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INTRODUÇÃO
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e a desigualdade de poder nas relações entre os gêneros, a partir da década de 1980 e se tornar
parte da agenda pública no país na, nessa ocasião, os movimentos de mulheres e feministas, que
já vinham denunciando as mortes de mulheres pelos seus maridos/companheiros, sob
o slogan “quem ama não mata”, colocaram em prática outras estratégias, a exemplo dos SOS
Mulher e as delegacias da mulher.
Hoje ainda ouvimos falar através de programas rádios e tv que a maioria das mulheres
vítimas de violência vivem durante anos sendo agredidas pelo parceiro e ameaçadas de morte,
mas não se separam dele. Há também mulheres que até já se separaram, denunciaram e
registraram vários BOs (Boletins de Ocorrência) na delegacia e, mesmo assim, continuam a ser
agredidas e perseguidas pelo ex-parceiro.
Por que as mulheres ficam durante tanto tempo em uma relação violenta? A violência
contra a mulher apresenta-se como uma grave expressão das relações sociais, com sequelas,
muitas vezes, irreparáveis, não atingindo somente as mulheres que a vivenciam, mas também,
seus familiares, inscritos nessa relação conflituosa. A agressão tanto física como psicológica,
sexual, patrimonial e moral contra a mulher é vista na sociedade, quase sempre, de forma
naturalizada, presente no cotidiano e reafirmada pelo conjunto de representações e papéis
atribuídos aos homens e mulheres. Existem muitas razões para uma mulher não conseguir
romper uma relação violenta.
A violência contra as mulheres nem sempre foi compreendida como violência, ou seja,
um fenômeno social grave e complexo que atinge mulheres, em todo o mundo, de diferentes
culturas, idade, classe social, raça e etnia e que gera efeitos negativos não só para a saúde física
e mental das mulheres, mas para toda a sociedade. Segundo Del Priore (2013, p. 6 apud ILB,
2016, p. 2), “não importa a forma como as culturas se organizaram”, a diferença entre masculino
e feminino sempre foi hierarquizada. No Brasil Colônia, o patriarcalismo brasileiro conferia
aos homens uma posição hierárquica superior às mulheres, de domínio e poder, sob o qual os
“castigos” e até o assassinato de mulheres, pelos seus maridos, eram autorizados pela
legislação.
Por quatro séculos a sociedade reservou para as mulheres um lugar invisível, na casa
grande as mulheres viviam sobre o olha vigilante do marido e dos pais, as mulheres possuíam
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um papel: fazer o trabalho de base para o edifício familiar – educar os filhos segundo os
preceitos cristãos, ensinar-lhes as primeiras letras e atividades, cuidar do sustento e da saúde
física e espiritual deles, obedecer e ajudar o marido. Já nas senzalas as mulheres faziam o
possível e impossível para impedir a reprodução escravista. As mulheres negras desta época
não lutavam só pelo fim da escravidão, mais para impedir a reprodução escravista foi um
período de grandes lutas, de acordo com Dulce Pereira embaixadora do CPLP - Comunidade
dos Países de Língua Portuguesa“ as mulheres cortavam os seios e abortavam na tentativa de
impedir reprodução escravista”. (ILB, 2016)
A estratégia usada pelas mulheres no século XIX foi a luta pela educação; Nísia Floresta
no ano de 1838 fundou a escola para mulheres na cidade do Rio de Janeiro que por 17anos
ensinava línguas e história matérias que eram banidas do universo feminino, Nísia aos 22 anos
publica seu primeiro livro intitulado a “Direitos das Mulheres e injustiça dos homens”.
A partir daí as mulheres começaram a luta pelo direito a ser alfabetizadas, direito a
educação, as mulheres tinham direito restrito a educação não poderia cursa faculdade, poucas
poderia tem acesso à leitura havia escola exclusivamente para moças, onde se oferecia um
horizonte restrito, as mulheres então começam luta e bota a boca no trombone (trombone era a
imprensa).
Para que a humanidade seja mais perfeita e feliz, é necessário que ambos os sexos
sejam educados segundo os mesmos princípios. Mas como será isso possível, se
apenas a um dos sexos é dado o direito à razão? [...]é preciso que também a mulher
encontre a sua virtude no conhecimento, o que só será possível se ela for educada com
os mesmos objetivos que os do homem. Porque é a ignorância que a torna inferior
(WOLLOSTONECRAFT apud BARROS,2011, p.8).
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Nesse sentido, no que tange ao campo penal, gradativamente, leis discriminatórias foram sendo
alteradas ou excluídas do ordenamento jurídico, como é exemplo o crime de adultério, inscrito
em todos os códigos penais brasileiros e somente afastado, definitivamente, muito
recentemente, pela Lei 11.106, de 2005.
