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CIVILIZAÇÃO BRASKEIRA
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M Um Livra.IÇlarç), Preciso,:Oportuno
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J Vivemos, hoj'é mais do que em qualquer outra. época, Perdidos
na densa: floresta daé conceituações semânticas quando'apli-
cadas .à .qênl:ia política.
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M Democracia, podo: progressista, reacianáriq,--imperialismo,.desen
m polpímenfo são palavras .que, de tal maneira abu-sadag, .signifi-
cam muitas coisas distintas óu, o..que'é ainda pior, deixafan]
0 de l;er. sentido' para muitas pegsoab:
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A OPÇÃO A OPÇÃOIMPERIALISTA
IMPERIALISTA
.dJ
Mário Pedrosa
A
OPÇÃO
IMPERIALISTA
civilização
brasileira
desenho de capa.
ALOÍSiO CARVÃO
IN DIC E
Prefácio /
«
Impresso nos Estados Unidos do Brasil
Printed {n the Unifed Status of Brazit
Prefácio
+
yob a /íí IZode A Opção Brasileira. Co/zm conseqüê/zcíalógica, a
/
primeira parte, de que ora fazemoso prefácio para ser publicada montante de 54 milhões de dólares, iú em disponibilidcMe em
em /ívro reparada, é A Opção Imperialista. Neste, fe/z/aP..ie
fPüi- párias instituições privadas das Estados Utttdos além, daqueles
car a tinha de terças que impõe ao Brmit uma distorção que o bancosiá mencioYtados. Não poíieria haver transição mais sim-
desn(dura, se não o taz.detirthar ol{ mesmo perecer; na outra, ten-
)óttca do espírito das comemoraçõesqilinqilenais do que êssefa-
ta-sê definir aos brasiteiros*a ratificação que se impõe para tazê-to buloso negócio de instalação de um novo satélite de transmissão
reencontrar seu próprio destiTlo.
ie lv, reputado Feto ilustre negocüdor "c(}mo potencia! de edu-
:ação inédito através da televisão; além de teor grandioso(?)
ie divulgação de acontecimentos culturais e esportivof.(Pma
No plano dêstetivroj que não é UM livro de erudiçãonem quetn conhece os programas comerciais da lv nw Esüdos U?tidos,
Lempretensõesà originalidade, nada q)ossoacrescentar.Visou êle -b 4ue viriam assim se acrescentar tios twssog, a perspectiva é .antes
a «iescrevdr o processo de formação de umü politica ecanâmico- moral e cuttura#mente desatentadora). Como 'contrapartida, sem
lmperial dos Estados Unhas da Awtérica e sua expant-sãoquase :lívida, ao negócio dc} novo satélite pw-a a sua 'lx, o senhor de-
fisiológica, primeiramente pelo seu leito por assim dizer tmturat 'noCiUta comunicou, lm sua entrevista coletiva à imprensa ca-
io Mar das Caraíbase, em seguida;por um espraiametiltO
não 'toca, que, ao visitar uma taveh em Parada de Lacas, deu cc>m
rlTQis"natural'' mas deliberadamente comercial, deliberadamente xm grupo de senhorasa veruteremcamisaspan'aajudar os tave-
!dinâmico, deliberadalniente político pelo continente sul-ameri- .idos. Êssesartigos pra;vinhamde UHXQ fábrica de camisastüan-
cano. Do porfete " tenda!'' do primeiro Roosevett *andott-se até ciada por uma organização privada americatta: tanto bastou pai'a
a czípu/a neoc/ásiíca da Aliança para o Progresso do/i/lado obriga-to a comer-artrês camisa paf'a o- filho:' FdhYldo direta.
E'residenteKenne(b. Houve, sem dúvida, um progressolias re- 'rténEe.sabre a Ati.anca, o senador por Nova l(h'que começou
lações do gigante anglo-salão do Norte com os turbulentos !a- suas dectaFações pedindo qüe compreendêsgemos 'a lamentável
:indamericattosdo Sttt. Civiliwram.se, de algum modo, aquelas ;ituação do Govêrno Johnson na Swieste asiático, para onde "ca-
relações,apesardo timco trágico da Praia Girou e'via volta dos latiza boa pa*rte dos recursos norte-americanos" .' Os jornalistas
'marit$eg' a São Domingos,para só calar nas recaídasmais )rasiteiros, compungidos, ouviram da Ymbre senador a infor-
recentes.
mação de que a anual iyd\ação nos Estados Unidos atinge cêrca
E'or uma coincidêncianão calculada (Comotoda. boa coin- ie 14 bilhões de dólares, embora correspomn ainda a uma
;idência), êste livro sai a público quando nw Àméricas do Norte. ;i ra equivalentea dois par cento do prodmo nacional bruto. De
rla do CeH.troe na do Sut) se comemorao primeiro qilinqilênio :lüalquer torna, disse o senador, como se tios quisesse estimular
ia ''Revolução'' da Atiattça parca o Progresso. Nessas come- ) povo norte-americano "está pronto a ajudar o Govêrno a con-
morações tomos encontrar, iiwspera'lamente, como uma atua- :er a espiral inttacionária" . Em retaçãa à contribuição especíticin
.ilação das própria.sconclusõesda tino. Foram elas irMuguradw, ie seu pais para a Aliança, depois de assitmtar terem os Estados
pode-se dizer, Feto vetc} americano, l reunião do Patmmá, às
jantasim !atino-americanas elaboradas na reunião al-lterior de Detidos.iá entrado mo Acordo InternacioTt.aldo Cdó, toi claro:
'Á única coisa com qtle os Estados Unidos concordaram na
xlgunts meses, de onde caiu a "Ata do Rio de Janeiro''. Depois, Conferência \da OEh, no' Rio de Janeiro, toi sabre a. reunião da
; visita pela mesma época do senxadoramericcmo Jacob iavils
Panamá." Mas, adverte: "a reunião do Panamá não toi convoca-
io Bi\ágil entra também no âmbito dessas comemorações, não da para debater temas como u melhoria do comércio intern.acto-
só pelo que aqui lhos disse coma pela própria tittatidade da visi-
ldl, .a abolição de tarifas preterenciais ou a obrigatoriedade na
:a. Êle veio, com efeito, negoctw dentro do contexto da Aliattça, nucítio mu\titaferal, como querem cra'J' "Os Estados Unidos não
=om um bom tittaitciawbemto
pelo B\n e pelo Exp.-lmp. Band. ?odes dar à América Latina tarifas pr4erenciais sem estend&tas,
I'ralava-se da obter aprovação dos go'Pernas.latirBo-americanos simultaneamente,
a todos(# paísesexceda
os comunistas:'
E.
paraa tnst.ntação
de nâ'PO
satélitede transmissão
de I''f, num J peremptório: "Os Est.idas Unidas não pedem, obviamente, asse
2
+ 3
IQr qualquer pedaçode papel que os tatitto-americanosates es- zeram-se
400 mit casaspor ano, tabtando19 milhõesa constrül
tenderem'' .t
para tecllar o deticü. As papulaçõea nossas contirwam\ mais po'
Agora vejamos como participou das comemorações uma )res do qug nunca, sem casa,sem saúde, sem comida, sem esco-
autoridade decisiva na questão, o Banco Interamleriaano de De-
senvolvimento,em seu relatório anual sôbre.a.s..operaçõesdo
$ u. Os milhões e milllões de dó\ares gastos não se perderam;
:om êles.se fizeram excelentes negócios, com pingues lucros para
Fur\do do ProgressoSocial. Qual é a situação,depoisde cinco n empresasamericanas que torrteceram material, equipametüos.
anos de Aliança? Lamentável, diz o relatório, a situação de vi- :ransportes, serviços para ds obras benerrtéritas de assistência
vendas, educação e saúde tw continente, apesar de iá esgotado o } América Lattrw. Sejamosjustos: tiveram também sua parte nos
lutüo socialde 500 milhõesde dólares,constituído
pelogo- negócios, embora parte menor, empresas taliw-americattas e
vêrno americano e administrado pelo nln. E !á vem a crõnicú -$ xtravessadoresde ambas as'regiões. Os 500 milhões sempre aju-
descrição do estado de miséria em que vivem as poputaçõet daram a aumentar a renda nacional bruta dos Estados Unidos.
latino-americanas. Deficit de vivendas de 15 a 19 tnilhões de
Montantes de dinheiro ntesFaescala nunca se perdem. ]ohnson
:lllidadespoi alto, m.uivointerior ao aumentoda populaçãoe que : sem banqueirossabemdisso, e estão prontos a recomeç.ar.O
pede, para.ser eliminado em trinta anos. com atendimento das
lue +tão admüem é que os latinos venham com "pedaço de
'tecesstdadesdo crescimento popuhciopmt, a construção de 2,5 )allel" para que assinem, concordando com "a melhoria do co-
l 3,3 milhõesde unidadespor a.rto,em facede um ritmo de
construção que é a.penasde 400 mit unidades anuais. Em m:a- Mrcio internacional, a abolição de t.arifas preferemiais oü a
obrigatoriedade lm auxílio multilateral". Nesse ponto a senador
.ária de saitde, a situação aiYldaé mais precária, pois no próximo fa:viésrepresenta fielmente o ponta de vista dos homens de ne-
qilittqikênio são mais de }S9 milhões de latina...americanos.entee
:acto americanas e do seu govêrno.
:idade e campo, necessit.idos de água e wgâto, e o re\atório,
erttoarüo, }io fardo, o 'canto fúnebre da .4 fiança, arrebata: "Ci- . Falta-tms, agora, airilda que com o risca de prolongar êste
ÍT'asde ta! magnitude perdem setasignificado em vista das diti- )relácio, comentar'a parte que teve rias comemorações,'comoo
=uldadesem rehcioná-tas com .a experiência comurd' . E quanto epresenantebraaiteirono Comitê da Aliança, o' Dr. Roberto
It educação?"A situação airüa é mais explosiva, dado o cresci- mãos Sua participação em Buenos AbresnaiComitê Interame-
:mento populacional:'(Cêrcct de 49 a 45qo (M população tatino- icano Económico e Sacia! da AtianKul toi notável. ;'Nãa se reali-
americana são menores de quinze anos). Mias a retorna agrária, :arara ambições originlnis de converter a Ali(xmça numa "mística
) cavalo de batalha da revoMção atiarbcista?O relatório: a pto- taciortal" dos paíseslatino-americanos" , começou êle. sem se des-
iução agrícolada .AméricaLatina registrouuns últimos quatro :oncertar, no etttartto, pote logo depois está consolado: "isso pa-
anos um aumento de apenm'2 a 3% , quando a reunião de Pirata !ce .hoje pews urgente, ante u recente experiência da Ária e
det Este prevê, modestamente,um aumento de 4 a 5% . índice
ia Atraca de crescentedewpontamMo com fórmulas ideológicas
atingido apenas par quatro países: Médico, Venezuela. Botívi:a
3 Nicarágua. .Assim, ao tim do qilinqüênio da Aliança, a Amértca
Latiam se cncorttra num círculo vicioso, -em que o descontenta-
mento social desestimuta o desenvolvimento económico e a es-
tagnação provoca a tensão saca(d';? r'
n m$üwzãói!
Hêli
/essede cima. Hoje, porém, que -- segundoa conlutttura atuat
-- foram aquêles atirados do poder ou estão degprestigiados, eis
O govêrno americano deu ao Bln 590 milhões para em- &
9
8
"excesso" de n-ascimentos nla nossa América, preconizam um
ptanqamento familiar' para .qüe "se encare. realbtic:amertte os
eleitos de taxas exageradasde crescimento demográfico". Que-
rem diwr: Há jovem demais pelos nossos poses lebres! (.E.
l
note-se: é a única espéciede planejamento global que sugerem!)
E de onde vem a outra receita para o mal? Do velho prontuá-
rio das agências internacionais fiadas em dogmas evolutivos de-
volutos. Se pudesse, com efeito, a Dr. Campos daria "contornos
de alta prioridade.'ao incremento da produção e prodtltividade Dinâmica
agrícola' e não "à promoção do deietlvotvimento .üdmtrial' ;
mas, "üfelizmente'' , lamenta ête, o último "egârça oferece maior
alar-prestígio (?) e pode se basear, muito mais que no tocante
à agricultura, em técnicas e .métodosde trabalho iYTRportados
exterior". Assim, o fundo do pensamentoreformador do nosso
do Imperialista
Ministro é o penscsmentoim'pedal metropolitana, que vê com
impaciência mal disfarçada a insistência com qüe os nossos povos
da perderia teimam em qulererelevar-setambém à civilização in-
dustrial moderna. Jé era tempo de ver que a opção Campos, a
opção das citas e corlferências da onA. é, na .realidade, a opção
Impera(alista,e os nossos pobres povo periféricos não a podetn
aceitar.
Abril, 1966
./"lo ESCREVER
êste trabalho -- dedicado ao estudo das
raízesdo movimentomilitar de l.o de abril de 1964, que depôs
o govêrnolegal do Brasil e em seulugar instituiu uma ditadura
militar -- não co-nsigo
furtar-mo à tentação,para meu próprio
esclarecimento e o esclarecimento do possível leitor, de voltar
atrás à história sabida das relaçõesentre os paíseslatinos do he-
misfério e os EstadosUnidos da América do Norte, isto é, ao
período crítico de seu arranque imperial entre fins e comêço do
século. E daí partir, dêssemomento decisivo da aparição do po-
der imperial americanono mundo, para buscar situar na devida
perspectiva e luz o conflito central com Cuba, qu-e é e sempre
foi o nó górdio daquelas relações.
Cuba foi sempreuma predestinaçãopara a América do
Norte e que vem mesmodos alboresda independência
america-
na. Já nas épocas felizes da democracia rural de Jefferson, a péro-
la das Antilhas e.raobjeto, diz-nos um grandehistoriador ame-
ricano, T. H. Morrison, do particular interêssedos EstadosUni-
dos. E John Quincy Adams, por isso mesmo, podia fazer esta
confissão significativa: ''Olhando o provável curso futuro dos
acontecimentos,é quase impossível resistir à convicção de que a
anexação de Cuba à nossa República Federal será indispensável
à continuidade e à integridade da própria União". Ainda às vés-
britânica de ultrapassa-la. Em anexo à dita mensagem,.era tam-
:l Wã $:E8FEE%gele:
lados Unidos". . . .
bém publicada a nota de seu Secretáriode Estado, Olney, na
qual se dizia: "Hoje, os Estados Unidos são pràticamenteso-
beranos neste co.atinente e suas ordens são lei pai.a os assuntos
aos quais limita sua interferência. . A distância e três milhas
Mas isso é apenasum levantar de cortina do drama de do- de ocea:no intermediário tomam inatural e inviável qualquer
minaçãodo Mar ãas Caraíbaspela formidável potênciaimporia' união política permanenteentre um Estado americanoe uln
lista em crescimento.O sonhodos fundadoresda Repúblicasó
europeu". (Hisfórícz dos Estados t//lidas, Morrison-Commages).
começa, na verdade, a realizar-se (sob aspectos, que deveriam
assustarum Jefferson, o próprio Adams e iem dúvida, o último Estav.aassimdefinida para sempre a posição a que almejam
dêles, Lincoln) na derra(jeira década do século dezenove: quan- os EstadosUnidos no nosso Continente: plena soberaniaconti-
do a economia norte-americana se transforma num poderoso con- nental e que sejam lei seusinterêsses. Indo-se ao fundo das coisas,
sórcio industrial financeiro. verifica-se, ao longo dos anos e das peripécias históricas, que tudo
O senador Henry Capot Lodge (pai da embaixador ameri- o que a política externa estadunidensese tem proposto até hoje
cano em Saigon) não via mais sob aquela.atmosfera.de sonho, não tem variado: alcançar,de algum modo, algum dia, a dita
soberania.
de aspiração vaga, dos primeiros tempos da República? :a mis-
são dita histórica e, já agora, na sua'época, muito precisa,.de Ao sair da Guerra Civil que foi a continuação na tempo,
anexar Cuba: "Quando o canal de Nicarágua estiver construído ou o acabamento
da primeira devolução,a Revoluçãoda Inde-
a ilha de Cubo se tornará uma necessidade".E como se fosse.o pendência, a grande nação se entregou, de corpo e alma, à ta-
dono do futuro: "os pequenos Estados pertencem ao passado refa de desenvolversuasforças produtivas a(fmáximo e a todo
". . . agora que o continente está dominado, estamosà procura vapor e constituir-se num poder nacional capitalista de primeira
de novos mundos a conquistar". (Na geração seguinte, .com ordem, para cuja formação Dão houve, por isso mesmo, pou'
efeito,o filho estariano Sudesteda Ásia, na missãoprofetizada pança nem de recursos materiais nem de energias intelectuais,
pelo pai). . . . , . nem de dinheiro. Dem de músculos e braços, nem de suor, nem
Um estado de espírito novo surgia, empolgando os círculos de lágrimas, nem de sangue,mas apenasde escrúpulos.Enfim,
dirigentes da jovem e borbulhante nação. O WasAingfonPost, às poderosoe rico, ao curso de uma geração,com os seus multi-
vésperasda guerra contra.a Espalha, muito bem o exprimia: ao milionários novinhos em falha, o país sentiu crescer em si, como
escrever: " . '. uma consciêncianova nos invadiu -- a consciên- disse o jornalista, "uma consciência nova", "a consciência de sua
cia da larga -- e com ela um apetit! novo. . . o sabor do.im- força e' com ela um apetite novo. . . o sabor do império na
perio na baça do povo: . . Isso significa uma política imperial" baça do povo"
(Morrison). . . . .. .
Em 1895, o presidenteCleveland vê chegadaa oportunidade Êsse apetite novo vai ser primeiro saciado -- é natural --
de repor em moda a antiquada doutrina de Monroe, dando-lhe nos mares adjacentes: o golfo ão México e as Caraíbas. Outro
Garesmais revigoradas.Surge o conflito de fronteiras entre a grande historiador descreve êsse despertar do jovem impejlialis-
Guiada Inglêsa e Venezuela,mas que s? afasta. Sùbitamente, mo, de apetite aceso e dentes arregallhados: "Pelo amanhecer
descobrem-se na região minas de ouro. O Govêrno britânico es- do novo século, as inversões, pretensões e esperanças dos capi-
tende sem perda de tempo suas pretensõesterritoriais atê o .co- talistas americanos na região das Caraíbas haviam subido tão
ração da Venezuela e recusa a arbitragem. A 17 de setembro alto que nenhuma querela poderia surgir agora entre uma po'
do mesmo ano, Cleveland infomla, em mensagem ao Congresso, a tência européia e os governos latino-americanos, sem atrair for-
recusa de Lard Salisbury e, concomitantemente! sua decisão, çosamente a atenção de Washington para a existência de inte-
dêle, de determinar, por conta própria, a linha de.fronteiras e rêssespositivos além das vagas responsabilidadessob a Doutrina
obstar, por qualquer 'meio ao alcance da nação, toda tentativa
Monroe. Como a agulha.segueo magneto,a,política oficial se-
guiu o curso dosbeconlramentos economicos ' ' no nasceu pre'
.J.
ibãHB BÊ%*ü:E.TEl:;E
aquêle que era tido, no tempcl, como "o .sumo sacerdote do pro-
cia o projeção viveu, aliás, o Brasil bastante tempo, como im-
pério e já desde antes da independência --
às antigas colónias ibera-americanas. .. .
haviam imposto
. x-
Por êssetempo, Cuba ainda era colónia esp?nnoia:nao .[ai'
...
tecionismo americano". A idéia teve, assim, caráter.predominan-
temente económico, na opinião insuspeita.de S.. E: ,Mornson,
que não é marxista, nem adepto do "materialismo histórico" nem
de nada dessas coi.sas exóticas. debatia
ção económica do país.era .sem escrúpulos e. a ilha se
numa crise de suas indústrias principais, a do açúcar e a.do
umo ambas anuinadas por determinadas operações de tarifas
r
tanto por parte da velha metrópole.de Espalha como da pt\rte
de suafutura metrópole.O comércio americaly com Cubo ha-
via ultrapassado a casa dos cem milhões do dólares e as iDver-
soes tanques na indústria açucareiro orçavam em mais de cin-
aüenta milhões.
3Ó
L maior
37
pos associadosem cartéis e /zomílzgsque os americanostêm de O relatório ainda aponta os vários cartéis e organizações
competir la fora. Na Alemanha, ltália, .Holanda, Suíça, Bélgica, estrangeirasque controlam o mercado internacional'de vários
Japão, os homensde negóciossão muito mais livres para coo= produtos importantes, obrigando companhias americanasa se
parar e combinarque nestepaís. Êles desenvolveram numero- sujeitarem aos preços que impõem. Assim, por exemplo, o caso
sas e amplas.combinações,por vêzes ajudados por seus gover- do mercadode cobre,Jjue antes de ser controladopela Anacon-
nos que, efetivamente, os apoiam em suas atividades, tanto no da e a Kennecot, ambasfigurando entre as duzentasmaiores
comércio interno como externo."i
corparagoesnão financeiras americanas,era contmlado por um
A Grã-Bretanha que havia podido, até então, graçasàs suas grande .Konzern alemão, a Metalbank und Metallurgische'Gesell-
posições pioneiras,. ao. prestígio de suas velhas casas exportado- schaft A. G., de Francforte sabre o Mente. Através (]Ésubsidiárias
ras, à .superioridadede suaslinhas de navegaçãoe facilidades e filiais em muitos paíseseuropeuse da África e Austrália, ela
bancárias, poupar-w .o grau e escala de combinaçõesa que se controlava as minas e fundições de cobre e chumbo nos Estados
viu arrastada a indústria alemã, para vencer na concorrênãa inl: Unidos, México e .outros países, fazendo ainda os produtores
ternacignal, acabava também põr entrar na via das combina- individuais competirem entre si' e forçando-os a baixarem os
ções No ramo da.produção e exportação de carvão, ela a orga- preços. A$ companhias americanas de cobre, conta o relatório,
nizou de. alto a baixo, desde as operações de mineração'às ficam desamiadasdiante da rêde do combinaçõestecidas na Al:-
comp?nhiasdo mercado.exportador,'às linhas de transporte e manha e "com tais táticas", queixava-se um dos presidentes dessas
às agências de .distribuição no estrangeiro. "Isso, diz o Relato. companhias americanas, "inclusive a da manipulação de nascentes
rio: dá aos inglêseso predomínio que -têmno importante mer- mercados .externos! consegue o truste alemão comprar milhões
cado sul-americano. Os fabricantes de cimento britânico também de toneladas de cobre americano a preços que em média, numa
estão unidos,numa.poderosa e feliz organização para a extensão sériede anos, saem a perto de um centavopor libra abaixo dos
de .seu comércio de ultramar".. Menciona ainda o documento preços pagos.pelo co!»qmidor americano.';i Naturalmente, os
varias outras associações para promover uma agressivapolítica americanos não gostal$m dessa.experiência antecipada do eter-
de conquista de .mercador exte;nos por parte dos manufaturei- no qui1lhão reservado aos subdesenvolvidos. '
ros britânicos, sobretudo nas indústrias elétricas, de a godão, têx- Em face de tão deprimentescondiçõespara os produtores
til, de louça, .fumo, papel de parede,:feno e aço e muitas outras. norte-americanos. a Comissão terminava por recomendar ao
O relatório conclui: "É'contra .tais organizações que unifi- Congresso investi-los de condições para "competir nos merca-
cam poderosos grupos. de combinações, sustentadas por grandes dos estrangeirosem têrmos mais aproximadamente iguais aos
bancos, ajudadas por linhas féneas e marítimas e assistidaspelos dos competidores..estrangeiros".Pairavam, entretanto: dúvidas
governos que centenas de manufatureiros americanos e produto- quanto à aplicabilidade da lei nacional antitruste aos mesmos
res relativamente pequenos têm de .competir, se se entregam ao exportadores. Tais dúvidas vinham, segundo as queixas dos in-
c(mlércio exterior. .. Em conseqüência, defrontando-se com a teressados, até então sustando "qualquer desenvolvimento. do
rude concorrência por parte de poderosas combinações estran- mercado externo'' do país na base da cooperação entre produ-
geiras e dependentes de barcos, bancos, cabos, telégrafos estran- tores e manufatureiros americanos. Respondendo às queixas, o
geiros.,correndo pois o risco de revelarem os segredosde seus Relatório esclarece:"Não é razoável supor tenha sido intenção
negócios..de .ultramar a .seus competidores estrangeiros e de so- do Congresso obstruir o desenvolvimentodo comércio exterior.
frerem discriminações efetivas contra o próprio negócio, os ma- proibindo o uso no comércio ostra.ngehode métodos de organiza-
nufatureiros americanos e espacialmente os pequenos'pmdutores ção que nâo .operamem prejuízo do público americano. . . e que
estão frequentemente numa 'decisiva desvantagem no comércio sao necessáriospara que uma maior igualdadede oportunidade
exportador".2 seja oferecidaaos americanosno lidar' com os concorrenteses-
1 LNEC 9, pág. 115.
2 Obra citada, pág. 116. l Obra citada, pág. 116
$ 39
f
42 43
dezembro.de 1934, num total de US$ 1.041.331.260,00 de
emissões de governos nacionais latino-americanos no mercado Em face.da gravidadee permanênciada decalagemde pre-
dos Estados l.Jnidos,.$ 707 . 887. 300:00 estavamem falta quan- !:s, o PTq?rio Govêrno . americano. resolveu intervir para 'en-
to ! juros.Em 31 de dezembro
de 1940,a situaçãonãohavia contrar sobretudo os meios dos latino-americanos continuarem
melhorado: sabre $ 1. 147.363.253,00 emitidos' em idênticas p:lo menos a comprar produtos dor:te-americanos. ])essa época,
condições: $ 817 . 465 . 726,00 estavam em falta também quanto aliás, é que se iniciou 6 sistema dos convênios de comércio re-
a juros. Pior era a situação das municipalidades,Estados federa- cíproco (recÜrmaZ frade agreeme/z/s)que reanimou"o comé;l-
tivos -o sociedadesgarantidas pelos governos: nessas categorias, c o interamericano. e foi também, como veremos, o princip-al ins-
a impontualidade era mais ou menos igual à totalidade das emis- trumento de luta dos EstadosUnidos para expulsar da América
sões.Eis de que se queixavanossoamigo Fred Lavis. Mas se Latina os alemãescom .seucomércio bilateral':
êle pede acusar de leviandade criminosa os corretores e ban- Aliás, cantràriamenteàs aparências,nem tudo foi perda
queiros americanos .no lançamento dêsse-stítulos de governos e para os interêsses.americanos nessa impontualidade geral. Já
governichos da América Latia.a no mercado financeiro america- vimos que foram êsses investimento-s americanos da época que
no,.nao pi'ocultou outras causas para a impontualidade geral 9 abriram os mercadose fontes de matérias-primas das regiões do
prolongada dos devedores senão a velhacaria. Na realidade. o Sul do Continenteaos capitais americanos.A propósito Bemis
fenómeno é mais profundo, conseqüênciada anemia económica esclareceu!.''Os Estados unidos emprestaram cêrca de dois bi-
crónica,dospaísesexportadoresde um ou de mais de um produ- lhões de dólares às repúblicas latino-americanas entre 1920 e
to primário. A crise de 1929 causou, como se sabe,o desmorona- ]928. Antes de findar 1938, já haviam recebido um bilhão e
mento de dois terços em valor e de um torço em peso das expor- quatrocentos milhões de dólares como pagamento de juros e
tações latino-americanas. Daí se seguiu, em encadeamentona- principal .da.dívida, ao mesmo tempo que se estimava o merca-
tural, a suspensão dos serviçosdasdívidas(juros e dividendos) do das dívidas em suspensoem quinhentos milhões de dólares.
verificadaem país apósoutro na América Latina. O diabo, Uma perda líquida de capitais se'deu, p-ois,de cem milhões de
porém, é que essa suspensãose prolongou até às vésperasda aõlares.( 1,5 por cento). Bom resultado, comparado à contração
guerra, em 1939. Joan Raushenbush, em Cooperacíón Financiara. da renda.nacional provocada nos Estados Unidos pela crise 'u
Chicago, 1948, estudandoo problema dos investimentos estran- Na década.de1921-31, ainda segundoBemis, dois bilhões
geiros, mostra a queda em preço-curo das matérias-primas crít!- e oitocentos milhões de dólares em títulos de emissões estran-
cas produzidas pela América do Sul. Tomando o nível de 1929, geirasforam lançadosno mercado dos EstadosUnidos, em sua
vê-se o preço da ]ã encontrar-se, em 1933, 28 por cento abaixo malona empréstimosgovernamentais, dois terços dos quais pro-
daquele nível mas em 1937 ainda era mais baixo, 54 por cento. venientes de governa's ]atin(»americanos.a A parte de responsa-
O cobre: em 1933, 30 por cento abaixo; em 1937, 42 por cento bilidade do Departamento de Estado foi, no lançamento dessas
abaixo. O milho: 1933 -- 31 por cento abaixo; 1937, 40 por operaloes, acusada de ter sido equívoca. Com efeito, graças a
cento.O trigo: 1933,35 por cento;1937,53 por cento.O uma fórmula tipicamente diplomática, o Departamentc>de Es-
café: 1933, 36 por cento abaixo; 1937, 31 por cento. O algo-
dão: 1933, 37 por cento; 1937, 36 por cento. Petróleo: 1933,
40 por cento; 1937, 38 por cento.Carne frigorificada: 1933,
45 por cento; 1937, 51 por cento.Açúcar: 1933, 45 por cento;
,i' ; eK:Hhãgl;=1=
:1:=::=11'==
1937, 33 por conta. Estanho: 1933, 63 por cento; 1937, 70 por
cento.i
e
44
lado "não oferecia objeção" ao empréstimo. Os banqueiros, bém não se mostra, no fundo, muito convencidoda legitimidade
parece, utilizavam-na no sentido de que suas operaçõeseram da soberaniadessasnaçõeslatino-americanas, em face de dívi-
aprovadas pelo Govêrno americano, condição Jiecessáriapara dasnão de todo pagasa patrícios seus.
que o\tomadores de títulos americanosse considerassemgaran- Seja como fâr, os 11ontosde vista dos credoresparticulares
tidos. Bemb descreve.a gama dos emprestadores: "Os compra- e os pontos de vista oficiais discrepantesdificilmente se iriam
dores de títulos em dólares englobavam. . . homens ecos e po- ajustar em face de problemas políticos mais graves que se apre-
bres, doutores, magistrados, negociantes, ladrões, universidades, sentavam ao .Presidente dos Estados Unidos. Tal discrepância
hospitais, igrejas, fundações e instituições de caridade, sem es: fêz saltar muitos proletos dé maior alcance que presidentes dos
querer as :tradicionais viúvas, órfãos, professores e membros Estados Unidos, em certas horas graves da história de seu país
do clero."x O.govêrno de Washington que se iniciava na polí- ou do mundo, puderam .alimentar.'Entre êsses ressalta aqui COH
tica de boa vizinhança,resistiaà pressãocrescentedos p;leju- toda a nitidez a distância entre a política de boa vizinhança de
dicados para que encetasserepresálias económicas, limitando:se Roosevelt -- a primeira a dar qualquer satisfação a governos e
a aprovar a criação de uma comissão privada para a defesa dos povos da América Latina -- e a do homem de negócioscom
:mprestadores (.Foreign Band Holders Protective Coüncil). seus interêsses investidos, como era o caso do aliás muito sim-
Washington ressalvava,porém, sua responsabilidade pelas ações pj!!co Sr. Fred Lavas.Na realidade?a discrepâncianão é espo-
privadas da Comissão, co.nsiderando-asnão assunto diplomá- rádica. É um fenómeno a acompanhar.toda a história 'das rela-
tico. Por essaépocao princípio da não intewençãonos negócios ções externas dos Estados Unidos com o mundo subdesenvol-
internos e externos dos outros Estados era vigente nas confe- vido da periferia ou com a Europa, desdesobretudoos anos
rências pan-americanas..A lição histórica foi aprendida pelo de 40. Todos talvez ainda se recordem do "milagre" anunciado
capital privado. Agora ia-se passar aos empréstimosdiremosde por Woodrow Wilson, ao assumir a Presidênciados Estados
Govêrno a Govêrno.
Unidos,.quando pretendeu tirar o caráter de negócio privado
Para essanova política financeira estatal,o Govêrno ame- às relaçõesde seu país com o resto da América Latina. O mila-
ricano cria várias agências oficiais, a mais importante delas gre frustrou-se .e êle. se viu obrigado a enlear-se nas intrigas
sendoo Export Import Bank, fundadoem 1934, além de um privatistas do b;g business
Fundo de Estabilizaçãocriado tambémem 1934, com "lucros
De todos os prnidentes de república americanos de nossa
de reavaliação da lei sabre a depreciação do dólar. Em 1939,
tempo, o segundo Roosevelt foi o único a levar para a Casa
cria ainda o Govêrno a Agência Federal dos Empréstimos. Branca um programa de refomias capaz de atingir as estruturas
O Govêrno americano põe suas exigências para abrir a
balsa: o país pretendente a créditos deve ter regulado o estado sociaise económicasdo país. Talvez por isso tenha levantado
de suas dívidas ou feito alguma indenização de princípio em contra si a hostilidade de sinceros homens de negócios como o
contrapartida por. suas ''expropriaçõesabusivas".'Cumprida a Sr. Lavis que jamais se conformou com a desconfiançado pró-
fomialidade,. Washingtan cõncbrda em que o Expert 'lmport prio Govêrno de sua terra na ação de Wall Street. Sua oposição
Bank concedaseu empréstimo. Num perfeito Pe/zdunfa Frei foi clara ao inquérito aberto então no Congresso (Comissão
Lavis, Bemis tem isto a dizer sabre o comportamentodo Go- de Títulos e Câmbios) para investigar o Comitê de proteção
vêrno americano: "São (não os latino-americanos) mas antes dos.portadoresde títulos estrangeiros.Para êle, "o que fêz a
os Estados Unidos que foram explorados pelos latino-america- comissão investigadora não foi mais do que, ao fim, convencer
canos.. . com bastante indiscrição, por ter deixado sua p'ro; as nações devedoras que Wall Street era um poço de iniqüidada
priedade prêsa na armadilha da autoridade soberana dessas e que,por conseguinte,
a impontualidade
era justificada"."0
nações."Como verificamos,o perito financeiro americanotam- remate é que o Govêrno entrou no negócio de emprestar di-
l Bemis, obra citada, págs. 331 e sega.
nheiro por sua própria conta, lançando mão de mais fundos
47
dinheiro antes"iadãos que haviam emprestadoe perdido seu l?ala esta, de perto de setecentos e setenta e nove milhões do
Êste era realmente o crime maior, pois punha de lado no dólares, pelo.Expert-lmport Bank, dos quais o grosso foi em-
mercado do dinheiro os investidores p;ivados para os quais,
penhadodesde.1940 e 'o projeto para a constr;ção de Volta
.b' Redonda, etc. Para o desenvolvimentodas novas fontes de su-
entretanto, tinha sido elaborada a Lei Webb-Pomerane. E êsses
pnmeDto em matérias-primas vitais para a guerra, de novo
investidores, êles mesmos em pessoa, ou por seus limos ou
q- netos, prote:tapam então como prolelitam agora. Não se cansam, vemoso Govêrno dos Estados Unidos substituindoquase que
completamente o empree/dador privado capitalista. Mais de um
realmente, de protestar contra ã idéia de empréstimos públicos,
a longo :têrmo,.peloEstado mesmoou sobretudopara invest!- ano antes de Pearl Harbor, o Govêrno americanoorganizou a
Metais Reserve Company e a Rubber ])evelopment Corporation.
h
/
W
l Obra citada,pág. 91
r sos sabre a possibilidade de .o Govêrno pensar em :ntregar
essaspropriedades aos dois. países em questão depois da gUeiTa
f, nesse sentido, têm êles feito uma campanha junto aos s;nado-
res interessadospara prevenir tal possiblidade. O projeto cubano
e uma mina de níquel para'.a.qual a R. F. C. despendeuperto
de trinta e três milhões'de dólares e que a Defmse Plant C'or-
pc!a'ion, da R. F. C., arrendou à Nicaro Nickel Co., subsidiária
de Freeport Sulphur Ca., por dez anos. A propriedade está cla-
ramente no nome da DefensePlant Corporation. O mesmo se com os homens de negócio, as finanças com os financistas e o
passacom o pmjeto de mina de vanádio no Peru, para o qual Govêrno com os funcionários". Essas palavras foram escritas
o Govêrno despendeuquatro milhões de dólares e que c'stá em 1940, num simpósiopara estudaros melhoresmeiosde
arrendada à Vanadium Corporation of America." "Por outra r defender economicamente o hemisfério ocidental. entrosando as
relações económicas norte-americanas com as latino-americanas.
lado, o partido de levar por diante o novo Imperialismo de
Estado -- pelo menos por um considerável período depois da Não há nada a fazer; a filosofia do homemde negóciosé
invariável, independenteno tempo e no espaço, acima da histó-
guerra -- é seguramenteo mais forte. No ponto em que a ques-
tão se acha, o Estado americano detém um tal controle finan- ria e dogrnàticamente proclamada e repetida, como uma reza,
ceiro e militar sabre a América. Latina que pode fàcilmente, através de todos êsseslongos e penosos anos de interamericanis-
com uma administração
inteligente,
ditar o futuro do canti- .+ mo, de guerra e de crises. Mas onde os resultados?Não se vêem.
iieiite."I
e apesar das promessas-- sempre as mesmas-- que se repetem
na sucessão de presidentes em Washington e de presidente,; semi-
O interêssedo ponto levantadopelo jornalista acima citado presidentes, marechais, generais, ditadores pela América Latina
está em que põe concretamente a questão fundamental que o Não se pense,na entanto, ser o velho homem de negóciospor
mundo de negócios em pêso levantava-se contra a tendência nós tantas vêzes aqui citado um retrógrado, sem visão. Assim,
estatizante da economia daqueles tempos. O nosso velho Lavas considerandoos convênios que por volta de 1940 e-atavamsendo
não podia compreender o de que se tratava. E por isso atribuía negociados, diz.êle com todo bom senso e isenção: "Podem ter
ainda àquelas infelizes experiências financeiras dos idos de 20 alguma influência em promover o comércio e o intercâmbio de
a má fama granjeada pelos bancos norte-americanos nos cír- produtos entre a América Latina e os Estados Unidos, mas"
culos latinos continentais, inclusive oficiais. Os bancos, lamen-
tava. são acusadosde cobrar taxas anormalmentealtas e de --- e aqui põe êle o dedo na ferida -- "uma diferença funda-
mental permanece: os países da América Latina produzem mer-
terem ganho somas enormes,acusaçõesainda ligadas às tran- cadorias para exportações que nós mesmos também produzimos.
sações dos empréstimos de 1920. Seja como fâr, já êle reconhe-
cia então necessitara América Latina de ajuda (como, hoje, o Em condiçõesordinárias, êles só podem vender êssesprodutos
na Europa, mas mesmo ali competem conosco. E como vendem
Sr. David Rockefeller). Reclamavaapenasque a ajuda resul- ali têm também de comprar ali e o que querem comprar são
tasse em "cooperação efetiva"; entretanto, ponderava inconso- produtos manufaturados similares ao-s que desejamos vender."
lado, "o Govêrno está não sòmente fazendo empréstimos, mas Se o Brasil escapa a essa destruidora concorrência ao menos
também fornecendo empregados,contabilistas,peritos eln tarifas,
quanto ao seu principal produto de exportação,o café, que
engenheirosj'.Diante de tão solícita intervençãooficial de seu dizer dos outros paíseslatinos do Continente, como a Argentina
país, o homem de negócios de boa vontade é categórico: ''De e o Uruguai,comsuascarnese seutrigo, o Childcomo seu
qualquer ponto de vista isento, isto é o qzze/zá de mais frzdese- cobre, o Peru e o México com o seu algodão? Na realidade, os
jliveZ."2 O ângulo de visão dêsseexemplar investidor privado Estados Unidos, com os seus superexcedentes de produtos agrí-
americanona América Latina é o oposto do que a própria si- colas, brutos ou gemi-elaborados, estacados permanentemente em
tuaçãoeconómicae política mundial exigia. Não havia, pois, quantidades imensas, são uma permanente ameaça de con-
conciliação. Apoiando, diz-nos êle, sua "firme convicção na
corrência à grande maioria da humanidade produtora de artigos
basede um conhecimentoíntimo de cinqüenta anosde América {
57
do Ba.ncoMundia]: "Estamoschegandoa uma situaçãona qual derância portuguêsa no comércio local. (Não falamos aqui nos
otimista será o homem que pensar que os atuais níveis de vida movimentos históricos nativistas até a independência, quando
a direção dêles se manifestava fatalmente contra o colonizador
poderão ser mantidos." Diante disso é de. perguntar:se.se não À português.) Êsses surtos contra o estrangeiro tinham também
há nisso tudo como que uma farsa macabra montada-por um
punhado de oligarcas e dirigentes do. mundo ocidental, com outra mira e essaera mais importante: o inglês.xÊste era o
teus apêndices de regiões subdesenvolvidas, para encher-lhes "gringo" temido e algo ridicularizado, sobretudono sentido do
o vazio da existência, ocupar burocratas e entreter multidões? que qualquer "golpe" que a malandragembrasileira Ihe apli-
Implacàvelmente, busí/zesiZí#e,o Sr. Rockefeller passa ao casseera em si mesmojustificadoe bem recebido.Por trás
terceiro obstáculo. Êste é o obstáculo por. assim dizer à mão, dêssesentimentohavia a idéia não muito explícita de que sendo
o político, aquêle sabre o qual se dispõe a agir ou fazer pressão $
"o bife" o mais forte, não podia o "nacional" lutar com êle
e que depende certamente "da atitude e responsabilidade das em camporaso: daí Ihe ser pemlitido o uso de qualquerarma,
próprias áreas". Sob êsseitem geral, vários obstáculosmenores, truque ou tática -- o negaceio, a capoeiragem, a rasteira, armas
parciais, são enumerados, relacionando-se às atitudes e polí- nacionais por excelência.
ticas das próprias naçõesemergentes.Êle os reputa como "mais Entre os estrangeirosque por aqui traficavam e trafegavam
difíceis".. ''Em alguns casos", explica o banqueiro, ."a instabili- eram os americanosos que gozavam de malares simpatias. Eram
dade política e económica tem criado um clima sufocante ao de saída os mais simples, os mais afáveis, os menos pretensiosos.
crescimento económico. Em outros, um Rácio/za/esmoemocio- O povo os compreendeumelhor eül face do inglês correto e
rza/ (s;c) tem conduzido a ações domésticas que desencorajam distante. E d-epois, tinham os americanos por êles o privilégio
o fluxo da assistênciaexterna de fontes privadas.": Aqui de representar, aos olhos de nos-sospopulares, uma jovem nação
já é históriaantiga,históriada geração
passada.
Não se robusta, sem orgulhos atávicos nem pretensões aristocráticas e
lembram do velho bom vizinho, tão cheio de experiência no que contra as ve]harias europeias levantava, risonha e confiante,
convívio: dos latino-americanos, durante anos? Também, já na- o pavilhãodo moder.nissoe do progressoEssajovialidademo-
queles tempos, queixava-se êle de algo "desagradável aos norte- demizadora encontrava ressonância nas comunidades urbanas
americanos" que .estava "aparecendo" nos nossos países: "Os mais adiantadas,consumidorasjá dos produtos típicos da civi-
países da América Latina estão em vias de desenvolver com- lização moderna, simbolizados principalmente no automóvel e
p/ecos macio/zaZísfm;êles estão olhando de través a chegada dc no cinema. Hojlywood com seu endeusamento do conforto, suas
estrangeiros."2Decididamente, os investidores americanos do proposições sedutoras à classe média, seu culto do ''herói posi-
passado ou do presente detestam o nacionalismo dos latino- tivo" -- antes de ter sido descoberto pelo "realismo socialista"
americanos.Qual a razão?e sua origem?Pode-seafirmar sem russo --, ''seus ãappy ends, suas imagens, suas estrêlas, seus
maiores ver#icações que êle começou a aparecer nos nossos mitos, foi o porta-estandarte incomparável da imperialismo
países,com caracteresgeneralizados,
a partir da maior pene- americano, no Brasil e adjacências. Então, até a maneira de
tração imperialista norte-americana. Muito antes disso, é claro, vestir masculina,frouxa, cómoda, permitindo todos os movi-
conhecemos vagas xenófoba-s no nosso e nos outros países da mentos e trejeitos descerimoniosos, foi uma revelação -- contra
família latina continental. os modelos ainda empertigados, algo ar/ nc} veazzparisienses ou
Nk) Brasi], na época imperial e aos primeiros anos da Re- i mesmo inglêses -- para a mocidade brasileira da época.
pública houve surtos de movimentos contra o estrangeiro, sim-
bolizado, por vêzes, no lusitano, isto é, o comerciante típico l Floriano Peixoto tornou-seo ídolo dos primeirosjacobinosbrasi-
dos centros consumidoresdo País, principalmente no Rio de leiros, os republicanosde 1889,pela frase com que responderaao em-
baixador britânico que o fera interpelar sabre como receberia a esqua-
Janeiro e outros portos brasileiros, onde se afirmava a prepon- dra inglêsa, durante a revolta da esquadra brasileira: "A bala". Du-
l Obra citada, pág. 73
rante muito tempo a frase encheude orgulho e de satisfaçãoideológica
2 Obra citada, pág. 94 os nacionalistas brasileiros dos primeiros anos da República.
1. 59
k.
/
A luta interimperialista na América Latina, se frequente- mais característicos da orientação nacionalista da revolução de
mente provocou, direta ou indiretamente, violentos choques po- 1930. Uma das grandes questões conflitantes entre investidores
líticos internos nos nossos países, quando interêsses inglêses ins- estrangeiros e exportadores de capitais e os países importadores
talados em certos setores e encurralados a uma defesa em des- .+
óo
aos privilégios de que gozam em geral. essasemprêsasconces- qüência da pe.rda dos mercados europeus de importação como
sionárias, tôdas elas filiadas ou subordi.nadas,dij'eta ou indire- de exportação com a guerra e fundados ideologicamente no surto
tamente, a /zo/díngs, corporações internacionais ou americanas nacionalista que empolgava as suas classesmédias e intelectuais
que manejam os preços nos mercados mundiais, não é fato iso- -- na realidade visava principalmente a fazer da economia lati-
lado dêste ou daquele país, mas pemlanente e comum a tôda no-americana um apêndice, ou melhor, um complemento das
a América Latina. Aikman, em 7'Ae 4/Z 4/n2ericnnFrom/,para fôrças éconâmicas norte-americanas mobilizadas para a guerra.
mostrar a irreversibilidadedo movimento para expulsar a pro'- No fundo, a América Latina e os Estados Unidos falavam duas
línguas: a primeira falava industrialização -- desenvolvimento
priedade estrangeira das riquezas do subsolo,-apesar de aqui e
acolá sofrer o movimento alguns contratempos (como no Brasil -- nacionalismo, üdependência. Os segundos falavam colabo-
em 1964), dá contada resoluçãotomadanuma Conferênciade ração, integração, defesa do hemisfério.
Prefeitosdas Américasque se realizou em Havana por volta de Hoje, pe]a primeira vez no Brasi], desde1930, o movi-
1938. Então, foi aprovadoali que todos os serviçospúblicos mento vitorioso ãe l de abril de 1964, que se diz "revolucio-
deviam ser de propriedade dos nacionais do país em que esti- nário", iniciou uma política deliberadade retrocessoantinacio-
vessem situados. Que as novas regulamentações foram dirigidas nalista,no sentidoda reprivatização,
da desnacionalização,
da
contra os Estados Unidos e que com toda a probabilidade seriam reintegração da política económica e financeira do País no sis-
revigoradas contra os Estados Unidos como o principal perigo temafinanceirointernacional,quer dizer, americano.É uma
imperialista, é também afimiado por vários observadores,in- volta, no plano jurídico, ao regimeliberal económicoe finan-
clusive Aikman, na obra mencionada. ceiro da primeira Constituição republicana de 1891. O curioso
Por aí se verifica que a "demagogia contra a-s emprêsas é que mesmo a UDN, tque liderou a restauração democrática
estrangeiras", de que tanto se escandalizou o Marechal Castelo, de 1945 e foi a principal responsávelpela estatizaçãocompleta
não foi do tempo de João Goulart, nem inventadapelo seu da Petrobrás no Parlamento, foi o grupo que liderou no Clon-
cunhado, o engenheiro Brizola, quando Governador do Estado gresso essa política de retrocesso desnacionalizador e repriva-
do Rio Grandedo Sul. Vejam bem: em 1938, em savana, os tizador. Que se passou?O clima ideológico de 45 para cá mu-
prefeitosdas cidadesda América inteira, norte, centro e sul, dou. Ao invés das reformas sociais e anticapitalistasque se
reunidos em conferência, se manifestaram, em resolução tomada, esperavam,o i/afz{ que, a cruzada da chamada"livre emprêsa",
em nome do anticomunismo e de um neocapitalismo liberal.
contra a que súditos de naçõw estrangeirasfossem proprietários
de concessões de serviçospúblicosem paísesque não os seus. Se o imperialismo americano tomou parte, ajudou ou comandou
O Marechal Castelo pode estar certa de que não eram comu- a guerra civil de 1930, o seu partido deveria ter saído vitorioso
então; na realidade, através de todas as tergiversações,recuos e
nistas os prefeitos americano-sque em 1938 se reuniam em
Havana. O precedente autorizadíssimo dêles poderia e deveria avanços, governos autoritários ou democráticos que encheram
ser levado em consideraçãopelos atuais organismos interameri- essa etapa da história do Brasil, antes da guerra, durante e
canos e seus governos (entre os quais o de Washington). E o depois da guerra, com Vargas e sem Vargas, sóiecentemente,
motivo dêsseveto ''nacionalista" não é de ordem técnica, coma com o movimento triunfante em primeiro do abril de 1964 é que
íaz crer o Dr. Campos (Roberto), em função de câmbio desva- conseguiu aqtlêle imperialismo i.nstalar no Brasil um govêrno
lorizado e elevaçãode tarifas impossível.É uma questãomais inteiramente a seu gasto, às suas ordens e à sua imagem e quc
profunda: preservação da autonomia da ação pública das auto- faz depender, conscientemente, deliberadamnte, a sua sorte e a
ridades nacional-s.O Govêrno americano, apesar de por vozes sorte ão País da boa vontadede Washingtone dos olímpicos
encontrar-seem choque com os interêssesdos homensde negó- oligarcas das grandes corporações financeiras e não financeiras
americanas.
cios (sobretudo na era rooseveltiana do .New l)eaZ e do }yar
Z)eaZ) e pretender ao mesmo tempo apoiar até certo ponto No ideário de circulação oficial, aditado no Brasil desde
movimentos de industrialização na América Latina -- conse-
o adventodo Marechal Casteloao Palácio da Alvorada e em
Ó2 63
outros paísesdos nossos,obrigados todos a cantar loas interame- Seja como fâr, a idéia de movimentos de reformas não
ricanas, êsses "complexos nacionalistas" de 1940, transforma- agradavaao delicadoolfato do Sr. Rockefeller:aniscavamuito
dos em 1962 em "nacionalismoemocional", não são mal congê trazei em seubojo bafo de .povo: com seu cortejo de "inquie-
mito ou endêmico.que passa de uma geração para outra, nl;s,
conforme as resoluções e resoluções'votadas' oficialmente n; tação social e .incertezas políticas". Mas conclui: '"Isso comple-
ta o círculo vicioso, pois que são precisamenteessasas condi-
OEA e suas múltiplas organizações, são de origem recente, ex-
trínseca, alienígena, mal de doutrinas exóticas, como o comu- çoes menos propícias..a prover um clima hospitaleiro à poupan-
nismo russo, ou sua variante chinesa ou mesmo cubana. ça.e a investimentos".
Quantoà própria reformatarifária'tão
Quandoo Sr. Rockefellerfalou em "nacionalismoemocio- preconizada, êle se contenta em que se organize um sistema de
cobrança de impostos i/reamZüed'e de combate à evasão fiscal:
nal" na Conferência sabre Tensões no Hemisfério Ocidental.
faltava à sua intervençãoo ardor burocráticopela Aliança de-l gemano e:ntantograve êno, .pondera, alterar a taxa dos impos-
monstrado pelo simpático Embaixador LincoÍn Gordon= não tos de modo a reduzir os incentivos aos negócios necessários
para aluir as poupanças pllivadas e investimentos.x E, por fim,
tinha também aquela proliferação cogumélica de pontos de vista
trazendo à. tona o fundo'do próprio pensamento, apresenta a
que o então Embaixador brasileiro em Washington, Dr. Roberto condição decisiy.a para que, com os seus, possa interessar-se
Campos, costumava derramar sabre tudo que'lhe' dá motivo a
discorrer.. Muito mais sóbrio que os dois funcionários na dita pela.Aliançae Ihe dar ui;ia mãozinha."Se",'adverte,':a Amé-
rica Latina não está apta para abraçar doutrinas que dão aos go-
conferência, o Sr. Rockefeller, tudo, condenava o am-
vernos centrais autoridade sabre os recursos naturais (o petróleo,
biente "nada .sadio". de nacionalismo emocional que se estendia .cara) e diminuem a liberdade individual, os incentivos
por toda a América Latina e envolvia a conferência. Depois,
devem desempenharum papel mais importante."
não ej'a aquela encaradacomo um vasto empreendimento
de
oportunidades para inversões ou negócios privados. Que o Es- A desconfiança, senão a condenação da Aliança para o
Progresso pelo mais autêntico representante do blg bmíness,
tado modere a sua participação no empreendimento. Seja árbi- não se disfarça. Isso foi em 19621 0 Vice-Presidente Johnson.
tro, garanta as inversões privadas e os compromissos governa-
mentais inevitáveis dos nunca assaz responsáveis latinos do ao vir assumir! inesperadamente,o cargo de Presidente tràgica:
mente vago, .já tinha, pois, conhecimento do veto das grandes
Continente. Assegure as perdas sempre possíveis. Êle é explí- corporações financeiras aos projetos por demais estatizantes de
cito: "Vimos. exemplos disto (nacionalismo desencorajador'de
seu antecessor. Em conseqüência dessa oposição, o Dava Presi-
recursos de fontes privadas externas) durante o primeiro ano dente não tardou em lhes dar satisfação e,' despedindo o assessor
da Aliança pai.a o Progresso. Em conceito, a Aliança põe ênfase
na primazia do investimentoprivado. Os arquitetos ãa Aliança de. Kennedy, o liberal (no sentido americano) Sr. Moscoso,
colocou em seu lugar um homem inteiramente dócil à confraria
sustentaram
que um bom têrço do capital proviria de áreas
externas à região e dois terços seriam gerados domêsticamente. da alta finança..Assim, desde 1962, em nome de todo o grupo
de detentores das finanças e do poder económico americano,
Os planejadores acreditavam ser isso um objetivo realizável. Ora. o Sr. David Rockefeller ditava na'Bahia ao futuro sucessorde
na prática, os programasestimuladosse têm ocupadoprincipal- John .Kennedy (e para o futuro sucessor de Jogo Goulaft)
mente com a ação governamental. Isso se deve em Fale a 'ati-
tudes governamentais tanto nos Estados Unidos como na Amé- sua platafomla de govêrno.
