Você está na página 1de 43

Dra.

Andréa Belém Costa


UFAM – ICB
IBP029- IMUNOLOGIA Lab. de Imunologia de Peixes
Grupo de Pesquisa SIPX –
Sanidade e Imunologia de Peixes
IMUNOLOGIA
Imunologia - o estudo de nossa proteção contra macromoléculas estranhas ou
organismos invasores e nossas respostas a eles.
Invasores: vírus, bactéria, protozoários ou parasitas maiores.
Além disso: respostas imunes contra nossas próprias proteínas (e outras moléculas) na
autoimunidade e contra nossas próprias células aberrantes na imunidade de tumores.
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA
IMUNOLOGIA
Definição:
 Imunidade = Defesa, Proteção, Resistência.
Imunidade vem do latim Immunitas – isenção de impostos e processos legais
atribuídos aos senadores romanos.
Historicamente: Imunidade proteção contra doenças, em particular para
doenças infecciosas.
A IMUNOLOGIA estuda a reação, a resposta e os eventos que ocorrem
quando o organismo reconhece algo como ESTRANHO!
SISTEMA IMUNOLÓGICO HOMEOSTASIA
HISTÓRICO
HISTÓRICO
Final do século XVII: Edward Jenner criou a primeira vacina do mundo – varíola
Final do século XIX: Louis Pasteur criou a segunda vacina do mundo – raiva
Primeira metade do século XX: os cientistas criaram mais 6 vacinas
Anos 20: pesquisadores franceses descobriram que as bactérias produzem toxinas
que se tratadas com produtos químicos podem ser usadas como vacinas –
bacterinas – difteria, tétano e coqueluche.
Anos 30: vacina contra a febre amarela – Instituto Rockefeller
HISTÓRICO
Anos 40: Thomas Francis (Univ. de Michigan) – vacina contra a gripe
cultivando o vírus em ovos e matando-o com formaldeído.
Anos 50: Jonas Salk e Albert Sabin – fizeram vacinas contra a pólio.
Segunda metade do século XX: explosão das pesquisas e desenvolvimento de
vacinas para prevenir o sarampo, a caxumba, a rubéola, a catapora, a
hepatite A, a hepatite B, o penumococo, o meningococo e o Haemophilus
influenza tipo b (Hib) – todas estas nove vacinas foram criadas por Maurice
Hilleman.
A infecção por um organismo não significa necessariamente doença porque o sist. Imune
é capaz de eliminar a infecção antes que a doença ocorra.

QUANDO A DOENÇA OCORRE?


Nível de infecção é elevado;
Virulência do organismo invasor é grande;
Imunidade comprometida.
Efeitos detrimentais podem ocorrer:
Deconforto local
Danos colaterais aos tecidos sadios – produtos tóxicos da resposta imune
Resposta imune dirigida a tecidos próprios – doença autoimune.
DIFERENÇAS: INFLAMAÇÃO, INFECÇÃO,
INFESTAÇÃO?
Inflamação:
1. Descrita por Aurelio Cornelio Celso, na Roma Antiga, cerca de 50 a.C.
2. Conceito e bases fisiológicas do processo inflamatório, século XIX, introduzido
pelo patologista alemão Rudolf Virchow
3. Do latim, inflamatio (atear fogo) – resposta do organismo a uma agressão
sofrida. Resposta comum a vários tipos de tecidos.
4. A maioria das células da resposta inflamatória é constituída de células fagocíticas
SINAIS CARDINAIS DA INFLAMAÇÃO
INFLAMAÇÃO
Reação do organismo frente a uma infecção ou lesão dos tecidos.
A região afetada fica avermelhada e quente, devido ao aumento do fluxo
sanguíneo. Ocorre ainda inchaço e hipersensibilidade como resultado da infiltração
de líquidos nos tecidos locais, aumentando, assim, a tensão da pele.
O processo inflamatório
Na dor localizada participam certas substâncias químicas produzidas pelo
organismo. Dentro da área inflamada ocorre o acúmulo de células provenientes do
sistema imunológico (leucócitos, macrófagos e linfócitos).
Pode-se classificar a inflamação em dois tipos principais, conforme sua velocidade
de instalação: a aguda e a crônica.
Inflamação aguda é aquela que se instala rapidamente, como, por exemplo, após
um acidente em que ocorre lesão tecidual de forma súbita.
Inflamação crônica é aquela cujo processo pode durar vários dias, meses ou anos. É
caracterizada pela ativação imune persistente com presença dominante de
macrófagos no tecido lesionado
Responda: Por que ocorre febre durante
a inflamação?
É um mecanismo adaptativo dos seres vivos.
As células fagocíticas, ao exercerem suas funções, liberam
proteínas conhecidas como pirógenos endógenos.
Ex.: as interleucinas 1 e 6 (IL-1 e IL-6), o fator de necrose
tumoral (TNF) e os interferons do tipo I.
A sensação ruim que sente a pessoa febril faz com que
ela poupe energia e descanse.
Além disso, o aumento da temperatura corpórea para
além dos 37,5oC inibe a proliferação de bactérias.
INFECÇÃO
Invasão de tecidos corporais por parte de organismos microscópicos, como as
bactérias, os vírus ou os fungos, por exemplo, ou de dimensões maiores e constituição
mais complexa, como os ácaros, pulgas, piolhos, etc.
INFESTAÇÃO
Estabelecimento, proliferação e ação de parasitos na pele ou em seus apêndices