A Constituição Federal de 1988, após longo período ditatorial, é o grande marco para
os direitos das mulheres, contribuindo, para tanto, os movimentos de mulheres, conhecidos no
período constituinte, como o Lobby do Batom. Dentre diversas demandas dos movimentos de
mulheres incorporadas ao texto constitucional, cabe destacar os dispositivos que tratam do
princípio da igualdade entre homens e mulheres em todos os campos da vida social (art. 5º, I),
inclusive na sociedade conjugal (art. 226, § 5º), e de torna efetivo o dispositivo constitucional
que impõe ao Estado assegurar a "assistência à família, na pessoa de cada um dos que a
integram, criando mecanismos para coibir a violência, no âmbito de suas relações” (art. 226, §
8º, da Constituição Federal, p.128).
Assim, no que diz respeito à temática da violência contra as mulheres, muitos anos
depois da inclusão do artigo que trata da violência nas relações familiares, no texto
constitucional de 1988, surgem leis específicas contra a violência que atinge as mulheres pelo
fato de serem mulheres: a Lei Maria da Penha ( nº 11.340, de 2006) e a Lei do Feminicídio (nº
13.104, de 2015).
Com a implantação da Lei Maria da Penha que coibi a violência doméstica contra
mulheres, seja ela física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral, essa questão tem tido maior
visibilidade, tanto pelo aumento das denúncias, quanto pelos avanços na legislação atual que a
reconhece como crime. A introdução do texto aprovado constitui uma boa síntese da Lei Maria
da Penha (2006):
Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos
termos do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção
Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe
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sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher;
altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá
outras providências.
LEI MARIA DA PENHA
Na audiência preliminar, a conciliação mais do que proposta, era imposta pelo juiz,
ensejando simples composição de danos. Não obtido o acordo, a vítima tinha o direito
de representar. No entanto, esta manifestação era feita na presença do agressor, o que
constrangia a mulher e contribuía para o arquivamento de 70% dos processos. Mesmo
feita a representação, e sem a participação da ofendida o Ministério Público podia
transacionar a aplicação de multa ou pena restritiva de direitos. Aceita a proposta, o
crime desaparecia: não ensejava reincidência, não constava da certidão de
antecedentes e nem tinha efeitos civis (DIAS, 2010, p. 28).
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No entendimento de Dias (2010), é injustificável tratar a violência intrafamiliar com
tamanho desdém. Ao longo dos anos foram surgindo tímidas modificações legais, tais como a
Lei 10.455/2002, que criou medida cautelar de natureza penal, permitindo ao juiz decretar o
afastamento do agressor do lar conjugal na hipótese de violência doméstica. “Anteriormente,
a mulher ofendida era obrigada a se refugiar em casa de familiares ou amigos para impedir que
novos casos de violência ocorressem durante o doloroso processo de separação”. (AME, 2011)
Mais tarde, no ano de 2004, foi sancionada a Lei 10.886, acrescentando um subtipo à
lesão corporal leve, decorrente de violência doméstica, aumentando a mínima de três meses
para seis meses de detenção. Entretanto, tais medidas legislativas não obtiveram sucesso, já que
tais procedimentos ainda se passavam no Juizado Especial Criminal.
Nas palavras de Dias (2010), “bater em mulher era barato”, a cesta básica como sanção
tornou-se popular e motivo de deboche. Os resultados só reforçavam a impunidade,
incentivando a reincidência, levando ao agravo dos atos de violência. Logo, 90% dos casos
eram arquivados ou levados à transação penal. Apurou-se que no Brasil, apenas 2% dos
acusados eram condenados.
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Neste contexto, a Lei 11.340/06 é um dos mecanismos criado pelo Estado a fim de
garantir à mulher o direito à integridade física, psíquica, sexual, moral e patrimonial, e assim
dar eficácia às normas constitucionais. Como tudo que é novo, o referido diploma legal foi
recepcionado com muita resistência. Todavia nota-se a importância da Lei Combate a Violência
Doméstica, quando se busca o histórico da mulher no Brasil e no mundo. (DIAS, 2010).
O advento da Lei Maria da Penha marca um novo tempo, onde a mulher é dona de si, e
busca insaciavelmente sua independência, não aceita ser objeto do sexo oposto. É fato que ainda
existem aquelas ditas “Amélias”, que declaram sua profissão como “do lar”, demonstrando
tamanha submissão e limitação ao ambiente doméstico, verdadeiramente domesticadas por seus
maridos. Contudo, são resquícios de um tempo de escravidão feminina, que devem, assim como
a Ditadura, servirem como um exemplo a não ser seguido. De acordo com a AME (2011) 4, a
Lei 11.340/06 criou medidas para proteção imediata às mulheres tanto na esfera do direito cível,
como no âmbito do direito de família, administrativo e penal.
