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E
m 1996, mais de 30 anos
após o lançamento de sua alguns dos problemas levantados do sistema ao aluno. Agora, já na
primeira versão, foi apro- pela pesquisadora. Mas foi a fal- primeira fase, ele começa com a
vada a nova LDB, concedendo às ta de uma metodologia de ensino leitura de uma comédia de Plauto
universidades, o direito de decidir unificada, outro desmotivador dos e a língua já é apresentada de uma
sobre o ensino da língua latina alunos, que deu origem ao objeto forma mais completa”, garante.
nos cursos de Letras. Enquanto principal de pesquisa de Miotti: o A baixa carga-horária do latim
algumas excluíram a disciplina, método . em grande parte dos cursos de Le-
diversas instituições, como USP, Lançado em 1986 pelos profes- tras seria um fator que poderia jus-
Unicamp, Unesp e UFSC, man- sores Peter Jones e Keith Sidwell, tificar os poucos alunos que se in-
tiveram-na no quadro curricular. a estrutura dele se baseou na do já teressam, ao fim do curso, por uma
Mas havia, entre elas, um proble- existente . A ideia área tão específica. Na tentativa de
ma comum: a desistência por par- dos dois projetos era a mesma: criar ir contra esse fluxo, a UFSC é um
te dos alunos. uma forma de ensinar os idiomas exemplo único no país: hoje, ela
Para tentar melhorar os ín- para adultos e “quase-adultos” estabelece, no currículo do curso
dices, a USP, única universidade que permitisse um acesso rápido e de Letras, 72 horas-aula de Latim,
no Estado de São Paulo que pos- eficaz a obras originais de autores diferente do padrão, que é de 45
sui um departamento destinado da época. Escrito, inicialmente, horas. Mas, segundo a professora
exclusivamente aos estudos clás- em inglês, o método continha um Maria Helena de Moura Neves,
sicos, repensou a forma de in- conjunto de textos e um livro de a carga-horária não explica o bai-
troduzir o latim aos alunos. Para exercícios, teorias gramaticais e xo número de estudiosos da área.
isso, a instituição criou, em 1998, vocabulários. Em 1994, a ideia foi Para ela, o que não acontece hoje
a disciplina de Introdução aos Es- adotada pela Universidade Fede- é, justamente, o que aconteceu na
tudos Clássicos (IEC). Apesar de ral do Paraná (UFPR). Mais tarde, sua época: o incentivo ao estudo
já estar aposentada quando a IEC outras instituições também opta- do latim ainda antes do ensino su-
foi implantada, a professora Zélia ram pela novidade, como a UFSC, perior. “Um aluno começando na
de Almeida Cardoso reconhece a que, em 2002, passou a aplicar a universidade, vai sair com umas
validade da escolha feita pela ins- metodologia em sala de aula. pinceladas”, opina. “Não é ques-
tituição. “Os alunos que entram Um dos maiores obstáculos tão de carga horária, é questão de
em Letras têm algumas matérias dentro da universidade catarinen- tempo de formação, é questão de
obrigatórias, como a Iniciação aos se se repetia em outras instituições período que a pessoa fica exposta
De repente, latim
a este estudo. De fato, vai haver direcionar pessoas para um certo professor, eles ainda não têm uma
aqueles fatos de vocação. Eles po- rumo. “A questão não é dar estudo “combinação ideal de abrangência
dem se tornar muito bons, mas pra elite, é conseguir dar alguma vocabular e apresentação sistemáti-
como formação, eu acho tarde”, coisa da elite pro povo. Eu gostaria ca das diversas acepções, constru-
conclui. que o povo fosse elitizado. Eu acho ções, regências e exemplos”.
que isso é acrescentar”, reflete. Mas quando há muitas lacunas
Dificuldades No blog que criou para com- – não há tradução e os dicionários
Além de questões pontuais refe- plementar suas aulas, o professor são confusos – e recorrer a obras es-
rentes a escolhas de cada instituição, Adriano Scatolin, da USP, aponta trangeiras se torna inevitável, surge
há outros motivos que dificultam o outros fatores, de cunho mais prá- mais um entrave: o idioma. Scato-
ensino do latim na graduação, tanto tico, que também inviabilizam o lini afirma que é possível se dedicar
no curso de Letras, como disciplina fortalecimento do ensino e da pes- aos estudos de latim sem conhecer
obrigatória, quanto no próprio cur- quisa na área do latim. Em primeiro outras línguas, embora, como ex-
so de licenciatura. Para Neves, um lugar, ele cita a falta de traduções. plica, “isso represente uma grande
dos entraves é a elitização do latim. Segundo ele, muitas obras de auto- limitação, pelo menos com nossa
“No Brasil, não tem jeito de não ser res romanos ainda não existem em disponibilidade atual de material
considerado de elite. Todo mundo português – o que há, normalmen- básico de trabalho”. A responsabili-
vai dizer: para quê? E a explicação te, são versões feitas a partir de ou- dade, dessa vez, recai sobre o aluno,
do ‘para quê?’ é de elite mesmo”, tra língua. que deverá trabalhar com uma si-
afirma. Essa explicação, segundo Outro empecilho seria a falta tuação irônica: antes de entender a
a professora, diz respeito aos obje- de dicionários bons à venda, hoje, língua-mãe, terá que compreender
tivos do latim. Ensiná-lo significa nas livrarias brasileiras. Segundo o as línguas-filhas.