Você está na página 1de 5

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA XX

VARA CRIMINAL DA COMARCA DE CURITIBA/PR

Processo n°: XXX

JORGE, nacionalidade, naturalidade, estado civil, profissão, portador do RG n°


xxx e CPF9(MF) n° xxx, residente e domiciliado (endereço completo),
Curitiba/Paraná, CEP n° xxx, endereço eletrônico, vem, por meio de seu
advogado que a esta subscreve (rocuração em anexo) vem respeitosamente, à
presença de Vossa Excelência, para apresentar:

ALEGAÇÕES FINAIS POR MEMORIAIS

com fulcro no artigo 403, § 3º, do Código de Processo Penal, pelas razões
de fato e de direito a seguir expostas:

- DOS FA TOS

Jorge, com 21 anos de idade, em um bar com outros amigos, conheceu Analisa,
linda jovem, por quem se encantou. Após um bate-papo informal e trocarem
beijos, decidiram ir para um local mais reservado. Nesse local trocaram carícias,
e Analisa, de forma voluntária, praticou sexo oral e vaginal com Jorge. Depois da
noite juntos, ambos foram para suas residências, tendo antes trocado telefones e
contatos nas redes sociais. No dia seguinte, Jorge, ao acessar a página de
Analisa na rede social, descobre que, apesar da aparência adulta, esta possui
apenas 13 (treze) anos de idade, tendo Jorge ficado em choque com essa
constatação.

Realizadas as diligências requeridas conforme possibilita o art. 404, parágrafo


único do CPP, concedeu -se às partes prazo para apresentar alegações finais,
por memoriais.
Em suas alegações finais, o Ministério Público pede a condenação do réu nos
termos propostos na exordial. Contudo, esta tese não deve prevalecer,
conforme será demonstrado a seguir:

– DO MÉRITO

- Absolvição Por Erro De Tipo Essencial, Artigo 20, Caput, Do Cp e 383, II do


CPP
O Réu, conheceu a suposta vítima em bar, onde se pressupõe que apenas
adultos poderia frequentar, de qualquer forma a aparência de Analisa, em nada
se compara com uma menor, com auxílio de maquiagem e roupas que não
condizem com pessoas de sua idade, e também por conta do horário a que se
deu os fatos, ou seja, passou a noite entrando no outro dia, fez que com que o
réu não tivesse qualquer desconfiança que ela poderia ser menor de idade,
mjuito menos que tivesse menos de 14 anos de idade.
Neste sentido temos a teoria do erro de tipo, o agente não sabe o que faz, mas
sabe que a conduta é tida como crime, e, se conhecesse a realidade, não
praticaria o ato. Ainda temos a relativização da vulnerabilidade da autora que na
doutrina sustenta que a vulnerabilidade pode ser relativizada, quando as
circunstâncias do caso concreto indicarem que não houve violação (ou ameaça
de lesão) ao bem jurídico tutelado – a dignidade sexual da vítima, aplicando-se,
portanto, o princípio da ofensividade e da lesividade.
Para essa doutrina1, circunstâncias como a maturidade da vítima, seu
consentimento, sua experiência sexual anterior ou mesmo sua promiscuidade ou
prostituição poderiam relativizar a vulnerabilidade. Como também poderia
relativizar a vulnerabilidade a prática de relações sexuais ou atos libidinosos
decorrentes de relacionamentos amorosos entre o agente e a vítima, aqui se
valendo do princípio da adequação social, pois no mundo atual os jovens iniciam
seus relacionamentos de forma cada vez mais precoce. Defensor da
possibilidade de relativização:
1
(BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, 4: parte especial, 7.
ed., São Paulo: Saraiva, 2013, p. 100.).
Ademais, cabe trazer a baila que na compulsão dos autos, verifica-se que a
Analisa desejava a relação tanto que foi consentida e o réu não dispunha de
meio suficiente para ter certeza da idade dela, neste caso devendo ser suscitado
o erro de tipo, que afasta a tipicidade, pois este e um caso atípico, devendo o réu
ser absolvido sumariamente.
Destacamos na conceituada doutrina Mirabete (1998) 2 acrescenta que aquele
que comete uma conduta típica motivado por erro, não comente crime porque
não há no agente a vontade de realizar a finalidade típica.
No caso em tela, podemos aferir que ocorreu o erro de tipo Escusável
3
(invencível) é quando não emana da culpa do agente, ainda que seja observado
por um homem médio o erro teria acontecido, esta modalidade de erro exclui o
dolo e a culpa.
Neste sentido, segue como vêm decidindo nossos tribunais:

APELAÇÃO. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. ERRO DE TIPO CONFIGURADO