O cumprimento destas medidas, após a concessão judicial, é de responsabilidade da
justiça, devendo ser cumprida pelos seus agentes. E objetivam acelerar a solução do problema
da mulher agredida, requeridas e concedidas em caso de situação de risco ou na ocorrência da
prática da violência propriamente dita, o que é realizado através da intervenção da autoridade
policial. Devem ser analisadas no prazo de 96 horas após o registro da agressão na Delegacia
de Polícia. A mulher ainda conta com uma central de atendimento, criada em 2005 pela
Secretaria de Políticas Para as Mulheres. Esta funciona 24 horas por dia, via telefone, o número
é o 180 e a ligação é gratuita. Este serviço fornece informações e orientações às mulheres.
De acordo com Grossi (1994), o conceito de violência contra a mulher resulta de uma
construção história do movimento feminista. No final da década de 1970, o movimento de
mulheres se indignava contra a justificativa da legítima defesa da honra utilizada nos
julgamentos de homens que matavam as mulheres, cujo resultado era a absolvição ou aplicação
de pena mínima. As primeiras manifestações do movimento de mulheres se deram sob o slogan
“Quem ama não mata”, no ano de 1979, por ocasião do julgamento de Doca Street, que matou
sua companheira Ângela Diniz. Assim, nesse primeiro momento, a violência contra a mulher
significava homicídios de mulheres cometidos por seus maridos, companheiros ou amantes.
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Segundo Campos (2008, p. 10) o termo violência significa qualquer comportamento ou
conjunto de comportamentos que visem causar dano à outra pessoa, ser vivo ou objeto, o
vocábulo deriva do latim violentia, que por sua vez deriva do prefixo vis e quer dizer força,
vigor, potência ou impulso.
A partir da década de 1990, outras formas de violências contra a mulher foram
descortinadas, à medida que eram problematizadas e visibilizadas, tais como o assédio sexual,
a violência em razão de práticas discriminatórias no acesso ao trabalho, o abuso sexual infantil
no espaço doméstico e familiar, a violência contra as mulheres negras e contra as mulheres
indígenas. Na análise Cavalcanti (2007, apud CAMPOS, 2008, p. 10), a violência assim se
define:
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A Lei Maria da Penha expõe a violência sexual, em seu art. 7º, inciso III, como sendo:
Este tipo de violência contra a mulher é mais reconhecido quando praticado por
estranhos, o que acaba por encobrir, muitas vezes, aquela ocorrida no âmbito do matrimonio.
Já a violência moral, ela compreendida como qualquer conduta que configure calúnia,
difamação ou injúria. A violência patrimonial é definida no inciso IV do art. 7º da Lei Maria da
Penha como
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A violência doméstica funciona como um sistema circular – o chamado Ciclo da
Violência Doméstica – É uma forma muito comum da violência se manifestar, geralmente entre
casais. Compreender o ciclo de violência ajuda a entender a dinâmica das relações violentas e
a dificuldade da mulher sair dessa situação. Geralmente se apresenta regra geral, três fases: Ele
começa com a fase da tensão, em que as raivas, insultos e ameaças vão se acumulando. Em
seguida, vem à fase da agressão, com o descontrole e uma violenta explosão de toda a tensão
acumulada. Depois, chega a fase de fazer as pazes (ou da ‘lua de mel’), em que ele pede perdão
e promete mudar de comportamento, ou então finge que nada aconteceu, mas fica mais calmo
e carinhoso e a mulher acredita que aquilo não vai mais acontecer.
Como mostra a figura 1, a violência doméstica funciona como um sistema circula
chamado Ciclo de Violência Doméstica.