Corroborando o que disse o Sr. Rockefeller, no ano ante-
rica do Sul e em partea um climaeconómico
e políticoem rior, na Bahia, o Sr. J. Peter Grace, na presidência da Comissão
deterioração que não tem sido condutor de investimento privado. de investidores privados encarregada de dar parecer sabre a
Ao concentrar-se no setor governamental,a Aliança tem'tendido
a sublinhar movimentos de reforma que não podem ser levados 1 0 Sr. Rocketeller
é êle mesmomuito intel-estado
no estímuloà
a efeito maciamente,sem grande desassossêgo
social e incer- poupançana Amériça Latina e no Brasil, onde tem na CREscnNoo
in-
tezas políticas." corp. uma filial da International Basic Economia Corporation, por êla
controlada.
F
Aliança, tal como a tinha concebido e lançado o Presidente ajustes de contas, financiamentos compensatórios. Em 1940, o
Kennedy, prognosticava em 1963 : "A Aliança, na sua presente velho Lavis, não escondendo suas suspeitasem relação a ''em-
forma e dimensão,não pode ter êxito. . . o clima é desfavorá- préstimos", afirmava que "o mal de emprestar dinheiro é que
vel na América Latina." O Time (15 de fevereiro de 1963) '&
aconselhavaos Estados Unidos a adotarem o método do côro! não cria por si mesmointercâmbio". Dinheiro, insistia, "só para
implantar novos negócios, com pessoal preparado, com conhe-
amd sfíct approacA -- ou, em nosso vernáculo popular de sub- cimentos de negócios e da-s línguas que se falam" Da América
desenvolvidos,
''o feixe de capimna ponta de uma vara" à Latina. O Sr. Lavas revelava, pelos créditos oficiais de então, a
frente do burra para estimula-loa avançarna direçãoque se mesmasuspeitaque o Sr. Rockefeller revela, hoje, pelos vinte
quer. A]gumas doações ou empréstimos para animar os latinos bilhões de dólares prometidos por Kennedy. Ingênuamente,La-
"a elaborarem ]eis mais hospitaleiras ao investimento privado"
'P vastinha um modêlopara seuprogramade negóciospara a Amé-
(Revisão da lei de remessa de lucros pelo Marechal Castelo,
rica Latina: a experiência britânica. Na verdade, não precisava
logo depois de assumir o poder). Naturalmente, a Comissão êle estar apontando o exemplo da Inglaterra, nes-samatéria de
pedia ainda maiores incentivos fiscais, créditos e deduçõespara prendera exportação
de capitalcom a importação,
pelo país
proteger os investidores contra pesadas perdas. Mas mesmo
que recebe o dinheiro, de produtos industriais do país que expor-
assim -- o Marechal Castelo ainda não apontava no horizonte ta o capital, pois, "segundo o pesquisador alemãoG. Trade, entre
-- achava ela "improvável que condições nomiais atraentes ao 1925 e 1928, os Estados Unidos investiram em companhias
capital estrangeiro pudessem ser criadas por muitos anos" elétricasDa Argentina,Brasil e Chile uma somaigual a
Empréstimos de Govêrno a Govêrno são apenas um "tapa-bu- 1.027.000.000 de marcos alemães. ])ui.ante o mesmo perío-
raco da falênciada Aliança". Para qão falir, só um remédio: do, os Estados IJnidos exportaram aos mesmospaísesequipa-
''encorajamento à emprêsa privada, estrangeira e local", que mentos e materiais elétricos no valor ,de 242.900.000 mar-
deveráser "o fulcro principal da Aliança". Como estamoslonge cos, ou 24% da soma investida". "Os investimentos america-
da Aliança concebida por Kennedy e de quando saiu quentinha nos nos dez paísesda América do Sul aumentar8mde cento e
do forno de Punha del Este! E para findar esta indisfarçável
setenta e três milhões de dólares em 1913 para 2.293 bilhões de
advertência do grupo Rockefeller: "Os Estados Unidos deve-
dólares em 1929. Do total da soma investida nessespaísespela
riam concentrar seu programa de ajuda económica nos países
Gljã-BretaDhae os EstadosUnidos, a parte dos EstadosUnidos
que mostrem maior incli:nação a adorar medidas p-ara melhorar nas importações da América do Su[ cresceu de 16,1% em 19]3
o clima de investimento e suspender a ajuda aos outros países para 31,5% em 1929, quer dizer, quasedobrou".:
até que uma atuação -satisfatória tenha sido demonstrada.
Assim, o projeto de Aliança se transforma de uma "revolução" ])iante dêssesdados, de que chorava o nosso amigo Frei
nas estruturaseconómicasda América Latina num instrumento Lavis? Êle era injusto com o Gi)vêrno de Washington, coco hoje
de doação aos paísesque não se adaptem à vontade das grandes -- ou melhor, ontem, quando Kennedy era vivo -- o Sr. David
corporações e trustes americanos. A Aliança para o Progresso
Rockefeller se mostrava com relação aos governantesde Wa-
terá de ser uma operação financeira dirigida pela alta finança
shington.Parece,de qualquermodo, que o Sr. Lavasguardou
estadunidense,com alguma assistênciado Govêrno ou dos Go- certos ciúmeq2 ou ressentimentos das épocas pioneiras, de seus
vernos, para fins lucrativos. primeiros passos por nossos mundos sul-americanos.
A Aliança para o Progresso sendo precipuamente uma or-
l (Lênin, /mpe/'ialísm, etç., New Data, pág. 147, International Pu-
ganização de interêsses privados a serem estimulados, o que blishers, N.Y. )
conta é a soma de capitais privados que possam ser levantados. 2 Dêsses ciúmes do investidor americano daqueles tempos pioneiros
Nessas condições, os vinte bilhões de dólares, compromisso do temos êste surpreendente testemunho contemporâneo: "Os capitalistas
Estado americano, para serem colocadosna América Latina em americanos eram, por sua vez, invejosos dos inglêses e alemães". Lênin,
c\tardo The Ánnals of the .4merican .Academyof Politica! and Sacia!
dez anos, se transformam sobretudo em operações contabilistas, Sele/zce, Vol. IX, 1915.
Ó7
Mas, afinal, em. que.consistia. o velho progi'ama Lavas para responsabilidade do exportador". E, como se estivesse escreven-
salvar a América Latina? Não era difej'ente do do bom Sr. Rocke- do para hoje em dia,.quando o nosso Govêrno tem vastos pro-
feller, hoje. Era o do bom colonizadorpara o colonizado. Re- jetos.de construçãode casascomo meio de empregarforça de
presentava o eterna programa do? capitalistas e manopolktas 'rb trabalho ociosa e investir capitais, vindos dos EstadosUnidos,
exportadores metropolitanos em relação ao-spaíses da periferia. como processo de, vencer o receoso em face das medidas desin-
Todos êles, no íntimo, estão convencidos de que as relações entre flacionárias, êle lembra que ''o maquinaria de construção rodo-
os nossos países e os dêles são imutáveis. São conseqüênciade viáüa já está encontrando um importante mercado na América
uiva lei natural e, mais ainda, estão certos, contra a experiência Latina". "Nessecampo, é da maior conveniênciaarrolar uma
histórica, co=ntra as estatísticas, contra as expectativas e'os pmg- parte do capital doméstico de modo que a povo mesma fe/üa
nósticos, de que tenninarão por melhorar as condiçõe-sde vida
dos povos subdesenvolvidos
periféricos assimcomo num sistema
de vasos .comunicantes, o:líquido circulante acabará atingindo
nível igual em todos êles. Enquanto êssenivelamento não = der
t í/zferêsie.Os naturais deveriam ser membros dos conselhosdire-
tores, embora devamos re/er o co/zfrõ/e cM gerêrzcla,ao menos
até que a emprêsase torne bem estabelecida.E para garantir
o pagamentode juros e a amortizaçãodos empréstimos,ques-
virá a seu tempo -- continuaremos a ser produtores de ma- tão que reconheceser muito delicada, o remédio é que essas
térias e produtos primários, para fornecer às'estaçõesmatrizes. coisasirão fiquem a cargo das rendasgeraisdo país, mas que
às metrópoles,tudo de que precisama fim de que continuem pesem sôbre os rendimentos da próp$a emprêsa. Isso é talvez
a elaborar produtos, rabi:tear sintéticos e acumular riqueza-s uma das faces mais difíceis de todo' o problema. Mas é verda-
Dentro dessas concepções, o nosso amigo Lavas 'faz suas de que onde os encargossão para ser satisfeitospelas rendas
''sugestões" "Se: po!.exemplo, 'o estanho da Bolívia pudesse ser públicas gerais,deixa de haver a exigênciade tornar a emprêsa
levado aos Estados Unidos e ali refinada, em lugar de o ser na financeira e economicamentesatisfatória". E, para concluir, em
Inglaterra, estaríamos a pjlomove:l.o interêsse de ambos' os paí. matéria de participação do Govêrno americano nessas com-
ses (sic), criando o intercâmbio direto e não indireto. Se pudés- plicadas questões, de exclu-sividadedos negócios privados, é
semosdesenvolvera indústria de mineraçãodo estanhona Bo- claro: "Se os Estados Unidos são de alguma buda aos nossos
]ívia a ponto de poder suprir todas as nossas necessidades, sería- vizinhosem sua hora de necessidade,
que nossoauxílio seja
mos independentes do arquipélago malásio". É o caso' de se cooperativo, fornecido através de lzM laço de rzossogo'vêrnocom
perguntar: "Seríamos", quem? Oi Estados Unidos ou a Bolívia? ?s interêssesda indústria, do comércio e da finança''. E. vd\a
E também sugere que com "investimentos outros interêsses mi- a resumir toda a experiência passada: ''Em 1915,.uma poderosa
neiros poderiam ser desenvolvidospara produzir os metais de combinação das figuras mais notáveis da finança e da indústria
que necessitamos,o .que poderia tambémser bom para ambos" dos Estados Unidos, com pràticamente diiúeiro ilimitado à sua
Por êsseprocesso, diz, poder-se-ia restaurar a indústria de nitra- disposição,
. fracassouporque não soube apreciar os problemas
to do Child; Se se.estimulassemindústrias leves em certos paí- e opoHunidadesda América Latina. Mas pal'a os fins'de 1920,
ses, ou indústrias lácteas na Venezuela, para Dão ter que im- através de canais regulares de finança, derramamos tremendas se:
portar até manteiga, os Estados Unidos "poderiam fàcilmente mas na América Latina, geralmente com i.esultados desastro-
compensar a baixa de exportação de artigos acabados com o sos para ambos os lados. Perdemos nosso dinheiro e nossos
aumento.das exportaçõesde maquinaria. O'Govêrno poderia wr vizinhos do Sul ficaram ressabiadospelos débitos por dinheiro
muito eficaz no financiamento em larga escala do custo dessa à
que. produziu tão pouco e que. anualmentenão pedem pagar,
inaquin'aria, compartilhando dos riscos de algum modo com os totalmente. Estamosagora propondo emprestar,atravésdas agên-
manufatureiros, capacitando-osa conseguir pagamentos a longo cias governamentais,ainda mais de nosso dinheü'o.Não houve
têrmo". Embora reconheçater o Banco de Exportação e Im- no passado, como não há agora, muito sinal de plena coopera-
portação já feito alguma coisa nesse sentido, "ainda não com- ção entre o Govêrno como tal e o comércio regular, os canais
partilhou realmentedo risco que tem sido completamenteda financeiros estabelecidos e a indústria. Não teremos êxito em
''v
Ó9
nossa cooperação com a América Latina se não tivermos com-
pleta cooperação em casa. . ."x
A advertênciado Sr. Fred Lava.sem 1940 tem sido ouvida.
A advertência
do Sr. DavidRockefellerhoje é, no fundo,da
mesma substância, mas em tom mais enérgico. A emenda do
Senador Hickenlooper ao Foreiglz .4íd .4c/ a transformou, por
fim, em ]ei.
A compra das concessionárias
da American Foreign Power
o poderoso /mZdíngque controla a Bond & Share no Brasil, pelo
Govêrno do Marechal Castelo Branco, bem como o seu'de-
creto entregando à Hanna os meios necessários para dominar
os instrumentos de exportaç.ãodo ferro do País, são efeitos lon-
gínquos daquela advertência. As manobras e manipulações do
Sr. ThomasMana, à frente da Aliança para o Pri)grosso,de-
monstram também que as condições para sintonia entre o seu
Govêrno e os investidores.privadosque têm no Sr. David Rocke-
fell-er o seu representante máximo, R)ram, afinal, encon-iradas.
A cooperação ''em casa" entre o "comércio regular" e o "Go-
vêrno, como tal", está perfeita. O big bzzsiPzess
não tem mais
muitos motivos de se queixar quanto a atitudes governamentais ./'\ APROXIMAÇÃOda guerra transformou o New Z)eal
fora da linha. Os homens de negócio norte-americanos não rooseveltiano, sobretudo de natureza social interna, em arar
querem de modo algum ver seu Govêrno na esfera específica Z)eaZ,
ou novo trato do Estado americanocom os capitaispri-:
dêles, dando ou emprestandodinheiro às repúblicas do Sul; e, vados em favor da mobilização e da condução da guerra.
conseqüentemente, impõem a atenção do seu Govêrno para o Êsse novo trato ia fazer soltar as rédeas,outra vez, à$
fato de que o auxílio que prestar aos latinos do Continentesó grandescorporações e grandes capitalistas no esforço por ?çam-
pode ser ''cooperativo", quer dizer, fornecido através de um laço barcar os mercadoslatino-americanose monopolizar as fontes
que o prenda aos interêssesda indústria, do comércio e da finan- de suas riquezas minerais. Mas desta vez sem recurso a capi-
ça.americanos.E mais: que tal ajuda seja "retida" até que o tais prívad6s próprios, e sím do Estado. A isso chamou-se ''defesa
país em vias de ser ajudado demonstre melhor compreensão'Esta do ]iemisférioocidental".Em nome de uma necessidade
estra-
compreensão foi melhormeDte demonstrada com a ascensão ao tégica imposta pela guerra contra a-s potências do Eixo, aves
poderno Brasil,em l de abril do 1964,do grupomilitar dcl tou-se a hipótese de um ataque alemão na periferia continental
Marechal Castelo Branco. como etapa para o ataque ao coração meüopolitano, ao norte
do Continente.Na realidade,o a que se visava era a hipótese
inversa: a utilização da plataforma brasileira ao sul para saltar
através a África sabre o flanco inimigo na Europa. O que, aliás,
foi feito. Na prática corrente dos negócios,o princípio que co-
bria, agora,a velha política dos negóciosantes de tudo era o da
defesa do hemisfério". Não se enganara o professor Williams ao
escrever,em 1929(Economíc F'orelgnPo/í(7 of f/ze t/Mfed
Sfarei) : "na velha luta entre os defensores da propriedade e os
l Obra citada, pág. 102 que . . procuram proteger e promover os valores humanos e po-
70 71
l
WPe:gaze'Üq3©l
l Dessa época foi o "arreglo" financeiro que o imperialismo ameri-
cano fêz com.a Colâmbia, ainda sangrando da extmção à força de
seuterritório de um canalpara as facilidadesà esquadrado Tio Sam
no Extremo Oriente. Os Estados Unidos subiram então a indenização
de umâ justa. influência política na América Latina se não lo- à Colâmbia para 25 milhões de dólares, mesmo assim sob protesto de
mamlos medidaspara asseguraro tipo de produç.ãoque venha eus"jingoistas",a fim de amainara ferida aberta. Concluídoo "arre-
sustentar nossos inhrêsses políticos o territoriais". Horace B. glo" por 2,5 milhões de dólares em 1921, retomadas as relações diplo-
máticas interrompidas, chegam os homens do petróleo e se apoderam
])avia, que o cita, üe atribui querer forçar as nações'latino' dos vastos depósitos colombianos, sob a forma da Tropical Oil Com-
americanas a entrarem na órbita económica americana, se ne- pany; concessão
mais nova está nas mãos.da SoconyVacuum and
cessano por meio de represálias económicas. Pode não ser exala Telas .Co. (Benjamin W. Willíams, ..Economlc Foreign PoZícy of fbe
U/zf/ed S/ares, N. Y., 1929; Guntber, //zsfde Z,afízz .4meríca, Cap . ' XL)
72
73
l
78 79
sócio integrante menor no novo "imperialismo anglo-saxão" para
r se deu uma espéciede divisão de trabalho magistral.entre o.Esta-
o qual contribuiria com os vastosrecursosde seupróprio'im- do americano, mediante seus grandes instrumentos .diplomáticos e
pério colonial; em compensação, prudentemente se 'retirava de de financiamento e umas dezenas de grandes empresas e corpora'
sua velha arena no sul do Continente americano, deixando-a ao ções privadas que faziam como que .o trabalho de campo. Desde
voraz leão mais Dava, na plena pujança de seus apetites os anos de 20 que o comércio americano com a América Latina
O mundo ti;nha.de ser redividido e recompartimentado, em dominado por trinta a quarenta fi.amas:Em geral, essasfirmas
fatias e porçõesmuito maiores,trans ou intercontinentais,'
por ocupam posições chave nos seus.respectivos.setores no mercado
número muito menor de grandes parceiros, à custa naturalnlên- nacional,'sobretudoem relação à manipulaçãodos preço: inter-
te do caráter intemacional da economia que desaparecia. Com
essaredivisão esvaía-setambém o comércio mundial livn, a úl-
tima lembrança do capitalismo liberal.
Os sonhosimperialistasse vão realizar, mas de outra ma-
neira. A América Latina em bloco, com o Canadá,ao norte, a General Electric, a Sears and Roebuck, a Anderson and Clay-
vai ser "integrada" no novo império. Ela começapor perder, ton. a W. ]i. GradeCo., a AiMFORP
e outras.
com a guerra, os mercadosusuaispara onde escoavaseuspro- Entre 1941 e 1942, a América Latina readaptamaciça-
dutos. Queira ou não, tem agorade comprar em massanos Es- mentesua economiapara produzir materiais estratégicospara a
tados Unidos. O Govêmo americano, por sua vez, passa a sub- máquina de guerra americana. Voltam os ]nitratos, até o cobre
sidiar diretamente seus . exportadores.' O Export=lmport 'Bank chileno a ser importado em grandes quantidadesnos Estados
vai ser um instrumento indispensável para êsse sistema de sub- Unidos. Conhece:semesmo então um aumentofebril no inter-
sídios. Segundo.o seu presidente, W. L. Pierce, vinha êle preen- câmbio com a Argentina. O alimento foi tão sensível que na-
cher o vácuo abeto pelo "estancar de créditos a longo prazo, queles mercados, tradicionalmente inglêses, .surgiu a esperança
o que tornava difícil aos.compradores estrangehos, especialmen= de que as compras americanas fossem continuar. O Brasil e a
te governos, adquirirem bens de capital americanos" Colâmbia, os principais produtores de café, à! voltas com ter-
Entre as.primeiras transaçõe!do Banco, estava uma ope- rível depressão nos 'preços do produto, confabulavam . ?om os
ração maior de dez milhões de dólares à Intemational Telepho- outros produtores para negocial com os Estados IJnidos+ym
ne and Telegt-aphCo., a fim de expandir seus negóciosna Amé- acordo de limitação das vendas no mercado americano..Êsse
rica do Sul.l E um trabalho sistemático se estabeleceu, condu- convênio acabaria por ser assinado e ratificado pelo Senado em
zida pelo Departamento.de Estado, para suprir os capitais pri- Washington,em fevereiro de 1941. O convênio inortodoxo as-
vados americanos retraídos, desde a crise, ci)m empré;timos' do sinado com o Brasil e os outros produtores latino-americanos
Estado a fim de completar a instalação, quase com exclusivida- serviu para alimentar na Argontina a. esperança de encontrar
de,.da máquina nonÕmica americananos vastosdomínios que se também em meio de escoar 'seus produtos hvendáveis, diante
abriam aos seusinterêssesdo Rio Grande, no México, à Patagâ- das precárias condições que se !fiaram para britânicos ,e euro-
nia, na emergência ou previsão da guerra. Houve caso, nessa épo- peus, em face da conjuntura militar. Não tardou?..porém, que
ca, de empréstimo concedido com o fito expresso de capacitar fir- ela 1lofresseamarga decepção. Com efeito, competitivos os seus
ma americana a obhr fomecimento contacto que não fosse para principais produtos agrícolas com os cultivados ou mesmoexpor'
competidor alemão. Foi ainda por essaépoca =- ou no curso da tados pelos Estados Unidos, a Ai.gentina não.tinha chance. E. o
década de 30 a 40 -- que para essa grande política de monopoli- se viu foi a brutal declaração do.Secretário de Estado assis-
zaçãa de mercados e fontes de matérias-pHmas da América Latina tente, Sr. Henry F. Grady, no sentido de parar com os boatos
alarmantes que circulavam nos meios agrícolas de seu país, segun-
do os quais Washington tencionava adquirir os excedentes agríco-
Sr.r", Nof:";:.:' Wm"-s, E""m/. F"'Íg" P.IÍ' ./ / t/ ír las argentinos.Grady declara, peremptoriamente,a 7 de janeiro
8/
A Europa ficava em 1937 com 48,3% das exportaçõesla-
tino-americanas,e fornecia 47,9% das importações.x Em 1938,
as exportações da América Latina para a Europa representavam
54,5@o,e as impor'tações daquela para esta, 43,6%. A Argen-
tina, Venezuela,Bolívia e Uruguai estavamacostumados
a en-
viar mais de 60qo de suasexportaçõespara a Europa e ilhas
britânicas. O Chi]e e a Repúb]ica ])ominicana, mais de 50qo; o
Brasi], mais ou menos 50%o. Analisando-se a natureza dos produ-
tos exportados por áreasgeográficas ou quanto a produtos de zona
temperada,produtos tropicais e produtos minerais, ressaltaainda
o brutal deslocamentodo comício exterior da América Latina
causadopela guerra. Assim, quanto aos primeiros, coordenan-
do dados de várias fontes, Chamisso encontra: em 1938, a Eu-
ropa comprava93% da carne latino-americana,869o do milho,
739o da lã, 74% do algodão, 66qo dos couros e peles. Os Es-
tados Unidos limitavam-se a comprar, em escalamuito limita-
da, carne de vaca em conserva, couros e peles, lã e linho. O
casomais graveera o da Argentina: o trigo em excedenteé con-
servável, mas o milho não. O govêrno argentino teve de com-
prar estoquesde milho (calculadosem 6 a 8 milhõesde tone-
ladas), a $10,8 a tonelada, e os vender como combustívela
$4,5 a tonelada, às estudas de ferro, e a $5,18 a tonelada,
para a indústria. Quanto aos produtos minerais, os Esta-
dos Unidos compravam alguns de importância: manganês,mi-
mais da América Latina estandoperdidos, resultava um grave nério de ferro e zinco, "mas os outros. como cobre (salvo o ad-
perJ$o de deterioração económica e política a ameaçar os Estados quirida sob cauçãopara exportação), o nitrato, o petróleo e o
Unidos.e estanho mal faziam parte de suas compras"- Caso típico aqui
é o Child: ''Normalmente,60%odo nitrato ia para a Europa e
perto de 100qo de seu cobre também, para a Europa e para o
Japãa. . ." A produção de cobre "caiu de cêrca de trinta e duas
mil toneladas um mês antes da guerra para quatorze mil em
julho de 1940". Quanto aos exportadores de produtos tropi-
cais, não obstante a preponderância incontestável da compra
dêstes pelos americanos, o problema dos excedentes projeta
tambémaí a sua sombra. "A República Dominicana perde
60% de seu comérciode exportação(açúcarpara a Grã-Bre-
tanha), do mesmo modo que o Haiti. O Brasil pei.deu uma
.A
r
1 Chamisso, ob. cit., pág. 156 e seguintes. l A Foralgn Poli(y for ..4merica, 1940, pág. 73. Cleveland em
2 Quem não se lembra da proclamação do presid. . ..
1895 "Hoje. os Estados Unidos são pràticamente soberanosneste Con-
85
caso necessário, estamos preparados a usar a fôrça 2 para al- canas,concebeu,ou melhor, pâs em prática antigo plano seu,
cançaraquêleobjetivo". (Discursoem 4 de outubro de 1940, de. através uma Comissão de ])eseDvolvimento Interamericano,
no Conselho de Relações Exteriores, em Chicago, pelo General incentivar e dirigir o comércio entre as repúblicas do sul e a sua.
Robert E. Wood, Presidente da Seara, Roebuck -- ]Vew À/msea, Precisamente pela mesma época, Washington passava a estudar
vo1. 111, 7 de janeiro de 1941). Sears, Roebuck é, como se sabe, sèriamenteos meios de transferir os investimentostotais britâ-
uma das grandes corporações comerciais que desde as priscas nicos da e para a América Latina, a fim de capacitar seus países
eras se interessampelo comércio latino-americano. Poucos anos a aumentaremas exportações.Com efeito, quandoda discus-
depois do discurso de seu diretor a grande emprêsase vinha são da ]ei de empréstimos e arrendamentos(Z.,e/zd a/zd /Caia .4cr),
instalar no Rio de Janeiroe em São Paulo. (Tira sido sob a o então Secretário do Tesouro, Sr. Morgenthau, chegou a pensar
direção do mesmo fogoso general?) em lançar mão dêssesinvestimentospara financiar as compras
britânicas nos Estados Unidos e na América Latina.x
A hora de qualquer país da América Latina, mesmo os mais
longhquos, isolar-se havia passado. O Presidente Roosevelt em Quando o Departamento de Estado criou um órgão para
pessoaé expresso: "Nós nos opomos a forçados isolacionismos controlar as exportações,vimos como o generalque o foi dirigir
pira nõs m-esmosou para qualquer outra parte das Américas" não perdeu tempo em reclamar o controle de todas as exporta-
(Janeiro de 1941 cita por HI. B. Davas.)'Todo o Continente. çõesInteram-tricanas de seu pasto em Washington, em nome da
defesado hemisfério". Ao que parece a ideia do pool ou cartel
norte, centro e sul, tinha de trabalhar para a guena, transfori
nado num arsenalprodutivoe políticopara a esüatégiadosEs- das exportações partiu do próprio presidente Roosevelt. Mas a
tados Unidos. Foi então que se criou, i;omo já vimos, o slogan oposição dos países latino-americanos não se fêz esperar, como
de defesa.económicado hemisfério.Em nome dêle, surgiu a já muito, muito anteriormentese havia levantado,
. nos últimos
necessidade de um Dava órgão no Departamentode Estado para dias do século passado, à idéia de unificação das tarifas proposta
o controle das.exportações.À sua frente foi pasto o Brigadeiro- pelo Secretário T. Blaine, ao convocar os .países do sul para
General Russel E. Maxwell, que passou a reivindicar o contrate
fundar a IJnião Pan-Americana.Ao calor da guerra, entre im-
das exportações a fim de promover os objetivos da "defesa do periali-star e idealistas se fazia crescente comunicação. .Os últi-
hemisfério".l mos pregavam idéias generosasque os primeiros acolhiam de
boa vontade, fazendo-as passar, porém, pelo seu alambique.
Antes.de entrarão! a indagar contra quem se quer armar Uma dessas idéias mal destinadas foi a de auto-suficiência he-
a "defesa do hemisfério", transformando-o numa fortaleza sitia- misférica.
da, de que o Pentágono em Washingt(m tem as chaves e o con- Clark Foreman e Joan Raushenbushderam, na seu livro,
trole da ponte levadiça, enquanto o Secretário do Tesouro e o Se..
o tipo de auto-suficiência com que sonhavam. Reorganizar-se
cretário do Comério americanosguardariam as chavesda casa-
forte e os armazénsde abastecimento,
devemosaindanos deter l Clark Foreman e Joan Raushenbush, TofaJ l)e/ezzie, N. Y., 1941, e
numa .fase .preliminar. Encarando-se a si mesmos sozinhos, com Ricardo Berger, advogado intemaciona], TAe ]Vew york Tomei, 2/2/1941..
Para se pagarem os países latino-americanos com os investimentos
uma América do Sul isolada do mu:ndoem guerra, os Estados inglêses naqueles países, em créditos de exportações, calculavam-se tais
Unidos acabam vendo formar-se, ou tomando consciência de uma investimentos
num valor nominal de l bilhão de libras. O secretáriodo
deliberada política de absorção total, financeira, económica e Tesoulrode Morgenthau, porém, calculou o valor mercantil dêssesinn
política da América toda na sua órbita imperial vestimentas em bem menos. Assim, as estudas de ferro mexicanas e
Nelson Rockefeller, ao ser escolhido por Roosevelt para empréstimos oficiais ao México foram calculados em 128 milhões de li-
bras; as ferrovias cubanasem 25 milhões; as uruguaias em 14 milhões.
Coordenador das Relações Culturais e Comerciais InteraÚeri- Aliás, os cálculos feitos, inclusive das depreciações,reduziam os investi-
mentos inglêses no Uruguai à metade do valor nominal; na Venezuela,
tenentee suas ordens são lei para os assuntosaos quais limita sua in a um pouco mais de metade; no Brasil, a apenasum quarto, enquanto
terferência"?' que no Peru a menos de um quinto, e assim por diante. (H. B. Davas,
l New' yor# 7ímeJ, 22/1/1941. obra citada, l)ág. 9.)
8Ó 87
e da melhor qualidade na Guatemala. Quanto ao estaDhd,a Me-
a economia ''pan-americana" de modo a cortar os americanos
tal Reserve Alloy Corp., subsidiária da Reconstruction Finance
(de cima e de baixo) não só do comérciocom Hitler e o Mi-
Corporation, já havia tomado as medidas mcessárias à constru-
kado mas também com os britânicos e holandeses.Na realida-
çãode uma refinaria daquelemetal nos EstadosIJnidos que po-
de, todo o. mundo ."não continental" seria excluído. As exporta- deria utilizar os seus próprios estoques ou um forneçimeàto
ções .americanas ficariam sem seus e-scoadouros habituais, no
interêssedo patriotismoe da "defesanacional". Stuart Chasee constante das minas bolivianas "independentes", quer dizer, não
controladas pela combinação Patino-britânica . Ainda segundo
depois o grupo da -4ma;ca r'iWr fizeram a promoção da ideia..
Carleton Beals, com maior senso da realidade, manifestou. se em o Dr. Brooks Emeny, quanto ao abastecimentode antimónio e
tungstênio, os outros materiais estratégicos realment-eimportan-
favor de se quebrarem quantos monopólios lasso possível, pelo tes, não haveria por que temer escassez,dwde que se lhes des-
desenvolvimento de nov(;s produtos na América Latina. (Como se uma atenção razoável.
se sabe, todos êssespublicistas eram conhecidos pelo seu anti-
anglicismo. ) Os EstadosUnidos são de longe a melhor equipadadas
grandes potências em questão de matérias-primas essenciais--
Na verdade,leãoera preciso apoderar-sede toda a Amé-
ferro, carvão, alumínio, produtos químicos, energia e a maioria
rica Latina para assegurar o abastecimonta necessário dos vinte
e seis materiais de guerra reputados estratégicos.No fundo, não dos minérios. E toda a perspectiva do desenvolvimentoé tor-
nar o grandepaís cada vez menos dependentedos outros paí-
mais de cinco ou seis eram de necessidade
vital. Por exemplo, ses. O desenvo]vimento dos sintéticos vai dispensando, ou liber-
a borracha, que provinha da Ária. Era "imperativo" obtê-la no
hemisfério, já que a sintética em uso comente na Alemanha tando os Estados Unidos da dependência de matérias-primas
nãa produzidas internamente.É hoje mais fácil, mais cómodo,
não a fabricavam os Estados Unidos. E a da Ásia estava perdida.
De fato, observa Davis, breve poderá a borracha sintética subs- mais barato obter produtos sintéticos como a borracha do que
tituir o .lafex natural, comercialmente,em tempo de paz, mas tentar desenvolvera produção de várias matérias-prima-svege-
produza:la presentementenos Estados IJnidos será dispendioso. tais; a experiênciade Ford na Amazânia e a expediçãoJoão
Albelto durante a guerra foram conclusivas nesse sentido. A
Na realidade, se os EstadosUnidos não produziam então uma
administração Rooseve[t, de algum modo ]ançadora da idéia,
espéciede borrachasintéticabarata de que a StandardOil de
Nova .Jersey tinha a patente, o fato se deve aos compmmissos contudo jamais quis -com ela comprometer-se numa política de-
assumidospor esta com o grande truste alemão da 1. 'G.. con. finida. E o Coordenadordos NegóciosInteramericanos.Sr. Nel-
son Rockefeller, quase o único entre os representantesoficiais,
forme se veio a saber. Graçasàs investigaçõesdo Comitê Tru-
se pmnunciou claramente sabre a idéia para combatê-la: ''Igual-
man, no Senado, sabre os. contratos de produção para a guerra
entre as grandes corporações e o Estado americano. Trata remos mente desconcertante",disse êle, então, em discurso, "é o wis/z-
dêste ponto em outro capítulo. /z{// //zín#i/zg dêsses otimistas que descrevem um abençoado Novo
Mundo nitidamente isolado por meio de um sistema de auto-
Entre outros materiais estratégicos de mais difícil acesso
suficiência absoluta do hemisfério". ('JVew york Timex, 9 de fe-
contavam-se o manganês! a cromita, o estallho, que faltavam
vereiro de 1941.)
a. economia americana. Num estudo sabre .d E;zraf íg&z das
Êsse problema de propalada unidade hemisférica veremos
Ã4aíérím-Prípnzas
(N.Y., 1934) o Dr. Brooks Emeny calculou que mais adiante e mais demoradamente. Por ora, assinalemosa in-
por uma soma em dinheiro equivalente à renda derivada das tari-
fas de então sabre manganês,durante dois ou três anos. seria consistência governamental em relação ao mesmo. Enquanto
possível comprar .toda a quantidade neçessária para estacar. seus peritos económicos, os homens de negócios ligados ao De-
Ainda não se. havia descoberto as grandes jazidas' de manganês partamento de Estado, não podem senão mostram.a inconsistên-
de boa qualidade no Brasil; conheciam-se as reservas de baixo cia da idéia, politicamente ela é não só mantida nos altos cír-
teor de Cuba, além de algumas nos Estados Unidos mesmo. culos governamentais como proclamada. Econõmicamemte ha-
sem falar nas de cromita, não de boa qualidade, ainda em Cuba veria graves implicações que os economistas e os homens de
89
negóciosnão podem nem têm interêsseem ocultar. O Dr. Brooks
Emeny que, como já mostramos anteriormente, estudou o pro-
blema, ê taxativo e conclusivo. Para realizar a unidade ou in«
tegração económica hemisférica seria preciso, afirma, que os
Estados Unidos estivessempreparados para colocar a Ainérica
Latina na P.W.A. (Administração de Obras Públicas), orga-
nização. instituída pelo Govêrno Roosevelt para dar trabalho
aos milhões de desempregados americanos nã crise de depres-
são dos anos de 30. (Depoimento perante a Comissão de Rela-
ções.Exterions da.Cânlgra dos Representantes, 22 de janeiro
de 1941. -- ]Vew yor# limes, 24-1-41). '
9/
minha para diafrente de todas as Américas durante a Segunda acôrdo franco, político e comercial, com a Rússia, bem dali-
mitado. teria talvez mudado o curso dos acontecimentosinter-
No mesmoano, a 14 de agosto,-emC:hatauqua, Nova lor- nacionais.Ao início de seu Govêrno,não teria Roosevelt,com
que, êle relembra solenemente
sua declaraçãode 4 de março o seu brazh /rzlsf, pensado em algo nesses têrmos para sua po-
de 1933, de que "no domínio da palírüa 'llzm/düZ, desejaria lítica mundial?
dedicar esta nação a política .do bom vizinho -- o"vizinho quc
resolutamente se respeita a si mesmo e porque assim fm. res- Um curiosoinquérito mandadofazer, no curso de 1939,
peita os direitos dos outms -- o vizinho que'respeita suas'obri- por várias regiões dos Estados Unidos sabre a política a seguir
gaçoese respeitaa santidade
de seusacordosem e com um La América Latina em relação à guerra que estalavana Europa,
mundo de vizinhos". Já foi por diversasvêzesassinaladoque a traz respostas muito reveladoras dos sentimentos am-ericanos a
famosa política do bom vizinho, ao ser definida, se destinava respeito. O inquérito. é organizado por Estados e em cada um
ao mundointeiro e não propriamenteaosvizinhosdo sul. Diri- dêlesum comitêo dirige. Os resultadosdo inquérito foram pu-
blicados, em publicação oficial, ao que parece, num opúsculo,
gia-se à Rússia, .talvez,.em primeiro lugar, com quem reatava as
relações.djplopáticas de seu país, interrompidas desde a revo- Some Regia/zaZríewi oiH our I'orelgpz Políclei, sem data. Na ques-
lução, cheio, aliás,de esperançasde que se lasso entendermuito tão estratégica, o conjunto dos Comitês, segundo Chamisso que
bem com o Kremlin, ta:ntono domínio político como no das dá a informação,põe o acentona Doutrina de Monroe, torna-
relações comerciais.xNa realidade -- agora o vemos -- um da "multilateral" depois da declaração de 1936, destacando a
idéia de que "a proteçãodos EstadosUnidos não está asse-
! O Expert-lmport Bank foi, como se sabe,fundado em 2/2/34. Tor- gurada apenas em suas margem?". (Comitê .de Nova lorque)
nou-se o organismo mais importante para os empréstimos governamen- O de Des Moines precisa: "Os Estados Unidos são vulneráveis
tais. Visavaa suprir os investimentos
prlyados.retraídos.A lei que o pela América L,atina.. O Mar.das Caraíb-as.é a nossa fronteira
criou o destinavaa prestar assistênciaao financiamento das importações mais fraca. A Doutrina de Monroe exprimiu um interêssecla-
e exp.ortaçõesdos Estados Unidos, em geral. Não tinha nenhum vínculo
ramente percebido que pão se torna menos vital hoje". Quanto
=BB:lH«ZB$=$eZ''
W#M
ras de créditos o desenvolvimento do comércio russo-americano, sabre o
aos materiais estratégicos, outro comitê (de Saint Louis) assi-
nala haver ainda muito que fazer para "animar as naçõessul-
americanas a produzirem mercadorias-chaves para as quais uni
qual os Estados Unidos punham muitas esperançasdesde o seu reconhe-
cimento do govêrno soviético". A 13 de março do mesmo ano, um mercado poderia ser encontrado nos Estados l.Jnidos". E se
segundoExport-lmportBank foi criado para o comérciocom juba. citavam, naturalmente, a borracha cultivada em substituição à
Em .junho seguinte, êste último banco é aiitorizadu a estender suas traí.
sacões com todos os países, salvo a Rússia. Já em 1936. em conse- do Extremo Ode:nte e o estanho da Bolívia para substituir o da
qüêricia do fracasso das negociaçõessabre as dívidas russas. os dois ban- Malária. Em relação ao problema financeiro tratava-se de "com-
cos são reunidos num só, com a liquidação do segundoe se torna o im-
portante estabelecimentoque é hoje. Que era nas origens um estabele- binar a política dos empréstimos com a ideia de deseltvalvimenlo
cimento bancário de funções especiais,não há dúvida. O comércio da dos recursos da América Latina utilizáveis os Estctdos Unidos
Rússia é uma função estatal como qualquer outra. Era natural que Wash- O grupo de Nova lorque, ao parecer o mais sofisticado dêles,
ington pen:asse.em criar um instrumento de comércio szzigenerís, tam-
bém .estatal,.embora com métodos operatórios e finalidades capitalistas. preconiza: "Os riscos precedentemente a cargo dos banqueiros
Era êle um instituto novo de um capitalismo de Estado que se ia desen- ltmericartos serão suportados pelo contribuinte americano. Isso,
volver, enormemente,no curso dos anos. O capital dêle provinha de
outra organizaçãoestatal, a Reco/z.çfracfíoH
Fina/zceCorporafíon; sua di- tido ao Congressoe aprovado pelo presidente.Sua função essencialcon-
reçãoé de natweza governamental,na qual o Departamentode Estado siste de fato no financiamento das importações de um país estrangeiro
e. outras agências.federais estão representados. O banco estava e está provenientesdos Estados Unidos e, então, o transporte das mercadorias
a,serviço da política .económicaamericanaque o Estado aprovar. Êle americanas
tem de ser feito em barcosamericanos.
O mecanismo
e
não emprestasem o beneplácitodo govêrno. Seu orçamento é subme- funcionamento de um banco russo não é muito diferente.
92 93
l
lum certo sentido, é um compromisso e,tttre o canjtqljsmo nr;],n
do e o capiMlismo de Estado") ' ' ' ----''''- t'''-"' gravemente e sua .balança de pagamentos, em conseqüência. Sù-
bitamente, a América Latina se via sem os seus mercados eu-
ropeus tradicionais, mercados ande comprava, mercados onde
vendia. Os Estados Unidos, sòzinhos, tinham de comprar e ven-
der o que ela sempre comprou e vendeu na Europa. Sob pena,
ou de a América Latina merguhar no caos e Da ruína, ou
de passar-separa o ou os inimigos dos EstadosUnidos: o Ja-
pão, à espreita, a Alemanha, apesar de a braços com um
continente a ocupar, organizar, digerir, etc
Na guerra, os problema-seconómicos -- não se pode dizer
que desapareçam-- mas deixam de ser preponderantescomo
tais. A economia é politizada. Sendo politizada ou, sobretudo,
"política", deixa de ser privada. As grandesguerras modernas
fizeram mais para politizar as economias privadas nacionais, fi-
zeram mais danos à expre-suãomáxima da economiaprivada, que
é o capitalismo, que tôdas as manobras, propagandas socialis-
tas e comunistas reunidas.
A Alemanha, na Primeira Grande Guerra, sitiada, sufoca-
da pelo bloqueio naval britânico, tornou-seum capitalismode
Estado que fêz milagres de organização, de planejamento no uso
de recursos limitados para uma utilização máxima; de prodi-
gioso esforço produtivo através de uma rev-olução tecnológica
pais e nâs fronteiras periféricas e extracontinentais. Havia tam (a hidrogenização do carvão) sem equivalente nos outros países
bém que. livra-las de lodos os inimigos, potenciais ou reais. Tâ- adiantados e que a dispensou parcialmente das fontes de maté-
ua e qualquer outra consideraçãodevia estar stlbordinada àquele rias-primas naturais das quais estava militarmente afastada; com
extrema racionalização do consumo inclusive alimentar, manteve
n" ls;' upli:: eA!!ÊP? ot;'ig'çõ9. d.; E;àà;''Ü;ii='1=1; seupovo nutrido durantevários anosde bloqueio, a ponto de
de ordem política ças aoalxo deles: üe ordem económica, causara admiração
e a invejade Lênin que a tomoupor pa-
drão quando se viu, depois da vitória, com uma Rússia em situa-
ção económica semelhante à da Alemanha sitiada, as frontei-
ras invadidas, a fome no interior com a guerra civil e o bloqueio
externoinflexível até para deixar passaros recursosmédicos
mais cunezinhos. Sem a guerra, a economia capitalista não se
teria modificadoe, nas circunstânciasdadas,teria perecidoou
se transformado "em seu contrário", ou em um modo- econó-
mico público, coletivista,' socialista, em suma. Foi pela guerra e
com a guerra que, no interior de suas fronteiras, o Estado pôde
A guerra agravou em geral essas mazelas e, de repente, intervir, forçar os investimentos lá mesmo onde só iam quando a
como vimos, desequilibrou$ua balança comercial ainda mais rentabilidadeera alta e assegui'ada, controlar mercados,estabili-
zar preços, abrir novas fronteiras à produção e i:ecomporo poder
l Obra cit. pág. 8.
público -- nas democracias-- com certa participação da classe
95
trabalhadora, como contrapêso à exce-ssivapredominância nêle edifício parece começar a dar sinais de fenda. Se assim é, terá
das oligarquias do dinheiro, dos trustes e monopólios. Formas provado que se destinava sobretudo às tarefas da reconstrução
mais ou medos democráticas,em maior ou menor grau, de após a guerra.
capitalismo de Estado nos Estados Unidos e Grã-Bretanha e to- ' Entre 1929 e 1939, êssesprocessos não estavam senão em-
talitárias na Alemanha, foram os modelos mais generalizados, brionários. Enquanto os países capitalistas se debatiam nas mais
embora, ante.sde qualquer projeção, resultantes empíricas da diversas formas de depresuão, desemprêgo, ensaios de reformas,
evoluçãode acontecimentose situações.Foi a guerraainda que contra-reformas, convulsões políticas, a Rússia, através sacri-
permitiu, depois dela, na luta pelo pleno emprêgo, alcançar-se fícios sem nome de seu povo enquadrado e at:rrorizado, construía
em suas diversas modalidades o chamado "neoliberalismo" na por toda parte milhares de fábricas e urinas, mmpia canais, des-
conhecia o desemprêgo, explorava minas e florestas na região
Europa (a Alemanha) ou "neocapitalismo" americano.i Aquêle
polar(inclusive, no auge da era staliniana: pelo trabalho for
l "A economiacapitalistado após-guerradeu prova de uma vitali- çado) , elevava aos saltos suas forças produtivas, criava a-sba?es
dade e de uma elasticidadeque o marxismo jamais previu. Lukács nacionaisde uma nova economia,um Dava modo de produ-
escreve, em 1923, que a crença na possibilidade' de um' domínio cons- ção, fundado, intànsecamente,nomlativamente, no plano. e na
cientedo fato económicoera um dos aspectosda falsa consciência
da
burguesia. Ora, êsse "domínio consciente" está em vias de efetuar-se. propriedadepública dos meios de.produção Para o mundo in
O economista capitalista não se encontra mais na posição do "especta- leira, amigose inimigos,a experiência
de uma economia
não
dor importante" .diante das leis de aço da economia que apareciam competitivamas de piano, sem apropriaçãoprivatlsta dos meios
como leis naturais: uma verdadeira praxis sócio-económicaexiste dora- odutivos essenciais sem .o móvel normativo do lucro privado,
vante independentede toda intervençãopolítica do proletariado. Que era algo inédito na história social e cultural .da humanidadee
esta evolução -- feliz em seu conjunto -- tenha sido poderosamente
estimulada pelo desafio do campo adverso, é provável, mas isso não a hipótese não sàmonte sobrevivia como resistia a t(Elos os con-
meda grande coisa à sua significação. Em conjunto a economia capi- tratempos, funcionava e chegava a crescer em forças e acumular
talista do pós-guerra é me/zoi cofsí/içada (reificada) que a de outrora riquezas.'
e esta diminuição da reificaçãc económica constitui a nosso ver a Os capitalistasdo mundo inteim se viam jogadosna defl3n-
principal justificação sociológica do emprêgo do têrmo de neocapf/a-
/limo". ('4rgwmepzr, n.o 25-26, 1962, Joseph Gabf], ]b4arxfsme ef 'Dy-
lzamfq e de Grozlpe, pág. 128, Paria.) Em Sacia/ísme ef Barbárie. D.o
32, 1961, Paul Cadran, num magnífico ensaio sabre l,e mozlvemení
révolzdion/zaíre sozis /e capífalísme mover/ze, assim o descreve: "A luta
operária no plano económico exprimiu-se sobretudo pelas reivindica- l Isso não significa que tudo o que se fêz na Rússiaestavacerto ou
ções de salário, às quais o capitalismo opas uma resistência encarniçada era inevitável . Corifeus e epígonos podem, còmodamente, de fora do
durante muito tempo. Tendo perdido a batalha nesseplano, êle acabou processo, sustentar' tal posiçãol que lhes tranquiliza a. consciência. Os
por adaptar-se
a uma economiacujo fato dominante,do ponto de vista russos mesmosque, dentro do' país, viveram o' terror staliniano, conhe-
da procura, é o acréscimoregular da massados saláriostornada base ceram a miséria, não pensamdêssemodo. )qem tampoucol naturalmen-
de um mercado constantementeampliado de bens de consumo. Êsse te, as vozesoposicionistas,
leaisao regime,à hipótese
comunista
ou
tipo de economiaem expansão
em que vivemosé, no essencial,
pro- socialista até ; morte, tôdas elas liquidadas, fisicamente, nas. eras. do
duto da pressão incessante exercida pela classe operária sabre os sa- 'culto' da pergbnalidade", e não moral ou ideologicamente.. À lucidez
lários -- e seus problemas principais resultam dêsse fato. .. Assim, revolucionária, marxista 'ou científica, se devem algumas das críticas
(e também em função de outros fatâres) depois de ter resistido muito maispertinentes,e feitas a tempo, aos erros.da política e.do regime,
tempo à ideia da intromissão do Estado nos negócioseconómicos(con- com soluçõesreparadoras;de terem sido ouvidasentão: muitas das de-
siderada como revolucionária" e "socialista") o capitalismo chega fi- formações,'desastres,denunciados muito depois nos altos círculos di
nalmente a adotá-la, e a desviar em seu proveito a pressão operária regentesdo Partido, teriam sido poupadosao povo russo.e à .própria
co/zfra as çonseqüências do funcionamento espontâneo da economia, hipótese socialista. ' Os stalinistas' de' outrora, . os comunistas de hoje,
para instaurar, através o Estado, um controle da economia e da so- estão convidadosa estudar o passadosoviético com olhos de hoje,
ciedade, servindo em fim de contas seus interêsses". (Sacia/íxme ef experiência de hoje, consciência' limpa e objetiv-idade. É a condição
Barbarfe, pág. 93. ) da vitória do socialismo.
9Ó 97
entre êsseshomens do alto grupo social a que fizemos menção
que, de volta, ainda em 1937, de uma excursãoa negóciospela
América do Sul (quando organizou uma Companhiade Desen-
volvimento na Venezuela, para ."mostrar, pelo exemplo, as pos-
sibilidades de desenvolvimento agrícola e industrial do paí-s"),
submeteuaos círculos chegadosà Casa Branca idéias sabre "um
programa interamericano de desenvolvimento no qual o Govêr-
no e os negóciosprivados fossem partes".x Em 1940, volta o
jovem Rockefeller a suâ idéia; desta vez o presidente vai trans-
forma-la em ato e o chama a executa-la.
O papel do Escritório do Coordenadordos NegóciosCultu-
rais e Comerciais Interamericanos foi considerável durante os
os anos de guerra. Os itens principais de seu programa eram:
1) auxílio direto às Repúblicas americanaspara aapacifá-Zasa
preservar izla es/abíZ;dado ínrerna; 2) reduzir as necessidades de
câmbio externo das Repúblicas latino-americanaspor meio de
um ajuste de seus serviços de dívidas à sua capacidade de paga-
mento, e isso até poder-se empreender uma a/ívüade desahvaZ-
vímenfisfa izzscefíveide aumentar a capacidade de fazer frente
a obrigações
financeiras,
antigas
e novas;3) utilizara Co-
missão Interamericana de Desenvolvimento para estimular o co-
mércio e.ntre as diversas repúblicas, desenvolver-lhes os recur-
sose prestar assistênciaà suü induxstrialização,
por meio de em-
présfí#zoi a Zango preza, e ''harmonizar.o pessoal e a política
ou publicidade das diversas agênciasoficiais encarregadasde ob-
l jetivos de de/esa do /zemísféria''.a O fulcro de suas atividades era
a ''defesado hemisfério".Mas anteshavia que atendera pro-
blemas económicos e financeiros muito mais imediatos da Amé-
rica Latina. Assim, a necessidade
prementede créditos.Estes,
porém, na circunstância, de onde podiam provir? Do Govêrno
americano. nata.ralmente. E foi um dos empenhos imediatos do
Coordenador. junto aos círculos competentes de Washington.
Outro problema imediato que se Ihe apresentoufoi o do blo-
queio inglês, desde a declaração de guerra em setembro de 1939,
ao comércioda Alemanha,que agravavaa questãojá crónica
dos excedentes. O Coordenador teria sido, então, como uma
espécie de procurador dos países latino-americanos junto aos
1 Ver Chamisso, obra citada,pág. 135.
2 Relatório da História do Escritório do Coordenador dos Negócios
/nreramerfcan'oi, Washíngton, D. C., 1947.
99
meadospor êle e outros. Em 1941, dá-se nos meios fina-nceiros
um fato extraordinário: o primeiro empréstimoprivado de um
banco americano a um pais latino, a :V'enezuelã,desde 1920-
1930, a era das orgias financeiras de que já falamos. O Natio-
nal City Bank of New York é o bancoque interrompeo re'
traimento, emprestando dez milhões de dólares para atender às
dificuldades conseqüentesa um comêço de queda nas exporta-
ções do petróleo daquele país. (A fonte da informação é John
Gunther, /mija l,afim .4merlca.) Em compensação, no mesmo
ano se dá outra surprêsatalvez ainda maisisensacional:o Ex-
pert-lmport Bank ab.reum crédito de dez milhões de dólares ao
México para a construção de seu trecho na Estrada Pan-ameri-
cana e ainda anuncia sua disposição de atender a outros pedidos
de crédito mexicanos, desde que garantidos pelo Govêrno do
México. Que houve? Qual o motivo dêsseliberalismo, dessaque-
bra da norma por parte do Tesouro americano? O caso- dcu
muito a comentar, e Bemis ('l,a://n .41nze/k'unPoZicyof l/ze t/.S.,)
assim o faz: ''Um b-anco quase oficial dos Estados Unidos em-
prestou dinheiro do Govêrno a um Govêrno (estrangeiro) do
qual nenhum banqueiro privado individual teria sonhado em
comprar os títulos, depois das espetaculares 'impontualidades'
(]o México."
O caso era realmente extraordinário. Emprestar dinheiro
ao México depois das expropriações das companhias de petró-
leo, três anos antes? Bemis tinha razão em seus comentários.
lulas. . . houve condições prévias, postas por Washington, a se-
rem preenchidas. E o foram. Chamisso escreve: "As agências
oficiais de empréstimose o Eximbank em particular não foram
menos reticente-s de comêço por motivo das dívidas em falta e
das expropriações,de que tantas queixashouve na décadapre-
cedente.O Méxicotevede passarprimeiramente por um frafa-
do com os Esfcadost/nados(l de abril de 1941), cujas ratifi-
caçõesforam ràpidamentetrocadasa 25 de abril; basesnavais
e aéreasforam concedidasaos Estados Unidos."i O caso das
expropriações foi resolvido parcialmente. . . depois do tratado
e dos empréstimos assegurados ou "justamente três semanas an-
tes de PearlHarbor". acrescentao mesmoautor, isto é, a 19
de novembro do mesmo ano.
}14
se esperar que os empréstimos privados, ''à medida de seu de- logo aqui na nossa América sentimos os efeitos dessa nova
senvolvimento, tomassem a forma de investimentos diretos".i linha
n
O pobre Prosidente Truman, positivamente, não mere- Foi, com efeito, por essamesma época que na reunião de
cia a c?afiança. das grandes corporações B, particularmente, do encerramentoda ConÜrênciado Rio de Janeiro (Quitandinha)
grupo Rockefeller-Aldrich (Standard-Chame). Em novembro, o PresidenteTruman,em pessoa,liquidou as esperanças que
vem o grito de guerra de Leo Welch. "perigosamente"(assim eram elas tidas nos EstadosUnidos)
Em 1947, Truman tenta enfim desarma-loscom sua cé- se haviam acendidona América Latina em virtude das promes-
lebre declaraçãoaos estudantesde uma universidadedo Taxas sas de 1940 e 1941, ao rebentar da guerra. No seu discurso de
em que afinal.define a nova política exterior de seu país, que encerramento, Truman falou: "Na medida em que estão em
passa a ser conhecida como Doutrina Truman. EJa é definida exa-
causa os problemas económicos comuns, as.n.açõesda América
tamente como reclamavam Aldrich e Welch. Segundo o último, do Norte 'e da América do Sul, estamosperfeitamenteconscien-
cabe ao Govêrno "preocupar-se mais com a estabilidade e segu: tes desdemuito tempo que ainda resta muito a fazer. . . Fomos
rança de nossas inversões estrangeiras e para o futuro mais obrigados, no exame das questões, a diferençar entre a necessi-
do que nunca". Ou esta outra fórmu]a lapidar: "0 adequado dade urgente da reabilitação das zonas devastadaspela guerra
respeitoa nossocapitalno exterioré tão importantecomoo e os problemas de desenvolvimento alhures. . ."i
respeito IS)s nossa?s
princípios políticos". Bíg Base/zess
passa à Assim, a América Latina fica aí classificada num vago
ofensiva. Diante disso, que faz o Presidente dos Estados Unidos?