COM RELAÇÃO À PRÁTICA DO CRIME DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL.
AUSÊNCIA DE DOLO. PRESUNÇÃO ABSOLUTA DE VULNERABILIDADE QUE
CEDE ESPAÇO ANTE AS PECULIARIDADES DO CASO CONCRETO.
PROVIMENTO DO RECURSO DA DEFESA. 1.
Insuficiência de provas quanto ao crime de estupro de vulnerável. A prova oral
judicial não foi apta a confirmar, categoricamente, que o réu tinha conhecimento
que a vítima era menor de 14 (catorze) anos. A presunção desta última, segundo
o entendimento jurisprudencial majoritário, é absoluta, nada obstante entenda
que tal presunção deva ser relativizada em situações excepcionais, devendo
ser analisada, pormenorizadamente, em cada caso concreto. Existência
de prova, nos autos, de que a vítima mentiu sobre a sua idade para o réu, com o
escopo de manter relações sexuais, de natureza consensual, nada obstante
menores de 14 (catorze) anos não possam livremente consentir, tudo a levar a
crer que ele não tinha condições de pressupor que se tratava de uma menor de
14 (catorze) anos. Erro de tipo caracterizado, razão pela qual a sua absolvição,
por ausência de dolo, é medida que se impõe. Precedentes da Doutrina e da
Jurisprudência. 2. Provimento do recurso defensivo.

2 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. 13. Ed. São Paulo: Atlas,
1998
3 “Quando não pode ser evitado pela norma diligência. Qualquer pessoa,
empregando a diligência ordinária exigida pelo ordenamento jurídico, nas
condições em que se viu o sujeito, incidiria em erro” (DAMASIO, 1993, p. 268).
(TJ-SP - APL: 00015142620128260306 SP 0001514-
26.2012.8.26.0306, Relator: Airton Vieira, Data de Julgamento: 20/08/2015, 1ª
Câmara Criminal Extraordinária, Data de Publicação: 26/08/2015)
- Da Existência De Crime Único

Subsidiariamente, não sendo aceita, a tese de atipicidade da conduta do réu,


deve-se considerar a existência de crime único e não concurso de crimes, posto
que o art. 217-A do Código Penal tem com o tipo ter conjunção carnal ou
praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos. P ara o STJ
prevalece a tese de crime único, por ser um tipo penal misto alternativo (e não
cumulativo), assim sendo deverá ser afastado o concurso material de crimes
para o caso em tela.

- Do Afastamento Da Agravante De Embriagues Preordenada

Não há que se falar em embriagues preordenada, posto que JORGE não


estava embriagado ao conhecer Analisa. As testemunhas de acusação não
viram os fatos e não houve prova pericial para comprovar a embriagues de
JORGE, sendo assim justa a medida de afastamento da agravante caso não seja
reconhecida a atipicidade da conduta.

- Da Pena Base No Mínimo Legal

JORGE, réu primário, possuidor de bons antecedentes, com residência fixa, com
boa conduta social, e n o caso em tela não teve o animus do tipo penal em
que é acusado, posto não agir com má intenção de se aproveitar da suposta
ingenuidade de Analisa, faz jus a pena base no mínimo legal, sendo suficiente
para reprovabilidade da conduta.
II,V - Da Aplicação Do Regime Semi Aberto
Ainda que o crime de estupro de vulnerável, artigo 217- A do CP
, estar elencado como infração hedionda na lei 8.072/90, conforme artigo 1º,
IV, o STF declarou a inconstitucionalidade do artigo 2º, § 1º desta lei,
sendo certo que o juiz ao fixar o regime inicial para o cumprimento de pena
deve analisar a situação em concreto e não o preceito em abstrato. Sendo assim,
diante da ocorrência de crime único, cuja pena no mínimo legal deverá ser
fixada em 8 (oito) anos de reclusão, sendo o réu primário e de bons
antecedentes, o regime semiaberto é a melhor solução para o réu, pois o
artigo 33, §2º, b, do CP, impõe o regime fechado para crimes com penas
superiores a 8 (oito) anos, o que não é o caso.

– DO PEDIDO

Face ao exposto requer:


a) Absolvição do réu, com base no art. 386, III, do CPP, por ausência de
tipicidade;

caso não seja esse o entendimento para absolvição, que seja concedido o
afastamento do concurso material de crimes, sendo reconhecida a existência de
crime único;

fixação da pena-base no mínimo legal, o afastamento da agravante da


embriaguez preordenada e a incidência da atenuante da menoridade;
e
fixação do regime semi-aberto para início do cumprimento de pena, com base no
art. 33, § 2º, alínea , b, do CP.

Curitiba/PR, 29 de abril de 2014.

ADVOGADO
OAB/UF

Você também pode gostar