo sob o sol: as figuras de Lissajous haviam sido
descobertas muito antes pelo cientista autodidata americano Nathaniel Bowditch (1773-
1838), que as produziu em 1815 com um pêndulo composto.3 Uma variação desse
dispositivo, em que o movimento de dois pêndulos é combinado e traçado em um papel
pela ponta de uma caneta anexada a um dos pêndulos, tornou-se um demonstração de
ciência popular no século dezenove (fig. 73); as figuras subseq6uentes eram chamadas de
“harmonogramas”, e sua incrível variedade nunca falhou em impressionar os
espectadores (fig. 74).4
A novidade no método de Lissajous foi que ele deixou o método mecânico e contou com
o agente da luz, muito mais eficiente. Nisso ele foi um visionário, profetizando nossa era
eletrônica moderna.
NOTAS E FONTES
1 Na verdade, cinco parâmetros são suficientes, uma vez que apenas a fase relativa (isto é, a diferença de
3 Florian Cajori, A History of Physics (198, ed. Rev. 1928; rpt. New York: Dover, 1962), pp. 288-289.
4 Em 180 meu colega Wilbur Hoppe e eu construímos um pêndulo composto como parte de um workshop
de modelos matemáticos na Universidade de Wisconsin – Eau Claire. Os padrões mostrados na figura 74
foram produzidos com esse dispositivo.