Menos de três mesesdepois do alarma e do ultimato de Welch, algures.Mas naquela reunião, outra voz se erguia, esta saída
diretamente da tubo latino-americana. Era a do então Senador
responde, a 6 de março de 1947, dirigindo-se à mocidade uni.
versitária de se! paí!, advertindo-a dos "perigos que corria a ini- Roberto Simonsen,para dizer que a necessidadeque se sente
ciativa privada": ''O sistema americano da iniciativa privada aqui é de uma colaboração económica a longo prazo. Chamisso
faz face à concorrência desesperada de economias estríhgeiras
o chamoude "o mais célebredos campeões de um PlanoMar-
e controladas pelos Governos de seuspaíses". "As pobres (afc) shall para a América Latina". Mas os americanos.. . do Norte
e isoladas emprêsas americanas não podiam competir com os não o ouviram. E quando, no ano seguinte, êsses]atinos incor-
prelos. estabelecidos.pelo Govêmo dessas economias estrangei- rigível-s do "hemisfério" se largaram a Bogotá dispostos, como
ras". E conclui patética, dogmáticae perigosamentepara a paz colegiais, aos gritos, batendo com a tampa das .carteiras, a pe-
do mundo: "Todo o mundo deveria ãdotar o sistema america- dir ãum plano Marshall para a América Latina" foram proibi-
no. . . o sistema americano só poderia sobreviver na América dos pelo autor do plano, o General Marshall em pessoa,de
se se tornasse num sistema mundial". Para Truman, Presidente tocar no assunto.
da República dos Estados Unidos, e para Welch, tesoureiro da A escala de prioridades havia sido estabelecida em Wa-
StandardOil of New Jersey,não há alternativa, a política exter- shington;agora,pela nova prioridade, a América Latina, com
na americana tem de passar ao ataque para "salvar a emprêsa Brasil e tudo, fará rebaixadade vários pontos: nem no segundo,
privada" em perigo de desaparecer.A luta, não esqueçam,é no nem ho te.rceirolugar, pois depois da Europa ocidental (por um
plano internacional, pois lá é que há Governos tão malignos triz a Central e p-arie da Oriental não entrava também no plano) ,'
que "gerem e controlam as economias de seus países"
Sem êsse pano de fundo não se pode compreender o que 1 ]Vew york Tomes, 19 de setembro de 1947.
foi e o que é a guerra fria. O sistema americano da empresa 2 "Em 4 de julho de 1947, o gabinete tchecoslovaco decidiu. unani-
memente aceitar o convite a comparecer à conferência prelimina31da
privada será a norma para o mundo. Terá que ser imposto. E Plano Marshall em Paria. Cinco dias depois, convocadopor Stalin a
ir vê-lo em Moscou,o ministro das RelaçõesExteriorestcheco,Jan
l Agence Economique, 15 de outubro de 1946, citação de Henri Masaryk, então membro do govêrno tcheco, obedeceuàs ordens do
Claude (NozfyeZ ..4va/zrGz/erre, T. 11, cicia, Paras, 1949, pág. 55). ditador e recusouo convite". O mesmo jornalista internacional que
116 /]7
havia ainda o Oriente Médio, e o Extremo Oriente, e a Coréia Nacional de Economia, em exposição sabre a situação econó-
do Sul, e o Sudesteda Ásia, conformeas reverberações da po- mica do Brasi[ em 1963, (Correio da ]Wan/zã,de 5-8-64) os in-
lítica internacional americana para barrar a Rússia e a China, vestimentosprivados americanosDa América Latin :: haviam
mas também p-ara impor o "sistema americano da emprêsa pri- chegado a quatro bilhões e duzentos milhões de dólares, con-
vada", sob pena de não "sobreviver"nem mesmonos Estados centradosnã Venezuela,México, Child, Brasil e Argentina,na
Unidos. Nem ao menos "uma colaboraçãoa longo prazo", fór- exploração da mineração, petróleo e serviços públicos.
mula do Senador Simonsen, foi concedida. A América Latina Contràriamente às esperanças e sobretudo promessas do
que ficassepara uás. E em Bogotá, na Nona ConferênciaInter- tempo de guerra (vede ainda Roosevelt, Cordell Hull, Nelson
nacional dos Estados Americanos -- comemorada por terrível Rockefe[[er. na Conferência das Comissões de ])esenvo]vimento
levante popular qua quase tudo destruiu, à vista dos delegados Económicode maio de 1944 em Nova lorque), a famosaco-
latino-americanos inteiramente perplexos, sem nada compreen- laboração americana, não mais para atendimentos de contin-
derem do que se estava passando, em conseqüência do assassí- gência, fornecimento de matérias críticas necessitadaspela guer-
nio de um líder popular local, Dr. Jorge Eliacer Gaitán -- o ra, algum facilitar de contas, etc., mas para projetos a longo
General Marshall, do alto de sua autoridade de Secretário de têrmo, foi encerrada bastante abruptamente em Bogotá, com
Estado, rude, franco, cortante, maiüou a América Latina apren- toda a pompa de sua Carta (com maiúscula).Em seulugar,
der a esperar; se contentasse com um acréscimo na capacidade os capitais privados tornaram a chegar para as velhas opera-
de créditos do Banco Internacional; tratasse,porém, de tirar ções exploratórias. Resultado, como sempre: a decalagem entro
os Estados Unidos e a Amél.ica Latina não diminuiu; ao con-
partido das compras que o Plano Marshall ia provocar nos seus
países. Mas, ainda depois, os latinos continuaram a expressar trário, cresceu. Em relação à expansão da produção nas Amé-
suas preferências por créditos e financiamentos por vias gover- ricas, estimativa em grosso de Seymour E. Harris, citado por
namentais, já que eram as únicas possíveis e suscetíveis de aten- Behrendt, calculava uma expansão de 20 por cento no máximc}
der a obras de fôlego, no sentido ektivameDte desenvolvimen- para a América em geral, de 1939 a 1944, anos de guerra, con-
tista, sabre que tanto insistiam. Na realidade, houve em Bogotá, tra uma expansão de 759o ocorrida no mesmo espaço de tem-
da parte de muitos delegadoslatino-americanos,com talvez Ro- po, DosEstados Unidos. No curso dos anos de guerra, com todas
berto Simonsen à frente, um vaga bruxuleio de ação coletiva as suas' conferênciase reuniões oeaizadas,a América Latina
como só muito mais tarde se pede realizar, embora fora do havia sido devidamente
preparada,ou domesticada,
para os
homens do bíg bzzsiness.
contexto OEA,em Alta Garcia, Argentina, por exemplo. Os tem-
pos não estavammadurospara tanto. Sobretudopor parte de Washington podia agora virar-se para a Europa e Ásia,
seus Govemos. a fim de ''.salva-las do comunismo russo"(ainda não havia o
Mas se a ajuda americanacessara,de fato e em pro- modêlo chinês e muito menos o cubano) e assegurar ali a vi-
messas,os investimentos privados retomam, depois de interrom- tória do sistema americano da emprêsa privada. Havia, porém,
ainda muitas voltas a dar e, sobretudo, muitas violações a fazer
pidos desde antes da guerra, com exceção do famoso emprésti-
mo privado que o City Bank of New York fêz à Venezuela,em ao sagrado princípio da iniciativa privada capitalista. No entanto,
1941, para defenderpreços cambaleantesde petróleo exportado a despeito da impaciência dos seus grandes homens de negócios,
-- o velho caminho da América Latina. Por dados do Conselho o Govêrnoem Washingtoliainda não lhes pede entregaro
campo livre na frente económica. Quando esperavam assumir
dá a notícia acima acrescenta:"Sob a mesmapressãode ferro os go- a direçãototal do Estado para impor a política de defesados
vernos jugoslavo e polonês revogaram suas decisões de aderir ao Plano interêssesprivados, não o conseguiram: Washington tinha ainda
Marshall. Stalin sabia que a colaboraçãoentre a América e os saté-
lites enfraqueceria seu monopólio sabre êles e Ihe abriria uma escolha algumas operações inortodoxas a ex-ecutar. Desta vez, tudo o.que
de mercadose lealdades". (Lcuis Fischer, rh= 1,í/e and Z)eaf/zof fizera na América Latina, nos idos de 40-41, parecia mesquinho
S/alfa, Harpa' & Brothers, Publishers, New York, 1952, pág. 235.) e aleatória, diante das maciças transferências de. capitais, por
//9
Ja l& .l. lb
cima das fronteiras, de Govêrno a Governos -- Q Plano Mar-
shall. Algo de pior, entretanto, aconteceu; iniciativa que pare-
cia extemporânea, só para atender a conjunturas excepcionais,
ç .;'"uuüx;:i$i H:l$
mentemesesdepoisdo artigo do New york Tlmegincriminado
se prolonga de aDOpara an?, de orçamento a orçamento, isto oelo' Sr. Henri Claude e depois das declarações impertinentes
é, acabainstitucionalizada.
Na ausênciade uma guerramesmo do Presidentedo ChaseNational Bank, W. A. Aldrich, de,que
contra as fontes do mal comunista -- a única saída lógica para ]a era diegado o m(nnenta de substituir os empréstimospubli-
a cruzada lançada por Truman pela sobrevivência do sistema cas pelos privados, que o Govêrno Truman se atirou nos inu-
da emprêsaprivada, à americana-- se viram os EstadosUni- sitados donativos, supremamente inortodoxos, .do Plano Mar-
dos ar;astados a responsabilizar-se financeiramente por todo re- shaU. A iniciativa governamental não era ditada por interêsses
gime que, pela periferia da Europa, pelasfímbrias da Rússiaou económico-fiiiancçims imediatos mas por motivos de alta p.o-
da China, se declarasseem luta contra o comunismo ou por êste
ameaçado. Os Estados Unidos, com o acordo do bfg busfnz:es
ou não, tinham, com efeito, de pagar o tributo pelas conse-
qüênciasdo fato incontestede se ter concentradoem um só país vo[ta da Nrp ]enmianade 1921, na URSS,.embora
as duaspolí-
(êles mesmos) todo o capital exportável. Isto os obrigava, qui-
sessem ou não, a defender o equilíbrio mesmo da economia
mundial. Já antes do Plano Marshall êles haviam aberto ao
Govêrno britânico créditos no valor de oito bilhões de dólares.i
E êsses empréstimos permaneciam em ordem do dia durante
ainda vários anos. Comunicação do Departamento do Comér-
cio calculavaque tais empréstimosiriam prosseguiraté alcan-
çar o montante máximo em 1950, no valor de mais de trinta
bilhões de dólares.2 O autor ora citado, economistamarxista, por
uma ortodoxia mal avisadarecusava-sea admitir a prática que
Washington ia inaugurar, dos grandes -empréstimospúblicos,. de
Estado a Estado. Para êle os Estados Unidos ''só concederiam
empréstimos de Estado de .grande envergadura a um. Govêrno
estrangeiro : a G-rã-Bretanha'i -- emplléstimo êste justificado am-
plamente pela importância primordial. que representava para: a
11:=%:ã=:.:,'g:nm:.: Bm$g'Çl$;
como o Plano Marshall e a estranhezados homens do blg bu-
realização dos planos americanosa evolução económica e política sizussamericanoem faca do Plano Marshall que não entrava
do império britânico no imediato pós-guerra. Mas, .acrescentava, nos seusplanos.la-se recomeçar,outra vez, as experiênciasroo-
'já na assinatura dêle insistia-se do carater e?pedal dêsses acor- seveltianas e o Estado continuaria a substituir os investidores
dos que não deviam constituir 'precedentes',pois. que os go-
vernos estrangeirosDão teriam mais recorrido aos bancos ame-
ricanos". Êle 'também acalmavade estupidezfalar-se como fêz
o ]Vew york Timef (6-9-1946), "de uma concorrência possí-
vel ent:.eo capital privado e os créditos do Estado. Washington
l FederalReserveBand,Monthty View of Credit alto BusinessCon-
dífion, agosto de 1946.
2 Ver Henri C]aude, ]VazzveZ.4va/zf Gzferre, T. 11, ocíA, ed., Paria, l Obra citada,pág. 55
1947, pág. 54.
]2/
/20
l
ram-se todos, então, contra a sua reeleição. O fato o obrigou a va em inquietaçõesde alto a baixo. Afinal, Fidel Castro surge
lutar pela reeleição numa campanha.eleitoral (mal apoiado pelos em Cuba. Era a revolução mesma que chegava ao chamado he-
bonzos de seu partido mas entusiàsticamente
sustentadopelo misfério ocidental,por cuja defesatanto se fêz e tanto se falou
movimento sindical da c. 1.0., ainda em ascensão no selo nos anos de guerra. O resto se sabe. A revolução em Cuba, des-
da massatrabalhadora)de extremoteor demagógico
no seu pertando esperanças por toda a América Latina, sobressaltou
radicalismo verbal; apreciem esta mostra, ainda de 1948: ''E os dirigentes dos Estados Unidos, abalando-lhesa convicção ou
agora contemplemoso grupo de homens que põem em perigo a crençaarraigadade que na América Latina tudo se resolvia
o futuro da democracia
nos EstadosUnidos,por meiode seu com palavras, jeito, alguns safanões e pouco dinheiro, e ela
poder económico concentrado". (Discurso de 25-10-1948.) : Sua continuava a ser o terreno fechado dos Estados Unidos. Kenne-
administração foi quase toda ela ocupada com os problemas da dy passoucomo um meteoro. A fase crítica da revolução cuba-
reconversão e empenhadanuma pré-guerra política, para a qual na também passou, desde o acordo para evitar a guerra ató-
considerações de ordem estratégica dominavam outra vez con-
mica entre Kruchev e Kennedy. A Europa restabeleceu-secom
siderações puramente financeiras ou económicas, de rotina. os maciços capitais governamentais americanos nela investidos,
A confraria dos Welch perdeu o rozzndcontra Truman. Mas voltando a ser uma dás regiõesprósperas do mundo. As tensões
continuou na luta e, fazendo o Partido Republicano de escudo, sociais e políticas dos primeiros anos que se seguiram à guerra
encontrou no generalíssimo vitorioso, Dwight Eisenhower, o seu amainaram. Nenhum país europeu ocidental teme o "perigo"
porta-bandeira:Com êle, enfim, voltava .ao poder, no qual, se comunistaou russo. (A não ser, talvez, a Espalha de Franco
não foram postos de lado com a chegadadc Roosevelt-- o e Portugal salazarino.) Os capitalistas americanos, afinal, a par-
que seria inconcebívelou de difícil explicação-- tiJlhamper' tir dos primehos êxitos do Plano Marshall, viram chegaro tão
dado a influência determinante. Kennedy galgou o poder numa esperadomomentode investir seus próprios capitaisna cobi-
nova hora de desassassêgo mas a duras penas. Roendo frustlla- çada península eurásica e se apoderaram de quanta indústria de
ções de todos êssesanos de pós-guerra, apesar da coplosíssima le- produção em massapudessem.Os capitais americanos ali inves-
gislação consultiva, deliberativa, optativa de seu sistema OEA, tidos hoje sobema pano de cinqüentabilhõesde dólares.E o
pelo qual os Estados Unidos passaram a poder interferir ."legal- fluxo de investimentosnão cessou.Agora, ao contrário,os ca-
mente' em todos os domínios da vida política, econâmiça,fi- pitalistas europeus temem ser despojados de seus próprios mer-
nanceira, diplomática, administrativa, militar, de c?da um dos cados pela força expansiva do capitalismo americano. Johnson
países latino-americanos, a América subdesenvolvida fermenta- pede que seuscapitalistas parem os investimentos, por motivo de
desequilíbrio no balanço de pagamentos dos Estados Unidos.
l Em seu discursode posse,no início do seu segundotêrmo,.a 20 Eis a normalidade,afinal, a normalidadetão esperadadesdeos
de janeiro de 1949,Truman, messiânico.
e vitorioso, usa uma lingua- dias abençoado.s de Calvin Coolidge, antes da catástrofe de
gem que lembra a do Dortavozdo big bzzsí/zes$
". . .os povos da.terra..
esperam dos Estados Unidos, como nunca o hão esperado, a boa von- ]929.t Eisenhower, sob vários aspectos, foi o Coolidge dos
tade, a força e uma chefia prudente.. ." Agora, ouça-sea voz de Leo
Welçh, em' 1946, a qual, sob vários aspectos-- tom, expressão,idéia IA normalidade para êles é quantificável. Em uma década, os in-
-- como que se antecipa à do próprio presidente ao tomar posse: vestimentos americanos na Europa sobem de 1,7 a 11,5 bilhões de
Esta responsabilidade é uma chefia. positiva e rigorosa nos assuntos dólares. Das mil firmas principais dos Estados Unidos, 800 têm filiais
do mundo -- políticos, sociais e económicos -- e deve ser assumida no europeias. A General Motora destinou 500 milhões de dólares para
mais amplo sentido do têrmo. Como o produtor máximo, a fonte investir na Europa. Ela quer aumentar sua participação no mercado
maior de capitaise o maior contribuintepara o...mecanismo
global, europeu de automóveis de 13% para 17% . Sobem a 525 milhões de
devemos marcar o ritmo e assumir a responsabilidade de acionista dólaresos investimentos
americanos
em produtosquímicos.Os fabri-
maioritário nessacorporaçãoque se conhececom o nomede mundo.= cantes de alimentos vendem agora na Europa 4 bilhões de dólares por
E isso não é por um determinadotempo de funções. É uma obrigação ano. A maioriaabsoluta(60%) dasanõessemdireito a voto de firma
permanente". (Cit. de Victor Perto, obra citada, pág. 180.) inglêsade automóveisestá agora nas mãos de Clnysler; mas também
122 /23
.â.
se sistema. como consumidor e como investidor. A defesa na-
nossostempos.Com a sucessão
de Kennedypor Lyndoii John- ciona! é nâo só um mercado ilimitado, mas um financiador ili-
son é, pràticamente, um novo republicano que sobe..à Casa mitado. O Estado consome,o Estado financia, financia e con-
Branca. 'Blg bzzsílzess
está satisfeito com o seu novo presidente. A
some, cumprindo a sua parte no mecanismo capitalista, inde-
América Latina, porém, não tem nenhumarazão de o estar. E
o Brasil, com a MarechalCasteloe tudo, não encontratambém finidamente, permanentemente,como no mofa corzf//zua. Dos
vinte bilhõesde dólaresgastos,anualmente,em investigações
e
motivos para estar. A "normalidade" dos grandes homens de ne- pesquisas de desenvolvimento pelas emprêsas privadas, uma par-
gócios dos Estados Unidos é o negócio .sem grandes homens
no Brasil e nos outros paíseslatino-americanos. Quer dizer, o te absoluta é proveniente de programas de financiamento do Es-
tado. As emprêsasinvestigam, produzem, enriquecem continua-
negócio mesmo. A Europa "!ormalizada" de hoje mostra, afinal, mente porque o Estado fornece grande parte dos capitais e con-
que mesmo o Plano Marshall acabou,sendo o.maior e o .melhor some grande parte dos capitais e consome grande parte dos pro-
investimento,a longo prazo, que já se conheceuna história
dutos. EssasemprêsassãÕ privadas quanto às finalidades lucra-
mundial do capitalismo.'0 Estadoé o principal instrumentodês- tivas. Diante dela-s,as emprêsasprivadas europeiassão peque-
nas organizaçõescapitalistas, como se ainda de uma época de
capitalismo de produtor-capitalista, ou no máximo de . monopó-
lio privado. Elas não podem sequer pensar em competir com os
grandes trustes para-estatais americanos. A competição de preços
é perdida de antemãoem campo. A competiçãoquanto à su-
aiiiericano. . .. .. . . .-.. perioridade tecnológica, quanto às inovações, não pode sequer
A vassalização da economia europeia ocidental vai em marcha ter início, tão intransponívela distância entre a criação de pa-
crescente. A França gaullista -- a mais sensível entre as nações. euro-
tentesno campoda produçãoamericanae a do campode pro-
dução européia. Em face daquela, esta é, nesse plano, uma pro-
dução po-r assim dizer indivÜua], artesanal. A Comissão fran-
cesa do Centro Nacional de Pesquisas que, de retarda à França
de uma viagemaos EstadosUnidos, pairou a estudaro proble-
ma, chegouà conclusãode que o ritmo das inovaçõesé ali tão
aceleradoque nenhumafirma nacional privada de qualquerpaís
diz: "Não podemos sobreviver a essa competição unilateral. Nossos
rivais norte-americanos
dispõemde mais de mil patentesmais do que
nós. A longo prazo, estamosfadadosa ser abs3rviiíos". E na ltália?
Os investimentossubiram nos últimos três anos de 50qo e atingem
agora 800 milhões de dólares. Das 100 maiores companhias italianas,
dez são controladas por americanos. A General Electric adquiriu toda
a divisão de computadores da Olivetti. A Espalha de Franco, antes
dêste passar suas insígnias ditatoriais a um príncipe. qualquer da.velha
dinastia. terá sido transformada numa estação subsidiária europeia do
capitalismo americano . Em suma, nunca hotlve negócios mais normais
que êsses investimentos, pois, ao que indicam estatísticas de. amostra-
gem, êles produzem retorno de 12%, ao passo que .no próprio país
atravessar umas poucas milhas na Bélgica .sem passar por uma..fábrica de origem é de 9% apenas. O grau de "normalidade"pode ainda ser
norte=americana.
' Benelux é o campo de investimento per capífa mais mais perfeito, já que em alguns casos tais investimentos chegam a
elevadoda Europa,com l bilhãode dólaresnumapopulaçãode .19 35qo ãe retorno. (Ver também Z)faria Cazíocízde 21/12/1965, José
milhões de habitantes. A Greyhound comprou.a .VAVO,uma companhia U
Auto .)
de ânibus holandesa. O chefe de uma indústria petroquímicabelga
}2S
/24
pode pensar em competir: Na competição, só firmas de dimen-
;ões internacionais, isto é, americanas, sobreviveriam. No ano
passado, a Fiança despendeu cêrca de quatrocentos e cinqüenta
milhões de dólares a mais por licenças industriais do que recebeu
por suaspatentes; a Alemanha, seiscentosmilhões; a ltália, cento
e setenta e seis milhões. As companhias americanas despendem
em pesquisase desenvolvimento,anualmente, dez vozes mais do
que toda a Europa ocidental. O /7afen/ gap não poderá tão cedo
ser vencido. Por isso mesmo, homens como Louis Amaud, o
perito reorganizador das estudas de feno da Fiança, dizem:
:'No ritmo atual as indústrias européiasfuncionarão cada vez
mais sob o regime de acordos com licenças estrangeiras,pa-
gando direitos; tornar-se-ãosubsidiáriasdas companhiasma-
trizes norte-americanas,
que lhes venderãoo seu #/zow/zow
(conhecimentotecnológico) e administrarão a produção êuro-
péia". Não há por onde fugir à supremacia americana, senão
içando à Europa uma estrutura sobrenacional em que haja pres-
sõesempresariais capazesde dar à Europa continental sua uni-
dade de produção indispensável pelas proporções e pela as- \.../ povo AMERICANO vivia alheado aos problemas inter-
sistência e participação direta do Estado europeu numa política nacionais, amargurado com as próprias dificuldades da depres-
económica global planejada e racionalmente social. A Europa são, avêssoa qualquer ideia de intervenção política no embrog7fo
não tem escolha entre ser vassalapolítica e social e economica- europeu, enquanto Frank]in ])dano Roosevelt preparava o país
mente subsidiária dos Estados Unidos ou um sistema autónomo, para entrar em guena contra o Eixo. Por isso mesmo, êle dedi-
na b-asede uma economia superior suscetível de ser a ponte en- cou seusprimeiros esforços a garantir entre os vizinhos do sul
tre a -economiacapitalista ainda privativa americana e a econo- do Continenteum flanco seguro ante qualquer surprêsa,sobre-
mia pública socialistada Rússia e aliados. Esta é a verdadeira tudo da Alemanha.Apresentou-seentão como o bom vizinho.
tarefa "ocidental", e não fazer guerra ao Vietnã (do Sul ou Êle tinha consciência,desdea ascensãode Hitler, que o destino
do Norte) , perseguir Cuba e colonizar o Brasil. das Estados Unidos era participar da guerra ainda mais uma
vez. Aliás, antes de pegar em armas contra Hitler, pregou pela
palavra, incessantemente,uma espécie de cruzada antitotalitária.
À medida que o mundo ocidental ia sendo avassaladopela vaga
nazi-fascista,quase que país por país, a palavra do Presidente
dos Estados Unidos se tornava mais patética. A Espalha foi a
última batalha'-- e decisiva-- perdida pelas forças democrá-
ticas de esquerda e do mundo todo que para lá acorreram lutar
ao lado dos republicanos,do povo trabalhador,.em suma,contra
a frente única de nazistas, fascistas, conservadores e mercenáirios
de Franco. A guerra, como era-de esperar, se seguiu quase que
naturalmente à derrota da revolução espanhola. A situação, como
que marcada pelo destino, se encaminhava inexoràvelmentepara
o desastre final.
}26 /27
O nazi-fascismo não levantava a cabeça apenasna Europa, Brasil que, em compensação,era o País continental com balança
mas também na Amédca Latina. A Alemanha era uma amea- comercial mais favorável em relação aos Estados Unidos. Nessa
ça não só militar mas sobretudo política a vários países latino- atmosfera, reulliam-se em Washington, para conversações, ex-
amedcanos,à frente dos quais o Brasil. portadores norte-americanos, representantes brasileiros e o De-
partamentode Estado. Ainda era março de 1939. O Export-
Quando Getúlio . Vargas decretou o chamado "Estado
Novo", em 10 de novembro de 1937, já em 23 de dezembro,em Import Bank põe à disposiçãodo Banco do Brasil uma soma
que não devia excedera $ 19 200 000, destinadosa pagar
face das dificuldades cambiais e da queda dos preços do café, saldos congelados devidos a exportadores norte-americanos.
instituía, com a suspensãodas dívidas (para negociar depois seus
Os americanos pareciam de uma generosidade surpreendente,
reaju-stes), o monopólio do câmbio. As medidas tomadas desa-
gradavam profundamente a Washington, ainda mais somadas
L pois, além do empréstimo mencionado, estudariam a possibili-
dade de outro crédito de cinqüenta milhões de dólares, emprés-
às excelentes relações políticas e comerciais que o Govêmo bra-
sileiro mantinhacom a Alemanhahitleriana.O Ministro cousa timo a cinco ou dez anos para promover o desenvolvimentoeco-
nómico do Brasil. Prometiam ainda, caso o Brasil o desejasse,
Costa explica: "Em fhs de 1937, dava-se a depressãoeconó- pedir ao Congresso autorização para pâr à disposição do Go-
mica mundial (?). Com ela coincidiu, no nossoPaís, a inadiá- vêmo b:.asileirooutros cinqüen(a milhões em ouro a serempagos
vel necessidade de alteraçãoda política do café. A situaçãode com a futura produçãobrasileira dêssemetal.a Tambémse
câmbio agravava-se, forçando a suspensãoda dívida externa.
chegava a acordo para liquidar os fundos bloqueados e devidos
Em neiüuma hipótese,o Govêrno agiu exclusivamente(síc) por a norte-americanoscom inversõesdiretas no Brasil, nc} valor de
influxo de doutrina, mas com o alto escopode evitar o sacrifício dezoito milhões de dólares. O acordo ver-sovaprincipalmente sa-
dos interêsses do País".t
bre as relações comerciais e sabre o estímulo às inversões diretas.
Em junho de 1939, Roosevelt pedia em mensagemao Con- A parte relativa aos compromissosdas dívidas públicas do Es-
gresso um crédito de quinhentos milhões de dólares, a curto e tado brasileiro, além de uma forma de ajuste permanentedelas,
longo prazos, a governos estrangeirospara promover o comércio deixava ao Conselho de portadores de títulos entenderem-sedi-
intemacional, a serem "gastos nos Estados Unidos e empre- rêtamente com o Govêrno brasileiro.
gados no desenvolvimento e reconstrução dos países tomadores Osvaldo Aranha, então Ministro das Relações Exteriores,
do empréstimo'l. Nessa mensagem,êíe opas aos empréstimoses- de volta da reunião, declaravanão ter o Brasil nada prometido
trangeiros da década de 20 a sua proposta de empréstimos co-
merciais "sólidos", a fim de aumentar a exportação para a Amé- nem o Govêrno americano pedido alguma coisa. É o caso de
rica Latina, taxandode "velhasfraudes" os títulos em dólares se perguntar: para quem Osvaldo Aranha fazia essasdeclara-
ções?Para a opinião brasileira inquieta? Quanto às velhas dí-
que se achavam em mofa.2 O Congressonão atendeuao pedi- vidas, comunicou a disposição do Govêrno brasileiro de reatar
do; muitos de seus membros defendiam as velhas dívidas. SÓ
o pagamento de juros em escala reduzida e mediant-enegocia-
bem mais tarde, quando a Alemanha ia dominando a Europa, o
çõesdietas com os portadoresde títulos. "Todo mundo sabe"
Congressocorreu a aprovar as proposiçõespresidenciais.Já era acrescentava, :que sou partidário, em princípio, do pagamento
a guerra plena -- 1940. Sob inspiração do Secretário de Estado das dívidas públicas e creio serem os comunistas os únicos par-
CÓrdell Hull que se furtava a qualquer ação bilateral na solu-
ção do problema das dívidas, foi estabelecidoo Programa dc r tidários de repudiar as dívidas."z
Acordos Comerciais.Entre os devedoresmais difíceis estava o O Ministro da Fazendado PresidenteVarias, em seulivro,
conta, por sua vez, um pouco saltitantemente,êssesepisódios.
l Sonsa Coaxa, Panorama Financeiro e Económico da República,
n.l.p., 1941, pág. 98. l Feuerlein e Hannan, obra citada, pág. 60. Êles dão como fonte
2 W.-Feuerlein e E. Hannan, DÓ/arese/z la .4merica l,afí/za, Fondo de Foreign Bondholders Protective Council, Annual Report, 1938, pág. 166.
Cultura, Méxíco, 1944, pág. 64. 2 Z.afí/z .4merfcan Fina/zcía/ News -- 14 de abril de 1939.
}
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"Em compensaçãocom muitos dos principais bancos america- que comer produtos sul-ammicanos e não somos bastantespara
nos, o Expert-lmport Bank nos proporcionou, desde logo, uma comê-los". E para que isso se tomasse possível propunha abri-
operação de US$ 19 200 000 a cur'to prazo -- como mais nos rem-se as portas de seu país a nova vaga de imigrantes europeus
convinha: dois anose a juros módicosde 3,6% ao ano O líqui-
do dessaop'oração,
hoje reduzidaa US$ 7 681000, cuja últi-
+ que viriam executar uma nova industrialização, para que dessa
nova industrialização surgisse um novo mercado mais abundan-
ma prestação se vence em novembro de 1941, foi empregado em te, capaz de "comer" os produtos latino-americanos. Feuerlein
consolidar definitivamente nossa situação de comércio importa- e Han:nan,que con.tamo episódiocom todo bom sonsa,obser-
dor, principalmente porque antecipamos todos os contratos de vam: "seria mais prático fazer a corrente imigratória dirigir-se
de câmbio a vencer-se''.: A operação foi assentada em março diretamente à América Latina, eliminando o intermediário no
de 1939 emWashington.A 8 de abril do mesmoano,o Govêrno 'q} programa de "coma você em benefício da solidariedade".i
brasileiro decretava"a volta ao regime de câmbio livre", ''tão Washington tem um objetivo: impedir que a Continente la-
pronto", explica o ministro, ''se modificaram as condiçõesque tino continue ligado a "potências estranhas" (Alemanha), e por
nos obrigaram a estabelecero monopólio".2 Ainda em setembro isso faz frent-e aos problemas dos excedentes de exportação, pro-
do mesmo ano, visitando o Brasil, nana o ministro, o Presidente curando facilitar as relações monetárias e cambiais com as re-
do Export-lmport Bank, Sr. Wanen Pierson, "concedeuao Ban- pública-slatinas e se esforça em cooperar com elas para lhes de-
co do Brasil novo crédüo de vinte e cinco milhõesde dólares, senvolver os recursos.
rotativo, utilizável em parcelasde cinco milhões e .juros Je Em setembro de 1940, o Govêmó consegue, vencidas as re-
3,6%o" para "acaso viéssemos no futuro necessitar para manter sistênciasprivatistas do Congresso,remodelar o Export-lmport
e consolidar a situação". A respeito, todo eufórico, o Ministro da Bank, aumentando-lhe a capacidade de crédito e autorizando-o
Fazendado Estado Novo diz: "operaçãoque sabre todas as a estender os créditos para além da-s exportações americanas,
vantagens vale como expressão da boa vontade e espírito de quer dizer, para financiar também o desenvolvimentoda produ-
cooperação do país amigo".3 Assim, graças ao Exp-ort-lmport ção industrial da América Latina. Sintomáticoé que -- bem o
Bank o Banco do Brasil "liquida todos os atrasadosdecorrentes salientam os autores aqui já mencionados -- no mesmo dia
de remessasem suspenso de lucros e dividendos". A posição mo- em que Roosevelt anunciava a remodelação do banco, o Admi-
netária do Brasil torna-sesólida, arremataêle, pois além de dis- nistrador dos Empréstimos Federais, Sr. Jesse Jonos, comuni-
por no exteriorde vinte e uma toneladasde ouro, semcontar cava o acôrdo com o Govêrno brasileiro para explorar os depó-
os saldospertencentesao Banco do Brasil, "depositadas em ban- sitos de feno do Brasil. Já é o empréstimo para Volta Redonda.
queiros" (?), conta, depositadosno Banco do Brasil e na Casa É o primeiro financiamento que o Govêrno americano faz para
da Moeda,com trinta e uma toneladas,701 quilogramase 495 fundar uma indústria de aço em país estrangeiroe nãa para
gramas d-e ouro."' americanosprivados, ma-spara um empreiteiro público, o Govêr-
Em 1940, os EstadasUnidos tinham que absorvermilhões no brasileiro.É sensacional.
As jazidasde ferro do Brasil sem-
de toneladasde trigo, milho, sementede linhaça, centenasde pre mereceram as atenções de potências estrangeiras. Já em
milhares de toneladas de carne, lã, couro, dos quais já são pro- 1937 a Alemanha e o Japão, demonstrandopositivo interêsso
dutores, de outros vizinhos bons do sul, quando já não podem estratégicopor' elas, teriam chegado a propor ao Govêrno bra-
sequer absorver todos os excedentesde produtos tropicais como sileiro de então assumir os encargos para a construção de urinas
café e açúcar. Por e-ssaépoca, a grande jomalista americana Do- de aço no B.rasil,em troca, porém, do monopólio do aço.aVar-
rothy Thompson,perplexaem face do problema,dizia: "temos 1 Feuerleine Hannan,obracitada,pág. 132.
l Sousa Costa, obra citada, pág. 105 2 Behrendt, em 7/ze Tofalífarfan 4ggresioriP a respeito informa: "A
2 Idem, pág. 97. despeito de um isolamento forçado pelo bloqueio, a Alemanha mostrou
3 Idem, pág. 106. interesseativo nas negociações
para instalar urinas de aço no Brasil em
4 Idem, pág. llO. 1940. Primeiramente, os nazistas se ofereceram a iüontar uma urina e
130 /3/
gas não ousa aceitar a proposta. SegundoChamisso, que dá essas Êsse simples motivo é mais plausível. Foí, provàvelmente,
informações, em seguida à recusa, procurou o mesmo. Govêrno, dia=nte das tentativas infrutíferas do Govêrno b.rasileiro e de
em 1938 (ano mesmo em qud Vargas esmagou o golpe inte- alto.sfuncionários americanos de encontrarem capitais privados
gralista), a United StatusSteel Corp. convidando-aa vir an
Brasil. O próprio Sr. Stettiniusaqui estêve. Peritosda empre- t dispostosao risco que o Govêrno dos Estados Unidos assumiu
os encargospara a vasta operação.Como se sabe, o Govêrno
sa estiveram in loco a examinar as jazidas e, segundo o mesmo americana concedia o crédito de vinte milhões de dólares a se-
informante, teriam mostrado grande entu-siasmo pela qualidade rem somadosà parte do Govêrno brasileiro, de vinte e cinco
do nossominério, chegandoaté a admitir que o carvão santaca- milhões.O Export-lmport Bank ficava com a prioridadesabre
tarinense, embora de qualidade inferior, poderia ser utilizado. o haver da emprêsae com a faculdade de supervi-sarsuas opera-
"No último momento, porém, a U. S. Steel recusou em razão ções. A assistênciatécnica americana deveria ser dada. Todo o
da situação internacional".x
''F
equipamen'tonecessárioteria de ser adquirido nos EstadosUni-
Na realidadea U.S. Steelnão estavainteressadaem um dos. O empreendimentomarca uma data nas relaçõesinterame-
empreendimento dêsses, nem nos Estados IJnidos nem muito ricanas. A cooperação entre Estados para a con-struçãode uma
menos no estrangeiro, no longínquo Brasil. Às voltas internamen-
te como problemade excedente
de capacidade
produtiva,re- já era evidente cedo no outono de 1940. Uma escassez de 4 milhões
sistindo à pressão de seu próprio Govêrno para que aumentas- de ferro guia, lâminas de aço e estruturasera prevista no relatório do
Escritório de Pesquisase Estatísticas,de StacyMay, na N.D.A.c.As pla-
se essa capacidade de produção a fim de poder atender às novas cas de aço e as estruturaspesadaseram um'l necessidadepara um pro;
encomendas governamentais para as necessidadesde armamento, gramanaval de dois oceanos. A indústria de aça opunha-seentretanto
não tinha ela realmentenenhum motivo para investir no Brasil. à expansão". Seu porta-voz na Comissão de Defesa do Senado, um Sr.
Feuerlein e Hannan dão versão ligeiramente diferente de sua re- Tower, afirmava: "A indústria de aço não prevê nenhuma necessidade
cusa. O Govêrno brasileiro tentara durante meses encontrar ca- de qualquer adição extensiva na sua capacidade". Se apareceremmu-
danças nas condições e surgir "uma necessidade urgente de entregas
pitais nos EstadosUnidos para monta:ruma urina de aço, na aceleradas . . . poderia superficialmente parecer necessário expandir a ca
base das jazidas de ferro de Minas Gerais. A U.S. Stee], depois pacidadeprodutiva como medida de emergência". Mas, acrescentava,só
de realizar uma investigaçãosabre a idéia, chegaraà conclusão superficialmente,
pois que "em tais circunstânciasseria muito mais prá-
de que os riscos implicados num investimento do tipo requerido tico suprir as necessidades do govêrno cortando temporàriamente nas
formas menos vitais de consumo". O Sr. Stettinius que deixara a pre-
eram demmíado gra/zdesapara que uma emprêsaprivada pudesse sidência da U. S. Stee] $ãra ser chefe da ])ivisão de Prioridades, acei-
corrê-los. tou o relatório Tower, rejeitando o do Bureau de PesquisasEstatísticas.
Stettinius foi, porém, compelido a encomendar novo relatório a um
depois propuseram transferir parte das urinas de armamento Skoda da elemento de sua repartição, Sr. Melvin de Chazair, que concluiu haver
Tchecoslováquia para o Brasil, em troca de matérias-primas". (TÀe escasseziminente. Stettinius ordena um quarto relatório pelo Sr. Gana
Economia De/e/zsc of fÀe }resfern ]lemíspAere, Washington, D. C., pág. Dunn, a respeitode quem o }raJ/ Sfreer Jozlnzal,a ll de janeiro de
128.) Assim, a Alemanha volta à carga em 1940, talvez para sabotar 1941, escrevia: "Os representantesda indústria !!qui exprimiram a - es-
o gesto dos Estados Unidos. perançade que o relatório do Sr. Dunn será mais favorável ao ponto
1 Chamisso, obra citada, pág. 181. de vista da indústria que os relatórios anteriores". E, finalmente, os
2 A U. S . Steel provàvelmente nunca estêveinteressada em criar qual- jornalistas Alsop e Kintner, pelo J7era/d TNZ)z/ze de New York, expressa-
quer usína de aço no Brasa, ou algures. Sobretudo tendo-seem conta vam o verdadeiroponto de vista da indústria de aço, nessestêrmos:
a preocupação que a dominava desde 1929: não voltar a ter capacidade "Os homens mais práticos do aço preferem esperar no futuro por um
produtiva sem mercado . Desde a crise, sua filosofia, como a das outras tempo de escasseze de preço inflacionário". (Cit.: por 1. F. Stone,
grandes corporações, passou a cultivar a escassez e não a superprodução Busf/zess
as Usual, Ã/odern 4ge Books, New York, 1941,pág. 149).
relativa. Êssefato, que causou escândalono país, provocou a formação Assim, quando o mesmo Sr. Stettinius estêve no Brasil para examinar
da comissãode investigaçãopresididapelo senadorTruman, para estu- o projeto de construir uma urina de aço no País, em sua mente,tudo
dar a necessidade
da mobilizaçãoda produçãode guerra.A propósito,o indica, concepção diferente Ihe ia trabalhando, em correspondência,
jornalista 1. F. Stone, que estudao problema a fundo, escreveu: "Que a porém, com a de seus outros colegas mais práticos, que alimentavam
capacidade de aço seria inadequada para a defesa e as necessidadescivis antes a expectativade escassez,com inflação de preços
132
urina de aço, até então dogmàticamenteconsideradacomo pre- acordo de quatro anos. O Equador estava, ao que parece, perto
cípua iniciativa de.capitais privados, abre um precedente perigoso demaisdo Canal do Panamá,o que para os americanosnão era
para as futuras i'eivindicaçõeslatino-americanas. A brecha aber- então confortável.
ta no muro do capitalismo
privadoé inegável.
Ela indicacom "Os latino-americanos, pret-ende Horace B. Davas, estão me-
clareza meridiana que só capitais públicos, iniçiativas públicas, nos persuadidos que os americanos do norte dos perigos do Eixo.
a que por vezes $e associam capitais privados, podem romper o É que, demonstra êle, se Natal é relativamente perto de Dakar,
subdesenvolvimento e instalar a grande indústria pesada na Amé- não é contudo mais perto dos EstadosIJnidos que a Espalha.
rica Latina. A propósito dessa transação única e generalizando Um poder hostil em Natal, ou mesmono Para, que pretenda
sabre .a situação, Chamisso observava: "Na época mais pro- atacar o Canal do Panamá, terá uma tarefa dificílima. Um exér-
fícua de cooperaçãofinanceira americana, 1939-1942, o emprés- cito invasor teria de galgar as montallhas ocidentaisda América
timo privado ficou atastcido;os empréstimosintergavertumatltais do Sul e poderia ser fixado e detido por um poder militar de
precbmfnzicmde modo abw/üío, trate-se do sustento monetário segundaordem. Em outras palavras, qualquer poder que quiser
a curto prazo ou de desenvolvimentoa longo prazo (Volta Re- invadir os EstadosUnidos terá de vír primeiramentepor água.
de)nda).No último, é de notar o laço estreitoentre a coopera- Enquanto a Marinha americana fâr forte bastante para prevenir
ção financ.eira e técnica". E acrescenta: "A cooperação finan- um desembarque hostil tanto ao norte quanto à América Cen-
ceira .apareceu freqüentemente ligada a uma contrapropaganda tral e às Caraíbas, o :terütório continental dos Estados Unidos
que visava ao Eixo".l Percy W. Bidwell, no prefácio aolivio de nenhum perigo cone".i
Feuerleine Hannan, acentuavacomo "o fato novo de mais im- Essas conclusões militar e geogràficamonteexatas não
portância que afetará a corrente de capital para a América Lati- esgotavamas implicaçõespolíticas e sociais da questão. Era
na.nos anos de pós-guerra será a participação dos governos dos claro que os Estados Unidos só podiam ser invadidos por água.
passe-s credores nas atividades de empréstimos. . . Mas serão Aliás, nessesentido um eminente cientista, insuspeito aos ameri-
necessáriasinversões muito maiores em campos que não dão canos e ao Govêrno de Washington, o Sr. Eugan Staley, ao de-
provàvelmente um rendimento imediato capaz de atrair capital molir a ''mito do Continente" e o "complexo de Hemisfério
privado": Até hoje, além de Volta Redondapouco se fêz em Ocidental'', corrobora o que diz Davas. O problema da unidade
virtude da mesma causa: sabotagem dos capitais privados desin- mítica do hemisfério merece tratamento à parte. É o que faremos
tere!.gados: A propria veleidade da Aliança para o Progresso mais adiante.
de Kennedy. foi dissolvida pela ação dos mesmos grandes inte- Ü
rêssesprivados.
Se Washington começavaa abrir a balsa para créditos e Na época da guerra houve verdadeira excitação, nos círculos
empréstimos, em compensação pedia alinhamento dos governos oficiais e interessadosdos Estados Unidos, para assegurar a in-
a quem servia em dólares; pedia bases, bases aéreas e navais; tegraçãoda América Latina ao complexo continental americano:
as missões militares americanas se instalaram por todo o Conti- a Alemanha desafiava WashiDgton, camercüZmam/e,politicamen-
nente, principalmente na América do Sul e notadamente no Bra- te, em toda a 4mérica Latina. Não havia tempo a perder. Sob
sil. A tragode créditos,o Equadoré convidadoa substituira
litüa aéreaalemãque Ihe serve,a Sedta,por uma linha ame- linha aérea a organizar-se na América do Sul. A Condor operava no
ricana,2e a aceitarforçasamericanas
para a suadefesa,num Child, Argentina, Uruguai, Brasa. O Lóide Aéreo Boliviano, na Bolívia,
a Lufthansa, no Peru, e a Sedta, no Equador, propiciaram à América do
1 Chamisso, obra citada, pág. 186. Sul uma rêde aérea que, através a Lufthansa, se estendia.à Europa. A
2 "Os alemães foram de decisiva imporâtncia no desenvolvimento dos maioria dessas linhas eram subsidiárias da Lufthansa.(Commercfal
transportesaéreosna América do Sul. A Scadtafoi fundada por antigos ,{viafion in file Repubiics of l.atin .America, Commercia! Pan Ámericalt,
pilotos de guerra alemãesque, logo após a Primeira Grande Guerra, n.o 89, outubro de 1939.)
iniciaram um serviço comercia! aéreo na Colâmbia. Foi a primeira l Horaçe B. Davas,obra citada, pág. 30.
134
a pressãodos acontecimentos,
o Cone.tesoaprovouuma lei que Os Estados Unidos tomam cedo consciência do perigo.
autor.izava
o Presidente
a mandara GuardaNacionala qual- SegundoPepin, os americanos resolvem contra-atacar a ofensi-
quer. parte das Américas onde houves-se perigo de penetração va comercialalemã,no Brasil, já em meadosde julho de 1937,
nazista. A lei, como era de se esperar, chocou a opinião de toda quando abrem ao País um crédito de 60 milhões de dólare-s,para
a América Latina. Na realidade,o Presidentenão poderia fazer restaurar suas finanças e fazer estancar a expansão do comércio
uso da lei, que violava em cheio os convênios pan-americanos de trocas com a Alemanha. Essa operação se realizava precisa-
aprovados e a solene declaração de não intervenção por parte mente no momento em que a Alemanha tomava o primeiro lugar,
de Tio Sam. Os alemãesativosno extremosul do Continente
levantavam protestos e conseguiam algumas simpatias em gru- 8%, enquanto a importância dêsse. comércio .global, permanecia esta-
pos restritos militares e oficiais. Chegou-sea dizer, em várias cionária 'em 6.7%: 'xna Grã-Bretanha decrescia fortemente, de 7,9%
a 4.99u e nos Estados Unidos subia de 8,5% a 11,4%. (J. F. Normano,
capitais latinas e em Washington, que a política nazista na Amé- T/ze SrrüggZe/or Soldra.4meríca, Boston e Nova lorque, 1931, pág. 32).
rica Latina visava a provocar a intervenção americana ali.' Behrendt, comentando êsse esforço da Alemanha após a derrota
Davasdá a informação citando o ]Vew york Tf/7&s de 9 de feve- na Primeira Guerra, de conquistar o comércio com a América Latina,
reiro. A política alemãcontinentalnão se limitava, é claro, a observajustamenteque é tanto mais de admirar -- considera-oespe-
tacular -- quanto não era apoiado numa política de empréstimosa
gestosde provocaçãonem a influir o-sEstadosUnidos a toma- longo prazo, como era o caso dos Estados Unidos, cujas exportações
rem medidas unilaterais capazes de ipcompatibilizá-los com a paraa AméricaLatinano correrdo períodode prosperidade
foram
opinião latino-americana. Graças à técnica do comércio bilate- amplamente ajudadas pelas concessões mtlito freqüentemente liberais
ral de trocas, os alemãesconseguiramem 1938 absorver l0,5qo demais de empréstimos para fins públicos às repúblicas latino-ameri-
do conjuntodas exportações
da AméricaLatina, em face de canas.(Richard F. Behrendt, T&e Toralfrarían .4ggresiors, pág. 114.)
16.89o da Grã-Bretanha. E forneceram no mesmo aDOcêrca de Depois do colapso geral de 1930, a Alemanha conheceoutro "re-
nascimentoespetacular"(Behrendt) do comércio com a América La-
17,1% do conjunto das importações latino-americanas, contra tina, a partir de 1934, já sob o regime nazista. Behrendt dá essas
a Grã-Bretanha que exportou 11%o das compras externas dos cifras em percentagens
dos paíseslatino-americanos
em relaçãoàs im-
nossos países.' portações e exportações totais com a Alemanha, entre 1912 e 1938:
importações de origem alemã por países -- Brasil, 1910-1912, 17; 1938,
l Os alemães, como era de se esperar, nunca perderam uma ocasião 25. Child, 1927, 14; 1938, 25,8. Colõmbia, 1913, 16; 1927, 9,5; 1938,
para soprar nos ressentimentos latino-americanos contra os Estados Uni- 17,3. Uruguai, 1912, 15; 1925, 11,5; 1938, 16,4. Quanto às exporta-
dos e nem sempre o que diziam era falso. A propagandadêles era in- çõespara a Alemanha:Brasil, 1912, 14; 1938,19,1. Child, 1927,6;
tensa em toda a América Latina, através jornais, revistas, clubes, fes- 1938, 10. Colâmbia,1913, 8; 1928, 1; 1938, 12,9. Uruguai, 1912,
tas, filmes. Seu ponto central era mostrar que aquela nada tinha a 18,4; 1925, ]5,6; 1938, 23,5. (])ados: Clarence F. cones, Commeme
ganhar numa aliança(subordinação) com Washington. A Alemanha o/ Soam ..4merfca (Boston, 1928) e t/ptíão Pa/z-.4meríca/za.) (Behrendt,
tinha mais a dar que os EstadosUnidos. Behrendtcita, a propósito, obra citada, pág. 114.) Em 1913, a Alemanha fornecia 16,55qodo
uma declaraçãoem }l/elfwírfsc/za/f,publicação mensal de Wirtsçhaftliche total das importações da América Latina, enquanto a Grã-Bretanha
Geselschaft, Berlim, dezembro de 1938, muito típica: "É segrêdo aberto fornecia 24,42%. De 1921 a 1930, a Alemanhíl forneceuuma média
que os norte-americanos sempre consideraram os Estados vizinhos do de 10,01%.Nos anosde 1936-1938,
pela primeiravez na história,e
sul como região colonial. A dominação americana, atualmente desman- durante três anos de rivalidade comercial sem quartel, a Alemanha
telada graças ao nacionalismo despertadodaqueles Estados,tem agora conservatenazmenteo segundolugar, fornecendo 15,4, 15,4 e 17,1%
de ser reconstruída. Êste propósito se revela por uma consideração obje- das compras latino-americanas,enquanto a Inglaterra recuava.de 14,5
tiva do desenvolvimento real das relações comerciais entre os Estados em 1936 a 12,6 em 1937 e a 11,6qa em 1938. (Lew B. Clark, Com-
Unidos e a América Latina. O programa do secretário de Estado HuJI peting for hein American Market, Annals of the Ámerican. .4cade.my
tem sido tal que as compras dos EstadosUnidos no Continente sul-ame- o/ Po/Ifica/ and Social ScfePzces, vo1. 21, setembro de 1940.)
ricano nem mesmo igualaram as vendas dos EstadosUnidos naquela (Behrendt,obra citada,pág; 115.)
região. Isso significa na prática um débito continuamente crescenteda Os ganhos da Alemanha foram feitos à custa da Inglaterra e. da
América Latina aos Estados Unidos". (Behrendt, obra çit. , pág. 125.) Fiança. O.s dos EstadosUnidos não foram afetadose, ao contrário,
2 De 1913 a 1928 o volume de negócios com a América Latina em continuavam a subir e quase na mesma proporção que os dos alemães.
relaçãoao comércioexternototal da Alemanhacrescerade 6,8% a De 1932 a 1938, a Alemanha exportava para a América Latina, em
}36 /37
isto é, o lugar. dos Estados Unidos, como fornecedor do Brasil. mente, senhora das r\las no Rio de Janeiro,t numa imitação,
O Ministra cousa Costa, no seu livro aqui já citado, informa do uniforme aos processos, iZogans e gestos, do nacional-socia-
que chefiada em meadosde 1937 uma missão económicaa lismo alemão. Há paralelismos curiosos entre os movimentos na-
Washington, onde firmara com o Govêrno americano "um acor- zistasnas ruas de Berlim que precederama subida de Hitler e
do pelo qual êstese comprometiaa venderouro metálicoao os movimentos integralistas que precederam o golpe getuliano
Govêma brasileiro, podendo à base de garantia dêsseouro serem de 10 de novembrode 1937. Os integralistasdesfilaramfarda-
realizadas operações de crédito quando o entendêssemos con- dos diante do Palácio Guanabara, em frente a Getúlio Vargas,
veniente. Utilizando a faculdade dêsse acorda, o Banco do Bra- que lhes fêz a saudação integralista.z Em Berlim, dias antes da
sil converteuuma parte de suasdisponibilidadesem poder dos ascençãoao poder dos nazistas, suas milícias penetraram o Wed-
bancos seus correspondentes em ouro metálico que se acha de- ding, o famoso i-eduto operário vermelho, desfilando na própria
positado no Federal Reserve Bank."i Deve ser essa a operação Alexander Platz, onde se situava a sededo Partido Comunista
a que Pepin se refere. A posição mais importante da Alemanha
na América Latina era o Brasil, ao lado da pequena Guatemala, l Em São Paulo uma frente única de todas as esquerdasconvocoua
cujo comérciosubia 265% em cinco anos,conformeinforma massa
trabalh?.dou
parao Largoda Séa 7 de outubrode 1934e
Guenther em in.çfde Z,aff# .4merica. Durante alguns anos a Ale- dispersouas milícias integralistas em parada militar armada visando a
manha estêve à frente na lista das importações brasileiras, coisa intimidar os operários e sindicatos, segundo a técnica usada pelas mi-
lícias fascistas e nazistas da ltália e da Alemanha. Houve então mor-
que se deu tambémcom o Child. Já na segunda
metadede tos e feridos. Desdeaquêledia, porém, os integralistasnunca mais
1938, depois da posição da Alemanha ter melhorado na primei- ousaram desfilar pelas ruas de São Paulo. (Ver jornais da época, so-
ra metade do ano, os americanos retomavam o primeira; lugar bretudo de São Paulo.)
