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SETOR DE HUMANAS
DEPARTAMENTO DE LETRAS ESTRANGEIRAS MODERNAS
ESTUDOS CULTURAIS ANGLO-AMERICANOS
Dayana Hornig
“Always Coming Home”, de, é uma utopia em um cenário pós apocalíptico que se
passa na Califórnia do Norte, conforme se demonstrará abaixo, o livro é composto por uma
narrativa principal que é entremeada por diversas outras histórias e essas, por sua vez, são
compostas por poemas, músicas, contos e mitos (sendo boa parte deles a transcrição da
oralidade) além de mapas e desenhos. Neste sentido, a análise dos três planos da narrativa
proposta por Luiz Gonzaga Motta em “Análise crítica da narrativa” demandaria analisar cada
seção individualmente, considerando em cada uma suas particularidades, o que tornaria o
presente trabalho demasiadamente extenso, como este não é o objetivo, por ora, a análise
ficará adstrita à narrativa principal.
Acerca deste último ponto, Ursula K. Le Guin escreve em “The Carrier Bag Theory of
Ficction” que os escritores contemporâneos foram envolvidos por essa forma linear de
narrativa, a “jornada do herói” voltada para o masculino e seus comportamentos, e critica
essa convenção literária pontuando que a primeira invenção da humanidade foi
provavelmente uma cesta e não uma lança. Neste sentido, tendo em vista que um livro é
um tipo de recipiente, a construção de uma narrativa com base nessa ideia (de cesta) faz
muito mais sentido do que uma história contada de forma linear. E foi dessa maneira que a
autora construiu “Always Coming Home”, o livro carrega diferentes tipos de narrativas em
seus diversos formatos, a história principal é dividida em três partes e entremeada por
histórias paralelas que representam justamente essa descontinuidade (característica da vida
real – qualquer mundo tem coisas que não são necessariamente ligadas entre si, mas são
essencialmente parte do todo), o que vai perfeitamente ao encontro da proposta de
narrativa feita em “The Carrier Bag Theory of Ficction”.
Não obstante isso, ao escrever todas essas histórias, Ursula K. Le Guin subverte as
convenções masculinas estabelecidas pela sociedade atual por meio de um discurso
feminino autêntico. No livro, a cultura masculinizada do mundo real é representada pelo
povo Condor (agressivos e exploradores) e, com isso, as experiências humanas
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
SETOR DE HUMANAS
DEPARTAMENTO DE LETRAS ESTRANGEIRAS MODERNAS
ESTUDOS CULTURAIS ANGLO-AMERICANOS
Coming Home” exemplifica perfeitamente tudo que Tolkien descreve, pois, Le Guin cria um
novo mundo (secundário) sem se afastar em momento algum do mundo real, pelo contrário,
deixando clara para o leitor a conexão entre os dois.
Dito isso, passa-se ao plano da expressão. A autora utiliza na obra uma linguagem
coloquial, narrada em primeira pessoa, é uma reprodução da oralidade, e essa característica
é corroborada pelos discursos diretos que são trazidos entre aspas, bem como, pelo trecho
com mensagens sobre o povo Condor, que foram sendo contadas de pessoa para pessoa
até chegar à narradora. Ademais, o livro traz também diversas ilustrações e mapas, a parte
final, “The back of the book”, traz o alfabeto Kesh – suas representações gráficas e seus
fonemas; a forma de pontuação; um dicionário; um mapa de parentesco e diversas
explicações sobre a cultura Kesh, inclusive alguns textos etnográficos, todos essenciais para
a compreensão da obra, já que, conforme mencionado anteriormente, a autora subverte
todo o contexto social que estamos habituados e cria uma nova sociedade, com cultura e
língua próprias, e sem essas explicações não é possível compreendê-la.