Fonte:http://www.apav.pt/vd/index.php/vd/o-ciclo-da-violencia-domestica
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Tabela1. Número e estrutura (%) de atendimentos de mulheres pelo SUS, segundo tipo de
violência e etapa do ciclo de vida. Brasil. 2014
Tipos de Número %
Violência crianças Adolesc. Jovem Adult Idosa Total crianças Adolesc. Jovem Adult Idosa Total
Física 6.020 15.611 30.461 40.653 3.684 96.429 22,0 40,9 58,9 57,1 38,2 48,7
Psicológica 4.242 7.190 12.701 18.968 2.384 45.485 15,5 18,9 24,5 26,6 24,7 23,0
Tortura 402 779 1.177 1.704 202 4.264 1,5 2,0 2,3 2,4 2,1 2,2
Sexual 7.920 9.256 3.183 3.044 227 23.630 29,0 24,3 6,2 4,3 2,4 11,9
Tráfico seres 20 16 28 30 3 97 0,1 0,0 0,1 0,0 0,0 0,0
Econômica 115 122 477 1.118 601 2.433 0,4 0,3 0,9 1,6 6,2 1,2
Neglig./abandono 7.732 2.577 436 593 1.837 13.175 28,3 6,8 0,8 0,8 19 6,7
Trabalho Infantil 140 133 273 0,5 0,3 0,0 0,0 0,0 0,1
Interv. Legal 75 94 64 90 29 352 0,3 0,2 0,1 0,1 0,3 0,2
Outras 649 2.359 3.228 4.978 684 11.898 2,4 6,2 6,2 7,0 7,1 6,0
Total 27.315 38.137 51.755 71.178 9.651 198.036 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: Mapa da Violência 2015. Homicídio de mulheres no Brasil.
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Tabela 2. Número e estrutura (%) de atendimentos a mulheres pelo SUS, segundo
agressor e etapa do ciclo devida. Brasil. 2014
Agressor
Agresso crianças Adolesc. Jovem Adult Idosa Total crianças Adolesc. Jovem Adult Idosa Total
Pai 4.758 2.633 30.461 40.653 18 8.157 29,4 10,6 1,4 0,6 0,3 6,4
Mãe 6.849 2.694 438 348 52 10.381 42,4 10,8 1,3 0,7 0,8 8,1
Madastra 81 0 0 0 0 81 0,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,1
Padrasto 1.576 1.273 292 83 3 3.227 9,7 5,1 0,9 0,2 0,0 2,5
Cônjuge 81 2.095 9.947 15.913 813 28.768 0,0 8,4 29,7 34,0 12,9 22,5
Ex-Cônjuge 0 565 4.174 5.236 106 10.081 0,0 2,3 12,5 11,2 1,7 7,9
Namorado 0 2.405 1.597 1.352 32 5.386 0,0 9,7 4,8 2,9 0,5 4,2
Ex- Namorado 0 729 1.250 913 30 2.922 0,0 2,9 3,7 1,9 0,5 2,3
Filho 0 62 99 1.910 2.206 4.277 0,0 0,2 0,3 4,1 34,9 3,3
Irmao 875 3.21 3.902 3.982 445 12.625 5,4 13,7 11,7 8,5 7,1 9,9
Amigos/Conhecido 488 748 1.037 1.349 176 3.798 3,0 3,o 3,1 2,9 2,8 3,0
Desconhecido 2.523 5.257 3.732 4.554 485 16.551 15,6 21,1 11,2 9,7 7,7 13,0
Cuidado 275 71 29 49 216 640 1,7 0,3 0,1 0,1 3,4 0,5
Patrão/Chefe 4 53 79 128 8 272 0,0 0,2 0,2 0,3 0,1 0,2
Rel.Institucional 149 133 135 243 49 709 0,9 0,5 0,4 0,5 0,8 0,6
Agente da lei 21 97 132 156 11 417 0,1 0,4 0,4 0,3 0,2 0,3
Autoprovocda 419 3.466 4.676 7.386 600 16.547 2,6 13,9 14,0 15,8 9,5 13,0
Outros 2.906 1.853 1.944 3.245 1.080 11.028 18,0 7,4 5,8 6,9 17,1 8,6
Total 16.166 24.922 33.463 46.847 6.312 127.710 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Pais 13.264 6.600 1.206 703 73 21.846 82,0 26,5 3,6 1,5 1,2 17,1
Parceiros 0 5.794 16.968 23.414 981 47.157 0,0 23,2 50,7 50,0 15,5 36,9
Fonte: Mapa da Violência 2015. Homicídio de mulheres no Brasil.