(os empréstimosdo ano anterior e do início do ano explicam 2 Hélio Sirva, a propósito do episódio, testemunha:
em parte a reviravolta verificada em favor dêles). "Em seu encontro com Plínio, Vargas teria pedido uma demons-
O momento político vivido pelo Brasil então na e.sferana- tração a seu favor. Ou Plínio espontâneamente Iha oferecera. Porque
ambos procuravam iludir-se reciprocamente. É dessa intenção que
cional corresponde na esfera internacional a uma luta de acesa nasce ! parada dos cinqüenta mil. É possível que Getúlio contasse çom
rivalidade entre a Alemanha nazista e os Estados Unidos roo.- o desfile para impressionar os seus generais, mostrando-lhesque no
seveltianos. Há coincidências perturbadoras. Quando a influên- Exército e na.Marinha alguns milhares de oficiais saíam dos quartéis
e vinham saudá-lo, como um César, à varanda do Palácio Guanabara,
cia alemãem ascensão ganhapmição hegemónicano intercâm- onde se postavama seu lado o chefe militar da Presidência,general
bio com o Brasi], a estrêla da Ação Integralista sobe em flecha José.Francisco Pinto, e o fiador do integralismo, general Newton Ca-
nos céus políticos do País. Em 1937, a Alemanha ocupa o pri- valcânti, comandante da Vila Militar. Um observador arguto notaria
meiro lugar entre os exportadorespara o Brasil. A 10 de no- que não tinham comparecidoos generaisEurico Dutra e' róis Mon-
vembro do mesmo ano é o golpe instaurador do Estado Novo, teiro. . . Era.o ].o de novembro de ]937. O contingente da Marinha aguar-
dará o desfileenchendotodo o largo trecho que vai do Arsenalda
de inspiração ideológica francamente nazi-fascista. A prepara- Marinha à Avenida Rio Branco com o azul dos seusuniformes. Os
ção do golpe de Estado foi sustentada,publicamente, pela Ação militares desfilaram fardados e o restante dos integralistas, enquadrados
Integralista, militarizada, uniformizada, mobilizada permanente- nas suas classificações:Câmara dos Quarenta, Câmara dos(quatrocen-
tos, Núcleos, etc. etc. Homens e mulheres, velhos e jovens. Pareciam
os donos da terra.
marcos (Reichmarks) 235000000 no primeiro ano e 625000000 no O desfile integralista, enchendo a cidade da onda verde e sonora,
último. Na n'esmo época, os Estados Unidos exportaram para o mes- tornou-se um episódio do passado. . . Vergas o utilizara como o back-
mo destino: $220200000 e $564000000. A propósito dêsse desen-
groz/ndde uma nova-realização -- o 10 de novembro. Enquanto o País
volvimento, Beh'endt transcreve,aprovando-a,essa afirmação de amanhecia
surprêsasob o domínio de uma ditadura que duraria oito
Clark: "0 recorde da competição alemã na luta das nações do mundo anos e os mandatários do povo viam desvanecer-se,como a fumaça de
industrialpela rica prêsados mercadosda AméricaLatina é mais es- um cigarro,. os seus mandatos de deputados e senadores, os homens de
petacular que o de qualqueroutro país". (Obra citada,pág. 115.) camisa verde desiludiam-se de tomar o poder." Flélio Salva, "Rapsó-
l cousa Costa, obra citada, pág. 102. dia Verde em Cinco Ates'', Tríóüzzada /mprelzia,janeiro 1960.
138
dente de uma república parlamentar, ainda estilo alemão, é afi-
alemão e por ela passavam em desafio, sentindo-se já pràtica- nal chamadoa palácio, onde Getúlio Varias o convida.. . a
mente vitoriosos. ocupar uma Pasta de Ministro, a da Educação. O r'zzeArerna-
Como se sabe,foi o Gen-oralNewton Cavalcântio executor cional, entre desapontadoe ainda assim seduzida com a pers-
de um estranho"estado de guerra'' votado pelo Congressopara pectiva de ser ministro, voltou ao seu centro de operaçõese con-
dar ao Govêrno as condições necessárias a esmagar o comu- sultou os lugares-tenentes,recusando em seguida o convite. Em
nismo, também já então de complâ armado. (Tudo isso se ba- abril do ano seguinte, um punhado de integralistas combatentes,
seou Dum documento Cohen forjado po.r não outra ilustre perso- com Belmiro Valverde à frente, tentou o golpe fraca.ssado
do
nalidade que o General Mourão, um dos grandes chefes demo- assalto ao Palácio Guanabara. Depois disso, o r'ae/crer escreveu
cratas da "revolução" vitoriosa a l.o de abril, desencadeada
para um livro sôbre Crista e refugiou-seno abrigo de Salazar.
mais uma vez salvar o Brasil do comunismo.) O General New- Enquanto a conspiração se armava e as intrigas e confa-
ton Cavalcânti, integralistade quatro costados,promoveu a liga- bulações se faziam entre os pretendentes a chefe fascista, es
ção secreta entre o Chefe Nacional, Plínio Salgado,e o Presi- americanos intervinham junto aos canais competentes no senti-
dente da República, e ambos conspiraram francame:nte contra do de pâr um paradeiro ao avanço constante,desde 1934, do
as eleiçõesem marcha. Dessaconexãonasceuo acordo que se comércio alemão no País. O Dr. Chamisso, a proposito, per-
teria foral-ado entre Getúlio Vergas e Plinto Salgado; a parte guntava em seu livro se os Estados Unidos estariam conscien-
dos integralistas nesse acordo seria de ganhar as ruas e separar tes dêsseperigo. E respondia afirmativamente, "a julgar-se pela
abertura de um crédito de sessentamilhões de dólares ao Go-
as massasdas esquerdas,com a Aliança Nacional Libertadora
já dissolvida e jogada à ilegalidade. Enquanto as milícias inte- vêrnobrasileiro,com a promessade, em contrapartida,fazer
gralistas faziam o trabalho de intimidação das massasproletárias parar a expansãodo comércioalemão(julho de 1937), e isso,
com os seus desfiles, suas armas à mostra, suas violências ocasio- segundo Pepin, no momento em que a Alemanha tomava dos
nal.s -- tudo no mais puro estilo de fascistas e nazistas -- os EstadosUnidos o lugar de primeiro fornecedor do Brasil".i
agitadores integralistas tentavam mobilizar as massas pequeno- Na realidade,com a guerra e os êxitos iniciais de Hitler, a
burguesas contra as liberdades democráticas e as reivindicações ditadura brasileira vacilou bastante antes de alinhar-secom as
proletárias, ou ditas de e-squerda.Quando se.considerou chegado potências aliadas. Típico foi o discurso de Varias a ll de junho
i) momento do golpe, Vargas o dava com toda a tranqüilidade, de 1940, no cruzador Barroco. Nossa fala, que causou sensação
apoiado nos chefesmilitares de então, tendo à frente o General e mal-estar aos Estados Unidos, Vargas não mediu palavras
(róis Monteiro, como arquiteto militar do golpe e chefe do Es- para atacar as "democracias decadentes". F. Borkenau, no seu
tado-Maior, e o GeneralEurico GasparDutra, como seu es- livro T/e German Empire,8 cita declaração de oficiais brasilei-
cudeiro, na qualidade de Mi-nistro da Guerra. ros, em que se acusavaa Alemanha de ter'ajudado a montar o
leva-nte,"e certo número de representantesde firmas alemãsfo-
O desenvolvimento da situação não se processou como
pensara o Chefe Nacional Plínio Salgada: Getúlio Varias não
ram presossob acusaçãode traição. Intervençãodiplom-áticade
Berlim obrigou o Govêrno a libertar os alemãespresose a negar
seria o Marecha] Hindenburg do Brasi], nem Plínio Salgado o
nosso Hitler. Tendo o golpe sido dado sem pertubações, nem re- a participação' da Alemanha no levante. Em compensação uma
série de medidas contra a comunidade alemã no Brasil foi
sistências populares ou de esquerda, já destroçadas desde o fe-
tomada. Sob o impacto dessasmedidas, teve início significativo
chamento da Aliança Nacional Libertadora, Vargas dispensou movimento de alemães de nacionalidade brasileira de volta à
o apoio incomodo dos integralistas, vetado também p.or..pressão Alemanha"
militar. Como consolação,Salgado,que ficara de vigília, com
o seu estado-maior, no quartel-general do Partido, noite adentro, l Chamisso, obra citada, pág. 103
à espera do convite para ser colocado à frente do novo regime, 2 Penguin Books, Londres, 1939
enqlianto Vargas passariaa uma espéciede sinecura como Presi-
140
a
"As consequências no campo comercial não foram menos nesse país. Conseqüentemente, nesse caso, formação de saldos
sérias. Apesar de sua brilhante posição no comércio brasileiro, em favor do Brasil é vantajosa,o que já não sucederiacom
ou antes em conseqüênciados métodos pelos quais ela adqui- país em que pouco tivéssemos a adquirir ou quase nada a pagar
riu tal posição, a Alemanha despertou boa dose de má vontade a títulos de dívidas".i Trata-se, é claro, da Alemanha.
entre os líderes económicos do País. Foi fácil, por isso, para Borkenau conta ligeiramente os trâmites do acordo para a
Vargas contrarrestar a Alemanha na esfera das finanças. Em recobertura dos débitos alemães. "Depois de um mês de ne-
junho de 1938, a Alemanhadevia ao Brasil não menosde qua- gociações nervosas, um novo acordo foi realizado. O Brasil, afi-
renta a quarenta e cinco milhões de marcos (askl-marés) de dé- nal de contas,não podia dispensaro mercadoalemão.Não é
bitos consideráveis.(Como de uso, é impossível converter essa tanto o café. . . que importa nas relações comerciais alemãs-
quantia em libras esterlinas,uma vez que os m#i-marés só po- brasileiras, mas algodão e camz{. O Brasil. . . só muito dificil-
dem ser usados na Alemanha para compra de produto-salemães, mente poderia ter desenvolvido outras lavouras, especialmente
sem qualquer valor no mercado aberto). Nesse momento, o algodão, sem um escoamento na Alemanha. Contudo. no acor-
Banco do Brasil suspendeutodas as transaçõesfinanceiras com do de comércio renovado o Brasil conseguiu isenção do sistema
a Alemanha até a recobertura dos débitos alemães".l de aiç#f-mar#x para seu algodão e cacau. Êsses doi-s produtos
Essa é a época precisamente das grandes transações do têm sido pagos, desdo então, mo câmbio livre". "Assim, o Bra-
Expert-lmport Bank com o Tesouro Brasileiro e o Banco do sil é um dos poucos países que até aqui repeliram o avanço ale-
Brasil para regularizar os vaivéns do câmbio e problemas das mão com êxito. Enquanto se aproveita plenamentedo mercado
dívidas atrasadas com os exportadores americanos e os crédi- alemão, o Brasil evita tornar-se economicamente subserviente
tos com os paísesde moeda bloqueada. O Ministro cousa Costa, à Alemanha. No campo dos negócios internacionais, os Estados
como já vimos, fala, mas muito por cima, dêssesaperreios. As (Jnidos são os principais beneficiários dêsse desenvolvimento".z
dificuldades cambiais, diz êle, não eram "privilégio do Brasil",
e "grandes países,de grande influência no comércio do mundo, A descriçãodos acontecimentos
que dá Borkenaué certa,
forneceram exemplo de pressãoexercida por essasdificuldades' mas com algunssenões.Êle desconheciaentão a parte ameri-
E confusamente acrescentava: ''UDS, utilizando processos de cana no estimular o Brasil a reagir contra o comércio de troca
compensação, ei/rí/adie/z/e comercial (?) ou económico-finan- alemão. Sem os empréstimos e arranjos financeiros de que nos
ceira (?)". E explica: "À primeira hipótese se ajusta o nosso falam Sousa Costa, E. Pepin e o Dr. Chamisso, não é provável
tivesse o Govêrno brasileiro os trunfos financeiros necessários
intercâmbio com os paísesde moedasbloqueadas(quer dizer, a
Alemanha. M.P.); à segunda, as nossas relações com a In- para barganhar. Os alemãescederam, para não perder de todo
glaterra -e a França." Mais adiante, ao dar conta- dos acordos a partida. O algodãolhes era matéria-primaestratégicae fora
com o Expert-lmport Bank, refere-sea "outras reservas"que do Brasil não tinham, então, onde abastecer-senas quantidades
"permitiram fizéssemos o me-smo para a liquidação completa e com as facilidades necessárias.No empréstimo de sessentami-
das importações de outros países (sic) e assim em condições de lhões para as finanças desequilibradase comprometidas,inclusi-
ve pelos débitos alemães descobertos e condicionados a serem
mais perfeito equilíbrio e segurança,enfrentamos a situação ca-
pagos em compras nossas na Alemanha, se continha também a
lamitosa que pesa sabre o mundo".' E ainda a propósito do
acordo financeiro com a Inglaterra, numa linguagem tenivel- promessa do Govêrno brasileiro de suspender o sistema de co-
mércio por troca. E isso foi feito.
mente esopiana,em que a palavra tabu ''Alemanha'' não é men-
cionada, escreve: "A probabilidade de utilização do saldo bra- Vê-se claramente como às vésperas de entrar na guerra
sileiro na Inglaterra é evidente,dado o vulto de nossasdívidas contra o Eixo o Govêrno americano sentia que para poder ex-
l Obra citada, pág. 207. l Idem, pág. 109.
2 2
Borkenau, obra citada, págs. 207-208
Sousa Costa, obra citada, pág. 106
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aluir a Alemanha do comércio com o Brasil, sei'ia preciso dar dos, ajustes de dívidas e atrasados. E com a Alemanha um novo
ao país qualquer compensação. Roosevelt não regateava os meios sistemade comerciar.Tinha êle, com efeito, muito mais com
para mobilizar o Brasil a seulado. E o Ministro SousaCosta que barganhar que os senhoresmilitares ora no poder neste País.
podia por isso mesmo escrever: ''Sem falar no empreendimento Não só poeticamente a situação era favorável ao Brasil; tam-
máximo de nossa história económica -- a execução do plano # bém financeiramente a posiçãço brasileira era bem mais sólida,
siderúrgico cujo aspecto financeiro já é conhecida do País -- por contar então com substanciais reservas metálicas a garantir
exclusivamente para empreendimentos reprodutivos e com o suas transações financeiras e $ua moeda. Teve ainda durante bas-
fim de aparelhar as nossas fontes de riqueza, temos comprado tante tempo a possibilidadede jogar em relaçãoà Inglaterra e
a prazos médios de dois a ci:nco anos materiais financiador pelo aos Estados Unidos, com a ameaça da concorrência alemã no
Expert-lmport Bank, no valor de 12 731 900 dólares (14 na- P. seumercado.E tinha a seguiruma guena mundialde cujo des-
vios para o Lóide Brasileiro; 1 000 vagões e 17 1acomativas fecho não se tinha certeza para que lado penderia. E, final-
para a Central, 3 navios-tanques
e outros materiaisferroviários mente,com o desenrolarda guerra,a expulsãoda Inglaterrado
para a Central.)".: Continente,o seu virtual cêrco e bombardeio, a Europa domi-
Êsses materiais, como se vê, são destinados a reaparelhar nada pelas forças da Alemanha, os Estados Unidos que, afinal,
o País para os transpor.tesde materiais estratégicospara a pro- entravam nela, não .tinham outro caminho para alcançar o ini-
dução de guerra americana.A ditadura estadonovistaprocura- miga senãopela África, via Brasil. A posiçãoestratégicado País
va adaptar-se às exigências económicas da grande potência de- se revelava assim indispensável à defesa dos Estados Unidos, mas
mocrática, senhora cada vez mais do campo económico, na sua sobretudo a seu plano ofensivo contra o Eixo.
preparação franca para a guerra e ressalvar ao mesmo tempo Quanto aos americanosdo tempo da guerra, não ficaram
sua fidelidade à ideologia fascista em que se fundava. Em se- nessesempréstimosde ajuda, mas de alguma forma ainda com-
tembro de 1939, a guerra afinal -sedeclara na Eui.opa com a patíveis com certas regras de !inaiiciamento regular entre Es-
invasão da Polânia pelas tropas de Hitler, depois de terem asse- tados. Mas, como disse Chamisso, "êles se viram constrangidos
gurada sua retaguarda a leste graças ao pacto Stalin-Hitler, mal a empregar contra o Eixo, como contramedidas, os mesmospro-
acabado de assinar-se. Pois também em setembro do mesmo ano. cessosdiplomáticos
e estratégicos
de que o Eixo era useiroe
Roosevelt despachavaao Brasil o Sr. Warren Pierce, Presidente vezeiro''
oze a
do EJlport-lmport Bank. O Ministro Sousa Costa falou dessa Um dos recursos de maior significação usados por Wash-
presença iia Rio como se tudo fôsse obra do acaso, mera "visita' ington para afastar c concorrente alemão dos materiais estra-
(de cortesia? férias?) daquela eminentíssima personagem dos tégicos foi o que ficou denominado com os "acordos preclu-
altos círculosda CasaBranca: "Em setembroúltimo. visitou sivos". Com êssesacâi.dosos Estados Unidos ficavam com o
o nosso País. . ." é assim que escreve o Ministro em seu livro. direito exclusivo à compra dêste ou daquele material interes-
Aliás, é preciso convir que o chamado Estado Novo tinha sante.Entre maio de 1941 e janeiro de 1942, Washingtonassi-
então muito com que barganhar ju-nta às grandes potências que nou acordosdêssescom o Brasil, Bolívia, México e Child. Com
com o Brasil faziam negócios.Vimos como a Alemanha hitleria- o Brasil a exclusividade, por dois anos, ficou sabre o manganês,
na tevede se sujeitar à condiçãode continuar a adquirir o nosso titânio, diamantesindustriais e mica, bauxita e quartzo. O acor-
algodão e cacau não pagando em marcos compensados mas em do com a Bolívia foi feito com o grupo Hochschielde Aramayo
câmbio livre. Dias depois do golpe do Estado Novo, o Govêrno }
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primeiro lugar nas exportaçõespam o México. Entregavaao muito forte e perigosa.Presentemente,isto é apenasum sonho."2
México, em troca do petróleo, maquinaria pesada, equipamentos Alguns.mesa! depois de escritas essaslinhas, parecia que êsse
para irrigação, agricultura e refinarias, máquinas de escrever, .+ sonho ia realizar-se. Em maio de 1940 já se lüvia quase com-
instalaçõespara escritório, máquinas fotográficas, etc. A influên-
cia alemã, apesar da-s divergênciasideológicas e de filosofia
r n' pletado:. a Fiança caída, a Europa ocupada, a Inglaterra com
água pela baça, sitiada: só a esquadra inglêsa ainda estava
política, começava a ser ameaçadora. Borkenau escreve: "0 pràticamente intata e protegia a América Latina da penetração
México é talvez o único caso em que, graças à política especial alemã. Os Estados Unidos, naquela época despreparados'ou
das companhias de petróleo, os métodos alemãesde coméi'cio semidesarmados, não tinham ainda as fôrças navais necessárias
atearam inteiramente em favor da política alemã."i para substituir a esquadra hglêsa nessa tarefa.
No México não terminava essa influência, pois se fazia A guerra económica que a Alemanha vinha levando a efei-
sentir ainda maior em certas áreasda América Central. Guate- to não consistia apenas em vencer a concorrência, através dos
mala devia ser consideradazona de influência alemã. diz Bor- ask!-p?zarkse das contas bloqueadas em alguns mercados da
kenau, com um ditador local a imitar o nazismo o melhor que matérias-primase gênerosprimários. Ela a levava a efeito em
pode e a Alemanha preponderando no comércio. Para o autor, muito maior profu=ndidade no interior mesmo dos países que
a Alemanhaera ainda em tôda a América Latina um sério iriam ser seus inimigos na guerra. Seja-nos permitido pequena
competidor comercial da Inglaterra, embora de pequeno efeito digre?sãopara situar êsse esforço alemão em profundidade'den-
sabre os Estados IJnidos. Em política, porém, dava-se o inverso. tro duma certa perspectiva histórica. A Alemanha nunca se
A influência ideológica permanecia, enquanto a económica de- distinguiu, na sua categoria de potência imperialista, como
clinava. No entanto, a influência alemã declinava na América grande exportadora de capitais ou investidora no exterior, pela
Latina, I'econheceêle, tanto no comércio como na política, em menos em escala comparável à da Grã-Bretanha, Fiança,
geral ''quando e onde os grandes países democráticos faziam Estados Unidos. Em 1914, estimavam-se os investimentos ale:
um contra-ataque". "Isso será, contudo, diferente", conclui, ''se mães na América Latina em $836.000.000. em face dos
a Alemanha conseguir dominar o Continente europeu e quebrar $ 3.672.000.000 da Grã-Bretanha e $ 1.649.000.000 dos Esta-
o impériobritânico". (Não esquecerque êleescreviaem 1939.) dos Unidos.i Calculava-se,então, que 16,2% de todos os in-
"Então, a ameaça à América Latina tornar-se-á sem dúvida vestimentos alemães no estrangeiro estavam na América Latina,
comparados a 20,1qo da Grã-Bretanha e 36%o dos Estados
l Numa carta publicada em Bo/e/ím Fízzalzceíro,
México, D. F., de Unidos. Depois da Primeira Grande Gue.rra, os investimentos
30 de julho de 1939,o adidocomercialda Legaçãoalemãdizia aos -+
na América Latina de cidadãosalemãesnão residentescaíram
mexicanosquc deviam ser gratos à Alemanhu por tê-los capacitado
a sustentar sua política de petróleo enquanto o comércio com outras quasea zelo e anda nos idos de 20 não pareciaterem recupe-
nações caiu por causa das expropriações das terras petrolíferas. Não uma vez que a Alemanha não aparecia entre os quauo
se deve esquecerque o México, em face da situaçãomais caóticapara principais países inversionistas depois da guerra. (Behrentlt dá
sua economia devido às exportaçõesde petróleo, só encontrou apoio !aãmeA. Zuloaga, em The Internacional Economic Retatiom of
eficaz no mercadoalemão(e em menor extensãono mercadoitalia-
no), e por isso mesmofoi capaz de manter sua política de petróleo" Z:afí/z .dmerlc#, Com/zzercüZ Pan .4merfca, janeiro de 1941,
(Vida Behrendt,obra citada, pág. 124.) Pode-sedizer o que se quiser como fonte da ülformação.) Assim, os investimentos alemães
a respeito dessa declaração, menos que não fosse verdadeira. Se a nunca foram muito importantes. O pêso do esforço alemão em
Venezuela de Bittencourt, na crise da expropriação das companhias
petrolíferas americanas pelo govêrno revolucionário cubano, tivesse po- 2 Borkenau, obra citada, pág. 213.
dido ou querido pâr à disposição das refinarias cubanas o petróleo l Fontes: Pablo M. Minelli, i:as //zversío/zes //zfer/zacío/lajes e/t Ja
que os trustes passarama negar a Cuja, a situação seria outra. Cubo Hmerlca l,afina(La cabana, 1939) ; 7Ae RepwbJ/cs of Soldra .4meríca,
não teria sido "expulsa" do Continente e a América Latina subdesen- The Roya[.]nstitute of ]nternationa] Affairs, Londres, 1937; J. F.
volvida não estaria humilhada, dividida, impotente e subjugada à von- Normano: Tlzc. Srrugg/e /or Sozí/à ,4meríca, Bcston e' Nova' lorque,
tade de Washington. 1931. (Ver i3ehrendt,obra citada, pág. 120.) ' '
e a Alemanha,dizia ainda a me-smafonte, ''gozavamem con-
geral se concentrou no plano comercial, na conquista dos junto 46%odo total do comérciodêssestrês países".Com a
exportação dos capitais vieram os bancos. Naquele ano, a Amé-
mercados. premi, o grande investimento alemão no Brasil era rica do Sul contava com cinco banco-s inglêses e setenta agências
o seu imigrante, o colono que aqui chegavapara estabeleceruma e cinco bancos alemães com quarenta agências. Mas eram essas
nova sociedadee não como ave de arribação?para enriquecer ligações, digamos, de superfície.
e partir.: Foi êsseimigrante-colonoque.contribuiu para a for A Alemanha, diferentemente de inglêses e americanos, iria
mação de uma indústria regional no' $ul .do País, na base do contar com laços menos imediatamente poderosos, mas que des-
artesanato, aperfeiçoando-se, progredindo, à medida de sua acei- ciam em ramificações as mais longínquas pelo País. Nesse sen-
tação progressiva. Ela nasceu pnncipalment11pelo esforço orgâ- tido, um admirável estudo de Ernst Wagemann sabre a Coloni-
nico, sem ser "por obra e graça de grupos financeiros, .armados zação Alemã no Espírito Santos mostra até que recantosde
de concessões" . . (Limeir; 'pejo, citado por F. Carneiro). AÍ
colonização aquêles laços podiam alcançar. Descrevendo com
estavam os verdadeiros investimentos alemães. Êsses núcleos de precisãoe minúcia a vida de colonosalemãesem sítiosde café
civilização na terra virgem, criadores das primeiras riquezas da de zonas ainda económica e culturalmente isoladas daquele pe-
sociedade, resistiam às intempéries políticas que desabavam.:dos queno Estado, Wagemann revela o papel do vendeiro nas'li-
altos centros internacionais. Quando estas passavam, os antigos gações do -colono perdido com o Úuiido germânico exterior:
colonos, os filhos dêles e os novos colonos continuavam a mou pois que entre êssesvendeiros diversos ''eram alemãesdo Reich
rojar com desenganos a mais,. possivelmente e preconceitos com boa instrução", e que entre a venda e a casa comercialde
te;luzes difíceis de serem dosarraigados, sobretudo nessesnúcleos prim?ira classe nos centros u-rbanos, "nos pontos chaves estavam
regionais culturais separados, nos quais. a permanência ê a regra, alemães do Reich ou alemães nativos". Os pequenos sitiantes,
as mudanças a exceçãoe as divergênciassociais e .políticas ten- desprotegido! pelos cafundós do País, que não procuravam en:
dem a fixar-se, irracionalmente, em temíveis idiossincrasias pes-
riquecer, acabavam achando quem velaãe por êles. Pastores de
comunidadesprotestantes organizavam comitês económicos por-
que se interessavam"firmas trutas do Rio de Janeiro e da Ale-
manha", .destinadosa ajudar o pequeno sitiante isolado e sem
recursos "e salvar, nacional e culturalmente, os alemãesno Es-
me ll,'atirava se ela também à conquista de mercados e de pírito Santo'.: Para a formação do Comitê Económico, informa
zonas de influência, a uma política marítima colonial, em suma; Wagemann, "o Sindicato de Potassa alemão tem prestado gran-
Em a épocado nascimento
do imperialismo
moderno,comojá des serviços à causa"
vimos. Em 1896, o Reich suspendia a velha ordem de pmibição
Assim, o.braço dos grandes trustes alemães chegavade
de imigraçãopara o Brasil, ainda da Época,da esc.ravidão; :a um. modo ou de outro até os mais longínquosrecantosdo País,
Alemanha então se entregava,com o novo Kaiser, a construir
uma frota de guerra capazde rivalizar com a inglêsa.Por essa onde pudessemrefugiar-se teutos desprendidosda mãe pátria
em geraçõesou recentemente. Os episódiosacimadescrit(;ssãa
época ainda se iniciam os grandes investimentos: alemães no de antes da Primeira Grande Gueri.a. A guerra veio, a Alema-
exterior. Acompanhandoos inglêses,capa!aisalemãeseram in- nha perdeu-a. E retrocede. Pelo Tratado de Versalhesela é
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nauspara serviremde rêdepara alcançaros mercadosdo mundo. um lado, e, de outro, pela penetração comercial propriamente
Agora os objetivos económicose comerciais são postos à frente. dita, ou uma política deliberada,em que se envolviamcomer-
Ela tem a refazer seus capitais, suas bases de penetração comer-
ciantesprivadose o Estado,na conquistade mercados.
Antes
cial pelo mundo todo e pela América Latina em 'particular. de Hitler, o que havia de pròpriamente "político" no esforço
Depois, quando o nazismo sobe ao poder, os objetivos de domi-
{
.[
enquadrar D grupo Mitsui do Japão, cujos planos e aspirações quer Chemische Unternehmungen A. G. (l. G. Chemie) e trans-
eram maiores do que êles haviam previsto. (Por essa época, feriu para ela seus /io/díngs na American 1. G. Proclamou-se,
precisamente, o Japão fazia sua invasão da China e se apode- então, alto e bom som ser a American 1. G. de propriedade
rava, para começar, da Manchúria.) Depois de ameaçasde suíça, sem qualquer conexão alemã, não obstante o fato tlo chefe
guerra e propostas de apaziguamento, Mitsui acabou membro da 1. G. Farbenindustríe, l=lerman Schmitz, ser o presidente
do Comité Internacional'sabre A.nilina e Sulfido Negro. Em da 1. G. Chemie,Suíça,e de a diretoria da American1. G. estar
1938, a segunda invasão do lapão na China (já na qualidade sob o controle de antigosfuncionários da 1. G. Farbenindustrie,
de membro das potê.nciasdo Eixo) reforça o grupo japonêsque inclusive de seu presidente, Dietrich Scllmitz, por coincidência
gostaria de consolidar sua posição hegemónica naquele Conti- irmão de Herman Schmitz.A 1. G. Farben fazia questãofe'
nente, em virtude da ocupação em processo de realização pelo chada de reter sua fachada americana. Para tanto encontrou
Govêrno do Mikado, excluindo dali os demais membros, com fôrças suficientes para impedir que o Sr. Walter Teagler resig-
a possívelexceçãoda própria l.G. alemã. Os autoresde T/le nasse,como teria mostrado desejo, ao Conselho da American
/wm/er pün descrevem a nova situação: "Ao rever a nova ope- 1. G. Advertido das implicações que sua presença naquele Con-
raçãodo cartel de anilha, às vésperasda guena, há algunstra- selho poderia acari.etar, o presidente da Standard de New Jersey
çosa acentuar.. . É evidenteque o mundointeho, com exceção tentou incessantemente resignar ao pasto, dizem que desde
da Rússia, foi organizado de um modo mais ou menos completo. 1933. Mas o controle do cartel erá poderoso bastante para
Toda a Europa, toda a América do Norte, todos os principais conservar o Sr. Teagler no Conselho contra a sua própria
vontade.
paísesda América do Sul e toda a Ária estavam divididos entre
os principais produtores de anilha. Distrit)unçãode territórios, Quando afinal estourou a guerra entre a Grã-Brqtanha e
tropa de patentes, informações técnicas, fixação de produção a Alemanha, a American 1. G. foi reorganizada e Ihe mudaram
e de preços e todas as outras característicascomponentesde um o.nome para Aniline & Film Company. A acusação por várias
perfeito cartel intemacioDal se encontravam na teia de convê- vozes.ap.areceude que a Aniline & Fiam Co. era de piopriedadc
nios e entendimentos então esboçados.No centro da 'tela, tecen- alemã. A resposta à acusação por parte de seus diligentes era
do um fio para cada direção,estáa 1.G.t só uma: e.ra !uíça. Mesmo com os países respectivosem guerra,
A teia tecida pela 1. G. era poderosa e atravessava todos as agências da 1. G. espalhadas pelo Império Britânico conti-
os países,principalmente os Estados Unidos. Ainda em 1929, nuaram a fazer seusnegócios.A 19 de setembrode 1939, de-
conseguiufundir todosos interêsses
da 1.G. FarbennosEstados zesseisdias depois de a Alemanha e Inglaterra se encontrarem
Unidos, formando a American 1. G., poderoso truste de que em estado de guerra, a 1. G. telegrafava à Aniline & Fiam;
faziam parte as principais organizações químicas americanas, ". . .em adição ao Ca:nada nós vos isentamos das restrições de
inclusivea ALCOA, em.combinaçãocom a 1.G. em terno de exportação relativamente aos seguintes países: Grã-Bretanha,
interêsses investidos em metais ligeiros. Também a Standard índia Britânica, Austrália, Nova Zelândia, mas só pelo presente
Oil of New Jersey forneceu o seu presidente, Walter Teagler, estado de.guerra. . ." e dava, a seguir, os nomes dai firmas
para membro do Conselho da American 1. G., enquanto Edsel que devia a organização americana suprir em Manchester,Bom-
Ford era tambémincorporadoao Conselho.
Os interêsses
da baim, Melbournee WellingtoD.Como as agênciasda 1. G. na
anilha alemã conseguiram atrair para a direção da American Colõmbia estavam sentindo os efeitos do bloqueio, a 16 de outu-
1. G. aquelas eminentes figuras do alto mundo dos negócios, ao bro de 1939a GeneralAnilin & Fiamrecebiacabograma
da
mesmo tempo em que a propriedade alemã da mesma organi- l .G., dand(olhe permissão para vender naquele país, mas só
zação era oculta. Para êste fim, a l.G. Farben organizou na através o agente da 1. G. Em 28 de janeho do ano seguinte,
Suíça uma companhia conhecida por Internationalo Gesellschaft ainda a subsidiária americana recebia vice.nçapara vender a
toda a América Latina, na base de uma lista dos agentesda 1. G.
l Obra citada, pág. 113 As vendas só podiam ser feitas através daqueles agentes. Comen-
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\
tando o fato, Borkin e Welsh escreviam: "Êsse simples truque rios. . . ficando a Alemanha com a parte de leão. . . O sistema
de proteger as saídasda 1.G. na América Latina pode ter sérias de comérciode troca quando os nazistaschegaramao poder. .
conseqüências militares algum dia. De importância imediata, dera à Alemanha mão relativamenk livre para instalar. . . vasto
porém, era o fato de que o bloqueio britânico estava sendo #' e inteligentemente manipulado sistema de distribuição. Especial-
rompido.": mente eficaz e importante foi essarêde na América do Sul. O
"Quando a guerra inompeu," escrevemainda os dois auto- tamanho da lista negra. . . consta agora de 7 500 nomes, mos-
res, "os Estados Unidos tinham de encarar duas sombrias pers- tra a dimensão
da ponte.A Alcmanhãx
não tevede lutar pelo
pectivas: a esquadra inglêsa podia ser dostruída e a América mercado da América do Sul. Todo o Continente foi entregue
do Sul invadida. . . Quando a G.G. ll estalou,a arma decisiva aos cartéis alemães pelos homens de negócio americanos
.
f
da Inglaterra era o bloqueio naval. . . os mercados mundiais Sùbitamente tomamos consciência de que economicamente havía-
para a Ajemanha estariamperdidos. . . A Alemanha, entretan- mos sido flanqueadose de que tal fato era uma ameaçaà nossa
to, estava preparada para êsse ataque. . . uma rêde distribui- segurançamilitar. A força de garra dos interêssesalemães..
dora para os produtos alemães foi estabelecida através o mundo. foi demonstradatanto na Argentina como no Brasil"
Excluída de colónias pelo Tratado de Versalhes, a Alemaiüa . .
contorna o obstáculo mediante inteligente manipulação de pa- l Quandoficou senhorade toda a Europa, suamperspectivas
de reatar
o comércio com a América do Sul poderiam até ter melhorado. Assim
tentes, convênios com competidorespara divisão de territó- pensavam muitos dos líderes alemães nó campo económico. SÓ havia
por aí um empecilho:a esquadrainglêsaque fazia o bloqueioda Eu-
l Obra citada, pág. 118. Segundo Behrendt, "muitas casas de negócios rop% ocupada pelas forças alemãs. Mas os alemãesnão só se utiliza-
dos Estados Unidos na América Latina eram representadaspor ram de Falsasneutrosque restavam,dos bonsofíciosda Espantae
alemães.. . Particularmente depois do irromper da presente gz/errcz Portugal, como, ao que constava então, de uma combinação com a
(grifo do Autor) muitos comerciantesalemãesna Améric Latina obtive- Rússia de Stalin. Behrendt dá a respeito essas indicações: os russos
ram representaçãode firmas americanas,que até então pouco ou nenhum estariam ansicÉospor desenvolver relações comerciais com a América
negócio tinham feito com a América Latina. Os alemães desejavam, Latina e particularmentecom a Ai'gentina. Slispeítava-se
em certos
naturalmente, substituir, pelo menos temporàriamente, suas conexões círculos amor;canos e inglêses que parte dessas compras russas seriam
.lemas pelas americanas. Esta situação levou finalmente Nelson Rocke- destinadas à Alemanha. Telegrama da Associated Press, procedente de
feller, Coordenadordas RelaçõesComerciaise Culturais Interamerica- Buenos Abres, de 10 de janeiro de 1941, noticiava estar a chegar ali
nas, em jane:ro de 1941, a instar com as firmas americanas a elimi- uma delegação para abrir negociações para "um gigantesco convênió
narem pessoal antiameriçano ou pr6-alemão de seus ramos latino-ame- comercial baqcado primacialmente em exportações de cereais argenti-
ricanos. Descobriu-se que em vários casos êsses empregados haviam nos com destinoà Rússia". Behrendtacrescentaterem essasnotícias
utilizado os fundos e a influência de que haviam gozado como repre- aparecido quando, po: êsse tempo, Berlim ünunc.lava a conclusão com
sentantes das casas americanas para exercer prf'suão sabre jornais na- a Rússia "do maior canvênio de trigo da história do mundo". O mi-
tivos e firmas em favor dos objetivos do Eixo". (Obra citada, pág nistro britânico da Economia de Guerra, Sír Hugh Dalton, também
112) .. ."Algemas companhias relutavam em despedir êsses agentes, declarava estai investigando a veracidade de um relatório segundo o
sob o pretexto de que não tinham pessoalcompetentepara substituí- qual a Rússiaestavaplanejandoa organizaçãode uma frota mercante
dos'l. Bellrendt acres;ente que em muitos casos em que os. represen- de 200 barcos,para transportarprodutosda América para a Rússia.
tantes "pro-nazi ou antiamericanos" foram substituídos por empregados Outra indica;$o estava no fato de que a Rússia andava comprando
leais houve um forte aumento nos regístros de vendas das firmas ame- consideráveis' quantidades de couro e lã nos países do Prata: Outra
ricanas. Segundoo New yor# Tomei de 8 de maio de 1941,um ma- notícia pela mesmaépocarevelava que numa semanadois navios dei-
i.ufatureiro americano declarava terem descoberto que "estavam ga- T
/ xaram Buenos Abres para Vladivostok. Essa transação se fêz apesar
nhando menos de dois terços do volume que deveriam ter obtido nos de q Argentina
nãoter aindareconhecido
o govêrno
soviético
e de
países onde agentes antiamericanos tinham dirigido suas vendas nos nunca ter havido relações comerciais entre os dois países. O ministro
últimos dez anos" da Agricu[tui:l de entoa, Sr. ])anie] Amadeo Vide]a, não hesitou em
O contra:e da lista de agentes do Eixo no comércio interamerica- declarar serem os russosbem-vindos,pois a Argentina seria feliz de
no absorveu grande parte das atividades da Ccordenação de Relações vender qual.luar coisa a qualquer um", em face dos crescentesexce-
Interamericanps,dirigida por Nelson Rockefelier durante a guerra. Êle dentes acumulados de sua produção agrícola.(Behrendt, obra citada,
devia saber de que se tratava. l
}-
pag 127.)
O que se deve compreender,diziam os autores de The em cada detalhee junta "uma lista de embarquesque já manda-
Master PIAR, é que a proeminência alemã nos mercados sul- ram para Bogotá, Lama e Rio". E para dar a idéia da eficiência
americanos foi .possível sòmente porque as organizações ame- com que o sistemada rêde funcionava,os homensde Filadélfia
ricanas concordaramem Dão competir naquela ái:ea.. . Em assinalam terem aquelas ordens lhes ichegado sem solicita-
quase todos os casos em que a Aiãérica do Sul foi reservada ção dêles;no entanto, atenderam''pensandoser do seu (l.G. )
pelos convênios de cartéis e monopólios alemães, as subsidiá- melhor interêsse". E por fim asseguram à l.G. que não im-
rias.e agentes dêstes constituíam a cunha pe]a qual esperava porta quem estejafazendo os embarques;"reverteremosao iüuzll
(a .Alemanha) realizar seusobjetivos na Suga'aproxima, o con- que an/em assim que as condições normais estejamrestauradas'
trole económico para furar o bloqueio das exportações alemãs Decididamente para os homens de negócios, da Alemanha
e manter, à vista dos países latino-americanos, o fluxo dos bens cama dos Estados Unidos ou de alhures, a guerra, quando não
alemães ali, importante ao prestígio comercial alemão. Daí re- é negócio vantajoso, é apenas um condicionamento mais abor-
sultará? a queda da influência inglêsa e americana. recidoou difícil para a continuidadedos negóciospor cima das
Nas indústrias de plástico, p&xigãagx,etc., também foram fronteirasnacionaisinimigas. Como disserambem Borkin e
divididos os mercadosdo mundo entre duas firmas de um imenso Welsh, "na visão dos cartéis, toda a economia mundial é uma
/zoZdingalemão.Uma firma em Filadélfia, outra em Damlstadt área de exploração". Os cartéis são forçosamentesemprese-
na Alemanha. Quando a fabricação de pZexig/absse desenvolveu cretos. É que "os cartéis Ira pendem.qualquer norma de interês-
comercialmente,por volta de 1934, nova divisão territorial do se nacional. Com efeito, Duma certa medida os contratos exe-
mundo .foi feita entre Darmstadt e Filadélfia. A emprêsade Fila- cutadospor cartéis são mais fortes e mais duradouros que qual-
délfia ficava com os Estados Unidos e o Canadá, Roam & Hass que.r tratado entre governos, pois cartéis através de combina-
de Darmstadt ficavam com o resto do mundo. Quando a guerra ções prévias descontam as contingências da guerra. Nenhum
estourou,os associadosde Darmstadt notificaram os Rohm &
govêmo democrático poderia dar-se a êste luxo."
Hass de Filadélfia que podiam.agoranegociarcom o México, a A Alemanha foi de novo esmagada, destroçada fisicamen-
América Central e do Sul. Na correspondência entre a l.ê. te, dividida. Graçasà ajuda e capitaisamericanose à fomiidá-
Farbenindustrie (Francforte sabre o pleno) e sua subsidiária
de Filadélfia, Rohm & Hass,entregueao exameda comissãodo vel capacidadede organizaçãoe de recuperaçãode seupovo é
outra vez um país rico e próspero. Mas o que não recobrou,
Senadona época,há umacartade 22 de dezembro
de 1939. realmente, foi a autonomia política, nem a unidade territorial.
em que a matriz alemã, referindo-se aos mercados sul-america:
Seus trustes foram restaurados, reorganizados. Os americanos
nos, diz: "A maioria dêssesmercadospode presentementenão restauraram a dinastia imperial dos Krupp no Rufar, impedindo
ser suprida por nós regularmente; a fim de 'permitir a nossos
amigos nessesmercados conservarem suas posições, muito apre-
quetodoo complexo
de açoe do carvão,
quesempre
foi a
alavanca do militarismo e do imperialismo alemães, fôsse reor-
ciaríamos se os senhorespudessem supri-los, o que certamente ganizadocomo propriedadepública, como por isso se bateram
seria também do in'terêssegeral dos negócios.. . Demos ins- os social-democratas alemães, franceses, belgas, inglêses, os sin-
trução por isso aos nossosamigosnos Estados americanosdo dicatos operários, os liberais, democratas e pacifistas da Ale-
su] e central para procurar os senhoresatravésda ..dava,lzre,So/- manha e da Europa. Em compensação, embora exercendo, junto
ve/z./s
C/K/7ücaiCklrp. de Nova lorque, DOcaso em que tenham a áreasde seu Govêrno, influência considerável,não redobraram
necessidade do produtos sintéticos como o /amai e esperamo: a antiga autonomia (ou soberania) . Não redobraram -- não sa-
que os senhoresestejamem condiçõesde supri-los. Sementeno bre o seu Govêrno, em relação ao qual gozam até de considerá-
caso do México, onde os nossos amigos já se dirigiam aos se- vel grau de independência -- mas sabre os americanos, as
nhores por meio de Koreon, as senhores receberão encomendas
grandes corporações. Os Estados Unidos, como se sabe, quebra-
di.retamente."Assinado: W. E. Kemp. Em sua resposta,Otto ram o monopólio das patentes em química e sintéticos dos trus-
Hass, de Filadélfia, afirma que obedecerãoaos desejosexpostos 4 tes alemães (l.G.) de antes da guerra e delas se apropriaram
/Ó2 163
(os russos fizeram outro tanto, pondo a mão sabre as que pu- de outorga:las aos americanos, as garantias prévias que pediam,
deram) . Hoje, as grandes corporações é que têm tal moiiopõlio como con.dição do-s investimentos, contra o exercíci'o sÉ)berano
c usam essas.patentes,aprendamos direitos, fazem delas o que d3 nação brasileira, dentro das limitações de suasleis, em rela-
entendem. Aliás, o que adquiriram, na verdade, foi a suprema- ção a eml?rêsas.eexploraçõesprivadas lucrativas estrangeirasno
cia das pesquisas e conhecimentos tecnológicos. A Alemaiüa seu território: Essas garantias superconstitucionaisserão, pro-
Ocidentalé, hoje, como a parte Oriental, apesarde sua pros- vàvelmente,dadas aos capitais alemães,depois de terem :lido
peridade, um país política e' economicamente dependente. Com asseguradasaos americanos,que pode.rãoinvestir-se no Nordeste
efeito, a política exterior da Alemanha Ocidental.é traçada an- em porção cângrua.t
tes em Washington que em Bonn. Os Estados IJnidos têm de-
termin-ado,inclusive no Brasil, onde, quando e como os alemães
do Oeste devem investir seuscapitais. O Govêrno brasileiro atual
lhes negou o direito de investir no Nordeste brasileiro -- ter-
reno de caça privada dos americanosl -- e já lhes negara, antes
l A exclusão do Nordeste a capitais que nãp sejam americanos é,
parece, uma norma geral e nãc apenasdirigida contra alemães.Dir:
se-ia também contra capitais brasileiros. Pelo menos, a reclamação
dos capitais paulistas contra a tendência a exclui-los dos trabalhos
organizatórios.da criação da Fundação para o Desenvolvimento In-
dustrial do Nordeste (FUNDIDOR),
instituição inspirada pela USAiDe
SUDENE, é pública e.notória. Quando da' reunião geral 'para debater
os problemas dessaFundação, realizada sob a presidência do Sr. Mi-
guel Vila, pr('vidente da Confederação das Indúsrias de Pernambuco.
quase todos os .presidentes das confederações estavam presentes", jun:
tamente com o Sr. George Gelhorn, representante da USAiD,que além
de financiar 40%o dos custos operacionais da PUNDWOareservou ainda
fundos para treinar o pessoaltécnico da fundação. Presentetambém
estava um. representante de J. Walter Thompson que vai fazer a pro-
moção publicitária do empreendimento, etc.: O jornal que noticiou a
reunião diz ter causado "estranheza, na reunião, a ausência do general
Macedo Soarem,candidato por São Paulo à Presidência da c.N.i. e do
Sr . Rafael Noschese, presidente da Federação daquele Estado, uma vez do Nordeste. .(Jonza] do Brmí11. 1-]0-1965.) Essas condições que os
que as classesprodutoras paulistas são, em tese, as que teriam maior Industriais paulistas pr?tendiam fossem revogadas-- e para isso obti-
interêsse na criação da FUNniNOR".Além disso, pelo esquema finan- veram o assentimentodo superintendenteda Sudene,Sr. João Gonçalves,
ceiro esboçado para a Fundação, São Paulo, com o Rio Grande do Sul que lhes prometeu . esforçar-se .para que "fossem ' aceitas pela usam"
e Guanabara, teria grande participação no negócio, também com 40% -- não foram suprimidas, em face do embargo desta última organiza-
de financiamento, enquanto as federações nordestinas ficariam com ção: (Jor/lal do Brasíl, de 18 de novembro de 1964.)
20% restantes. (Jor/zaJdo BraiíZ, 30/9/64) . Ainda no mesmo dia. 1 0 Globode 23 de julho de 1964noticiavao adiamentoda con-
em São Paulo, o deputadoestadualHilário Torloni denunciavana clusão de um acordo sabre garantias de investimentos privados ale-
Assembléia Legislativa daquele Estado algumas cláusulas do convénio q mães em .nosso País, em virtude de "divergências" de conceito ilyanto
usam-sunEWEcomo "altamente lesivas" aos interêssesnacionais. Entre ãs garantias de compensação em caso de desapropríação. Os brasilei-
essascláusulas, o parlamentar apontou o emprêgo exclusivo de técni- ros se negavam a formalizar tais garantias no acordo, por já estarem
cos norte-americanosna construçãodas estudas, transporte por navios expressas taxativamente na Constituição brasileira de 1946. ' Os nego-
americanos de pelo menos 50%u da tonelagem importada, obrigatorie- ciadores nacionais alegavam que seria repetir dispositivo' constitucio-
dade de seguros em companhias daquele país e compra de material nal no preâmbulo do acôrdo. '0 Jor/za/ do Brasfl, pela mesma época
produzido nos.Estados Unidos. O convênio prevê o empréstimo de 20 (?.'9-;1964) . salientava eq ..telegrama
alemães pelas mesmas dificuldades.
de Berlim
'
o desapontamento
' '' -'
dos
milhões de dólares e 4 bilhões de cruzeiros para o Plano Rodoviário
{
164
velar para que os legítimos interêssesamericanosno exterior
sejam resguardadosde gritantes injustiças (Expropriação à la
Cardenas?) da parte de governos estrangeiros. . . A'nação como
'L um todo tem interêssedireto na preservaçãodos interêssesame-
ricanosno estrangeiro.Com efeito, o êxito da política de Boa
Vizinhança está completamente ligado à proteção dêsses inte-
rêsses. . .x Se uma nação se decide a fazer o papel de mau
vizinho(a que paíslatino se referia o autor?Ao Brasil, à Ar-
gentina, a? Médico, Chile?) não há nenhuma razão para que
Tio Sam fique ali sentado, vendo-se privado do que' é justa-
/Ó7
mente.seu.Implicito na política de Boa Vizinhança é o conceito sombria que a criada com a débacZe de 1929 e anos seguidos
fieiras . " us vizinhos devem ser induzidos a mudar de ma- de depressão.
Por outro lado, grande número dêssestrustes, os Dupont,
os Mellon, os Rockefellers, a U.S. Steel, etc., foram acusados
oficialmente, de práticas restritivas e de convênios de patentes
e de preços entre êles e, sobretudo, com trustes alemães.A Co-
missão do Congresso, constituída em função da mensagem do
PresidenteRoosevelt, a famosa Temporary National Economia
Committee, em 14 de junho de 1938, levantava a respeito uma
documentação de primeira ordem. O assistentede procuradot-
geral Thurman Arnold, a 12 de fevereiro de 1942, em plena
foi recauchutada econòmicamente para .vender e comprar nos guerra, ao testemunhar pera:nte a Comissão, não mediu pala-
Estados Unidos? como fornecedora exclusiva de materiais es- vras, fazendo as seguintesacusações: "I . O Govêrno dos Esta-
tratégicos e críticos à máquina de suei'ra norte-americana que dos Unidos tem -sidotaxado com preços excessivose desrazoá-
então estava sendo montada. O grau de colaboração tendia a veis por materiais de guerra essenciais, resultantes de convénios
certa reciprocidade, que quase era atingida no momento de entre companhias domésticas estrangeiras e propostas colidentes
Pearl Harbour.