A presença do nematelminto Wuchereria bancrofti é uma infestação ou


infecção - mas é certo que este verme causa a inflamação dos vasos
linfáticos, podendo resultar na hipertrofia de regiões afetadas.

Carrapatos podem causar uma infestação em cachorros e resultar em


inflamação das regiões perfuradas e sugadas pelo parasita.
Carrapatos podem causar infecções como a erlichiose canina causada pela
bactéria Erlichia canis.
IMUNIDADE E IMUNOLOGIA
Capacidade de um organismo reagir/responder contra moléculas ou patógenos que
possam causar doença.
Imunologia – estuda como funciona esta capacidade. Ou ainda, estuda as defesas
do organismo contra infecções.
Um organism é protegido contra agentes infecciosos e os seus danos por uma
variedade de células efetoras e moléculas (secreções) que juntos formarão o
SISTEMA IMUNE.
O sistema imune ou sistema imunológico costuma ser dividido em duas grandes
partes: Sistema Imune INATO e Sistema Imune ADAPTATIVO
SISTEMA IMUNE INATO
1a. linha de defesa;
Nasce com o indivíduo/organismo;
Comum a animais invertebrados e vertebrados;
Também denominado não-específico: porque responde sempre do mesmo jeito contra
qualquer antígeno ou patógeno – não tem memória imunológica.
O que é antígeno?
 Molécula ou qualquer estrutura estranha ao organismo que é identificada pelo Sistema immune.

O que é patógeno?
 Organismo capaz de causar patologia (doença), agente infeccioso: bactéria, vírus, fungo, parasita,
protozoário…
IMUNIDADE INATA OU NÃO-ESPECÍFICA
SISTEMA IMMUNE ADAPTATIVO
Específico;
2a. linha de defesa;
Resposta mais elaborada e mais lenta na primeira exposição ao antígeno ou
patógeno;
Proteção na re-exposição ao patógeno – memória imunológica.
VISÃO GERAL
O sistema inato é a primeira linha de defesa contra organismos invasores
O sistema imune adaptativo age como uma segunda linha de defesa e também protege
contra re-exposição ao mesmo patógeno.
Cada uma dessas subdivisões principais do sistema imune tem tanto componentes
celulares como humorais, através dos quais elas executam suas funções de proteção.
Embora esses dois ramos do sistema imune tenham funções distintas, há interconexão
entre eles (isto é, componentes do sistema imune inato influenciam o sistema imune
adaptativo e vice-versa).
ALGUMAS DIFERENÇAS ENTRE OS SISTEMAS INATO E
ADAPTATIVO
O sistema imune inato apresenta sistemas de defesa sempre presentes e prontos para
mobilização em uma infecção.
O sistema imune adaptativo requer algum tempo para reagir contra um organismo
invasor.
O sistema imune inato não é específico para um antígeno e reage da mesma maneira
para uma variedade de organismos.
O sistema imune adaptativo é específico para um antígeno e reage somente contra o
organismo que induz a resposta.
O sistema imune inato não possui memória imunológica.
O sistema adaptativo possui memória imunológica. Ele “lembra” que já encontrou um
organismo invasor e reage mais rapidamente à exposição subsequente do mesmo
organismo.
IMUNIDADE INATA OU NÃO-ESPECÍFICA