82% das agressões a crianças do sexo feminino, de <1 a 11 anos de idade, que
demandaram atendimento pelo SUS, partiram dos pais – principalmente da mãe, que concentra
42,4% das agressões. Para as adolescentes, de 12 a 17 anos de idade, o peso das agressões
divide-se entre os pais (26,5%) e os parceiros ou ex-parceiros (23,2%). Para as jovens e as
adultas, de 18 a 59 anos de idade, o agressor principal é o parceiro ou ex-parceiro, concentrando
a metade do todos os casos registrados. Já para as idosas, o principal agressor foi um filho
(34,9%). No conjunto de todas as faixas, vemos que prepondera largamente a violência
doméstica. Parentes imediatos ou parceiros e ex-parceiros (grafados em alaranjado, nas tabelas)
são responsáveis por 67,2% do total de atendimentos. (MAPA DA VIOLÊNCIA, 2015, p.48).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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mulheres, preocupa a tendência histórica que evidencia um lento, mas contínuo, crescimento
do flagelo. Entre 1980 e 2013 os quantitativos passaram de 1.353 homicídios para 4.762, um
crescimento de 252,0%. Considerando o aumento da população feminina no período, o
incremento das taxas foi de 111,1%, o que equivale a um crescimento de 2,3% ao ano. Esta não
é uma taxa elevada, mas vemos com renovada apreensão a retomada do crescimento nos últimos
anos, de 2007 a 2013. Nesses seis anos, as taxas passam de 3,9 para 4,8 por 100 mil, o que
representa um aumento de 23,1%, muito elevado para um período tão curto (em torno de 3,6%
ao ano), o que deve ser motivo de grande preocupação, dado que não existem fatos
significativos no horizonte temporal próximo que permitam supor a consolidação de barreiras
de contenção da violência contra a mulher.
Se a impunidade é amplamente prevalecente nos homicídios dolosos em geral, com
muito mais razão, pensamos, deve ser norma nos casos de homicídio de mulheres. A
normalidade da violência contra a mulher no horizonte cultural do patriarcalismo justifica, e
mesmo “autoriza” que o homem pratique essa violência, com a finalidade de punir e corrigir
comportamentos femininos que transgridem o papel esperado de mãe, de esposa e de dona de
casa. Em ambos os casos, culpa-se a vítima pela agressão sofrida, seja por não cumprir o papel
doméstico que lhe foi atribuído, seja por “provocar” a agressão dos homens nas ruas ou nos
meios de transporte, por exibir seu corpo ou “vestir-se como prostituta”. (WAISELFISZ, 2015,
p.75)
Exibi ou denunciar a violência sofrida, não é algo fácil de se fazer, principalmente
pelos conflitos que acompanham tal situação. Se de um lado existe uma
exposição e a denúncia, e com isso pode ocorrer uma compaixão e
solidariedade por parte de algumas pessoas, por outro lado, pode ocorrer
um desmonte de uma imagem idealizada, construída sobre si mesma ou
também sobre a própria relação, perante a família, a sociedade. A superação da situação de
violência requer, necessariamente, uma rede de apoio e proteção, traduzida em serviços, que a
auxiliem nesse processo. Neste sentido, o centro de referência da mulher vem dar esse apoio
através da sua equipe técnica, composta por Psicóloga, Assistente Social e Advogada; a Lei
Maria da Penha traz medidas protetivas muito importantes para a segurança da mulher. Mais
ainda temos muito avança o percurso e longo.
O papel exercido pelo assistente social é de suma importância na garantia dos direitos
das mulheres que sofreram algum tipo de violência, fazendo a mediação e procurado garantir
os direitos que estão previstos em leis. Para a realização de um atendimento qualitativo, é
imprescindível que o profissional esteja atento as políticas públicas e tenha uma compreensão
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do espaço de atuação, no contexto social, político e econômico para que as mulheres seja visto
e atendido de forma integral, respeitando as peculiaridades de cada uma e da localidade onde
se encontra. Finalizando, verifica- se existi um longo caminho a ser percorrer para efetivação
dos direitos garantidos as mulheres ainda temos muito avança o percurso e longo.
REFERÊNCIAS
ALVARENGA, Lúcia Barroso Freitas de. O Direito das Mulheres no Brasil sob a ótica da
igualdade: uma reflexão. Disponível em:<http://www.tanianavarroswain.com.br>. Acesso
em: 17 set. 2011.
CAMPOS, Antônia Alessandra Sousa. A Lei Maria da Penha e sua efetividade. 2008.59 f.
Monografia – Especialista em Administração Judiciária, Universidade Estadual Vale do
Acaraú, Fortaleza, 2008.
DIAS, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na Justiça: a efetividade da Lei 11.340/2006
de combate à violência doméstica e familiar contra a mulher. 2. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2010. 284 p.
GROSSI. Miriam Pillar. Ângela Diniz a Daniella Peres: A trajetória da Impunidade. Estudo
feminista. 1°semestre. N°1/93
ILB. Instituto Legislativo Brasileiro. Curso a distância “Dialogando sobre a Lei Maria da
Penha”. Disponível em:<http://saberes.senado.leg.br>Acesso em 23 de agosto de 2016.
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SPM, Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. Breve Histórico. Disponível em:
<http://www.spm.gov.br >. Acesso em 16 de agosto de 2016.
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