Dos contratos com o Exército e a Marinha. 2 . Companhias es-
Com Pearl Harbor deu-se o reajustamento decisivo, no in- trangeiras (principalmente alemãs) têm-se apoderado de paten-
terior dos Estados Unidos, .da máquina produtiva americana e, tes e ent-rado em combinações de cartéis nos Estados Unidos re-
no exterior, do sistemaexploratório de matérias-primasdo sub- lativasa materiaisde guerraess-enciais,
com o fito e o efeito
solo ou do solo latino-americano. As dificuldades internas opos- de bloquear o desenvolvimento americano e criar séria escassez.
tas pelas.grandes colorações ao aumenta da capas dado pm- 3 . Tem havido divisõesdo mercadomundial por meio de acor-
dutiva para atender ãs tece-ssidades da guerra se manifesta- dos de patente entre companhiasdomésticase estrangeirasque
ram desdelogo; aa mesmotempo, na América Latina, as re- dão a intei'êssesestrangeiros o direito de determinar onde e
sistências a êsse reajustamento também se fizeram sentir. Estas como as companhias americanaspodem vender certos suprimen-
provinham em parte. da própria inércia e da desaparelhagem tos militares. 4. Pa.reconotório que informações militares vitais
crónica para um esforçoprodutivo mais intenso,em parte da tenham sido abertas a companhias estrangeiras através do requi-
falta de capitais e de mão-de-obra qualificada; da necessidade de
sito de descrever item por item o pagamento de direitos nos
equipamentos e instalações novas; 'em parte, também, de ope- acordos de licenças de patentes"
rações de transferências de propriedade e por fim de resistên-
Nessemesmodepoimento, Arnold informou ainda que a sua
cias de ordem política, deliberadas ou inconscientes,opostas por Divisão estava fazendo constantes revelações de exemplos impres-
governos ou governantes ideologicamente afins às potências'do
Eixo ou. por interêsses investidos hostis à penetração americana.
sionantesde controle alemão sabre indústrias de guerra vitais
americanas. E e-n-treos monopolíos americanos indicados estavam
Quanto às dificuldadesinterna.snos Estados Unidos, eram a Aluminium Company of America (AI,coA), Dow Chemical
oferecidos pelos. próprios trustes ou pelas grandes emprêsas na- Co., Baush& Lomb Optical Co. e Beryllium Corporation.Ainda
cionais, dominadorasde ramos de produção fundamentais. Estas na primavera de 1942, já depois das audiências da LNEC',comu-
temiam pelo. futuro, isto é, temiam . quando já no próprio nicou a mesmaautoridade a um comitê do Senadoque a Standard
p:ís.não, trabalhavam com a capacidade plena -=- que a am. Oil Co. of New Jersey,por força de um acordo com o grande
pijljila ainda mais acabassem,finda a guerra, com uma capa- truste alemão 1. G. Farbenindustrie, se recusara a entregar à
cidade Ociosa muito maior, sem mercado, numa perspectiva nlals Marinha americanae ao Govêrno britânico o processode fa-
bricação de uma borra-cha sintética, embora o tivesse feito à Ale- A unidade do hemisfério e sua defesa passarama ser mais
manha e à Itália, atravésa 1. G. Farbenindustde.
do que a política da Boa Vizinhança uma política estratégica
mundial dos Estados Unidos. Aos olhos de Washington o primei-
ro obstáculo à sua unidade foi a Alemanha. Primeirament-e atra-
vés sua capacidade competitiva comercial, reforçada pela tradi-
ção de bom freguês dos exportadores bem como dos importado-
res latino-americanos.D-epois,politicamen.te,pelo terrível e depri-
mente po'der proseliti-sta e propagandístico de seu regime junto
às diversasditadui.asda América Latina e grupos privilegiados
ou frust;rados, de tendência ou instintos reacionários, simples-
mente afins etnicamente à mãe-pátria. A Alemanha se tornou,
como vimos, o acicate mais poderoso a impelir o-sEstados Uni-
dos a açambarcarem para si aquela América esquiva. Compli-
candoainda a situação,a Alemanhafazia tambémaqui e aco-
lá de bom vizinho, exercendoentão co-mouma espéciede açãa
paralela à provocada muito posteriormente por Fidel Castão,
quando êste obrigou Eisenhower e Kennedy a irem a Buenos
Aires e a Punta del Este. Hitler, com efeito, impôs ao Govêrno
de Washington,
.na corridae luta competitivas,
a quebradc
qualquer preconceito ortodoxo de economia privada a fim de
que desseconcretização política,militar e económica
à idéia
de "defesa do hemisfério"
A Alemanha não era um competidor' comercial comum que
bons negociantesprivados americanos, mesmo urra bem equi-
O Estado americanoteve, com efeito, de intervir brutal- pados em organização, recursos e técnica de venda, pudessem
mente Da economiapara.forçar o aumento da produção indus- vencer numa guerrilha de preços ou de outras vantagens no plano
trial, em nome dos üterêssesvitais da m-ação
mas en] face da comercial privado. O seu comércio exterior. era guiado par outro
passividade .da economia capitalista privada. Na América La- princípio. O ,ínsf;/zzf /zzer Konjankfzírforsc/zune(Viertel Jahrens-
hefte zur Wirtschaftsforschung,1938-39, n. 3, pág. 305) assim
=Ê= =wl'=';"m#==#gl$'1;':Ê o definiu: "0 supremoprincípio do comércio externo nãÓé nem
um máximode volume de exportaçõesnem a exploraçãode cada
oportunidade de comércio externo que possa ser vantajosa do
ponto de vista do custo, mas primacialmentea satisfaçãoda
procura. de importações como um suplemento necessárioà pro-
dução doméstica.": Reimann explicam"As indústrias de expor-
tação da Alemanha se tornaram parte de uma máquina militar
gigantesca,que preparava a produção de armamentos numa es
cala sem precedentes". O contraste com as exportações america-
nas era patente, pois que e-stasvisavam a retornou cada vez mais tarmente, os Estados l.Jnidos podem isolar-se de novo, mas d:sta
altos de seus capitais.,salvo quando foi -- como durante a guer- vez para ser o Poder central absoluto.
ra -- para monopolizar e estocar minerais faltosos. A Alema- Ao tempo da discussão e das confabulações diplomáticas
nha Dazistavisavaà dominaçãopolítica em escalamundial. Os entre as diversas chancelarias americanas, um correspondente
Estados Unidos não visavam a tal dominação, mas as proporções do .New yar& Tomesem Washingtoninformava (a 7 de no-
do seu.gigantismoprodutivo tendiam, de fato, a r(;duzir seus vembro dc 1940) que as bases deveriam estender-sepelas cos-
competidores a, uma modesta cângrua: A "dominação" poder- tas sul-americanas
abaixo até a Antártica, com a garantia,po-
se-lia dar também por mera superior'idade económica e fnan- rém, de que nenhum vaso de guerra ou avião ou homens seriam
ceira, sem conseqüências
políticas à Alemanha. enviados a ocupa-las, salvo em caso de real perigo de agressão
nãa americana. Horace B. Davis, que dá a informação, pergunta,
Diante do fato da guerra,os EstadosUnido.snão hesitam: pertinentemente: quem vai determinar o que constitui ''non-
embarcamnuma definitiva política de utilizar, em benefício das À.merican aggression"? A pergunta, algo profética, foi levantada
operações belicosas, todos os recursos económicos, naturalmen- em 1940.Cuba,quando''agrediu"ou foi agredidana Praia
te, mas também militares e estratégicosdiretas, onde quer quc Giron, era já potência "não americana"? E antes dela a Guate-
os encontrem. No plano militar, pleiteiam o estabeleciiÚento'de mala de Arbenz? Quem determinou que a Guatemala,vaga-
basesnavais e aér-easpor todos os paísesda América Latina. onde m,ente comunizante, de Arbenz, cometia uma agressão "não
as reputam necessárias.A ideia custou a ser digerida pelos go- americana"? Hoje, os meios de determinar a questão são muito
vernos latino-americanos. A primeira ba-seque pedem é no Uru- mais requintados,pois se encontram em textos de resoluçãode
guai, à baga do Prata, e de saídacriou uma espéciede crise um dêssesmuitos tratados ou convênios ou declarações solene-
política em que se viram envolvidos, não sementeo Uruguai mas mente aprovados nas sucessivas reuniões ou conferência-s dos
também a Argentina, o Brasil, Bolívia e Paraguai.Êles que- soberanosEstados americanos. De qualquer modo, só em 1964,
riam o direito de patrulhar as águasterritoriais uruguaias.iJm no México, numa reunião de chanceleres americanos, se pede
mod zs vlvepzdi foi encontrado pelo qual os uruguaios mesmos determinar, a duras penas, que a ilha de Cubo era culpada de
faziam o patrulhamento mas com canhoneiras "compradas" aos agressão e nao era ameaçada.
Estados Unidos. Por aquela época, o Brasil e a Argentina se Muitos foram os economistas e analistas que fingiam es-
opunham à sugestãodos pactos de defesa entre os Estados IJni- pantar-sepelo fato de o-sEstadosUnidos terem passadoa uma
dos e os países latino-americanos, mediante os quais aquêles po- política de relativa generosidadede créditosem favor dos países
deriam instalar-se em território dos últimos. bati.no-americanos,numa situação económica extremamente es-
favorável em 1940, quando na década de 30 Washington era
Hoje, vemos que a história das bases americanaspelo mun- muito parco nessamat'éria. Fingiam ignorar o caráter político das
do nasce daí. Da primeira vez, a motivaçãopara as basesera operaçoesdo ano da entrada dos Estados Unidos na guerra,
a necessidade,em parte real, de combater o inimigo princi- quando lhes era indispensável dispor de todo-sos recursos físi-
pal, o nazismo. Na segundafase, depois da guerra, sob o pre- cos, geográficos, humanos, económicos e até espirituais da Amé-
texto de barrar o comunismo,tratava-se,DOfundo, de operação rica Latina aõ seu possível alcance.
de natureza puramentepreventiva, ou melhor, preparatória de O eminente economistaamericano John P. Powelson, já
uma terceira gu-erra,cujas preliminares seriam o que s.eveio a nosso conhecido. tenta demarcar o início das reviravoltas na
chamar de guerra fria. As basos são necessárias: l.o, nas Amé- políticaeconómicade seu paí-s,ao curso dos anos,a partir do
ricas (em guerra defensiva);2.o, na Europa e Ária, não mais choque depressivo de 1929, quando, em face da sua profundeza,
defensivas, mas de cêrco à Rússia. Depois as bases se tornam até ''o próprio caráter norte-americano começou a mudar". Di-
supérfluas, pois o-s mísseis de casa mesmo ou dos submarinos ferentementedos outros períodos de crise económica,comenta
Polaris são mais seguros, mais expeditos e independentes.Mili- êle, o de 1929 persistiu, pela primeira vez, além dos anos de
/72 173
!
1930, 31, 32, 33 e 34. Então, um têrço da força de trabalho houve nem há conexão interior, lógica entre a mudança de."ca-
dos Estados Unidos ficou desempregada.''A depressão abalou a ráter" do americano, de que nos falou e as reviravoltas oficiais
ética capitalista: se um homem não conseguiaachar trabalho. de seu Govêrno no que concerne à política económica externa
a[guma coisa ]he fa]tava. O pobre merecia caridade, mas certa- dêle. morme.nteem relação à América Latina. A época de Roo-
mente Dão compreensão. Durante. a depressão, porém, começou sevelt, ao lado de reformas sociais internas, se caracterizou por
gradualmente
a bruxulearem nós que uma grandeparte do um máximo de tensõesinternacionaisque duraram pràticamente
nossa população ..estava enfrentando' a pobreza, mas 'não era todos os três têrmos e pouco d-e seu (3ovêmo.
conclusivae inegàvelmentepor culpa do pobre". "A revolução Ao fim da guerra,porém,em 1945,na Conferência
:de
social trouxe tambémassistênciagovernamentalàs áreasde de- Chapultepec, na qual "os Estados Unidos cultivaram .conscien-
pressãoem casa." "Com a Lei de Pleno Emprêgo de 1946, o temente a aprovação da América Latina para seus objetivos de
Congressoreconheceuoficialmente que cada um tem o direito paz" (Poweison), o representante . americano reconhece, então:
a um emprêgo." ''. . . admite-se que o govêrno acarreta com a conseqüenteme.nte, ''que os acordos internacionais comerciais
responsabilidade em face do desemprêgo em grande escala. . . dem ser necessáriosem casos excepcbízafsde produtos pri-
Novas.armasde política monetária e fiscal foram afiadase mes- mários importantes que ameaçam acumular ou acumularam pe'
mo deficits orçamenüários se tornaram aceitáveis (dentro de li- sados excedentes".t
mites) para .criar fundo-s de emprêgo. Todos êsses 'aconteci- Na maior parte da décadados 50, porém, "quando o apoio
mentos constituíram g quadro de planejame:nto para um cresci- da América Latina para os objetivobamericanosnão era cru-
mento económico." "Mudanças s(iciais ' têm lugar internamente cial", Washington se mostra intransigente quanto aos propósitos
antesde encontrarsua marca no exterior. Pelo meio dos idos d-e"escorar preços de mercadorias" (Powelson). Assim, na Con-
de. 50, os EstadosUnidos ainda não haviam adaptado sua po- ferência Intéramericana de Caraças (1954), (não é mais "cru-
lítica estrangeira a incluir as tendências que já haviam tomado cial" para os EstadosUnidos o apoio da América.Latina) o.de-
forma nos negócios domésticos. No entanto, foi de encontro ao legado americano foi claro: "Nossa própria experiência nos leva
pano de fundo da mudança realizada DO interior dos Estados a acreditar que um programa de amplidão hemisférica que sim-
Unidos que Fidel apareceu,90 milhas ao sul de Florida. A mu- plesmente transferisse a esta nação uma grande parte do risco
dança de política para cç)m a América Latina foi precipitada pelasflutuaçõesde preços não se justifica pela naturezado pro-
por Castra, mas fundada sabre profunda revolução doméstica."i blema. O custo excederia nossa capacidade, quer o programa
Não. querem.os discutir aqui o idealismo por assim dizer contemplasse pagamentos diretos ou escorasse estuques criados
colegial do bem intencionado economista norte:americano. De- para sustentar preços."*
poisde ter assentado
a-sbasesda novapolíticaamericana
do Nessa época assalta -em todo o relêvo a diferença de ati-
exterior, êle reconhece que a política americana em relação aos tudes. em relação aos fenómenos económicos que costumam
convênios sabre mercadorias excedentes tem sido ex;tremamente afligir nossos países de economia primária, ente? norte e .latino-
contraditória. E.ssapolítica, no entanto, só se tem desviada do americanos;o'ângulo de visão oposto entre os famososvizinhos
que se.poderiachamarde ortodoxia económica,ou da prática ricos do nomee os pobres do sul. Com efeito,.falando sabre as
comercial corriqueira, em momentos de tensão internacional: flutuações de preços'de matérias-primas e os ciclos de negócios,
então o Govêrno americano é capaz de gestos, declaraçõesou o Professor Powelson tenta mostrar que tudo na prática se reduz,
me-smo deliberações, ates favoráveis aos interêsses de aliados, apesar de ser êle mesmo eminente econometrista, a essa "diferen-
dependentes, colonizados ou subdesenvolvidos, seus vizinhos com: ça psicológica ou de mentalidade" pela qual as.encaram ameri-
tinentais. Assim, contràriamente ao que pretende Powelson, não canos do norte e americanos do sul. Dessa diferença resulta-
l John P. Powelson --
Revoltar/o/z,
Lafí/z .4merica: Todas'a Ecorzomfc and Social
MacGraw Hill Co., New York, 1964,pães. 29, 30 e 31. : B:gl::F:l:l: E:li:ll:: á E l::S.! .l:'ib '':;;:1.;%i,.
174
1'
pobreza quanto à intervenção .de.Deus nos negócios reprel;entou
uma grande, uma incomensurável conquista espiritual da huma-
nidade moderna. Ao tempo de Calvino e ainda nos Estados Uni-
dos, segundoo próprio testemunho do Professor Powelson, aos
tempos de Coolidge-Harding, até a depr?ssão.de 1929, os po-
bres podiam acreditar ser a pobreza o lote dado.por Deus à
maioria dos homens. Era imutáv-el,era eterna. Hoje, nem mes-
mo os quichuas decadentese isolados do altiplano boliviano acre-
ditam nisso.
O ProfessorPowelson,que estêvedurante algum tempo.na
Bolívia, tinha esperançasde que para os bolivianos a quedados
preços nos mercados 'internacionais e. logo ameücanos, de seu
chumbo ou estanho, aparecessecomo fenómeno tão naturalmen-
te calamitoso quanto um terremoto mesmo, dêsses mandados
por Deus. O nosso professor? qptretanto, parece..não.saber ainda
que êsseestranho ceticismo boliviano .é compartilhado pelo Ter
cedroMundo em pêso e, por isso, até os budistas do.Vietnã do
Sul são também tão ingratos para com a indiscutível generosi-
dade americana. No fundo, os pobres do mundo, desde qulpas-
saram a acreditar que a pobreza dêles não é mais obra..de.Deus,
se tornaram, sem querer, de uma forma ou de outra? 'coletivis-
tas", "socialistas" ou mesmo -- que Deus nos acuda! -- ''co-
munistas". Há vinte anos os nossos amigos americanos fazem
diàriamente essa experiência, não só na Bolívia mas por todos
os recantos do Planêta onde aparecem, munidos sempre das mes-
mas boas intenções, da mesma generosidade, da mesma sacros-
santa missão de salvar os pobres do mundo do-sperigos do co-
munismo.
Seja Gamofâr, também nós -custamosa compreendero Pro-
fessor Powelson: que não se aperceba ser a economia boliviana
ultradependente dos preços í:nternacionais dos minérios que ex-
porta; seremos preçosdêssesminérios pelo menosem grande
parte con:troladospelos próprios americanos?
.ser por ôssoque a
mesma economia não consegue vencer, estabilizar seus próprios
recursos, sujeita não pròpriamente a cataclismos cósmicos,mas
de propaganda, nem a técnica de lavagem de cérebro, nem certamente ao mecanismo internacional dos preços das matérias-
primas, manejado por várias entidades financeiras e económicas
de âmbito e ação internacional, por várias da-schamadasZeaí&r-
s/zíp preces corporazians, em posição mais ou m?nos oligopólica ;
l Powelson,obra citada, pág. 103 quer 'dizer, aa final, por instituições humanas, pela vontade cons-
cientede homenscom fins objetivose claros.E qual a naciona-
176 /77
homens? Na suameas?ridêsãonlatncanos. pequeno número de sim, os americanosteriam sentido o calor boliviano. Mas evi-
dentemente ai:nda estamos muito longe de que tal venha a acon-
tecer (a própria atitude do Professor Powelson o prova). Se
os americanos a fizeram em casa, foi para uso próprio, como os
inglêses que, desde Bu.rke, não acreditam em "direitos do ho-
mem", mas só em ''direitos do inglês". Afinal de contas, o au-
xílio económico dado pelos americanos na crise boliviana servia
também os interêsses investidos da economia .norte-americana
como um todo e, por ricochête, também aos bfg b íness que
não são tãa humanos assim que não queiram assi-star
um fre-
guês em dificuldades, um agregado que sempre dá algum lucra,
embora modesto, nas horas de crise (aliás freqüentes, entre
subdesenvolvidos).
O Professor Powelson não se conforma, positivamente, com
o fato de os latino-americanos por sua vez não se conformarem
diante da disparidade crónica doç preços de p.rodutosprimários e
os manufaturados.
Êle gostariade instituir o q.uechamoude de-
partamento de faia prece. Mas estranha que não se queiram ex-
plicaçõespara o fenómeno. Uma 'ç-ezverificado, o que se quer
é vencê-lo, contarná-lo, remediar ao menos suas terríveis con-
seqüências.E cita, a p.ropósito, o Ministro das Finanças da Ve-
nezuela que, em setembro de 1960, dizia: "A contribuição que
estamoshoje pedindo a países mais afortunados (fala mesmo
como um subdesenvolvido)é em certa medidao retorno, ou
compensação pela renda perdida através do ante.rcâmbiointerna-
cional. Não deveríamos positivamente nos se:ntir embaraçados
em aceitar tais contribuições." (Citado -em editorial de C///fma
Hora, l,a Paz,Bolívía,8 de setembro
de 1960.) Assimcomo
não acredita em bruxas, o professorparece duvidar da existên-
cia de monopólios ("lf //zey exisf") . Mas, para argumentar, acei-
ta que "os big bati/zessnos Estados Unidos comprem (?!) pro-
dutos prima\íos latino-americanos. Aceitemos tenham alguma
influência sabre o preço."
A.ntes de prosseguirmos na exposição das idéias do professor
Powelson, talvez convenha lembrar um precedente histórico mo-
delar: o primeiro convêniointeramericanode café. do ano da
graça de 1940. Com efeito, qua.ndo então se discutiram os têr-
mos do convênio, não foram poucos os economistasa estimar
ser o "bom" preço do café estipulado como aquêle que cobria
o produtor do café de pior qualidade. O fato, porém, já não
178
/79
'A lição pode ser esta: os paísesprodutores,ao combi-
narem restringir a produção, podem dentro de certos limites
aumentar sua renda. Êles devem, porém precaver-secontra a
elasticidadeda procura a longo têrmo que pode corr-eros mer-
cadose deixa-lospior que antes". (Powelson.)Daí mais uma
vez se verifica não haver recursos para os subdesenvolvidos pro-
tegerem-se contra a decalagem tendencial do preço dos manu-
faturadosem face dos produtos primários. Não há, pois, meios
de arranca-los
da inferioridadede po-lição.Ou por outra: só
há uma so]ução, a intervenção sistemática, permanente nas leis
do mercado,ou seja, uma revolução-- enter-nacional, mundia!
-- para estruturar o que até aqui nunca foi estruturado mas
simplesmentemanipulado, condicionadode forma mais ou me-
nos aleatória, empírica ou. .. golpista. Eis a revolução para
a qual o seu país deveria dar a matar contribuição e êle, econo-
mista amigo dos países latino-americanos, o seu apoio.
O de que se trata é assim fazer com que as flutuaçõesde
preços internacionalmente não apareçam para nós outros, bo-
livianos de todo o mundo, como força da natureza, t-erremotocós-
mico, fenómeno meteorológico que traz chuva e vento, frio e
calor, queiram ou nãa queiram os homens. O diabo é que
os subdesenvolvidos vão aceitando cada vez menos es.sa me-
teorologia absoluta dos teóricos economistasdo capitalismo.
Por que os têrmos do comércio internacional hão de se resolver
sempre contra os interêsses dos subdesenvolvidas do mundo?
Por que o poder de compra relativamente à sua população só
cresce nos países de manufaturados? Powelson quer consola-los,
mas, sendo honesto, o faz mal: "A longo prazo as perspectivas
de mercado para os produtos primários são governadospor duas
fôrças opostas.Uma tendente a elevar os preços, outra a baixá-
los. A primeira consisteno aumento de produção mundial e na
renda; ambosevocam uma procura mais alta para os produtos
da indústria. As matérias-primas, porém, .existem em quantida-
des fixa-s: tanto petróleo no subsolo, tanto cobre, etc. Muitos
predisseramque os preços subiriam com o tempo em face da ine-
lasticidade dos suprimentos". E a segundaforça? ''Há tendência
para os substitutos (como rapo/z, nyZon,plásticos e borracha
sintética) bem como economia-sna utilização dos produtos pri-
l
mários (por exemplo,fazer com menor quantidadede cobre o
Duncan, Ti%e Hmerfca/z .Eco/zom/c Revfew, junho de 1944.
mesmoque uma quantidademaior fazia anteriormente)."
r'
tor de café, em primeiro lugar. Melhor do que qualquer outro
produto da América primária ou apenas "pós-primária", o café
define o verdadeiro comportamento norte-americano em face das
vicissitudes económicas dos nossos países. Qual a situação dêle
entre os outros produtos crânicamente em excedentesda Amé-
rica Latina às vésperasda guerra?O Ministro da Fazendado
Brasil na época, Sr. SousaCosta, a define assim: ". . . o valor
médio, em ouro, da saca de café desceude E 0,17 nos pri-
meiros nove meses do corrente ano".x Nos anos que precede- e
ram o comêço da guerra os produtor.es latino-americanos ex-
portavam aos E-stadosUnidos .uma média anual de treze mi-
lhões trezentos e oitenta e cinco mil sacas, quer dizer, 569o;
para a Europa, exportavam nove milhões e sete mil, ou 38%a.
Nessemesmo período, as importações da América Latina nos
Estados Unidos representavam 93,3%o de todo o café ali en-
trado (média anual). Acrescente-seuma ofei.ta de café nó mer-
cado mundial de mais quatro milhões e oitocentas mil sacas.
África e Ária enviavam aos Estados Unidos cêrca de quinhentas
mil sacas(médiaanual);o restodo caféera mandadoàsres-
pectivas metrópoles, e tinha tratamento preferencial. O bloqueio
da Europa interditou na prática toda essaprodução colonial de
alcançar aquêles centros consumidores de seus cafés. Assim se
pwha a situação estatística mundial do café: uma oferta po-
tencial de vinte e seis milhões de sacas no mercado americano
para uma procura de no máximqdezesseis milhões. Admitir, nas
condiçõesdadas, que o jogo da oferta e da procura se pudesse
exercitar, simplesmente,era admitir uma baixa vertical nos pre-
ços, ou a catástrofe para quatorze países latino-americanos, cuja
estrutura económica se apoiava no café.z A Terceira Confe-
rência Americana do Café se reúne em junho de ]940, com o
fito de estabelecer
um plano de cotas para a exportação: de
café aos EstadosUnidos. Ê-atesaceitam participar da confe-
rência (sem isso não haveria, aliás, o que deliberar). O projeto
de cota é aceito, mas sem a necessáriaunanimidade; uma mino-
ria de produtoresfica de fora. Afinal, depoisde.muitas.nego-
ciações,a 28 de novembrode 1940 um acordo é fechado.No
1 cousa Costa, Pa/zorama Fi/zanceíro e Eco/tónico, D.i.p.l 1941,
pag 91
2 Todos êssesdados são do Manual do Comitê Consultivo Económico
é..'Usei L:;:''H': {l='Ç:k l"Z'TãZ'
q: ''"" '"«'", e Financeiro, terceira parte, págs. 101 e seguintes.Ver também Chamisso,
obra citada, págs. 158-161.
/82
/83
acordode comprasde excedentes
de arroz (21-12-43), com
troca de notas, para prori.ogá-lo, em 20-7-45, com plano limi-
tado de compras, obrigando-se o Govêrno brasileiro a contin-
genciar sua exportação do produto. Antes do convênio, o co-
mércio exportadordo Brasil havia sofrido uma baixa de 35 a
40% dos totais anteriores
Não se pense, porém, que o convênio não levantou críticas
nos Estados Unidos, em nome da intangibilidade dos preços no
mercado.Referimo-nosoutra vez ao ProfessorWickizer. em sua
obra sabre o café. O professor da Califómia discute a tentativa
do Brasilno sentidode estabilizaros preços.Para êle o êno
dos esquemasde controle é que o nível a que são fixados os
preços.tende a ser alto bastante para dar lucro ao produtor do
mais alto custo. (Com isso assegura-senão sõmentd'uma renda
diferencial mais alta, mas tão alta que cobre a renda absoluta
da terra e impede seu valor de baixar. É o prêmio que o pro-
prietário da terra pede ao produtor, aó capitalista, Faia as ope-
rações comerciais ou valorizantes dêste). O nível alto incita,
por sua vez à superproduçãonão só no Brasil mas nos outros
países produtores do café, estabelecendo-se então um preço
que.desestimula a expansão do consumo. Para êles a posição
do Bmsil no mundo do café foi enfraquecidae não reforçada
com o resultado da experiência de controles artificiais e dos
efeitos sabre sua economia doméstica. Os preços estabelecidos
no convénio interamericanodo café de 1940 teriam sido muito
altos, muito acima do custo da produção. Chamou êle fortemente
a atençãopara o preço difeKncial em favor dos cafésmolesda
Colâmbia e outras repúblicas próximas ao Equador. O Brasil
aproveitou-se da situação para colocar seus cafés duros numa
relativamentemelhor posiçãode preço que as preferênciasdo
consumidor justificavam. A situação intêrnaciolial, inclusive a
posição estratégica do Brasi], observava o professor, não jus-
tificava os altos preços que foram consentidos, particulamlente
quando grandes compras de outras mercadorias dês.sesmesmos
países são tomadas em conta.
A análise do economista ortodoxo, como preito aos tempos,
tomando em consideração a posição -estratégica do Brasil e a
própria situação internacional, mostrava que aquelas grandes
l Quer dizer, um comprador absoluto geral e não -- ----. . compras não pediam tão altos preços para o convênio do café,
çm carne e osso. Um comprador "político';, em suma. uipiaclores uma vez que outras mercadorias dos mesmospaíses, em grande
procura, lhes proporcionavam fortes vendas. Na verdade, a mo-
l
/85
.r'\ hiSTÓRiA das relações dos Estados Unidos com a
AméricaLatina, a partir da épocada boa vizinhança,é um ne-
gaceio permanente entre permanentes interêsses económicos de
seus monopólios e consideraçõespolíticas nacionais. Em ne-
nhum campo êssenegaceio é mais patente do que no compor-
tamento do Govêrno americano em relação ao problema vital da
e-stabilização do preços de produtos primários e financiamentos
compensatórios.
Para que isso surja com maior clareza,veja-
mos o que a respeito dizem duas autoridades económicas: o Dr.
RobertoCampose o ProfessorPowelson.Um o faz no seulivro
aqui já muitas vêzw comentado;o outro, numa conferênciaem
seminário na Bahia, do qual participaram também os Srs. David
Rockefeller, Embaixador Lincoln Gordon e outros (editado em
livro por Mildtled Adaur, sob o título: Z,affn .dmerfau -- Eva-
Zzzfíonor Exphsíon? -- 1963). Ambos falam linguagem eru-
dita e acadêmica.Ambos sustentam ao mesmo tempo um otimis-
mo circunspecto e regularmente burocratizada. Apenas o Pro-
fessor Pawelson, na sua qualidade de americano e de puro técnico.
sem maiores responsabilidadespolíticas, tende a ser mais franco
e com simplicidade expõe sua opinião. O seu êmulo, hoje emi-
nentíssimohomempúblico no Brasi], depois de ser embaixa-
dor do Govêrno deposto, se compôs um estilo que, se é pedante
/87
por si, que estão criando dificuldades,para ver se soluçoes.em
cooperação podem ser achada?. Já asslim fizemos no caso :lo café
e mais recentementeno caso do chumbo e do zinco: Acreditamos
que uma efetiva cooperaçãointemacional para evitar desequilí-
brios repetidos e agudosentre a oferta e a procura dessasmerca-
dorias possa ser uma importante contribuição,para os, nossos
objetivos.'. Isso 'não significa que soluções fáceis podem ser
encontradas. Isso não significa que tenhamos alterado nossas
opiniões relativas à impraticabilidlde de esquemas de es111bi-
lização rígida de preços Isso significa que sentimos.que ganhos
reais podem ser obtidos onde qu;r que nõs tentemos todos juntos,
em boa fé e discutamos os nossos problemas comuns."' ; .
A linguagemera nova, quase patética, como convinha às
"exigênciasdo tempo". Passado o. ano, o choque seguinteestava
fadado a trazer contratempos e dissabores ainda mais fortes.no
seu baia: a Revolução cubana. Washhgton,. mesmo sob !?se-
o
nhower vivo dias de aborrecimento e .nervosismo. Presljen-
190 29/
FI
BB.Egg;$=H$':B:
nõmica e . um clima favorável aos investimentos, identificar-se
Petrópolis, outubro de 1954, quando uma proposta latino-ame-
ricana para estabilizar os preços das matérias-primasfoi rejei-
tada pelos Estados Unidos como ''cima aznleaçaà livre emprêsíz"
por demais estreitamente com ditaduras impopulares'=t Eis aí uma fala clara, sem rebuços,que não mistifica nem se
l (rÀe 4//lance /or 325) 'The long and the short vier, Centennial tar a impopularidade. Para permanecer, porém, fielmente dentro dos
moldes exigidos em Washington -- ou na OnA-- isto é, os da "demo-
cracia representativa", o Congresso "funciona", o presidente foi "elei-
to" e é I'constitucional". No entanto, uma "linha dura" anónima, fe-
chada nos quartéis, integrante, poréml do novo regime legal, tem por
função quebrar as ditas resistências.
194
/95
perde em f?bulaçõesideológicas.Que a posiçãoamericana-- o preço mais flexível à vontade do consumidor.: Em Londres
esta, sim, de princípio.-- não.mudou, i) prova o comporta- como em Washington, os americanos estão prevenidos para não
mento americanode ]á para cá, mesmocom as exceçõesde consentir em "subsídios", para não permitir as velhas larguezas
Bogotá ou Punta del Este. ' ': "
de 1940, para não at-entarcontra a ortodoxia do mercado. Con-
Em 1964, na conferência dos subdesenvolvidos sob a égi- vênioscomo êsse,não esqueçamos, são "uma ameaçaà .livre
de da.ONU, em Genebra, foram os delegados norte-americanos emprêsa". Para que as vistas de Washington se tornem ''mais
os mais linflexíveis contra concretizar-se qualquer proposta posi- fle;íveis" com relação ao café e aos outros produtos sul-ameri-
tiva para a defesa ou regulamentação em defesa'dos 'pmdutos
canos, já não bastam as cusparadas antiimperialístas de :Caraças
primflrios no mercadomundial. O máximo que se conseguiufoi ou mesmo a revolução entre os cubanos. Seria preciso uma
nomear uma comissão e transferir o problema para a ONU,para verdadeira revolução nas práticas do comércio mundial= Ou
estudo O ,professorCamposafimia, entretanto,que essapolí- uma revolução em profundidade no sistemaeconómico brasileiro.
tica americana fará substancialmente modificada, pois que,
desdeBogotá e depois Punha del Este, os Estados Unidos focam Se voltarmos agora às vistas do professor Powelson sabre
os mesmosproblemas analisadospelo .seu êmulo.brasileiro, ven
levados "a uma participação mais atava no esforço 'de estabb
ficaremos que o professor americano faz um esforço bem maior
lização dos preços do café". Assim, toda a demonstraçãodessa em analisá=los sob o ângulo económico. Há nêle, pelo menos,
PT.gTça estÍlv2 então num convênio de café qu;'Wlii;ii;Ü;l uma tentativa de raciona]izar o assunto., Se ]he parece ter a acei-
assinou em 1962, em face de precedentes impossíveis de esconder.
A "modificação substancial" desdeBogatá e Punta del Este tação do convênio do café se tornado "instrumento da guerra
é deduzida da "participação mais atava dos EstadosUnidos no fria", nem por isso renuncioua tentar descobrir"razões eco-
esforço por estabilizar os preços do café". Convenhamosser nómicas"para que os EstadosUnidos concordassem cl:m os
pouco. Como essa.modificação "substancial" se caracteriza pela convénios: é preferível adquirir as matérias-primasonde são
mais baratas. FÇ)r isso os negociantes norte-americanos prever?m
boa vontade americanaem estabilizar os preços do café, cabe
aqui mostrarque o que os americanosfizeramem 1962 ou antes comprar as matérias .primas de fontes estrangeiras, inclu-
mais recentementeestá longe de poder ser comparado ao con- sive na América Latina, onde o baço custo do trabalho é um
fatos nesse sentido. A política oficial, reconhece Powelson, sem
vênio de café celebradoem 1940, quando, segundoo Sr. Cam-
pos, as relaçõesdos EstadosUnidos com a América Latina
eram governadas pelo geo-pa/í/icaZ approacã. Não há dúvida: #%hÊ üi:s:s=.i:in.==i:=
nçi
"que fazem honestamenteo máximo .para divorciar as opiniões
a situaçãoestratégicado País,muito aproximadoentão da Ale-
manha pela aviação, impunha aos Estados Unidos relações da- profissionais dos interêsses pessoais, têm aconselhado prudência
quela ordem. A pressão geopolítica era tão forte (para falar l Na reunião de 1965 em Londres, o total das cotas fixas foi.fixado
na linguagem campista) que, além do subsídio aos produtores para o ano cafeeiro,iniciado em oltulro daqueleano, em 43 luu uuu
de café, Washington ainda fêz considerável investimento público sacaspara um consumo previsto de 45 000 000 d! sacas, se o preço médio
na construção de Volta.Redonda. E agora? Um prometode con-
vênio de café foi negociado a duras penas no Senado americano 11Ü
:ãÜiUtiÜj« J::;:ã":!-:,::':Ê::ê::i:;
"=1':;4
as importaçõesnos EstadosUnidos e obtendoque os .outros país:s
e no Conselho do Café, em Londres. Nesta Capital, o Brasil produtores' estabeleçam metas de produção. Quer aind!..instituir a. di-
pleiteou cotas mais baixas de café a fim de melhor defenderos versificação'das regiõescafeeiras;'em suma, uma política que disci-
preços.contra eventuais quedas.no mercado. Foi derrotado pela pline os outros países produtores.. .Mas o .convênio de. preçosi que so-
bretudo interessa aos Estados Unidos -- é simplesmenteanual:.Isto .é,
oposição sistemática dos Estados Unidos à proposta brasileira
de uma cota geral de exportaçãoe consumode 35,2 milhões de fica prêso constantemente à conjuntura .imediata.do mercad!.(Ver de-
clarações públicas do Ministro da Indústria e .Comércio sabre.o con-
sacas;os EstadosUnidos forçaram a aceitaçãode um aumento vênio firmado e as negociaçõesna reunião da OrganizaçãoInterna-
na cota brasileira de dois milhõesde sacas,no intuito de tornar cional do Café.Correio da ZUanAã,l0/8/65.)
/9Ó /97
no aceitar convênios de mercadorias". As recomendações dêles mesmo dos mercados centralmente controlados do café do Brasil
IHgHH:itS0$
:mú8$
e Colâmbia". Daí acreditar que ''os latinos farão bem em unir:se
entre êles, como uma fârçã de contrapêso em face daqueles
compradores". E diz: "A vontade de comprar a. preç(3? ,nlps
res e, ainda mais, êles e não os EstadosUnidos, é que' devem' baixos é uma razão, mas apenas uma, pela qual os Estados
empreendê:la. O meio .de o conseguir seria de ordem fiscal. Os Unidos se têm oposto, tradicionalmente, aos acordosde merca-
produtos dessasmatérias primárias seriam taxadas quando os dorias. E a justificação dêles está na convicção de ser o pro'
preços estivessemaltas e os fundos deposi:ladosno Tesouro b ema dos produtores primários problema dos latinos, cabendo
a estessoluiioná-lo. Mais ainda: há forte crença de que às orga-
nizações monopolistas na América Latina (e alhures entre pro"-
dutores' primários) falta a iniciativa pa1la reduzir os.custos. .O
se traduz em ineficiência nas operações das.emprêsasnacio-
nais. A América Latina não apresentarecorde favorável sob
êsse aspecto". Mas se muitas dessas observações sao exatas,
não se compreende,nêle, essa série de perguntas:..'Por que,
então, a 'oposição dos Estados Unidos tem diminuído nos re-
locais". (Eis em que não falaria DOBrasil o Dr. Campos) Aqui centesanos?Por que os EstadosUnidos se têm mostradoincli-
é-nos forçoso confessar nosso ceticismo, pois 'tudo está a 'de- nados a reunir-se a grupos de estudos sabre produt?s e .po!
monstrar ser essavirtude hoje mero /eed-bzÚkideológico; mesmo que concordaram. em assinar o convênio de café? Haverá aí
Estados Unidos, onde a "ética. capitalista" é soberana, a uma estratégia política? Descobriram os Estados Unidos.que
tendência.é para.entregar ao Estado o poder de 'intervir na necessitamdo apoio latino-americano para a guerra fria? E es-
soluções dos problemas locais. Além disso, é o caso de se per- tarão prostituirtda sitas convicções ecanõmicas para ganhar uma
guntai. é, por exemplo, a produção de café problema local? base momentânea na opinião fundia!?" .A resposta é sim, con-
Há ainda outra posição dos economistas profissionais com fessa, sem restrições, o professor. "SÓ os ingênuos demais, diz-
relação.aos.convênios, qu-eé bem mais fundamental; é a relativa nos êle, para encarar dê frente a realidade política, raciocina-
ao nível médio dos preços- As diferençasopinativas são aqui, riam de outra maneira. Mas não é tudo. Não possopredizer sa
nos diz. Powelson, função "dos diferentes graus de aceitação do a reviravolta será de longa duração. Sua base política é clara
mercado como árbi/ro doi preços". "Os norte-americanos tendem. e pode durar apenasenquanto durar a guerra fria." Ao escrever
confessao nossoeconomista:a.não ver nada de errado com o as linhas acima, o professor Powelson foi franco. A era pó!-
mercado. l Eis aí uma posição "de princípio", isto é, de classe, krucheviana, como a krucheviana, será ou não de ''guerra fria",
irredutível nas condiçõesjurídicas vigentes ná sociedadee nm mas forçosamente será de "coexistência"; quer dizer, os. fatâres
Estados americanos. Ela significa que as classes determinantes políticos oriundos da chamada Doutrina Truman . (cujo prin-
na sociedade americana nada têm 'a reclamar do capitalismo. cipal representante, e aquêle que a encarnou verdadeiramente
Êle também: abas,.nada vê de errado no mercado e,'por isso com a fidelidade e o destemor qua-seque de um cruzado místico
mesmo, desdenha do alegado poder dos monopólios 'que para da Idade Média, foi o Secretáriode estado do PresidenteEise-
êle é mais espantalhoque outra coisa. Entretanto,não (fixa nhower, Fostes Dulles) terão de fazer espaço.aos fatâres eco-
reconhecer. -- justiça se ]he faça -- "apresentarem aquêles nómicos.l Êssestendem a dominar no centro da cena mundial.
uma frente substancialde barganhavis à vis dospl-odutoresde
borrachado Equador, dos criadoresda Argentinae Uruguai e l Do contrário será a guerra, a guerra mesma e não "fria", embora
não necessàriamente nuclear, como recentemente no Vietnã. A. guerra
l Obra citada, pág. 144. na periferia;' asiática será então o substituto da guerra fria e. ..
198 r99
A luta por essa primazia dos fatâres económicos constituirá quer dizer, de acordo com uma filosofia neocapitalista privada,
a essência da estratégia soviética até, talvez, o fim do século. em obediência a tendências sócio-produtivas exógenas, que
Seráuma épocaem que, não sementena União Soviéticamas viriam com o tempo privilegiar camadasburocráticasdirigentes
e centros individualizados de acumulação na agricultura indus-
em geral, as armas da lideologia serão substituídas pela ideolo-
gia . das armas, ou pelo realismo. Permitam-nos, 'agora, êste trializada (acusações ou previsões pessimistas dessa ordem têm
parêntese:Os governantesatuais soviéticossão de uma geração partido dos chinesesde Pequim); mas que vise -- para que a
que não fêz a revolução, nem sequer tomou parte atava ou de- grande experiência da revolução russa possa afinal vhg?! --..a
terminante nas graves lutas fracionais internas após a conquista serviços para o povo, quer 'dizer, de 'acôrdo com a filosofia
do poder e a morte de Lênin; foram formados como técnicos, socialista coletiva, à satisfação comunitária cada vez mais flexí-
como burocratas-- dentro e fora da política do poder -- com vel, mais fácil, cada vez mais automática, numa perspectiva que
as conotações más e boas dêsses conceitos. Estão interessados se deve aproximar cada vez mais das necessidadesde cada um,
sobretudo no fazer e não no agu, na eficiência da gigantesca isto é, numa perspectiva ilimitada.
maquina económica e social que os seus maiores e êles mesmos ''Coexistênciapacífica" que não fosse uma mera trégua na
ajudaram a construir e montar. Sua posição no contexto social guerra social, questão de relação de forças, era para Lênin, para
russo, suas tarefas são outras que as dos fundadores revolucio- Trotsky, para os teóricos © fundadores do Estado Operário russo
e da Internacional Comunista, a marca mesma da oportunismo.
nários do Estado soviético. Pala êles ou os que os sucederem, Concebê-la como duradoura, como estratégica, como toda uma
os "princípios" do socialismonão estãonos textos sagradosde
Marx ou de Lênin! nem mesmonas imagensgloriosasda meni- fase histórica, parte da integração da economia pública estatal
niw, de outubrode 1917:operários
e soldados
famintosmas no mercado mundial é revisionísmo, embora possa ser do bom
iluminados pela esperança,a bandeira vermelha ondulando sabre revisionismo. Eis porque para Kruchev e sobretudo para seus
continuadores atualmente à frente do Kremlin, a coexistência
as cabeças? assaltando o Palácio de Inverno, em Pettogrado
etc. E muito menos e.suãoDa montagem da deificação de um pacífica significa colocar no plano económico o cotejo dos dois
paranóico..na fase mais sombria da ]listória moderlla, quando regimes, o cotejo entre as duas grandes hipóteses de organização
em face dêsse processo outro semelhante era montado' na culta da sociedadede massanos próximos tempos; a do fomiidável
e civilizada Alemanha, sem falar na ltália e outras tentativas capitalismo americano, a máquina produtiva mais perfeita e mais
afins em países.menores. Para os dirigentes atuais êsses«prin- poderosaque já se construiu na história, em marcha para o seu
cípios" estão antes nas correias de transmissão ou Dos volantes apogeuo a das economiasdo mundo dito socialista,de que a
de suas máquinas, .na força de seus geradores de energia, na russa é a maior, a mais poderosa e representativa,embora ainda
precisão.de.suas linhas de comunicação à distância, na exatidão em fomiação, agitada pelas contradições, inclusive sociais, de
e minúcia de seus f?paradores estatísticos, de seus computadores classeatée pelosanacronismos,
sobretudo
de doutrinae dog-
eletrânicos, na flexibilidade e eficácia de seus planejamentos, na mática políticas, longe da flexibilidade da máquina produtiva
coordenação ótima de seus grandes trustes ecÓnâmicos entre si. americana e da bela proporcionalidade de seus diversos ramos
produtivos. É possível que a estratégia dos responsáveis pelos
no acoplamento perfeito da complexo industrial e do complexo
destinos dos Estados Unidos seja, ao contrário, conservar o
agrícolae do todo produtivo com ú todo consumidor,no apro- mundo na contexto da guerra fria, quer dizer, impedir que a
veitamento ao máximo das energias intelectuais da mocidade,
num esforço final para alcançar a produção em massa, já ma- grande questão, a grande escolha seja posta no plano da com-
dura Ros Estados Unidos. Façamospreces, porém, pala que petição económica,cada país livre de seguir o .modêlosócio-
êsse esforço não seja para o consumo em massa à americana, êconâmico para seu desenvolvimento e prosperidade que seu
povo escolher. Os americanos visariam a impor. à economia
também simultânea à "coeHstência pacífica". As guerras frias e quentes lioviética um estado permanente de tensão, obriga-n-do-aa expan-
serão endêmicas na periferia das metrópoles. dir-se na corrida armameRtistadas táticas de sobrevivência em
200 20]
função da estratégia da dissuasão. Nesse caso, em verdade, será económicas, sociais, culturais prevalecentes em sociedades de
necessário manter o plano da guerra fria com as deformações aparelho económico menos perfeito. Ou w joga o jogo da con-
e aberrações da guen'a ideológica a envenenar o ambiente social corrência, dos intercâmbios coma êle quer, conforme as regras
e político nacional .e internacionalmente; Continuar-se-á no pro- que êle próprio estabeleceu
-- e ganharásemprecontra os
cesso sistemático d-e alienar da realidade os homens de- Di)sso outros --. ou terá de aceitar, conscientemente, alterações nas
tempo regras do jogo capitalista. Exemplo histórico disso: depois da
O parêntese foi longo, embora necessário para abrir algu- Primeira Grande Guerra e seguindo-seao período de zoom dos
ma clareira no ingênuo provincianismo, que nos perdoe em o idos de 20, em face da prolongada crise de depressãoem que
dizer, das lucubraçõespolíticas do eminente professor Powelson. o mecanismo capitalista fracassou, o público americano não
Voltemos à questãopor êle levantada. É claro, a política ame pede deixar de tomar conhecimentodo fato, pois que o sentiu
ricana de apoio ou não à defesa dos produtos primários dos na própria carne. A con-sciência americana pela primeira vez
países subdesenvolvidos durará enquanto durarem as exigências põe em dúvida a perenidade e a excelência do sistema capitalista.
da guerrafria. Mastudo indicaestara mesmatendendo
a es- Em sua maioria, o povo inclinou-se em aceitar as modificações
vair-se, pelo menos no plano estratégicoda Europa Ocidental, que a própria depressão,como condição para ser superada,tor-
incoercivelmente atraída para renovar seus laços, velhos laços, nava possíveis e digeríveis ao paladar americano. Depois, em
económicos, sociais, culturais com a outra banda da também outra fase,veio a luta contra as normas do comérciointernacio-
velha Europa. Por ora, o GeneralDe Gaulle é o pioneiro dessa nal inaugurado pela Alemanha nazista, a liquidação da inamo-
tendência. Cedo, outros, na Europa, o seguirão. Isso é inevitá- vibilidade do padrão ouro, o investimentoestatal em obras pú-
vel. Enquanto puderem, porém, os Estados Unidos procurarão b[icas, o p]anejamento. Na luta contra a estatização da moeda
conservar-lheparte da virulência, ou pelo mono-sos seusefeitos dirigida e do comércio bilateral alemão, os americanosfizeram
no resto do mundo, especialmentena sua América Latina. Os a guerra,comia intervençãomaciça do Estadonas relaçõesde
países dêsseresto de mundo são contudo paísesde economia em produção, nos investimentos públicos, em substituição aos pri-
formação que não tomaram o rumo definitivo, ou não fizeram vados, ço sistema de defesa de preços, de estocagemde mate-
a escolha histórica. O subdesenvolvimento ainda é a chance riais críticos e estratégicos, de controle cada vez mais acentuado
americana de manter sobrevivente uma forma de colonização no mercado. Termina o conflito mundial e quando se pensava
que consi-steem traçar para êsws paísesas vias, dir-se-ia eter- que, afinal, se ia voltar ao privatismo económicogeral, ao su-
nas, da livre emprêsa. Assim o superimperialismo americano posto espoDtaneísmodo mercado e dos investimentos, às velhas
exercerá sôbre êles um controle que poderá ser ameno, razoável normas da economia mercantil, em suma, arquivadas pelo menos
e até alegre, mas saberá distinguir os seuse os interêsse.scrioulos. pajlcialmentedesde 1929, eis que novamente o que se apresenta
É inútil tergiversar. As vias do regime económico vige-nte é defrontar as regrasnovíssimasdo ca-pitalismo'de Estado (ou
nos Estados Unidos são inflexíveis. Assim como serviram a'êles, socialismo) russo, a ruína total das velhas economias mercantes
têm de servir aos outros. É a Doutrina Truman. O capitalismo européias; e a resposta? Foram as doações maciças de capitais
americanonão pode mais viver, com efeito, senãoem antago- públicos, a redistribuição planejada das rendas pelo Estado, o
nismo cada vez maior com o mundo exterior. É-lhe difícil. senãc} Plano Marshall. A última fase, a da guerra fria, se caracteriza
impossível manter relações económicas com os outros países, por uma intensapolítica externa intervencionistapara defender
sem crescentes choques de interêsses. Sua posição hegemónica a livre emprêsacapitalista,mas no cursoda qual medidaseco-
é de tal ordem que tende involuntária ou espontâneamente,
por nómicas de ordem geral por assim dizer clássicas são suprimidas
si mesmo, a envolver as outras economiasem seu contrito, ou deformadaspara manter o i/a/u que económico e social, que
para subjuga-las senão combatê-las. (Ver as inversões anuais só é mantido atravésuma mobilização política, ideológica, mi-
na Europa.) Do contrário, terá que se adaptar às condições litar permanente.
202 203
]..
No fundo, o que se chamou de "guerra fria", lançada ao os outros objetivos, como sejam o crescimento do bem-estar
mesmotempo que o PresidenteTruman declarava que nãa po- social e a continuação do progresso económico, embora rela-
deria o sistema americano sobreviver se não passassea vigorar cionados com o objetivo principal, são de importância secun-
no resto do mundo, foi a tentativa, como política sistemática dária." Tal prioridade que evoca a atmosfera wagneriana-
dos Estados Unidos, de comu-nácar
aos povos que seu objetivo hitlerista do Crespzísczz/o
dos Dezlsei, pede, para justificar-se,
nacional não poderia ser defendido e assegurado senão com a a opção em face de um supremo mal incorrigível: ". . .não
imposiçãoao planêtade seu sistemade livre emprêsaprivada. podemostolerar de modo algum a sobrevivênciade um sistema
Seu ideal de grandeza abrange a adaptação do mundo inteiro político (o comunismo) que tem tanto a crescente capacidade
à sua política. A guerra fria é a expressãode uma contradição como o desejobrutal de nos destruir. Não temosoutra alter-
insanável entre êsse "objetivo nacionalmente privado permanen- nativa senão adotar uma estratégiacatânica."I Há nisso um
te americano" e a liberdade do mundo. A estratégia traçada provincianismo perigoso para a paz e a tranqüilidade do mundo.
para sua vitória pressupõeque, do lado do comunismo,seja Daí um descontentamento crescente na frente internacional,
inconcebível qualquer alteração de comportamento "que possa a dissoluçãoprogressistado bloco ocidentalde defesado ilafu
permitir um acordo com o Ocidente". Essa pressuposição,que que político, social,económico,na paz, que se seguiuà vitória
nada, nem teórica nem tàticamente justifica é, no edita-nto,abso- sabre Q Eixo. Por sua vez, a manutenção do ifafzz qzzona frente
lutamente necessáriapara a fortaleza do pensamento estratégico internacional traz a rebelião do Zero fro À/24nda, inconformado
americano. O a]mirante Ward definiu, nesse sentido, lapidar- com os privilégios das nações industrializadas na arena do co-
mente, o objetivo nacional americano: "a vitória sabre o comu- mércio mundial. Ou alteram-se as regras do jogo, ou desmorona
nismoT. Num livro capital para a compreensão do pensamento o i/afu qlzo mundial com a agravaçãoextremadas tensões,in-
estratégico americano, destinado ao Instituto de Estudos de Po- ternamente, nos Estados, ou externamente, nas relações entre
lítica Estrangeira, t/üna' E.çlrafégz'apara a ,4mérfaa, da autoria êles. Agravação das tensõesnão se daria mais, p-orém,como
conjunta de três dos maiores teóücos da guerra moderníssima, aos primeiros tempos do pósguerra, contra os regimes ditcrs
coronel W. Kinster, da atava,Dr. StephanT. Possnony,diretor comunistas, em processo, aliás, de adaptação e democratização,
dos EstadosInternacionais do Instituto Hoover, Stanfofd, Uni- mas antes contra as ameaças de depressão e de pauperização
versidadeda Califórnia, e Dr. Robert Strausz-Hupé,assim se em permanência.Os p-ovossubdesenvolvido-s não aceitama mi-
define, de forma igualmente lapidar, o objetivo nacional ame- sériacomo o seulote na história. Não há saídapara o dilema.
ricano: "Ninguém acreditará. É a paz mundial, por meio de Os Estados Unidos estão Duma das pontas do dilema.
uma lei imposta a todos." Não estáclaro? É a DeclaraçãoTru-
man, definida em têrmos aritméticos, como convém a planeja-
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o problema mas antes o perpetuam.Um remédio mais radical dência e até sabedoriano procurar atenuar a rigidez dos meca-
seria persuadir os produtores dêles a abandonarem culturas em ni-smosfinanceiros e as fiiaquezas congênitas de ordem estru-
superabundância por outras em escassez. Êsse remédio é para tural dos países subdesenvolvidos. Trabalham, com eileito, para
nós uma autêntica."mesinha" caseira. A história mesma de nossa a paz e para o mundo, tentando conciliar as idiossincrasiasdas
evolução económicanâ-la tem imposto desde as prismaseras diversas economias nacionais e regionais. Mas a tendência de
coloniais. E agora, com o café em estado crítico crónico, inú- seus esforços e estudos é no sentido de romper as cristalizações
meros são os produtores brasileiros que passarama cultivar cana dogmáticas das teorias económicas e, ao contrário, estimular ou
de açúcar, algodão, criação etc. Mas c-omopersuadir os pro- cultivar os embriõesde instituiçõesnovas no plana dos inves-
dutoresa passarem
a ''ocupaçõe-s
de maiornecessidade"?