Os elementos do sistema imune inato incluem barreiras anatômicas (físico-químico),


moléculas de secreção (humoral) e componentes celulares.
Barreiras mecânicas anatômicas: pele e camadas epiteliais internas, movimento dos
intestinos e a oscilação dos cílios bronco-pulmonares.
Associados: agentes químicos e biológicos.
COMPONENTES DA IMUNIDADE INATA
Barreiras Físico-químicas
IMUNIDADE INATA
A. BARREIRAS ANATÔMICAS À INFECÇÕES

1. Fatores mecânicos
1. Superfícies epiteliais: barreiras físicas e impermeáveis a agentes
infecciosos.
1. A pele: a primeira linha de defesa.
2. Descamação da pele: remove bactérias e outros agentes infecciosos
3. Movimentos devido aos cílios e à peristalse: mantém vias aéreas e trato
gastrointestinal livres
4. Lágrimas e saliva: previne infecção em olhos e boca
5. Muco: efeito pegajoso no trato respiratório e gastrointestinal proteje pulmões e
trato digestivo.
IMUNIDADE INATA
A. BARREIRAS ANATÔMICAS À INFECÇÕES

2. Fatores químicos
1. Ácidos graxos no suor: inibem o crescimento de bactérias
2. Lisozima e fosfolipase: lágrima, saliva e secreção nasal: destruição da perede celular bacteriana e
desestabilização da membrana bacteriana
3. Baixo pH do suor e secreção gástrica
4. Defensinas: proteína de baixo peso molecular no pulmão e trato gastrointestinal têm atividade
antimicrobiana
5. Agentes surfactantes: agem como opsoninas (promovem fagocitose)
IMUNIDADE INATA
A. BARREIRAS ANATÔMICAS À INFECÇÕES

3. Fatores biológicos
1. A flora normal da pele e do trato digestório: previne colonização por
bactérias patogênicas devido secreção de substâncias tóxicas ou
competição por nutrientes ou ligação à superfície da célula. Ex.:
iogurte, lactobacilos.
IMUNIDADE INATA
B. BARREIRAS HUMORAIS À INFECÇÕES

Quando há lesão em tecidos as barreiras anatômicas são rompidas e a


infecção pode ocorrer.
Após a entrada de agentes infecciosos nos tecidos, outro mecanismo de
defesa inato entra em ação = inflamação aguda
Os fatores humorais têm importante papel na inflamação caracterizada por
edema e o recrutamento de células fagocitárias.
IMUNIDADE INATA
B. BARREIRAS HUMORAIS À INFECÇÕES
O recrutamento de células fagocíticas
IMUNIDADE INATA
B. BARREIRAS HUMORAIS À INFECÇÕES
O recrutamento de células fagocíticas
IMUNIDADE INATA
B. BARREIRAS HUMORAIS À INFECÇÕES

Os fatores humorais são imunologicamente ativos, encontrados nas secreções


das mucosas, sangue (soro) ou são formados no local da infecção
Exemplos:
1. Sistema Complemento – mecanismo de defesa humoral não-específico. Ao
ser ativado pode levar ao aumento da permeabilidade vascular,
recrutamento de células fagocitárias, e lise e opsonização da bactéria.
OPSONIZAÇÃO – O QUE É ISSO????
Processo que facilita a ação do sistema imune por fixar opsoninas na
superfície bacteriana, permitindo a fagocitose.
Opson - palavra grega que significa condimento, tempero, molho, ou seja,
algo que facilite a digestão.
IMUNIDADE INATA
B. BARREIRAS HUMORAIS À INFECÇÕES

