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GEODESIA ESPACIAL

INTRODUÇÃO

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1. Introdução Geral
 A Comissão de Educação da Associação Internacional de
Geodesia, define a geodesia como sendo a disciplina
/ciência que trata da medição e representação da terra e
outros corpos celestes, incluindo os seus campos
gravíticos, num espaço tridimensional variável com o
tempo;

 Como resultado directo desta definição, o objectivo da


geodesia pode ser resumido a três áreas principais:
1. Posicionamento;
2. Campo gravítico terrestre e de outros corpos celestes;
3. Variações temporais (de posição e de campo gravítico).

2
1. Introdução Geral (2)
 O posicionamento, pode ser obtido usando diversos tipos
de equipamento e/ou técnicas, conduzindo também a
diferentes níveis de precisão;
 Existem dois tipos principais de posicionamento:
(i) absoluto – se as posições são determinadas em relação a um
sistema de coordenadas; e
(ii) Relativo – se as posições são determinadas em relação a outro
ponto ou no contexto de um grupo de pontos (rede).

 O conhecimento do campo gravítico terrestre, é necessário


à geodesia uma vez que relaciona os espaços físico e
geométrico que permite a transformação de observações
geodésicas do espaço físico (afectadas pelo campo gravítico) para o
espaço geométrico a que geralmente são referidas. 3
1. Introdução Geral (3)
 O Campo gravítico, é alvo de estudo na Geodesia Física;
 Diversos fenómenos de carácter geodinamico, são responsáveis
pelas deformações da terra que provocam variações temporais
das posições e do campo gravítico;
 Nas últimas três ou quatro décadas, a evolução registada nas
diversas áreas da geodesia, deve-se sobretudo ao
desenvolvimento de sistemas baseados nas chamadas técnicas
extraterrestres, em particular aqueles baseados em satélites;
 Ao ramo da geodesia que adopta estas técnicas, designa-se por
Geodesia Espacial;
 Esta compreende as técnicas de observação e processamento
da informação obtida recorrendo a satélites artificiais, para a
obtenção da solução de um problema geodésico.
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1. Introdução Geral (4)

No âmbito desta disciplina, irão ser estudados os


fundamentos, os métodos de observação e de
computação das diversas técnicas extraterrestres
aplicadas ao posicionamento e respectivas
variações temporais.

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2. SISTEMAS DE COORDENADAS

2.1 Introdução
 Nas ultimas décadas, a necessidade de sistemas de
coordenadas bem definidos, tem sido uma preocupação
constante da comunidade geodésica internacional;
 O avanço tecnológico dos métodos extraterrestres bem
como o aperfeiçoamento de modelos físico-matemáticos e
teorias para esse efeito, permite hoje em dia:
 O estudo do movimento da crusta terrerstre (à escala local, regional e
global);
 O estudo da rotação da terra e de outros fenómenos geodinâmicos.

 Com um rigor ciêntífico incontestável.

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2. SISTEMAS DE COORDENADAS (2)
 Um dos requisitos básicos para a descrição dos diversos
processos geodinâmicos, é um sistema de coordenadas
bem definido, ao qual possam ser relacionadas quer as
observações quer as diversas teorias e modelos físico-
matemáticos que reúnem consenso internacional;

 Em Geodesia Espacial, há dois tipos de sistemas de


coordenadas fundamentais:

 um sistema inercial, fixo no espaço; e

 um sistema terrestre, que se desloca e gira com a terra e que se


pode relacionar matematicamente com o sistema inercial e em
relação ao qual se definem as posições relativas dos pontos à
superfície da terra.
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2. SISTEMAS DE COORDENADAS (3)
 Um sistema de coordenadas, é um conjunto de regras (modelo
matemático) especificando como é que as coordenadas deverão
ser atribuídas aos pontos e é caracterizado por:
1. dimensão (bidimensional, tridimensional, ...);
2. localização da origem (geocêntrico, topocêntrico,...);
3. superfície de referencia (plano, esfera, elipsóide, ...);
4. orientação dos eixos (cartesiano, curvilíneo);
5. polaridade (directo ou retrógrado);
6. Escala.

 Para uma dada formulação teórica de um sistema de


coordenadas, poderá existir mais do que uma
concretização. 8
 Segundo Muller [1989], “A finalidade de um sistema de referência
teórico é: fornecer os meios necessários à materialização de um
sistema de referência que possa ser usado para descrever
quantitativamente as posições e movimentos da terra (sistema
de referência terrestre), ou de outros corpos celestes, incluindo a
terra, no espaço (sistema de referencia celeste).”