Pa- timentos, por exemplo, como um jardineiro ou agrimensor ou
gando-lhes menos, propõe o nosso Povmlson. Poder-se-á até botânico cuida com carinho dos híbridos novos.
graduar o declínio nos preços, para a operação não ser penosa Em 1963, a discussão do plano oferecido prosseguiu entre
demais.Há, porém, que pagar o que Powelson batizou de "as a ONUe o PMI e, segundoinforma Powelson, êle mesmo técnico
durezas da mudança". Em relação ao Brasil, o marechal Castelo daqueleFundo, êste autorizou a retirada de 259o das cotas
tem a força para essapersuasãocom dureza.Mas não a usou dos paísesmembros vítimas do declínio dos preços de matérias-
contra os grandes proprietários territoriais. Foi p-ena. primas. Powelson: "É um passo na direção do financiamento
compensatório, ma$ está muito aquém das propostas das países
Pelo financiamentocompensatóriose poderia evitar o pro- primários". É verdade. Pelo esqueça esboçado pressupor-se
blema, dizem. As Nações Unidas têm sido, aliás, pródigas em não haver interferênciacom os ajustamentosa longo prazo dc
estudos e monografias sabre o problema, inclusive em esquemas mercadoriasem excedenteno mundo. e então se ofereceaos
de compensaçãoautomática.l Outro relatório, ainda mais elabo-
países vítimas das flutuações a seguinte alternativa: ou as rei-
rado, sôbre Interriatiotmt Compettsation for Fluctuation in Com-
mod/O Frade, de 1961, da mesma organização,entregaria ao vindicações não abrangeriam a totalidade das perdas (e por
conseguinte o país vitimado teria de compartilhar dos encargos
PMI a faculdade de agente único apropriado para efetuar um
com o fundo de seguro) ou êles as poderiamcobrir por ideia
plano de seguros, do qual participariam países mais ou menos
de empréstimo, com a obrigação de pagamento de retarda
desenvolvidos. O seguro seria contra o risco de flutuação de
quando as exportações subissem.Os Estados Unidos, por força
preços. A contribuição consistiria em determinada soma e prê- de seu pêso financeiro e comercial, também contam com finan-
mios anual-sa um fundo contra o qual seriam pagos os resgates
ciamentos compensatórios, à sua maneira soberana, isto é, bila-
a governos vítimas das flutuações nas exportações, acima de teralmente: ''Produtores estrangeiros acusam os Estados Unidos
determinadas percentagens. Os países mais adiantados pagariam
de competição e dumpíng, pela promulgação da Lei 480." (L:i
seus prêmios regulamiente, mas não fariam pedidos de recom- de Assistência e Desenvolvimento ao Comércio Agrícola dc
pensas (embora pudessem fazê-lo teoricamente) . A proposição
1954) . Ora, esta recomenda expressamente"precaução razoável
parte assim de uma premissa básica: a d;sposíçãa dos paíxei
desenvotwidosa aquiesceram em que seus benefícios diretos não para que as vendassob esta Lei não venham perturbar indevi-
igtmlassem suas contribuições. A participação dêles tornar-se-ia damente os preços mundiais de mercadorias agrícolas ou os
/7zçaforma de msfsfêncla mzi/fíZafera/.(Págs. 35-32 do Re- padrões normais de tráfico comercial com países amigos". Ela
latório. ) também determina que "as exportações se escoarão por novos
canais não correntemente ocupados pelo comércio mundial"
Como se vê, a atividade dos Serviços Económicos da ONU
não se prende a preceitos ortodoxos. Como verdadeiros orga- "Exemplo: um programa de ]anche escolar em função do qual
nismos de uma futura economia mundial, êles agem com pru- crianças são aliãlentadas, que nãa o leriam de qualquer owfra
maneira. Outro exemplo: projetos administrativos em que se
l Commodíly alta Z?cozzamíc
DeveZopmenf,UN, E. 25,2319, 25 de no- utilizariam bens como parte do pagamento aos trabalhadores
vembro de 1953. que constroemestudas';. (Citação de Powelson.) Êste comen-
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ta: "Na prática, é impossíveldistinguir entre "canais normais" de atração de capitais também é considerável. "0 círculo vicioso
e ''aumento de consumo". da pobreza", de que falam G. Myrdal, Ragnar Nurkes e outros,
Na realidade o grande dilema do programa de auxílio ao preocupa Powelson, pois êle teme, embora não o mostre, que
estrangeiro está no fato de que os produtos agrícolas excedentes k se êssecírculo não puder ser rompido pelos meios do financia-
dos Estados Unidos podem servir de capital aos paísesmenos mento compensatório e pelos investimentos maciços de capitais
desenvolvidos, alimentando os trabalhadores que estão produ- nos países subdesenvolvidos, colocar-se-á a questão : resultará
zindo bens de capital. (Alimentar operários é antes preservar daí que, fora de uma revoluçãoviolenta ou de vigoro?aação
o variável do capital para salários e não fornecer capital produ- do Estado, todas as nações não pertencentesao grupo das que,
tivo. Também a operaçãopoderia agir num sentido de rebaixa no curso do tempo, conseguiram ganhar distância sabre as
de salários, sobretudo em países sem organização sindical po- L outras em adiantamento económico estão condenadaspara sem-
derosa). Na realidade, "êles (excedentes)não o podem fazer pre a seremfornecedoras
de matérias-primas
e nuncase ele-
sem entrar em concorrência com os fornecedores agrícolas nor- varão acima desta humilde condição?t
mais". O segundodilema é que a agricultura constitui um dos Para responder às suas dúvidas e converter os latino-ame-
pontos de estrangulamentoque impede se rompa o atraso eco- ricanos ao .4/H2cFÍcü/zi
way of /;/e, Powelson procura exemplos ani-
nómico na América Latina. Como os "estruturalistas" têm am- madores na história dos E,atados Unidos. Os subdesenvolvidos,
plamente indicado nos debates sabre a inflação, "o alto custo proclama, podem industrializar-se. Vejam os Estados suli-
dos alimentostem sido um obstáculoà construçãode bens de nos do seu p-aís. Acabaram enriquecendo,embora tenha sido
produção nas cidades. Acontece terem os Estados Unidos os necessáriauma revolução interna e um lapso de tempo de.
meios de quebrar essa rigidez, mas ao fazê-lo, na medida de cem anos. O "círculo vicioso da pobreza" é con-stituídopor
suas forças, provariam o ]avrador latino de qualquer estímulo alguns tropeços fundamentais como a inelasticidade da oferta
de preços para aume-atar a produção". (Powelson.) e da procura das matérias-primas, verificadano fato de que a
Os acordos sabre excedentes de trigo e outros produtos procura mundial da pr(Mução primária, se sobe em têrmos abso-
agrícolas norte-americanos, autorizados pela Lei D.o 480 do lutos, cai em proporção à renda nacional. "É provável que os
Congresso, se trazem a]gunsbenefícios locais sob a torna assis- têrmos do comércio a longo prazo se estão movendo contra
tencial, alívios a governantes sempre bandos de recursos finan- os países menos desenvolvidos." (Pawelson) Outro tropeço é
ceiros, amuamcomo uma espécie de co.mérciobilateral (o bar/er o fato de a produçãoprimária n-ãoabastecernem provocarou
alemãode antesda guerra).Constituem
um fator de pertur- requerer economias externas na mesma escala da manufatura.
bação na desenvolvimento de produtos agrícola-s de subsistência Para vencer o "círculo", é preciso achar um remédio para os dois
do país "beneficiado", por ameaçar, competitivamentg, .o. pro- primeiros problemas. Os próprios países primários têm feito
dutor correspondente
dêssepaís,por excluir, pelo subsídiodo suas propostas nesse sentido. Mas, sejam estas convênios de
Govêrno americano, o seu exportador habitual (Argentina, por comércio ou outras formas de fiDanciamenta compensatório,
exemplo, quanto ao trigo) , e até por pretender reintroduzir uma todas têm encontrado "em geral" a oposição dos Estados Uni-
forma retrógradade pagamentosalarial em espéciecom baixa dos. E quando se verifica qualquer concessãodêles.. . "é que
tendencial dos salários reais, além de exercer de algum modo há coincidência histórica com os seus interêssespolíticos", expli-
uma função de dumpíng no mercadoexterior. E
ca Powelson, que acrescenta: "A paciência latino-americana
Outro dos graves problemas que garroteiam os paísesem está, justificadamente, curta."
desenvolvimento é a disparidade de ação e recursos entre êles Se não há saída, como aberta ou veladamente se reconhece,
e os industrializados. Estes podem assistir uma projeção de que tem o economistaamericanoa replicar às conclusõespessi-
suas economias ao exterior, de onde não semente tiram recursos mistas de G. Myrdall quando afirma "serem as forças desequi-
primários e lucros de seusmaDufaturados,como também conse-
guem condições de custo mais baixo de produção. E seu poder l Powelson, obra citada, pág. 119
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libradoras da história tão fortes que, a menos de um esforço estrangeiro,mas de uma posição de mais a mais popular. A
muito positivo, que envolvacontrolese planejamentos,
não po- crescente impopularidade da ajuda externa é manifesta nos
derão ser invertidas"? Que a visão de Myrdall é pessimista rígidos controles que o Congresso tem imposto à Administra-
ção. Os fundos não podem mais ser comprometidospor mais
demais? Que tem o economista a dizer, além disso? Que os seus
patrícios ''não se deixam dominar pelo pessimismo''e, à guisa
? de um ano adiante.Em 1961 o Presidentepediu uma lei que
de consolação,chegaa comparar a situaçãodo Sul dos Estados Ihe permitisse assumir compromissos por cinco anos e o Con-
Unidos no século XllX com a de Cuba agora. A verdade, porém, gresso recusou. Em face de-ssa má vontade à ajuda externa não
é que sinceramente lamenta não possamos esperar ce.m anos é de se admirar tenha o Sr. Goldwater sido sufragadopor quase
como, assim o sustenta, tiveram de esperar naquele fécula os 40% do eleitorado: a recusa à dita ajuda é uma demonstração
norte-americanosdo sul. O pior é que êle não tem outras ambas 'L de isolacionismo,mas do mau isolacionismo,do que se recusa
a entregaraoslatino-americanos
paraa demarragem
e parase a uma política de cooperaçãomundial por ter desesperadodos
assegurarem estabilidade e pmgresso, senão as já arquidiscutidas povos estrangeiros, apesar do dinheiro americano espalhado
dos "convênios de mercadorias e financiamento compensató- entre êles. A recusa significa: não adianta, êles não compreen-
rio". . . ''desde que judiciosamente empregadas com o devido dem nem querem aceitar o nosso .4merican wlW of /f/e. De ano
para ano, as verbas destinadasàquela ajuda diminuem. IJma
respeito à eficiência, às elasticidadesa longo prazo e à compe-
tição". Mas não foi êle quemnos mostrounão quereregios comissãode inquérito parlamentar, a ComissãoClay, instituída
em 1963, para investigar as operações 'estrangeiras nos campos
capitalistas americanos nada disso e mesmo que "os Estados
económico e militar diz no seu relatório: "Estamos tentando
Unidos em geral se têm oposto a êssesarranjos"? E que quando
fazem concessão é porque "coincide com interêsses políticos coisasdemaispara muitos demais. . . não podemos crer que o
em face da América Latina"? Não é êle ainda que reconhece nosso interêsse nacional esteja sendo wrvido por êssescontínuos
estara paciêncialatino-americana
esgotada,
-isto é, "justifica- compromissos,
indefinidamente,
ao presenteritmo, para com 95
damente curta"? países e territórios, que estão a receber nossa assistência eco-
nómica e militar." ('7/u Carporaffom a/ü Z)&íríbufian of t/. S.
Em relação à ajuda externa, Powelson é sóbrio. Sua visão Mititary and Economia Assistance Program, Dept. ot Skate,
equilibrista da economia faz com que, no fundo, . despreze .o Report to the President o$ the U. S. trem ttw Cammittee to
fenâmena da ajuda externa na situação da economia mundiali-
zante de hoje. Encarando-aapenascomo h-strumentosem fu- SZP?pzg#/zenf/zeFrei }yorZd,20 de março de 1963.)
turo ou perspectiva dentro dos limites da economia monetarista Talvez por lembranças antigas, geralmente penosas, ou por
espírito e mentalidade,o fato é que a América Latina em seu
que é a dêle, ou inortodoxo, de natureza.política passageiraé,
contudo, por ser homem liberal, partidário dela; que continue conjunto é muito mais propensaaos programasde intervencio-
a figurar no orçamento de seu govêrno, e só. Por isso é que êsse nismo económico estatal que os Estados UMdos. Aqui já se sabe
embrião de instituto Dava (das transferênciasde rendas por que sem a mão do Estado as forças capitalistas nativas e também,
cima das fronteiras), como apareceu no Plano Marshall, começa já agora, as internacionais não serão suficientes para arrancar
a ser visto em geral nos EstadosIJnidos apenascomo uma os nossos países do seu grau de primarismo económico. O pi-ó-
carga fiscal a mais sabre o eleitor que paga impostos. Sua impo- prio Dr. Campos, ainda naquele seminário em que discursou tão
profusamente sabre os problemas económicos latino-americanos
pularidade dentro do país é crescente. A propósito, Powelson q
imitao livro de Eugen Castle, 7'/m areal Gívean'(D'(Chicago, em relação aos Estados Unidos, depois de observar que os em-
1957), de onde tira estaproposição:"0 tempo de diminuir a préstimos privados indiretos tinham pràticamente desaparecido,
carga de programa tão ruinoso é precisamente agora, antes de também reconhecia tenderem os investimentos diretos, apesar
cosia nação ficar permanentementeprejudicada." Não se trata, de não envolveremnenhumaobrigaçãorígida de dívida, a ser
penosos em têrmos de balança de pagamontos. Por quê? Por-
porém,explica Powelson,de.um grito isoladode desolação?
em que "requeriam bas/a/z/e remuneração para atrair fundos em
meio a uma vaga avassaladoraãe entusiasmopela ajuda ao
2i0 2//
competição com investimentos domésticos lucrativos dentro dos o próprio Dr. Campos depois de colocar a premissa preceden-
EstadosUnidos ou no Mercado Comum". (Assim, para que ve- te: "Se incapaz de contar com adequada assistência estrangeira,
nham capitais norte-americanosprivados para a América Lati- o Govêrnoterá de se esforçar para elevar o nível de investimen-
na em investimentos duetos é indispensável sejam as condições tos pela inflação, tomando ainda mais o clima dos investimen-f
de rendimento capazesde vencer a competição com investimen- tos". Para êle, pois, sem assistênciaestrangeiranão há salva-
tos domésticoslucrativos tanto nos EstadosUnidos como na ção. O Brasil perdeu suas opções fundamentais.
Europa. É preciso que lhes sejam asseguradascondiçõesremu- Urgência dos projetos, comportamento erradiço dos capi-
nerativas excepcionais. Os marxistas falam a respeito de mais- tais privados e círculo vicioso de expansão de capitais com es-
valia. A terminologia pode ser bárbara ou fora de moda, mas tabilidade monetária e política e nível expansivo de investimen-
descreve
bastanteacertadamente
o fato.) Serápor issoquena
controvérsia sabre investimentos privados ou públicos prefiram
t tos, ao concorrerpara que Punta del Este dessepreferênciaaos
investimentos públicos, permitiram ao economista brasileiro pre-
os latino-americanos, como nos informa o Dr. Campos, os úl- cisar: "A passagem das principais responsabilidades pelo finan-
timos? A despeito das preferências marcadas dos norte-ameri- ciamento do desenvolvimento latino-americano do capital priva-
canos pelos primeiros, Campos via, então (1962), com otimis- do para os fundos públicos foi expressame/zfe
eizabe/ácidana
mo uma maior "flexibilidade de atitudesem relaçãoao maior Caemde Pü/zíndeZFere,pois que diz no Título 111,seçãoÁ:
papel dos fundos públicos por parte dos governantesde Wa- A maior parte da soma (um suprimento de capital de todas
shington,sobretudo
a partir da Declaração
de New Port (?), as fontes externas de pelo menos $ 20 bilhões nos próximos
do .d.fade Z?oga/áe da administraçãoKennedy. Qual a causa dez anos) deveria ier em fzz/zelos
pzíb/ices". A contradição entre
dessa mudança quanto a atribuir maior papel ao investimento a letra oficial da Car/a de Pu/zfa deZ Ex/é e a interpretação
público? Êle nos dá três razões: a) a urgência (síc) dos proje- frouxa, "er.radiça" que os círculos oficiais da Ca.sa Branca dão
tos e sua natureza;b) o comportamento
erradiçodo capital agora, concernente ao papel emiDentíssimodos fundos públicos
privado e sua suscetibilidadeaos choquespolíticos em curto para os projetos da Aliança para o Progresso, é tão escanda-
prazo; e c) o problemade um "círculo vicioso":. a expansãodo losa que se admira não tenha vexado o Ministro Campos quan-
investimento privado requer uma melhoria no clima dos inves- do, como representante do novo Govêrno brasileiro e da Co-
timentos em formos de esfabflídade po/ífica e mo/zefária que, por missãoInteramericanapara a Aliança, foi tratar com os senho-
sua vez, pressuporiauma elevaçãodo nível dos investimentos. res de Washington dos fundos públicos para os projetos desen-
(Pode-sedizer de novo aqui, que o Dr. Campos,dois anosapós volvimentistas da Aliança. No entanto, o ex-Presidente Lleras
o seminário .n-aBacia, o que ali expôs, na base das condições Camargo, um dos propugnadores e entusiastas da Alia:nça, de
dos capitalistas americanos para investirem no nosso País e nos tão vexado com a nova interpretaçãooficial da CasaBranca,
outros da América Latina, tentou criar, ao ver-seà frente da po- protestou publicamente. Hoje é doutrina oficial do marechal Cas-
lítica económicado Govêmodo marechalCastelo.)Com efeito, telnCampos-Bulhões-Rockefell-er-Johnson que a Aliança nunca
todas as medidas financeiras, económicase políticas exigidas foi senãoum programade iniciativa privada para capitais priva-
pelos capitalistas foram tomadas. Falta ainda assim a estabili- dos com maior ou menor assistência do Estado americano.
dade monetária, além da política e que se realize a ''pressupo- Com preferência ou não dos latino-americanos,pelos in-
sição" de "uma elevaçãodo nível de investimentos".Se esta vestimentos públicos e te:nha ou não a Administração Johnson
não fâr concretizada em têrmos de cobrir as necessidadespro- r
cambiado a orientação oficial em relação ao papel proeminente
fundas do País, o retrocesso prosseguirá e o fracasso da política dos capitaispúblicos nos projetos da Aliança, o fato é que o
estabillizadora do atual Govêrno será tão evidente que o Govêrno americanonão tem poupado oportunidadepara deixar
Dr. Campos será um dos primeiros a voltar aos negócios priva- claro seu desejode limitar ao mínimo essaespéciede investi-
dos, enquanto o marechal ou mudará de papel ou embarcara mento. Aliás, não é de agora que Washington recusa emprestar
para o ostracismo, com ou sem exílio. Aliás, é o que reconhece « a Estados onde existe monopólio estatal de petróleo ou onde
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também esteja aberta a controvérsia sabre expropriação de pro- A controvérsia -- tão generalizadapela América Latina --
priedadesde súdios americanos.Mas há, ou tem havido, atenua- sabre expropriações de propriedades americanasrelativas às em-
ções nessasregras limitativas. Já é admissível, por exemplo, con- prêsas de serviços públicos, sistemas de transportes, produção
ceder empréstimospara financiar certas fases operatórias de de petróleo e processamento de derivados chegou a seu ponto de
companhias estatais como de transporte, refinamento, distribui- ?
exacerbaçãomáxima com as nacionalizaçõesde Cuba. Na Ba-
ção, desde que os países dessas companhias também permíMm hía o nossoDr. Fausto das finançasnacionaisfalara, até com
funcionamentode empresasprivada.sna prospecçãoe retina do largueza, sabre a questão: ''O movimento. de nacionalização
pe/PÓZeo(É o caso da Argentina -- de Frondizi -- e da Bolívia do petróleoé fundamentalmente político e estratégico;nos ser-
-- de Estensoro), ou dêem preferência a esquemas de inver- viços públicos e transportes, porém, é de ordem técnica em
sões conjuntas com capital privado. junção da quase impossibilidade de operação privada sôbre ta-
rifa regltlatória em períodos de inflação. As tarifas sempre atrás
Êsses dados fomecidos pelo Dr. Campos se aplicam como dos custos detêm as inversões privadas e daí a deterioração dos
uma luva ao caso atual do Brasil, onde há de se ceder também serviços e engarrafamentos; a excitação do público, oposição
-- de bom ou mau grado -- àquelas condições preliminares política ao aumentode tarifas e clamor intervencionista,sobre-
para os empréstimos públicos. Com tais objetivos, o decreto tudo em relação a emprêsasestrangeiras. A intervenção do Es-
de Jogo:Goulart nacionalizandoas refinarias de petróleo, assi- tado, se não resolve nlenhumproblema técnico conseqüenteà
nado demagõgicame-nte
no comício de 13 de março de 1964, no inflação (por vêzes até aumenta os custos reais e decrescea efi-
Rio de Jan-oiro,tinha de ser rev-ogado
pelo marechalCasteloe ciência), permífe tz con/ü anão do ãtzvesffmepzfo dividindo os
a ''intocabilidade"da Petrobrástem de ser ferida, para permi- encargos entre o utilizador dileto e o pagador geral de impos-
tir "esquemas de inversões conjuntas com capital privado" e tas". Nos acordos de expropriação, a inclinação usual do inves-.
"funcionamento de emprêsas privadas na prospecção e refino", tidor privado é recorrerda "custo de reprodução" como a mé/a-
segundo os têrmos do Dr. Campos. io de avaliação e requerer imediato pagamento em moeda con-
Com a discrição que o caracteriza, o Dr. Campos informa- versíveZ,, "se estritamente interpretado", confessa o economista,
va ainda: "Parece Dão haver restrições p-ara financiamento de Isso impediria de talo qualquer expropriaçãoem vista da es-
qualquer outra fonte não convencional de petróko", como o cassez finarLceira dn maiorü dos países latinos". Quanto a Estes.
xisto betuminoso, por exemplo. Assim, fica marcada a proteção a tendência
é advogaro pagamento
de compensação
em pres-
paternaldos trustespetrolíferospelo Dep-artamento
de Estado. taçõe,s,a maior parte paga em moeda local independentemente
Mas qual a explicaçãoque nos dá o autorizadocidadão para das providências de conversibilidade e, freqüentemente, com
essas restrições? "A disponibilidade de capitais privados -- ape- cláusulasajustadasde reinvestimento.O Govêrno do marechal
sar de seucomportamento"erradiço"? -- que justificaria pou- Castelo, mwzWÜmMancãh,seguiu l)ràticamente "a inclinação
par escassos fundos públicos para investimentos não atrativos usual do investidor privado". . . estrangeiro:custo de repro-
ao capita] privado". Mas o ])r. Campos é realmente imparcial dução,como método de avaliação (apesar do i/zow da arbi-
quanto ao mérito da questão, pois ei-lo a dar as razões dos tragem de conspícuosinvestidores estrangeirosnão americanos),
"latinos não convencidos": "não confiança na decisão de in- imediato pagamento em moeda convertível (até prêmio de multa
versões pelas companhias privadas de petróleo, falta de interês- pelo atraso no fechar o negócio). Com relação à sempre exis-
se das mesmasem abrir novos camposde produção que pode- tente -- em paísesde economiaperiférica e sob crónica infla-
riam concorrer já com o excesso de capacidade algures, subor- ção -- "escassez financeira" deu-se um jeito: o Govêrno pro-
dinação de sua exploraçãoe política de preços na América La- tetor das companhiasprivadas em vias de expropriaçãoempres-
tina a seusinterêssesmundiais de mercado e, finalm-ente,incon- ta o dinheiro para a prodigalidade do País expropriador. E assim
veniência ou caráter não aconselhável de operações estrangei- o Ministro Roberto Campos conduziu a expropriação das "con-
ras em campo de importância estratégica". cessionárias" pelo govêrno de l.o de abril exatamente como
e
214 2/5
\.
quando, Da Balia, descrevia tão bem "a. inclinação usual do pósito da moderação rooseveltiana diante dos nefastospreceden-
investidor privado'' no arreglo da matéria. A "revolução de tes de expropriação inaugurados em 1938 pelo Presidente
Cardenas.
l.o de abril cumpria muita melhor os ''compromissos'' da go-
vêrno para com os investidoresestrangeirose seu Govêrno, do O próprio Dr. Campos reconhecia então, isto é, antes de
que os compromissos internos com o povo e o desenvolvimento
ser ministro, que êsse dispositivo, se não sàbiamenteadminis-
nacional, legados abertos pelo Govêrno João Goulart. trado, poderá tomar-se uma fonte de intermináveis atritos nas
relaçõesdos Estados IJnidos com a América Latina, qae provà-
Segundoo Dr. Campos, ao lembrar-se do caso das expro'
velmente questionará a pretensão de fazer da compenisdçãolem
priações das companhias de petróleo .pelo México, em 1938,.o moeda estrangeira conversíve! exigência da tei internacional,
governo americano tem sido moderado nessasquestões.A ação
da administração naquela época foi muito morigerada, provà- quando a tradição legal apenas apóia o requisito de que a com-
velmente "em virtude de razõespolíticas que predominavam sa- pensação seja feita numa forma "usual" de pagamento". Que
magnífica oportunidade perdeu a diplomacia "revolucionária" do
bre os interêssesprivados. Essa tradição se manteve apenascom
a[terações insignificantes". Essas a].teraçõesinsignificantes, caso
regimede l.o de abril de denunciar o abusojurídico contido na
Lei de Assistência Estrangeira pelo qual se pretende ser obri-
vigorem atualmente, são, contudo, menos morigeradas que a ati-
gação da lei internacional a compensação em moeda estrangei-
tude geral do Govêrno americano em 1938, em face do ato in-
sólito, revolucionário do general Cardenas.O acordo que o Go- ra conversívelpara a expropriaçãode companhiasprivadases-
vêrno brasileiro anualfêz com as concessionárias
da Band anel trangeiras por um Estado soberano!.Defendendo legítimos inte-
rêssesbrasileiros. caberia ao marechal Castelo levar o caso ao
Share do Brasil foi muito mais vantajoso para as companhias
Tribunal de Haja e não prescrever o direito soberanodo Estado
expropriadas e sob pressão muito maior do Departamento de
Estada),do que o acordo negociadomuito depois das expropria- de avaliar pelos seus órgãos de justiça os bens de uma com-
panhia privada estrangeira em seu território, submetendoessa
ções entre o Govêrno mexicano e o de Washington.i Onde estão,
avaliação a uma arbitragem privada internacional desprovida de
pois, as ''alterações insignificantes"?
fundamento jurídico.
Já na administração kennediana, em 1962, por ocasião da A lei americanatambém exorbita quando pretende inter-
aprovação pelo Congresso da Fareign .dsiisfa.nce .BÍ//c foi.am nacionalizar prematuramente as disputas, antes mesmo de haver
adotados diapositivos pelos quais a admi-nistração dos Estados denegaçãodemonstradade justiça pelos tribunais locais. En-
Unidos era instruída a ''suspender ajuda em casos de expro- quanto isso não se dá, "o litígio entre companhias individuais
priação não seguida dos "passos apropriados" para "prove! e Estadossoberanoscontinuauma questãode lei interna e não
compensação junta e rápida em câmbio estrangeiro conversív:l internacional", ensina magistralmente o Dr. Campos. Teme êle
como exige a lei internacional". Esta lei de 1962 (o testemunho ainda, e com razão, que propósitos como os da ]ei em questão,
no me-smo ano do nosso atual Mi.nastro Campos é, nesse senti-
de assistência a capitais nacionais no estrangeiro, "possam ser
do, meridiano) foi apresentada, votada, promulgadanos Esta- transfomiados em um perigoso fermento pelos interêssespriva-
dos IJnidos por iniciativa, inspiraçãoe vontade dos investido- dos para apoio a exageradasreclamaçõescontra Governoses-
res privados americanosno estrangeiro.Em face das ameaças trangeiros".-(pág. 50).
expropriatórias e nacionalistasque pipocavam um pouco por Ao longo dessa viagem em temo das possibilidades de
tâãa parte -na América Latina, desde as grande nacionalizações cooperação no plano do desenvolvimento económico entre os
de Cuba, não quiseram as companhias interessadas que se re- Estados Unidos e os países latinos em luta pela emancipação,
petisse nem o malogro desastradoem face de Fidel Castra nem a nota-se, constante, a duplicidade de ação nos círculos dirigentes
tradição morigerada" de que falou o nosso economista, a pro' de Washington e mesmo entre os seuspodêres públicos. Daí re-
sulta ser perigoso ou imprudente querer qualquer um e, prin-
l Ver em outro capítulo o nosso comentário sabre a questão do pe
trólei no México. cipalmente, homens de govêrno estrangeiro, traça alinha de
2/Ó 2/7
um comportamento, se não único, homogêneo,por parte do Go-
vêrlto norte-americano,nas suasrelaçõescom a América Latina. formas" e "revoluções" são feitas no papel, no gabinete Presi-
O govêrnolatino'-americano
que pretendertraçar uma polí- dencial como nas salas de Estado-Maior -sefazem "planeja-
tica ou norma para suas atividades o-u um rumo fundado mentos" de guerra, de paz, de capitulação, de conquista, sem
em ilações dessaordem, além de não ser uma atitude muito uso de.qualquer"instrumento de mobilizaçãode apoio popular"
compatível com um justo sentimento de soberania das nações, Isto hoje é proibido, ainda mais se fosse, como preconi;ava o
será sobretudo imprudente para com os interêssesdo país. Esta- Dr. Campos, "de pressão para reconhecimento do princípio de
rá pondo em questãoo êxito de qualquer política nacional. De- planejamento e suá aceitação pelos E-atadosUnidos": Po-rmenos
sarma-se o govêrno perante o poder estrangeiro, embora admi- do que isso o Dr. João Gouiart foi deposto,sob acusaçãode
comunista.
tindo-se amigo, sobretudose mais forte; fica-se sem qualquer
possibilidadede optar por outra política e de flanco aberto Hoje, com o recuo DO tempo, não é demaissugerir uma
contra as surprêsasque do poder amigo podem advir, pois dêste relação entre a campanhaantigo-munistaque irrompeu nos Es-
as contradições de atitudes e comportamento são não só freqüen- tados Unidos no curso da guerra e se acentuou'depois com
tes mas até por vêzes escandalosas. McCarthy.e a política dos grandes interêssesprivados preocupa-
Até com relação à idéia mesmade plan-exame-nto, os pon- dos em defend-er suas posições iB& hora da reconve.rsão'da
tos de vista contraditórios não se fazem de minguados entre economia de guerra para a de paz, enquanto procuravam man-
Washington e as outras capital-slatino-americanas.Para amai- ter sua liderança na política económica geral. Temos nesse sen-
nar as desconfianças dos americanosa qualquer idéía que de tido um testemunho indireto mas autorizado para a nossa suges-
longe possa significar o abandono da economia de mercado tão. ''Quando, nos fi.ns de 1940, uma porção de gente digna neste
e da livre emprêsa, desconfiançasque crescem quando o big país repentina e tardiamente descobriu o fenómeno por assim
bzlsímss' ouve latino-americanos falarem em planejamento, o dizer normal da penetração estrangeira e da espionagem e saiu
Dr. Campos emascula a concepção mesma de uma economia freneticamentetentando nos persuadir de que devíamosperder
de plano, para Ihe dar um tom contingente,embora ainda assim a confiança em nós mesmos, porque haviam descoberto isso,
ligeiramente demagógico, desta vez agradável a ouvidos latinos. o mal da subversão comunista, com que estavam tão excitados,
A que visa o tal planejamento latino? Êle responde: a) na realidadeatingira o clímax muitos anosantese, no momento,
assegurar a continuidad-e nos arranjos financeiros; b) obter achava-se definitivamente em declínio".i E o mesmo autor ve-
compromis-se-sde fi.nanciamento globais sabre um programa e não rificava, a propósito, que a opinião pública americanaretardava
propriamente na base de prometoa prometo; c) investimentos de em relação aos fatos. E retarda ainda, apesar de sintomas ainda
expansão governamental na infra-estrutura; d) zzfí/lzaçãado pZa- fracas de mais atualização, ou melhor, de menos alienação.
nejamento como in.strumento de mobilização do .apoio popular ''Numa proporção muito maior do que pretendem admitir,
para o desenvolvimento económico e pressão para reconheci- nossos amigos americanos são prêsas de uma ideologia quase
mento do princípio de planejamento e programação e para acei- tão estreitaquanto a dos comunistase tambémtão fervorosa-
tação pelos Estados Unidos, tanto nas suas agênciasprópria-s de mente acreditada. ,4 ;deo/agia igzlaZao capífaZísmo não só à liber-
financiamento como através seus representantes nas organiza- dade coma quaseqae à v/rfüde. . . Para quasetodos os ameri-
ções intemaci-onais de compromissos de financiamento, a longo ricanos, o comunismo é um mal t:ía absoluto como o nazismo
r
prazo
ou o assassínio e qualquer um que investigue êste dogma. já deve
Ao escrever as linhas acima, certamente, o ])r. Campos estar infestado pelo contágio. Desistem de notar qualquer dife-
pensavanaquela atmosfera popular que reinava no Govêrno an-
terior deposto, a que servira como embaixador em Washington. l George F. Kennan, Rzzssiaa/zd f;ze resf z/rzderl,e/zín and Sfa/fK
Pois no atual, em que é o controlador dos negócios,todas as ''re- Little, Brownand Co., Boston,1961,pág. 389.Cit. de QzlínraCo
lzlna, de Burlingam, edição portuguêsa.
218
2/9
ferença entre a Rússia de Stalin e a Rússia de Kruchev, ignoram
o caso da lugoslávia, onde os comunistascriaram uma socie-
dade independente da Rússia e que aos democratas menos apai-
xonados parece não ser moralmen@ pior do que as sociedades
capitalis'tásda Espanta de Franco, do Portugal de Salazar e da
África do Sul de VaJ:woerd".í
A desatualização da opinião americana em relação à situa-
ção mundial, tanto no Terceiro Mu-ndo,incluindo neste a Amé-
rica Latina, quanto na Europa inteira (com exceçãopossívelde
Portugale Espanha) constitui um vácuo que impedeo avanço
dos povos para um entendimentogeral na base de uma trans-
formação económica e social realmente progressista. A desatua-
lízação ideológica americana faz com que todo o falatório sôbre
reformas e revolução na baça dos agentes oficiais de Washing-
ton seja perfeitamente enquadrado naquilo que chamei de ''re-
forma contra-revolucionária"
224 225
ce-nsistência da estratégia da "unidade hemisférica" e de outros sim dizer, as potênciasrivais e as partesnão socialistasdo
balões ideológicos do estilo. globo em zona periférica. As áreas compactas se traDsfomlam
Deixando por um momento o plano da pura estratégia, é elas mesmas, agora, em áreas "compiefas": todos os recursos
oportuno mostrar como, de um ângulo estritamente político real, -b económicostenestre-sse encontram dentro delas, inclusive o
se as relações anglo-americain.as
puderam ser cordiais durante a poder industrial do homem até suas últimas consequênciastecno-
guerra,.nem por isso deixaram os inglêses de pagar caro a infe- lógicas.
rioridade crescenteà medida da prolongação da guerra e o bastão Graças a seu poder tecnológico, os americanos tentam co-
de comando passava decididamente às mãos americanas. Por brir espacialmentea Rússia Soviética e a China Popular; com
ocasiãodas negociaçõesde paz,.foram em geral os inglêsesque seupoder marítimo tentam cerca-las do exterior periférico. Como
pagaram as acomodações entaboladas, na mesa das conferências o impar-seatómicoé ainda um fato, os EstadosUnidos voltam,
dos big r/zree, e-ntre Roosevelt e Stalin. Antes disso. houve as sob MaNamara e seus computadores, a desenvolveras forças
transações
callíssjmas
entreo poder americanoe o poderbritâni- tradicionais (recrudescimento da produção de superaviões de
co em terno do /e/w/ a/zd@máetc. Desde, então, a Grã-Bretanha bombardeia, de porta-aviões, esquadraspara tarefas de blo-
deixou de ter uma política externa autónoma. queio e ataques locais, armas não atómicas aperfeiçoadíssimas,
Hoje, a.Grã-Bretanha é o mais importante dos satélites manejabilíssimas,
cc-mpoder de fogo inimaginável,inclusive quí-
americanos. Sua posição é caudatária, embora por vêzes recal- micas de vários tipos ditos não letais.) que são os instrumentos
ytrante, em face dos surtos,belicosos'ou de violência que aco- indispensáveis a -seu programa de guerras periféricas, coloniais,
metem frequentemente. ,Washington .. O mais recente' é presen- civis, guerrilhas e até para esmagar manifestações populares, hoje
tementeno Sudesteasiático. Á Inglaterra tem os olhos postos uma preocupação quase obsessiva dos senhores mantenedores
na Malásia. ameaçada e não nos bombardeios america.nosno da ordem no mundo em Washington.
Tudo isso é decorrênciainevitávelde sua estratégiageral:
HTgllçç«.m'=!::n.
,nn
O problema das diferenças,.vantagensou desvantagens,ine-
quebrar a frente socialista mundial, impor seu próprio regime
económico ao mundo. Escudado no impasse atómico, êle poderá
fazer a velha guerra ''tradicional", onde quer que seus interêsses
re-ntes a áreas compactas.ou áreas difusa-sde defesa, é hoje económicos, políticos, estratégicos comandem. Tivemos a guerra
grandementesuperado, pois a força decisiva é a força 'atâmíca, da Coréia, que graçasao estratagemado-ssantuários,ao norte e
gej'aumenteconcentrada, por enquanto, nos territórios metropo- ao sul, pede desenrolar-se "tranqüilamenD" durante bastante
litanos de cada inimigo e definida coma força retaliatória, isto tempo. Temos anualmente a do Vietnã do Sul, espraiando-se
é, defensivas Os submarinos, portadores de mísseis, são também para o Vietnã do Norte, onde, parece, santuáriosnão são
retaliatórios? Ou antes .armas ofensivas, destinadas a quebrar previstos.
a "macicez compacta" da metrópole inimiga? ' O conflito sino-russo, que pode estar destinado a provocar
A derrota do Eixo na guerra consistiu em grande parte no indiretamenteo maior desastredo século,veio a talhepara que
fracassadoesforço hitleriano de unificar a Europa numa massa o Pentágono prosseguisse em seus planos estratégicos. Pouco a
compacta, capaz de resistir ao poder combinado da potência pouco Washington vai amaciando o povo do Vienã do Norte
terrestre russa e das potências marítimas aliadas. Depois da com suasbombase o mundo com sua insistênciaem levar a
:.P
guerra, a Europ-a mesmaé rep-artidaentre Leste e Oes.te.'OsEs- guerraao norte da Indochina.Hanói é, talvez,no fu-ndo,o seu
tados l.Jnidos tentam reunir todo o mundo ocidental contra a próximo alvo, enquanto russos e chineses discutem, xingam-se,
União Soviética. Esta forma não só a massacompacta por exce acusam-se,defendem-se a poder de citações dos textos sagrados,
lência, o coração mesmo da terra (Haushofer), mas 'em con- à moda dos doutores de Bizâncio. O interêsse maior já não é, no
jugação com a China (liberta, por fim, de japonêses e imperia- fundo, separar os satélites da periferia -soviéticada metrópole so-
listas brancos) constituía um poder que trãiisformava, por as- '+
viética, mas esta metrópole da outra periferia asiática, a China.
22Ó 227
'q
l
sempre a maquinar essa dominação e não se deterá enquanto cos permitirá a êle compensar as esmagadorasvantagensda nú
não o conseguir,
é umacrença
vitalpa.rao Pentágoiio
ou mero de que se beneficiam os cc-munistas."I
para o ''complexo militar-industrial" que dirige o país. Como se Os "comunistas", falando semprecomo bonecosde ventre.
processa es-sademoníaca conspiração? Pela propaganda, pela locos dos.russos, se resignaram, há muito tempo e se resignam
intriga, a espio:nagem,a mentira, a calúnia-,a ameaça,o rapto, o ainda.ao'.impasseatómico", isto é, a não empregara arma es-
assassínio, o terror -- "armas psicológicas". Sòmente por êsses tratégica das bo-mbas ou mísseis atómicos ou termonucleares.
meios?Não! Os estrategistas
"ocidental-s"
não são tão ingê- Mas e e-sEstados Unidos -- perdão, o Ocidente? Êste, não, por
nuos assim. Pelas armas, pela guerra, também, naturalmente. s.erenormementeinferior em potencial humana e em número de
Mas que diabo é êssecomunismoque, além da encarnaçãodo 'grandes unidades terrestres": Sòmente o emprêgo de armas e
Anti-Crilto,.matei'ialista e ainda por cima ateu,'é um poder po- e=ngenhos
atómicostáticos poderá fazê-lo competir com "a$
lítico definido? Deixa de ser uma ideologia política, uma doutri- esmagadorasvantagens do número de que se beneficiam os co-
na social, um -sistflmafilosófico de idéias e proposições,um pla- munistas". Diante des.sasituação, podêres pacíficos ficariam sa-
no ou já um modê]o de um regime socia] ideal, para na prática tisfeitos: o.comunismo pretende invadir a Alemanha e ocupar a
se.r o poder nacional absoluto do Estado russo 'e mais, 'depois Europa ocidental, mas quer fazê-lo com o pêso esmagadorde
da guerra, o poder nacional absoluto do Estado chinês. Mas que 'suas . grandes unidades terrestres". Que forças poderiam detê-
é que exprime êsse poder nacional absoluto? A vontade do las? A regi?testaqetalíatória com a arma e-stratégica despejada
povo russo?A vontadedo povo chinês?Não. Ma-sa vontade sabre a Rússia. Proclamar a Europá ocidental um santuário,
monstruosa de um punhado de usurpadores. Êsse punhado de como o são os territórios respectivosdos EstadosUnidos e da
usurpadores que dominam mais de um têrço do mundo -estásó Rússia, eis a chave da estratégia da paz. E se se fala tanta enl
à espera do momento para invadir a Europa ocidental, arrasar "Ocidente", em ''civilização cristã ocidental", cinde êsse oci.
os Estados Unido-s,escravizar os brasileiros e assassinar,de pas- de=ntesagrado se aninha mais representativamente do que na
sagem, o Papa po Vaticano.
pequena península européia? É ela para todos nós, "americanos"
Na certeza de que o "comunismo", que tem no Kremlin o de todos os meridianos, o próprio 'sacrário dessacultura, dessa
seu gerador a moeu perra/zJa, sob a forma de hordas eslavas, civilização; ela é a matriz e o repositório de todos os valores
invadirá as fronteirasda Alemanha a oestedo Elba, além da que mais pi.ezamos.Merece, pois, ser também "santuário". Era,
Dinamarcaao norte até a Áustria ao sul e prosseguiráaté os com efeito, um ato de paz e assegurariaa paz. Os russosse
confins atlântico-s (Portugal) , falando tudo, 'roubando, massa- resignamao impasseatómico. Os EstadosUnidos não. Como
crando,. cometendo sacrilégios em todos os lugares de peregri- os governos europeus, membros da Orai, não conseguem nunca
nação da velha Europa cristã e ocidental que fâr encontrando reunir fôrças clássicas suficientes para escorar a ofensiva imin
(terá chegado, então, o momento mais feliz dos estrategistas nente das forças soviético-comunistas, os americanos entrega-
de Washingto-n), fundados nessa invasão potencialmente imi- ram-se à proliferação de armas atómicas táticas. O desenvolvia
nente, constroem os E-suadosUnidos a base de toda a sua es- mento delas é prodigioso. Os europeus não se consolam muito.
tratégia política. com essa profusão de armas atómicas táticas porque descon-
Fiados no impasse atómico, os estrategistasamericanos irão fiam estarem destinadas em grande parte a ser experimentadas
encarregar-sede fazer a defesada Europa. ''Os americanosnão no território de seuspróprios países,enquantoos EstadosUni-
poderão consentir numa guerra geral em que se empreguem ape- dos e a União Soviética ficariam, ambos, respaldados por suas
nas as armas clássicas,em face de sua enorme inferioridade em armas retaliatórias, como os grandes santuários.
potencial humano e, pois, em número de grandes unidades ter-
restres, para enfrentar a inundação por forças soviéticasnume- l General Golbery do Couto e Silva, O Blasíl e a l)e/esa do Ocfdenre.
rosas. Sòmente o emprêgo de armas e engenhos atómicos táti- Revista da l.JniversidadeCatólica de São Paulo, março de 1963, pág. 18.
230 23/
Quanto mais os Estados Unidos doscobremnovas armas deixar de ''pâr em equaçãoquestõesvitais para um ou para outro
e cargas,táticase estratégicas,
cujo númerojá se diz ter atingi- dos antagonistas",e então poderádeconer como "guerra limi-
do a cinqüenta mil, mais as dificuldades crescempara armas real- tada". O brilhante teórico do golpe de l.o de abbrildispõe, se-
mente intermediárias entre as grandes armas estratégicas e as guindo aliás os teóricos americanosdas várias modalidadesda
armas tradicionais. A grande dificuldade, com efeito, da teoria guerra nuclear, da vontade dos outros membros da "comunida-
estratégica america:naé encontrar as normas da tática atómi- de ocidental"com a maior sem-cerimónia. Naquelasguerraslo-
ca, a tática para a estratégia retaliatória. O esforço americano calizadas,nas quais o "emprêgo da arma tática será feito para
é no sentido de encontrar passagensgraduais, uma escala de pa- compensar a enorme desproporção de efetivos entre os dois
tamares das armas tradicionais, semitradicionais,táticas ató- con(endores", "o recurso a ataques nucleares e termonucleares
micas até o patamar himalaico, onde se acha a Grande Bomba, de caráter estratégico . . . não será mesmo impossível". Mas com
como a suprema divindade da destruição. Todas as esperanças uma condição: "fiquem sempre circunscritos ao teatro de guerra
que os estrategistasde Washingtonpõem nessatática de pata- tàcitamente aceito". Assim, os dois principais antagonistas, o
mares é de que não tenham de galgar, [numaúltima escalada, o Arcanjo Gabriel do Ocidente,com sua espadade fogo, e o Anjo
supremo patamar. Os países tecnologicamente e sobretudo pro- Extermiúador de Lucifer, do Oriente, Estados Unidos versas
dutivamentemenos ricos que os Estados Unidos tendem a re- Rússia, decidem poupar-se mutuamente, e só exterminar à arma
cusar-seà teoria da tática gradualistada adia atómicaou ter- estratégica o ''teatro de gu-erra" que ambos aceitaram, tà-
monuclear.Êles preferemficar no dilema do mais pobre ou citamente.
menosrico: ou tudo ou nada.
Vê-se mal como a Europa ocidental pode concordar com
Até agora não conseguiram os americanos encontrar uma
essaaceitaçãotática ]5orparte dos principaisantagonistas
de
tática a contento da unanimidade dos europeus. A êstes, com fazer de seu território teatro de guerra para as bombas estratégicas
efeito, não agradanada ser objeto da chamada"guerra por russas ou americanaslJSêriaêste o caso do "guerra tota] locali-
procuração", no curso da qual "os contendores, os antagonistas
zada",' da. qual !ão ée pode excluir a ''tendência sempre pre-
principais" ficarão "encapuzados",pois "situadospara além da sente. . . à ampliação do conflito". Grave inconveniente para
área ]'ealmenteconflagrada". Neste caso, segundoo general Gol- os defensoresdo humanismo ocidental. No entanto, nem tudo
bery, "o ato capitaldo conflito atómicoirrestritivo não tem ca- está perdido, pois, segundoainda o general Golbery, "bem
bimento". Não tem cabimentoporque os EstadosUnidos prefe- se deve admitir que não venha a efetivar-se, pois, independente-
ririam ficar imunes do ataque atómico e deixar que o inimigo mente de quaisquer técnicas, mais ou menos engenhosas,de limi-
principal, inimigo de todo o Ocidente,talassea parte mais sa- tação de tais guerras, com as quais sonham os técnicos norte-
grada do Ocidente, a Europa ocidental. Num tal conflito "em americanos, o que, decisivamente, ma/zrerá es/ em proporções
área para além dos pl'incipais antagonistas",será ''encarado o contratáveis será o tala de não envolverem interêsses'vitais hem
emprêgo tático", e isso "tanto mais quanto se imponha com- do Orientecomunista
nem do Ocidentedemocrático.
de /ze-
pensar enorme desproporção de efetivos entre os dois conten-
n/ m dos grcWdes,quer de um lado, quer de outro".x Ao fim
dores"e "não serámesmoimpossível
o ]-ecurso
a ataquesnu- de contas tudo fica reduzido, toda essafumaça ideológicafica
clearese temionuclearesde cara/er ésfr fénico, embora sempre reduzida a uma "banal" luta de podêres. Acima da cruzada
circunscritos ao teatro da guerra tàcitamente ac.Ditos".i Nes-
santa pela democracia e civilização ocidental cristã ficam os
se estranho trecho o dogma da sempre iminente ofensiva do interês-ses
xiacionaisvitais do Poder Nacional do Estado ameri-
"comunismo" a dominar pela força o Ocidenb (luta pelo cano, acima do comunismo e suas mistificações ficam os interês-
domínio ou preservação da Europa ocidental, por exem- sesnacionaisvitais do Poder Nacional do Estado russo. O que
plo) é esquecido, pois se admite que uma tal guerra possa
temos, então, é uma velha política de poderes, apenasagora de
l Golbery do Couto e Salva, obra citada, pág 19 l Obra citada,pág. 20
232 233
superpoderes. A luta do .Ocidente democrático contra o Oriente mã, cheiasde cargasnuclearespara explodir em funis de du-
comunistaé uma luta de dragõesde fábula para enganaros
ovos
V zentose oitenta metros de profundidade por míl de diâmetro. com
' Seja como fâr, os EstadosUnidos sonham em poder fazer uma capacidadede deslocamentode cento e noventamilhões
suasguerras sem reconer à grande arma retaliatória contra o ini- de toneladasde rochas, à passagemde forças comunistasinva-
migo. Ma-sé uma charadadifícil de decifrar. Por isso mesmo, vasoras.As cargas de demolição seriam limpas e teriam uma
o generalDe Gaullejá tirou a Fiança do impasse:não admite potência de.um .megatone pqr explosão: Não semente o pessoal
confiar o destinode seupaís a qualqueresquematático que o e o material,blindado ou não, que estivessena áreaseria des-
torne dependentedos Estados Unidos para o emprêgo da arma truído, mas numa vizinhança de vários quilómetros as rochas
atómica. A força multilateral otanica de que tanto falam tam- projetadas esmagariam todo o .pessoal .e materiais que por ela
circulassem ou estacionassem. A fronteira da Áustri; aos Bálti-
bém não resolverá o enigma, pois quem irá decidir da gu,erra
ou da paz serão anda os Estados Unidos. É esta decisão preci- cos, com uma extensão de setecentos e cinqüenta quilómetros,
samenteque o genera]])e Gaulle não quer deixar aos america- seria protegida por essas galerias.subterrâneas que explodiriam
sucessivamente, "assim que o adversário tivesse executado os
nos. Munida da arma estratégica, a França terá sua voz no ca-
pítulo e espera tornar-se também um santuário, o terceiro, ao
trabalhos tece-ssáriospara alcançar os primeiros funis e suas
margens contaminadas".i
lado do russoe do americano.Tambémnão tem ela objeçãoa
que a arma atómicase barateiea ponto de permitir que peque- Os russos parecem.não estar dc acordo com essasp-erfura-
ções de subsolo para colocar minas nucleares entre vizinhos As-
nas potências também a possam ter e não faz mesmo nenhuma
a que a Bélgica,Suíça,Polânia,Suécia.tambémtenhama sua. sim o. marechal Sokolovski, antigo Chefe do EstadüMaior da
Quem sabetalvez seja êste o caminho para a paz? Os receios Exército soviético, a 17 de fevereiro de 1965, visivelmenteem
nesse sentido expostos pelo Secretário de Estado Rusk e pelo resposta aos projetos .?#e:licano-alemães, lançava, em conferêi
cia de imprensa, um igo bem claro ao mundo ocidental: «Qual-
Secretário de Defesa McNamara não parece terem impressiona- quer explosão acMeh r de .uml mina nuclear ao longo das ü'on-
do muito os seus confrades da OTAN.
Mas os militaristasnão admitemficar tolhidos pelo im- leiras orientais da Alemanha do Oeste teria por resultado uma
guerra atómica mundial. A Alemanha Ocidental seria transfor-
passeestratégicode fazer a guena, no dia em que acharemne- mada num deserto em algumas horas"
cessário. Ainda agora,o último relatório da Comissãode Ener-
gia Atómica nos EstadosUnidos informa sabre a novíssimaar- Como se vê, êsses malditos .comunistas não estão pelos
ma de destruição que, ao lado dos cones de carga dos Polares autos. Vejam, não querem saber de uma "guerra por procura-
e Minutemen, será o que os peritos chamam de ."cargas d-e de- ção", ,"guerra limitada", nem de "guerra tota] localizada". Com
molição". Com tais cargas os americanos pretendem rasgar um êles, é só na guerra total. Estão ve;do, dizem o General Golbery
novo Canal do Panamápara a independência
completade sua e os outros teóricos da guerra no Ocidente, ês.sesrussos"só
área vital de defesa em relação a áreas periféricas, sob outras querem'' uma guerra tradicional em que aparecem com um
soberanias. Então as últimas aparênciasde unidade continen- número esmagador de ''grandes unidades terr;stres". Em vão os
tal terão desaparecido.
A Américado Sul ficará de fora da- americanosinventam dezenasde milhares de armas atómicas
quele sistema, esperemos, entregue à sua sorte de maior ilha dos táticas para poder guerrear contra os russos.E tentam conven-
mares do Sul. Ao menos, teremos paz. E o progresso que tiver- cê-los da .possibilidade ou vantagens de uma guerra com armas
mos será "nosso" táticas até limpas, desdeque, é claro, se fizesse"circunscrita a
Seja por sugestão dos generais alemães, seja por iniciativa teatro de guerra tàcitamente aceito" pelos dois grandes,"enca-
dos estrategistasamericanos,em dezembro de 1964 surgia na puzados para além da área realmente conflagrada" e "sem envo!-
Alemanha e em Washingtona idéia de fazer gakrias subterrâ-
neasao longo da fronteira oriental da RepúblicaFederalAle- l Camille Rougeron,Zes Barragemde il/í/zei /Vzlcléaíres,
Fígado,4 de
março, 1965.
234
235
ver interêss.esvitais" de nenhum dêles. Os russos não querem Os EstadosUnidos arriscam-se,assim, a ter de fazer uma
compreender. São comunistas mesmo. guerra isolada na Ária. A arma a.tõmica russa detém qualquer
'Na realidade, à ameaça de Sokolovski, McNamara deveria veleidade belicista dos fanáticos da OTAN na Europa.
responder: Se os russosinvadirem a fronteira ocidental da Euro- Os EstadosIJnidos já não visam, parece, a reservar-seo
pa será a guerra atómica mundial e a Rússia em pouco .tempo Vietnã como sua esfera d-einfluência. Visam agora a planos mais
estaria transformada num deserto. Então, o mundo (isto é, Oci- ambiciosos.A obrigar pela chantagemda guena pré-atómica a
dente e Oriente juntos) respiraria com mais tranquilidade. Rússia e a China a se separarem. Se consumada a separação,
Aliás, no fundo, toda essa inquietação norte-americana pode a paz nem por isso estará assegurada.Ao contrário. Os Estados
ser o reconhecimentode que a União Soviéticanão alimenta Unidos tentarão aproveitar-seda brecha para reduzir a China
sèriamente projetos de invadir as fronteiras da Alemanha Fe- à impotência, numa espécie de recolonização, com Chang-Kai-
deral para ocupa-laou ocupara Europa. O PoderNacional CheÉ ou qualqu.er outro títere chia à frente. A gmpr?itada é,
russo está hoje tão amarrado a seus interêssesvitais internos c porém, extremamente pesada. Poderia dar antes de tudo numa
externosque'não há lugar dentro dêle para qualque.raventuni belíssima guerra tradicional, com meio's modemíssimos, pré,
de caráte; ideológico ou militar. As suas fronteiras de defesa para, quase-atómicos,
sob o olhar inquieto da Rú-saia.Poderia
estão protegidas pelo que os franceseschamam de g/acfs sovié- mesmo, é claro, transformar-se numa aventura capaz de induzir
tico. empenhados numa competição tecnológica com os Estados certas camarinhas superexcitadas (apesar dos computadores) do
Unidos, todas as suas energias estão concentradas nesse esforço Pentágono e adjacências a experimentarem outra vez a arma
competitivoe num outro para aumentara produtividade de suas atõmiila (uma pequena, várias limpíssimas, numa guerra total
indústrias e unidades agrícolas, dando maior autonomia às suas isolada) contraafinal 'milhõese milhõesde amarelosque já estão
cmprêsas, para passar à produção em massa de bens duráveis "sobrando" na China. A Rússia tem ameaçado responder a essas
e de consumo, elevando o nível de vida de sua população, ainda preliminares táticas pul.à estratégia .'isolada" com a arma reta-
sensivelmenteinferior aos dos povos vizinhos da Europa. E ]iatória. Como queiã oferece a escolha: a paz ou a destruição.
vamos e venhamos: fora de interêssespuramente ideológicos Pode também acontecer que os estrategistas de Washington te-
que outros motivos há para esperar-seuma invasão-da Europa nham passado para a frente de sua testa pensante a ideia de que o
ocidental por parte do Poder russo-soviético?A economia so- momento é chegado do anular as veleidades atómicas chinesas
viética não é movida pela n-ecessidade
incessantede conquistar ainda por assim dizer em botão, anulando a possível superio-
novos mercados para o escoamento de suas mercadoria-s, nem ridade estratégicada inimigo, dono de uma área terrestrever-
pela premênciade investir capitais disponíveisno exterior, nem dadeiramente eurásica, não só compacta como confie/a e ser-
de monopolizar zonas de matérias-primas localizadas em vários vida também de mares mediterrâneos e oceânicos em todos os
pontos do globo. A União Soviética não tem colónias, não tem meridianos. Eis o que está em jogo nas guerrilhas, atentados e
interêssesvitais investidos no exterior, como os Estados Unidos, queimade budistasno VietDãdo Sul.t
a Grã-Bretanha,a França,a Bélgica etc. Quasetudo o de que
precisatem ela, dentro de sua área territorial oü na qae co/z-
iraZa mí/ífarmenfe.O pouco que não tem pode obter pela via Os bacharéise generaisdas províncias e territórios da Amé-
do comércio externo. Não há, assim, interêsses vitais económicos rica Latina não vêem nada do seu canto do mundo,onde o.s
ou políticos de segurançaque justifiquem uma política belicosa americanos mesmos lhes armaram um teatrinho para represen-
ofensiva de sua parte. No entanto, se Washington admitbse tações de alta política -- o "sistema interamericano"
essa hipótese, sua estratégia global ficaria balouçando no ar, Nesse desenvolvimento realmente supernacional, supe.rcon-
sem consistência.A atmofera de cruzada anticomunista tem de tinental, que resta dc} conceito vazio de unidade hemisférica'?
ser mantida para conservara tensãomundial, a ponto de conter
l E também agora de americanos em frente à Casa Branca
os aliados disciplinados e os Brasas, sob sua tutela.