2. Sistema de coagulação – poderá ou não ser ativado, dependendo da


severidade da lesão no tecido.
Alguns produtos do sistema de coagulação podem contribuir para a defesa
específica devido a sua habilidade de aumentar a permeabilidade vascular e
agir como agente quimiotático para células fagocitárias.
IMUNIDADE INATA
B. BARREIRAS HUMORAIS À INFECÇÕES
Os fatores humorais:
3. Lactoferrina e transferrina – Ao se ligarem com o ferro, um nutriente essencial para
bactérias, essas proteínas limitam o crescimento bacteriano.
4. Interferons do tipo 1 (alfa ou beta) – são proteínas que podem limitar a replicação de
vírus nas células.
5. Lisozima – Lisozima degrada a parede celular das bactérias.
6. Interleucina-1 – induz febre e a produção de proteínas de fase aguda, algumas das
quais são antimicrobianos porque elas podem opsonizar bactérias.
CITOCINAS
Grupo diversificado de proteínas de sinalização intercelular, que regulam as
respostas inflamatórias e imunológicas locais e sistêmicas, cicatrização de feridas,
hematopoiese e outros processos biológicos.
Substâncias secretadas por células específicas do sistema imunológico que
transmitem sinais entre células
São sintetizadas pelos macrófagos, monócitos e linfócitos.
Têm curto tempo de vida - só são liberadas durante uma resposta imune.
Acionam os linfócitos B - que por sua vez produzem anticorpos específicos.
A comunicação se dá através de receptores da membrana plasmática das células
de defesa, que recebem e reconhecem os sinais, dando início ao combate.
CITOCINAS
Proteínas de baixo peso molecular secretadas pelos leucócitos e por várias
outras células no organismo em resposta a inúmeros estímulos.
São mediadores solúveis responsáveis pela sinalização entre as células do
sistema imune, regulando seu desenvolvimento e comportamento. As citocinas
estão envolvidas em processos celulares como, por exemplo, ativação celular,
maturação celular, proliferação celular, secreção de anticorpos, migração
celular, entre outros.
CITOCINAS
Principais tipos:
1. Interleucinas: ou linfoleucinas, envolvidas na comunicação de linfócitos, têm
a f(x) de reconhecer o antígeno, induzir a proliferação dos linfócito T e a
divisão celular e classificas em IL-1, IL-2….IL-18 ou 23, cada uma com
papel no sistema imune.
2. Interferons: combatem bactérias, vírus e células mutantes formadoras de
tumores, subdivididos em alfa, beta e gama.
AS CÉLULAS DO SISTEMA IMUNOLÓGICO
As respostas imunes, inata e adaptativa, dependem de atividades das células
sanguíneas brancas, ou leucócitos;
Todas essas células são originárias da medula óssea, e muitas delas também se
desenvolvem e maturam nesse ambiente;
IMUNIDADE INATA
C. COMPONENTES CELULARES
Células especializadas cujo propósito é
destruir o invasor: Neutrófilos,
Macrófagos, Eosinófilos, Mastócitos,
Células Dendríticas e Células NK.
PRINCIPAIS CÉLULAS EFETORAS DA IMUNIDADE
INATA
IMUNIDADE INATA
C. BARREIRAS CELULARES À INFECÇÕES

Neutrófilos – Células polimorfonucleares (PMNs) são recrutadas


ao local da infecção onde fagocitam organismos invasores
e os matam intracelularmente. PMNs contribuem para
lesões colaterais no tecido que ocorrem durante a
inflamação.
Macrófagos – Macrófagos tissulares e monócitos recentemente
recrutados, que se diferenciam em macrófagos, também
funcionam na fagocitose e na morte intracelular de
microrganismos. Além disso, macrófagos contribuem para o
reparo de tecidos e agem como células apresentadoras de
antígenos, que são requeridas para a indução de
respostas imunes específicas.
IMUNIDADE INATA
C. BARREIRAS CELULARES À INFECÇÕES

Células assassinas naturais (NK) e células assassinas ativadas


por linfocina (LAK) – Células NK e LAK podem matar
células tumorais infectadas por vírus de maneira não
específica. Essas células não são parte da resposta
inflamatória, mas são importantes na imunidade não
específica a infecções virais e na prevenção de tumores.
Eosinófilos – têm proteínas em grânulos que são eficientes na
destruição de certos parasitas.
INFLAMASSOMA
Complexo multiproteico intracelular que atua na ativação das CASPASES
(enzimas da família Cisteína-Aspartato Proteases) para regulação da
imunidade e reconhecimento de sinais de perigo a diferentes componentes :
produtos microbianos, adjuvantes ou alterações no ambiente iônico intra e
extracelular.
Atua na patogênese de várias doenças inflamatórias.
Texto auxiliar:
Inflamassoma e sua repercussão clínica: revisão da literatura
Paiva-Oliveira et. al., 2010, Revista de Ciências Médicas e Biológicas, v.11,
n.1, p. 96-102.

Você também pode gostar