 Muller avança ainda com o conceito de um sistema de referência


ideal;

 No caso de sistema de referência ideal terrestre, tal


corresponderia a um sistema em relação ao qual a crusta terrestre
sofreria apenas deformações, ou seja, não haveria rotações ou
translações;

 No caso de um sistema de referencia ideal celeste, seria um


sistema inercial definido de forma a que as equações de
movimento possam ser escritas sem nenhum termo rotacional. 9
 A selecção das constantes e dos modelos físicos e matemáticos
necessários à definição de um sistema de coordenadas não é
única, pelo que esta escolha terá necessariamente que ser
feita de um modo consensual, originando os chamados
sistemas convencionais.

 Um sistema convencional teórico, descreve o meio físico e


teorias a serem usadas na atribuição de coordenadas a pontos
da superfície da terra ou outros corpos no espaço;

 É materializado por um certo número de pontos, objectos ou


coordenadas a serem usados para referenciar qualquer outro
ponto, objecto ou coordenada, através da escolha
convencional de um certo número de parâmetros (tais como
as posições de certas estrelas, ou de um certo número de
estacões terrestres, por exemplo).
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 De acordo com as comissões de trabalho MERIT (MERIT – Monitor
Earth Rotation and Intercompare the Techniques of observation and
analysis) e COTES (COTES – Conventional Terrestrial Reference
System) da União Astronómica Internacional (IAU – International
Astronomical Union) e da União Internacional de Geodesia e
Geofísica (UGG – International Union of Geodesy and Geophysics);

 Um sistema de referência terrestre convencional é definido por um


conjunto de estacões de referência, teorias e constantes escolhidas de
forma que não exista rotação e translação residual entre o sistema de
referência e a superfície da terra.

 O sistema deverá ser materializado por um conjunto de posições


(dadas as coordenadas cartesianas ou geodésicas) e movimentos
(velocidades) para as estacões de referência seleccionadas e referidas
a uma dada época padrão, de forma a que o equador médio e a
orientação do sistema possam ser determinados.
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 Um sistema de referência celeste convencional é definido por
um conjunto designado por fontes de rádio extragalácticas,
teorias e constantes escolhidas de forma a que não exista
rotação entre o sistema de referência e esse conjunto de
fontes de rádio;

 O sistema deverá ser definido pelas posições e movimentos


das fontes de rádio designadas, com a origem localizada no
baricentro do sistema solar;

 O sistema celeste convencional serve de referência ao


movimento do sistema terrestre convencional.

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2.1.1 Sistema de Referencia Celeste (Inercial)
Convencional

 Um sistema de coordenadas celeste ou inercial é basicamente


descrito por um plano equatorial, origem e orientação,
definidos por objectos no espaço inercial através das
respectivas ascensões rectas e declinações, referidos a um
ponto fixo (usualmente equinócio vernal) e ao equador celeste
respectivamente;

 O sistema de coordenadas inercial convencional (CIS –


Conventional Inercial System) é usado para a descrição do
movimento orbital dos satélites e é definido como um sistema
de coordenadas tridimensional directo, com a origem no
baricentro do sistema solar e eixos fixos em relação ao espaço
inercial.
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 De entre os diversos sistemas de coordenadas inerciais baseados
neste conceito, são de destacar os estabelecidos pelas diferentes
técnicas de observação a saber: estrelas, interferometria de bases
muito longas (VLBI – Very Long Baseline Interferometry) e satélites.
De entre eles, o estabelecido por VLBI é o mais exacto;

 O sistema de referencia inercial convencional estelar (CIS – estelar)


está ligado ao catálogo de estrelas FK5 (5° catálogo fundamental,
produzido pelo Astronomischen Rechen Institute, Heidelberg,
Alemanha);

 O CIS – Estelar, é materializado pela adopção de um catálogo de


posições e movimentos próprios de um certo número de estrelas
fundamentais, referidas à época J2000.0;
 Tem origem no centro de massa da terra, o eixo dos ZZ dirigido para o pólo norte, o eixo dos XX dirigido para o equinócio vernal e o dos YY é escolhido de forma a tornar o sistema
directo.