23Ó 237
Olhem-se -- além da organização providencial da ONU, parla- verdadeiramente capaz de impor -- porque tem a força indis-
mento embrionário do mundo -- as combinaçõesde podêres pensável -- a validez das suas sanções ou decisões.
saídasda guerra. (Estão todas retardadasno tempo e no es-
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das conversíveis estrangeiras. Pior ainda: com estas intensifi- países latino-americanos representa uma anomalia. O desenvolvi-
cam as importações dos países superindustrializados. É incom- mento da AIALC, assim como estão de saída colocando as coisas,
patível com a ALALCaproveitar-seum membroseu da ocasião se encontra inemediável e fatalmente estorvado porquanto pa-
para melhorar sua posição cambial em moeda forte. Isto é fazer rece mais do que óbvio que não se pede comerciar com uma
o contrário do intercâmbioregional,isto é reforçar as tendên- moeda que não se possui". (F. Conti)
cias de resistência à Ai.ALC, agravando o bilateralismo e com Os paísesmembros da Ai,Ai.c, diferentemente dos membros
êste a dependência. Os nossos empresários por isso mesmo con- do MCE,não são de um modo geral conconentes,
mas
sideramo "pecadooriginal" da AI,Ai.c permitir que "o seio complementares.
O Brasil tem manufaturasde feno e de aço,
comércio se processeem fnoedas conversheis, deixando pràtica- tecidos e outros produtos a exportar para países associados que
mente /caos os saldos /m .4/ztérlca do Morre". Esta foi a tese
não os produzem, mas tem todo um mercado aberto para o Mé-
apresentada na ll Convenção de Empresários Latino-America- dico, para a Argentina, .Uiuguai, Colâmbia. Um dos grandes es-
nos realizada no Médico. A tesefoi aprovada na ocasião. Trans- torvos ao intercâmbio é o traí-sporte.A sua dificuldade. a sua
formar-se-á em norma taxativa da Ai,Ai,c? Dificilmente. Os in- omissãomesmo,indicam.toda uma política, uma vasta política
terêssescontrários são poderosos.E a classe dos industriais bra- regional e não a favor da metrópole.imperial. O grande pro-
sileiros, argentinos, colombianos, mexicanos, uruguaios, chilenos blema, porém, queixam-se os empresários brasileiros, é sempre
não tem a ncia clara de seu destino, a energia moral ne- o mesmo: o de meios de pagamento,pois "todos têm que se sub-
cessáriapara canga-la para dentro de seuspróprios paísese por meter às operaçõesatravés o Chame'Manhattan Bank ou ou-
ela dar uma verdadeira batata política. No entanto, se o mer- tro estabelecimento norte-americano.(O National City Bank há
cado regional é uma necessidade absoluta para o desenyolv.i- tempos já anunciou unia vasta rêde de agências pelos países da
mento industrial dêsses países, não há melhor providê'nela Ai.ALC' e o estabelecimento da mesa da ALALC destinada a en-
a tomarque a proposta
pelosnossos
industriais.
O quese trosar e coordenar o qerêado e o exportador nacional com todos
propõe é uma moeda de exportação, ou pagamento em os outros mercadosl da AiJA[.c)".' (Córre]o da lida/z/zã. 18
moedas nacionais para as transações dentro da zona que de- de junho). "Êsses bancos dispõem de dólares e podem em
limita a Associação,medianteum meio de compensaçãoe de poucashoras fornecer car.tas-de créditos em moeda fort.e aos
operaçõestriangulares, tanto para a compra e venda de bens de negociantesregionais." No México e em Bogotá, as resistências
consumocomo para a de bensde produção.O que importa é, ao estabelecimento de.uma moeda compensada vieram sempre
segundo a tese brasileira, criar "as condições para desenvolver do lado dos órgãos internacionais bumcráticos das- finanças,
as'economiasregionaisaté agoraestranguladas
pela falta de como de interêsses ligados ao Chame Manhattan Bank 'ou
divisas para a importação de bens de capital, desvinculando-as ao NationalCity Bank. De qualq:uer
modo,comoera de
para efeitos de negociaçõesintrazonais do dólar norte-america- s.e esperar, o problema do financiamento das exportações
no". Essa proposição, de ordem prática, é fruto da experiência "tem-se. constituído no calcanhar de Aquêles dos países 'em
vivida dos 'empresários brasileiros e, provàvelmente, de colegas
desenvolvimento: No tocante à ALALC, as agências interna-
seusdo Uruguai, Argentinae outros. Havendo,com efeito, ga- cionais .de crédito, das quais se poderia esperar assistên-
rantias de pagamento na moeda nacional (cruzeiros, por exem-
cia efetiva, têm-se mantido omissas, reservadas,não muito
plo), mais Ifácil ficará aos compradores estrangeiros adquiri-los. c
a efetivação do resto das operaçõespor importadores nacionais, entusiásticas. O Brasil tem apresentado um balanço de pa-
gamentos com os países da zona associada constantemente de-
coisa que não acontece com o comércio latino-americano, todo
feito na basedo dólar americano.Como disse,perfeitamente,e ficitário e isso Ihe pode dar a autoridade necessáriapara que seus
com todo bom sensoum missivistaao Correia da À/an/zã (13 dc pontos de vista sejam escutadosnos meios da Ai.AI.c. De novo.
dezembrode 1964), "o que não deixa alguma dúvida é que a em nota da sucursal do Correio da À/am/zãde São Paulo, seu
forma de pagamentoaditada para as trocas comerciaisentre os correspondente,ao dar conta do ponto de vista empresarial'bra-
sileiro, infomlava: "Entre as bateiras que se têm levantadoa
250 25/
uma integraçãomais rápida, avulta o sistemade pagamentos.vi- para o Progresso que possibilitem.o . de-senvolvimento econó-
mico. . ." (Jornal da BrmfZ,20-8-1964). A Aliança é um em-
gente pam as importações da zona. Esse sistema ngiao, zznpasro
por e;rlgêrzcza da FMI,. faz com que os .pagamentos sejam efetua- preendimento não regional mas comum dos países latino-ameri-
dos em moedaforte de que os paíseslatino-americanostêm, sa- canos, tomados um ã um, e os Estados .Unidos: que financiam
seus projetos quando os acham razoáveis ou abençoam inves-
bidamente, escassez crónica". (Correio da Àd'am/zâ,15 do no-
vembro de 1964). Êste é o grande impasse ao empreendimento timentos privados americanos nos países latino-americanos;.As-
sim, vincular a AI.AI,c à Aliança é precisamentenegar o carâter e
regional. Supera:lo será um dos passos decisivos para a eman- a necessidade do esforço de integração . !egbnaZ .repleseltado
cipação económica e o desenvolvimentoregional de toda a Amé-
rica Latina. Se não se conseguirlimar a ALALCda sujeiçãoao pela p] imeira organização. Ademais, . a.Aliança.nao. dispõe.de
capitais maciços, nem de nenhum capital? na verdade; os de que
dólar não se chegará a parte alguma e. o. caminho para alcan-
çar-se uma verdadeiro marcado comum latino-americano, merca- dispõe,bem minguados, aliás, são vinculados,.sim, mas aos re-
do de duzentos mihões, hoje, e-starábarrado. A AI.Ai.c terá sido tornou'de investimentospara o país de sua origem. . ...
A Aliança é cadavez mais e tende.a ser.pela própria.filo-
um sonho d-e verão tipicamente latino-americano. sofia do atual Govêrno americano, um incentivo .ou assistência
Ü às inversões privadas diretas por .parte de capitalistas america-
nos .na América Latina. A inkiativa pode ser ótima, dar exce-
258 2j9
l
2Ó2 2Ó3
desrespeitadores. . . e tudo será perfeito, num mundo de ordem, dar sinaisde esgotamentode possibilidades,a cederlugar a uma
de liberdade,de paz. Nessemundo abstrato,perfeito juridica- economia de plana. Então o entendimento com o resta da Euro-
mente, os governos latino-americanos têm cada vez menos es- pa colocar-se-á como o p.roblema do dia. As economias socia-
paço para reclamar ou mesmo manobrar. Enquadrados nesse listas do Leste europeuterão também de falar.
esquema ''oeasiano", não podem opor-se a seus predicamentos O regionalismo é no fundo .um esforço cooperativo para
e seus "princípios", porque êles mesmos se fundam na mesma a aquisição de recursos impossíveis de serem alcançados, isola-
ordem capitalista privada. Qualquer gesto de impaciência ou de damente,Estado por Estado. Os podêres que se regionalizam
ínconfomiismo na defesa dos mais comezinhos direitos de seus visam, pela conjugação de forças e recursos, 'a alcançar os níveis
povos cada vez mais necessitadospode ser qualificado de "tota- tecnológico-ssuperioresque só os grandesEstadosricos, os su-
litário", de perigosa.inortodoxia,de inclinaçõesainda mais peri- perpoderesse permitem por enquanto monopolizar e desenvolver.
gosaspara o comunismoe o fim estáà vista para quem o teve O nosso regionalismo latino-americano seria como uma coope-
-- Jânio Quadros,Carlos Arosemena,do Equador, e, /mf bü/ rativa .de.pequenos produtores agrícolas que se cotizassem para
llo/ /e zs/, Joãa Goulart.
adquirir implementos para a mecanização de sua lavoura e' ati-
vidades correlatas.
A OEA,definida como "organismo regional" é, pois, de um
falso regionalismo; sobretudo um anacronismo geopolítico, uma A revolução tecnológica aproxima no espaço e no tempo
ficção ideológica,. um híbrido sócio-económico. O 'regionalismo os povos mais afastados,suprime a geografia, substitui-se à na-
é, em sua essência,uma primeira divisão internacionaldo tra- tureza. Ela. faz da geopolítica um coiihecime:nto passivo e, por
balho ou supranacional, mas que principalmente não é, nem conseqüência, anacrónico. E cria a instabilidade fundamental
pode ser, !ma relação de dependência. (Em virtude dos prece- dos sistemas sociais e económicos fundados na tradição, nos
dentes stalhistas de caráte.rimperialista -- a lugoslávia que o fatâres ditos eternos -- os geográficos, a tema, os biológicos,
diga! -- ainda não de todo mortos na Urss, o Comeco#até a raça.e os "sociais" 1llt6s "naturais", isto é, a'família, a pro-
hoje não vingou; haja vista a resistênciaromena -- para não falar priedade privada, as ralações de compra e venda e os pretensos
na de outros paísessocialistas). A falência das economias socia- automatismos do mercado. l.Jma instiabilidade fundamental, in-
listas ao alcançaremum estágiomais alto de integração sócio-eco- sanáv:l, condenará,previa Staley, os sistemasque, ignorando
nómica é, aliás, um dos sinaisdessaincapacidade
para uma a tendência unificadora das mudanças tecnológicas, tentassem
verdades'a integração. E explica parte de sua impotência no dividir o mundo em "blocos totalmente separados" ou se fun-
campo da política internacional. As burocracias dirigentes dêsses dassem na base de barganhas eventuais ou tie política de poder,
paíse-sainda se fundam no dogma stalinista do "socialismo num no defrontar problemas realmente de âmbito' mundial. O sis:
só país". Mais do que dogma,é anacronismoperigoso nos tem- tema interamericano é um clássico exemplo dêsses"blocos"
pos abertos de hoje. separatistas,cuja função precípua é conservar o mundo dividido
em .compartimentos estanques anacrónicos, e a América do Sul
Os povos latino-americanos (com alguns de seus gover-
nos) sentem ou sabem que fora de sua dependência o chamado
ainda mais separada,mais isolada do mundo do que já é por
sua posição geográfica --o que fêz eminente geógrafo dizer
sistema interamericano, ou a OZA, é uma casca vazia. Compa-
que com a Aüstrália e Nova Zelândia "jaz a América do Sul
rando-a com outro agrupamento regional, o MCE, preciso, de- literalmente nos confins da terra".: Não é só geograficamente
limitado, em processode evolução,contraditório, vê-se a dife- que ela jaz isolada do mundo. Economicamente, seu isolamento
rença. Os membros do MCE são interdependentesentre si, em- cresce. A participação dela, como já vimos, no comércio do
bora parte dêles tenha também outras lealdades, outra relação
de dependência externa ao sistema, o que o deforma e Ihe retarda mundo tende a restri:agir-sede ano para ano. Quem a expulsa
o desenvolvimento. O neoliberalismo inicial que Ihe serviu dc l James Fairgrieves, Geograpãy a/z'd }rorld Paper. (Ver Staley
basepara criar na prática o grandemercadointerno começaa obra citada,pág. 189.)
264 2Ó5
do mercado?Seuscompetidoresna exportaçãode produtos pri- Quanto à integração da Europa, Napoleão tentou realiza-la
mários (entre os quais se destacamos Estados Unidos) e os e a Alemanha, por duas vêzes, como condição mesma para
que, dieta ou indiretamente? voluntàriamente ou .não? coíbem alcançar o poder imperial mundial que a Inglaterra, os Estados
sua transformação estrutural, dificultam sua industrialização. Unidos, a Fiança já haviam atingido. Com que resultado?Levou
(Também a contribuição negativa dos Estados Unidos é aqui o mundo duas vêzes à guerra, quase numa geraçãoe ela mesma
bastantegrande.Embora seja de bom tom atacar a União So- regressou a UHa situação pré-bismarkiana.
viética toda vez que se criticam os EstadosUnidos -- para
manter a simetria -- cabeobservarnessecontextoque ela é a As ligações puramente continentais são, freqüentemente,
como o demonstrou Staley, muito menos flexíveis, menos cómo-
única entre as grandes potências industriais não cúmplice nesse das, menos utilizáveis que as comunicaçõesextra-continentais,
empêno latino-americano,) quer dizer, marítimas. O importante para a ordem mundial de
O impasse do chamado sistema interamericano é apenas hoje não é a integração, a solidariedade política do bloco "hemis-
mais escandalosodo que as "integrações". continentais da mito- férico", mas a distribuiçãofluídica pêlo mundo de todos os
recursos e bens produzidos na terra. Isso se faz e se vem fazendo
logia geral. Na verdade, os grandes grupos intercontinentais que
se fazem responsáveispela paz e pela ordem no mundo são por até hoje principalmente pelas rotas marítimas e, parcialmente,
definição ligadas por interêssescomu:nsno abordar certos pro- pelas aéreas;são ainda os meios mais "naturais" de ligação e
blemas decisivos. Na base das grandes associaçõesde povos e associação entre zonas as mai-s diversas e afastadas. E também,
na fase anual do mundo, é por essasrotas, sobretudo, que o Ter:
nações que o mundo do impasse atómico pede não há lugar
para pretender-se construir tais grupos de um ponto de vista ceira Mundo se enlaça às grandespistas do desenlacehumano
"natural". continental. Os continentessão cada vez mais uma no planeta.Há, com efeito, nessecomplexototal um hemisfé-
abstraçãosem realidade concreta. Que pode haver de "orgânico rio --- e êste verdadePo{ na acepção plena da palavra -- o
Plemistériosut que selírata de integrar na socied(Meindmtrial
numa limitação de países e Estados por "continentes" quando
suasnecessidades
económicas
não coincidem,ou só muito difi- mover/za. A noção geográfica superada de continente não tem
cilmente, com a necessidadedos outros países do mesmo con- vez nesse processo de integração universal. Os países subdesen-
tinente? E as afinidades culturais, a formação histórica, desde volvidos, os paísescoloniais, os paísessituados na periferia do
mundo, bordejados pelos grandes oceanos, freqüentemente são
quando foram ditadas pelo fato passivo de que se continuem mais ligados economicamenteaos centros comerciais do mundo
pelo mesmo estarãode terra? A chamada "integração continien-
tal" i.aumento encontroujustificativa espontâneano próprio pa Europa, nos Estados Unidos do que entre, por exemplo, o
Brasil e o Peru ou Turquia e Paquistão. Na realidade, as asso-
curso dos acontecimentos históricos e ralissimamentena pró-
ciações económicas entre nações poucas vêzos devem o fenâ-
pria determinaçãogeográfica.Quando isso se dá, na maioria das
vêzes, é conseqiiência da desproporção de um grande poder meng às vizinhançascontinentais. Os Estados Unidos querem
ser "bons vizinhos" de todos os paísesda América Latina, mas
rodeado de podêres de segunda ou terceira ordem. Circunstâncias
são apenas soeríveis "vizinhos" da Argentina ou do Child. Se
políticas excepcionaisque isolaram a América do Sul de fregue- as associações éconâmicas não se fazem necessàriamente em vir-
ses naturais na Europa, transfo].mando-a, num certo momento tude de contigüidadescontinentais, as relações outras, de lín-
da história, em fornecedorade materiaisestratégicosetc., para gua, de etnia, de afinidades espirituais e culturais tampouco são
os EstadosUnidos e em basesaérease navais para que o ini- dependentes dessas continuidades.
migo fosse atacadona África e na Europa, forçaram tal "inte-
gração continental", integração que a cada passo se choca em Os continentes são suprimidos pela facilidade crescente de
iionf[itos desintegrantes
de cu]turas,de língua, de raça, de cos- linhas de comunicação, de circulação de idéias, de propaganda,
tumes, religião, atavismos. . . e de negócios. de mercadoriasbaratas, barcos, aviões. "0 continentalismoé
2ÓÓ 2Ó7
um. mito'.',. co.nclui Staley, "de pouca relação com as possibili-
dades práticas do pós-guerra". A noção de um continejite como
algo.de uma entidadepolítica e económicanatural é uma noção
envelhecida definitivamente. "A mitologia do continentalismo e
a noção de .solidariedade continental sãa mais freqüe:ntemente
aplicadas a duas áreas: a Europa e o assim chamado hemiiféria
ocidental(terras da América do Norte e terras da América do
Sul). Ora, o curioso,observaêle, é que nenhumadessasáreas
é realmente continental. A América do'Sul e a América do Norte
11
são ultramar uma em re.laçãoà outra. Quanto à Europa, se é
continente, arremata, é "por cortesia". Poderíamos acrescentar:
se a América do Norte e a América do Sul são continente. é
por dependênciada última para com a primeira. Reformas
Contra-Revolucionárias
/1 '
2Ó8
L ../ PATO DECiS].vo, realmente, de toda essa época que se
poderia chamar de nazi-rooseveltiana foi a transformação nao
sementepolítica mas ecanâmica.por que pasü)u.o mundo. Njo
se pode compreenderna sua jlssência.e na sua dinâmica o com-
plexo sóci04mnâmico capitalista ocidental..dehoje.sem a cons-
ciência clara e objetivo das transformações. ciciada! .!om a
grandedepressãode 1929-30e o Plano Marshall de 1947. Que
se passou então? O capitalismo liberal, impotente. para vencer
a depressãoe repor em marchao mecanismo
.produtivoe eco-
nómico mundial,' cedeu lugar a regimes transitórios e totalitá-
rios, cujo obscurantismopõlítioo, moral e .cultuml revelava.pro'
fundo retrocesso da própria civilização ocidental. O temível pa-
radoxo foi que, no plano económico e financeiro, .aquêlesregi-
mes quebraram várias ortodoxias intocáveis do capitalismo clás-
sico decadeMe.A época atual provém, em grandeparte, da-
quele paradoxo. Conhecê-lo é indispensável .à .compreensãodos
acontecimentos
e de muitostraços'característicos
de agora.É
o que nos propomos demonstrar neste capítulo.
A mais importante daquelas ortodoxias era a irremovibi-
]idade do padrão ouro como'fundamento sine azia na,z.de todas
as transaçõescomerciais, financeiras do sistema capitalista den-
tro e fora das fronteiras nacionais dos países. Nos Estados
27]
Unidos, Roosevelt quebrou o padrão monetário do dólar, des- Tentando descrever o que entendia por "reforma contra-
ligando-odo ouro, interveionos banco-spara controla-los,lan- revolucionária',. que encheu a época entre as dua-sguerras, es-
çou, segundo a receita keynesiana, vasto programa de obras crevia eu em 1948, com acento polêmico explicável então, mas
públicas em pleno recesso, para absorver o desemprêgo em hoje algofora de tom:
massa,enquantona AlemanhaHitler, sem um tostão em ouro # ''Os Estados Unidos querem restaurar as leis do capitalis-
nos cofres do Tesouro Nacional, aia várias espéciesde marcos, mo =naslente, separando a política da economia, para permitir
controla bancos, põe fábricas em funcionamento,mesmo sem que as fôrças capitalistas encontrem o velho automatismo inicial,
levar em conta sua rentabilidade contábil e milhões de traba- automatismoêsseque lhes dava um movimentopróprio, indi-
lhadores desempregados a abrir e pavimentar estudas para os
futuros exércitos, contestando assim militares e oficiais 'ociosos risca e, depois, contrapuseram os Sovietes à Assembléia Constituinte
É
e dando satisfação aos grandes magnatasdo ferro e do aço, do em virtude de os Sovietes serem "cem mil vêzes mais democráticos
carvão, da indústria química e da eletricidade que o financiaram (Lênin) que o mais democrático dos parlamentos burgueses. A oposi-
e..cuja febril atividade encheria o país de qliartéis, depósitos, ção trotskista era considerada-a ala esquerda porque, entre outras coi-
fábricas, minas, armamentosde toda sorte. A Alemanha sai da sas, reclamava a democracia no partido contra a burocracia do par-
tido. Quanto a alguns dos grupos urra-esquerdistas,é bem conhe-
depressão,apresenta-seforte, com aparênciade próspera. Hitler cido que quasefaziam um fetiche de sua luta contra o burocratismo
fêz reformas, Mussolíni fêz reformas, mas essasreformas tinham nos movimentos operários e revolucionários. Nesse sentido. e da
socialmente, culturalmente, politicamente caráter ahti-histórico e maior jmportãncia? o movimento stalinista, que é a verdadeira apo-
obscurantista: eram o que me permiti, então, chamar de ''refor- teose do burocratismo, não tem similitude com as tendências ultra-
mas contra-revolucio.nárias."I esquerdistas conhecidas do movimento operário. .. A ala direita da
movimento operário, clàssicamente e contemporâneamente, é sua ala
conservadora, sua ala reformista. É essa seção do movimento da clas-
l A propósito dêsseconceito de "reforma contra-revolucionária". Max se operáriaque se situa mais próxima da democraciaburguesa,que
Sc#achtman, marxista americano, tentando, em artigo de 1944, des- pratica a colaboração económica e política com a burguesia, que'se
crever as característicasdas alas e oraçõesde "esquerda"(revolucíoná- confina a si mesma a modestas (crescentemente modestas) reformas
!jas) e de direita (reformistas) dentro do movimento operário socia- do capitalismo. Sendo êsseo aspecto fundamental da ala direita, devia
lista, desde o século XIX até a revolução russa, escrevia: "Quaisquer ser claro que o stalinismo é fundamentalmente diferente de quaisquer
outras. características dos movimentos de esquerda (ou urra-esquerda) outras correntes reformistas e burocracias de que temos conhecimen-
poderão ocorrer a qualquer um ligeiramente informado de sua histó- to no movimento operário".(A left wing of the labor movement?
ria. l:Jma, de extraordinária e decisiva importância, deve ser citada TAe New /nfer/zarfona/, setembro de 1944, Nova lorque.)
aqui. Sem exceção,cada um dêles, em sua luta contra as tendências O movimento stalinista liquidou quaisquer veleidades não só de
à sua direita, se caracterizavapela ênfase na democracia contra a bu- democraciainterna nos partidos e nos sindicatos,como de se permi-
rocracia, nos. direitos e na auto-atividade das massas contra a arregi- tir às massasqualquer impulso espontaneístano sentido de uma ação
mentação e freio das massas. Se a ênfase era em alguns dêles extn- revolucionáriapor parte delas. Todos os movimentos,para serem'le-
mada, não vem ao caso aqui... A característica mesma é que é de- gítimos, tinham que ser organizadose centralizadospelos vértices
cisiva. A democracia social no século XIX era a ala esquerda da po- secretos do Partido, numa negação do principa] lema do marxismo
lítica em virtude de sua luta pelo sufrágio universal contra o sufrágio -- a emancipação dos trabalhadores será obra dos trabalhadores. A
restrito, e de seu trabalho pelo socialismo, como a realização da mais ascensão
da classeoperária,que se fazia em nomedos direitosde-
completa democracia política e económica -- a social-democracia. mocráticos que ela ia conquistando, um a um, numa luta de sacri-
Anarquistas e sindicalistas se distinguiam como uma ala esquerda por f fícios durantemais de um século,deixou de ser sua obra, para o ser
sua ênfase na anão de massa dos trabalhadores contra as manobras de um punhado de especialistase funcionários, de burocratas que em
burocráticas e os processos do oficialismo reformista no parlamento nome dela decidiamde tudo, sem consulta-la.Ao contrário.'misti-
ou nas negociações com empregadores. Luxemburg(Rosa) distin- ficando-a. Eis a essênciadas reformas contra-revolucionárias
da
guia-se como representante da ala esquerda em virtude de sua ênfase época. Eis aí porque fascistas e nazistas puderam organizar partidos
na anão espontânea das massas irrompendo através o conservadoris- de estrutura análoga à dos partidos comunistas e com tais métodos
mo institucionalizado da burocracia reformista. Os bolcheviques con- e instrumentos puderam fazer amplas incursões no seio do movimen-
trapunham a Assembleia Constituinte democrática ao despotismo cza- to operário,com os resultadosque se sabe.
k
272 273
gerente a qualquer outra consideraçãode ordem social e polí- economia capitalista da época era o beco sem saída em que foi
tica, enquanto os governos, aparentementeneutros diante dos dar o sistema de mercad(i, tanto na ordem financeira como co-
negócios,ficariam apenascom as funções de manter a ordem mercial. Todo o problema então consistia em escolherentre não
o garantir a santidadedos contratos comerciais. Isso seria unl '}
as moedas dirigidas, iate.rvieramno mercado de trabalho para acabadanessesentidoé a da própria União Soviética.tA ]ngla-
impedir as greves, controlaram os bancos e, finalmente, para re- terra trabalhista é também uma formação nova que seguea mes-
por em marcha a economia, entregaram-se ao surto armamentis- ma tendência. Mas onde o favor decisivo se faz se.ntircom força
ta que constituiu o grande mercado para as .suas forças produ- particular, é na participação independente e livre, no processo
tivas, inativas até então por falta de escoadouros económico, da classe trabalhadora. Os sindicatos livres e autó-
Essa foi a reforma contra-revolucionária dos países fascis- nomos em face do Estado, as cooperativas livres e autónomas em
tas totalitários. Os paísessob êsseregime não tinham os recursos face do Estado, os clubes operários livres e autónomos, os co-
mitês de emprêsa, as organizações culturais e os partidos políti-
e privilégios com que contavam no mercado mundial os grandes
cos livres e autónomos, asseguram a democracia. E por esta forma
países imperialistas democráticos -- a Grã-Bretanha e os Esta-
dos Unidos. Êssesúltimos puderam manter a democraciainter- o Estado que nacionaliza as indústrias fundamentais é constan-
na. . . porque tinham possibilidade de, utilizando-se e exploran- temente pasto em cheque e sua tendência absorvente é assim
do o acesso mais fácil às zonas de matérias-primas e os recursos mantida à distância. E=nquantoa autonomia e liberdade de todas
e rendas provenientes das inversõesde seus capitais no exterior, essas organizações puder se conservar . intacta, haverá -sempre
manter em relativo nível de vida as ma-asas trabalhadorase as esperançasde que a libertação das forças produtivas e econó-
classesmédias, sem necessidadede instituir um regime de dieta micas britânicas do automatismo do mercado e das i:njunçõesdas
e de restrições severo demais para elas. finanças não sujeitarão o povo a um regime totalitário. De modo
que, diferentemente do que -se passou na Alemanha, a demo-
No fundo, uma grande 'revolução' económica se estava ope- cracia não é sacrificada ao Moloch do Estado nacional. E en-
rando: a aboliçãoda controleda moeda pelo mercado,com a quanto esta subsistir, o caminho estará livre para uma evolução
introduçãoda 'finança funcional', isto é, a direção das inver- socialista do capitalismo inglês.
sões e a regulamentação da taxa de juros de depósitos bancários. Na Rússia, deu-se uma evolução no sentido da totalitariza-
O desaparecimento do mecanismo automático do padrão ouro ção da economiae da sociedade.A Rússia começoua sua evo-
levou ao isolamento das economias nacionais e à intervenção
luçãoseparando-se
da Europapara salvar-sea si mesma;por
crescentedo Estado para substituir o automatismo daquele fator isso mesmo, desde o início ela estabeleceu.o monopólio do co-
regulador. Os gi.andes problemas da. organização . industrial se mércio exterior e das indústrias-chaves.
A própria depressãoque
vão. assim,tornando independe:nte-s
de considerações
de ordem se seguiu à Primeira Grande Guerra levou a Rússia a isolar-se
puramente financeira. E êste fato colocou em ordem do dia o cada vez mais. Exportadora que era de produtos agrícola-s,os
problemado socialismo,isto é, uma economia.organizada
para mercados mundiais deixavam de ser escoadouros para êstes em
servir o homem, independentemente de considerações não sò-
virtude da depressãoem que caíra a economia ocidental. Ela não
mente financeirascomo de fronteiras.Ou isto, ou uma econo-
mia limitada ao Estado nacional,fundida com o Estado e hostil l Hoje, depoisda morte de Stalin e da derrocadado sistemastalinis-
à colaboração internacional, comunicando-se com o mundo ex- ta, a IJnião Soviéticase achaem processorevisionista,visandoa uma
terior como se comunicam por cima dos muros de uma fortaleza recuperação democrática, através reformas nas estruturas econâmícas,
situados e sitiantes. para maior eficiência produtiva de seus trustes industriais e através
uma descentralização no aparelho produtivo e burocrático supercen-
Essas economias, que prolificaram até a Segunda Grande tralizado e um refinamento mais alto dos métodos e finalidades do
Guerra, tiveram a sua expressão-maisacabadasob o fascismo planejamento económico global. Já estamos a mil léguas das reformas
italiano e o nacional-socialismoalemão.Não foram, contudo, li- contra-revolucionárias, obscurantistas da era staliniana, como, por
exemplo, o ifaÊa/zovísmo.Se as novas reformas forem levadas a bom
quidadas com a guerra. Deram ligar a formações .idênticas, em- têrmo e com todas as implicaçõesdelas decorrentes,
uma era nova
bora em graus de acabamentodiferentes e de origens às vêzes abrir-se-á para o povo russo e para ó mundo -- a era realmente do
opostas.hoje temos, sob outras formas políticas e com outra socialismo.A longa e dolorosa experiênciarussa terá enfim mostrado
ideologia, silitemas económicos semelhantes. A economia mais todo o seu alcance.
27Ó 277
pede, assim, trocar os.produtos agrícolaspor maquinismos.e ob- o ritmo de sua industrialização,a expropriar de novo os cam-
jetos manufaturados?de modo a equilibrar. as necessidadesde seu ponesesa quem a revolução havia dado a terra, foi.çando a cole-
povo: com as exigências
de sua industrialização.
Foi forçada, tivização. O Estado tornou-se o senhor de todos os meios de
também, a entrar no caminho da auto-suficiência. A classe tra- produção. Nesta base, uma nova casta dominante surgiu, ao
balhadora russa que teve forças para derrubar o czarismo, não mesmo tempo que o mercado livre de trabalho era suprimido, os
as teve, entretanto, para fazer funcionar o novo regime de modo sindicatos perdendo qualquer possibilidade de lutar por aumento
democrático. As contradições políticas, por outro lado, entre a de saláriose melhoria de condiçõesde vida. Todas as fobias
Rússia e os países imperialistas mundiais, levaram-na a acelerar de organizaçãoeconómica e política perderam a sua autonomia,
integradasno aparelho estatal. Não existe ali nenhum contra-
l L Trotski, em 1932,em sua campanhapela frente única da social- pêso de controle democrático. O Estado dispõe ao mesmo tempo
democracia alemã com o partido comunista alemão para barrar o ca- da totalidade do poder económico e do poder político. A con-se
minho ao poder do nazismo, fazia proposição extremamente audaciosa qüência é que, se o automatismo do mercado foi perdido, Dem
e revolucionária da colaboração germana-soviética, isto é, entre a URSS por isso a economia deixou de se basear no sobretrabalho e na
c uma Alemanha que, ao invés de ter sido nazificada, teria sido socia- exploração dêsse sobretrabalho em favor do Estado. As diferen-
lizada. Não se trata, dizia êle, de começarpela primeira vez uma cons-
trução socialistana Alemanha,mas de "unir as forças produtivas da ciações sociais ah aumentam em vez de diminuir. A exploração
Alemanha, a sua cultura, o seu gênio técnico e organizatório, à cons- de trabalhochegoua um ponto em que foi instituído o traba-
trução socialista que se vem processandona IJnião Soviética". . . "ligar lho forçado como fator permanente e indispensável ao funcio-
à construção socialista da urss, às suas enormes experiênciase valio- namento do próprio mecanismo económico. A opressão econó-
sas realizações,as tarefas da revolução proletária na Alemanha. : . Os mica dá origem ali, como em toda parte, à opressãopolítica.
projetos incoerentes e covardes de capitalismo de Estado da social-de-
moaacia precisam ser combatidoscom um plano geral para a cons- A opressão política pennite que se desenvolva livremente a
trução socialista da URSS e da Alemanha, conjuntamente". : .. "que !e opressão económica.
tornasse objeto de estudo das organizações da classe operária alemã, Bukharin, o grande teórico que Stalin imolou, como toda
e as forças progressivas da sociedade, técnicos, estatísticos,. economis- a velha guarda de Lênin, aos pés do seu próprio altar, escrevia,
tas". Com o plano se poderia estabelecer "uma ponte que ultrapassasse inspirando-seem Hilferding, no curso da Primeira Guerra Mun-
as fronteiras nacionais". A idéia estratégica era utilizar dezenas e cen-
tenas de fábricas importantes paralisadaspela depressãona Alemanha
dial: "Um poderosoEstadomilitar é o último triunfo na luta das
para ajudar a completar o segunda plano .$üinqüenal soviético. "0 potências. Assim a capacidade competiiva no mercado mundial
socialismo na Alemanha", escrevia Trotski, "teria a ver-se com uma depende da força e da coesão da nação, de seus recursos finan-
economiacujas forças produtivassó trabalham pela metade. A regu- ceiros e militares, uma unidade económica e nacional se bas-
larizaçãoda economiateria, assim,desdeo comêço,50% de reservas. tando a si mesma, a expandir sem limites seu poder imenso, até
Isto basta amplamente para compensar as perdas provenientes das apal-
padelas do comêço, para amortecer os choques brutos do Dava. sistema governaro mundo num império mundial. Eis o id-ealcom quc
e para garanti-lo contra o declínioprovisório das.forças produtivas.Na sonhao capital financeiro'.xHilferding, na sua própria obra,
linguagem convencional dos números, isto significa .que, se de uma arremata: 'Os conflitos de classe desapareceram, cessaram, a
economia capitalista a 100%oa revolução socialista tivesse no. comêço serviço do todo. Em lugar da luta de classes sem saída, perigosa
de descer talvez a um nível de 75qo e mesmo de 50%o,a revolução do para. os possuidores, vem a luta comum de toda a Nação por
proletariado, que parte de uma economia a 50%, não. pode senão ele um ideal de grandeza nacional'.z
var-seao nível de 75% e de 100%o,para ter em seguidaum surto in-
comparável em relação a tudo o que já se conheceu no passado". (Re- Foi essaa ideologiado nacional-socialismo
de Hitler e é a
voZzzçãoe Contra-revolziçãa /za .4Zema/zha, Ediçf)es l.Jnidas, . 1933, págs. que predomina na Rússia stalinista (o chauvinismo grão-russo
321-323 e 420-421.) A colaboração germana-soviética não veio, mas veio
a vitória de Hitler que impôs sua reforma contra-revolucionário, absor- l N. Bukharin, Z'Ecanamíe mondfale e/ Z'/mpéríalíxnz:e,
Ed . Sociales
vendo o desemprego'em massa,reorganizando a indústria, rearmando a Internationales,Paris, 1928,pág. . 107.
Alemanha para desencadear a guerrae, depois de ter feito um pacto com 2 Rudolf Hilferding, l)as FÍ/zanzkapíraZ,
Verlag der Wiener Volksbuch-
Stalin, invadir e espezinhar a Rússia. handlung, Zweite Auflage, Wien, 1920, pág. 458.
278 279
de grande potência, os ideais nacionais russos são exaltados; perialistas, reveladosquando, aos primeiros dias da revolução
lvã a Temívelpassaa ser lvã o Grande,e a grandezanacional bolchevique vitoriosa, b Govêrno soviético mandou publicar os
substitui os ideais socialistas) . . . Ao findar da última guerra, tratados interimperialistas e denunciou as cláusulas secretas.En-
a Rússiade Stalin se revela como a continuadorada política im- tre estas, a mais famosa era a promessa pelas potências aliadas
perialista dos czares. O mesmo expansionismo em defesa de de entregarConstantinoplaao Czar em Ã4oscou.Na basedes-
puros ''interêssesnacionais" a impele. O programa de paz do sas denúncias,o Govêrno soviético ajudou a luta antiimperialista
Govêrno russo atual não é aquela velha paz humana 'sem ane- de Kemal Pachána Turquia contra'o imperialismobritânico e
xações nem indenizações, nem diplomacia secreta' dos primeiros com êle fêz um tratado de amizadee não-abres-são
que, em 19
anos da revolução, mas uma paz de rapina, que açambarca os de março de 1945, era unilateralmente denunciado pelo Govêrno
países vizinhos, que carrega com as suas fábricas, desmonta as soviético. Em compensação,êste repunha em vigor a velha pre-
suas máquinas, desapropria as indústrias para leva-las para den- tensão imperialista russa de ocupar os Dardanelos e Constan-
tro do seupaís, ou para forçar a organizaçãode sociedadesmis- tinopla, ou lstambul, segundoa designaçãodada pela revolu-
tas nas quais o Estado imperial russo fica com a parte do leão."a ção nacionalistade Kemal Atartuk. (Ver ainda a obra citada
Ainda quanto aos objetivos da guena, a União Soviética de Louis Fi-sher.)
seguiu então à risca as tradiçõe-scla velha Rússia czarista, reto-
mando suas ambições imperialistas, objeto inclusive de cláusu-
las secretasem convênios, tratados com as outras potências im- Sob tais equívocos tremendos e contradições, o mundo va-
rou os anos de depressão,os anos da SegundaGrande Guerra e
3 Mário Pedrosa, Ox SocfaZâsfai e a /// Gzzerra ]b4zz/zdfaZ,
Rio, 1948. nãa conseguiu alcançar a paz. Hitler fai destroçado; os campos de
Louis Fisher dá a essa evolução nacionalista do stalinismo uma série concentração nazista-sforam desfeitos. Mas a barbaria científi-
de indicaçõesque ao seu tempo for?M muito comentadasna imprensa
mundial e de esquerda."A revoluçãorompeu com o passadoe com a fla inaugurada pelo nazismo e pelo stalinismo não desapareceu.
tradição. . . Stalin decidiu pâr um fim à guerra de classe.. . Tendo sus- Foi, ao contrário, institucionalizada pelos Estados IJnidos com
pendido a guerra de classecontra o campesinatoe os gerentes.. . Stalin a entronização da bomba atómica e a destruição experimental de
escolhia o nacionalismo. . . decidindo do mesmo modo introduzir o bol-
chevismona história russa. Como um primeiro passo,as figuras do pas- Hiroshima e Nagasaki. Apoiado nela, o imperialismo america-
sado russo, a quem os velhos bolcheviques rejeitavam e desprezavam, no entremeia a guerra fria como sucedâneoda guerra e da paz.
eram tiradas da poeira da história e redecoradascomo ídolos soviéti- Aquela Ihe é necessáriapara justificação de umâ política de
cos. . . A Rússia tinha outros heróis: Pugachev e Stenka Ríazin, por ofensiva e cruzada anticomunista na exterior. As guerras fria
exemplo,que dirigiram infelizes levantescamponeses
contra os czares. e atómica são os componentes de uma nova estratégiamundial.
Stalin, porém, não precisavamais de rebeldes.
. . O Kremlin lançou Os Estados Unidos transformaram-se naquele "poderoso Estado
um lençol de esquecimento sabre Pugachev, Stenka Riazin e outros
não-conformistas. .. A campanha pelo nacionalismo, que começou em militar" profetizado por Bukharin há quarenta anos, bastando-se
1934 como um tímido grito do Kremlin, torna-seagora um barulho a si mesmo, a expandir sem limites seu poder imenso, até gover-
incessante,ensurdecedor.
.. nar o mundo num império mundial.
Em 1939, numa população de 179 milhões, 58qo eram russos...
A revolução bolchevique, no entanto, fêz todas as raças iguais; nenhu- Criou-se, áo lado do impasse atâmioo, um impassepolítico
ma era superiorou inferior". Stalin acreditavaque "sem a lealdade entre os vitoriosos da grande guerra. A inatualidade dos diri-
e apoio dos russos,maioria da população, a União Soviética não podia gentes soviéticos em relação ao mundo ociden-tal no pós-guerra
ganhar a guerra.. . Também Stalin não podia tornar-se o pai de seu era ainda maior que a do Czar Alexandre quando, vencido Na-
país, êle não podia glorificar o passado da Rússia enquanto negava poleão, passeoupela Europa a sua empáfia e sua ignorância dos
aos russos o mesmo papel primordial que desempenharam no passa-
do". (L. Fisher, Stalin, págs. 145-159). homens e das coisas daquele Ocidente tão prestigioso e longín-
Foi nessaépocaque Stalinsepromoveua marechal,para ficar igual quo, fascínio e repulsa da Santa Rússia dos Czares. As expe-
em pasto aos chefes militares e, depois, a generalíssimo. riências políticas, sociais e económicas tão profundas e tão de-
280 28]
cisivas por que passaramos povos europeusnão sòmentenos capitalismo; êste era, com efeito, capaz de Dava surto de desen-
anos de guerra (naturalmente)mas nos anos anterioresentro volvimen.to de sua-sforças produtivas, por uma notável transfor-
a grandedepressãoe a grandeguerranão foram não direi assi- mação de suas estruturas. O mundo está pagando caro essa im-
miladas, mas sequer estudadas e muito menos compreendidas. potência teórica.
Nos partidos comunista-simperavam o monolitismo sáfaro Não há, assim,por que se admirar se se dá com um mundo
e, no fundo, retrógrado do stalinismo, a mais terrível estreiteza na mais formidável revolução tecnológica e mesmo científica de
teórica e uma combinação do oportunismo com um sectarismo que há memória -- mas engolfado ainda num primarismo polí-
organizatório do mais completo feitio totalitário. A União So- tico positivamenteindecente.O Sr. Adolph Berle, no seulivro
viética fazia então uma política de feroz realismo nacional russo TAe Capíía[[sf levo/u/ioiz ín //ze XX Cerzfüry, livro apo]ogético
nos paísesocupados
(amigosou inimigos)e no jogo com as do sistema económico da grande corporação, que discutiremos
outras grandes potências de um oportunismo realmente digno longamenteem outra parte dêste trabalho, mostrava o extremo
delas. Os socialistas (ou comunistas) restantes pelo mundo, anacronismodas doutrinas políticas em conflito. Os comunistas,
quando lúcidos, eram impotentes;quando carreando ainda po- dizia êle, atacamo capitalismodo séculoXX com teorias quõ
derosas massastrabalhadoras atrás dêles, não tinham indepen- culminam com as de Marx em 1870; mas em respostaos defen-
dência em face de seus resp-Cativosgovernos nacionais e ainda sores do capitalismo recorrem às idéias de Adam Smith em 1770.
mais rotineiros e semprincípios, DOseu oportunismo visceral, que No entanto, se de ambos os lados tivesse sido estudado,
os stalinistas. Daí resultou a impotência teórica generalizada no mais de perto e com mais isenção,o que se passouno campo
mundo imenso do socialismo numa prática, conseqüentemente, económico e financeiro nos anos que precederam a guerra e
inconsistente, contraditória, do mais baixo emphismo. no curso dela, sobretudonos paísesnazi-fascistase nos próprios
Desde então o mundo político passou a viver ao deus-dará. Estados Unidos, os e-strategistasdo anticomunismo e do anti-
Os primeiros a reaprumarem-seforam ainda os Estados Unidos socialismo estariam com suas teorias muito mais a par da rea-
(graçasà formidáve[acumu]ação de recua-sos,
de ouro que lhes lidade viva de sua época e o mundo talvez não estivessevivendo
deram o monopólio virtual das riquezas num mundo empobre- agora uma era política da mais completa confusão. É preciso,
cido e exau-sto). Conseguiram, ao reconverter sua economia às porém, reconhecerque o saldo negativo do-ssocialistas,princi-
tarefasprodutivas para a paz, guardar ainda controles dos tem- palmente dos comunistas russos ou chineses, foi bem maior que
pos de guerra, sobretudo as alavancasdo comando financeiro, o do lado capitalista.Toda uma equipede economistas
ociden-
além de uma máquina estatal ainda participante nas atividades tais, principalmente norte-americanos e inglêses, fêz valioso
económicas,como produtora e consumidora(a nova energia esforço para fazer da velha economia acadêmica uma ciência
nuclear, etc.). Nessa base mista para a paz e para a guerra, de- viva, capaz de corresponder em parte às modificações formidáveis
linearam-seas estruturasdo um novo capitalismo,um "neocapi- surgidas no capitalismo ocidental e, principalmente, americano.
talismo" que ia servir de modêlo aos outros países industrializa- As teorias e doutrinas podem ser as mais negras,as mais
dos, ao trabalharem na sua recuperaçãoeconómica.Quanto à reacionârias e cruéi-sno campo social e económico e, no entanto,
União Soviética, reparando suas terríveis perdas de gente, de da:prática que em nome delas se exercita podem resultar coisas
equipamentose riquezas DOcurso da guerra, às custas em parte diferentes, instrumentos úteis de técnicas êconâmicas. financei-
de um processo de acumulação pi.imitava às expensas dos paí- ras ou sociaiscom possibilidades,posteriormente,em outro con-
ses europeus ocupados (amigos e inimigas) retomava sua política texto, de servir até mesmo à causa do progresso. Nesse sentida,
de intensificação da indústria pesada, te-fitando aqui e acolá con- emi=nente economista de origem alemã, êle mesmo vítima da
quistar novas posições no exterior, na base da mesma velha barbárie hit[eriana, o professor Otto Nathan, num lúcido livro
estratégia de antes da guerra e de velhas formulações teóricas sabre T/zeNazi Economíc Sysfem (Duke University Press, ])urk-
num mundo que assistia ao desmentida mais acabado às pers- ham, N.C. , 1944) escrevia,com muito propósito: "Nosso hor-
pectivas socialistas, comunistas, marxistas quanto ao futuro do ror e indignação às insuperáveis brutalidades do nazismo, nos-sa
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completa rejeição de tudo aquilo que representa, não devia obs- pleno emprêgoe a disposiçãodo Govêrno em subsidiar os pro-
curecer a possível importância das experiênciaseconómicasle-
vadas a efeito sob os auspícios nasci-stas,experiências que podem
dutoressubmarginaísfaziam a lucratividadede sua emprêsamui-
to mais segurado que nunca fará antes. O's nazistasgostavam
adquirir novos vaiõres e stgnüficaçãonuma atmosfera política
di/erenfe. Num tempo em que, na maioria dos países, a necessi- muito de chamar a atenção para a s'egurançaque haviam trazido
dade de intervenção nos negócios económicos é tão distinta- ao povo alemão. Enquanto se tratar de aspectoseconómicos, há
mente sentida por muitos e tão acerbamentecombatida por ou- que admitir que, até segunda ordem, preparaçõesfrenéticas para
tros, uma compreensãocompleta de experiênciaque o fascismo a guerra tornaram o empreendedor mais seguro e o trabalhador
alemão teve com o planejamentopode provar ser instrutiva. mais garantido quanto ao emprêgo permanente e à renda. Se-
Os nazis. . . mantinham a instituição da propriedade privada gurança, porém, tem largas conotações. Onde a segurança po-
com muitos de seusantigosdireitos e privilégios. A propriedade, lítica foi suprimida, onde todo homem ou mulher é sujeito à falta
por exemplo, continuou a ser uma fonte de rendas grandes e não de lei e aos caprichosde uma ditadura fascistabrutal, os valores
produzidas pelo próprio trabalho. A propriedade, porém, não na vida dos homens mudaram completamente. Quando o último
mais carregava consigo o direito discricionário de interferir no resquício de liberdade pessoal e decência humana desapareceu,
torna-se uma farsa falar de ''segurança".i
processoprodutivo. O lucra privado continuou a existir como um
dos importantes títulos à renda nacional. O motivo do lucro e É o trecho acima a última parte de uma descrição adequada
a competição deixaram, no entanto, de preencher as funções con- precisamentedo caráter "contra-revolucionário" das reformas de
fiadas a e]as peia capitalismo tradicional. . . Em lugar do anti- então. Pràticamente, todas as reformas daquela época, pelo me-
DOSna Europa continental, tiveram êssecaráter contra-revolucio-
go papel na produçãoe no processode investimentoêles agora
funcionavam primeiramente como energéticos para estimular os nário. Ainda em capítulo anterior da mesma obra, Nathan des-
homens de negócio a se empenharema melhorar a produtivida- creve,em excelentes têrmos,a transformaçãodo sfa/zzsdo ope-
rário alemão em partícula sem raízes, anancado que foi de seu
de de suas emprêsas. Todos êssesdesenvolvimentos significavam
proprio contexto social e submetido a uma ''integração" num
que o papel do empreendedorna economia mudara. O empreen-
dedor audacioso do século XIX que arriscava seu próprio ca- todo de que só os nazistas conheciam o mecanismo, a significa-
pital na procura de altos lucrosjá e-stavaa caminhodo capita- ção e a finalidade. O operário deixava de ser operário da fá-
lismo altamente "organizado" da Alemanha pré-nazista. O fas-
brica, deixavade ser socialista,comunistaou democl.ata,para
ser alemão, membro da raça superior e força do trabalho, a ser-
cismo alemão o eliminou completamentee, em seu lugar, colo-
viço da produtividadeem benefício do grande todo nacional-so-
cou um empreendedor que podia exercer iniciativa e acumular
riqu'eza,mas era compelido a operar estritamentedentro das limi- cialista alemão. Assim -sedissolvia o "proletariado'' como classe
tações de um determinado programa de atividade económica do e se estabelecia o contrate do operariado alemão, e isto, para
todos os burgueses"progressistas"do mundo, era o que tinha
Govêrno. 'As emprêsasprivadas', declarava uma publicação importância.
gemi-oficial em 1937, 'se tornaram trustes públicos. O Estado Não nos furtamos ao prazer de citar essapassagemsobre-
é, para todos os fins práticos, um sócio em tôda emprêsaale-
modo ilustrativa de Otto Nathan: ''Tão cedo (o regime nazista)
mã. . . Quando a emprêsaé um truste público, sua sobrevivên- assumiu o controle, liquidou q.ualquer vestígio de ação coletiva
cia e a lucratividade do capital investido se tornam questões de independente pelo trabalho. A rep.rebentaçãotrabalhista foi eli-
interês-sepúblico.'i minada. Os sindicatos foram destruídos. O direito de greve abo-
Se, continuava o mesmo autor, o empreendedornazista não lido. O contratocolotivo e a vastamaquinariapara soluçãodos
podia investir livremente,era compensadopelo fato de que o conflitos trabalhistas foram suspensos.Como substituto para os
sindicatos, os nazistas impuseram a Frente Alemã do Trabalho,
l Der Dezitsclte Votkwirtschaft XI, 1937 The Nazi Economia Sys.
fem, págs. 366-368. l Obra citada,pág. 368
284 285
uma organizaçãodominadapelo partido, de todos os homens e tas. . . compreendiam que seus objetivos finais precisavam de
mulheres do país que executavam 'trabalho humano\ tanto de trabalhadores com boa saúde e, se possível, com uma boa mo-
empregadores como de empregados. Salários, ordenados, con- ral. Embora não permitissem interferência nas instituiçõesfun-
dições operárias, prèviamente determinados pelo poder de bar- damentaisque regiam as relaçõesindustriais, embora não tole-
ganhados vários negociadores,agora eram fixados pelos zrzzi/ei rassem a aiividade de organições operárias independentes,nãa
do trabalho, nomeados pelo Govêrno e de cujas deck-sõesDão he-sitavam em cortejar os trabalhadoresde muitas outras ma-
neiras. . . Tem-s-eüisinuado que o primeiro objetivo da política
havia apelo. Com a passagemdo tempo os controles govema-
mentais aumentaram,o trabalho foi perdendo cada vez mais sua trabalhista nazista era uma redução no padrão de vida do tra-
mobilidadee a completaarregime-ntação foi posta na ordem do balhador. É, no entanto, superficial supor.que a abolição da
ação coletiva independente do trabalho deve necessàriamente ser
dia. Os operários se tornaram autómatos no serviço de um Es-
tado militar, um Estado que dita o tipo de trabalho, o lugar do acompanhada por uma queda na renda real dos trabalhadoBS,
trabalho. as horas de trabalho e a ronda do trabalho. Na que exclui qualquer aumento nessarenda. O govêrno nazisla
éra motivado por consideraçõesmais complexas. A chave para
AJemanha pré-nazista uma legislação social democràticamente a-saçõesdos iiazistasera um conflito de ideologiae propósito
estabelecida previa o operário de instituições para sua pro- entro o movimento sindical e o nazismo, conflito tão funda-
teção contra a exploraçãodo trabalho, para pmtegê-lo co- mental que tornava fora de questão qualquer compromisso.Os
moum ser humano contra o mesmo mecanismo do sistema nazistas 'estavam determinados a alterar a distribuição da renda
de mercado livre. Tal legislação representava uma vitória nacionalvisando uma menor partilha para o proletariado. Essa
da atividade coletiva dos trabalhadores que tinha suas raí- alteração preenchia pelo menos duas funções. Significava que
zes na liberdade política do proletariado. O operário como uma percentagemmenor da renda nacional seria disponível para
um indivíduo, com direitos ta-nto como responsabili.dados, o consumo, diminuindo assim a pressão sabre bens de consuma
podia unir-se com seus companheiros de trabalho para exer- e uma maior facilidade para a acumulação de fundos para capi-
cer pressão sabre os representantes eleitos. Podia reclamar o tais de investimento. . . Não se podia esperar que os grupos sin-
controle social e em certa medida influenciar sua direção. Sob o dicais independentesfossem assinar sua sentença de morte, ou
regime nazista a ação independente de grupo era proibida. O abrir mão do que consideravamuma justa partilha da renda
operário era um membro de organizaçõessabre as quais não ti- nacional. . . A visão dêles era uma vida melhor para os ü'aba-
nha a menor influência, nem direitos. Dr. Ley, o chefe da Frente ]hadores, a ser alcançada mediante uma mudança na distribui-
Alemã do Trabalho, chamou os operários de "soldados do tra- ção da renda nacional em favor do trabalho e a expensasdo
balho". .. Hitler definiu a posição dos trabalhadores assim: capital. Cada aumento na força do trabalho organizado o colo-
'SÓhá um direito Destacomunidade,o direito que resulta da ob- cava em posição mais vantajosa para alcançar seusfins e amea-
servânciade deveresque sãoprescritosa cadaindivíduo'. Assim çava os lucros marginais dos empregadoresindividuais e do ca-
que um trabalhador aceitava um emprêgo com um empresário, pital como um todo. Do ponto de vista nazi-stanão havia, por
dizia-se ter sido criada uma ''relação de comunidade". . . des- conseguinte, outra alternativa senão acabar com a independên-
crita como ''relaçãode trabalhobaseadana lealdade,na honra cia do trabalho".l
e nas obrigaçõespara as quais o trabalhador faz uso de sua capa- Poder dispor da renda nacional, decidindo a seu talante da
cidade de trabalho a serviço do empregador".. . (Os operá- parte nela do ietor do trabalho, é o ideal de todo capitalista ou
rios) não sãomais livres para exercerpressãoaberta a fim de l Nathan ainda mostra, em nota, que várias atividadese instituições
melhorar suas circunstâncias. Têm de aceitar as tarefas e re- nazistas "realmente beneficiaram o trabalho". No tope dessa lista es-
muneração que lhos são dadas.Não há apelo, nem oportunidade tava a "Força pela Alegria", "da qual muitas centenas de milhares
para procurar modifica-las. Isso não era necessàriamente
acom- de trabalhadores desfrutavam grande satisfação".(Obra citada, págs.
panhado de deterioração nas condições de trabalho . . . Os nazis- 171-175
28Ó 287
patrão. É o que pedem, hoje, as grande! corporações. americanas, isso vem do arsenal totalitário das reformas contra-revolucioná-
êm sua luta constante co-nora o trabalho organizado. Os seus rias. As categorias sociais desaparecem, o homem é atomizado;
panegiristas também falam, a propósito, em substituição ao po- é o ideal da democracia, da boa, isto é, representativa.Êsse ideal
foi criado pelo fascismo. É Q que impera nos Estados Unidos .
