Importante dizer
que o vício e o defeito não são palavras sinônimas. O vício de um produto abre três
opções ao consumidor: a) a troca do produto; b) o abatimento no preço pago; c) e a
devolução do dinheiro. Na modalidade de de vício, não há possibilidade de indenização.
Vale destacar que são consumidores todos aqueles que adquirem produtos ou serviços
para uso próprio sem fins de repasse. Aquele que comprova nos autos processuais que é
um consumidor, terá para si a inversão do ônus da prova; quero dizer que o consumidor
não precisa provar. Ele apenas apresenta o nexo causal e o dano. Cabe ao fornecedor
produzir as provas que entenda necessárias para não pagar indenização.
Outro detalhe importante é que, no âmbito do Direito de Consumidor, podemos nos
deparar com o vício oculto. Ele geralmente ocorre quando um produto é adquirido e,
após o fim da garantia, apresenta um vício oculto.
Quando o vício é oculto, é necessária a realização de perícia técnica que será arcada
pelo fornecedor, sem prejuízo algum para o consumidor. O consumidor é sempre o
hipossuficiente técnico da relação.
Outra questão importante é saber a diferença entre o vício oculto e o redibitório. O
oculto é sempre discutido na seara do Direito Consumerista; ao passo que o redibitório,
pelo Código Civil. No redibitório, não há que se falar em inversão do ônus da prova. No
Código Civil, segue-se a regra do Direito Processual Civil: a prova cabe a quem alega.
O defeito é sempre a consequência do vício. Sem vício, não há defeito. Ao contrário do
vício, o defeito gera indenização. O defeito são as consequências do vício. Por exemplo:
um telefone celular que teve o seu visor queimado. Trata-se de um vício.
Se o celular explodir e queimar o rosto do consumidor, estaremos diante de um defeito
que irá gerar uma indenização. Neste caso, também estaremos diante da inversão do
ônus da prova e o consumidor apresenta o nexo causal e as provas do dano (remédios,
custos no hospital, prejuízos por ter ficado sem laborar) , cabendo ao fornecedor
indenizar nos limites do dano.
Para que surja o defeito, pressupõe-se, em tese, um vício. Porém, esse vício causa uma
lesão não só do bem adquirido ou no serviço contratado, mas, também, lesão ao
patrimônio jurídico material e moral do consumidor. Por conseguinte, isso gera um
dano, caracterizando, então, um acidente de consumo, ou como apregoa o Código de
Defesa do Consumidor, um fato do produto ou serviço.
Destaca-se que o legislador pátrio, de forma muito sábia, e até mesmo para evitar
questionamentos infundados, definiu, tanto no §1º do artigo 12, quanto no §1º do artigo
14, o conceito de defeito de produto e serviço.
(...) um acontecimento externo, que ocorre no mundo exterior, que causa dano material
ou moral ao consumidor (ou ambos), mas que decorre de um defeito do produto. Seu
fato gerador será sempre um defeito do produto; daí termos enfatizado que a palavra-
chave é defeito.
Por fim, para fins de explanação, cumpre ressaltar que o legislador adotou, para o
Código de Defesa do Consumidor, a responsabilidade civil objetiva, consubstanciada na
teoria do risco, respondendo o fornecedor de produtos e serviços independentemente da
verificação de culpa, em casos de danos causados a consumidores.
Para que o consumidor possa valer seus direitos é importante saber definir e enquadrar
um problema apresentado por qualquer serviço ou produto e desta maneira encontrar na
lei a alternativa que melhor lhe assiste.
Assim, vale ao consumidor atentar para duas definições básicas que permitirão a ele
encontrar a solução legal para seus problemas: Vícios dos produtos e dos serviços -
entende-se por vícios as características de qualidade ou quantidade que tornem os
produtos ou serviços impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam e que
ainda reduzem o seu valor.
Defeitos dos produtos e serviços - entende-se por defeito as características de qualidade
ou quantidade que tornem os produtos ou serviços impróprios ou inadequados ao
consumo a que se destinam, além de causar dano maior ao consumidor ou terceiro que o
simplesmente o mau funcionamento, ou seja um dano extra.
Para que o consumidor possa distinguir e diferenciar o vício de defeito podemos adotar
o seguinte exemplo: " O consumidor A e o consumidor B, adquirem em uma mesma
concessionária motocicletas 0 KM com as mesmas características que apresentam o
mesmo problema de fábrica no sistema de freios.
Ao retirarem os veículos, saem cada qual em direção a suas residências.
O consumidor A, ao chegar em um cruzamento tenta acionar o freio e percebe que estes
não funcionam, rapidamente passa a reduzir as marchas até conseguir parar a moto.
O consumidor B, ao chegar próximo a um cruzamento movimentado tenta acionar o
freio mas este não funciona, sem conseguir parar a moto, passa pelo cruzamento sendo
atingido por outro veículo, que além de destruir a moto causa sérios ferimentos no
consumidor B.
No caso acima relatado temos com o consumidor A um problema de vício, pois ocorreu
um mau funcionamento do freio, já com o consumidor B temos um problema de defeito
pois o mau funcionamento do freio gerou um dano maior ao consumidor que teve sua
moto destruída além de ter sofrido sérios ferimentos.
Esclarecidas as diferenças entre vício e defeito vale também ao consumidor estar atento
para os prazos para reclamar dos vícios e defeitos.
VÍCIOS APARENTES - tratando-se de produtos ou serviços não duráveis (alimentos,
medicamentos, etc) o prazo para que o consumidor possa reclamar é de 30 dias, já em se
tratando de produtos duráveis ( eletrodomésticos, automóveis, etc) o prazo para o
consumidor reclamar é ampliado para 90 dias.
VÍCIOS OCULTOS - tratando-se de vício oculto, ou seja, aquele que não é facilmente
detectado logo após a aquisição do produto ou serviço, o prazo para reclamar passa a
contar a partir do momento em que é constatado o vício, valendo a partir daí os prazos
de 30 ou 90 dias, de acordo com a característica do produto ou serviço ( duráveis e não
duráveis).
No caso dos defeitos os prazos são os mesmos sendo entretanto acrescido ao
consumidor a possibilidade do mesmo exigir junto ao fornecedor ou fabricante
indenização pelos danos causados.
Por fim vale lembrar a todos os consumidores que o fornecedor do produto ou serviço
tem o prazo de 30 dias para sanar os vícios reclamados pelo consumidor, sem qualquer
ônus a este. Este prazo pode ser alterado para um mínimo de 07 e o máximo de 180 dias
caso esteja previsto em contrato firmado entre consumidor e fornecedor.
Se os prazos estabelecidos pelo Código de Defesa do Consumidor não forem
respeitados pelo fornecedor, o consumidor poderá exigir, a sua escolha:
a) a substituição do produto por outro da mesma espécie;
b) a restituição da quantia paga, corrigida monetariamente, além do pagamento de
outros prejuízos que eventualmente tenham sido causados;
c) o abatimento proporcional do preço, tendo em vista a extensão do vício do produto;
Estas a três alternativas podem ser exercidas imediatamente pelo consumidor sem a
concessão dos 30 dias para o fornecedor.
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