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 O equador e o ponto vernal são definidos pelas ascensões rectas
e declinações adoptadas para as estrelas do FK5;

 A técnica VLBI, determina a declinação das fontes de rádio


relativamente ao eixo de rotação instantâneo da terra, bem
como as diferenças na ascensão recta relativamente a fontes de
rádio seleccionadas;

 O CIS –VLBI tem a sua origem no centro do sistema solar e está


ligado a fontes de rádio que são quasars (“quasi-stellar”) ou
núcleos galácticos e é definido pela adopção de coordenadas
instantâneas ou médias de um conjunto apropriado de fontes,
referidas a uma dada época padrão (J2000.0);

 Existem actualmente diversos catálogos de fontes de rádio


referidos à epoica J2000.0, variando consideravelmente no
número de fontes, distribuição e precisão. 15
 O IERS implementou um CIS–VLBI unificado, que combina
catálogos de fontes de rádio de diversas organizações e
designado RSC (Radio Source Coordinates);

 O RSC(IERS) 92 C 01 materializa o RSC, através da adopção das


coordenadas de 422 fontes de rádio extragalácticas,
uniformemente distribuídas. A orientação dos eixos é definida
pelas coordenadas de 65 dessas fontes de rádio (as fontes de rádio
primárias);

 O CIS - Satélite (baseado em observações de satélites) é definido pelo


plano orbital do satélite e pelo equador, sendo a orientação
inicial definida de forma mais ou menos arbitraria. Existem certas
limitações num sistema de coordenadas deste tipo;

 Devido à precessão e nutação, a orientação da terra e o próprio


campo gravítico definido nestes sistemas, variam com o tempo.
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Distribution of the 212 best-observed extragalactic sources (after Ma et al. (1998))
17
 Devido às diversas forças perturbadoras, o movimento da linha dos
nodos (linha de intersecção do plano da órbita da Terra em torno do Sol com o plano da órbita da Lua
em torno da Terra) é difícil de prever com precisão, para períodos
superiores a algumas semanas ou meses, pelo que um sistema de
referencia deste tipo apenas se pode considerar inercial durante
um curto intervalo de tempo.

 É útil no controlo da rotação da terra;

 São ainda de referir os sistemas planetário e lunar. O CIS-planetário


é definido pelo equador e eclíptica. Na prática, é definido pelas
efemérides dos centros de massa dos planetas, incluindo o
baricentro do sistema terra-lua;

 As efemérides são baseadas nas observações do sol, planetas e


sondas espaciais. O conjunto de efemérides mais conhecido é o JPL
DE-200, elaborado pela JPL (JPL – Jet Propulsion Laboratory).
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 O CIS-lunar, é definido pelo plano orbital da lua e do
equador terrestre. Na prática, este sistema é definido
pelas efemérides da lua, determinadas a partir de
observações laser para a lua (LLR – Lunar Laser Ranging).

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2.1.2 Sistema de Referência Terrestre Convencional

 O sistema de coordenadas terrestre convencional tem a sua


realização prática através da adopção de coordenadas para um
grupo seleccionado de estações fixas na crusta terrestre, técnica
de observação e modelos teóricos adoptados;

 O eixo de rotação da terra, constitui um ponto de referência


óbvio na definição de um sistema de coordenadas terrestre
teórico;

 As materializações conseguidas com as novas técnicas


extraterrestres são mais estáveis do que as conseguidas usando
as técnicas clássicas.

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 Um sistema de referência terrestre convencional teórico (CTS –
Conventional Terrestrial System) é um sistema de coordenadas
cartesiano tridimensional, com as seguintes caracteríticas:
 Origem no centro da massa da terra;
 Eixo dos ZZ dirigido para o pólo terrestre convencional;
 Eixo dos XX dirigido para o meridiano-zero (Greenwich);
 Eixo dos YY escolhido de forma a tornar o sistema directo;

 O CTS substitui a origem convencional internacional (CIO -


Conventional International Origin) e é a origem usada na determinação
dos parâmetros do movimento do pólo (xp,yp) publicados pelo
IERS;

 A origem convencional internacional corresponde à posição


média do polo para o período compreendido entre 1900 e 1905
(resolução 19 da IUGG, publicado no Bulletin Géodésique, N. 86, 379, 1967).
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 O IERS substitui desde o dia 1 de Janeiro de 1988 o International
Polar Motion Service (IMPS) e o BIH;

 A exactidão da materialização de um CTS depende: da qualidade


e distribuição das estações de observação, das técnicas usadas
para a materialização e dos modelos teóricos adoptados;

 Tal como nos sistemas convencionais inerciais, aqui também os


sistemas de coordenadas são baseados no conceito de: CTS -
VLBI, CTS - satélite ou de laser para satélite (SLR – Satellite Laser Ranging)
por exemplo;

 A seguir, apresentamos algumas das mais importantes


materializações de um CTS.