Zler de barganha independente do movimento sindical, de uma
"relação comunitária" de emprêsa,como os nazistasqueriam. # Nos Estados Unidos, o mecanismo da produção em massa
Também é hoje instituição generalizada nas "democracias dc do neocapitali-smocriou uma suprema categoria social, medida
massa" a organização de similares da "Força pela Alegria". Dêsse pelo maior número de bens duráveis que possui um cidadão.A
conjunto de idéias se faz a substânciadas "reformas contra- classificaçãodo homemna sociedadetende a desligar-sede seu
revolucionárias". trabalho, de sua função na produção para caracterizar-se pelo
f grau de seu consumo. A circularidade social de que tanto se or-
Sob o regime das reformas contra-revolucionáriasinstitu-
cionalizadas, inclusive nos países democráticos ocidentais,x a efi-
gulha a civilizaçãoamericanaé tanto maior quantomaior a
capacidade consumidora em bens de prestígio do cidadão. O au-
ciência produtiva aumentou, a racionalidade -económicacresceu,a
cultura chegou às "massas", mas tudo em detrimento da homem, tomóvel é provàvelmente o grande fator da circularidade. A pro-
do homem com os seus fins e aspirações contraditórias, substi-
dução em massaserve ao princípio neocapitalistade que o ho-
mem privado, o homem particular deve estar assentadoná Casa
tuídos êssespor jornadas de trabalho mais curtas mas ülfinita- Branca, no Capitólio ou na Suprema Carte e daí para baixo presi-
mente mais intensase um dia a dia cada vez mais cheio de mata-
dir todas as instituições am-tricanas,l)úblicas ou não. Vem daí a
tempos, distrações e divertimentos organizados, sistemas de in- capacidadeda civilização americana de institucionalizar todas as
formações crescentes em quantidade e relativa diminuição do
do valor, propagandadas vantagensda melhor democracia,da atividades. Ao fabricar em massa as coisas mais espontâneas ou
casuais,por definição artesanaisou da fazer manual, são institu-
melhor cerveja, do melhor calista, do melhor negócio, da me-
lhor igreja, do melhor cinema,circo ou jogo, do melhor político, cionalizadas,
comoa torta, a maionese,
a pipoca,o sorvete,o
do melhor campeão, do melhor govêi.no, do melhor trabalha- brinquedo, a gravata, o bonde, o berimbau, o saxofone, a -estei-
dor ou patrão, do melhor doutor, da melhor mãe, etc., etc. O ra, o rosário,o santo,a imagem,a lembrança,
o amor,o ca-
melhor no pior também é objeto de admiração. Toda-sas mani- samento,etc. Assim, a popu]ação inteira, todos os dias, (]e
festações culturais de nosso tempo participam dêsse otímismo, norte a sul, de leste a oeste do país, come a mesmatorta, a
dêsseenfechamentosabre o presente-- é o ópio do povo. Tudo mesma salada, nas mesmas horas, do alto a baixo da es-
cala social. Evidentemente, a torta vira assim instituição
nacional também. As coisas são arrancadas de seu local fami-
l Paul A. Baran -- .4 Economia Política do DesenvoZvime/z/o(Zahar
Editores, Rio, 1964) mostra como a "revolução" de Keynes, apesar liar regional e confeccionadas em massa, como objetos neutrcns,
de toda a "importância intelectual" que Ihe dá Baran, - a ponto de aios sociais neutralizados, quase abstratos, trocados, efetuados,
comparar(mesmo "com o risco do exagêro") o que êle "alcançou consumidosde ponta a ponta do território nacional,de Nova
com relação à economia neo-clássica" ao que "Hegel alcançou çom lorque a Seattle, de Saint Paul a Saint Louis, indiferen-
relação à filosofia clássica alemã" -- "não se associou. . . ao vigoroso
movimento pela abolição de uma ordem social obsoletae destruidora, temente ao . clima, gostos,hábitos, tradições de mesa, tra-
pelo desenvolvimento e pelo progresso social. .. A lógica do capita- dições familiares, tradições antropológicas e culturais, como um
lismo monopolista... provou ser mais forte do que Keynes e seusse- f automóvel, uma postura municipal, um instituto legal, enfim,
guidores radicais a imaginavam. Ela usou seus resultados teóricos para democraticamente para todos.
propósitos muito distintos de suas intenções. . . Foi a Alemanha fas-
cista que, até hoje, usou mais extensamente
a visão penetrantedo Por vêzas, de certos círculos inesperados vêm luminosas ob-
keynesianismo, ao construir a máquina económica que Ihe permitiu servaçõesque ajudam a colocar o problema fundamental -- de
desencadear a ll Guerra Mundial". (pág. 59.) Em função da época países subdesenvolvidos e massas trabalhadoras com suas aspi-
e do contexto sócio-económicoe político vigorante em escala interna- raçõessociais-- em face do neocapitalismo,quer dizer, o pro-
cional, tôda "reforma" pode virar "contra-revolucionária" blema da reforma ou revolução. Referimo-nos ao livro do profes-
Ç.
288 289
sor E. Staley.l O autor distingue,por exemplo, duas conceitua- capitais é preciso mais: é preciso que se faça a reforma imiaJ
ções relativas ao problema do desenvolvimentoválidas a consi- agrária e os camponeses sejam elevados a proprietários de terra,
derar: de um lado, o "crescimentoeconómico"e de outro a produtores independentes. À Sociedade, a acumulação capitalista
'transformação económica". Esta última expressão descreveria
melhor que ''crescimento econâmíco" as ''drásticas modificações
+ pode ser menos intensiva, até que as forças de trabalho dispo-
níveis sejam bem aproveitadas e o surto de industrialização se
nas relaçõeseconómicase sociais gerais" que são requisito ca- generalize.
pital para o desenvolvimentodos paísesnão industrializados.O O autor teme que se dê toda a atenção ao problema do
desenvolvimento não é apena-sum processo de acumulação de aumento da produção de mercado.rias e investimentos de capitais
capitais: "A acumulação de capitais é, sem dúvida, importante, e tecnologia e nenhuma no estimular as necessár&sre/armas so-
mas o núcleo real do processo desenvolvimentista consiste na ciaise psíco/ógicaB,
ou o lado ''mais especificamente
humanodo
evolução da mente humana, especialmentena mudança de hábi- desenvolvimento". O resultado poderia ser a incapacidade do
tos e organização do trabalho comum. Mesmo se desejarmos processo "pegar", tornando-se "autofecundante". Tirante a ex-
focalizar a atenção sabre os capital-s, as questões chaves. . . di- pressão, sem consistência teórica ou mesmo lógica, de "mundo
zem respeito à formação de capíraís,o que constitui em si mesmo livre", a que o autor pretende validez objetiva e não puramente
processo de tMtureza socialJ'z emocional, o resto da argumentaçãoé certo. Limitar o problema
É importante a distinção. A ênfasedeve ser posta não numa do desenvolvimento a um processo de crescimento económico
questão meramente económica, de imediata rentabilidade capi- sem mais nada é transplantar capitais e uma técnica neutra para
talista, masno problematotal -- qual o de revolver, de trans- um país primário-. Isso viria apenas, através êsse crescimento,
formar a sociedade.Ora, I'ecriá-laé principalmenteum prooes- reforçar o poder económico e político de uma pequena ari-stocra-
s(i social e contínuo d© formação de capitais. Formação quer cia burocrática-feudal-militar aliada a capitais estrangeiros,o que
dizer esforçono criar, no começaralgo não anteriormenteexis- não atenderia aos reclamos de uma verdadeira, radical trans-
tente. Acumulação capitalista -- quando não se trata de acumu- formação da sociedade.Seria por exemplo um regime de "Belos
lação primitiva que os países industriais realizaram, internamen- Antânios" para' a Marinha brasileira brigar com a Aeronáutica
te, em épocas revo]ucionárías passadas, mas ]á fora nas colónias ou de Hotéis Hilton, cada qual o mais rico e o mais belo do
e povos periféricos, ainda hoje, por exemplo, no Conho! -- signi- mundo, no tapa dos morros do Rio de Janeiro, como, por exem-
fica ir buscar capitais existentes e introduzi-los p-ara com êles plo, no Pão de Açúcar,para orguUiodo Governador
do Es-
tado da Guanabara.
chegar à reprodução ampliada. Aqui, devemos notar coisa muito
importante para os subdesenvolvidos:enquanto todos êles foram Tentando examinar as origens ou a causa dêsse fenómeno
e têm sido objeto predileto da acumulaçãoprimitiva em bemfí- de desenvolvimento que aparece entre os povos atrasados, o
cio dos Estados imperialistas, já não podem êles mesmos, para autor recusaas explicaçõesde ordem histórica, talvez com mêdo
alcançar a transformação económica estrutural, entregar-sea um de cair em alguma categoria hegeliana ou marxista. O pensamen-
processode acumulaçãoprimitiva autóctone.Ao contrário, trata- to burguês americanoatual evita a história; quer poupar, sem
ie exatamente de impedir que êsse processo continue, embora dúvida, aos povos subdesenvolvidoso seu trauma. Os Estados
mesmo sob forma jurídica. Trata-se de realizar a transformação Unidos estão aí para ajuda-los, com o seu #naw-/zow,seusinves-
estrutural sem esfaimar as vastas populações destituídas do in- timentos, suas técnicas física e social, suas instituiçõe-spassíveis
terior. Assim, para o crescimentoba-staque se invertam capi- de transplantação. O Sr. Staley verifica, porém, de repente, uma
tais na produção,digamos,agrícola.Mas para a fomlação de vontade de desenvolver-se" que aparece um belo dia em vários
i:ndivíduos,ou numa certa elite dum país. Confessanão enten-
1 0 F'zifzlro
doi Países
S ódêxenvolvído-ç,
E. Staley,traduçãoportu- der muito bem ês-se''elemento intangível", e sobretudo não sabe
guêsa,Fundo de Cultura, Rio de Janeiro, 1963, edição revista. "porque surge em determinada época e lugar e não em outras''
2 Obra citada, pág. 206. 'b "Nada obstante, não padece dúvidas de que. . . a questão deci-
290 29/
sovano desenvolvimento
económico
é a seguinte:o quefará o fluência ocidental", apesarde tudo, entra no deflagrardo desejo,
apenas
"dramatizada
na visita (?) do Comodoro
Perry".i
povo por iniciativa própria? No particular, (?) o que importa O trecho que transcrevemos revela o pensamentofilosófico
é a motivação. A menos que algo ocorra para alterar as motiva-
social do. autor..Êle não quer saber das causas possíveis de tal
ções, a economia estática :não assumirá caráter dinâmico." À guisa
fenómeno, sequer seu condicionamento histórico, social, cultu-
de explicação da estranho fenómeno, ou-sainsinuar algo: "No ral. O que importa é, todavia, a motivação. E pergunta perplexo:
Ocidente, a vontade de desenvolver-seera geral . Manifestava-
se através da iniciativa de indivíduos e grupos privados" Que fará o povo por iniciativa própria? Não sabedizer, nem
indaga, contestando-s-ecom o resu]tado, que ]he parece seguro:
Se era geral essa vontade no "Ocidente" (?), é claro que "A menos que algo ocorra para alterar as motivações, a econo-
se tinha de manifestarem grupos . . privados. Que outros gru- mia estáticaDão assumirácaráter dinâmico". A partir daí, êle vai
pos "não privados" havia então na-s sociedades ainda tomadas ver qual a maneira de transplantar no país que acordou com von-
pela vontade desenvolvimentista? Os corpos feudais? O .velho tade de desenvolver-se algumas das ''instituições vigentes e prós-
}'armamentodas monarquias absolutistas?O Terceiro Estado? O pe.ras"no seu próprio país, elevadasa ideal eterno, acima da
clero? A nobreza? Os fidalgos das cortes? ''Os governos não História e fáceis de transportar, como capitais.
desempenhamparte decisiva nem muito menos foram o móvel Estudando os tipos de tecnologia social, êle aponta a co-
dessavontade." Também era isso coisa evidente, pois como es- munista que, deliberadamente, co:nfundecom a teoria marxista
perar que partissedo Rei e de suacarte de nobresparasitasessa da história. "0 movimento comunista oferece a êssespaíses uma
vontade súbita de desenvolver-se?Mas essavontade não promo- tecnologia social pronta e acabada". Onde está essa"tecnologia
veu o desenvolvimento, pois, segundo o autor, não precedeu, não social pronta e acabada"? Disso se poderia talvez falar na época
empolgou, não provocou as mudanças .decisivas da época,. mas staliniana,mas hoje, quando a Internacional Comunistadeban-
apenas"cre-sceu'ladoa lado com o declínio das velhas lealdades dou, -sofrendoverdadeira diáspora? Quando os meios táticos de
feudais, as reformas no sistema da posse da terra, a expansão das chegar ao pode.r em cada país são deixados aos comunistas locais,
cidades. a ascensão do industrialismo, a democracia representa- declarando-se expressamente dependerem das condições naco(»
tiva, a Reforma protestante, a mente indagadora na ciência, a naus?Não em vão, aliás, foi enterrada oficialmente, com todos
capacidadeinveniliva na tecnologia.e p espírito empreendedor e os santosóleos, a velha prerrogativa de Moscou de ser a Meca
progressista no mundo dos negócios". Diante .dêsse quadro. a do comunismo.
Na realidade.desdeo conflitoabertocomPe-
vontade de desenvolver-senão teve, parece, maior papel no de- quim, Moscou deixou de ser o.centro dirigente único do movi-
senvolvimento geral que os outros fenómenos, os quais, logica- mento comunista. Ao contrário, a doutrina do "policentrismo"
mente, poderiam ter sido parcialmente promovidos ou função da proclamada por Palmiro Togliatti, o chefe dos comunistas italia-
dita vontade. Por acaso apareceu,por acaso se foi. Em ''casos nos, antes de morrer, foi declarada doutrina oficial na reunião
dos ]íderes comunistas dos vários partidos, de março de 1965, em
posteriores" (quer dizer, em épocas /zíxfórícas mais modernas) , a
vontade "cen-tralizou-se mais, os governos atuaram mais vigo- Moscou, convocadaainda por Kruchev, numa tentativa do Krem-
rosamente na deflagração do processo", "recorrendo a idéias o ]in de arrancar uma definição de posições dos diversos partidos
comunistas'nacionais em face do cisma chinês. Forças centrípe-
tecnologias estrangeiras". "Em fins do século XIX surgiu re-
penfínamerzfe no Japão o desejo de desenvolver-se. .Para que tas nacionais ou regionai-svão atraindo cada vez mais os partidos
nada tenha causa histórica, êsseIHppemfí/zo
desejo que deu em al- comunistas que, de dia para dia, se autonomizam da direção cen-
tralizada de Moscou, passando a girar na área nado.nal de suas
guns sujeitos da elite japonesa mal tem ligação com o fato his- atividades com liberdade, ou guardando apenas para com o
tórico da entrada.em Tóquio do comandantePerry e o bom-
bardeia da Capital pelos canhõesdo comodoro americano, parti Kremlim uma lealdade ideológica cada vez mais parecida à que os
forçar o país, fechado no isolamento de séculos, a comerciar com l Obra citada. pág. 219
os Estado-sIJnidos e competidores.Para o mesmo autor a ''in- +'
l
r
293
292
Estados Unido-s,em seu caritativismo, exigem dos países aos física, a-ssimnão consideramos próprios regimes (haja vista a
quais fornecem algum capital, armas e miçangas. Aliás, os com- enorme fermentação e espírito de experimentação que grassa
promissos que Washington exige hoje de seus dependentesDa agorana lugoslávia,na Romênia,Polânia,Hungria), suaspró-
América Latina são maiores que os que prendem o Partido Co- prias "instituições''
munista Italiano ou o francês, americano, inglês, sueco ou bra-
Desde Hegel, desde mesmo Herder, é esta a grande distin-
sileiro a Moscou. A formidável rebeliãoda lugoslávia, ainda em ção entre uma atitude, um pensamento revolucionário, experimen-
pleno stalinismo, acabou sendo digerida pela Urss e a Romênia tal, crítico e um pensamerüto
estático,institucionalizante,
conser-
não se cansa de mostrar a Moscou que não é satélite, ou não o
vador. A consciênciah.istórica preside qualquer demo'c/zeou in-
quer mais ser e sim colaboradora.Moscou resmunga, mas aceita. vestigação científica da sociedade; a negação preliminar, a priori,
A heresia é hoje e felizmente um vento salutar que começa
dessaconsciência condiciona o exame da realidade social. A ra-
a soprar por todo o vasto território comunista,inclusivedentro
zão dialética, diziam Maré transplanta=ndo
Hegel e Lênin repe-
da União Soviéticae faz da heróica heresiade Leon Trotsky tindo Marx, nada afirma sem negar. Devora os dogmas e é "um
apenasuma flama. E êssevento não parecevá extinguir-seantes escândalo e abominação ao reino da burguesia e a seu-sprofes-
de limpar toda a atmosfera, em muitos quadrantes ainda pesada, soresdoutrinários, pois inclui na sua amplitude o reconhecimento
do mundo comunista e trazer os germes da renovação e do novo
positivo do estado de coisas existentes e, ao mesmo tempo, tam-
arranque para o socialismo, que ainda é, na Rússia e fora da bém o reconhecimento da negação dêsse estado. . . Considera
Rússia, no Oriente e no Ocidente, uma etapa a vencer. cadaforma social histericamentedesenvolvidacomo em fluídico
Partindo do pressupostoirreal de que Da áreacomunistadc> movimentoe, por conseguinte,toma em consideraçãoessanatu-
planêta predominam instituiçõesrígidas, imutáveis, verdadeiras reza transitória não menos que sua exfsfêncía de zzmmama/zfo. .
ferramentas estandardizadas para os males sociais, económicos
não permite que nada sabre ela se imponha, e é, em sua essên-
e políticos, a crítica anticomunistado autor cai por terra. A so- cia, crí/íca e reFaZ cíonáría".t
ciologia americana oficial, o corpo de economistasamericanosdo
boa acolhidauniversitária vêem o "comunismo" como algo intei- Volvamos ao autor americano.As necessidadesdos países
riço, pmnto, imutável:O mal do regimena Urss vemprecisa- subdesenvolvidos em melhores técnicas abrangen naturalmente
mente da ausênciade instituições reais com força de impor uma as ''técnicas sociais". Torna-se imprescindível que a ajuda a êsses
rotina, uma legalidadeimpasoaZ.Ali ainda impera o volunta- países concorra para lhes dar "qualificações sociais e políticas"
rismo bolchevique,dogmático,de cima para baixo e tanto mais e "as instituições neles-sábias às sociedades democráticas" . Mas
dogmático quanto não consegue escapar a um inquieto sentimen- isso implica, acen'tuaStaley, "no uso dos métodos modernos d-e
to do transitório. A burocraciadespótica,restos da primeira era administração dos negócios, gestão da coisa pública, tipos de
ainda revolucionária, tem de ceder lugar à burocracia funcional . liderança sindical, técnicos da imprensa livre e responsávelc
O gênia organizatório americano onde melhor se manifesta é na meios de atingir-se o consenso democrático através de partidos
segurançacom que descobrepara cada uma de suasinstituições políticos, eleições e governos responsáveis". Com as instituições
a rotina correspondente. O seu mal é querer transplantar, não americanas, admiràvelmente funcionais no seu país, êle quer
tanta essasinstituiçõesa outra terras e outros povos, mas com também transplantar as respectivasmtinas, inclusive as modi-
elas cada rotina. Rotina só gente faz. A rotina do americano ficações sociais e políticas. E receita seu prontuário de rotinas
não é a do brasileiro nem a do vietnamita (do sul, do norte, do, para essasinstituições necessárias à sociedade democrática: ''no-
centro). No entanto,quandoStaleyfala na necessidade
de criar- vos métodos de administração dos negócios,novos tipos de lide-
nova-sinstituições nos subdesenvolvidos, no que êle pensa é nas rança sindical, novas técnicas de imprensa livre e novos meios
respectivas rotinas. Os economistas americanos não percebem ou
não querem perceber que as próprias teorias ''comunistas" (ou l TÀe CapífaJ,vol. 1, prefácio à 2.a ed., CharlesH. Kerr, Chicago
marxistas) assim não tomam a própria realidade social e mesmo 1909, pág. 26.
294 295
salvo.)gir o consenso democrático". (Feito isto, o Vietnã está só de capitais mas das suas mais elementaresinstituições, cama
o Vietnã, o Iraque, o Brasil?
Assim, com os novos tipos de líder, novastécnicas sociaisi
meios e habilidades sociais e políticas importadas dos Estados
Unidos para fazerem funcionar.as instituições democráticase
um regime económico privado .florescente, todos. os problemas
da sociedade imperfeita dos países subdesenvolvidos estarão re-
solvidos e o comunismo pasto no alho da rua. A "canela" para
o "consensodemocrático'',bem gramada,bem tratada, com suas
marcaçõeslineares nítidas, é a representaçãosimbólica de outro
campo, também delimitado e conüoladoz .o campo da compe-
tição capitalista, o mercado, onde.o partido dos subdesenvolvi-
dos entra para jogar com suasbolas de gude e os big bzlifmss
vêm com suasbolas de ferro. Lá como cá, só devem entrar na
''canela" os partidos já afeitos às limitações das regras do jôgo,
treinados (por técnicos americanos) para correrem bem (e sa-
tisfeitos) na pista.
Pala êssemecanismofuncional perfeito temos que o "líder
sindical" não é um "líder", é um tipo; a "'imprensalivre" não
é uma missão, é uma ''técnica" industrial; as partidos políticos
não são uma causa mas um "instrumento" à mão, uma ma-
quete de jogar tênis, uma luva de jogar box.
O ideal é uma sociedadesem história, não há futuro nem
há passado, só o presente perfeitamente controlado, equilibrado,
acabadoem si meigo. SÓo comunismo é que "propõe uma dra-
mática teoria da história e do progresso humano" (Staley). To-
dos êsses bons pa-stâres, êsses lúcidos teóricos americanos só
faltam acusaros marxistas de terem inventado a história.
O "partido político" é o que não tem, nem pretendeter
finalidade . . . histórica, destino histórico ou sequer consciência
histórica. (Já houve, entretanto, um partido assim na "histó-
ria" americana: o partido da Independência, o partido de Jeffer-
son,ou o partida da aboliçãoda escravidão,o partido de Lin-
coln, e outros mais radicais do que êle).
Em verdade,porém,partidoscom aquêlespredicadossão
perigosos,pois vêm sempre pâr em questãoa legitimidadeda
ordem social, econâmíca,política, moral em que gravitam os
cidadãos americanos não desajustados, em conto:rtável maioria.
Nos paísessubdesenvolvidos
dá-se o contrário: a maioria da
população nem sequer pode-se dizer francamente que já é de.ci-
iladãosl (No Brasii, por exemplo: os seusmilhões de analfabe-
29Ó 297
'T
tos, 50qü da po»ulalflo, são cidadãos?Os milhõesde campo- vend-o inglêsmente no Parlamento e nos negócios. .Tudo nasceu
neses, lavradores miseráveis do interior são cidadãos? ãllande
espontâneamente no abençoado solo britânico. Dirigentes e teó-
pari'bagos moradores da Cidade Maravilhosa são cidadãos?) ricos podem não pensar assim, mas se comportam l;egundo aquê-
Os dois partidos americanossão, na verdade,um só Veja- le pensamento burkeano. Toda construção social do pensamento
se: quando,por: acaso,um dêlesapresentaum candidatoa pre- humano é uma abstraçãológica irreal, criando o monstro de uma
sidente com. idéias, já é um desalento geral. Quando são idéias sociedade artificial. Esta concepção está gravada nos escritos
menos anódinas.ou mais inusitadas,isto é, de mais difícil massi- de Burke, desde a primeira obra, .4 yãndicafion oÍ .Nafm'aZ
So-
ficação, os membros dos dois partidos e a ma aria dos eleitores cfeO, e atinge sua expressãoplena e insuperada no famoso en-
passama votar no candidatomais óbvio e a dualidadede parti- saio contra ã revolução francesa(RdZecrfo/zi on /he RevaZzi/ion
ín f'ralzce, etc.), de 1790. Ai! Se conscientementeos homens
ou algunshomensou muitos homensaparecessem com.a mania
de reformar a ordeminglêsa,a sociedadeinglêsa,e pâr escrito
num papel que o que a naturezamesmadas Ilhas Britânicas,
as qualiiíades mesmasdos seus habitantes criaram ao longo do
trados da opinião americana se apoderaram'do mecanismo do tempo e de um constante comportamento conservador era um
Partido Republicano e opuseram seu candidato. Os donos e direito universal, que tinha de ser asseguradoa todos, indiscri-
eleitoresJepublicanos tradicionais compreenderam, num instan- minadamente, pelo fato de seremhomense não inglêseslO re-
te, que seucandidato natural era o outro, o da insígniado ãBur- sultado nefasto e pavoroso da nova instituição tipicamente ame-
!!, .:! l!!:l:Fi?"m e Ih' du,m os«;%. o; ã;n':';;.tiã=;-, ricana -- os direitos do homem -- seria, como estava sendo na
estavam unificados em o candidato democrático; eram Johnson, trança, a destruição
do Império,a infelicidadedecretada
para
enquanto Goldwater foi candidato de um pax'ddo oficialmente o povo inglês.Os teóricosamericanosde hoje têm em Burke o
inexistente,partido Dava ou: latente, que não é "republica:no" seugrandeprofeta ou patrono. É o patrono do pensamentocon-
e muio. menos "democrático". Se tal fenómeno de desvios da servadorde todos os tempos. Para êles tudo o que brotou, nas-
norma institucionalizadase verifica nos EstadosUnidos, se 'in- ceu, se desenvolveusocialmente, é privilégio do fato de ser ame-
vasão de campo" dêssequilate surge nos Estados Unidos, como ricano, de ter nascido no solo americano. Tudo é "bstituição
querer impedir que se verifiquem em nossas lanchas mal 'defhi- social. . . natui.al. Depois da grande depressão, sua ordem e seu
ü$;1#hWg:\.%HÊ
lilÊEHH:g progresso são eternos. Os arranha-céus de Manhattan, a pro'
ilução em série, os dois partidos políticos, as sopas enlatadas,as
grandes corporações, os sindicatos, a bomba atómica, a energia
nuclear, os teleguiados e, h f bzzf /zof leayr, a "guerra fria"
foram brutos que se desenvolveramporque, salvo algumascrises
graves como a abolição da escravidão e a grande. depressão, não
se mexeu na' base natural, social, eterna de todo o edifício --
a ordem capitali-staprivada, o mercado. A propriedade privada
e o mercado constituem a essênciaimutável da própria nature-
P.arlamento, os negócios de seus burgueses industriais e nobres za humana. . .: ou pelo menos da natweza americana. Os outros
dirigentes, a marinha, o comércio marítimo, o protecionismo
l "Pensadoresdo século XIX pretendiam, por exemplo, que compor-
mercantilista,etc. Tudo era fruto da natureza,da terra, do ar, tar-se como um comerciante no mercado era "natural", qualquer outrc}
do céu, da boa cepa, do sangue,dos nervos, do bom funciona- modo de comportamento sendo comportamento económico artificial --
mento dos órgãos da burguesia e da nobreza inglêsas,já convi- resultado da interferência dos instintos humanos; que os mercados sur-.
298 299
[ dentes e até rebeldes. A tais restrições ''condicionadas" quanto
W
autor daria muito mais importância que há oito anos ao seu
ponto de vista da comunidade .mundial.."Fatos recentes . . . as-
sim como as persistentestendênciasa longo prazo em armas,
tecnologia, economia e política sugerem com clareza cada vez
maior a necessidade
de formaçãode uma opinião e programa
mundiais,em contrastecom a política de interêssesnacionaise
programas bilaterais de fomento ao desenvolvimento.":
Daí era lógico reexaminasse êle a política de ajuda amor.i-
cana, cuja defesa ou justificativa oficial tem sido "excessivamente
atava' e estreita, excessivamente concentrada sabre o argu-
mento de defesacontra o comunismo". Ora, à parte de contrariar
os objetivos comunistas,pergunta êle que é que se deseja?Êle
gostaria que os Estados .Unidos pudessem oferecer ao mundo
"um grandeideal, traduzido em propósitos mais construtivose
mais atraentes para a maioria dos povos do mundo..' Uma po-
lítica externa realista, diz Staley, deveria atender a dois aspectos
interrelacionados:
o defensivo
e o construtivo.
E, francoe sem
rebuços, para a esfera da defesa -- "o que poderemos fazer.é
procurar gan&ur zempa". Mas de que forma? pergunta. Utili-
zando êssetempo ''para exercer a liderança que permitirá a cria-
ção de uma ordem mundial exeqüível, "de modo .que", espera,
ão problema da defesa não perma'necesse tão irritantemente
agudo"
1 Obracitada,pág. 16.
2 No fim da'livro, depois de oito anos de escrita a .primeira edição,
êle faz uma revisão "realista" do ângulo de visão inicial e reconhece:
Todas as filosofias que têm o 'combate ao comunismo'..como tema
central são excessivamentenegativas. Até mesmo as avaliadas contra
o teste da eficácia no combate aos avanços do credo vermelho.nos
novos países. .. Uma filosofia de desenvolvimento. do "mundo livre"
é tambémexcessivamente
limitada". E em nota à mesmapáginae
seguinte, é taxativo: "Devemos abandonar a expressão 'Mundo. Livre'
e falar em promover a Jíóerdaderzomu/zda. . . Além do mais? a rigorosa
dicotomia na expressãoMundo Livre tende a radicalizar a divisão entre
os dois 'mundos'. . . em uma situação onde a melhor esperança.pode
ser a gradual difusão da liberdade nos paísescomunistas.e nâo ,as
transferências dramáticas de um mundo para outro". (Obra citada,
págs. 430-431.
3Q6 307
Conseguindo repo-r o problema tão irritante da defesa ricos: ''O desenvolvimento desigual no processo de concentração
contra. "os objetivos" do comunismo po-r parte dos Estados Uni- desequilibra a balança do poder de barganha, não sòmente entre
dos, êle reaparecequaseque como numa posiçãode Terceirc} capital e trabalho e não sementeentre indústria e agricultura,
Mundo: "Devemos .naturalmente procurar o tipo de sisbsma mas também entre país e país e continente e continente. Assim
mundial em que todos os povos, /anjo /zós qlZunfo os de/7zaís como o crescimentodo oligopólio fortaleceu o capital relativa-
l.s\c), sinta-se menos ameaçados e capazes de trabalhar lado a mente à agricultura, assim também fortaleceu os paí-sesindus-
ado pma atettder às t+ecessi(&xies hurrmnas, que não co- triais em relação ao-spaíses indesenvolvidos. Ainda mais, nesse
nhecem./ro/zZeü'm .wm. fc$eoÃogüs.Êsse sistema terá de ser uma caso a possibilidade dos interêsses oprimidos aprenderam a jun-
comunidade mundial e será praticável apenasse repousar na leal- tar-e para sua proteção era de muito mais difícil realização.
dadea um órgãomuito maisforte do que o hoje existente". Os assalariados e camponeses de um país altamente indus-
trializado poderiam aprender a usar de seus direitos e seus
Staley joga por cima do muro do anticomunismoo espan- votos para reaprumar a balança económica que havia pendido
talho da guerra fria. Apela para um sistemamundial económico
contra êles. Era, e algumas vêzes ainda é, bem mais difícil para
e com lealdades mundiais. Até agora nada indica que o Poder os lavradores e camponeses dos continentes subdesenvolvidos
Nacional americano possa .adotar tal finalidade como objetivo assim agir, pela simples razão de que em alguns dêssesnão têm
nacional permanente. Mas do outro lado, do lado dos subdesen- nem direitos Dem votos a usar. As áreas subdesenvolvidas eram,
volvidose mesmodo lado dossocialistase comunistas,
tal apêlo e em alguma medida ainda são, as colónias das metrópoles in-
às ]e.aldades mundiais é parte mesma de sua razão de .ser: "Pro- dustriais. Êsses'seus' governos não lhes pertencem, mas aos po-
dêres metropolitanos. Assim a desigualdade de desenvolvimento
que aparecedentro dos Estadosindustriais como uma intensi-
ficada maldistribuição de rendas e:ntreos donos de capital, de
ve para bandeira dos paísessubdesenvolvidosde hoje em face um lado, e os assalariados e lavradores,de outro, apareceuex-
da crescente distância que os separa dos países'ricos e mo- ternamente,como a exploração de um país por outro, como a
nopoJuadores em progressãode tôda a renda mundial. Não llá exploração de continentes inteiros pelos países adiantados; apa-
l;'':'h:.=%m%:'n.'
.::'H:' ,i:ãÍh!-iÊ receu, numa palavra, como imperialismo."i
Países subdesenvolvidos do mundo, uni-vosl Não tendes a
perder senão vossas cadeias!
A tragédia dos Estados Unidos é a sua isco-nfo-rmidade
provinciana, embora talvez justificada pelo seu conceito, estreito
a uma só classee, passandopor cima das fronteiras dos Estados .demais,arraigado demais, de "normalidade" definida pelos inte-
instav! pela união de seusmembros contra a outra classe. a dos rêsses das grandes corporações. Por sua extensão e mesmo im-
capitalistas,que já viviam, diz Myrdall, por cima 'das frontei- portância, responsabilidade no plano económico nacional, são
ras, explorando em sociedadee convivência os proletários do elas obrigadas*a pressionar o seu Govêrno a cada momento, a
mundo. Agora com o imperialismo, diz êle, é um Estado. o Es- intervir nos mercados internacionais, a imiscuir-se nos proble-
tado imperialista contra nações subdesenvolvidasinteiras, países mas do mundo, mas p'ara emprestar à intervenção um móvel
coloniais, depe:nde.ntes. conjuntural, que pretende ser de egoísmonacional. Elas priva-
Outra voz .de eminente político e economista inglês, que foi tizam ou se empenhamem privatizar, demais, a grande política
internacionaldos EstadosUnidos. Daí resulta ser essapolítica,
minist.ro do único grande Govêrno tj'abalhista britânico, isto é.
o primeiro depois da guerra, J. Strachey, descreveu muito bem l J. Strachey, Cotütemporary Capitaltsm: Victor Gallance, Londres,
êsse antagonismo de nações proletárias e Estados imperialistas 1956, pág. 32.
308 309
'q,#, 'Rê
passarama intervir no mercadocontra os consumidoresdelas.
Hoje, êssemercadona maioria dos paísesainda existe,mas a
concorrêncianêle é cada vez mais imperfeita. Quando o cartel
dos trabalhadores chegar ao poder do monopólio, o mercado
de trabalho estará extinto.
Tempo virá em que os paísesprodutores de artigos primá-
rios se juntarão também, como as forças de trabalho fizeram. e
irão ao mercadolevar seusprodutos, organizadosem uma espé-
cie nova de caJ.tel, que não visa a fins privados de produtores
agrupadosem liga contra os consumidores,mas a fins coletivos
de cartéis de Estados,sindicatos de povos.
Os consumidores dêssesprodutos podem recusar-se a com-
pra-los, a pretexto de o mercado primário ter deixado de ser
livre, sujeito que passou a ser de uma conspiração monopolísti-
ca, de práticas comerciais inconfessáveis. Para tanto, porém,
terão de fazer uma revoluçãointerna, no próprio sistemade
produção,para boicotar os produtos'primários do cartel dos
subdesenvolvidos do mundo. Substituí-los por equivalentes sin-
téticos.. . a não ser que os EstadosUnidos, a única grande
potência industrial que até agora faz concorrência aos subde-
senvolvidos em mercadorias primárias -- os seus excedentes
agrícolas -- se resolvam a suprir os mercados com os "seus"
primários em face do bloqueio dos similares . . . "cartelizados",
íntíoduzindo em seu território métodos intensivos de produ-
ção em massa para a exploração de seus "recursos naturais"
ainda em receosoou até agora inaproveitáveis ou inaproveitados
coma não econòmicamente interessantes.
A economia mundial nessascondições será compelida a
transformar-se ràpidamente e talvez que, desta feita, a "trans-
formação rápida" se processe com maior rapidez ainda entre os
próprios Estados subdesenvolvidos. Eis porque o económico pa-s-
sa a ter, explícita ou implicitamente, objetivos supereconâmicos,
extraeconâmicos, não económicos, como queiram, inevitàvel-
mente.Mas é nessaaltura que os responsáveis
pelo puro eco-
nómico timbram em afastar "o político", fingindo considera-lo,
apenas,com um p& azar, algo de passageiroe incomodo como
uma mascaao nariz. É para êles que o professorDuncan, aqui
já citado, disse a palavra justa: "Princípios económicos podem
governar âtzvacuc} num mundo perfeito"
As reformas de estrutura de que tanto se fala, precisam de
dois requisitos para assim amem definidas: participação direia,
3]0
7
r'
cooperaçãoativa na sua execução,do povo, das camadasde
oprimidas e a grande Naç?o Imperial Americana. A ajuda que
rendas baixas e médias, ao contribuírem para "controlar o con- ela dá é estratégica,quer dizer, faz parte dos planos para r?ali-
sumo das ricos",. e térmi.!o. da exploração das massasprole- zar os seusgrandesobjetivos. Ninguém ainda os definiu melhor
tárias pelo imperialismo. Hoje, além da velhíssimaexploração, do que Stacy May, eminente economista e figura pública.dos.Es-
cujas raízes descemàs profundezasda relação primeira entre tados Unidos desde muitos anos, ao afi;mar:: "Em sentido bem
o primeiro senhore o primeiro escravo,a exploraçãodo homem real, competimospela adesãode mais de um bilhão de sêreshu
pelo homem.--.e que se encontra, sob esta ou aquela forma, em manos a um sistema compatível com a nossa própria sobrevi-
cada comunidade fundada na propriedade pi.ivada dos meios de vência, contra as tentativas de atrelá-los a um sistemaque aspira
produção ou sob governos ainda de "despotismo oriental". isto à destruição das instituições livres e democráticas. Essa ilzzação{
e, em que o monarca é o dono de tudo -- passamosa conhecer tudo indica, será o fato mais importante da política jntelnacional
uma forma nova dessaexploração,de ordem coletiva. ou de nz.a3
próximas ger(iões." Não obstante, dois anos depois?.a co-
um Estado.que explora outro. Hilferding em parte descreveuo missão sabre política económica estrangeira, em relatório ao
processo: "Com o olhar seguro e frio, êle passa os olhos pela Presidente e ao Congresso, afimlava sem rebuços, duramente:
mistura de povos e distingue sabre todos êles sua pr(jfzrz'unação. "Áreas subdesenvolvidas estão reivindicando um direito ao au-
Ela é real; ela vive no Estadopoderow, cadavez maior e mais xílio eco:nâmico por parte .dos Estados Unidos. . . Não reco-
poderoso; em glorificação dêle glorificam-se todos os seus es- nhecemostal direito."a Não é de admirar, pois, que Dessemesmo
forços. A renúncia ao interêsseindividual em favor do interêsse
plano intemacional,o que se verifica de ano para ?no seja a
geral mais .alto, que constitui a condição de toda ideologia social intensificação da "tensão política entre os subdesenvolvidos e os
vital, é assimrealizada;O Estado,estranhoao povo e a própria países industrialmente adiantados".a
nação são juntados numa só unidade e a idéiá nacional. como
Citando Jacob Viver(/pzfer/za/io/ãaZ Traje arzd Eco/zomjc
força motriz, é.pasta a se.rviçoda política. Os antagonismosde
classe são abolidos a serviço da totalidade. Em lugar da luta de Z)eveZopmenf) , para quem a crescente importância política dos
subdesenvolvidos e da capacidade dêles em se articularem ia
classes,p?rugosa
.e fora de controle dos possuidores,é posta a
ação geral de.toda..a nação .para um único objetivo : 'a grandeza aparecendo como inaceitável para uma OI.tentação económica
nacional.": Hilferding. revelava aí a ideologia emergente que que extrai o seu caráter, seleciona seus problemas e dirige sua
ia ter seu mais completo desabrocharna Alemanha nacional- análise ùnicamente em têrmos estátioos e única ou esmagadora-
socialista. mente à luz das condições e preocupaçõesdos paísesindustrial-
mente mai-s adiantados, socialmente mais estáveis e economica-
Essa nova ideologia -- a ideologia do superimperialismo
mente mais prósperos, Myrdall o aprova expressamente, para
em todas as línguas -- foi a base que se criou para a justifica-
ção.de /âcíbs ai re/ormai contra-revóZucíozzárü: que, desde então,
se fizeram e se vêm fazendo. Os Estados Unidos com todo o seu l No prefácio à obra de Eugen Staley, anteriormente comentada,na
qualidade de Presidente do Grupo de Estudos do Conselho das Rela-
institucionalismo conduzem sua política externa na base dessa ções Exteriores, êle escreveu: "Teríamos de preocupar-nos com o . de-
idéologiatSeusteóricose políticos de hoje falam da Grande So- senvolvimento internacional, como elemento básico de nossa política
ciedado Ame.ricana na qual os interêsses privados gostosamente externa, mesmo que inexistisse a campaiüa soviético-comunista,para
se suprimem, se abolem, se refreiam em nome do Grande Todo. substituir pelo seu o nosso sistema de vida, em ví r de da.baixa. cada
vez maior de provas de que a economia americana depende de fontes
isto é, o Estadomais rico e mais podero-sedo mundo. Uma das .de s zprímenros e eicoadoziros comerciais externos. A ameaça,. todavia,
armas mais proficientes a serviço dessa ideologia é a ajuda es- é inegável, havendo crescente evidência de que seu maior esforço visa
tratégica. Todos reconhecemque há uma colisão de interêssese, ao estabelecimento
do controlesôbre as áreassubdesenvolvidas
que,
também, queremos crer, de direitos entre as nações proletárias e até agora, têm-serevelado muito mais vulneráveis do que os que gozam
de progresso industrial relativamente alto ."
l Hilf=rding, obra citada, pág. 478. 2 Randall Report, 1954, cit. por Myrdall.
3 Myrdall, obra citada, pág. 233.
312
3]3
ainda acrescentar: "Quando economistas, sem explicitamente grande, seus recursos são reais, sua indúst.ria está quase monta-
levar o. fato em consideração, tratam dos problemas comerciais da e sobretudo -ea poder de óargan/u é cara.çíderáveZ. É certo
dos países~subdesenvolvidosdentro dos quadros das teorias ge- como dois e dois são quatro que a Europa ocidental, a do Mer-
rais que são próprias .às. condições e..aos interêsses dos países cado Comum e a outra colaborarão com o Brasil, cooperarão
adia:ntados,..estão. seguindo um procedimento qzíe é ípzle/ecfuaZ- com o Brasil, comerciarãofranca e rasgadamentecom o Brasil,
men/d falso".l E declara, alto e bom som, propor-se tratar dêsses se os Estados IJnidos o boicotarem porque nossa marcha tomou
problemas, deliberadamente, ''do ponto de vista dos interêsses
dêssespaíses" rumo menos oeasiano.A menos que nos dedal'e guerra. . . e
ainda assim: a vitalidade da revolução brasileira é inexaurível .
Feita a declaração,
faz êle es.saapreciaçãomuito grave: (Vejam a pequeninailha de Cuja).
"Continuo a pretender que os países subdesenvolvidos 'esc:o//le- Não antecipemos. Não façamos prognósticos. Essa descri-
ram o caminho maisUtttcit nd tentativa de resolver sew prob!e- ção sócio-económica em que se enquadra o nosso País serve
'nas e(»nomtcos sem o recuso aos mêt«ío's mais rudes do de- para nos advertir de que não se fala em reformas impunemente.
senvohimento económico apticcUos sob o sistema se:viético.
A despeito de todos os bons pastores da moderação, ordem e pa-
E mais particularmente, pretendo que êles preservem um papel ciência e de primeiro educar para depois melhorar, os povos
significativo para.o.mecanismode preços ao efetuar ajustes inter- subdesenvolvidos não podem esperar. Não há escolha aberta
nos tanto às medidasde sua própria política como às mudanças entre querer um ritmo mais lento ou mais rápido de desenvolvi-
exógenas".z SÓ dificilmente o economista sueco poderá ser con- mento económico, afirma Myrdall após dezenas de outros eco-
siderado nas rodas do Pentágono e adjacência.sbrasílicas um co- nomistas e cientistas sociais debruçados sabre a situação do mun-
munista, .ou .um temível "marxista-leninista". É um moderadís- do indesenvolvido. Todo govêrno de país não desenvolvido
simo social-democrata sueco, especializado em economia de paí- terá de fazer o máximo para empurrar para a frente, tão ràpida-
ses subdesenvolvidos, tendo estado por várias vêzes na índia co-
mentequanto possível,o esforço refomiador. Um ritmo lento de
mo conselheiro do govêrno daquele país. Sua voz deveria ser ou- desenvolvimentoeconómico implica graves perigos sociais e po'
vida e muito bem pesadano Brasil e em toda a América Latina. líticos e Myrdall insiste: ''Aconselhar a não apressaras mudan-
Ela vai juntar-se à do grande europeu François Perroux. de Guio ças económicas tem, por conseguinte, de ser rejeitado. . As mu-
depoimentosabre a América Latina demosconta mais atrás, danças culturais e sociais têm de ser planejadas e controladas;
Nós não sabemos,o Marechal Castelo não sabe, nem mes- até certo ponto têm mesmo de ser induzidas. De fato, somb©
mo o Dr. Campos,,ninguémpode saberse o Brasil acabaráto.. compelidos ü aceitar a necessidadede rdamm radicais iniciais
mando ' rudes métodos do desenvolvim-enteeconómico apli- da estrutura social que abram o caminho para o desenvolvimento
cados sob o regime soviético", quando os processos atuais, que económico e dirigintio as mudanças sociais para completos rea-
Myrdall considera os .mais difíceis para chegar à solução dos justamentos.":
problemasvitais em jogo, tiverem demonstradosua falência ou Exagera o economista sueco? Ou faz demagogia? Ouçamos,
real imprestabilidadepara arrancar o Brasll de sua pobreza.É outra vez, o que diz uma comissão de peritos das Nações Unidas
muito possível,é bem provável que nas condições'atuais do encarregada de estudar o problema do desenvolvimento econó-
mundo, o Brasil não tenha de pastar por tôdas as durezas dos mico dos países não desenvolvidos: " . . . rápido progresso eco-
métodos soviéticos de então. À colaboração internacional será nómico é impossível sem penososreajustamentos.Antigas filo-
agora incomparàvelmeDte mais fácil de conseguir não só do mun- sofias têm de ser liquidadas; velhas instituições sociais têm de
do ocidentalmasdo mundo oriental também;o Brasil é muito se desintegrar; laços de casta, credos e raças têm de ser quei-
1 Myrdall, obra citada. pág 223
mados;e um grandenúmero de pessoasque não pode acompa-
2 /dem, pág. 294.
l Obra citada,pág. 174
314
nhar o progresso tem de ver suas expectativas de uma vida con- pliou extraordinàriamente es-sanoção. Os "produtores assalaria-
fortável :frustradas. . . Em nosso julgamento, há diversos países dos" abrangemhoje toda uma vasta escalade assalariados, que
subdesenvolvidos onde a concentração de poder econâmíco e vai desdeos trabalhadoresmanuais,na antiga acepção,aos seto-
Rali\ico nas mãos de uma pequena classe, cujo principa;l interês- res mais diversos no conjunto da produção, setor de conservação,
se está na prezem'ação de süa próprio riqueza e prhilégios, êDo- setor dos trabalhadores classificados, dos desenhistas, técnicos,
=lui a perspectiva de muito progresso económico até que' uma engenheiros,de escritórios,de estúdios,de laboratórios,de usi-
revolução socül tenha etetuado um deslocamentona distribuição nas, que de mais a mais se constituemem categoriashomogé-
Elasrendas e do poder:'t neas de trabalho. Nessesúltimos grupos também o estatuto pes-
soal tende a desaparecere o trabalho a ser submetido a uma nor-
ma de rendimento, passandoa ser parcelado, e, finalmente, a ser
Num livro sob.muitos aspectosnovo e construtivopela ori- pago em função da relação salário-produtividade. Na medida
ginalidade.de conceitos.e.sobretudopela maneira de repor o pro- em que, com o desenvolvimento racional do trabalho produtivo,
blema capital da estratégia da revolução socialista em nossa épo- êste tende a constituir uma engrenagemsó, cada vez mais co-
ca, André Gorza retoma de algumaforma a questãoda natureza letiva, mais vasta e complexa ao longo da escalasocial, abran-
das reformas e contra-reformas, revolução e contra-revolução de ge;ndo todas as atividades, das fontes de matérias-primas aos
que.é tão cheia a nossa época.A mil léguasdo fomiulário cansa- seus transportes, dêstes às usinas e fábricas para a transforma-
do do chamado "marxismo-leninismo", o dogma oficial do Estado ção, destas às embalagense veículos que vão dar no circuito da
soviético russo, de seus satélites e do Estado chinês de Mao-tsé- distribuição, nos setores secundários, tôdas elas funções que se
tung (para escárniode Mam e do próprio Lênin), Gorz trata do realizamem grupo e com etapasdo produto final e do destino
final. nessa medida os assalariadossão indistintamente produto-
Woblema pasto por nós nos idos de 40: a natureza de certas
transfol'maçõeshavidas ou por haver no funcionamento ou nas res parcelados ao longo de uma mesma cadeia em movimento.
'A evolução técnica pode permitir, na maioria dos casos, subs-
estrutura-sdo capitalismo. Gorz dirige-se especialmenteao mo-
tituir o comércio,atividadeespeculativa,pela distribuição,e de
vimento socialista nos paísesdesenvolvidos da Eu.rapa ocidental. fazer desta simples prolongamento da produção, seu último es-
Dir-se-ia não nos tocar. Engano.
tágio.": É claro que essaconseqüênciadireta da evoluçãotécnica
O problema da revolução nos países subdesenvolvidosé di- ainda não chegou a abranger todos os setoresdas atividadespro-
ferente, sem dúvida, do da revolução nos países de alta indus- dutivas, desde que o próprio regime neocapitalista nãn permite
trialização. A. diferença maior, quanto à forma, está em que a que a evoluçãotome todo seu surto lógico, embora dela se uti-
velha alternativa entre a luta pelas reformas e a insurreição ar- lize parcialmente,empiricamente,e de mais a mais. Nos Esta-
mada deixou pràticamente de existir, principalmente nos velhos dos Unidos, o comércio, a distribuição são cada vez mais uma
países altamente industrializados do Ocidente. Quanto à força mo- técnica neutralizada que tende a forçar o consumo, como uma
triz dos movimentos, contràriamente ao que se pensa, continua, etapa direta, em outro campo da atividade manufatureira. Belle-
nos paísesde alto desenvolvimento,a poder ser representadapela ville diz muito bem: "Concentrando-se,a indústria integra o co-
classetrabalhadora redefinida. Os ''assalariadosprodutoresl' a mércio (ou bem é o contrário que s-eproduz) ; os lucros puramen-
que se referia Marx não podem mais ser confinados à noção de te comerciais são considerados como secundários; ao que se visa,
"trabalhadores manuais, criadores de mais-valia, pagos por é o controledireto dos escoadouroscomerciais.A vendaé or-
peça ou à hora. O desenvolvimentotecnológico e proiluãvo ãm- ganizada em prolongamento direto da produção, ela mesma fre-
qüentemonte
comandadaem parte pelo estudodo mercado".A
- u.n., Measures for the Economic Devetopment ot Underdevetop'
ped Coz/n/ríei, Nova lorque, maio de 1951, pág. 177. l Pierre Belleville, U/ze /zoz/velie classe o /vríêre, René Julliard, Paras
2 .S/rafégfe Olzvrfêre ef Neo-cáfila/íxme, Editions du Seuil,