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 Os parâmetros usualmente seleccionados para definir um
sistema de coordenadas são:
 o semi-eixo maior do elipsóide, a;
 a constante gravitacional da Terra (incluindo a atmosfera), GM;
 o coeficiente gravitacional zonal normalizado de segundo grau Ĉ20; e
 a velocidade angular da Terra ω.

 Constantes e parâmetros adicionais são obtidos a partir das


seguintes relações:
(13)
J 2   5C20

4  2 a 3 e3
e  3 5C20 
2
(14)
15 GM 2q0

 3  3 (15)
2q0  1  ' 2  arctn (e' )  '
 (e )  e
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 onde J2 é função do factor dinâmico da Terra, e´ é a segunda
excentricidade, definida como

e'  e 1  e 2 (16)

ou em alteranativa

a 2  b2
e 
'
(17)
b

onde a equação (17) é resolvida iterativamente para a


excentricidade.

 Em 1919, durante a XVII Assembleia Geral da IUGG foi


recomendado que o Sistema Geodésico de Referência 1980 (GRS 80
– Geodesic Reference System 1980) fosse usado como referência
oficial para todo o trabalho geodésico.
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 O GRS 80 baseia-se na teoria de um elipsóide equipontecial
geocêntrico e é definido pelas seguintes constantes:

a = 6 378 173 m;
GM = 3 986 005×108 m3s-2;
J2 = 108 263×10-8; (função do factor dinâmico da Terra) e
ω = 7.292 115×10-5 rads-1

 Um elipsóide equipotencial é um elipsóide que represeneta uma


superfície equipotencial;

 Dado um elipsóide de revolução, podemos definir na sua


superfície uma superfície equipotencial e sobre ela uma função
potencial chamada potecial gravítico normal U:

U = U0 = constante
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 A função U é determinada unicamente por um sistema de 4 parâmetros
independentes, tais como os semi-eixos maior e menor do elipsóide de
referência, a massa envolvida e a velocidade angular média;

 O World Geodesic System 1972 (WGS 72) era usado para a formulação das
mensagens de navegação transmitidas pelo sistema TRANSIT primeiro sistema
de posicionamento global (GPS – Global Positioning System) que foi usado até
Janeiro de 1987.

 Os parâmetros elipsoidais que definem o (WGS 72) são:


1. a = 6 378 135 m,
2. GM = 3 986 008×10-6 m3s-2;
3. J2 = 108 263×10-8 e
4. ω = 7.292 115×10-5 rads-1

 A orientação é definida adoptando as coordenadas das estações de rastreio ou


monitoras.
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 O World Geodesic System 1984 (WGS 84) é definido pelos mesmos
parâmetros que definem o GRS 80;

 A orientação é definida adoptando as coordenadas WGS 84 de mais


de 1500 estações TRANSIT;

 Estas coordenadas foram obtidas modificando o conjunto de


coordenadas daquelas estações, inicialmente referidas ao sistema
de coordenadas NSWC 9Z-2 (NSWC – Naval Surface Warfare Center),
em origem, escala e orientação, de modo a torná-las consistentes
com as coordenadas adoptadas para as estações BIH;

 O Sistema de Referência Terrestre do IERS (ITRF- IERS, International


Terrestrial Reference Frame) é mais uma concretização de um
sistema convencional terrestre através da fixação de coordenadas,
derivadas de técnicas extraterrestres, para um conjunto de estações.
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 Existem diversos sistemas de coordenadas baseadas no ITRF, sendo
o mais recente o ITRF 92, que adoptava as constantes sugeridas
como valores padrão pelo IERS. Entre 1996 e 1998, estabeleceu-se
o ITRF 94;

 As coordenadas adoptadas para as diversas estações são o


resultado de um ajustamento por mínimos quadrados de
coordenadas obtidas por VLBI, SLR, LLR e GPS e apresentam
precisões absolutas superiores a poucas dezenas de centímetros;

 O IERS é responsável pela publicação de coordenadas para um


grande número de estações em todo o globo.

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